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Apicultura - Produção de Mel, Notas de estudo de Engenharia Agronômica

Esse documento contém importantes informações, apresentadas de maneira prática, que juntamente com as ações de pesquisa e desenvolvimento que vêm sendo executadas nessa área, irão favorecer o aumento da competitividade do setor, tanto para o mercado interno, como para o externo, contribuindo para elevar o país a uma posição de destaque no mercado mundial de mel.

Tipologia: Notas de estudo

Antes de 2010

Compartilhado em 25/11/2009

Jose92
Jose92 🇧🇷

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Baixe Apicultura - Produção de Mel e outras Notas de estudo em PDF para Engenharia Agronômica, somente na Docsity! Produção de Mel Apresentação A apicultura é uma das atividades capazes de causar impactos positivos, tanto sociais quanto econômicos, além de contribuir para a manutenção e preservação dos ecossistemas existentes. A cadeia produtiva da apicultura propicia a geração de inúmeros postos de trabalho, empregos e fluxo de renda, principalmente no ambiente da agricultura familiar, sendo, dessa forma, determinante na melhoria da qualidade de vida e fixação do homem no meio rural. O Brasil apresenta características especiais de flora e clima que, aliado a presença da abelha africanizada, lhe conferem um potencial fabuloso para a atividade apícola, ainda pouco explorado. Nesse sentido, a Embrapa, vem apoiando o desenvolvimento da apicultura no Brasil, especialmente na região Nordeste, por intermédio da Embrapa Meio-Norte, que tem como um de seus objetivos promover a geração e transferência de tecnologias, que visem à melhoria do desempenho do agronegócio apícola, contribuindo dessa forma, com o aumento de produtividade e a melhoria da qualidade dos produtos da colméia. Esse documento contém importantes informações, apresentadas de maneira prática, que juntamente com as ações de pesquisa e desenvolvimento que vêm sendo executadas nessa área, irão favorecer o aumento da competitividade do setor, tanto para o mercado interno, como para o externo, contribuindo para elevar o país a uma posição de destaque no mercado mundial de mel. Maria Pinheiro Fernandes Corrêa Chefe- Geral Introdução e Histórico O mel, que é usado como alimento pelo homem desde a pré-história, por vários séculos foi retirado dos enxames de forma extrativista e predatória, muitas vezes causando danos ao meio ambiente, matando as abelhas. Entretanto, com o tempo, o homem foi aprendendo a proteger seus enxames, instalá-los em colméias racionais e manejá-los de forma que houvesse maior produção de mel sem causar prejuízo para as abelhas. Nascia, assim, a apicultura. Essa atividade atravessou o tempo, ganhou o mundo e se tornou uma importante fonte de renda para várias famílias. Hoje, além do mel, é possível explorar, com a criação racional das abelhas, produtos como: pólen apícola, geléia real, rainhas, polinização, apitoxina e cera. Existem casos de produtores que comercializam enxames e crias. O Brasil é, atualmente, o 6° maior produtor de mel (ficando atrás somente da China, Estados Unidos, Argentina, México e Canadá), entretanto, ainda existe um grande potencial apícola (flora e clima) não explorado e grande possibilidade de se maximizar a produção, incrementando o agronegócio apícola. Para tanto, é necessário que o produtor possua conhecimentos sobre biologia das abelhas, técnicas de manejo e colheita do mel, pragas e doenças dos enxames, importância econômica, mercado e comercialização. As abelhas são descendentes das vespas que deixaram de se alimentar de pequenos insetos e aranhas para consumirem o pólen das flores quando essas surgiram, há cerca de 135 milhões de anos. Durante esse processo evolutivo, surgiram várias espécies de abelhas. Hoje se conhecem mais de 20 mil espécies, mas acredita-se que existam umas 40 mil espécies ainda não-descobertas. Somente 2% das espécies de abelhas são sociais e produzem mel. Entre as espécies produtoras de mel, as do gênero Apis são as mais conhecidas e difundidas. O fóssil mais antigo desse gênero que se conhece é da espécie já extinta Apis ambruster e data de 12 milhões de anos. Provavelmente esse gênero de abelha tenha surgido na África após a separação do continente americano, tendo posteriormente migrado para a Europa e Ásia, originando as espécies Apis mellifera, Apis cerana, Apis florea, Apis korchevniskov, Apis andreniformis, Apis dorsata, Apis laboriosa, Apis nuluensis e Apis nigrocincta. As abelhas que permaneceram na África e Europa originaram várias subespécies de Apis mellifera adaptadas às diversas condições ambientais em que se desenvolveram. Embora hoje essa espécie seja criada no continente Americano e na Oceania, elas só foram introduzidas nessas regiões no período da colonização. Histórico da Apicultura Pesquisas arqueológicas mostram que as abelhas sociais já produziam e estocavam mel há 20 milhões de anos, antes mesmo do surgimento do homem na Terra, que só ocorreu poucos milhões de anos atrás. No início, o homem promovia uma verdadeira "caçada ao mel", tendo que procurar e localizar os enxames, que muitas vezes nidificavam em locais de difícil acesso e de grande risco para os coletores. Naquela época, o alimento ingerido era uma mistura de mel, pólen, crias e cera, pois o homem ainda não sabia como separar os produtos do favo. Os enxames, muitas vezes, morriam ou fugiam, obrigando o homem a procurar novos ninhos cada vez que necessitasse retirar o mel para consumo. Há, aproximadamente, 2.400 anos a.C., os egípcios começaram a colocar as abelhas em potes de barro. A retirada do mel ainda era muito similar à "caçada" primitiva, entretanto, os enxames podiam ser transportados e colocados próximo à residência do produtor. Apesar de os egípcios serem considerados os pioneiros na criação de abelhas, a palavra colméia vem do grego, pois os gregos colocavam seus enxames em recipientes com forma de sino feitos de palha trançada chamada de colmo. Naquela época, as abelhas já assumiam tanta importância para o homem que eram consideradas sagradas para muitas civilizações. Com isso várias lendas e cultos surgiram a respeito desses insetos. Com o tempo, elas também passaram a assumir grande importância econômica e a ser consideradas um símbolo de poder para reis, rainhas, papas, cardeais, duques, condes e príncipes, fazendo parte de brasões, cetros, coroas, moedas, mantos reais, entre outros. Na Idade Média, em algumas regiões da Europa, as árvores eram propriedade do governo, sendo proibido derrubá-las, pois elas poderiam servir de abrigo a um enxame no futuro. Os enxames eram registrados em cartório e deixados de herança por escrito, o roubo de abelhas era considerado um crime imperdoável, podendo ser punido com a morte. Nesse período, muitos produtores já não suportavam ter que matar suas abelhas para coletar o mel e vários estudos iniciaram-se nesse sentido. O uso de recipientes horizontais e com comprimento maior que o braço do produtor foi uma das primeiras tentativas. Nessas colméias, para colheita do mel, o apicultor jogava fumaça na entrada da caixa, fazendo com que todas as abelhas fossem para o fundo, inclusive a rainha, e depois retirava somente os favos da frente, deixando uma reserva para as abelhas. Alguns anos depois, surgiu a idéia de se trabalhar com recipientes sobrepostos, em que o apicultor removeria a parte superior, deixando reserva para as abelhas na caixa inferior. Embora resolvesse a questão da colheita do mel, o produtor não tinha acesso à área de cria sem destruí-la, o que impossibilitava um manejo mais racional dos enxames. Para resolver essa questão, os produtores começaram a colocar barras horizontais no topo dos recipientes, separadas por uma distância igual à distância dos favos construídos. Assim, as abelhas construíam os favos nessas barras, facilitando a inspeção, entretanto, as laterais dos favos ainda ficavam presas às paredes da colméia. Em 1851, o Reverendo Lorenzo Lorraine Langstroth verificou que as abelhas depositavam própolis em qualquer espaço inferior a 4,7 mm e construíam favos em espaços superiores a 9,5 mm. A medida entre esses dois espaços Langstroth chamou de "espaço abelha", que é o menor espaço livre existente no interior da colméia e por onde podem passar duas abelhas ao mesmo tempo. Essa descoberta simples foi uma das chaves para o desenvolvimento da apicultura racional. Inspirado no modelo de colméia usado por Francis Huber, que prendia cada favo em quadros presos pelas laterais e os movimentava como as páginas de um livro, Langstroth resolveu estender as barras superiores já usadas e fechar o quadro nas laterais e abaixo, mantendo sempre o espaço abelha entre cada peça da caixa, criando, assim, os quadros móveis que poderiam ser retirados das colméias pelo topo e movidos lateralmente dentro da caixa. A colméia de quadros móveis permitiu a criação racional de abelhas, favorecendo o avanço tecnológico da atividade como a conhecemos hoje. Introdução da Apis mellifera no Brasil As abelhas da espécie Apis mellifera foram introduzidas no Brasil em 1840, oriundas da Espanha e Portugal, trazidas pelo Padre Antônio Carneiro. Provavelmente as subespécies Apis mellifera mellifera (abelha preta ou alemã) e Apis mellifera carnica tenham sido as primeiras abelhas a chegar em nosso país. Em 1845, imigrantes alemães introduziram no Sul do País a abelha Apis mellifera mellifera. Entre os anos de 1870 a 1880, as abelhas italianas, Apis mellifera ligustica foram introduzidas no Sul e na Bahia. Não se tem registro preciso da introdução das abelhas no Norte e Nordeste do país, mas em 1845 Castelo Branco afirmava: "as abelhas do Piauí não têm ferrão". Naquele período, a maior parte dos apicultores criava as abelhas de forma rústica, possuindo poucas colméias no fundo do quintal, onde, em razão da baixa agressividade, eram criadas próximo a outros animais, como porcos e galinhas. O objetivo principal da maioria dos produtores era atender às próprias necessidades de consumo. Tabela 2. Principais exportadores de mel (em mil toneladas) e os ganhos (em milhões de dólares). 1998 1999 2000 País Mel US$ Mel US$ Mel US$ China 79 87 87 79 103 87 Argentina 68 89 93 96 88 87 México 32 42 22 25 31 35 Estados Unidos 5 9 5 9 5 8 Canadá 11 20 15 21 15 21 União Européia 44 46 48 Fonte: Braunstein, 2002. Outros produtos importantes da atividade Além do mel, que será descrito com maiores detalhes adiante, o produtor poderá obter renda de outros produtos como Cera, Própolis, Pólen, Polinização, Geléia real e Apitoxina. Cera Utilizada pelas abelhas para construção dos favos e fechamento dos alvéolos (opérculo). Produzida por glândulas especiais (ceríferas), situadas no abdome das abelhas operárias. A cera de Apis mellifera possui 248 componentes diferentes, nem todos ainda identificados. Logo após sua secreção, a cera possui uma cor clara, escurecendo com o tempo, em virtude do depósito de pólen e do desenvolvimento das larvas. As indústrias de cosméticos, medicamentos e velas são as principais consumidoras de cera; entretanto, também é utilizada na indústria têxtil, na fabricação de polidores e vernizes, no processamento de alimentos e na indústria tecnológica. Os principais importadores são: Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Japão e França; os principais exportadores são: Chile, Tanzânia, Brasil, Holanda e Austrália. Própolis Substância resinosa, adesiva e balsâmica, elaborada pelas abelhas a partir da mistura da cera e da resina coletada das plantas, retirada dos botões florais, gemas e dos cortes nas cascas dos vegetais. A própolis é usada pelas abelhas para fechar as frestas e a entrada do ninho, evitando correntes de ar frias durante o inverno. Em razão das suas propriedades bactericidas e fungicidas, é usada também na limpeza da colônia e para isolar uma parte do ninho ou algum corpo estranho que não pode ser removido da colônia. Sua composição, cor, odor e propriedades medicinais dependem da espécie de planta disponível para as abelhas. Atualmente, a própolis é usada, principalmente, pelas indústrias de cosméticos e farmacêutica. Cerca de 75% da própolis produzida no Brasil é exportada, sendo o Japão o maior comprador. Pólen apícola Gameta masculino das flores coletado pelas abelhas e transportado para a colméia para ser armazenado nos alvéolos e passar por um processo de fermentação. Usado como alimento pelas abelhas na fase larval e abelhas adultas com até 18 dias de idade. É um produto rico em proteínas, lipídios, minerais e vitaminas. Em virtude do seu alto valor nutritivo, é usado como suplementação alimentar, comercializado misturado com o mel, seco, em cápsulas ou tabletes. Não existem dados sobre a produção e comercialização mundial desse produto. Polinização A polinização é a transferência do pólen (gameta masculino da flor) para o óvulo da mesma flor ou de outra flor da mesma espécie. Só após essa transferência é que ocorre a formação dos frutos. Muitas vezes, para que ocorra essa transferência, é necessária a ajuda de um agente. Além da água e do vento, diversos animais podem servir de agentes polinizadores, como insetos, pássaros, morcegos, ratos, macacos; entretanto, as abelhas são os agentes mais eficientes da maioria das espécies vegetais cultivadas. Em locais com alto índice de desmatamento e devastação ou com predominância da monocultura, os produtores ficam extremamente dependentes das abelhas para poderem produzir. Com isso, muitos apicultores alugam suas colméias durante o período da florada para serviços de polinização. Embora esse tipo de serviço não seja comum no Brasil, ocorrendo somente no Sul do País e em regiões isoladas do Rio Grande do Norte, nos EUA metade das colméias é usada dessa forma, gerando um incremento na renda do produtor. Dependendo da cultura, local de produção, manejo utilizado e devastação da região, a polinização pode aumentar a produção entre 5 e 500%. Dessa forma, estima-se que por ano a polinização gere um benefício mundial acima de cem bilhões de dólares (De Jong, 2000). Geléia real A geléia real é uma substância produzida pelas glândulas hipofaringeanas e mandibulares das operárias com até 14 dias de idade. Na colméia, é usada como alimento das larvas e da rainha. Constituída basicamente de água, carboidratos, proteínas, lipídios e vitaminas, a geléia real é muito viscosa, possui cor branco-leitosa e sabor ácido forte. Embora não seja estocada na colméias como o mel e o pólen, é produzida por alguns apicultores para comercialização in natura, misturada com mel ou mesmo liofilizada. A indústria de cosméticos e medicamentos também a utilizam na composição de diversos produtos. A China é o principal País produtor, responsável por cerca de 60% da produção mundial, exportando, aproximadamente, 450 toneladas/ano para Japão, Estados Unidos e Europa. Apitoxina A apitoxina é o veneno das abelhas operárias de Apis mellifera purificado. O veneno é constituído basicamente de proteínas, polipeptídios e constituintes aromáticos, sendo produzido pelas glândulas de veneno nas duas primeiras semanas de vida da operária e armazenado no "saco de veneno" situado na base do ferrão. Cada operária produz 0,3 mg de veneno, que é uma substância transparente, solúvel em água e composta de proteínas, aminoácidos, lipídios e enzimas. Embora a ação anti-reumática do veneno seja comprovada e o preço no mercado seja muito atrativo, trata-se de um produto de difícil comercialização, pois, ao contrário de outros produtos apícolas, o veneno deve ser comercializado para farmácias de manipulação e indústrias de processamento químico, em razão da sua ação tóxica. A tolerância do homem à dose do veneno é bastante variada. Existem relatos de pessoas que sofreram mais de cem ferroadas e não apresentaram sintomas graves. Entretanto, indivíduos extremamente alérgicos podem apresentar choque anafilático e falecer com uma única ferroada. Mel Através dos tempos, o mel sempre foi considerado um produto especial, utilizado pelo homem desde os tempos mais remotos. Evidências de seu uso pelo ser humano aparecem desde a Pré-história, com inúmeras referências em pinturas rupestres e em manuscritos e pinturas do antigo Egito, Grécia e Roma. A utilização do mel na nutrição humana não deveria limitar-se apenas a sua característica adoçante, como excelente substituto do açúcar, mas principalmente por ser um alimento de alta qualidade, rico em energia e inúmeras outras substâncias benéficas ao equilíbrio dos processos biológicos de nosso corpo. Embora o mel seja um alimento de alta qualidade, apenas o seu consumo, mesmo em grandes quantidades, não é suficiente para atender a todas as nossas necessidades nutricionais. Na tabela 4 apresenta-se os nutrientes do mel em relação aos requerimentos humanos. Tabela 4: Nutrientes do mel em relação aos requerimentos humanos. Nutriente Unidade Quantidade em 100 g de mel Ingestão diária recomendada ENERGIA Caloria 339 2800 VITAMINAS: A U.I - 5000 B1 mg 0,004 - 0,006 1,5 COMPLEXO B2: RIBOFLAVINA mg 0,02 - 0,06 1,7 NIACINA mg 0,11 - 0,36 20 B6 mg 0,008 - 0,32 2 ACIDO PANTATÊNICO mg 0,02 - 0,11 10 ÁCIDO FÓLICO mg - 0,4 B12 mg - 6 C mg 2,2 - 2,4 60 D U.I - 400 E U.I - 30 BIOTINA mg - 0,330 Fig. 1. Mel escorrendo de um quadro recém- desoperculado Além de sua qualidade como alimento, esse produto único é dotado de inúmeras propriedades terapêuticas, sendo utilizado pela medicina popular sob diversas formas e associações como fitoterápicos. Definição e origem O mel é a substância viscosa, aromática e açucarada obtida a partir do néctar das flores e/ou exsudatos sacarínicos que as abelhas melíficas produzem. Seu aroma, paladar, coloração, viscosidade e propriedades medicinais estão diretamente relacionados com a fonte de néctar que o originou e também com a espécie de abelha que o produziu. A diastase quebra o amido, sendo sua função na fisiologia da abelha ainda não claramente compreendida, podendo estar envolvida com a digestão do pólen. Como a diastase apresenta alto grau de instabilidade em frente às temperaturas elevadas, sua presença ou não se faz importante na tentativa de detectar possíveis aquecimentos do mel comercialmente vendido, apesar de que também em temperaturas ambientes ela pode vir a deteriorar-se quando o armazenamento for prolongado. A catalase e a fosfatase são enzimas que facilitam a associação açúcar-álcool, sendo um dos fatores que auxiliam na desintoxicação alcoólica pelo mel (Serrano et al., 1994). Entretanto, segundo Weston (2000), a catalase presente no mel se origina do pólen da flor e sua quantidade no mel depende da fonte floral e da quantidade de pólen coletado pelas abelhas. A glicose-oxidase, que em soluções diluídas é mais ativa (White, 1975), reage com a glicose formando ácido glucônico (principal composto ácido do mel) e peróxido de hidrogênio, esse último capaz de proteger o mel contra a decomposição bacteriana até que seu conteúdo de açúcares esteja alto o suficiente para fazê-lo ( Schepartz et al., 1966; Mendes & Coelho, 1983). Segundo White et al. (1963), a principal substância antibacteriana do mel é o peróxido de hidrogênio, cuja quantidade presente no mel é dependente tanto dos níveis de glicose-oxidase, quanto de catalase, uma vez que a catalase destrói o peróxido de hidrogênio (Weston et al., 2000). Proteínas Em concentrações bem menores, encontram-se as proteínas ocorrendo apenas em traços. A proteína do mel tem duas origens, vegetal e animal. Sua origem vegetal advém do néctar e do pólen; já sua origem animal é proveniente da própria abelha (White et al., 1978). No segundo caso, trata-se de constituintes das secreções das glândulas salivares, juntamente com produtos recolhidos no decurso da colheita do néctar ou da maturação do mel (Campos, 1987). Wootton et al. (1976) constataram em seis amostras de mel australianas os seguintes aminoácidos livres: leucina, isoleucina, histidina, metionina, alanina, fenilalanina, glicina, ácido aspártico, treonina, serina, ácido glutâmico, prolina, valina, cisteína, tirosina, lisina e arginina. Dentre esses aminoácidos, a prolina, proveniente das secreções salivares das abelhas, é o que apresenta os maiores valores, variando entre 0,2% e 2,8%. Juntamente com o conteúdo de água, sua concentração é usada como um parâmetro de identificação da "maturidade" do mel (Costa et al., 1999). Segundo Von Der Ohe, Dustmann & Von Der Ohe (1991), é necessário pelo menos 200 mg de prolina/kg de mel. Ácidos Os ácidos orgânicos do mel representam menos que 0,5% dos sólidos, tendo um pronunciado efeito no flavor, podendo ser responsáveis, em parte, pela excelente estabilidade do mel em frente a microorganismos. Na literatura, pelo menos 18 ácidos orgânicos do mel já foram citados. Sabe-se que o ácido glucônico está presente em maior quantidade, cuja presença relaciona-se com as reações enzimáticas que ocorrem durante o processo de amadurecimento. Já em menor quantidade, podem-se encontrar outros ácidos como: acético, butírico, lático, oxálico, fórmico, málico, succínico, pirúvico, glicólico, cítrico, butiricolático, tartárico, maléico, piroglutâmico, alfa-cetoglutárico, 2- ou 3-fosfoglicérico, alfa- ou beta-glicerofosfato e vínico (Strison et al., 1960; White, 1975; Mendes & Coelho, 1983). Tan et al. (1988) constataram alguns ácidos aromáticos no mel unifloral de manuka (Leptopermum scoparium) que não estavam presentes no néctar de suas flores. Os méis de manuka e de viperina (Echium vulgare), apresentam alta atividade antimicrobiana, podendo essa atividade estar relacionada com a presença de alguns tipos de ácido (Wilkins et al., 1993-95). Minerais Os minerais estão presentes numa concentração que varia de 0,02% a valores próximos de 1%. White (1975) constatou valores de 0,15% a 0,25% do peso total do mel. Entre os elementos químicos inorgânicos encontrados no mel, podem-se citar: cálcio, cloro, cobre, ferro, manganês, magnésio, fósforo, boro, potássio, silício, sódio, enxofre, zinco, nitrogênio, iodo, rádio, estanho, ósmio, alumínio, titânio e chumbo (White, 1975; Pamplona, 1989). Na tabela 7 pode ser verificado o conteúdo de minerais no mel de acordo com sua cor e a recomendação de ingestão diária para o homem. Embora em concentrações ínfimas, vitaminas, tais como: B1, B2, B3, B5, B6, B8, B9, C e D também são encontradas no mel, sendo facilmente assimiláveis pela associação a outras substâncias como o hidrato de carbono, sais minerais, oligoelementos, ácidos orgânicos e outros. A filtração do mel para fim comercial pode reduzir seu conteúdo de vitaminas, exceto a de vitamina K (Haydak et al., 1943). Segundo Kitzes et al. (1943), tal filtração retira do mel o pólen, responsável pela presença de vitaminas no mel. Tabela 7: Conteúdo de minerais em méis claro e escuro e os requerimentos humanos Elementos (macro e micro) Cor Variança (ppm) Média (ppm) Ingestão diária recomendada (mg) CLARA 23 - 68 49 CÁLCIO ESCURA 5 - 266 51 800 CLARA 23 - 50 35 FÓSFORO ESCURA 27 - 58 47 800 CLARA 100 - 588 205 POTÁSSIO ESCURA 115 - 4733 1676 782 CLARA 6 - 35 18 SÓDIO ESCURA 9 - 400 76 460 CLARA 11 - 56 19 MAGNÉSIO ESCURA 7 - 126 35 350 CLARA 23 - 75 52 CLORO ESCURA 48- 201 113 (300 - 1200) CLARA 7 - 12 9 DIÓXIDO DE SILÍCIO ESCURA 5 - 28 14 (21 - 46) como ác. Silício CLARA 1,20 - 4,80 2,40 FERRO ESCURA 0,70 - 33,50 9,40 20 CLARA 0,17 - 0,44 0,30 MANGANÊS ESCURA 0,46 - 9,53 4,09 10 CLARA 0,14 - 0,70 0,29 COBRE ESCURA 0,35 - 1,04 0,56 2 CLARA 36 - 108 58 ENXOFRE ESCURA 56 - 126 100 - Outros Os componentes menores do mel, como os materiais "flavorizantes" (aldeídos e álcoois), pigmentos, ácidos e minerais, influenciam consideravelmente nas diferenças entre tipos de mel. Sabatier et al. (1992) detectaram alguns flavonóides presentes no mel de girassol (conhecidamente rico em flavonóides). Em maiores concentrações, foram encontrados os seguintes flavonóides: pinocembrina (5,7-dihidroxiflavona), pinobanksina (3,5,7-trihidroxiflavonona), crisina (5,7-dihidroxiflavona), galangina (3,5,7-trihidroxiflavona) e quercetina (3,5,7,3’,4’-pentahidroxiflavona). Em menores concentrações: tectocrisina (5-hidroxi-7metoxiflavona) e quenferol (3,5,7,4’-tetrahidroxiflavona). Bogdanov (1989) usando HPLC constatou a presença de pinocembrina em quatro amostras de mel (duas de origem floral e duas de origem não-floral, o chamado "honeydew"). Propriedades terapêuticas Esse item tem a finalidade de informar sobre as diversas pesquisas que já foram e que vêm sendo desenvolvidas a respeito da utilização do mel com fins terapêuticos. Entretanto, qualquer produto ou substância que seja utilizada para fins curativos deve ter o devido consentimento médico. A utilização dos produtos das abelhas com fins terapêuticos é denominada APITERAPIA, que vem- se desenvolvendo consideravelmente nos últimos anos, com a realização de inúmeros trabalhos científicos, cujos efeitos benéficos à saúde humana têm sido considerados por um número cada vez maior de profissionais da saúde. Países como a Alemanha já a adotaram como prática oficial na sua rede pública de saúde. Especificamente ao mel, atribuem-se várias propriedades medicinais, além de sua qualidade como alimento. Apesar de o homem fazer uso do mel para fins terapêuticos desde tempos remotos, sua utilização como um alimento único, de características especiais, deveria ser o principal atrativo para o seu consumo. Infelizmente, a população brasileira, de maneira geral, não o encara dessa forma, considerando-o mais como um medicamento do que como alimento, passando a consumi-lo apenas nas épocas mais frias do ano, quando ocorre um aumento de casos patológicos relacionados aos problemas respiratórios. No Brasil seu consumo como alimento ainda é muito baixo (aproximadamente 300 g/habitante/ano), principalmente ao se comprar com países como os Estados Unidos e os da Comunidade Européia e África, que podem chegar a mais de 1kg/ano por habitante. Dentre as inúmeras propriedades medicinais atribuídas ao mel pela medicina popular e que vêm sendo comprovadas por inúmeros trabalhos científicos, sua atividade antimicrobiana talvez seja seu efeito medicinal mais ativo (Sato et al., 2000), sendo que não apenas um fator, mas vários fatores e suas interações são os responsáveis por tal atividade. Segundo Adcock (1962), Molan (1992) e Wahdan (1998), os responsáveis por essa habilidade antimicrobiana são os fatores físicos, como sua alta osmolaridade e acidez, e os fatores químicos relacionados com a presença de substâncias inibidoras, como o peróxido de hidrogênio, e substâncias voláteis, como os flavonóides e ácidos fenólicos. De maneira geral, destinam-se ao mel inúmeros efeitos benéficos em várias condições patológicas. Propriedades antissépticas, antibacterianas também são atribuídas ao mel, fazendo com que ele seja utilizado como coadjuvante na área terapêutica em diversos tratamentos profiláticos (Stonoga & Freitas, 1991). Sua propriedade antibacteriana já foi amplamente confirmada em diversos trabalhos científicos (Adcock, 1962; White & Subers, 1963; White, Subers & Schepartz, 1966; Smith et al., 1969; Dustmann, 1979; Molan et al., 1988; Allen et al., 1991; Cortopassi-Laurino & Gelly, 1991), como também sua ação fungicida (Efem et al., 1992), cicatrizante (Bergman et al., 1983 e Efem, 1988; Green, 1988 e Gupta et al., 1993) e promotora da epitelização das extremidades de feridas (Efem, 1988). Popularmente, ao mel ainda se atribuem outras propriedades como antianêmica, emoliente, antiputrefante, digestiva, laxativa e diurética (Veríssimo, 1987). Atualmente alguns países, como a França e a Itália já vêm objetivando a produção de mel com propostas terapêuticas específicas, como nos tratamentos de úlceras e problemas respiratórios (Yaniv & Rudich, 1996). Apesar de a medicina popular atribuir ao mel inúmeras propriedades curativas, sendo muitas delas já comprovadas por pesquisadores do mundo inteiro, a sua utilização para fins terapêuticos deve ser indicada e acompanhada por profissionais da saúde, não cabendo qualquer substituição de medicamentos sem o devido aval médico. Morfologia e Biologia das Abelhas Apis mellifera Aspectos morfológicos das abelhas Apis mellifera As abelhas, como os demais insetos, apresentam um esqueleto externo chamado exoesqueleto. Constituído de quitina, o exoesqueleto fornece proteção para os órgãos internos e sustentação para os músculos, além de proteger o inseto contra a perda de água. O corpo é dividido em três partes: cabeça, tórax e abdome (Fig. 3). A seguir, serão descritas resumidamente cada uma dessas partes, destacando-se aquelas que apresentam maior importância para o desempenho das diversas atividades das abelhas. Abdome O abdome é formado por segmentos unidos por membranas bastante flexíveis que facilitam o movimento do mesmo. Nesta parte do corpo, encontram-se órgãos do aparelho digestivo, circulatório, reprodutor, excretor, órgãos de defesa e glândulas produtoras de cera (Fig. 5). No aparelho digestivo, destaca-se o papo ou vesícula nectarífera, que é o órgão responsável pelo transporte de água e néctar e auxilia na formação do mel. O papo possui grande capacidade de expansão e ocupa quase toda a cavidade abdominal quando está cheio. O seu conteúdo pode ser regurgitado pela contração da musculatura (Nogueira Couto & Couto, 2002). Existem quatro glândulas produtoras de cera (ceríferas), localizadas na parte ventral do abdome das abelhas operárias. A cera secretada pelas glândulas se solidifica em contato com o ar, formando escamas ou placas que são retiradas e manipuladas para a construção dos favos com auxílio das pernas e das mandíbulas. No final do abdome, encontra-se o órgão de defesa das abelhas - o ferrão - presente apenas nas operárias e rainhas. O ferrão é constituído por um estilete usado na perfuração e duas lancetas que possuem farpas que prendem o ferrão na superfície ferroada, dificultando sua retirada. O ferrão é ligado a uma pequena bolsa onde o veneno fica armazenado. Essas estruturas são movidas por músculos que auxiliam na introdução do ferrão e injeção do veneno. As contrações musculares da bolsa de veneno permitem que o veneno continue sendo injetado mesmo depois da saída da abelha. Desse modo, quanto mais depressa o ferrão for removido, menor será a quantidade de veneno injetada. Recomenda-se que o ferrão seja removido pela base, utilizando- se uma lâmina ou a própria unha, evitando-se pressioná-lo com os dedos para não injetar uma maior quantidade de veneno. Como, na maioria das vezes, o ferrão fica preso na superfície picada, quando a abelha tenta voar ou sair do local após a ferroada, ocorre uma ruptura de seu abdome e conseqüente morte. Na rainha, as farpas do ferrão são menos desenvolvidas que nas operárias e a musculatura ligada ao ferrão é bem forte para que a rainha não o perca após utilizá-lo. Organização Social e Desenvolvimento das abelhas Apis mellifera Organização e estrutura da colméia As abelhas são insetos sociais, vivendo em colônias organizadas em que os indivíduos se dividem em castas, possuindo funções bem definidas que são executadas visando sempre à sobrevivência e manutenção do enxame. Numa colônia, em condições normais, existe uma rainha, cerca de 5.000 a 100.000 operárias e de 0 a 400 zangões (Fig.6). Figura 6. Rainha, operárias e zangões adultos de uma colméia de Apis mellifera. A rainha tem por função a postura de ovos e a manutenção da ordem social na colméia. A larva da rainha é criada num alvéolo modificado, bem maior que os das larvas de operárias e zangões, de formato cilíndrico, denominado realeira (Fig. 7), sendo alimentada pelas operárias com a geléia real, produto rico em proteínas, vitaminas e hormônios sexuais. A rainha adulta possui quase o dobro do tamanho de uma operária (Fig. 6) e é a única fêmea fértil da colméia, apresentando o aparelho reprodutor bem desenvolvido. Figura 7. Realeiras construídas na extremidade do favo. A vida reprodutiva da rainha inicia-se com o vôo nupcial para sua fecundação que ocorre, aproximadamente, 5 a 7 dias depois de seu nascimento. A fecundação ocorre em áreas de congregação de zangões, onde existem de centenas a milhares de zangões voando à espera de uma rainha, conferindo assim uma grande variabilidade genética no acasalamento. A rainha se dirige a essas áreas, a cerca de 10 metros de altura, atraindo os zangões com a liberação de substâncias denominadas feromônios. Apenas os mais rápidos e fortes conseguem alcançá-la e o acasalamento, ou cópula, ocorre em pleno vôo. Uma rainha pode ser fecundada por até 17 zangões e o sêmen é armazenado num reservatório especial denominado espermateca. Esse estoque de sêmen será utilizado para a fecundação de óvulos durante toda a vida da rainha, pois ao retornar à colônia não sairá mais para realizar outro vôo nupcial. A rainha começa a postura dos ovos na colônia de 3 a 7 dias depois do acasalamento. Somente a rainha é capaz de produzir ovos fertilizados, que dão origem às fêmeas (operárias ou novas rainhas), além de ovos não fertilizados, que originam os zangões. Em casos especiais, as operárias também podem produzir ovos, embora não fertilizados, que darão origem a zangões. A capacidade de postura da rainha pode ser de até 2.500 a 3.000 ovos por dia, em condições de abundância de alimento. Ela pode viver e reproduzir-se por até 3 anos ou mais. Entretanto, em climas tropicais, sua taxa de postura diminui após o primeiro ano. Por isso, costuma-se recomendar aos apicultores que substituam suas rainhas anualmente. A rainha consegue manter a ordem social na colméia através da liberação de feromônios. Essas substâncias têm função atrativa e servem para informar aos membros da colméia que existe uma rainha presente e em atividade; inibem a produção de outras rainhas; a enxameação e a postura de ovos pelas operárias. Servem ainda para auxiliar no reconhecimento da colméia e na orientação das operárias. A rainha está sempre acompanhada por um grupo de 5 a 10 operárias, encarregadas de alimentá-la e cuidar de sua limpeza. As operárias também podem aproximar-se da rainha para recebimento e repasse dos feromônios a outros membros da colméia. Quando ocorre a morte da rainha ou quando ela deixa de produzir feromônios e de realizar posturas, em virtude de sua idade avançada, ou ainda quando o enxame está muito populoso e falta espaço na colméia, as operárias escolhem ovos recentemente depositados ou larvas de até 3 dias de idade, que se desenvolvem em células especiais - realeiras (Fig. 7) - para a produção de novas rainhas. A primeira rainha a nascer destrói as demais realeiras e luta com outras rainhas que tenham nascido ao mesmo tempo até que apenas uma sobreviva. Em caso de população grande, a rainha velha enxameia com, aproximadamente, metade da população antes do nascimento de uma nova rainha. Em alguns casos, quando a rainha está muito cansada, ela pode permanecer na colméia em convivência com a nova rainha por algumas semanas, até sua morte natural. Também pode ocorrer que a nova rainha elimine a rainha antiga, logo após o nascimento. As operárias (Fig. 6) realizam todo o trabalho para a manutenção da colméia. Elas executam atividades distintas, de acordo com a idade, desenvolvimento glandular e necessidade da colônia (Tabela 8). Tabela 8. Funções executadas pelas operárias de acordo com a idade. Idade Função 1º ao 5º dia Realizam a limpeza dos alvéolos e de abelhas recém-nascidas 5º ao 10º São chamadas abelhas nutrizes porque cuidam da alimentação das larvas em desenvolvimento. Nesse estágio, elas apresentam grande desenvolvimento das glândulas hipofaringeanas e mandibulares, produtoras de geléia real. 11º ao 20º dia Produzem cera para construção de favos, quando há necessidade, pois nessa idade as operárias apresentam grande desenvolvimento das glândulas ceríferas. Além disso, recebem e desidratam o néctar trazido pelas campeiras, elaborando o mel. 18º ao 21º dia Realizam a defesa da colméia. Nessa fase, as operárias apresentam os órgãos de defesa bem desenvolvidos, com grande acúmulo de veneno. Podem também participar do controle da temperatura na colméia. 22º dia até a morte Realizam a coleta de néctar, pólen, resinas e água, quando são denominadas campeiras. É importante ressaltar que a necessidade da colméia pode fazer com que as operárias reativem algumas das glândulas atrofiadas para realizar determinada atividade, ou seja, se for necessário, uma abelha mais nova pode sair para a coleta no campo e uma abelha mais velha pode encarregar-se de alimentar a cria. As operárias possuem os órgãos reprodutores atrofiados, não sendo capazes de se reproduzirem. Isso acontece porque, na fase de larva, elas recebem alimento menos nutritivo e em menor quantidade que a rainha. Além disso, a rainha produz feromônios que inibem o desenvolvimento do sistema reprodutor das operárias na fase adulta. Em compensação, elas possuem órgãos de defesa e trabalho perfeitamente desenvolvidos, muitos dos quais não são observados na rainha e no zangão, como a corbícula (onde é feito o transporte de materiais sólidos) e as glândulas de cera. Os zangões (Fig. 6) são os indivíduos machos da colônia, cuja única função é fecundar a rainha durante o vôo nupcial. As larvas de zangões são criadas em alvéolos maiores que os alvéolos das larvas de operárias (Fig. 8) e levam 24 dias para completarem seu desenvolvimento de ovo a adulto. Eles são maiores e mais fortes do que as operárias, entretanto, não possuem órgãos para trabalho nem ferrão e, em determinados períodos, são alimentados pelas operárias. Em contrapartida, os zangões apresentam os olhos compostos mais desenvolvidos e antenas com maior capacidade olfativa. Além disso, possuem asas maiores e musculatura de vôo mais desenvolvida. Essas características lhes permitem maior orientação, percepção e rapidez para a localização de rainhas virgens durante o vôo nupcial. Figura 8. Alvéolos de zangão e de operária de Apis mellifera. Comunicação Entre as abelhas Apis mellifera, a comunicação pode ser feita por meio de sons, substâncias químicas, tato, danças ou estímulos eletromagnéticos. A transferência de alimento parece ser uma das maneiras mais importantes de comunicação, uma vez que, durante as transferências, ocorrem também trocas de algumas secreções glandulares. Esse simples gesto de troca de alimento pode informar a necessidade de néctar e água, odor e sabor da fonte de alimento e as mudanças na qualidade e quantidade de néctar coletado, afetando a postura, criação da prole, secreção de cera e armazenamento do mel, entre outras atividades.Durante esse processo, são transferidos, também, feromônios que estimulam ações específicas, como será visto a seguir. O principal meio de comunicação químico é feito pelos feromônios, que são substâncias químicas produzidas e liberadas externamente por indivíduos, que produzem uma resposta específica no comportamento ou fisiologia de indivíduos da mesma espécie. Em abelhas esses feromônios são transmitidos pelo ar, contato físico ou alimento. Na Tabela 10, apresentam-se alguns feromônios produzidos pelas abelhas e as reações desencadeadas por eles, de acordo com Free (1987), Winston (1987) e Nogueira Couto & Couto (2002). Tabela 10. Alguns feromônios produzidos por abelhas Apis mellifera e suas respectivas reações. Feromônios Reação desencadeada Produzidos por operárias: Feromônio de trilha Orienta as operárias na localização do ninho e de fontes de alimento Feromônio de alarme Alerta as operárias para a presença de inimigo próximo à colméia Feromônio de defesa Liberado por operárias durante a ferroada, atrai outras operárias para ferroarem o local Feromônio de detenção Repele as operárias de fontes sem disponibilidade de alimento Feromônio da glândula de Nasonov Liberado na entrada da colméia durante a enxameação e em fontes de água e alimento, ajuda na orientação e no agrupamento das abelhas Produzidos por rainhas: Feromônio da glândula mandibular Atrai zangões para o acasalamento, mantém a unidade da colméia, inibe o desenvolvimento dos ovários das operárias e a produção de rainhas Feromônio das glândulas epidermais Atração das operárias. Age em sinergia com o feromônio da glândula mandibular Feromônio de trilha Ajuda a evitar a produção de novas rainhas. Produzidos por zangões: Feromônio da glândula mandibular do zangão Atrai rainhas e outros zangões para a zona de congregação de zangões Produzidos por crias: Feromônio de cria Estimula a coleta de alimento e inibe o desenvolvimento dos ovários das operárias. Permite que as operárias reconheçam idade, casta e estado de sanidade das crias Fonte: Free (1987), Winston (1987) e Nogueira Couto & Couto (2002). A dança é outro importante meio de comunicação; por meio dela as operárias podem informar a distância e a localização exata de uma fonte de alimento, um novo local para instalação do enxame, a necessidade de ajuda em sua higiene ou, ainda, podem impedir que a rainha destrua novas realeiras e estimular a enxameação. O cientista alemão Karl Von Frisch descobriu e definiu o sistema de comunicação utilizado para informar sobre a localização da fonte de alimento, observando que as abelhas costumam realizar três tipos de dança: dança em círculo, dança do requebrado ou em forma de oito e dança da foice (Wiese, 1985) (Tabela 11). Tabela 11. Tipos de dança realizados pelas abelhas Apis mellifera para transmitir informações sobre fontes de alimentos. Dança Função Dança em círculo Informa sobre fontes de alimento que estão a menos de cem metros de distância da colméia. Dança do requebrado Usada para fontes de alimento que estão a mais de cem metros de distância. Nessa dança, a abelha descreve a direção e a distância da fonte. Dança da foice Considerada uma dança de transição entre a dança em círculo e a do requebrado. É utilizada quando o alimento se encontra a até cem metros da colméia. As danças podem ser executadas dentro da colméia, sobre um favo, ou no alvado. Durante a dança, a operária campeira indica a direção da fonte de alimento em relação à posição da colméia e do sol. A distância da colméia até a fonte de néctar é informada pelo número de vibrações (requebrados) realizadas e pela intensidade do som emitido durante a dança. Quanto menor a distância entre a fonte e a colméia, maior o número de vibrações. A campeira pode interromper sua dança a curtos intervalos e oferecer às operárias que estão observando, uma gota do néctar que coletou. Assim, ela informa o odor do néctar e da flor e as demais operárias partem em busca desta fonte. O recrutamento aumenta com a vivacidade e a duração da dança. Termorregulação da colméia Independentemente da temperatura externa, a área de cria da colméia é mantida entre 34 e 35º C, temperatura ideal para o desenvolvimento das crias. A ocorrência de temperaturas fora dessa faixa pode provocar aumento da mortalidade na colônia e as operárias que emergirem podem apresentar defeitos físicos nas asas ou outras partes do corpo. Para baixar a temperatura da colméia, as abelhas do interior da colônia se distanciam dos favos e se aglomeram do lado de fora da caixa. Algumas operárias ficam posicionadas na entrada do ninho, movimentando suas asas de forma a direcionar uma corrente de ar para o interior da colméia. Essa corrente de ar, além de esfriar a colméia, auxilia na evaporação da umidade do néctar, transformando-o em mel. No interior da caixa, outras operárias estão batendo as asas, ajudando na circulação da corrente de ar. Se houver duas entradas na colméia, o ar é aspirado por uma entrada e expelido pela outra; caso contrário, usa-se parte da entrada para aspirar e outra parte para expelir. Se a temperatura do ar estiver muito alta, as operárias coletam água e espalham pequenas gotas pela colméia e/ou regurgitam pequena quantidade de água abaixo da língua, que será evaporada pela corrente de ar, auxiliando no resfriamento da colônia. A umidade evaporada do néctar também se presta a esse fim. A umidade relativa da colméia é mantida por volta dos 40%. Se essa porcentagem aumentar muito com a evaporação do néctar, as operárias imediatamente provocarão uma corrente de ar para o interior da colméia, na tentativa de diminuir a umidade. Em períodos frios, para aumentar a temperatura do interior do ninho, as abelhas se aglomeram em "cachos". Se a temperatura continuar caindo, as operárias aumentam sua taxa de metabolismo, provocando vibrações dos músculos torácicos, gerando calor. Ocorre também uma troca de posição: abelhas que estão no centro do cacho vão para as extremidades e vice-versa. Equipamentos A prática apícola requer alguns utensílios especiais, tanto para o preparo das colmeias, como para o manejo em si, sendo de suma importância o emprego correto desses itens pelo apicultor, para que se possam garantir a produção racional dos diversos produtos apícolas e a segurança de quem está manejando as colmeias, assim como das próprias abelhas. Martelo de Marceneiro e Alicate Ferramentas muito utilizadas pelo apicultor na manutenção das colmeias (Fig. 11 A e B) e principalmente na atividade de "aramar" os quadros (colocação do arame nos quadros para sustentação da placa de cera alveolada). Figura 11. Alguns dos apetrechos utilizados pelo apicultor para o preparo das colmeias: (A) martelo de marceneiro, (B) alicate, (C) aram, (D) esticador de arame, (E) quadro de melgueira. Arame Arame utilizado para formação de uma base de sustentação e fixação da placa de cera alveolada. Deve ter espessura tal que permita leve tensionamento sem o seu rompimento, mas que não seja grosso demais, o que iria dificultar a fixação da cera. Normalmente se usa o arame nº 22 ou nº 24. Recomenda-se a utilização do arame de aço inóx, mais resistente e de maior durabilidade que o arame comum de metal (Fig. 11 C). Esticador de Arame Trata-se de um suporte de metal, onde o quadro é encaixado, com a finalidade de esticar o arame. Ferramentas como alicates (corte ou de bico) também podem auxiliar nesse procedimento ou mesmo realizá-lo plenamente, embora sem a mesma eficiência e praticidade do esticador (Fig. 11 D e Fig. 12). Figura 12. Esticador de arame (A) e o quadro de melgueira (B). Carretilha de Apicultor Equipamento utilizado para fixação da cera no arame. É constituída de uma peça com empunhadura de madeira e parte de metal, com uma roda dentada na extremidade (Fig. 13). Figura 17. Formão do apicultor (A) e vassoura ou espanador (B). Vassoura ou espanador apícola O espanador é uma pequena vassoura de mão utilizada para remover as abelhas dos favos ou de outros locais sem machucá-las (Fig. 17 B). Devem ser fabricadas de cerdas sintéticas (cores claras de preferência), pois as cerdas naturais têm odor muito forte, irritando as abelhas. Vestimentas O uso da vestimenta apícola pelo apicultor é condição essencial para uma prática segura. Composta de macacão, máscara, luva e bota, apresenta algumas características específicas (Fig. 19): • Macacão: Deve ser de cor clara (cores escuras podem irritar as abelhas), confeccionado com brim (grosso) ou materiais sintéticos (nylon, polyester, etc.). Pode ser inteiriço ou composto de duas peças (calça e jaleco), com elásticos nas extremidades (pernas e braços), tendo a máscara já acoplada ou não. Os modelos que têm a máscara separada necessitam de chapéu (de palha); outros mais modernos, dispensam o seu uso. Recomenda-se que o macacão esteja bem folgado, evitando o contato do tecido com a pele do apicultor. Atualmente, existem no mercado vários modelos que agregam inúmeras soluções que facilitam o manejo (áreas maiores de ventilação, local que permita a ingestão de líquidos, materiais mais resistentes, etc.). • Luva: Podendo ser confeccionada com diversos materiais (couro, napa ou mesmo borracha), deve, entretanto, ser capaz de evitar a inserção do ferrão na pele, principalmente porque as mãos do apicultor são áreas muito visadas pelas abelhas. • Bota: Deve ser de cor clara, de preferência cano alto, confeccionada em borracha ou couro. Figura 19. Vestimenta apícola completa: (A) jaleco com máscara e calça, (B) luvas, (C) bota. Colméia As colmeias são as peças fundamentais na prática de uma apicultura racional. O desenvolvimento de peças móveis (tampas, fundos, quadros, etc.) permitiu a exploração dos produtos apícolas de forma contínua e racional, sem dano para as abelhas. Existem vários modelos de colmeias, entretanto, o apicultor deve padronizar seu apiário, evitando a utilização de diferentes modelos. Uma colmeia racional é subdividida em: tampa, sobrecaixa (melgueira ou sobreninho), ninho e fundo e os quadros (caixilhos). A manutenção das medidas padrões para cada modelo também é essencial. Para a construção das colmeias, recomenda-se uso de madeiras de boa qualidade (cedro, aroeira, pau d'arco, etc.), que garantam uma maior vida-útil para a caixa. A madeira deve estar bem seca, evitando posterior deformação. A espessura da tábua pode variar, desde que sejam respeitadas as medidas internas das colmeias e externas dos quadros. O produtor poderá optar por usar na parte superior da colmeia a melgueira ou o sobreninho. As caixas podem ser compradas ou feitas pelo apicultor e devem ser pintadas externamente com tinta de cor clara e de boa qualidade (látex), o que ajuda na conservação do material. Internamente, as colmeias não devem ser pintadas. O modelo indicado pela Confederação Brasileira de Apicultura como padrão de colmeia é o modelo Langstroth (Fig. 20 a Fig. 23). Esta colmeia idealizada por Lorenzo Lorin Langstroth, em 1852, baseada nas pesquisas que identificaram o "espaço abelha". O espaço abelha é considerado uma das grandes descobertas da apicultura moderna e trata-se do espaço livre que deve haver entre as diversas partes da colmeia, ou seja, entre as laterais e os quadros, quadros e fundo, quadros e tampa e entre os quadros. Esse espaço deve ser de, no mínimo, 4,8 mm e, no máximo, 9,5 mm. Se menor, impede o livre transito das abelhas; se maior, será obstruído com própolis ou construção de favos. Na construção das colmeias, o espaço abelha deve ser rigorosamente respeitado. Figura 20. Colmeia Langstroth vista de frente. Figura 21. Partes da colmeia Langstroth: tampa (A), melgueira (B), ninho (C), fundo (D). relação a pessoas e animais, em função da presença de abelhas. É recomendável que o apiário seja cercado, podendo-se utilizar mourões de madeira e arame farpado, ou materiais que estejam disponíveis no local, como bambus, madeiras, etc. Esses materiais alternativos podem reduzir o custo de instalação da cerca, apesar de não terem a mesma durabilidade de uma cerca com arame (Fig.27). Outros pontos a serem considerados quando se pretende instalar um apiário serão discutidos no item Localização. Figura 27. Apiário fixo devidamente cercado (cerca ao fundo). Apiário Migratório Esse tipo de apiário deve atender à maioria das características de um apiário fixo, entretanto, é usado na prática da apicultura migratória, em que as abelhas são deslocadas ao longo do ano para locais com recursos florais abundantes. Como a necessidade de deslocamento é freqüente, a maioria dos apicultores prefere não cercar esses apiários, o que acarretaria um aumento dos custos (já consideráveis em uma apicultura migratória) e de mão-de-obra para a instalação das cercas. Outra característica que o difere do apiário fixo está baseada nos tipos de cavaletes utilizados. Pela necessidade de praticidade no transporte das colmeias e do restante do material, os cavaletes utilizados devem ser desmontáveis ou dobráveis diminuindo, dessa forma, o volume de carga a ser transportada e o tempo gasto na sua montagem e desmontagem (Fig. 28.). Alguns apicultores ainda preferem a simples utilização de tijolos e caibros de madeira, para a construção de um suporte para as colmeias. Apesar de esses cavaletes serem de fácil instalação, existem algumas desvantagens com relação ao manejo no caso de as colmeias serem dispostas em um mesmo suporte e pela falta de proteção contra formigas e cupins. A situação menos recomendável é aquela em que as colmeias são dispostas em contato direto com o solo, sem a utilização de qualquer suporte, acarretando prejuízos tanto para o enxame como para a vida útil das caixas. Figura 28. Colmeias com cavaletes dobráveis em apiário móvel. Localização do Apiário Dentre os vários aspectos que devem ser levados em conta quando se pretende instalar um apiário, a disponibilidade de recursos florais é, sem dúvida, a mais importante, sendo abordada em detalhes a seguir. Flora Apícola A flora apícola é caracterizada pelas espécies vegetais que possam fornecer néctar e/ou pólen, produtos essenciais para a manutenção das colônias e para a produção de mel. O conjunto dessas espécies é denominado "pasto apícola ou pastagem apícola". Para que se obtenha sucesso na criação de abelhas, é fundamental uma avaliação detalhada da vegetação em torno do apiário, levando-se em conta não apenas a identificação das espécies melíferas, mas também a densidade populacional e os seus períodos de floração. Essas informações serão fundamentais na decisão do local para a instalação do apiário, assim como no planejamento e cuidados a serem tomados (revisão, alimentação suplementar e de estímulo, etc.) para os períodos de produção e para os períodos de entressafra (épocas de pouca ou nenhuma disponibilidade de recursos florais). O pasto apícola pode ser natural, ou seja, formado a partir de espécies nativas ou proveniente de culturas agrícolas e reflorestamentos da indústria de madeira e papel. Nesses casos, a dependência de monoculturas não é aconselhável, pois, além de as abelhas só terem fontes de néctar e pólen em determinadas épocas do ano, há o risco de contaminação dos enxames e dos produtos pela aplicação de agroquímicos nessas áreas (prática comum na agricultura convencional). No caso dos grandes reflorestamentos de eucalipto, nem sempre podem ser considerados bons pastos apícolas, pois, apesar de existirem várias espécies com grande potencial apícola, na maioria dos casos, o corte das árvores ocorre antes da sua maturidade reprodutiva e conseqüente floração. A diversidade do pasto apícola é uma situação que deve ser buscada. Nesse sentido, o apicultor pode e deve melhorar, sempre que possível, seu pasto apícola, introduzindo na área em torno do apiário espécies apícolas que sejam adaptadas à região, de preferência que apresentem períodos de floração diferenciados, disponibilizando recursos florais ao longo de todo o ano. O tamanho de um pasto apícola, assim como a sua qualidade (variedade e densidade populacional das espécies, tipos de produtos fornecidos, néctar e/ou pólen e diferentes períodos de floração) irão determinar o que tecnicamente denomina-se "capacidade de suporte" da área. É a capacidade de suporte que irá determinar o número de colmeias a serem locadas em uma área, levando-se em conta o aspecto produtivo. Dessa forma, o potencial florístico dessa área será explorado pelas abelhas, de forma a maximizar a produção, sem que ocorra competição pelos recursos disponíveis. Apesar das abelhas terem a capacidade de forragear com alta eficiência uma área de 2 a 3 Km ao redor do apiário (em torno de 700 ha de área total explorada), quanto mais próximo da colmeia estiver a fonte de alimento, mais rápido será o transporte, permitindo que as abelhas realizem um maior número de viagens contribuindo para o aumento da produção. Outros Fatores a Serem Considerados Além da importância da flora apícola em torno do apiário, outros fatores são fundamentais para uma produção otimizada, de qualidade e para a facilidade no manejo. A seguir listar-se-ão os principais pontos a serem considerados: • Acesso O local do apiário deve ser de fácil acesso, dispondo de acesso a veículos o mais próximo possível das colmeias, o que facilita acentuadamente o manejo, o transporte da produção e, eventualmente, das colmeias. • Topografia O terreno do apiário deve ser plano, com frente limpa, evitando-se áreas elevadas (topo de morros, etc.), em virtude da ação negativa dos ventos fortes. Terrenos em declive dificultam o deslocamento do apicultor pelo apiário e, conseqüentemente, o manejo das colmeias, principalmente durante a colheita do mel. • Proteção contra os ventos A proteção contra ventos fortes, é fundamental para uma melhor produtividade do apiário, pois regiões descampadas, castigadas pela ação de ventos fortes, dificultam o vôo, causando desgaste energético adicional para as operárias. • Perímetro de Segurança O apiário deve estar localizado a uma distância mínima de 400 metros de currais, casas, escolas, estradas movimentadas, aviários e outros, evitando-se situações que possam levar perigo às pessoas e animais. Outra questão a ser considerada é a distância mínima de 3 km em relação a engenhos, sorveterias, fábricas de doces, aterros sanitários, depósitos de lixo, matadouros, etc., para que não ocorra contaminação do mel por produtos indesejáveis. • Identificação É aconselhável que o apiário disponha de uma placa de identificação e aviso em relação à presença de abelhas na área. Essa placa deve estar em lugar visível, escrita de forma legível e de preferência a uma distância segura em relação às colmeias. Infelizmente, os apicultores brasileiros preferem não sinalizar seus apiários ou por desconhecimento da importância de uma sinalização de aviso ou principalmente em virtude da acentuada incidência de roubos e saques em suas colmeias. • Água A presença de água é fundamental para a manutenção dos enxames, principalmente em regiões de clima quente, uma vez que a água é usada para auxiliar na termorregulação (em casos extremos, uma colmeia pode chegar a consumir 20 litros d'água por semana). Deve-se fornecer para as abelhas fonte de água pura a uma distância de, no mínimo, 100 metros, (para que não haja contaminação pelos próprios dejetos das abelhas, uma vez que elas só os liberam fora da colmeia) e no máximo de 500 metros (evitando-se gasto energético acentuado para a sua coleta). Caso o local não disponha de fonte natural (rios, nascentes, etc.), deve-se instalar um bebedouro artificial, tomando-se o cuidado de manter a água sempre limpa. Para isso, deve-se trocá-la freqüentemente e lavar o bebedouro com uma escova, evitando foco de contaminação. • Sombreamento O apicultor deve procurar instalar seu apiário em área sombreada, mas não úmida em demasia, de forma a evitar os efeitos nocivos das altas temperaturas em relação à qualidade do mel e propiciar o desenvolvimento normal das crias. O sombreamento também pode contribuir para minimizar os efeitos do calor excessivo no apicultor, durante seu trabalho no apiário. O sombreamento pode ser natural (sombra de árvores) ou artificial (coberturas artificiais construídas a partir de diversos materiais, dos mais rústicos aos mais resistentes) (Fig.28.). Se essa situação não for possível, recomenda-se que pelo menos as colmeias apresentem algum tipo de cobertura, protegendo-as da insolação direta e dos efeitos da chuva, que diminuem a vida útil das colmeias e contribuem para o aumento indesejado de umidade. Para isso, devem utilizar materiais que não venham a acentuar o efeito das altas temperaturas (telha de amianto, etc.). Para uma prática apícola segura, o uso de vestimentas adequadas (macacões) é imprescindível; entretanto, contribuem para uma sensação térmica desconfortável, o que reforça a importância de se instalar o apiário em área sombreada. • Suporte das Colméias As colmeias devem ser instaladas em suportes, denominados cavaletes, com a finalidade de se evitar o contato direto com o solo, protegendo-as da umidade do terreno. Esses cavaletes devem ser individuais, a fim de que, durante o manejo, não se perturbe a colmeia ao lado, em virtude da característica mais defensiva de nossas abelhas (Fig.28). Esses suportes podem ser feitos de madeira ou metal e devem apresentar proteção contra formigas e cupins. Existem várias soluções para esse tipo de proteção, como pequenas bacias para a colocação de graxa, óleo, etc., funis invertidos, entre outros. Os cavaletes devem apresentar uma leve inclinação em relação ao nível do solo, para que se evite a entrada da água da chuva nas colmeias, e ser instalados de forma que as colmeias estejam a 50 cm do solo, facilitando o manejo, pois colmeias muito baixas obrigam o apicultor a trabalhar curvado e colmeias muito altas dificultam o manejo e o acesso às melgueiras). • Disposição das Colméias O alvado (entrada da colmeia) deve estar, de preferência, voltado para o sol nascente, estimulando as abelhas a iniciarem mais cedo suas atividades. Entretanto, essa recomendação pode ser sobreposta ao analisarem-se a direção do vento (ventos fortes podem dificultar o pouso e conseqüentemente a entrada das abelhas na colmeia), e a distribuição das linhas de vôo ( deve-se evitar que a saída das abelhas de uma colmeia interfira na outra). As colmeias podem ser dispostas sob várias formas (em linha reta, fileiras paralelas, semicírculo, etc.), todavia, em todos os casos, deve-se manter uma distância mínima de 2 metros entre colmeias, evitando-se alvoroço, brigas, saques e mortandade das abelhas, por ocasião do manejo. A disposição das caixas no apiário estará dependente da área disponível, mas, qualquer que seja a forma escolhida, deve priorizar o acesso de veículos, minimizando o esforço físico do apicultor no manejo de colheita de mel e no caso do transporte das colmeias (apicultura migratória). Visando otimizar o trabalho do apicultor no campo, deve-se evitar a colocação das colmeias de forma muito dispersa e distante uma da outra. • Respeitar a capacidade defensiva das abelhas, utilizando vestimenta apícola adequada, de cores claras, em bom estado de conservação e limpeza (Fig. 19); evitar cheiros fortes (suor, perfume) e barulho que possa irritar as abelhas. • Utilizar um bom fumigador (Fig. 16) com materiais de combustão de origem vegetal, tais como, serragem, folhas e cascas secas, de modo a produzir uma fumaça branca, fria e sem cheiro forte. Não devem ser usados produtos de origem animal ou mineral. • É aconselhável que duas pessoas realizem a revisão para que uma fique manejando o fumigador, enquanto a outra realiza a abertura e vistoria da colmeia. Assim, a revisão pode ser feita de forma rápida, eficiente e segura. • Posicionar-se sempre na parte detrás ou nas laterais da colmeia, nunca na frente, evitando a linha de vôo das abelhas (entrada e saída da colmeia). • Realizar a revisão com calma, sem movimentos bruscos, porém, rapidamente, evitando que a colmeia fique aberta por muito tempo. • Evitar a exposição demorada dos favos ao sol ou ao frio. O uso da fumaça é essencial para o manejo das colmeias. Sua função é simular uma situação de perigo (ocorrência de incêndio), fazendo com que as abelhas se preparem para abandonar o local. Para isso, a maior parte das operárias passa a consumir o máximo de alimento possível, armazenando-o no papo. O excesso de alimento ingerido, além de deixar a abelha mais pesada, provoca uma distensão do abdome que dificulta os movimentos para a utilização do ferrão. Na abertura da colmeia, deve-se aplicar fumaça no alvado, aguardar alguns segundos para que a fumaça atue sobe as abelhas, levantar um pouco a tampa, com auxílio do formão, e aplicar fumaça horizontalmente sobre os quadros. Em seguida, retira-se a tampa, evitando movimentos bruscos. Durante a vistoria, a fumaça deve ser aplicada regularmente e sem excesso na colmeia em que se está trabalhando e em colmeias próximas, sempre que se observar aumento da agressividade das abelhas. O que observar durante as revisões Depois de aberta a colmeia, utilizando-se o formão, devem-se separar os quadros, que geralmente estão colados com própolis, e retirá-los um a um, a partir das extremidades, para observar os seguintes aspectos: • Presença de alimento (mel e pólen) e de crias (ovo, larva, pupa). • Presença da rainha e avaliação de sua postura. Para verificar a presença da rainha, não é necessário visualizá-la, basta observar a ocorrência de ovos nas áreas de cria. A verificação de muitas falhas nas áreas de cria (Fig. 30) é um indicativo de que a rainha está velha e, conseqüentemente, sua postura está irregular. • Existência de espaço suficiente para o desenvolvimento da colmeia e armazenamento do alimento. Quando a população está elevada e o espaço restrito, a colônia tende a dividir-se naturalmente, enxameando. • Presença de realeiras que podem indicar ausência de rainha ou que a colônia está prestes a enxamear. • Sinais de ocorrência de doenças, pragas ou predadores. Áreas de cria com falhas (Fig. 30) também podem indicar a ocorrência de doenças. • Estado de conservação dos quadros, caixas, fundos, tampas e suportes das colmeias. Figura 30. Áreas de crias com poucas falhas (a) e com muitas falhas (b). Algumas situações encontradas durante as revisões e medidas recomendadas A ausência de cria jovem e a existência de realeiras (Fig. 7) podem indicar que a rainha morreu e está sendo naturalmente substituída. Estas colmeias devem ficar em observação até que se verifique o sucesso da substituição. Se não houver crias nem realeiras, mas a rainha está presente, a colmeia poderá estar passando por uma situação de fome ou frio que induz uma interrupção da postura da rainha. Essas colmeias deverão então ser alimentadas e os alvados, reduzidos. Já a ocorrência de realeiras quando a rainha está presente e sua postura é regular indica que a colmeia está preparando-se para enxamear. Nesse caso, devem-se retirar as realeiras e aumentar o espaço na colmeia, acrescentando sobrecaixas, ou efetuar a divisão do enxame, cujo procedimento será descrito posteriormente. Quando se observarem uma colmeia sem rainha e sem realeiras e a ocorrência de forte zumbido das operárias, é um indicativo de que a rainha morreu e a colmeia não tem condições de produzir uma nova rainha em virtude da inexistência de crias jovens. Nesse caso, devem-se introduzir uma rainha ou fornecer condições para que as abelhas a produzam. Para tanto, deve-se introduzir favos com ovos ou larvas bem pequenas, com até 3 dias de idade. As revisões também têm por finalidade a identificação de colmeias fortes e fracas no apiário, a fim de serem executados procedimentos para a sua uniformização. No caso de colmeias fracas, devem-se adotadar técnicas de fortalecimento de exames. Em colmeias populosas, pode-se proceder à divisão dos enxames, se o apicultor desejar aumentar o número de colmeias. Entretanto, ressalta-se que o apicultor deve procurar trabalhar sempre com enxames forte. Maiores detalhes sobre esses procedimentos serão apresentados em itens subseqüentes. Fortalecimento e união das famílias Colônias fracas são, geralmente, conseqüência da falta de alimento disponível no campo, divisão natural de enxames, rainhas velhas e enxames recém-capturados. Além de não produzirem, essas colônias são alvo fácil de pragas e doenças. Para evitar esses, problemas o apicultor deve fortalecer ou unir essas colmeias. Fortalecendo enxames A alimentação suplementar estimula a postura da rainha e ajuda a aumentar a população, acelerando o crescimento do enxame. Outra forma de aumentar a população da colônia é introduzir favos com crias fechadas prestes a nascerem nos enxames fracos. Esses quadros, que são retirados de colmeias populosas, não são rejeitados e a abelha quando emerge é aceita facilmente no novo ninho. É importante que o apicultor use nessa operação favos com pupa e não com larvas, pois enxames fracos não conseguem alimentar, aquecer e cuidar de uma grande quantidade de larvas, que acabam morrendo. Além disso a pupa nasce em pouco tempo e passa a contribuir para o aumento da população do ninho e produção em menos tempo do que a larva, que ainda terá que completar todo o seu ciclo de desenvolvimento. O uso de redutor de alvado e de espaço diminui a entrada da colmeia e o espaço interno, respectivamente. Essa redução auxilia as abelhas a defender o ninho e a manter a colônia na temperatura ideal para o desenvolvimento das crias, sendo, portanto, procedimentos importantes a serem seguidos para o fortalecimento da colônia. União de enxames Outra forma de reforçar colmeias fracas é a união de enxames. Existem várias técnicas descritas e relatadas, entretanto, muitas delas são traumáticas e nem sempre são eficientes. A técnica da união de enxames com papel é usada com sucesso em todo o País e necessita somente de um pouco de mel e duas folhas de papel um pouco maiores que a tampa da colmeia. O papel usado deve ser flexível, da textura do jornal ou de papel de embrulho. Por muito tempo, essa técnica foi realizada usando-se jornal. Atualmente, com a preocupação crescente do consumidor em adquirir um produto livre de contaminação química, o jornal, ou qualquer outro papel impresso, deve ser evitado em razão do chumbo contido na tinta de impressão. Essa recomendação é somente preventiva uma vez que o jornal fica em contato com as abelhas somente por 3 dias e não existem pesquisas que comprovem o efeito da tinta na qualidade do mel nesse curto espaço de tempo. Para proceder a união, o apicultor pode seguir as etapas descritas abaixo e demonstradas na Fig. 31. • Nos enxames a serem usados, selecionar uma das rainhas e eliminar a outra. • Colocar uma folha de papel no lugar da tampa da colmeia que ficou com a rainha. • Derramar um pouco de mel sobre o papel e colocar outro papel por cima. • Retirar o fundo da outra colmeia e colocar em cima do jornal. • Dois ou três dias após a união retirar os melhores quadros dos dois enxames e comportá-los em uma única caixa. O papel colocado entre as duas caixas separa os enxames e evita briga entre as operárias. O cheiro de mel incentiva as operárias a roerem e eliminarem o papel vagarosamente. Nesse processo, os feromônios dos dois enxames começam a misturar-se e, quando o papel for totalmente removido, as abelhas dos dois enxames já ter-se-ão acostumado com o feromônio das outras, não havendo brigas e rejeição. Como muitas vezes o enfraquecimento do enxame deve-se a rainhas velhas, cansadas ou pouco prolíferas, o ideal é que o apicultor elimine as duas rainhas e introduze uma nova proveniente de um enxame mais produtivo e forte. Figura 31. Esquema da união de enxames usando o método do jornal. Ilustração: Fábia de Mello Pereira Divisão das famílias A situação de grande volume populacional em colônias fortes pode ser facilmente reconhecida pela grande quantidade de abelhas fora da colmeia. Quando a população do ninho aumenta muito, falta espaço para as abelhas na colmeia, a temperatura interna aumenta e o ferômonio da rainha começa a ficar diluído na população. Todos esses fatores aliados à grande disponibilidade de alimento no campo levam as operárias a produzirem nova rainha e o enxame a dividir-se. Por ocasião da divisão, cerca de metade das operárias e parte dos zangões vão embora do ninho acompanhando a rainha velha, enquanto que o restante do enxame permanece no local esperando o nascimento da rainha nova. Muitas vezes, a colônia está tão forte que esse processo pode ocorrer duas ou três vezes. Para não perder suas abelhas, o apicultor deve manejar e dividir seu enxame, aumentando a população de seu apiário. Entretanto, como a colônia dividida reduz ou suspende temporariamente a produção de mel, alguns produtores preferem adicionar melgueiras às colmeias fortes ou usar seus quadros para fortalecimento de outros enxames. Seja qual for a decisão tomada, é importante que o produtor evite a perda de suas abelhas. Para evitar que os enxames se dividam naturalmente, o apicultor pode: retirar realeiras em colmeias que tenham rainhas; selecionar famílias com menor tendência a enxameação; reduzir o nascimento de zangão utilizando lâminas de cera integral; adicionar melgueira para dar espaço às abelhas; usar tela excluidora no alvado e dividir os enxames. Colmeia poedeira ou zanganeira Em colmeias sem rainha e sem cria, algumas operárias, na tentativa de propagarem a espécie, desenvolvem o ovário e podem começar a realizar postura. Essas operárias, às vezes, passam a ter um comportamento semelhante ao da rainha, deixando de ir ao campo para coletar o alimento e permanecendo no ninho para fazer postura. Algumas dessas operárias chegam a ter um grupo de 5 a 10 abelhas cuidando de e à geléia real. A geléia real é o alimento fornecido às rainhas e crias jovens. Sua falta reduz a capacidade de postura da rainha e a sobrevivência da cria. A desnutrição e estresse provocados pela falta de alimento deixam os enxames fracos e facilitam o surgimento de doenças e o ataque de inimigos naturais, como traça-da-cera, abelhas tataíras (Oxytrigona sp.), formigas e o ácaro Varroa destructor. Em razão de todas essas causas, a falta de alimento prejudica a produção de mel e pólen, bem como de rainha, cera, própolis e apitoxina. Período de Alimentação A época correta para iniciar o fornecimento de alimento suplementar varia de acordo com a região. Em geral, nos períodos secos, chuvosos ou frios, falta alimento no campo. Por isso, o apicultor deverá ficar atento para a entrada de alimento em suas colmeias e fazer seu próprio calendário alimentar. Ademais, deverá realizar revisões periódicas em seus enxames e socorrer suas colmeias com alimentação complementar quando houver menos de dois quadros de mel na colônia. Alimentação e Produção de Mel Quando as primeiras floradas aparecem no campo, as operárias intensificam o trabalho de coleta de néctar e pólen. No alvado da colmeia, é possível observar grande quantidade de operárias entrando e saindo da colmeia, trabalhando ativamente. Entretanto, ao fazer a revisão em seu apiário, alguns apicultores ficam decepcionados, pois, apesar de tantas flores no campo e muitas abelhas trabalhando, não existe estoque de mel nas colmeias. Isso ocorre porque os enxames, que se encontravam enfraquecidos, utilizam as primeiras floradas para se fortalecerem e se estabelecerem. Ao perceber que as condições ambientais mudaram e que já existe alimento nas colmeias, a rainha aumenta sua postura e todo alimento que entra na colônia é fornecido para a cria. Somente após as crias tornarem-se adultas e o número de abelhas aumentar nas colmeias, é que se pode verificar grande quantidade de mel estocado. Alguns enxames muito fracos só conseguem começar a "produzir" após a metade do "período de florada", causando prejuízo ao apicultor. Em regiões onde existe uma florada rica, pouco antes do período da safra, como a florada do "juazeiro" no semi-árido, não ocorre atraso na produção. Isso ocorre porque as abelhas aproveitam essa fonte de alimento para aumentar a população da colmeia e dessa forma, ao iniciar o período produtivo, o enxame está pronto para começar a estocar mel. Sendo assim, o apicultor pode e deve evitar esse atraso fornecendo alimento às colmeias nos períodos críticos. Experiências realizadas em Santa Catarina mostram que, 18 dias após o início da alimentação, a área de postura da colmeia duplica. A alimentação é fundamental, também, para fortalecer enxames recém-capturados, colmeias fracas e colmeias poedeiras em recuperação ou logo após a divisão. Alimentação Energética Um dos alimentos energéticos mais usuais é o xarope de água e açúcar, cujo receita é descrita a seguir. Xarope de açúcar Ingredientes: Água e açúcar na mesma quantidade. Modo de fazer: Colocar a água no fogo e adicionar o açúcar assim que levantar fervura. Mexer até o açúcar se dissolver por completo; desligar o fogo e deixar esfriar; misturar a solução antes de colocar nas colmeias. Fornecer duas vezes por semana. Para evitar que se estrague, o xarope deve ser fornecido no dia em que for feito e consumido pelas abelhas em 24 horas. Após esse período, o apicultor deverá recolher o alimento restante e jogá-lo fora. Em geral, as colmeias consomem 0,5 litros de xarope nesse período de tempo. Entretanto, é necessário que o produtor fique atento, pois colmeias muito fracas não conseguem consumir essa quantidade no prazo necessário. Para que não haja desperdício e problemas causados pela fermentação do xarope, dever-se-á fornecer uma quantidade menor de alimento para os enxames mais fracos, que não conseguem consumir 0,5 litros de xarope em 24 horas. Cerca de 45 dias antes do período produtivo, o xarope pode ser enriquecido com um pouco de mel de abelha na proporção de 1 litro de xarope para 0,5 litro de mel. Alguns pesquisadores acreditam que o cheiro do mel incentiva o aumento da postura da rainha, preparando, assim, o enxame para o período de florada. O xarope pode ser substituído pelo "xarope de açúcar invertido" que além de água e açúcar, contém ácido tartárico ou ácido cítrico, como pode ser conferido a seguir. Esses ácidos têm a função de conservar o alimento por mais tempo, além de quebrar a sacarose em glicose e frutose, agindo como a enzima invertase das abelhas. Xarope de açúcar invertido: Ingredientes:5 kg de açúcar; 1,7 litros de água e 5 g de ácido tartárico ou ácido cítrico. Modo de fazer: Levar o açúcar e a água ao fogo. Quando começar a liberação do vapor, adicionar ácido tartárico e manter a mistura no fogo baixo por 40 a 50 minutos. Fornecer 1 litro a cada 2 dias. Alguns apicultores aproveitam o açúcar existente em outros alimentos para fornecer às abelhas. É o caso da vagem de algaroba (Prosopis juliflora). Segundo Ribeiro Filho (1999), para fornecer um alimento energético e protéico ao mesmo tempo para as abelhas, o apicultor poderá levar ao fogo 1 kg de vagem de algaroba triturada com 2 litros de água. A mistura deve ser fervida até atingir a consistência de xarope e ser fornecida no mesmo dia para as abelhas, evitando a fermentação do produto. Em algumas regiões, é comum o uso da rapadura em substituição ao alimento descrito acima. Embora muito prático, uma vez que o alimento já se encontra pronto, sendo de difícil fermentação, muitos enxames acabam morrendo pela utilização da rapadura em virtude da falta dos seguintes cuidados: • Baixa qualidade do produto - por se tratar de um alimento para consumo animal, alguns apicultores compram um produto de menor custo e baixa qualidade, muitas vezes já fermentado. • Armazenamento inadequado – é comum os apicultores deixarem a rapadura armazenada em locais úmidos, favorecendo a fermentação do produto. • Fornecimento inadequado – alguns apicultores fornecem a rapadura exposta ao meio ambiente e à umidade da noite, muitas vezes no chão, facilitando sua fermentação. A quantidade, aparentemente, também influencia: alguns enxames conseguem consumir uma rapadura com cerca de 300 g em 24 horas. O fornecimento de uma quantidade maior pode causar problemas intestinais e matar as abelhas. Assim, é recomendado que se ofereça, no máximo, uma rapadura pequena (300 g) duas vezes por semana. • Falta d'água - como a rapadura é sólida, as abelhas necessitam de muita água para dissolvê-la, transformá-la em mel para depois poderem consumir. O gasto energético dessa operação é alto e, para compensá-lo, a água deverá estar bem próxima ao apiário. Alguns produtores molham a rapadura para facilitar o trabalho das abelhas, porém, isso aumenta o risco de fermentação. Alimentação Protéica Existem várias receitas de alimentação protéica. O apicultor poderá utilizar uma das descritas a seguir ou procurar substitutos regionais para a fabricação de uma alimentação adequada. Receita 1: Ingredientes: 3 partes de farelo de soja, 1 parte de farinha de milho e 6 partes de mel Modo de fazer: Misturar bem os dois farelos e adicionar o mel devagar até formar uma pasta mole. Fornecer 200 g do alimento duas vezes por semana. Receita 2: Ingredientes: 3 partes de farelo de soja, 2 partes de farinha de milho e 15 partes de mel. Modo de fazer: Misturar bem os dois farelos e adicionar o mel devagar até formar uma pasta mole. Fornecer 200 g do alimento duas vezes por semana. Receita 3: Ingredientes: 7 partes de farelo de trigo, 3 partes de farelo de soja e 15 partes de mel. Modo de fazer: Misturar os farelos e acrescentar o mel. Deixar em repouso por uma semana em local limpo e refrigerado. Fornecer 200 g do alimento duas vezes por semana. No lugar do mel, pode-se usar xarope ou açúcar invertido, no entanto, o mel deixa o alimento mais atrativo. É importante que os farelos estejam bem moídos, caso contrário, as abelhas rejeitam o alimento. Outros alimentos podem ser usados, a levedura de cana-de-açúcar (receita a seguir). Alguns apicultores usam leite para enriquecer o xarope com proteína, entretanto, as abelhas não possuem mecanismo para digerir o leite e acabam morrendo intoxicadas. Receita 4: Ingredientes: 6 kg de açúcar refinado, 3 kg de açúcar invertido e 1 kg de levedura seca de cana-de-açúcar. Modo de fazer: Misturar bem os ingredientes para formar a pasta. Fornecer a ração misturada com pólen aumenta a aceitação e a eficiência do alimento. O pesquisador Leoman Couto (1998) recomenda a receita abaixo: Receita 5: Ingredientes: 2 partes de pólen seco moído, 5 partes de açúcar, 10 partes de farelo de soja e 3 partes de mel. Modo de fazer: Misturar bem o farelo, o pólen e o açúcar e adicionar o mel devagar até formar uma pasta mole. Fornecer 200 g do alimento duas vezes por semana. Se o produtor não quiser usar o mel ou não tiver mel disponível, poderá fornecer às abelhas a receita a seguir: Receita 6: Ingredientes: 1 parte de pólen seco e moído, 4 partes de farelo de soja, 4 partes de açúcar e 2 partes de água Modo de fazer: Misturar bem os ingredientes secos e adicionar a água lentamente, mexendo sempre. Outra alternativa, segundo Ribeiro Filho (1999), é o fornecimento de xarope enriquecido com massa de jatobá (Hymenaea spp), usando-se 100 g de massa para cada litro de xarope. Segundo o pesquisador, o xarope também poderia ser enriquecido da mesma forma com pó de vagem de pau-ferro ou juá (Cesalphinia ferrea) ou pó de folhas de feijão, mandioca e abóbora. Atualmente a Embrapa Meio-Norte vem pesquisando em parceria com várias instituições outras alternativas para alimentação das abelhas como: torta de babaçu (Orbygnia martiana), farinha de algaroba (Prosopis juliflora), farinha do bordão-de-velho (Pithecellobium cf. saman), feno de mandioca (Manihot esculenta), feno de leucena (Leucena leococephala). Esses resultados estarão sendo divulgados e disponibilizados aos apicultores em breve. A instituição também se coloca à disposição para testar e avaliar qualquer produto que o apicultor tenha interesse em utilizar como alimentação, desde que seja fornecido em quantidade suficiente para os testes. Alimentadores fique atento para a falta de água, sombreamento, idade e qualidade das rainhas, ataque de inimigos naturais, mortandade das abelhas, etc. Doenças e Inimigos Naturais das Abelhas Existem vários organismos que podem causar problemas para as abelhas, tanto na fase de larva quanto na fase adulta. Algumas bactérias, fungos e vírus causam doenças que afetam principalmente as larvas. Já as abelhas adultas são freqüentemente atacadas por protozoários, ácaros e insetos. A ocorrência e os danos provocados por cada organismo variam de acordo com a região e com o tipo de abelha. No Brasil, de modo geral, a ocorrência e os danos provocados por doenças e certas pragas são menores, principalmente em razão da maior resistência das abelhas africanizadas e das condições climáticas, que parecem ser menos favoráveis à disseminação das doenças. Dessa forma, os apicultores não necessitam utilizar antibióticos ou pesticidas em suas colmeias, o que tem garantido a obtenção de produtos livres de resíduos químicos. Esse fato possibilita que nossos produtos sejam vistos nos mercados interno e externo como produtos mais saudáveis, isentos de contaminantes, o que favorece a comercialização. Entretanto, para que que se continue a ter essa vantagem, os apicultores devem estar atentos à situação sanitária das colmeias, sabendo reconhecer as anormalidades que indicam a presença de doenças. Isso ajudará a evitar a disseminação de novas doenças no Brasil, que podem causar sérios prejuízos à apicultura, como é o caso da Cria Pútrida Americana. Reconhecendo os principais sintomas de doenças, o apicultor poderá tomar medidas imediatas, como o isolamento das colmeias atacadas, enviar amostras a laboratórios para análise e diagnóstico precisos, comunicar associações, cooperativas ou outras instituições. Assim, estará contribuindo para evitar a contaminação de seus apiários e dos apiários de sua região. Doenças das abelhas Importância A ocorrência de doenças nas colmeias pode acarretar prejuízos diretos pela diminuição da produtividade, uma vez que o aumento da mortalidade, tanto de crias como de abelhas adultas, leva a uma redução da população da colmeia com conseqüente redução da produção. Em casos mais graves, o apicultor poderá perder enxames, já que as abelhas africanizadas costumam abandonar as colmeias quando a população cai abaixo de 4 mil indivíduos e quando há muita cria morta. Em países com alta incidência de doenças, os apicultores sofrem prejuízos em virtude do gasto adicional de utilização de antibióticos para o controle das doenças, além da contaminação dos produtos com resíduos de medicamentos, o que pode inviabilizar a sua comercialização, principalmente para o mercado externo. Doenças de crias Doenças em crias geralmente causam maiores prejuízos do que em abelhas adultas. Para que o apicultor possa reconhecer os sintomas das doenças é importante estar familiarizado com as características das diferentes fases do desenvolvimento das crias (vide item Morfologia e Biologia das Abelhas Apis mellifera) e com a aparência de um favo com crias saudáveis. Observando a situação das crias durante as revisões Uma das principais observações a serem feitas pelo apicultor durante as revisões é verificar como as crias estão distribuídas nos favos. Quando se observa que as áreas de crias apresentam poucas falhas (Fig. 36), é uma indicação de que a rainha está com um bom padrão de postura e que as larvas estão se desenvolvendo normalmente. Por outro lado, quadros com áreas de crias falhadas indicam que algum problema pode estar ocorrendo, como por exemplo: • A rainha pode estar velha e, conseqüentemente, sua postura está irregular. • Pode estar ocorrendo produção de zangões diplóides, em razão de cruzamentos consangüíneos. Nesse caso, as operárias costumam comer as crias, ficando a área de crias falhada. • Ocorrência de doenças. Nesse caso, as operárias passam a retirar as crias doentes, o que se chama "comportamento higiênico", e a área de crias apresenta-se com falhas. O apicultor deve examinar cuidadosamente tanto as crias abertas como as operculadas. Deve verificar se a cor, a forma e a posição das crias estão normais. A aparência dos opérculos também é importante, pois opérculos furados e/ou afundados podem indicar ocorrência de doenças. Figura 36. Favos com crias saudáveis. Identificando doenças em crias As principais doenças que afetam crias de abelhas são: • Cria Pútrida Européia • Cria Pútrida Americana • Cria Ensacada • Cria Giz Cria Pútrida Européia (CPE) Agente causador: bactéria Melissococus pluton. As larvas são infectadas quando comem alimento contaminado. Ocorrência e danos: pode ocorrer em todo o território nacional, mas geralmente não causa sérios prejuízos. Sintomas: • Favos com muitas falhas, opérculos perfurados (Fig. 37a). • A morte ocorre geralmente na fase de larva, antes que os alvéolos sejam operculados. • As larvas doentes encontram-se em posições anormais, podendo ficar contorcidas, nas paredes dos alvéolos (Fig. 37b). • Mudança de cor das larvas que passam de branco-pérola para amarelo até marrom (Fig. 37b). • Pode apresentar cheiro pútrido (de material em decomposição) ou não. • Quando as larvas morrem depois da operculação, aparecem opérculos escurecidos, afundados e perfurados. Figura 37. Sintomas de Cria Pútrida Européia: área de crias com muitas falhas (a) e mudança de posição e coloração das larvas (b). Controle: • Remoção dos quadros com cria doente. • Trocar rainha suscetível por outra mais tolerante. • Evitar uso de equipamentos contaminados quando manejar colmeias sadias. Cria Pútrida Americana (CPA) Agente causador: bactéria Paenibacillus larvae. As larvas são infectadas quando comem alimento contaminado. Ocorrência e danos: no Brasil, foi recentemente detectada em colmeias no Rio Grande do Sul. A contaminação ocorreu porque os apicultores alimentaram as abelhas com mel e pólen importados, contaminados com a bactéria. Essa doença pode provocar sérios prejuízos, pois seu controle é bastante difícil, já que a bactéria é resistente a antibióticos e pode permanecer no ambiente por muito tempo. Por isso, não se recomenda a importação de produtos apícolas ou rainhas de países que apresentem níveis altos de infestação. Sintomas: • Favos falhados (Fig. 38a) com opérculos perfurados (Fig. 38b), escurecidos e afundados. • Morte na fase de pré-pupa ou pupa. • Larvas com mudança de cor, passando do branco para amarelo até marrom-escuro; • Cheiro pútrido. • As larvas mortas apresentam consistência viscosa, principalmente quando apresentam coloração marrom-escura. Para verificar isso, deve-se fazer o teste do palito que consiste em inserir um palito rugoso no alvéolo, esmagar a cria e puxar devagar, observando-se, então, a formação de um filamento viscoso (Fig. 39a). • Quando a morte ocorre na fase de pupa, observa-se geralmente a língua da pupa estendida de um lado para o outro do alvéolo. • Presença de escamas (restos da cria já seca e muito escura) coladas nas paredes do alvéolo e de difícil remoção (Fig. 39b). Ocorrência e danos: A incidência dessa doença no Brasil tem sido baixa, havendo relato de poucos casos nos Estados do Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais. Existe a possibilidade de ser introduzida por meio da alimentação das colmeias com pólen importado contaminado. Sintomas: • Favos com falhas e opérculos geralmente perfurados. • A morte ocorre na fase de pré-pupa ou pupa. • Não apresenta cheiro pútrido. • A cria morta apresenta coloração branca ou cinza-escuro e aspecto mumificado (rígida e seca) (Fig. 41). Figura 41. Crias com sintomas de Cria Giz. Controle: • Como medida preventiva, recomenda-se não utilizar pólen importado ou das regiões do Brasil onde a doença foi detectada para alimentação das colmeias. Doenças e parasitoses de abelhas adultas Doenças em adultos são mais difíceis de ser diagnosticadas em campo porque muitas vezes apresentam sintomas similares. Desse modo, para a confirmação de doenças ou endoparasitoses, devem-se enviar amostras a laboratórios especializados, seguindo as recomendações indicadas no item Como enviar amostras de abelhas com sintomas de doença para análise em laboratório. O sintoma geral da ocorrência de doenças em abelhas adultas é a presença de abelhas mortas ou moribundas, rastejando na frente da colmeia. Entretanto, esses sintomas também ocorrem quando há intoxicação das abelhas por inseticidas. Nosemose Agente causador: protozoário Nosema apis. Ocorrência e danos: No Brasil, ocorreu com certa freqüência até a década de 80 e, nos últimos anos, não tem sido detectada. O protozoário afeta principalmente o ventrículo (estômago da abelha) causando problemas na digestão dos alimentos e pode provocar disenteria. A doença diminui a longevidade das abelhas, causando um decréscimo na população e, conseqüentemente, na produtividade das colmeias. Sintomas: • Abelhas com tremores e com dificuldade de locomoção. O intestino apresenta-se branco-leitoso, rompendo-se com facilidade. • Operárias campeiras mortas na frente do alvado. Em alguns casos, encontram-se fezes no alvado e nos favos. Acariose Agente causador: ácaro endoparasita Acarapis woodi Ocorrência e danos: assim como a nosemose, a acariose foi mais freqüente até as décadas de 70- 80, não sendo mais considerada problema nos apiários brasileiros. O ácaro se aloja nas traquéias torácicas, perfurando-as e alimentando-se da hemolinfa (sangue das abelhas). O ataque do ácaro pode diminuir a longevidade das abelhas e, conseqüentemente, reduzir a população da colmeia, provocando perdas na produção. Sintomas: • Abelhas rastejando na frente da colmeia e no alvado, com as asas separadas, impossibilitadas de voar. Como enviar amostras de abelhas com sintomas de doença para análise em laboratório Amostras de crias: coletar um pedaço de favo contendo crias que apresentem sintomas de doença. O favo deve ser envolto em papel absorvente como jornal. Não utilizar plástico ou outro material não- absorvente. Evitar o envio de favos com muito mel. Já a presença de pólen pode auxiliar na identificação da cria ensacada brasileira. Amostras de abelhas adultas: coletar, no mínimo, 30 abelhas que se encontrem rastejando no alvado ou na frente da colmeia. As abelhas devem ser colocadas em caixas de fósforo ou qualquer outra caixa de madeira ou papelão. As amostras devem ser devidamente embaladas em caixas dos correios ou similares e enviadas, preferencialmente, via sedex ou outra via rápida ao laboratório. Juntamente com as amostras, é importante enviar informações sobre a localização do apiário, data de coleta, número de enxames afetados, características da região (clima, vegetação), uso de inseticidas nas proximidades do apiário, observações sobre os sintomas e danos. Outros organismos que causam danos a crias e adultos Ácaro Varroa destructor Trata-se de um ácaro ectoparasita, de coloração marrom, que infesta tanto crias como abelhas adultas (Fig. 42). Reproduzem-se nas crias, geralmente em crias de zangões. Nos adultos, ficam aderidos principalmente na região torácica, próximos ao ponto de inserção das asas. Alimentam-se sugando a hemolinfa, podendo causar redução do peso e da longevidade das abelhas e deformações nas asas e pernas. Esse ácaro, detectado no Brasil desde 1978, atualmente pode ser encontrado em praticamente todo o País. Felizmente, tem-se mantido em níveis populacionais baixos, em razão da maior tolerância das abelhas africanizadas, não causando prejuízos significativos à produção. Dessa forma, não se recomenda o uso de produtos químicos para o seu controle. As colônias que apresentarem infestações freqüentes do ácaro devem ter suas rainhas substituídas por outras provenientes de colônias mais resistentes. Figura 42. Ácaro Varroa destructor: Vista dorsal (a), ventral (b), fêmea adulta e formas imaturas em pupa de operária (c). Traças-da-cera São insetos da ordem Lepidoptera, de duas espécies: Galleria mellonela (traça maior) e Achroia grisella (traça menor). Os adultos das duas espécies depositam ovos em pequenas frestas dos quadros e caixas, principalmente em colmeias fracas. As larvas alimentam-se da cera, construindo galerias nos favos onde depositam fios de seda. Os quadros ficam cobertos com grande quantidade de fios de seda e fezes (Fig 43). Algumas vezes, afetam diretamente a cria. Atacam também a cera armazenada. O controle químico não é recomendado, uma vez que os produtos utilizados podem deixar resíduos na cera, os quais poderão ser transferidos para o mel. Desse modo, recomenda-se a adoção de medidas de manejo preventivas: • Manter sempre colmeias fortes no apiário, uma vez que as fracas são mais facilmente atacadas. • Reduzir o alvado das colmeias em épocas de entressafra e de frio. • Não deixar colmeias vazias (não habitadas) nem restos de cera no apiário. • Se encontrar foco de infestação nas colméias, matar as larvas e pupas e remover cera e própolis atacadas utilizando-se o formão, para evitar a disseminação da traça no apiário; • Trocar periodicamente os quadros com cera velha das colmeias. • Armazenar favos ou lâminas de cera em locais bem arejados, com claridade e, se possível, protegidos com tela, evitando armazenar favos velhos que são preferidos pelas traças. Temperaturas abaixo de 7ºC também ajudam no controle. • Se forem observadas colônias que freqüentemente apresentam alta infestação da traça, deve-se realizar a substituição de rainhas, visando aumentar a resistência. Figura 43. Danos causados pela traça-da-cera Galleria mellonela na colmeia (a) e no favo (b). Formigas e cupins As formigas podem causar grandes prejuízos, principalmente quando atacam colmeias fracas. Podem consumir o alimento (mel e pólen) e crias, além de causarem grande desgaste e mortalidade das abelhas adultas na tentativa de defender a colônia. Em ataques severos, podem provocar o abandono da colmeia. Os cupins danificam a madeira das caixas e cavaletes, diminuindo sua vida útil e favorecendo a entrada de outros inimigos naturais (Fig. 44). Como medidas preventivas ao ataque de formigas e cupins, recomenda-se: • Não colocar as colmeias diretamente sobre o solo. • Destruir os ninhos de formigas e cupins encontrados nas imediações dos apiários. • Realizar capinas freqüentes no apiário, uma vez que a existência de plantas próximas às colmeias pode facilitar o acesso dos inimigos naturais. • Utilizar cavaletes com protetores contra formigas. mínimo 90% de seus alvéolos operculados (com uma fina camada protetora de cera), sendo indicativo da maturidade do mel em relação ao percentual de umidade. O apicultor não deve colher quadros que apresentem: • Crias em qualquer fase de desenvolvimento. • Grande quantidade de pólen. • Mel "verde", mel ainda não-maduro, com altos índices de umidade, que as abelhas ainda não opercularam. A quantidade elevada de água no mel facilitará a proliferação de leveduras, levando-o a fermentar, tornando-o impróprio para o consumo e impossibilitando a sua comercialização. Transporte das melgueiras durante a colheita A colheita de mel é uma atividade que provoca um desgaste físico acentuado para o apicultor, uma vez que o peso das melgueiras cheias de mel é considerável. Com o intuito de minimizar esses esforço, e de se evitar problemas de saúde futuros, recomendam-se algumas práticas no momento da colheita e utilização de equipamentos de transporte das melgueiras. Todos os equipamentos utilizados para a colheita do mel devem ser destinados apenas para esse fim, de forma a se evitar qualquer possível contaminação do produto por substâncias presentes nesses utensílios. Recomenda-se o uso de padiolas, obrigando a participação de duas pessoas no carregamento, ou carriolas (carrinhos de mão) para o transporte das melgueiras até o veículo. Normalmente, o apicultor, após retirar a melgueira repleta de mel, a coloca no chão, o que é totalmente desaconselhável tanto para a sua saúde como para a qualidade do mel, uma vez que esse procedimento pode levar à contaminação do mel por sujidades (poeira, terra, restos vegetais, etc.) presentes no terreno. Recomenda-se o uso de um suporte, que pode ser um ninho vazio ou um cavalete, colocado ao lado da caixa, para receber a melgueira. Apoiada nesse suporte, coloca-se uma base, de preferência uma prancha de aço inoxidável (confeccionada especificamente para esse fim), ou mesmo uma tampa nova de colmeia, que servirá de base para uma melgueira vazia onde os quadros de mel serão colocados. Uma segunda tampa também é utilizada sobre essa melgueira, de forma a isolar os quadros de mel, impedindo o saque pelas abelhas e a sua indesejada presença excessiva nas melgueiras que serão transportadas. Todo esse material utilizado deve estar devidamente limpo ou ser preferencialmente novo. Cuidados com o veículo e o transporte O veículo usado para o transporte das melgueiras até a casa de mel deve ser preparado no dia anterior, passando por um processo de higienização. O veículo não deve ter transportado recentemente qualquer material que possa ter deixado algum tipo de resíduo (cama de frango, produtos químicos, agroquímicos, adubo, esterco, etc.). A superfície da área de carga do veículo deve ser revestida com material devidamente limpo e livre de impurezas, de forma a evitar o contato das melgueiras diretamente com o piso (lona plástica, etc.), de forma a evitar o contato das melgueiras diretamente com o piso. Caso o veículo tenha seu compartimento de carga aberto, recomenda-se a utilização de lonas que possam cobrir as melgueiras, evitando a contaminação do mel por poeira, terra e outras sujidades, e pela eliminação de resíduos provenientes da combustão do motor, eliminados pelo cano de descarga do veículo (principalmente em casos de motores movidos a óleo diesel). Além disso, esse procedimento evita que as abelhas possam vir a saquear o mel das melgueiras coletadas. Assim, uma lona de grandes dimensões pode tanto revestir o assoalho do veículo, como também cobrir as melgueiras, envolvendo de forma mais eficiente toda a carga. Durante a etapa de colocação das melgueiras no veículo, recomenda-se que ele não permaneça sob a incidência direta do sol, o que influenciaria negativamente a qualidade do mel. Nessa etapa, o ideal é a participação de, pelo menos, três pessoas, sendo duas responsáveis por trazer as melgueiras até o caminhão e repassá-las à terceira pessoa, que estaria em cima do veículo. Para a acomodação da carga, pode-se utilizar uma tampa de colmeia colocada sobre a lona, atuando como base para o empilhamento das melgueiras, e uma tampa em cima das mesmas, que vedará o acesso das abelhas durante a formação dessa pilha de melgueiras. Durante o processo de colocação das melgueiras no veículo, elas devem estar sempre cobertas pela lona até o preenchimento total da carga. Dessa forma, o processo se torna mais ágil e eficiente, proporcionando uma carga segura e protegida. É importante uma amarração eficiente de toda a carga, para que não ocorra deslocamento das melgueiras, o que poderia levar à queda das pilhas e conseqüente quebra dos quadros de mel. Assim, o deslocamento do veículo deve ocorrer de forma cuidadosa, principalmente se estiver trafegando em vias não-asfaltadas ou com irregularidades. Caso o motorista necessite parar durante o transporte, deve procurar proteger a carga da incidência direta do sol, escolhendo um lugar sombreado para estacionar o veículo. Extração e Processamento do Mel Instalações Para que se possa manipular produtos alimentícios de forma higiênica e segura, garantindo ao consumidor a qualidade do produto final, é indispensável que esses procedimentos sejam realizados em instalações e condições adequadas, específicas à classe de produtos a serem processados. No caso do mel, o local destinado para a sua extração é chama-se de unidade de extração, normalmente denominada "Casa do Mel". Para o seu processamento, o local indicado é o Entreposto de Mel, embora essa etapa possa ser executada também na casa do mel, caso esta apresente as condições e o dimensionamento recomendado. Casa do Mel A estrutura física da casa do mel apresenta construção e disposição simples, constando de área de recepção do material do campo (melgueiras) separada da área de manipulação, área de processamento do mel (podendo ser subdividida, conforme a etapa de processamento), área de envase, local de armazenagem do produto final e banheiro em área isolada (externa ao prédio). A construção deve obedecer às normas sanitárias do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA (portaria nº 006/986). Projeto Arquitetônico Apesar da simplicidade da construção, existem algumas variáveis de projetos, levando-se em conta, por exemplo, a topografia do terreno. A edificação pode estar localizada em área plana, mas também pode apresentar dois níveis, utilizando-se aterro ou laje de concreto ou mesmo aproveitando-se a declividade natural do terreno ou uma encosta. Nesse caso, o projeto permite que o mel seja conduzido entre a etapa de extração e a de decantação por meio da gravidade, dispensando o uso de "bombas". É importante ressaltar que as dimensões da edificação devem estar adaptadas ao volume de produção. Entretanto, quaisquer que forem as medidas, o projeto deve atender ao fluxograma de extração e processamento do mel, evitando a contaminação cruzada do produto e otimizando a execução das diversas etapas envolvidas no processo, desde a chegada do produto do campo, até a saída do produto acabado para a comercialização. Características Gerais da Construção Toda a edificação deve apresentar alguns requisitos de construção que favoreçam a higienização do local e evitem a contaminação do ambiente por agentes externos (insetos, poeira, etc.) ou por contaminação cruzada : Pisos: Devem ser de material antiderrapante, resistente e impermeável e de fácil higiene, apresentando declividade adequada e evitando o acúmulo de água. Paredes: Construídas e revestidas com material não absorvente, lavável e de cor clara. Devem apresentar superfície lisa, sem fendas que possam acumular sujeiras, e cantos arredondados entre piso/parede/teto, facilitando a higienização. Teto (forro): Construído de forma a se evitar o acúmulo de sujeiras. Janelas: Construídas com material resistente, não absorvente e de fácil limpeza (não apresentando pontos inacessíveis, que possam acumular sujeiras). Devem ser providas de telas protetoras de insetos, de material resistente e com sistema que permita a sua limpeza efetiva. Portas: Devem ser de material resistente, não absorvente e de fácil limpeza. Banheiros: Devem ser separados da área de manipulação, ou seja, sem acesso interno e nenhuma comunicação com a mesma. Devem ser construídos com materiais que sigam as mesmas recomendações citadas anteriormente, providos de boa ventilação, sanitários, pias, recipientes para sabonete líquido, papel- toalha absorvente, papel higiênico e depósito de lixo com tampa. É recomendável que o local apresente cartaz educativo, ilustrando a maneira e a seqüência adequada para a lavagem das mãos e utilização das dependências. Instalações hidráulicas: É recomendável a instalação de caixas d’água (com capacidade que não comprometa o abastecimento do prédio e a sua higienização), em local que permita uma boa vazão d’água e devidamente cobertas, evitando, assim, a contaminação do reservatório. O projeto deve conter um sistema de distribuição para todos os recintos. Não é recomendável o uso de caixas d’água de amianto. Iluminação e instalações elétricas: o projeto deve favorecer a entrada de luz natural. No caso da iluminação artificial, deve-se dar preferência a luminárias de luz fria, sendo que qualquer tipo de luminária deve apresentar proteção contra quedas e explosões. Ventilação: o projeto arquitetônico deve favorecer a ventilação e a circulação de ar no ambiente (interno), evitando temperaturas altas internamente, que são prejudiciais às condições de trabalho e à qualidade do mel. Equipamentos e Utensílios Para que o mel possa ser extraído dos favos, sob um processo com qualidade, são necessários alguns equipamentos especiais. Para que se possa garantir a qualidade do produto final, todos os equipamentos e utensílios utilizados nas várias etapas de manipulação devem ser específicos para essa atividade, não cabendo qualquer forma de adaptação. No caso dos equipamentos e utensílios que irão ter contato direto com o produto, todos devem ser de aço inoxidável 304, específico para produtos alimentícios. Cada equipamento está relacionado com uma fase do processamento, conforme listado abaixo: Mesa desoperculadora: Equipamento utilizado para dar suporte à desoperculação dos favos de mel. Constituída de uma base para o apoio dos quadros de mel, peneira e cuba para recebimento do resíduo de mel resultante do processo. Garfo desoperculador: Utensílio com vários filetes pontiagudos, de inoxidável na extremidade e cabo empunhador de material plástico. Ao ser introduzido, paralelamente à superfície do quadro, os opérculos são retirados com movimento de torção do garfo (Fig. 45). Figura 45. Garfo desoperculador. Faca desoperculadora: Espécie de lâmina de inoxidável com empunhadura de plástico, podendo ou não conter sistema de aquecimento da lâmina. Passada paralelamente sobre a superfície do quadro, retira a camada de cera protetora dos alvéolos. Aparelho automático de desoperculação: Equipamento onde os quadros são encaixados e desoperculados automaticamente por meio de um sistema de guilhotina com arames de metal. Recomendado para grandes produções. Alguns modelos recebem apenas os quadros, outros já recebem a melgueira toda. Centrífuga: Equipamento que recebe os quadros já desoperculados e, por meio de movimento de rotação em torno de seu próprio eixo, retira o mel dos alvéolos (força centrífuga). Existem alguns sistemas de encaixe dos quadros, entretanto, o mais comum e com melhor rendimento é o que se denomina "radial", pois permite a retirada do mel nas duas faces do quadro ao mesmo tempo. No mercado, encontramos centrífugas com várias capacidades de extração, podendo ser manuais, com sistema de rotação acionado manualmente ou elétricas, com motor e dispositivos de controle de velocidade de rotação, sendo mais recomendadas para grande produção (Fig. 47). Peneiras: Utensílios que retiram as partículas presentes no mel oriundas do processo de desoperculação e centrifugação. O ideal é que se utilizem várias "malhas" com diferentes diâmetros para uma filtragem mais eficiente. Em processos industriais, essa filtragem pode ocorrer mecanicamente, sob pressão. Baldes: Recipientes destinados ao recebimento do mel centrifugado, servindo de suporte para as peneiras e para o transporte do mel até o decantador. Em grandes produções, a sua utilização é inadequada, sendo substituído por sistemas de escoamento do mel, entre as várias etapas do beneficiamento. Decantador: Recipiente destinado ao recebimento do mel já centrifugado. É dotado de abertura superior, com tampa e orifício, e escoamento localizado na base. Tem como finalidade deixar o mel "descansar" por um período determinado (máximo de 10 dias), fazendo com que as eventuais bolhas produzidas durante o processo de centrifugação e as possíveis partículas presentes ainda no mel (pedaços de cera e partes do corpo das abelhas) subam até a superfície e possam ser separadas no momento do envase (Fig. 46). Homogeneizadores: Tanques normalmente de grande capacidade, providos de pás rotatórias, que homogeneizam o mel, com a finalidade de padronizar grandes quantidades do produto em relação à cor, aroma e sabor. Alguns homogeneizadores são construídos com paredes duplas, providos de sistemas de aquecimento controlado, evitando o processo de cristalização (Fig. 47). Armazenamento Cuidados especiais devem ser tomados em relação ao armazenamento, tanto do mel a granel (baldes plásticos e tambores) como do fracionado (embalagens para o consumo final), em relação à higiene do ambiente e, principalmente, em relação ao controle da temperatura. Altas temperaturas durante todo o processamento e estocagem são prejudiciais à qualidade do produto final, uma vez que o efeito nocivo causado ao mel é acumulativo e irreversível. Essas embalagens devem ser colocadas sobre estrados de madeira ou outro material, impedindo o contato direto com o piso e facilitando seu deslocamento no caso da utilização de empilhadeiras. Embalagem Para o mel, devem-se utilizar apenas embalagens próprias para o acondicionamento de produtos alimentícios e preferencialmente novas, pois não se recomenda a reciclagem de embalagens de outros produtos alimentícios (margarina, óleo, etc.). Atualmente, no mercado, existem embalagens específicas para mel, com várias capacidades e formatos. Em embalagens a granel (25 kg), os baldes de plástico têm relação custo-benefício superior ao da lata de metal, além de proporcionar facilidade no transporte (presença de alças). Já para capacidades superiores (300 kg) destinadas à exportação, a embalagem usada é o tambor de metal (com revestimento interno de verniz especial). Quanto às embalagens para o varejo, tanto o plástico, específico para alimentos (Fig.48), como o vidro são recomendáveis, embora o vidro seja o material ideal para o acondicionamento do mel, inclusive como único material aceito para a exportação (mel fracionado) e para a certificação orgânica. Embora o vidro apresente restrições em relação ao transporte e armazenagem das embalagens (maior risco de danos por quebra), sua constituição não propicia a troca gasosa com o ambiente externo (permeabilidade da parede), o que não ocorre com o material plástico. Outro ponto positivo do virdro está relacionado com a sua capacidade de realçar a cor do mel (ponto importante na atratividade do produto). Outro aspecto relacionado com a qualidade da embalagem é o tipo de tampa, uma vez que ela será o ponto mais vulnerável no contato entre o produto acondicionado e o ambiente externo. A tampa deve isolar hermeticamente o conteúdo do recipiente. Isso ocorre normalmente pela presença de um anel de vedação interno. Nesse caso, as embalagens de vidro levam vantagem sobre as de plástico, que muitas vezes apresentam tampas com vedação precária, propiciando a absorção de umidade do ambiente e criando condições para o desenvolvimento microbiano, que irá acarretar a fermentação do produto. Figura 48. Variedade de embalagens de plástico para mel. Comercialização Informações de Mercado A produção mundial de mel teve uma tendência crescente nos últimos 20 anos, apesar das flutuações, em regiões e países (industrializados e não-industrializados), atribuídas a um aumento no número de colméias e da produção por colônia. O consumo também aumentou durante os últimos anos, sendo atribuído ao aumento geral nos padrões de vida e também a um interesse maior em produtos naturais e saudáveis. O mundo produz 1.200.000 toneladas de mel por ano. A Alemanha compra 50% do mel exportado no mundo e só produz 33.000 t/ano. A China é o principal exportador de mel para a Alemanha até 1987. No Japão, 60% do mel consumido se destina a usos na indústria e 40% constitui mel de mesa. O Japão tem-se transformado num dos maiores importadores de mel, principalmente devido à redução do número de apicultores, em decorrência da competição dos preços de importação e da diminuição de áreas melíferas. A Argentina, que produz cerca de 60.000t/ano, consome só 10.000 t/ano e possui uma área de apenas 2.776.700 Km2 (Munhoz, 1997). Desde o início de 2002, decisões dos EUA e da Comunidade Européia suspenderam a importação de mel da China devido aos altos índices de resíduos de drogas veterinárias encontrados no mel oriundo daquele país. Concomitantemente, os EUA suspenderam também a importação de mel da Argentina, alegando distorções no preço do produto, o que estava promovendo uma concorrência desleal com os próprios produtores americanos. Preço Estes acontecimentos provocaram uma importante redução da oferta e, consequentemente, um desequilíbrio na relação oferta-demanda, elevando significativamente o preço do mel. Até 2001, o quilograma do mel era vendido, no mercado interno, em um intervalo de preço que variava de R$ 1,50 a R$ 2,00. Após o desequilíbrio citado, o quilograma do mel chegou a atingir R$ 4,50 no mês de setembro, no Estado do Piauí, preço líquido pago ao produtor. Mesmo considerando que é uma situação conjuntural, a tendência é de que esse preço se estabilize em patamares significativamente superiores aos praticados até 2001, pois a crise da apicultura chinesa, maior produtor e exportador mundial, é de difícil solução. Comercialização Esses dois fatos estão contribuindo para colocar o Brasil, pela primeira vez, na rota do mercado mundial. Até 2001, a produção brasileira de mel era totalmente consumida no mercado interno. No Brasil, as importações são maiores que as exportações. Praticamente tudo o que se produz é consumido no mercado interno. Os altos custos de produção e o bom preço do mercado interno, até 2001, desestimulavam a exportação. O consumo per capta é inferior a 300g/ano. A Argentina exporta cerca de 2,2% de sua produção para o Brasil (1.300t/ano) e o Uruguai 4% (350 t/ano) (Munhoz, 1997), observando-se que a área do Uruguai é 176.200 km2 e da Argentina é 2.776.700 Km2. A área territorial do Brasil é 8.512.700 Km2, três vezes maior que a Argentina e 48 vezes maior que o Uruguai. Segundo dados disseminados pelo Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior, denominado ALICE-Web, da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), as importações e exportações brasileiras de mel natural, de 1998 a 2001 (jan/dez), tiveram comportamentos inversos: enquanto as importações diminuíram, as exportações aumentaram (Tabela 8). A produção de mel nesse mesmo período também apresentou tendência crescente (Tabela 9), em função do aumento do número de colmeias e da produtividade. Tabela 8. Exportações e importação brasileiras de mel natural, de 1998 a 2001*. Ano Produção de mel (Toneladas) 1998 1999 2000 2001 Importações 2.428,8 1.820,7 287,2 252,5 Exportações 16,7 18,6 268,9 1814,4 *até novembro 2001. Fonte: SECEX - Sistema ALICE. Tabela 9. Produção de mel de abelhas no Brasil, 1998 a 2001, segundo a FAO. Ano Produção de mel (Mt) 1998 1999 2000 2001 Brasil 18,308 19,751 21,865 20,000 Fonte: http://apps.fao.org/ Segundo Vilela (2000), nos últimos 15 anos a atividade apícola cresceu 94,7% no Piauí, com uma importante expansão entre 1996 e 1998, quando o aumento foi de 39,7%, numa média de 13,23% ao ano. Entretanto, entre 1999 e 2000 o incremento foi de apenas 6%, redução que pode ser atribuída às dificuldades encontradas nos anos de 1998 e 1999, devido ao longo período de estiagem, provocado pelo fenômeno El Niño, quando muitos apicultores perderam entre 80 e 100% de seus enxames, desistiram da atividade e desmotivaram futuros produtores. O registro de importações de mel pelo Estado, em 1999, de 20 toneladas (SECEX - Sitema Alice) vem confirmar esta ocorrência. Este comportamento também foi confirmado nos registros de exportações de mel do Piauí de 1998 a 2001, considerados insignificantes. Coeficientes Técnicos, Custos, Rendimentos e Rentabilidade A tabela abaixo explicita os principais parâmetros para o estabelecimento da relação custo- rentabilidade, considerando diferentes categorias de apicultores de acordo com o tamanho do empreendimento, que é definido pela quantidade de colméias com as quais ele trabalha. DISCRIMINAÇÃO P/ 100 COLMÉIAS Custo anual Total (R$)................................. 3.766,77 Preço de Venda (R$/kg de mel)...................... 1,40 Produção (kg de mel)................................... 3.000,00 Receita Total (R$)....................................... 4.200,00 Preço de Custo (R$/kg de mel)....................... 1,27 Lucro (R$/kg de mel).................................... 0,13 DISCRIMINAÇÃO P/ 350 COLMÉIAS Custo Anual Total (R$)................................. 9.786,70 Preço de Venda (R$/kg de mel)...................... 1,40 Produção (kg de mel)................................... 10.500,00 Receita Total (R$)....................................... 14.700,00 Preço de Custo (R$/kg de mel)....................... 0,93 Lucro (R$/kg de mel).................................... 0,47 DISCRIMINAÇÃO P/ 1000 COLMÉIAS Custo Anual Total (R$)................................. 27.281,90 Preço de Venda (R$/kg de mel)...................... 1,40 Produção (kg de mel)................................... 30.000,00 Receita Total (R$) ........................................ 42.000,00 Preço de Custo (R$/kg de mel)...................... 0,91 Lucro (R$/kg de mel)................................... 0,49 100 a 350 colmeias - individual Referências bibliográficas ADCOCK, D. 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In: CONGRESSO BRASILEIRO DE APICULTURA, 12, 1998, Salvador. Anais... Salvador: Confederação Brasileira de Apicultura, 1998. p. 146-147 BERGMAN, A., YANAI, J., WEISS, J., BELL, D. & DAVID, M. P. Acceleration of wound healing by topical application of honey. American Journal of Surgery, v.145, p. 374-6, 1983. BOGDANOV, S (1983). Characterisation of antibacterial substaces in honey. Lebensm Wiss Technol 17, 74-76. WHITE, J. W. & SUBERS, M.H. & SHEPARTZ, A.I. The identification of inhibine, the antibacterial factor in honey, as hudrogen peroxide and its origin in a honey glucose oxidase system. Biochimica et Biophysica Acta, v.73, p. 57-70, 1963. WHITE, J. W. & SUBERS, M.H. Studies on honey inhibine. 3. Effect of heat. Journal of Apicultural Research, v.2, n.2, p. 93-100, 1963. WILKINS, A. L., LU, Y, & MOLAN, P. C. (1993). Extractable organic substances from New Zealand unifloral manuka (Leptospermum scoparium) honey. Journal of Apicultural Research, 32 (1), 3-9. 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No caso das abelhas, existem três castas (rainha, zangão e operária), que se diferenciam em função das diferentes características morfológicas e funcionais de seus membros e pela divisão de trabalho. Cera Alveolada - Cera que já contém a marcação dos alvéolos. Fornecida em placas, é utilizada para a preparação dos quadros da colmeia para a produção, minimizando o trabalho e o gasto energético das abelhas na produção dos favos. Corbícula - Concavidade existente na tíbia do terceiro par de pernas das operárias, que as utilizam para o transporte dos grãos de pólen e de resina. Enxame - Todos os indivíduos de uma família de abelhas agrupados em torno de sua rainha. Enxameação - Fenômeno natural de migração das abelhas, que pode ocorrer com parte dos indivíduos e a rainha (divisão da colmeia) ou todo o enxame (abandono da colmeia). A enxameação objetiva a preservação da espécie, ocorrendo em função do instinto de reprodução e condições ambientais adversas. Favo - Estrutura construída de cera pela união dos alvéolos, que as abelhas utilizam para o desenvolvimento das crias e armazenamento do alimento (mel e pólen). Frutose - Um dos açúcares formados a partir da quebra da sacarose (carboidrato presente no néctar das flores). No mel, a maior quantidade de frutose em relação à glicose é um dos fatores que influenciam no retardo de sua cristalização. Glicose - Monossacarídeo (açúcar simples) presente no mel em função da "quebra" da sacarose do néctar pela ação enzimática das abelhas. HMF - Sigla da substância química denominada Hidroximetilfurfural. É formada pela desidratação da glicose que está naturalmente presente no mel, embora em baixa concentração. É um dos principais fatores de avaliação da qualidade do mel, uma vez que a elevação de seu índice está diretamente relacionada com a aumento da temperatura a que o mel foi exposto em todas as fases do processo (produção, colheita, extração, envase, armazenamento e transporte). A legislação brasileira permite o valor máximo de HMF de 40mg/kg. Honey dew - Denominação em inglês para a substância açucarada que as abelhas recolhem de partes do vegetal, que não as flores (nectários extra-florais), ou de organismos sugadores da seiva das plantas (pulgões). Liofilizada - Apresentação da geléia real (desidratada por congelamento brusco e alta pressão em vácúo) em drágeas. Metabolismo - Conjunto de fenômenos químicos e físico-químicos mediante os quais os organismos (vegetal e animal) fazem a assimilação (anabolismo) e a desassimilação (catabolismo) das substâncias essenciais à vida. Morfologia - Estudo da forma que a matéria pode tomar. Néctar - Substância aquosa e açucarada que as plantas oferecem aos visitantes como recompensa à polinização. Produzida pelos nectários que se encontram principalmente nas flores, mas podendo também aparecer em regiões especiais do vegetal (nectários extra-florais). Nidificar - Construir ninho. Operculação - Processo pelo qual as abelhas fecham os alvéolos (de cria e de mel) com uma fina camada de cera, indicando, no caso do mel, a sua maturação, e no caso das crias, o último estágio de desenvolvimento. Resina - Substância pegajosa que alguns vegetais secretam para proteção de aberturas (ação antioxidante) ou em áreas apicais como brotos de ramos e flores. Sacarose - Substância orgânica abundante no reino vegetal, constituinte básico do néctar. No mel, a legislação permite o máximo de 8% de sacarose. Sanificação - Processo de higienização que busca tornar o ambiente e/ou os equipamentos sãos ou salubres. Termorregulação - Controle da temperatura. No caso das abelhas, é o controle da temperatura interna da colmeia (entre 34 e 35 graus Celcius).
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