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Ética Empresarial, Notas de estudo de Administração Empresarial

Este texto explica como surgiu e como deve ser a ética nas organizações

Tipologia: Notas de estudo

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Baixe Ética Empresarial e outras Notas de estudo em PDF para Administração Empresarial, somente na Docsity! A ÉTICA NAS ORGANIZAÇÕES A N O 2 – N º 4 março 2001 Instituto Ethos Reflexão é uma publicação do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, distribuída gratuitamente aos seus associados. Agradecimentos Elma Lourdes Campos Pavone Zoboli, pela autorização ao uso e reprodução do capítulo, “A ética nas organizações”, de sua dissertação de mestrado A interface entre a ética e a administração hospitalar, páginas 58 a 82. Relevo Araujo Pre Press, pelos fotolitos desta edição. Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social Rua Francisco Leitão, 469 – 14º andar – Conj. 1407 05414-020 – São Paulo – SP Tel./Fax: 11 - 3068.8539 e-mail: ethos@ethos.org.br visite o nosso site: www.ethos.org.br 6 A pluralidade também exige como componentes da ética social a tolerância e o diálogo. O primeiro vai além de seu sentido passivo isto é, uma inclinação a não imiscuir-se nos projetos alheios por simples comodidade, mas abraça um sentido ativo, a predisposição em respeitá-los porque podem ter um valor mesmo que não compartido por todos. O diálogo é uma atitude que considera cada um como ser autônomo igualmente capaz de dialogar sobre as questões que afetam sua vida e que se dispõe, por solidariedade, a incluir os interesses de cada um na tomada de decisões. A única maneira de cada qual se fazer compreender é nesta atitude de diálogo na qual se fala e se pergunta5,9. Para o desenho de uma ética nas organizações faz-se necessário: • determinar o fim específico da atividade organizacional que é responsável por sua legitimação social; • averiguar os meios adequados e os valores a serem in- corporados no desempenho desta atividade específica; • indagar pelos hábitos a ser adquiridos e ir forjando um caráter que permita deliberar e tomar decisões acertadas em relação às metas; • discernir que relação deve ocorrer entre as ativida- des e as organizações; • identificar quais são os valores éticos da sociedade na qual está inserida a organização e quais os direi- tos que essa sociedade reconhece às pessoas5. Feitas estas breves delimitações iniciais passa-se à ques- tão específica da ética empresarial. Os motivos para o florescimento da preocupação ou interesse com a ética nas empresas e nas organizações de maneira geral inicia esta discussão que segue com os aspectos históricos e uma conceituação. 7 MOTIVAÇÕES PARA O INTERESSE EM ÉTICA ORGANIZACIONAL Ultimamente, o interesse ou a preocupação com a éti- ca empresarial e de seus dirigentes e empregados, tem cres- cido, sendo alvo da mídia e da literatura sobre administra- ção. Já se encontram, nos jornais, anúncios selecionando supervisores ou consultores éticos, sinal de que a empresa está incluindo a preocupação com a ética formalmente em sua estrutura organizacional. Possivelmente o domínio do movimento positivista durante a metade do século passado e início do século XX, convencendo a todos que os saberes científicos e técnicos A pesquisa deste best-seller demonstra que uma aborda- gem inteligente acerca de organizações deve abarcar, obrigato- riamente, como interdependentes pelo menos sete variáveis: • a estrutura; • a estratégia; • as pessoas (a equipe); • o estilo de direção; • os sistemas e os procedimentos; • os conceitos que servem como guias para as ações; • os valores compartilhados no bojo da cultura organizacional; deveriam se ater, ao que chamou seu fundador Augusto Comte, de “regime dos fatos”, relegando a um segundo plano os valores, te- nha determinado a ausência des- tes, na teoria empresarial clássica. Isto, segundo alguns autores, po- deria explicar porque resolver problemas éticos em administra- ção apresenta-se como uma ques- tão tão complexa6,11. No entanto, o best-seller de au- toria de Peters e Waterman15, In Search of Excellence, através de uma pesquisa junto a empresas norte-americanas bem sucedidas, desfaz este mito ou tradi- ção, mostrando que, tudo que os administradores vinham desprezando como intratável, irracional, intuitivo e aspec- tos informais da organização, pode ser manejado na busca da excelência. As abordagens quantitativas e racionalistas da administração resultam incapazes de explicitar o que as com- panhias, tidas como excelentes, aprenderam, pois, é prová- vel que elas tenham alcançado a excelência devido a atribu- tos culturais que as distinguem das concorrentes no mesmo ramo de negócios15. • as forças e as habilidades, presen- tes e esperadas, da corporação. Estas variáveis formam o que foi chamado 7-S** Framework (Figu- ra 1), numa tentativa de torná-las de mais fácil explicação, compreen- são e incorporação pelos dirigen- tes15. Os atributos que emergem como os mais característicos da ex- celência, nesta pesquisa são: • preferência para a ação; • proximidade do consumidor; • autonomia e espírito empreendedor; • produtividade através das pessoas; • orientação pelos valores; • circunscrição ao negócio que a organização conhe- ce melhor; • forma simples e staff enxuto; • clima, no qual há dedicação para os valores centrais da companhia, combinado com a tolerância para com os empregados que os aceitam15. Figura 1 - As variáveis interdependentes na organização (7-S Framework) Adaptado de Peters TJ, Waterman RH. In search of excellence. Lessons from America’s best-run companies. New York: Warner; 1984. ** das iniciais das palavras em inglês structure, systems, style, staff, skills, strategy, shared values 8 Mas quais seriam as motivações para todo este interes- se quanto a ética empresarial? Alguns autores como Cortina e col.5, Srour18 e Gómez10 destacam dentre as razões de todo este movimento: a urgência de recuperar a credibilidade na empresa. Escândalos como Watergate fazem com que a confiança vol- te a ser um valor no mundo empresarial, o que em realidade nunca havia deixado de ser, assim ela reassume a sua posi- ção como tal; a empresa que busca somente os resultados ou as van- tagens imediatas é suicida, a responsabilidade a largo prazo é uma necessidade de sobrevivência e neste aspecto a ética constitui um fator importante para os ganhos. Por si só, a ética não é condição para um bom negócio, mas o propicia; uma mudança na concepção de empresa, de um terre- no de homens sem escrúpulos movidos pela ganância e lucro em direção a uma instituição socioeconômica que tem uma bilidades neste âmbito, ela está obrigada a tomar decisões com implicações éticas. A ética não é só individual, mas corporativa e comunitária. Assim, no mundo empresarial começa-se a es- clarecer que não só os indivíduos são eticamente responsá- veis, também o devem ser as empresas. Portanto, faz-se neces- sária e urgente uma ética das empresas, que começam a preo- cupar-se com o tipo de formação que dão a seus membros especialmente a seus dirigentes; as organizações, nos países pós capitalistas, são a célu- la do tecido social e a sua transformação está sendo conside- rada essencial no processo de construir uma sociedade mais inclusiva. Frente às velhas e anquilosadas organizações pro- põe-se novas livres dos defeitos anteriores e com os valores adequados à esperada renovação, o que confere à ética da empresa um lugar de destaque; na ética das empresas vai se mostrando indispensável a capacidade gerencial e, conseqüentemente, a figura do executivo que pouco a pouco vai se tornando um persona- responsabilidade ética para com a so- ciedade (os consumidores, os acionis- tas, os empregados e os provedores). Neste aspecto, Bernardo1 defende que cada dia é mais vigente uma concei- tuação antropológica de empresa, que parte do entendimento da pessoa hu- mana como autora, centro e fim de toda atividade econômico-social. Esta conceituação concebe a empresa como um grupo social constituído por pessoas livres que organizadas, hierár- quica e profissionalmente, cooperam de diversas formas como sujeitos de di- reitos com base em contratos livremen- te tratados e com a finalidade comum de produzir bens ou serviços para intercâmbio econômico. Em outras palavras pode-se dizer que uma vez que a empresa, enquanto uma organização social, deve dar conta de funções que a sociedade dela espera e exige assumindo suas responsa- prescindível a compreensão das finalidades da organização. Neste sentido, a educação e a preocupação com um atuar eticamente correto deverão formar parte do desenvolvimen- to da organização; A empresa que busca somente os resultados ou as vantagens imediatas é suicida, a responsabilidade a largo prazo é uma necessidade de sobrevivência e neste aspecto a ética constitui um fator importante para os ganhos. Por si só, a ética não é condição para um bom negócio, mas o propicia gem central do mundo social atual. O gestor é uma pessoa com claros ob- jetivos que se propõe a alcançá-los através do desenvolvimento de gran- de habilidade para imaginar e criar meios que permitam isto. De com- portamento pró-ativo, criativo e com capacidade inovadora não se pren- de a soluções já conhecidas, mas com instinto de adaptação imagina possi- bilidades e estratégias novas, sempre no marco da negociação, menos cus- toso que o do conflito; para o entendimento dos pro- cessos de tomada de decisão é im- 11 alimentícios deteriorados provocam a desconfiança do pú- blico. O Institute of Business Ethics (IBE) elabora um mode- lo de código de ética a ser explicado e difundido, pelos diretivos, a todas as partes implicadas desde os emprega- dos até os acionistas. Recomenda-se que cada empresa de- cida sobre a inclusão do código no contrato de trabalho, a sua aplicação em todas as filiais incluindo aquelas fora do país e as sanções para o desrespeito das normas nele conti- das. O King’s College de Londres conta com um centro de investigações sobre ética nos negócios e mantém cátedras especializadas nas universidades. A Christian Association of Business Executives (CABE) publica, em 1983, um código de ética nos negócios. O Journal of Business Ethics tem um gran- de número de assinantes17. Em novembro de 1987, em Bruxelas, é criada a European Business Ethics Network (EBEN) com o objetivo proporcionar um espaço para o debate e o intercâmbio entre os responsá- veis por empresas e estudantes de administração17. Na França, a quebra da bolsa de valores de 1987 im- pulsiona o florescimento da ética dos negócios. Nesta oca- sião, o Instituto La-Boétie publica a obra de Michael Novak, com temas de ética econômica e dos valores da economia de mercado, e promove estudos acerca dos princípios éticos im- plicados na direção e nas instituições. Na primavera de 1988, um jantar que debate o tema El hombre de negocios y la santidad, promovido pela Associação Francesa de Ex-alunos da Harvard Business School, conta com a sala lotada. Um pou- co mais tarde, o Centro de Jovens Dirigentes escolhe a ética como o tema do congresso que comemora seu cinqüentenário. Entre 1989 e 1990, o Instituto da Empresa reúne diversas associações para uma reflexão acerca dos pro- blemas éticos17. Quanto ao ensino da ética nos negócios na Europa, têm- se a cátedra na London School of Economics e na University of Nottingham, Grã-Bretanha, na Universidade de Erlangen- Nuremberg, Alemanha, na Universidade de Saint-Gall, Suíça, na The Netherlands School of Business, Holanda e na Escola Su- perior de Comércio de Lyon, França17. Para o Brasil, não há uma literatura disponível que per- mita traçar o desenvolvimento histórico e o atual estado em que se encontra o interesse pela ética nos negócios. No entan- to, cabe destacar que a Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas conta com um Cen- tro de Ética nos Negócios que, no início do segundo semestre de 1998, promove I Congresso de Negócios, Economia e Ética na América. Neste sentido, também faz-se oportuno evidenciar afirmação de Srour18 considerando que a maioria dos empre- sários brasileiros ainda confunde ética e legalidade pensando que “para ser ético, basta não ser pego”. Isto parece colocar o país em posição distinta da descrita no cenário mundial. Durante estes marcos históricos observa-se uma mudan- ça nos tópicos que merecem a atenção nas discussões. Os acordos sobre preços e a desumanização da força de traba- lho configuram as duas grandes preocupações dos anos 5013. Frente a indignação de todos com a agressividade mili- tar e a política do complexo industrial militar originada pela Guerra do Vietnã, nos anos 60, a ética empresarial volta sua atenção para a destruição ambiental13. Os códigos corporativos de conduta marcam a discus- são ética dos anos 70. Isto ocorre em resposta aos escândalos internacionais, como Watergate e em conseqüência dos mo- vimentos em defesa dos direitos dos consumidores em fran- co crescimento. Estes códigos voltam-se contra as práticas danosas e/ou enganosas nas propagandas, embalagens e rotulagens dos produtos13. Duas fases dividem os anos 80. Na primeira metade des- ta década, a ética nas empresas é caracterizada pela preocu- pação com a responsabilidade institucional. Na segunda, a capacidade moral dos indivíduos ganha destaque. Os valo- res pessoais de um administrador tornam-se uma questão essencial para a empresa. Em uma pesquisa realizada em 1989 pela Korn/Ferry e pela Columbia University Graduate School of Business, com mais de 1.500 executivos de 20 países, a ética pessoal é classificada como a característica primordial para o presidente da empresa ideal no ano 200013. 12 O foco de atenção da ética nos negócios, no anos 90, está centrado em como obter e manter a excelência. Dentro do contexto competitivo e das grandes mudanças, caracte- rístico da maior parte dos setores da atividade empresarial, do mundo empreendedor e de superar dificuldades enfren- tadas que, segundo Cortina e col.5 encontram-se especial- mente em dois fatos: a) a desconfiança, por parte do próprio empresariado, As questões éticas básicas devem fazer parte do cálculo para a solução dos problemas enfrentados no cotidiano gerencial de uma organização, pois quem decide faz escolhas entre diferentes cursos de ação e deflagra conseqüências busca-se um conjunto de premissas gerenciais que estimulem a integrida- de pessoal e possibilitem fazer frente ao mercado econômico. Ganha evi- dência a idéia de que os administra- dores tomam decisões com implica- ções éticas, pois a maioria das ativi- dades empresariais têm impacto so- bre outras pessoas além daquelas di- retamente envolvidas, ficando assim sujeitas a uma avaliação das conseqü- ências de benefício ou malefício ori- ginadas para todas as contrapartes. As questões éticas bási- cas devem fazer parte do cálculo para a solução dos proble- mas enfrentados no cotidiano gerencial de uma organiza- ção, pois quem decide faz escolhas entre diferentes cursos de ação e deflagra conseqüências13,18. Apesar de sua breve trajetória, a ética no mundo dos negócios tem apresentado mudanças, provavelmente em con- seqüência da tentativa de acompanhar o dinamismo próprio quanto à ética suscitando arrai- gadas predisposições, como: • quem quer fazer bons negócios tem que deixar a ética na porta da empresa; • o negócio é o negócio, e a missão da empresa consiste em maximizar benefícios, assim não há valor su- perior à conta dos resultados; • a empresa deve preocupar-se em ganhar dinheiro, deixando as questões sociais para os mecanismos do mercado e os po- deres públicos. b) o questionamento que se faz frente aos reclames da sociedade por uma maior ética nos negócios: está real- mente aludindo a uma necessidade que ela sente ou simplesmente tranqüilizando a sua consciência com a aparência de que a ética é fundamental na empresa, a exemplo da política ou das informações? 13 Antes de mais nada, é preciso distinguir ética econômica e empresarial. O primeiro termo, ética econômica, refere-se ao campo geral das relações entre economia e ética ou, especifica- mente, à reflexão ética acerca dos sistemas econômicos5. A ética empresarial ou dos negócios, centra-se, princi- palmente, na concepção da empresa enquanto organização econômica e instituição social ou seja, um tipo de organiza- ção que desenvolve uma atividade que lhe é peculiar e na qual resulta fundamental a função diretiva e o processo de tomada de decisões5. Para definir ética empresarial Cortina e col.5 destacam várias correntes de pensamento com caracterizações distintas: a) enquanto processo de decisão: nesta corrente, está M.T. Brown, que entende por ética o processo de decidir o que se deve fazer. A reflexão ética é vista como a análi- se da argumentação que permite tomar decisões me- lhor justificadas e chegar a consensos. Parte-se da con- cepção das organizações como agentes éticos que po- dem escolher, dentre diversos, um curso de ação5. b) enquanto preocupação às relações externas e internas: nesta linha, a ética dos negócios é vista como aquela que concerne às relações externas das empresas ou dos profissionais independentes com os clientes, com os provedores e com o poder público e às relações inter- nas entre as pessoas na empresa, incluindo os dirigen- tes. Esta relação opta sempre por um modelo de coo- peração em lugar do conflitivo, ganhando sentido os códigos de conduta. Em uma empresa, o código de ética e uma política de normas de conduta constituem mei- os excelentes para comunicar seus propósitos e expor os valores e convicções de sua liderança. Porém quan- do os executivos baseiam-se demais em regras e pa- drões, é provável que acabem se escondendo atrás de um código de ética e acreditando que para ser ético basta não violarem as regras, assim o papel dos ideais e do julgamento profissional pode ser perdido2,3,5. c) enquanto ramo da ética: em uma primeira fase, esta vertente defende a ética empresarial como um ramo da ética que trata de aplicar princípios éticos aos negó- cios. Em uma segunda fase, passa-se ao entendimento de que as organizações têm obrigações sociais que vão além das econômicas. Quando a responsabilidade so- cial das organizações passa a ser alvo de uma visão mais objetiva, que busca compreender as suas finalidades como a chave para o processo de decisão, constitui-se a terceira fase desta corrente de pensamentos5. d) enquanto inserida no contexto de uma ética das insti- tuições: para esta corrente que engloba as demais, S. García Echevarría citado por Cortina e col.5 destaca alguns elementos: • a empresa é, primeiramente, um sistema de valores com potencialidades que podem aflorar na cultura organizacional; • as empresas, como instituições, devem definir suas finalidades a partir dos valores que as identificam; • a ética constitui uma exigência dos sistemas abertos e desregulados, pois os seres humanos necessitam de normas de comportamento baseadas nos valores da organização empresarial; • o ético é rentável, pois possibilita uma identificação com a organização e conseqüentemente uma moti- vação eficiente; • a cultura própria da empresa permite a sua diferen- ciação frente aos competidores; • a clara concepção do papel do diretivo, que deve identificar-se com a organização e ter capacidade e habilidade para integrar pessoas humanas. CONCEITUAÇÃO 16 Uma organização atua de forma eticamente adequada quando persegue suas metas e respeita os valores e os direitos compartidos pela sociedade na qual está inserida Cada organização tem uma missão que define todo seu sentido. Um delineamento bem preciso da missão serve de constante alerta acerca da necessidade de olhar-se para fora da organização em busca de medidas de sucesso e não so- mente de clientes. Assim, é mais importante definir clara- mente a meta e a finalidade da organização estimulando seus membros a alcançá-las do que determinar um conjunto de normas e regulamentos. São os fins que conferem sentido às atividades e as regras só podem ser fixadas se eles forem le- vados em conta5,7. Os empresários “excelentes” indicam que, hoje em dia, tem mais peso a clareza dos fins do que das normas e dos regulamentos. Aqueles que têm luci- dez acerca das finalidades e sabem, partindo delas, ordenar os objetivos intermediários estão mais capacitados a adaptar-se e/ou criar soluções ino- vadoras frente às mudanças que sur- jam. Ter consciência dos propósitos a serem perseguidos e habituar-se a escolher e agir segundo eles consti- tui um fator imprescindível na configuração de uma ética pessoal e das organizações5. Segundo Drucker7, as organizações sem fins lucrativos, nos EUA, crescem em resultados e em número de voluntári- os envolvidos em suas atividades porque começam seu pla- nejamento pelo desempenho de sua missão, ou seja pelo ambiente externo, pela comunidade ou os futuros “clien- tes”. As melhores organizações sem fim lucrativos dispen- sam grande atenção à definição de sua missão, evitando de- clarações abrangentes e concentrando-se em objetivos com implicações claras para o trabalho a ser realizado pelos seus membros, funcionários e voluntários. O autor defende que isso focaliza a organização na ação, define as estratégias es- pecíficas necessárias na consecução das metas vitais e cria um organização disciplinada. Vale registrar dois exemplos relatados por Drucker7: o primeiro diz respeito à experiência de uma grande cadeia de hospitais católicos localizada no sudoeste dos EUA e retrata como um claro senso da missão e o foco nos resulta- dos podem tornar-se produtivos. A despeito dos cortes nos pagamentos do Medicare essa cadeia aumentou suas receitas em 15%, conseguindo, ao mesmo tempo, chegar a um ponto de equilíbrio e elevar os padrões de qualidade no atendimen- to ao paciente. E isto deve-se ao fato da diretoria ter compre- endido que o negócio de sua equipe é prestação de cuidados à saúde, sobretudo aos mais pobres e não a direção de hospi- tais. Quando, por razões médicas, a assistência médico-sanitá- ria começa a transferir-se para fora dos hospitais, a cadeia promove esta ten- dência ao invés de lutar contra ela. Abre, dentre outros serviços, centros cirúrgicos ambulatoriais, centros de re- abilitação, redes de centros radiológi- cos e de laboratórios de análises. O lema da cadeia é: “Se isso é no interes- se do paciente, devemos promovê-lo; nosso trabalho será torná-lo autosustentado”. Esta política en- che os hospitais da rede; as instalações tornam-se tão popula- res que geram um fluxo constante de referências e recomen- dações. A organização alvo deste exemplo parte da missão e daquilo que deveria fazer acontecer fora dos seus limites para merecer recompensa e legitimação social, não principiando pela recompensa em si. o segundo exemplo refere-se ao fato da maioria dos alunos do programa para executivos de alto e médio nível no qual o autor leciona servirem no corpo de voluntariado de organizações sem fins lucrativos. Provenientes de uma ampla gama de empresas, desde bancos e seguradoras até companhias aeroespaciais, eles atuam como voluntários em igrejas, conselhos de faculdades, orquestras sinfônicas, es- coteiros, ACM, Fundo Comunitário, etc. O que chama a aten- OBSTÁCULOS À ÉTICA ORGANIZACIONAL 17 ção é a razão que boa parte deles apresenta para tal compor- tamento, alegando que no trabalho de cada um não há mui- tos desafios, nem realizações ou liberdade de ação suficien- tes e, principalmente, que não existe uma missão, mas ape- nas conveniência. Assim, uma missão organizacional explicitamente de- finida, compartida e respeitada faz com que as pessoas sin- tam orgulho da organização, do que ela representa e conse- qüentemente lutem pela sua integridade. Além disto, sen- tindo-se apreciados, é mais provável que os partícipes da organização resistam à tentação de se desviarem de condu- tas eticamente corretas2. Uma organização atua de forma eticamente adequada quando persegue suas metas e respeita os valores e os direitos compartidos pela sociedade na qual está inserida. No entan- to, no atuar ético não cabe a expressão a qualquer preço, pois há preços que nem as pessoas, nem as organizações podem pagar se é que querem agir de maneira, além de prudente, também justa. Para assegurar o bem comum deve-se observar procedimentos idôneos. As empresas nas quais a transparên- cia do processo decisório não é comprometida, colocada de lado ou minimizada com vistas à obtenção de resultados al- mejados constituem palco de boas práticas éticas1,2,5,10. A impaciência e a pressa para chegar aos objetivos e metas constituem fatores para a negligência no trato das questões éticas dentro das organizações. Isto pode por em risco a satisfação dos clientes e dos empregados, iniciando um ciclo negativo que termina por afetar os resultados2. Etklin8 chama este desvio da missão organizacional, es- pecialmente em seu aspecto social, de perversidade. Em ou- tras palavras, a perversidade ocorre quando uma organiza- ção, através das ações de seus participantes, afasta-se de sua razão de ser, do que é esperado para o seu tipo de atividade. Ao isolar-se das necessidades e demandas sociais, a organiza- ção deixa cair no esquecimento a causa primeira de sua exis- tência e mina a motivação de seus integrantes. Como exem- plo, dentre outros, o autor refere-se a um hospital que se apresenta com a missão social específica de curar e na práti- ca, como um desvio na direção oposta ou um distanciamento desta missão organizacional, só cura quando se trata de um negócio viável ou rentável. Os sistemas perversos ou também chamados de dupla moral fazem alusão à corrupção social que provoca a mudan- ça arbitrária de valores de acordo com as circunstâncias e as conveniências dos envolvidos. Desta forma, pode-se dizer que a perversidade sustenta-se conceitualmente em um definição que requer contextualização. O invariável é a coexistência de requerimentos contraditórios, como a possibilidade de ser, simultaneamente, juiz e parte em um processo8. Falar de perversidade significa referir-se a modelos de relação e formas de pensar passíveis de ocorrer em qualquer grupo social. A perversidade emerge de uma relação marcada pela assimetria e desigualdade e é plasmada por uma racionalidade destrutiva. As vítimas são submetidas a regras injustas que não controlam, mas que lhe causam danos. A perversidade implica que os envolvidos incorporem em suas relações um esquema explicativo que torne admissível ou justificável a desigualdade, podendo chegar a considerá-la normal ou mesmo a não distingui-la. Por isto é relativamen- te comum que os protagonistas de relações permeadas pela perversidade não admitam que em sua forma de agir exista algo de desvio ou destruição. Alegam tratar-se de alternati- vas escolhidas a fim de conseguirem seus fins pessoais den- tro dos grupos ou organizações às quais pertencem. Muitas vezes, o que é eticamente incorreto aparece sob o rótulo de adaptação ao meio. Desta forma, é bem comum as pessoas não se sentirem responsáveis pelas conseqüências negativas que causam aos outros8. Os desvios e as deformações podem restringir-se a pon- tos específicos da organização, mas é possível que se esten- dam propiciando condutas antes não aceitas e revestindo de ambigüidade a definição da missão organizacional. Brechas no controle social, como a falta de sanções e punições e a dissuasão ou a supressão deste através de meios indefensáveis, como a corrupção e a intimidação facilitam a ocorrência do 18 fenômeno da perversidade nas organizações. A burocracia também pode constituir fator facilitador da instalação da perversidade quando consome uma parte exagerada dos materiais, da energia e dos recursos a ponto de suplantar o que é gasto na geração dos serviços ou dos produtos tidos como os característicos da atividade organizacional8. Frente a este risco da perversidade, é necessário que as diferentes organizações, tendo patente o sentido da ativida- de que lhes é característica, reflitam sobre quais os bens in- ternos a esta atividade e os meios adequados para atuar nes- ta direção. Talvez, seja esta a primeira tarefa de uma ética para as organizações5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Bernardo J. Ética de los negocios. Buenos Aires: Macchi; 1993. 2. Blanchard K e Peale NV. O poder da administração ética. Trad. de R Jungmann. São Paulo: Record; 1994. 3. Chen YSA, Sawyers RB, Williams PF. O novo caminho para a ética. HSM Management 1998; 11: 36-40. 4. Chiavenato I. Administração: teoria, processo e prática. 2ª ed. São Paulo: Makron Books; 1994. 5. Cortina A, Conill J, Domingo-Moratalla A, García-Marzá VD. Ética de la empresa. 2a ed. Madrid: Trotta; 1996. 6. Darr K. Patient-centered ethics for health services manegers. JHHRA. 1993; 16: 197-216. 7. Drucker P. Administrando para o futuro. Trad. de N Montingelli Jr. 5ª ed. São Paulo: Pioneira; 1996. 8. Etkin JR. La doble moral de las organizaciones. Los sistemas perversos y la corrupción institucionalizada. Madrid: McGraw-Hill; 1993. 9. Flower J. A conversation with Peter Drucker, part 1. Being effective: the secret is concentration of the very resources you have where you can make a difference. Healthc Forum J. 1991; 34 (3): 52-57. 10. Gómez R. Ética empresarial: teoria e casos. [snt] 11. Gracia D. Ejercicio de la medicina y gestión de la salud. Problemas éticos de la gestión sanitaria. [snt] [apostila do Ciclo de Bioética Clínica do I Magíster en Bioética da Universidade do Chile e do Programa Regional de Bioética para a América Latina e Caribe OPAS/OMS] 12. Llano C. El empresario y su acción. México: McGraw-Hill; 1990. 13. Nash LL. Ética nas empresas: boas intenções à parte. Trad. de KA Roque. São Paulo: Makron Books; 1993. 14. Ortiz-Ibarz J. La hora de la ética empresarial. Madrid: McGraw-Hill; 1995. 15. Peters TJ, Waterman RH. In search of excellence. Lessons from America’s best-run companies. New York: Warner; 1984. 16. Savater F. La dimensión ética de la empresa. Santafé de Bogotá: Siglo del Hombre Editores/Fundación Social; 1998. (Conversaciones) 17. Scherrer V. En la jungla de los negocios: por una moral de la empresa. Trad. de ECT Isoard. México: Grijalbo; 1991. 18. Srour RH. Poder, cultura e ética nas organizações. Rio de Janeiro: Campus; 1998. A ética nas organizações; p. 269-323. * Texto extraído (e editado) da tese de dissertação de mestrado A interface entre a ética e a administração hospitalar, desenvolvida por Elma Lourdes Campos Pavone Zoboli e apresentada ao Departamento de Prática em Saúde Pública da Universidade de São Paulo para obtenção do grau de Mestre, Área de concentração: Serviços de Saúde, em 1999. Orientador: Prof. Dr. Paulo Antonio de Carvalho Fortes.
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