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Guias e Dicas
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Dinamização, a mágica de hahnemann, Manuais, Projetos, Pesquisas de Química

Artigo científico sobre a dinamização hahnemanniana.

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2010

Compartilhado em 10/01/2010

junior-banhara-8
junior-banhara-8 🇧🇷

4.7

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Baixe Dinamização, a mágica de hahnemann e outras Manuais, Projetos, Pesquisas em PDF para Química, somente na Docsity! DINAMIZAÇÃO, A MÁGICA DE HAHNEMANN Amarilys de Toledo Cesar Farmacêutica homeopata, doutora em Saúde Pública (USP), diretora da HNCristiano, docente da EPH As mudanças que ocorrem em substâncias materiais, especialmente nas medicinais, através da trituração com pó não medicinal, ou quando dissolvida, através da agitação com um fluido não- medicinal, são tão incríveis, que aproximam-se de miraculosas, e é motivo de alegria que a descoberta destas mudanças pertença à Homeopatia.” Hahnemann, Doenças Crônicas RESUMO As dinamizações representam as soluções medicinais utilizadas pela terapêutica homeopática para tratamento dos pacientes. Mesmo fazendo parte da formação dos clínicos homeopatas, há muito desconhecimento a respeito das diferentes técnicas de preparo. Diferenças nas técnicas de dinamização, e nas de dispensação das soluções dinamizadas em veículos inertes, influem na quantidade de dinamização que o paciente recebe, possivelmente afetando sua reação clínica. O objetivo do texto é abordar diversos aspectos da dinamização, especialmente a diluição e a agitação, em suas várias escalas e métodos, com a finalidade de uma maior compreensão do processo, auxiliando os clínicos a atingir melhores resultados terapêuticos. Foram utilizadas análises de literatura históricas e atuais, assim como nossa experiência na área farmacêutica homeopática. A discussão abordou diversos aspectos ainda pouco conhecidos, demonstrando a necessidade da realização de mais pesquisas, a serem realizadas através da união de homeopatas clínicos e farmacêuticos, assim como pesquisadores de várias áreas. PALAVRAS-CHAVE Homeopatia; dinamização; farmacotécnica homeopática; medicamento homeopático. SUMMARY Dynamizations are medicinal approaches by homeopathic therapeutics to treat patients. Although homeopaths are trained in these techniques, there is often insufficient knowledge about the different techniques available to prepare homoeopathic remedies. These techniques, such as the dosage of dynamized solutions in inert vehicles, influence the amount of dynamization the patient receives, possibly affecting his or her clinical reaction. The objective of this text is to review several aspects of dynamization, particularly dilution and agitation, using several scales and methods, with the aim of achieving a enhanced understanding of the process, and thereby helping clinicians to achieve better therapeutic results. An analysis of historic and current bibliography was used, as well as our experience in homeopathic pharmacy. The discussion involved several hitherto unknown areas, indicating a need for more research to be carried out with the participation of both clinical and pharmaceutical homeopaths, and researchers from different areas. KEY WORDS Homeopathy, dynamization, homeopathic pharmaco-technique, homeopathic medicine. INTRODUÇÃO Quando se pensa em medicamento homeopático, algumas idéias logo vem à nossa mente: uma é que eles são muito diluídos. Conhecendo um pouco mais, logo se diz que são “dinamizados”. Mas qual é mesmo o significado disto? Como é feita a dinamização? Como são produzidos os medicamentos? Chamamos de “dinamizar” ao conjunto das operações de diluir e agitar soluções. Este fundamento nos foi apresentado por Hahnemann, desenvolvido através de reflexões e também de maneira intuitiva, ao longo de sua vida, enquanto buscava formas para melhor aplicar a Lei da Semelhança no tratamento de doentes. Apesar de se tratar do procedimento fundamental no preparo de medicamentos homeopáticos, no contato com os profissionais clínicos, e portanto prescritores, percebe-se que há muito desconhecimento e dúvidas que podem gerar mal entendidos, expressos em receitas que nem sempre estão adequadas do ponto de vista farmacêutico. Uma vez que a receita é o documento que indica ao farmacêutico o medicamento escolhido pelo médico para tratar os pacientes, qualquer dúvida deve ser evitada, para que o tratamento homeopático evolua de maneira satisfatória. Assim sendo, ainda que este artigo trate de temas comumente abordados em aulas de formação homeopática para médicos, dentistas e veterinários, tem como objetivo divulgar e abordar diversos aspectos da dinamização, especialmente a diluição e a agitação, em suas várias escalas e métodos, com a finalidade de uma maior compreensão do processo, auxiliando os clínicos a obter melhores resultados terapêuticos. Para atingir este objetivo, lançamos mão de nossa experiência na área farmacêutica homeopática e de análise de literatura, histórica e atual. DESENVOLVIMENTO Freqüentemente encontramos a expressão “diluir e dinamizar” em diversas obras nacionais, e não “diluir e agitar”. É verdade que ao agitarmos uma solução previamente diluída, estamos concluindo a dinamização. Daí, a palavra “dinamizar” sendo usada no lugar de “agitar”, isto é, pelo resultado final da operação. Kayne lembra que dinamização é sinônimo de sucussão na França. Apesar de menos usado, o termo mais adequado seria “potencializar”, uma vez que acredita-se que o processo aumente a ação homeopática (Kayne, 1997). Quando Hahnemann descreveu o preparo do medicamento na 6a. edição de seu Organon, teve o cuidado de quantificar, através do número de gotas, um volume bastante pequeno (100 gotas de álcool forte, isto é, cerca de 2 mL) de líquido a ser agitado. Como já havia determinado que o conteúdo não deveria ser menor do que metade do frasco, fixou o uso de pequenos frascos, aos quais era possível aplicar uma força bastante grande através do uso de “100 fortes sucussões” (Hahnemann, 1995). O líquido agitado é composto por soluções de água e etanol, com sua densidade variando entre 0,8 e 1g/l. Há poucas referências a influências exercidas pela temperatura (e neste caso mais sobre inativação da ação das dinamizações), e ainda um estudo sobre dinamização efetuada em atmosfera de Nitrogênio (Poitevin, 1994). Mesmo quando aumentou de 2 agitações para 100 fortes sucussões, Hahnemann agitava os frascos manualmente. Mas desde a época em que ele era vivo, sempre houve a tendência a realizar o trabalho com o auxílio de máquinas. Alguns autores da sua época, que viviam o tempo da Revolução Industrial, começaram a se perguntar até que potência o efeito das soluções agitadas poderia existir e a estender a dinamização por muitos passos, assim como a buscar soluções mecânicas para realizar os trabalhos de diluir e agitar, ou pelo menos de agitar. Com a tendência de se usar 100 sucussões também para as centesimais, como ocorre atualmente em nosso país, assim como com a disseminação da ocorrência de doenças relacionadas a esforços repetitivos, provavelmente ligadas ao extenso uso de computadores, somando-se ainda o momento de busca de padronização de técnicas, percebe-se uma tendência ao uso de máquinas chamadas de “braço mecânico”, isto é, que realizam os movimentos humanos. Há produção de equipamento nacional (Autic). É importante salientar que diversos homeopatas, de acordo com sua formação, consideram que o método hahnemanniano deixa de sê-lo quando se utilizam dinamizadores de braço mecânico, ainda que sejam realizadas diluições centesimais seriadas, alternadas por agitações. Na Europa utiliza-se equipamentos que mais propriamente vibram os frascos, semelhantes aos usados em consultórios dentários para homogeneizar misturas, como os produzidos pela empresa belga Labotics e comercializados no hemisfério norte (Europa, Estados Unidos, Canadá e Japão). Percebe-se que quando comparamos agitações manuais ou mecânicas, diversas variáveis estão presentes, fazendo com que a agitação aplicada sobre as soluções diluídas através do método centesimal hahnemanniano não possam ser consideradas como padronizadas, quando comparamos dinamizações produzidas por diferentes operadores, farmácias ou laboratórios. MÉTODO CINQUENTA MILESIMAL Hahnemann também parecia se importar com o estabelecimento de certas regras, de forma que pudesse obter medicamentos confiáveis, que fossem responsáveis por efeitos em seus pacientes. Começou extraindo plantas exóticas e secas, ou nativas e frescas, através de extrações alcoólicas (tinturas). Utilizou sucos de plantas quando estas eram suculentas e disponíveis em seu estado fresco. Provavelmente percebeu que, variando o solvente, conseguia extrair frações variáveis da planta. Com os árabes, teve a idéia de triturar todas as substâncias, minerais solúveis ou insolúveis, vegetais ou animais frescos ou secos, tudo passou a ser amassado com lactose, dentro de um gral de porcelana. Colocar 1 gota do suco com a mesma quantidade de lactose anterior, triturando até a milionésima. Então 1 grão é dissolvido em partes iguais de água e álcool, e dinamizado através de 27 frascos, com 2 sucussões. A experiência me mostra que o suco parece adquirir mais dinamização quando triturado”. (Hahnemann, 1989). Desta maneira, desconcentrando a matéria com auxílio de um pó que considerou como inerte, e agitando- a através do movimento do pistilo, passou a aproveitar todos os componentes das substâncias que buscava utilizar como medicamento. Não dependia mais da solubilidade de determinados princípios ativos em diferentes teores alcoólicos, além de observar resultados mais interessantes (A experiência me mostra que o suco parece adquirir mais dinamização quando triturado). (Hahnemann, 1989) . “Para produzir uma homogeneidade na preparação dos medicamentos homeopáticos, e especialmente os antipsóricos, ao menos na forma de pó, aconselho a reduzir apenas à milionésima potência e preparar, a partir desta, as soluções e as potências necessárias para estas soluções”. (Hahnemann, 1989) Após 3 triturações na proporção de 1:100 de lactose, o produto deveria ser diluído em uma solução de baixo teor alcoólico (0,06g de pó em 500 gotas de uma solução preparada com 4 partes de água e 1 parte do álcool considerado como “forte”). A partir desta solução, nova diluição (1 gota em 100 gotas de “álcool forte”) seguida de 100 “fortes sucussões”, padronizadas por ser executada sempre por ele próprio). OUTROS MÉTODOS DE DINAMIZAÇÃO NÃO-HAHNEMANNIANOS ESCALA DECIMAL É atribuída a Hering a disseminação da idéia de usar substâncias diluídas na razão de 1:10 e não mais de 1:100. Winston afirma que: “Em 1833, Hering começou a experimentar diluições na proporção de 1:10. No final da década, tanto Samuel Dubs, nos Estados Unidos, quanto Vehsemeyer, na Alemanha, começaram a produzir medicamentos nesta escala. As potências americanas foram indicadas por um “X”, o numeral romano para “10”, enquanto que as potências européias receberam a notação “D” para decimal – 3X ou D3.” (Winston, 1999) Percebe-se ainda hoje grande participação das potências decimais, especialmente no mercado dos chamados “complexos”, isto é, mistura de dinamizações, geralmente em baixa potência. Considerando que a proporção da diluição é bem menor no caso das decimais, entende-se a solicitação de uma 1a. decimal, que não tem equivalente entre as centesimais, porém é difícil compreender a necessidade de uma prescrição D60, por exemplo. Nada se pode afirmar sobre sua eficácia ser maior ou menor do que uma centesimal. Tampouco faz sentido calcular equivalência matemática, já que não há moléculas em soluções tão diluídas. Aliás, a proibição da equivalência de escalas, observada na Farmacopéia Homeopática Brasileira, nos lembra que a edição anterior possibilitava este procedimento. Na 1a. edição, recomendava-se a realização de 10 sucussões para decimais, e 20 para centesimais. Desta maneira, a intenção seria de propor uma equivalência entre uma D4 (diluída a 10 –4, recebendo no total 4 vezes 10 sucussões, ou seja, 40 sucussões) e uma C2 (diluída também a 10 –4, recebendo porém 2 vezes 20 sucussões, e portanto as mesmas 40 sucussões da decimal). Parece correto afirmar que duas soluções, diluídas em um diferente número de vezes, em diferentes proporções e agitadas – ainda que no total um mesmo número de vezes – quando em diferentes concentrações, não devem ser consideradas como equivalentes em suas ações terapêuticas, antes da realização de provas mais definitivas. As farmácias brasileiras não dispõem da mesma amplitude de estoque de dinamizações na escala decimal, quanto em centesimal. Outra dificuldade é a obtenção das formas farmacêuticas básicas, porque quando uma farmácia dispõe da tintura-mãe, é fácil dinamizá-la diluindo a 1% ou a 10%, porém no caso do processo iniciar-se através de triturações, se elas forem centesimais, não há mais como transformá-la em decimal, a não ser conseguindo novamente a substância de origem, o que normalmente não está ao alcance das farmácias. Assim, podemos dizer que muitas se recusam a dispensar prescrições em decimal. A tendência atual, e proposta pela farmacopéia, é a realização do mesmo número de sucussões, isto é, 100, para todas as soluções, sejam diluídas na razão centesimal, seja na decimal. Assim, é possível que os resultados clínicos se afastem ainda mais, requerendo pesquisas que possam confirmar esta possibilidade. KORSAKOV Vivendo na época de Hahnemann, Korsakov, um nobre do exército russo, foi apresentado à terapêutica homeopática através do sucesso do tratamento obtido em si próprio. Interessou-se pelo método e o introduziu em seu país. Como pioneiro, tinha necessidade de preparar seus medicamentos, e percebendo dificuldades de se locomover carregando consigo um grande número de frascos necessários para realizar dinamizações, propôs a Hahnemann o uso de apenas um, que seria enchido, agitado, esvaziado e novamente enchido. Hahnemann considerou seu método interessante, porém estava interessado em outros caminhos. Korsakov experimentou os medicamentos produzidos através de sua técnica, obtendo resultados positivos. O alemão Boericke foi para a América e tornou-se assistente do livreiro Tafel. Hering sugeriu que, além de livros, vendessem também medicamentos durante cursos e congressos. Boericke acabou se formando homeopata e fundaram o laboratório Boericke & Tafel. Desenvolveu uma máquina que promovia diluições centesimais que eram agitadas 5 vezes, fazendo 100 potências por minuto (Winston, 1999). Bernhardt Fincke usou potências preparadas segundo diversos métodos, como partir de korsakovianas 30K e sucussionar 180 vezes com determinado ritmo. Patenteou seu processo, que denominou de “fluxão“. Neste, colocava uma potência 30CH em frasco de 30mL e por ele passava um fluxo de água contínuo. A cada 30mL de água, dizia que a potência aumentava de um grau. Na potência desejada, o frasco era esvaziado, enchido com álcool e sucussionado 2 vezes. Além de dinamizar usando só a passagem de água através de uma dinamização inicial, usava água de torneira, pois considerava que “uma trigésima já foi tão dinamizada que não pode ser destruída por nada químico ou físico, uma vez que possui natureza diferente” (Winston, 1999). Winston relata que Robinson, em 1941, escrevia sobre a apreensão causada naqueles que viam na proposta de Fincke “um distanciamento radical de tudo que era aceito como parte indispensável no processo de dinamização. Porém, é fato que estas máquinas tornaram-se realidade e os relatos de sua aplicação clínica são uniformemente satisfatórios”. Kent e Dunham documentaram o uso destas potências. Skinner afirmou que uma vez que o frasco estivesse profundamente penetrado pelo medicamento, e supondo que o processo de atenuação seja infinito, seria impossível “lavar” as propriedades medicinais, como água fria, depois seu poder terapêutico seria muito aumentado, e que apenas o calor poderia romper aquela cadeia, que ele atribuiu a um poder espiritual (Winston, 1999). Acreditando que a sucussão não era importante, preparou Sulphur partindo de uma gota de tintura e um frasco de 60mL, que encheu lentamente com água. Esvaziou-o sem agitar e encheu-o novamente. Após fazer isto 1000 vezes, usou esta preparação em um paciente “Sulphur”, dando a ele uma dose. Relata que a ação foi tão poderosa que teve que ser antidotada. Acreditava que suas potências, defendidas por Kent, eram verdadeiras hahnemannianas. Swan fazia com que a água passasse através de um aparato perfurado, como um regador, para “causar uma perturbação mais violenta do que a sucussão”. Desconhece-se o equipamento de Allen, mas o ponto de partida era uma potência CM de Kent. Foi usado por Ehrhardt & Karl, de Chicago, para fazer potências denominadas DM a DMM (500.00 a 500.000.000). Segundo consta, diversas ainda estão em uso. Arturo Mendez comprou algumas altíssimas potências desta empresa, e as revendeu para farmácias brasileiras. Portanto, podem existir até no Brasil. É importante lembrar que a escala de potências prescritas por Kent, isto é, 30, 200, M, 10M, 50M, 100M, 500M e MM, requeria o uso de dinamizadores mecânicos. Kent não teve contato com a 6a. edição do Organon e não conheceu as cinquenta-milesimais. Winston sugere que para melhor identificar as dinamizações, a sugestão seria denominá-las com o nome da substância, a potência e o método, atrelado ao fabricante da máquina de dinamizar, como se encontra em antigas referências (exemplos: um papel de Belladonna CM Fincke; Bryonia alba 30 B&T; Baptistia 8MM (Swan); papel Sanicula 10M Tyrell) O tempo passou. Nos Estados Unidos houve o declínio da homeopatia. Na Europa, até a década de 60 os franceses usavam equipamentos mecânicos para produção de potências mais altas. Uma dessas máquinas foi adquirida pelo então Laboratório Homeoterápico. O farmacêutico argentino Arturo Mendez após conhecê-la em uma visita, passou a ser produzir da uma similar pelo farmacêutico argentino Arturo Mendez que foi adquirida por brasileiros durante as aulas que ele na época ministradas ministrava em Curitiba e São Paulo. Este dinamizador, conhecido como modelo de Lock, promove uma diluição contínua de uma substância inicial, com agitação simultânea, promovida por uma pá. Os médicos professores argentinos foram responsáveis por estimular seu uso, fazendo que posteriormente, a partir deste modelo, surgissem fabricantes nacionais. Durante o congresso da Liga Médica Homeopática Internacional, realizado no Rio de Janeiro, em 1986, Mendez apresentou uma variação conhecida como “técnica da micro gota”, onde reduzia o volume inicial da potência de partida, e fazia as trocas considerando este volume inicial reduzido. Esta alteração possibilitou a obtenção de altíssimas potências, especialmente acima de MM. Mendez afirmou que “O sistema não é perfeito do ponto de vista hahnemanniano e não deve ser com ele comparado. Porém, na prática, está demonstrado seu valor terapêutico, através do uso por parte de médicos homeopatas argentinos e brasileiros. A experiência clínica no ser humano deu seu veredicto positivo. O sistema é válido.” (Mendez, 1986) Uma vez que os dinamizadores de Fluxo Contínuo passaram a ser produzidos no Brasil, tornaram-se acessíveis para um maior número de farmácias. Uma pesquisa realizada pela ABFH mostrou que várias técnicas eram utilizadas para produzir as potências com o mesmo equipamento: câmara vazia, câmara cheia e “micro-gota”1. Textos com o objetivo de padronizar a técnica foram publicados no Manual de Normas Técnicas da ABFH e na 2a. edição da Farmacopéia Homeopática Brasileira. Particularmente o texto da Farmacopéia, que inviabilizam economicamente a dinamização de potências altíssimas. Existem nas farmácias brasileiras dinamizações preparadas de maneira diversa e muitas vezes desconhecida até mesmo por seus proprietários, que as adquiriram no mercado nacional ou internacional. A 3a. edição do 1 Manual da ABFH, recém publicado, trouxe a proposta votada na última assembléia geral: uso de 100 rotações por passo e a adoção de 2 critérios para cálculo e uso do dinamizador de Fluxo Contínuo: troca de solvente em função do volume da câmara até a 50.000 FC e da técnica da micro-gota apenas a partir desta potência. Foi uma escolha determinada pela opinião da maioria dos sócios da ABFH, ainda desconhecida por parte dos que vão prescrever as dinamizações para os pacientes (ABFH, 1995; ABFH, 2003). Seja qual for a técnica, o equipamento ou o método utilizado, em resumo podemos afirmar que o preparo das altíssimas potências só pode ser feito com auxílio de dinamizadores mecânicos. Requer grande consumo de água purificada e consequentemente de energia elétrica, especialmente se a água for purificada por meio de destilação. O uso da técnica da “micro-gota”, possibilita a diminuição deste consumo, porém não é aceito pela Farmacopéia, o que pode diminuir a oferta das potências mais altas, solicitadas e utilizadas com êxito há décadas, por uma parte dos clínicos homeopatas, especialmente os que seguem Kent. DISCUSSÃO Após apresentar os diversos métodos e escalas de dinamização, considerando que nenhuma delas tenha sido completamente abandonada ao longo dos anos, podemos concluir que, de alguma maneira, todas sejam passíveis de apresentar resultados clínicos, caso contrário já deveríamos saber de sua inércia terapêutica. Mas haveria um “funcionar melhor” a ser atingido pelos medicamentos? Se considerarmos que tanto uma simples diluição, quanto a simples agitação não aumentam a ação de uma substância, podemos seguir afirmando que a “mágica” da dinamização ocorrem quando estas duas operações acontecem de maneira consecutiva ou simultânea. Pensando apenas em uma solução 30CH, por exemplo, cuja dinamização foi realizada através do método hahnemanniano tradicional, com o uso de 30 frascos, vamos imaginar um situação hipotética: diluímos esta solução. A 1%, vamos dizer. Como ela foi diluída, podemos considerar que ela vai “perder sua ação”. Talvez que ela vá “perder sua força”. De uma maneira lúdica, podemos imaginar que ela “ficará fraquinha”. Se agora começarmos a agitá-la, se fizermos isto 100 vezes, ela voltará a ser ‘forte”, passará a ser uma 31CH, portanto, segundo os princípios homeopáticos, “mais forte” do que a solução anterior, 30CH. Uma pergunta curiosa seria “quando aconteceu esta mágica? Quando a solução “fraquinha” se transformou, através de agitações, em uma “mais forte” do que a anterior? A partir de que número de agitações? 100? Impossível, se Hahnemann usava 2 ou 10 em suas centesimais. E se tampouco padronizamos como estas agitações devem ocorrer. E se fizermos 100 agitações, o efeito torna-se maior? Isto pode ser traduzido por “melhor”, clinicamente? Dependeria da necessidade do paciente, se nos lembrarmos novamente de Hahnemann? Há alguma alteração especial em torno do número 100? Continuam ocorrendo alterações indefinidamente? Se nos lembrarmos das cinquenta-milesimais, percebemos que para um paciente de doença crônica, é recomendação usual uma administração do medicamento ao dia, durante 1 a 2 semanas, sendo que ela deve ser precedida de 8 a 12 agitações feita ao frasco. Como esta solução foi preparada a partir da aspectos pouco conhecidos, para suscitar curiosidade e interesse, demonstrando a necessidade da realização de mais pesquisas, através da união de homeopatas clínicos e farmacêuticos, assim como pesquisadores de várias áreas. Esperamos ter contribuído para o entendimento do processo, assim como da necessidade deste conhecimento para os homeopatas em geral. Jeremy COLLIER, citado por W.W.Robinson, afirmou: “Não devemos desprezar verdades evidentes, só porque não podemos responder a todas as questões sobre elas... Isto se aplica evidentemente a um pequeno grupo de médicos que sustenta firmemente que há um tremendo poder terapêutico nas altas atenuações. Relegada à obscuridade, esta idéia tem permanecido como um gigante adormecido que deve ser despertado.” (Winston, 1990) Nota de rodapé Durante o congresso da Liga Médica Homeopática Internacional, realizado no Rio de Janeiro, em 1986, Mendez apresentou uma variação conhecida como “técnica da micro gota”, onde reduzia o volume inicial da potência de partida, e fazia as trocas considerando este volume inicial reduzido: a troca passou a ocorrer não em função do volume da câmara, mas sim do volume de dinamização inicialmente adicionado à câmara. Esta alteração possibilitou a obtenção de altíssimas potências, especialmente acima de MM (Mendez, 1986). 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