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Guias e Dicas
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Produção de mudas nativas, Notas de estudo de Engenharia de Produção

Descreve método de coleta e produção de mudas nativas

Tipologia: Notas de estudo

2010

Compartilhado em 06/05/2010

paulo-sergio-fernandes-6
paulo-sergio-fernandes-6 🇧🇷

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Baixe Produção de mudas nativas e outras Notas de estudo em PDF para Engenharia de Produção, somente na Docsity! RA PR STR ST RA VT 1 Edna Scremin-Dias Cristiane Kalife Zildamara dos Reis Holsback Menegucci Paulo Robson de Souza Manual 4 Projeto: Rede de Sementes do Pantanal Instituição Executora: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Convênio 042/2001 – MMA/FNMA) Coordenação Edna Scremin Dias Laboratório de Botânica - Departamento de Biologia Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Caixa Postal 549 79070-900 - Campo Grande - MS Secretaria Executiva Cristiane Kalife Ana Lúcia Barros Técnico em Informática Fabio Luiz Modesto Responsáveis pelo Banco de Dados Alex Wukio Wassano Ana Lúcia Barros Cristiano Costa Argemon Vieira Hercules da Costa Sandin Ravi Vilela Rauber Paulo Robson de Souza (produção do acervo de fotografias) Revisão Técnica do Manual Ana Lúcia Barros Arnildo Pott (listas de espécies) Cristiane Kalife Edna Scremin-Dias Nelson Akira Matsuura (normas para a produção de mudas florestais) Paulo Robson de Souza Zildamara dos Reis Holsback Menegucci Ilustrações Vander Fabrício Melquíades de Jesus Consultoria ad hoc Alexandra Penedo de Pinho Angela Lúcia Bagnatori Sartori Fotos da Capa Paulo Robson de Souza (foto maior: dossel de piuval, Tabebuia sp., Base de Estudos do Pantanal – UFMS; foto menor: plântula de olho-de-cabra, Ormosia fastigiata) Capa Lennon Godoi Editoração Eletrônica Marcelo Brown UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL Portão 14 - Estádio Morenão - Campus da UFMS Fone: (67) 3345-7200 - Campo Grande - MS e-mail: editora@editora.ufms.br ISBN: 85-7613-087-4 Depósito Legal na Biblioteca Nacional Impresso no Brasil 5 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................... 7 2 NORMAS PARA PRODUÇÃO DE MUDAS FLORESTAIS .......................................................................................................... 9 3 MANEJO DE VIVEIROS .......................................................................................................................................... 11 3.1. Definição do local de instalação do viveiro ....................................................................................... 11 3.2. Dinâmica operacional do viveiro ...................................................................................................... 12 4 PROCESSOS GERMINATIVOS ................................................................................................................................... 15 4.1. A semente ......................................................................................................................................... 15 4.2. Germinação da semente ................................................................................................................... 16 4.3. Fatores que influenciam na germinação ........................................................................................... 16 4.4. Tipos de dormência ........................................................................................................................... 16 4.4.1. Dormência do tegumento (casca) da semente ......................................................................................... 16 4.4.2. Dormência morfológica ............................................................................................................................ 17 4.4.3. Dormência interna .................................................................................................................................... 17 4.5. Métodos de superação da dormência .............................................................................................. 17 4.5.1. Escarificação mecânica ............................................................................................................................ 17 4.5.2. Método químico ...................................................................................................................................... 18 4.5.3. Choque térmico ....................................................................................................................................... 18 4.6. Teste de Germinação ........................................................................................................................ 19 4.7. Regras para análise de sementes (RAS) ......................................................................................... 19 4.8. Preparo de substrato ........................................................................................................................ 20 4.8.1. Procedimentos ....................................................................................................................... 21 6 4.8.2. Características do substrato .................................................................................................. 21 4.8.3. Tipos de substratos que podem ser utilizados em viveiros .................................................... 22 4.8.4. Preparo do húmus ................................................................................................................. 23 4.8.5. Estocagem dos componentes do substrato ........................................................................... 24 4.9. Semeadura ........................................................................................................................................ 24 4.9.1. Preparo da sementeira .......................................................................................................... 24 4.9.2. Processo de desinfecção dos canteiros ................................................................................ 24 4.9.3. Processo de semeadura ........................................................................................................ 25 4.9.4. Semeadura indireta ................................................................................................................ 25 4.9.5. Sistemas de semeadura indireta ............................................................................................ 26 4.9.6. Semeadura direta .................................................................................................................. 26 4.9.7. Manutenção dos canteiros .................................................................................................... 29 4.9.8. Irrigação das sementeiras ou dos tubetes ............................................................................. 29 4.9.9. Controle dos lotes e das espécies plantadas ......................................................................... 29 4.9.10. Repicagem das mudas obtidas nas sementeiras ................................................................. 30 4.9.11. Desbaste .............................................................................................................................. 30 4.10. Espécies-alvo do Pantanal .............................................................................................................. 32 5 IRRIGAÇÃO DA PRODUÇÃO .................................................................................................................................... 37 5.1. Processo de irrigação respeitando os estágios de desenvolvimento das plântulas .......................... 37 5.2. Necessidades distintas das espécies ................................................................................................ 38 5.3. Qualidade do recurso hídrico ............................................................................................................ 38 6 ADUBAÇÃO DAS PLÂNTULAS ................................................................................................................................. 41 6.1. Variações das necessidades nutricionais entre espécies de diferentes classes sucessionais .......... 42 6.2. Associação simbiótica entre mudas e microrganismos .................................................................... 44 7 PREPARO DAS MUDAS PARA A EXPEDIÇÃO .................................................................................................................. 47 7.1. Procedimentos para a preparação do lote de expedição ................................................................. 48 8 CUIDADOS NO PLANTIO DAS MUDAS ......................................................................................................................... 51 8.1. Defeitos das mudas .......................................................................................................................... 51 8.2. Qualidade das mudas ........................................................................................................................ 51 8.3. Uso do gel absorvente ...................................................................................................................... 52 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................................................... 55 10 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................. 57 9 2. NORMAS PARA PRODUÇÃO DE MUDAS FLORESTAIS Todo o setor produtivo de sementes e mudas no Brasil foi regulamentado pelo Decreto n° 5.153, de 23 de julho de 2004, que aprovou o Regulamento da Lei nº 10.711, de 5 de agosto de 2003. Esta Lei e o referi- do Decreto dispõem sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas – SNSM, onde é firmado que to- das as ações decorrentes das atividades previstas no Regulamento deverão ser exercidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, dentro da competência prevista no art. 5º da Lei. Além da Lei e do Decreto, devem ser considera- das (i) a Instrução Normativa MAPA n° 24, de 16 de dezembro de 2005, que aprova as Normas para a Produção, Comercialização e Utilização de Mudas, (ii) a Instrução Normativa MAPA n° 9, de 02 de junho de 2005, que aprova as Normas para a Produ- ção, Comercialização e Utilização de Sementes e da qual alguns anexos são também utilizados pelos pro- dutores de mudas e, ainda, (iii) a Instrução de Servi- ço CSM n° 1/2005, que trata das taxas decorrentes da inscrição no Registro Nacional de Sementes e Mudas - RENASEM. No caso específico de produção de mudas de espécies florestais nativas, deve-se observar, ainda, o capítulo XII do Decreto 5.153/2004, em seus arti- gos 143 a 175. Para elaboração das normas comple- mentares a estes artigos o MAPA instituiu uma co- missão. Os textos da citada legislação se encontram dis- poníveis na página eletrônica do Ministério da Agri- cultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA. O endereço: www.agricultura.gov.br > na página inicial selecionar: legislação > > selecione “sislegis” > > na caixa de diálogo aberta, no campo “busca li- vre” digitar “sementes e mudas” > > será mostrado um menu com os atos relativos a sementes e mudas, em ordem inversa por data de publicação. Neste manual serão sinalizadas as condições mínimas que todos os viveiros devem atender para funcionar de maneira legal perante o MAPA e profissionalizar sua produção. As orientações aqui contidas servirão como elemento norteador para os produtores de mudas estabelecerem sua produção da melhor maneira possível, visando produzir mudas de qualidade e atender a demanda do mercado den- tro da legislação vigente. Toda pessoa física ou jurídica que exerça ativida- de de produção, beneficiamento, reembalagem, 10 armazenamento, análise, comércio, importação ou exportação de semente ou muda, é obrigada a se inscrever no Registro Nacional de Sementes e Mu- das - RENASEM. Para inscrição no RENASEM o produtor ou co- merciante de mudas deve dirigir-se à unidade do MAPA no Estado onde tenha sede e apresentar re- querimento em modelo próprio, conforme sub-item 5.1 das Normas para Produção, Comercialização e Utilização de Mudas, oficializadas pela Instrução Normativa MAPA 24/2005. Na página eletrônica www.agricultura.gov.br encontram-se a relação das unidades do MAPA nos Estados e os respectivos endereços. Na forma em que estão organizados, o Regula- mento e as Normas Complementares sobre mudas e sementes objetivam disponibilizar materiais de repro- dução e multiplicação vegetal para o sistema produ- tivo de sementes e mudas, com garantias de identi- dade e qualidade, respeitadas as particularidades de cada espécie. Para tanto a produção de sementes e mudas deverá obedecer às normas e aos padrões de identidade e de qualidade, estabelecidos pelo Minis- tério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, pu- blicados no Diário Oficial da União. As atividades de produção de sementes e mudas deverão ser realizadas sob a supervisão e o acom- panhamento do responsável técnico, em todas as fases, inclusive nas auditorias. O responsável técnico pela produção de se- mentes ou mudas é o Engenheiro Agrônomo ou En- genheiro Florestal, registrado no Conselho Regio- nal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CREA, a quem compete a responsabilidade técni- ca pela produção, beneficiamento, reembalagem ou análise de sementes ou mudas em todas as suas fases, na sua respectiva área de habilitação profis- sional. Estas informações objetivam chamar atenção dos produtores para iniciarem a organização do sistema de sua produção, adequando-se à legislação vigente. É claro, para os técnicos do MAPA, que a normali- zação1 deste processo será gradual, e o objetivo deste manual é orientar e contribuir para a implantação do setor de produção de sementes e mudas com quali- dade, no âmbito da Rede de Sementes do Pantanal http://sementesdopantanal.dbi.ufms.br (Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul). Com rela- ção ao cadastramento dos viveiros, o produtor deve inscrever o viveiro de mudas, anualmente, até 15 dias após a emergência das plântulas, no caso de mudas provenientes de sementes, ou até 31 de março nos demais casos, apresentando ao órgão de fiscaliza- ção da produção na Unidade da Federação – MAPA, no caso dos estados de MS2 e MT3 – requerimento em formulário próprio, conforme sub-item 7.5 das Normas para Produção, Comercialização e Utiliza- ção de Mudas, oficializadas pela Instrução Normativa MAPA 24/2005. 1 Seguimos a orientação da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que usa o termo “normalização” (em vez do neologismo “normatização”) para designar processos de estabelecimento de normas. 2 Endereço da Superintendência Federal de Agricultura no Mato Grosso do Sul: Rua Dom Aquino, 2.696, centro, Campo Grande, MS – CEP 79 002-970. Fone (67) 3325 8866. 3 Endereço da Superintendência Federal de Agricultura no Mato Grosso: Alameda Aníbal Molina, s/n, bairro Ponte Nova,Várzea Grande, MT – CEP 78 115-901. Fones (65) 3685 5678 e (65) 3685 7589. 11 3. MANEJO DE VIVEIROS Na atividade de produção de mudas a estrutura e organização dos viveiros são extremamente impor- tantes para obtenção de mudas de qualidade, produ- zindo plantas de espécies adequadas e em quantida- de necessária à demanda, respeitando-se a época e o destino do plantio. Para isso é extremamente im- portante planejar corretamente as instalações do vi- veiro, ter conhecimento suficiente das técnicas para operacionalizá-lo e administrá-lo, além de obter ex- celente qualidade em sua produção e com menor custo possível. A obtenção do sucesso na implementação de povoamentos florestais para recuperação de áreas degradadas, bem como para arborização de ruas, depende principalmente da qualidade das mudas uti- lizadas no plantio. Para tanto, são relacionadas neste manual as técnicas ideais para o manejo de viveiros, desde os processos germinativos para a obtenção das plântulas até a liberação dos lotes de mudas para o plantio. É fácil visualizar toda a dinâmica operacional de um viveiro (Fig. 1), cujas etapas são: a obtenção de sementes; o beneficiamento; o armazenamento; a quebra da dormência (caso necessário); o preparo das sementeiras; o processo de semeadura; o esta- belecimento das mudas em canteiros e o manejo das mudas até o processo de expedição. Ressalta-se aqui a importância da área como remanescente florestal utilizado para seleção e marcação das árvores ma- trizes, já que a falta de critérios na etapa inicial – obtenção de sementes – pode comprometer todas as etapas seguintes, relativas à produção de mudas, bem como prejudicar, em longo prazo, o consumidor final. Em todas essas etapas o controle fitossanitário deve ser rigoroso; as atividades de manejo no vivei- ro devem ser cuidadosas; a atenção dispensada a todo o processo de produção deve ser efetiva. Qual- quer problema apresentado durante o processo pro- dutivo deve ser imediatamente solucionado para não comprometer a produção, a qualidade das mudas e, conseqüentemente, os rendimentos obtidos pela comercialização do produto. 3.1. DEFINIÇÃO DO LOCAL DE INSTALAÇÃO DO VIVEIRO O importante ao se planejar a instalação de um viveiro é observar os aspectos econômicos, climá- ticos, topográficos e logísticos do local escolhido. Para um produtor de sementes e mudas se estabe- lecer de maneira satisfatória no mercado, é de pri- 14 15 4. PROCESSOS GERMINATIVOS 4.1. A SEMENTE A semente é um óvulo que após ser fecundado e desenvolvido, constitui a unidade de dispersão de dois grandes grupos vegetais: as gimnospermas e as angiospermas. O primeiro grupo, cujos exemplos mais marcantes são os pinheiros, produz sementes nuas (sem fruto) e o segundo grupo, predominante na flo- ra brasileira, tem suas sementes protegidas pelos fru- tos. A semente possui um envoltório externo (casca ou tegumento), o hilo (cicatriz deixada pelo tecido que unia o óvulo à parede do ovário – Figura 2); internamente, um embrião e o endosperma (tecido para nutrição do embrião). Figura 2 - Esquema representando as partes de uma semente de feijão (em cima, à esquerda) e semente alada (direita, embaixo) e as fases do desenvolvimento da plântula (à direita). 16 4.2. GERMINAÇÃO DA SEMENTE A germinação ocorre quando o embrião, contido dentro de uma semente, começa a se desenvolver, rompendo a casca da mesma, dando origem a uma plântula. Para que isso ocorra são necessárias algu- mas condições, como por exemplo, temperatura, luz, oxigênio e umidade ideais. Durante a sua formação a semente perde umida- de, o que evita a germinação dentro do fruto ou junto ao corpo da planta-mãe, bem como sua deterioração pelo ataque de microrganismos. Essa redução no teor de umidade faz com que o embrião tenha seu metabolismo reduzido, aguardando condições favo- ráveis para que ele se desenvolva e origine uma nova planta. 4.3. FATORES QUE INFLUENCIAM NA GERMINAÇÃO Os eventos importantes da germinação iniciam-se com a embebição de água, processo físico que ocor- re mesmo em sementes mortas. A ativação enzimática acontece logo em seguida, em parte devido à reativação de enzimas estocadas, formadas durante o processo de desenvolvimento do embrião, e em parte devido à sín- tese de novas enzimas, assim que a germinação se ini- cia. A primeira evidência da germinação é a emer- gência da radícula (Fig. 2). Quando a plântula inicia a absorção de água e a fotossíntese, tornando-se inde- pendente dos tecidos de reserva, considera-se que o processo de germinação está terminado. Quando a semente tem a capacidade de germi- nar imediatamente assim que lhe forneçam os níveis adequados de umidade, temperatura, oxigênio, diz- se que está quiescente; já uma semente viável, tendo todas as condições ambientais ideais para germinar e não o faz, é chamada semente dormente. A dormência é uma estratégia reprodutiva impor- tante e está associada às plantas que se regeneram naturalmente, a partir do banco de sementes do solo, ou àquelas que precisam conservar seu potencial de germinação, até que condições favoráveis ocorram. É, portanto, um mecanismo natural que impede a germinação (Figlioli & Pinã-Rodrigues, 1995). Para desencadear o processo germinativo de al- gumas sementes pode ser necessário promover a que- bra de dormência, que consiste em propiciar a ob- tenção de umidade que elas perderam. A perda de umidade da semente pode ocorrer durante sua for- mação, durante o procedimento de sua retirada dos frutos e na secagem visando o armazenamento (Car- neiro, 1995), ou ainda pelo processo natural de impe- dimento da hidratação, em decorrência de tegumentos impermeáveis. É interessante notar que muitas das espécies que crescem em áreas de grande variação estacional – de temperatura ou de estresse hídrico – requerem um período de “latência” antes de sua germinação. Algumas sementes não germinam na natureza en- quanto sua casca não for retirada, permitindo a en- trada de água ou oxigênio no interior da mesma (CESP, 2000). Outras só germinarão na natureza se passarem pelo interior do trato digestivo de um ani- mal, causando assim o desgaste da casca pela ação do suco gástrico. Como saber se uma espécie possui sementes dor- mentes? É importante ter sempre à mão uma biblio- grafia especializada para buscar essa e outras infor- mações sobre as espécies com as quais queremos trabalhar. No entanto, se o viveirista não dispõe des- se material de consulta, ele deve mergulhar as se- mentes em água à temperatura ambiente e deixá-las ali por 24 h. Se após esse período as sementes não incharem, indicando que absorveram água, é prová- vel que esta espécie apresente dormência física. Além dessa impermeabilidade da casca à água, existem outras formas de dormência em sementes, como: presença de inibidores da germinação, embrião imaturo e a combinação dos fatores mencionados. 4.4. TIPOS DE DORMÊNCIA 4.4.1. Dormência do tegumento (casca) da semente Dormência física – Tegumento (casca) imper- meável à água, mas com embrião quiescente, característica de grande número de espécies das se- 19 mento) e, em geral, descartam-se as sementes que flutuam, pois provavelmente estas não estão viáveis. As espécies cujas sementes devem ser embebidas em água são: corticeira-da-serra (Erythrina falcata Benth.), jenipapo (Genipa americana L.), palmito (Euterpe edulis Mart.) e pau-jacaré (Piptadenia gonoacantha (Mart.) J.F. Macbr.), entre outras. Após a embebição as sementes, se necessário, po- dem ser estocadas a baixa temperatura (± 5°C), por algum tempo. 4.6. TESTE DE GERMINAÇÃO Esse teste visa avaliar o poder germinativo das sementes após a sua colheita, após os tratamentos pré-germinativos e após os períodos variáveis de armazenamento. Quando o coletor de sementes vai comercializá-las é importante que ofereça ao com- prador a informação da porcentagem de germina- ção daquela amostra. Nos viveiros, esse teste tam- bém é importante já que, conhecendo o poder de germinação daquele lote de sementes, economiza- se substrato no momento da semeadura. Por exem- plo, se o teste acusar que o lote apresenta 50% de germinação colocam-se de duas a três sementes em cada recipiente; depois que germinarem, as plântulas podem ser repicadas para outros recipientes. Como fazer o teste de germinação? É necessário que esse teste seja feito em labora- tório com alguns equipamentos e utensílios básicos tais como: germinador e destilador, placas de Petri (ou caixas de Gerbox), pinças de vários tamanhos e papel de filtro. É indispensável o uso de literatura especializada para a adoção de metodologias apro- priadas para cada espécie, permitindo-se avaliar as seguintes variáveis: germinação na presença ou na ausência de luz, temperatura ideal para germinação e número aproximado de dias para o início da germi- nação. De maneira geral, o procedimento comum para sementes de todas as espécies, após tratamento de quebra de dormência ou não, é o descrito a seguir. As placas de Petri ou caixas de Gerbox devem ser forradas com o papel de filtro umedecido em água destilada. As sementes são colocadas dentro das pla- cas com espaço suficiente entre si para que haja a emissão da radícula (raiz primária). Esse conjunto pode ser tratado com fungicida ou as sementes podem ser previamente lavadas com hipoclorito de sódio 1% (uma parte de hipoclorito para 99 partes de água) para evitar a contaminação das sementes, o que afetaria a taxa de germinação do lote. As placas são colocadas no germinador à tem- peratura mais adequada para a espécie mas, se esse valor não for conhecido, o teste deve ser feito com temperatura de 25° a 30°C. Algumas espécies tam- bém exigem luminosidade, enquanto outras exigem escuridão para germinar. Essa informação também deve ser buscada em bibliografia especializada. A cada 24 horas as placas devem ser retiradas do germinador e as sementes que germinaram devem ser contadas e retiradas com pinça esterilizada das placas de Petri, e descartadas. 4.7. REGRAS PARA ANÁLISE DE SEMENTES (RAS) A avaliação da qualidade de um lote requer uso de metodologias padronizadas, de modo que os tes- tes possam ser reproduzidos em qualquer laborató- rio com o mesmo material. As Regras de Análise de Sementes (Ministério da Agricultura, 1992) estabe- lecem especificações padronizadas a serem utiliza- das, desde o tamanho da amostra até instruções para realização das análises das qualidades de sementes. Embora as RAS prescrevam o uso de 400 se- mentes para se realizar teste de germinação, isso nem sempre é possível para as espécies florestais, por dois motivos: pelo tamanho e pela baixa produ- ção das sementes, o que requer a diminuição do nú- mero de sementes por repetição. Neste casos, os técnicos de setores florestais adotam o uso de cem sementes (quatro repetições de 25 sementes, ou cin- co repetições de 20 sementes). O teste pode ser feito em caixas Gerbox ou pla- cas de Petri e a semeadura deve ser feita entre ou sobre substrato. Para minimizar a contaminação de 20 fungos ou bactérias, recomenda-se o uso de ver- miculita ou areia e que o espaçamento entre as se- mentes seja de duas a cinco vezes o seu tamanho. A duração dos testes varia muito entre as espéci- es, podendo ser de dez dias para ingás e angicos, 20 dias para ipês e 60 dias para algumas palmeiras. As contagens são feitas em intervalos de três a quatro dias para espécies que germinam rapidamente e sete dias para sementes que demoram mais para germinar. Medidas de Germinação Existem várias formas de se medir a germina- ção, entre elas a “germinabilidade”, que é a porcen- tagem de sementes germinadas em relação ao nú- mero de sementes dispostas a germinar, sob deter- minadas condições ambientais: %G = ( SG ) . 100 TS onde: %G= percentual de germinação SG = número total de sementes germinadas TS = número total de sementes A germinabilidade informa o percentual de sementes germinadas, entretanto não reflete o tem- po que foi necessário para que as sementes atingis- sem tal porcentagem de germinação. Podem existir dois lotes de sementes que apresentem o mesmo porcentual de germinação; no entanto, podem apre- sentar velocidades de germinação diferentes. Exis- tem medidas que quantificam a germinação, infor- mando quanto tempo foi necessário para o lote de sementes germinar. A equação apresentada abaixo pode ser utilizada para calcular o tempo médio: T = (N . t )/ N Onde: T = Tempo médio necessário para determina- do número de sementes germinar N = número de sementes germinadas no in- tervalo de tempo t = intervalo de tempo necessário para germi- nação do lote. Geralmente dado em horas. A semente que demora muito para germinar pode ser atacada por fungos durante o processo de embebição e não germinar. Portanto o lote que apre- sentar maior velocidade durante o processo de ger- minação irá sofrer menos influência de patógenos. Determinação de umidade O teste de umidade visa determinar o conteúdo de água presente na semente, com o objetivo de es- tabelecer os parâmetros adequados para a manu- tenção da qualidade fisiológica das sementes para fins de armazenamento e principalmente para comercialização. No Brasil o método mais usado é o método de estufa a 105ºC por 24 horas; no entanto, pode-se usar 17 horas a 103ºC, ou estufa em 70ºC até o peso das sementes estabilizar. Os testes são realizados de acordo com as RAS, que nem sempre são adequa- das para determinadas espécies, dadas as grandes variações morfológicas e fisiológicas das sementes ou unidades de dispersão. Para determinar o percentual de umidade, deve- se pesar as sementes para obter o peso inicial (Pi), após deve-se mantê-las em estufa de acordo com o método escolhido. Após o tempo de secagem deve- se pesar novamente as sementes, obtendo então o peso da matéria seca da semente (PS). %U = Pi – PS . 100 Pi Onde: %U = umidade em percentual Pi = Peso inicial PS = Peso após secagem em estufa 4.8. PREPARO DO SUBSTRATO Para o sucesso na semeadura, há a necessida- de do controle de todas as etapas que envolvem a produção e o preparo do substrato, a qualidade, a calibração, a combinação dos componentes utiliza- dos, além dos atributos físicos desejáveis ao substrato produzido. Além disso, a escolha dos re- cipientes utilizados, bem como o preparo da semen- teira e a forma de semeadura, se direta ou indireta, devem ser definidos no início do processo. Neste 21 item serão abordadas todas as etapas que envol- vem este processo, bem como o método adotado pelos viveiros da CESP (disponibilizados em manu- al digital, em 2000), quanto à forma de preparo do substrato. 4.8.1. Procedimentos • Colocar os componentes do substrato, previa- mente selecionados, próximos à unidade de pre- paração da mistura. Estes componentes deve- rão estar devidamente peneirados (caso de ter- ra e areia) e beneficiados (caso de casca de arroz e húmus); • Pesar e medir os componentes antes de serem misturados para homogeneização. Para misturar o substrato podem-se usar enxadas (método ma- nual) ou misturador automático (adaptado do sis- tema de tratamento de sementes usado na agri- cultura ou, opcionalmente, uma betoneira adap- tada (Fig. 3); • Homogeneizar muito bem os componentes da mistura e, posteriormente, umedecê-la, sendo que não deverá ficar encharcada, nem tampouco, muito seca. Uma forma prática de verificar se o teor de umidade está adequado é o teste das go- tas: apertando-se um pouco do substrato com a mão, deverão se formar pequenas gotas entre os dedos, o que indica uma condição ideal de umida- de. No caso de não surgirem gotas, o substrato está muito seco e, se escorrerem sobre a mão, indica o excesso de água. 4.8.2. Características do substrato O substrato ou o meio de semeadura e cresci- mento pode ser de qualquer material, ou mistura de materiais, que reúnam várias características dese- jáveis e necessárias para o desenvolvimento efici- ente das mudas. Entre estas estão: a retenção equi- librada de água, como boa drenagem, boa aeração e leveza. Além disso, o substrato deve ter um nível baixo a médio de fertilidade, apresentar homo- geneidade, capacidade de absorção de água e nu- trientes, facilidade de manuseio, ser de fácil aquisi- ção e não deve conter patógenos e substâncias tó- xicas às plântulas. Estas características permitirão o bom desenvolvimento radicular e boa agregação do conjunto raiz-substrato. A escolha e o preparo do substrato são decisões importantes e difíceis de tomar, principalmente por não haver um substrato que seja ótimo e adequado às necessidades de to- das as espécies. Um bom substrato deve ter boa capacidade de arejamento para o crescimento e desenvolvimento do sistema radicular das plantas, sendo que a textura da mistura deve facilitar a livre passagem de água, de modo a permitir a entrada de oxigênio pela super- fície da raiz e a saída de água e gás carbônico. O substrato deve ter o pH (medida do nível de acidez e alcalinidade) na faixa de 6,0 a 6,5. Somente substratos na faixa ideal de pH irão proporcionar a absorção de todos os nutrientes que a planta neces- sita para o seu crescimento. Várias doenças de solo podem atacar mudas pro- duzidas em viveiro e causar sérios prejuízos. Sendo assim, medidas preventivas devem ser tomadas para que as doenças não ocorram ou proliferem nos vi- veiros. Normalmente, solos contêm fungos causa- dores de doenças, razão pela qual devem ser evita- dos na preparação de substratos. No mercado, existem disponíveis substratos es- pecíficos para cada cultura. No entanto, a opção por adquirir um substrato pronto ou formular o seu pró- prio substrato, envolve uma série de fatores, entre os quais destaca-se o custo. Figura 3 - Aspecto geral de uma betoneira manual, utilizada para misturar os componentes do substrato. 24 60 dias, para a transformação completa em húmus. g) Quando houver programação de retirada de húmus, preparar antecipadamente outros canteiros dispo- níveis para efetuar o transporte das minhocas para o próximo lote de húmus a ser processado. 4.8.5. Estocagem dos componentes do substrato a) O húmus processado deverá ser depositado em local coberto e livre da exposição direta ao sol e chuvas; b) Caso haja disponibilidade de tempo, poderá ser feita a irrigação do húmus, a fim de estimular a germinação de sementes de plantas invasoras; c) Para melhor controle e facilidade de trabalho da equipe que irá realizar o envasamento de tubetes, o húmus deve ser ensacado em medidas-padrão, ou seja, conforme as proporções já indicadas an- teriormente (item 4.8.3 – Proporção); d) O controle de produção deverá ser feito por meio de plaquetas plásticas colocadas em cada cantei- ro, apresentando a data de colocação do esterco. A produção é controlada pelo número de sacos produzidos. Obs.: Todas as ferramentas devem estar sem corte e sem ponta, sendo necessário arredondar, ou “bolear” os instrumentos, para não ferirem as mi- nhocas. 4.9. SEMEADURA 4.9.1. Preparo das sementeiras As sementeiras são canteiros especiais, destina- dos a acomodar elevada densidade de plântulas por metro quadrado, onde serão semeadas espécies cujas sementes apresentam problemas na germinação, quando colocadas diretamente no substrato dos tubetes (CESP, 2000). O preparo das sementeiras consiste na mistura de componentes do substrato, sua posterior desinfecção e a distribuição do mesmo diretamente nas sementeiras (semeadura indireta). O preparo adequado das sementeiras é o passo ini- cial para o êxito do viveiro. A superfície de cada se- menteira deve ser sempre levemente abaulada, para não haver problemas de empoçamento. No preparo das sementeiras deve-se (i) proce- der à remoção total do substrato a ser substituído; (ii) verificar as condições do sistema de drenagem de água, procedendo às devidas correções para os casos de sinais de poças (encharcamentos); (iii) mis- turar os seguintes componentes, considerando as dosagens apresentadas (CESP, 2000): • 80% de areia média; • 20% de húmus de minhoca (podem ser utiliza- das outras fontes de matéria orgânica, como esterco bovino curtido). Para colocar o substrato preparado nos canteiros das sementeiras, deve-se observar que a mistura não pode atingir o limite das paredes laterais. Recomen- da-se deixar cerca de um centímetro de altura, para que possam ser acomodadas as sementes e, mais tarde, ser feita a cobertura de areia. Posteriormente é necessário acertar o nivelamento da areia, usando uma régua gabarito, de dimensão igual à largura do canteiro (Fig. 4). 4.9.2. Processo de desinfecção dos canteiros Para a desinfecção do substrato, após colocá-lo na sementeira, deve-se irrigá-lo periodicamente, para Figura 4 - Nivelamento da areia, durante o preparo da sementeira. 25 que ocorra a germinação das sementes das espécies indesejadas. Após o aparecimento dessas plantas na sementeira, estas deverão ser eliminadas, seja ma- nualmente (em poucos canteiros), ou ainda com o uso de herbicidas pós-emergentes, em caso de gran- des áreas de sementeiras (CESP, 2000). Este método de desinfecção é recomendado quan- do há tempo disponível no planejamento de produ- ção, uma vez que requer cerca de 20 a 30 dias para ser executado. Caso não se tenha tempo suficiente para este procedimento, sendo necessário acelerar o processo, podem-se usar substâncias fumegantes indicadas para desinfecção de solos, sendo que esta opção apresenta vantagens quanto ao espectro de ação e tratamento, agindo também sobre bactérias, fungos, nematóides e larvas (CESP, 2000). No entanto, Carneiro (1995) cita como efeitos negativos deste processo, o acúmulo do produto, a injúria às mudas das espécies nativas, provocadas pelo produto, além da injúria aos microrganismos benéficos, tais como micorrizas. Atualmente, já es- tão disponíveis no mercado fumegantes seletivos que não comprometem as micorrizas (segundo especifi- cações do fabricante). 4 9.3. Processo de semeadura Este processo consiste na distribuição das se- mentes sobre o substrato, enterrando-as ou deposi- tando-as na superfície do solo, dependendo das exi- gências de cada espécie quanto a presença ou au- sência de luz para germinação (sementes fotoblásticas), oferecendo as melhores condições possíveis para a obtenção de uma boa taxa de ger- minação. A semeadura pode ser feita diretamente no recipiente, em geral tubete (semeadura direta, ver adiante) ou em canteiros e sementeiras (seme- adura indireta). Para as espécies nativas, o mais recomendado é a semeadura em canteiros ou sementeiras. Esta téc- nica é mais apropriada quando se trabalha com mui- tas espécies e, por conseqüência, vários tamanhos de sementes, sem ter conhecimento do poder germinativo das mesmas. Evita-se com isto o uso desnecessário de embalagens onde não houver ger- minação. 4.9.4. Semeadura indireta Neste tipo de semeadura as sementes são colo- cadas diretamente nos canteiros de pré-germina- ção (sementeiras), que já foram previamente pre- parados (Fig. 5). A organização deste procedimento visa iniciar os processos de germinação de forma rápida, obtendo-se uniformidade nas taxas de ger- minação. Na programação desta atividade devem-se con- siderar as espécies que apresentem problemas de germinação, quando semeadas diretamente nos tubetes. Entre os problemas apresentados, destacam- se: (i) sementes com baixo poder germinativo quan- do semeadas em substrato não arenoso; (ii) espéci- es que possuem germinação irregular (tempo), ou mesmo (iii) sementes cujos procedimentos recomen- dados para tratamentos de quebra de dormência são desconhecidos. Devem ser semeadas diretamente em sementeiras (iv) algumas espécies que possuem sementes grandes em relação ao diâmetro de aber- tura do tubete, (v) sementes que apresentem boa ger- minação, porém, que é desencadeada após 20 dias da semeadura, além de (vi) sementes com poder Figura 5 - Processo de semeadura indireta. 26 germinativo desconhecido em razão do tempo de armazenamento. A semeadura indireta, apesar de constituir-se em uma das únicas atividades ainda executadas de for- ma “artesanal”, tem como propósito possibilitar o aumento da diversidade de espécies trabalhadas, uma vez que é, ainda, o único meio de produção de algu- mas delas, devido não se ter definidos os parâmetros técnicos destas sementes. Além disso, evita-se o desperdício de materiais e mão-de-obra, pois ofere- ce melhores condições de manejo do lote de mudas no viveiro, ou seja, garante a homogeneidade do plantel, facilitando operações subseqüentes como: adubações, seleções, raleamentos, etc. 4.9.5. Sistemas de semeadura indireta As sementes podem ser agrupadas em três ti- pos de sistemas de semeadura nos canteiros, de- pendendo de suas características reprodutivas e considerando a grande heterogeneidade de espéci- es. Abaixo são descritos os três procedimentos mais usuais, respeitando as características estruturais das sementes. a) Para as sementes grandes e duras, após serem colocadas sobre o substrato da sementeira, de- vem ser fixadas por meio de leves batidas com a régua de madeira (gabarito – este procedimento evita que ocorram sobreposições de sementes). Após serem fixadas, as sementes devem ser co- bertas por fina camada de areia média (1mm a 5mm) peneirada. Na Tabela 1, são apresentados alguns exemplos de espécies a serem trabalhadas neste sistema. Para sementes de guapuruvu e jatobá, recomenda-se colocar individualmente a semente nos tubetes, respeitando-se a posição do hilo, que deve ser enterrado para baixo obedecen- do ao sentido que irá desenvolver o sistema radicular (radícula) da plântula (Fig. 2). b) Para sementes pequenas (minúsculas), neste caso é necessário que sejam bem espalhadas (a lanço) sobre o canteiro, para que não fiquem muito adensadas, prejudicando sua germinação e a reti- rada das plântulas para repicagem. Não devem receber mais do que 2mm de cobertura de areia média peneirada. Na Tabela 2 são exemplificadas espécies cuja semeadura deve obedecer a este método. c) Para as sementes aladas ou plumosas, a semea- dura deve ser feita em período de menor intensi- dade dos ventos. Deve-se proceder à irrigação da superfície do canteiro, antes da semeadura a lan- ço, para facilitar a fixação da semente na superfí- cie do substrato. A cobertura não deve ultrapas- sar 2mm de areia média peneirada. Na Tabela 3 são exemplificadas espécies cuja semeadura deve obedecer a este método. 4.9.6. Semeadura direta Neste procedimento, as sementes são depositadas diretamente nos recipientes plásticos (tubetes). Ini- cia-se este processo com a preparação e enchimento dos recipientes, feito manualmente e diretamente na embalagem plástica, com auxílio de pás ou, em caso de grande produção, com auxílio de máquina que au- xilia a compactação do substrato no tubete. Para pequenos produtores que irão semear as sementes em sacos plásticos, recomenda-se dobrar as bordas do saco plástico (± 3 cm), para facilitar o enchimento e o transporte, diminuindo a probabilida- de dos sacos plásticos rasgarem, e portanto aumen- tando a sua vida útil. A correta compactação do substrato no recipien- te é fundamental para evitar a presença de amplos espaços com ar no substrato. O excesso de permeabilidade ou compactação exagerada prejudi- cam o desenvolvimento radicular. A semeadura direta deve ser efetuada em substrato irrigado previamente, sendo feita a perfu- ração ou coveamento do substrato no recipiente. A perfuração do substrato deve ser feita com uma li- geira pressão, utilizando para isto ferramentas ade- quadas ao tamanho da semente. Isto permite a cen- tralização da semente e a sua correta cobertura, evi- tando o deslizamento para as laterais. Normalmente devem ser semeadas duas sementes por recipiente 29 e, caso as duas germinem, uma será repicada para a embalagem que não houve germinação. O sucesso da boa germinação depende de ar, calor e umidade, além da qualidade das sementes semeadas e das características da espécie, se dor- mentes ou não. A semeadura profunda pode acarre- tar maior tempo de germinação, gasto de energia, apodrecimento e ataque de fungos. Por outro lado, a semeadura rasa torna a germinação mais fácil, en- tretanto as sementes são mais atacadas por pássa- ros e roedores, e ficando com pouca umidade, são levadas facilmente pela água e pelo vento. A melhor época para proceder a semeadura é a primavera, no entanto em regiões em que o inverno não é muito rigoroso, a semeadura pode ser realiza- da no final do verão, com espécies resistentes a bai- xas temperaturas. A Tabela 4 (item 4.10) mostra as principais espécies-alvo listadas durante encontro da Rede de Sementes do Pantanal, com informações disponíveis na literatura quanto aos parâmetros téc- nicos das sementes. 4.9.7. Manutenção dos canteiros Os canteiros semeados devem ser protegidos com cobertura do tipo sombrite 50% (Fig. 6) ou ou- tro material leve, não tóxico e higroscópico (que per- mite a passagem de água). Este cuidado protege contra o ataque de insetos, além de conservar a umidade necessária, proporcio- nando emergência mais homogênea das plântulas. Também protege as sementes de chuvas, otimizando a distribuição da água, protegendo também das osci- lações de temperatura na superfície do canteiro após semeadura (Carneiro, 1995). Portanto, o uso da co- bertura apresenta importante influência no índice de sobrevivência das plântulas recém-germinadas. O acompanhamento da atividade e o desenvol- vimento do processo de germinação deve ter espe- cial atenção do viveirista e/ou técnico responsável, pois ao primeiro indício de ataque de fungos, deve- rá ser providenciado o controle imediato deste patógeno conforme recomendação de profissional habilitado. 4.9.8. Irrigação das sementeiras ou dos tubetes A primeira irrigação deve se feita logo após a cobertura com areia. Para tanto, podem-se usar mangueiras plásticas e/ou regadores, ou ainda um sistema de microaspersores (Fig. 6). Para qualquer técnica utilizada, deve-se ter o cuidado de regular o tamanho das gotas no lançamento, de forma a evitar que ocorra a lavagem da cobertura de areia, ou o aprofundamento irregular de sementes pequenas, o que implicaria em dificuldades de germinação. A irrigação de rotina deverá ser feita em três períodos (dependendo das condições climáticas), sendo a primeira às 8 horas, a segunda às 11 horas e a terceira às 16 horas. Por tratar-se de processo delicado, a irrigação deverá ter acompanhamento específico, cabendo ao viveirista avaliar a hora certa de executá-la. 4.9.9. Controle dos lotes e das espécies plantadas Todos os registros que foram lançados na ficha de campo, durante o processo de coleta de semen- tes, deverão ser lançados no lote semeado. Este de- verá possuir planilha própria e ser identificado em Figura 6 - Detalhe do processo de irrigação e da proteção das sementeiras por sombrite. 30 plaqueta plástica, que deverá ser colocada no canto esquerdo de cada área ocupada pelas sementes na sementeira, contendo as seguintes informações: • Nome vulgar; • Número do lote de coleta; • Uso – Indicação de local adequado para plantio da muda (reflorestamento, recuperação de áreas degradadas, arborização urbana, arredores de nas- centes, outros); • Data da semeadura. 4.9.10. Repicagem das mudas obtidas nas sementeiras O processo de transplante das mudas das semen- teiras para as embalagens (tubetes ou sacos plásti- cos) denomina-se repicagem. Esta atividade tem o propósito de tornar o lote homogêneo e é comple- mentar à semeadura indireta. A época recomendada para a repicagem deve ser aquela de estagnação do crescimento vegetativo. No entanto, isto difere de espécie para espécie e depende da época da semeadura, da rapidez do crescimento e das condições meteorológicas. Em geral, quando as plântulas possuem dois pares de folhas (mínimo) e até cinco centímetros de sistema radicular, devem ser retiradas dos canteiros, onde se acham aglomeradas, e colocadas nos recipien- tes que irão se desenvolver (Fig. 7). Devem-se ob- servar as características de cada espécie para rea- lizar este processo, pois nem sempre a velocidade de crescimento radicular é a mesma, bem como nem sempre se pode aguardar a emissão do segundo par de folhas. O melhor momento para proceder a repicagem são dias nublados, úmidos e com pouco vento. Mes- mo em locais onde há sombreamento direto, como é o caso das estufas (sementeiras cobertas) projetadas para o viveiro, o ideal é proceder a repicagem nestas condições, independente da época. Deve-se avaliar atentamente o lote de plântulas a serem transplantadas, pois se considera válido o início da repicagem quando o lote apresenta mais de 50% de plântulas no ponto de transplante. Assim, considerando-se os descartes na seleção, é previsto que um mesmo lote seja trabalhado em duas oportu- nidades. Nunca deixar que as raízes sequem, por ficarem expostas ao sol ou ao vento por muito tempo, duran- te a repicagem. Caso isto ocorra a possibilidade de sobrevivência é menor ou mesmo poderá ocorrer retardo no crescimento da muda. Os procedimentos para a repicagem deve ocor- rer logo após o preparo e enchimento dos recipien- tes com substrato, e consiste em (i) irrigar previa- mente as sementeiras; (ii) retirar as mudas da se- menteiras, quando estas atingirem cerca de cinco cm de altura, acondicionando-as em recipiente com água (Fig.7); (iii) selecionar as mudas, evitando as mal formadas e defeituosas; (iv) aparar, com te- soura, as raízes quebradas ou aquelas pivotantes muito grandes, que possam dificultar o transplante; (v) colocar a muda no centro do recipiente, que deve ser previamente perfurado, evitando o dobramento das raízes, ou que elas fiquem emaranhadas ou tor- cidas, pois as raízes devem ficar retas e no sentido vertical, otimizando o desenvolvimento da plântula. Por último, (vi) enterrar a muda até o colo (região de transição entre a raiz e o caule), cobrindo-a com o substrato (Fig. 8) 4.9.11. Desbaste Quando há excesso de plântulas germinadas nos tubetes, onde foram executadas as atividades de se-Figura 7 - Repicagem das plântulas nas sementeiras. 31 meadura direta, deve-se fazer o desbaste. Esta pro- cesso consiste na primeira seleção das mudas pro- duzidas, cuja finalidade é promover a homogeneização do lote de plântulas. Quanto mais homogêneo o lote, melhores as condições de desenvolvimento para a muda a ser produzida. O processo de desbaste deve ocorrer quando as plântulas apresentarem altura variando entre três a cinco centímetros. Elas atingem este tamanho por volta do 15º ao 30º dia da semeadura (dependendo da espé- cie, ou ainda, da qualidade do lote de sementes). O momento ideal para fazer o desbaste é quando a plântula apresentar dois ou três pares de folhas. Na seleção da plântula a ser mantida para a forma- ção da muda devem ser consideradas aquelas que se apresentarem mais resistentes e sadias (aspectos visuais), dando preferência às que estiverem no cen- tro do tubete. Para o procedimento do desbaste são utilizadas tesouras sem ponta (do tipo escolar), sendo que a eliminação das plântulas não selecionadas deverá ser feita na altura da região do colo (Fig. 9). Figura 8 - Plantio da muda em tubete. Figura 9 - Detalhe do desbaste das plântulas nos tubetes. 34 Tabela 4 – Lista das espécies-alvo do Pantanal, acompanhada da classe ecológica que pertence (classificação silvicultural), características dos frutos, época de colheita, número de sementes por quilograma e método de coleta das sementes (continuação). NOME CIENTÍFICO NOME VULGAR FRUTOS TIPO COR (MATURAÇÃO) CLASSIFiCAÇÃO SILVICULTURAL ÉPOCA COLETA MÉTODO COLETA SEMENTES KG Lonchocarpus sericeus (Poir.) Kunth ex DC. Luehea candicans Mart. Luehea divaricata Mart. Mabea brasiliensis Müll. Arg. Machaerium aculeatum Raddi Maclura tinctoria (L.) D. Don. ex Stender Mauritia vinifera Mart. Mouriri elliptica Mart. Miconia cinnamomifolia (DC.) Naudin Myracrodruon urundeuva Allemão Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez Orbignya oleifera Burret Ormosia fastigiata (Vell.) Harms Peltophorum dubium (Spreng.) Taub. Pereskia sacharosa Gris. Pithecolobium scalare Griseb. Plathymenia reticulata Benth. Pouteria ramiflora (Mart.) Radlk. Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand Pseudobombax longiflorum (Martius & Zuccarini) ...A. Robyns Pterogyne nitens Tul. Qualea grandiflora Mart. Qualea parviflora Mart. Rhamnidium elaeocarpum Reissek Rheedia brasiliensis (Mart.) Planch. & Triana Rollinia emarginata Schltdl. Salvertia convallariodora A. St.-Hil. Sapindus saponaria L. Sapium glandulatum (Vell.) Pax Sapium sp. Schinopsis balansae Engl. Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman falso-ingá açoita-cavalo-grande açoita-cavalo canudo-de-pito bico-de-pato Amora do mato buriti coroa-de-frade jacatirão aroeira canela-preta aguaçu, babaçu olho-de-cabra canafístula gancheira barreiro vinhático fruta-de-veado almecega imbiruçu bálsamo-do-pantanal, amendoim-do-campo pau-terra pau-terrinha cabriteiro bacupari arixicum-do-mato saboneteira leiteira leiteiro quebracho-vermelho jerivá CR - MARROM-CLARO JUL/AGO 2600 CL FSD MARROM AGO/SET 185.000 CL FSD PARDACENTO JUN/AGO 160.000 CL FSI MARROM-ESCURO JUL/AGO 8.000 CL FSI ESVERD/PARDACENTO SET/OUT 5.200 CM FC AMARELO-ESVERDEADO SET/DEZ 384.000 - FC - AGO/SET - - FSD - DEZ/JAN - CR FSD PRETO ABR/MAI - CR - AMARELO SET/OUT 65000 CR FC PRETO NOV/DEZ 3.500 - FC - - - CL FSD MARROM-ESCURO MAI/OUT 980 CL FSI MARROM-ESCURO MAI/JUN 6.500 CR FC PARDACENTO ABR/MAI - - - JUL/SET CL - MARROM AGO/SET 33200 CM - VERDE JAN/FEV 660 CM - AMARELO NOV/DEZ 11000 - - - JUL/AGO - CR - PALEÁCEA MAI/JUN 5700 CL - AGO/SET 5200 CL - MARROM SET/OUT 30000 CR - ROXO DEZ/MAR 18500 CL - - SET/JUN - - - - - - CL - VERDE AGO/SET 7500 CM FC MARROM SET/OUT 1.870 CR FC VERDE-CLARO JAN/FEV - CM - VERDE JAN/MAR 18200 CR - MARROM MAR/MAI 3000 CL FC AMARELO SET/JAN 630 SOLO COPA COPA COPA COPA COPA/SOLO - - COPA SOLO COPA - COPA COPA COPA COPA SOLO COPA COPA COPA COPA COPA SOLO - - COPA COPA COPA COPA SOLO SOLO 35 Stryphnodendron obovatum Benth. Sweetia fruticosa Spreng. Tabebuia alba (Cham.) Sandwith Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook. f. ex S. Moore Tabebuia avellanedae Lorentz ex Griseb. Tabebuia chrysotricha (Mart. ex A. DC.) Standl. Tabebuia dura (Bureau ex K. Schum.) Sprague & Sandwith Tabebuia heptaphylla (Vell.) Toledo Tabebuia impetiginosa (Mart. ex DC.) Standl. Tabebuia ochracea (Cham.) Standl. Tabebuia roseoalba (Ridl.) Sandwith Tabebuia serratifolia (Vahl) G. Nicholson Tabebuia vellosoi Toledo Terminalia argentea Mart. Tibouchina granulosa (Desr.) Cogn. Tibouchina pulchra (Cham.) Cogn. Trema micrantha (L.) Blume Vatairea macrocarpa (Benth.) Ducke Vitex cymosa Bertero ex Spreng. Vochysia cinnamomea Pohl Vochysia divergens Pohl Xylopia aromatica (Lam.) Mart. Zanthoxylum chiloperone Mart. ex Engl. Zanthoxylum hasslerianum (Chodat) Pirani barbatimão chifre-de-veado ipê-amarelo-da-serra para-tudo, ipê-amarelo, carabeira ipê-roxo-comum ipê-amarelo-cascudo ipê-branco-do-brejo ipê-roxo ipê-rosa ipê-amarelo-grande ipê-branco ipê-amarelo ipê-carcudo, cavatã, ipê-amarelo capitão, capitão-do- cerrado quaresma manacá-da-serra candiúva angelim tarumã quina-doce cambará pindaíba, pimenta-de- macaco cera-cozida mamica-de-porca - - - OUT/MAR - CL - AMARELO OUT/DEZ 5100 CR - MARROM OUT/DEZ 85400 CL - VERDE-ESCURO SET/OUT 6700 CL FSD MARROM CLARO AGO/SET 13.500 CM - MARROM-CLARO SET/OUT 86000 CL - MARROM SET/NOV 42000 CL FSD MARROM-CLARO AGO/SET 33.000 CR FSD MARROM-CLARO JUL/AGO 16.500 CL FSD MARROM-CLARO JUL/AGO 70.000 CL FSD MARROM-CLARO AGO/OUT 66.000 CM - MARROM-CLARO OUT/DEZ 25000 CL - MARROM-ESCURO OUT/NOV 15200 CM - AMARELO JUL/SET 2800 CL FSD MARROM-CLARO ABR/MAI 3.800.000 CR FC MARROM OUT/NOV 62.000 CR FC AVERMELHADO JAN/MAI 180.000 CL - MARROM-CLARO DEZ/JAN 700 CM - ROXO NOV/JAN 1850 CL - VERDE AGO/SET 3500 CR - VERDE DEZ/JAN 19500 CL - VERDE ABR/JUL 11500 - - - - - CR - MARROM-ESCURO - 18600 - SOLO COPA COPA COPA COPA COPA COPA COPA COPA COPA COPA COPA SOLO COPA COPA COPA SOLO SOLO COPA COPA COPA - COPA Tabela 4 – Lista das espécies-alvo do Pantanal, acompanhada da classe ecológica que pertence (classificação silvicultural), características dos frutos, época de colheita, número de sementes por quilograma e método de coleta das sementes (conclusão). NOME CIENTÍFICO NOME VULGAR FRUTOS TIPO COR (MATURAÇÃO) CLASSIFiCAÇÃO SILVICULTURAL ÉPOCA COLETA MÉTODO COLETA SEMENTES KG Baseado em Lorenzi (2000 e 2002) Lorenzi et al. (2004) e Pott & Pott (1994) Legenda: FC – Fruto carnoso; FSI – Fruto seco indeiscente; FSD – Fruto seco deiscente; CR – Crescimento rápido; CL – Crescimento lento; CM – Crescimento moderado. 36 39 Unidade Grau de restrição para o uso de águaVariável 1. Salinidade CE1 STS2 2. Toxidez de Íons (afeta espécies sensíveis) Sódio Cloreto Boro Nitrogênio Bicarbonato dS/m < 0,7 0,7 - 2,0 2,5 - 3,0 > 3,0 mS/m < 450 450 - 1.200 1.201 - 2.000 > 2.000 mg/L < 70 70 - 140 141 - 200 > 200 mg/L < 100 100 - 250 250 - 350 > 350 mg/L < 0,7 0,7 - 2,0 2,0 - 3,0 > 3,0 mg/L < 5,0 5,0 -18 18 - 30 > 30 mg/L < 90 90 - 270 271 - 520 > 520 Nenhum Baixo Moderado Alto Tabela 5 – Características desejáveis da água disponível no viveiro para irrigação da produção. Fonte: Dr. José Leonardo de Moraes Gonçalves, ESALQ/USP 1 Condutividade Elétrica da Água: medida de salinidade medida em deciSiemens por metro (dS/m) ou miliSiemens por centímetro (mS/m) a 25ºC 2 Sais Totais em Solução: STS (mg/L) = 640 x CE pH: faixa normal 6,5 a 8,4 40 41 O bom desenvolvimento das mudas ocorre quan- do o solo é fértil e tem uma boa quantidade de nitro- gênio, fósforo e potássio. Além destes elementos, que são os macronutrientes, existem outros elemen- tos que são necessários para a saúde e vigor das mudas, entre eles: Manganês, Enxofre, Ferro, Co- bre, Zinco, Sódio, Cloro e Boro. Nos adubos comerciais observam-se três núme- ros que indicam a proporção de Nitrogênio, (N), Fós- foro (P) e Potássio (K) existentes na sua composi- ção. Exemplo: adubo 4:14:8 indica que a mistura con- tém quatro partes de N, 14 de P e 8 de K. É impor- tante lembrar que a adubação excessiva também é prejudicial, trazendo sérias conseqüências às mudas. A adubação com compostos comerciais é impor- tante; no entanto, a matéria orgânica existente no solo apresenta inúmeros benefícios para as mudas. Entre os benefícios apresentados estão a melhoria da estrutura do solo e a diminuição da lixiviação dos nutrientes. A matéria orgânica também aumenta a capacidade de retenção e absorção d’água e favo- rece o crescimento de organismos benéficos. Podem-se encontrar várias fontes de matéria or- gânica, como os fertilizantes orgânicos comerciais, esterco (de galinha e de carneiro são melhores) e 6. ADUBAÇÃO DAS PLÂNTULAS húmus. Entretanto, deve-se tomar cuidado com o uso de esterco, pois pode haver o risco de contaminação por agentes patogênicos, ou ainda, quando este não estiver bem curtido, de queimar as raízes. Neste as- pecto, utilizar um substrato especialmente produzido para sua produção é mais seguro e eficaz (ver item 4.8.2, "Características do Substrato"). Em decorrência das características físicas do substrato (drenagem e lixiviação), é necessário fa- zer as adubações complementares de cobertura. A oferta de nutrientes em períodos estabelecidos visa dar continuidade ao ritmo de crescimento das plântulas e garantir as condições gerais das mudas. Os nutri- entes empregados destinam-se a absorção pelo sis- tema radicular, ou seja, não ocorre a absorção dos nutrientes pela folha. Neste aspecto deve-se empre- gar um método que garanta que os nutrientes pos- sam atingir o substrato. Alguns métodos podem ser empregados para a adubação das mudas, que pode ser feita (i) manual- mente com regador, seguindo as recomendações técnicas, indicadas nos manuais de fertilizantes quí- micos, que devem ser pesados nas formulações e quantidades estabelecidas. Para este processo deve- se misturar o adubo com água em baldes de 20 litros até a diluição máxima, filtrando a solução posterior- 44 te no viveiro e apresentam sistema radicular pouco extenso (Fig. 11). 6.2 . ASSOCIAÇÃO SIMBIÓTICA ENTRE MUDAS E MICRORGANISMOS As micorrizas são associações benéficas entre raízes de plantas e fungos filamentosos. Os fungos alojam-se nos tecidos internos das raízes das plantas e transferem para estas macro e micronutrientes importantes que retiram do solo. Eles conseguem acessar fontes de nutrientes que não estão disponí- veis para as plantas, ou elementos com baixa mobili- dade no solo como, por exemplo, o fósforo. As micorrizas aumentam significativamente a superfí- cie de absorção radicular, pois as microscópicas es- truturas filamentosas do fungo (hifas), na prática, funcionam como extensões das raízes colonizadas, explorando um maior volume de solo. Em troca, a planta fornece aos fungos açúcares produzidos na fotossíntese. Esse processo de absorção e transferência de macronutrientes, principalmente Nitrogênio e Fósfo- ro, e micronutrientes como Zinco, é lento. É interes- sante notar que a maioria das espécies pioneiras não possui micorrizas, pois estas apresentam crescimen- to rápido e precisam de nutrientes disponibilizados rapidamente. Neste caso as pioneiras devem encon- trar esses elementos disponíveis no solo ou na serapilheira. Em espécies do final da sucessão eco- lógica – sucessoras secundárias e clímax –, as micorrizas são mais freqüentemente encontradas. Estas plantas apresentam crescimento mais lento e têm raízes mais grossas. Destas raízes partem as minúsculas hifas do fungo que se alastram pelo solo, absorvendo nutrientes. As plantas que possuem micorrizas são menos suscetíveis ao ataque de fun- gos patogênicos. O viveirista pode fazer a inoculação de micorrizas nas sementes que vai semear visando um melhor desenvolvimento da muda; no entanto, se o substrato utilizado no viveiro for de boa qualidade e houver a utilização de fertilizantes minerais nas mudas, o de- senvolvimento das micorrizas inoculadas será peque- no. Assim, a inoculação de micorrizas em tubetes no viveiro não é garantia de resultados extraordinaria- mente melhores do que aqueles obtidos através da utilização de um bom substrato e bons fertilizantes. A mesma afirmação pode ser feita para a inoculação de bactérias Rhizobium em sementes de leguminosas. Essas bactérias, ao colonizarem os te- cidos internos das raízes, promovem a formação de Figura 11 - Diferenças estruturais entre o sistema radical de pioneiras (A), secundárias (B) e clímax (C), em plântulas com a mesma idade em viveiro e prontas para expedição. A B C 45 nódulos facilmente destacáveis. Estas bactérias são encontradas em grande número de leguminosas na natureza, fazendo a fixação do Nitrogênio atmosfé- rico nas raízes, convertendo-o em compostos nitrogenados utilizáveis pela planta. Como contrapartida, a planta fornece às bactérias os açú- cares provenientes da fotossíntese, umidade e abri- go. Alguns experimentos demonstraram que semen- tes inoculadas com Rhizobium, quando colocadas para germinar em substrato não fertilizado com ni- trogênio, produzem mudas em menor tempo e com aspecto nutricional melhor (devido ao provimento natural de Nitrogênio assimilável pelas bactérias fixadoras desse elemento), com maior número de raízes e maior quantidade de nódulos, que aquelas não inoculadas. Por outro lado, estudos desenvolvi- dos com outras leguminosas demonstraram que as plantas inoculadas com as bactérias Rhizobium apre- sentam menor crescimento do que aquelas que re- ceberam fertilizantes nitrogenados. Assim, a deci- são de fazer ou não a inoculação destas bactérias no viveiro deve ser tomada após a realização de testes com as espécies de leguminosas que se pretende produzir no viveiro. Hoje existe no mercado esporos de Rhizobium comercializados pela EMBRAPA – Agrobiologia (www.cnpab.embrapa.br - fone 21 2682-1500) que podem ser adquiridos facilmente. Caso a espécie que se pretende produzir responda eficientemente à inoculação do Rhizobium, isto pode significar eco- nomia na compra de fertilizantes nitrogenados. 46 49 das, principalmente: (i) nunca manuseá-las pe- los ramos e sim pelo tubete ou, ainda, na re- gião do colo; (ii) nunca fazer o remonte, ou seja, a sobreposição de mudas, quando colocá- Figura 14 - Detalhe do processo de expedição das mudas, evidenciando as caixas adequadas para a expedição (A), e os extensores (B) que podem ser adaptados, dependendo das distintas alturas das mudas. A B las nas caixas; (iii) caixas plásticas têm capa- cidade de 180 mudas por caixa, o que otimiza o transporte. 50 51 8.1. DEFEITOS DAS MUDAS Quando as mudas apresentam alguma deforma- ção, devem ser descartadas pois, com certeza, apre- sentarão problemas após o plantio. Vários podem ser os problemas apresentados pelas plântulas, sendo relacionados abaixo alguns exemplos: - Haste dupla ou torta – neste caso houve perda da dominância apical da muda ou crescimento ina- dequado do caule; - Acúmulo de raízes no fundo do tubete – isto de- corre do sombreamento ou do tempo excessivos no viveiro. 8.2. QUALIDADE DAS MUDAS Os cuidados com a qualidade da muda iniciam-se já na obtenção das sementes. Para tanto todos os proce- dimentos indicados no volume Produção de Semen- tes de Essências Florestais Nativas, desta série (Scremin-Dias et al., 2006), um produto da Rede de Sementes do Pantanal, devem ser adotados para asse- gurar a qualidade genética da produção, para não ha- ver o comprometimento genético do povoamento. No processo de plantio, alguns cuidados são pri- mordiais para o sucesso no estabelecimento das 8. CUIDADOS NO PLANTIO DAS MUDAS mudas em campo. A muda ideal é aquela que possui a haste e a região do colo bem espessas, o que indi- ca presença de substâncias de reserva nos tecidos internos da planta, que facilitará o início de seu esta- belecimento em campo e formação de raízes rapida- mente. Grande parte das reservas para formar raízes novas vem de nutrientes contidos na haste. Ao expedir a muda para o plantio, ela não deve estar muito estressada. A qualidade da muda determina o potencial de sobrevivência e cresci- mento no campo. O processo de rustificação da muda já deve ter ocorrido; o corte na adubação e diminuição da água devem ter sido feitos de manei- ra gradual. O plantio deve ser feito de maneira cuidadosa para que haja sucesso no crescimento e estabelecimento das mudas, evitando o replantio, bem como a deman- da de tratos culturais extras. Ao expedir as mudas para o campo elas devem possuir algumas caracterís- ticas desejáveis, como as descritas abaixo: • A muda não pode apresentar sintomas de defici- ência nutricional, o que pode ser observado na coloração e tamanho das folhas; • Deve apresentar haste única, sendo toda ela pre- enchida por folhas, com área foliar ampla, e com 54 55 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho desenvolvido no viveiro não começa com a semeadura nos canteiros ou tubetes. Ele co- meça com a colheita das sementes e termina com o estabelecimento da muda no campo. As primeiras etapas – colheita, beneficiamento e armazenamento das sementes – já foram tratadas no primeiro manu- al desta série (Scremin-Dias et al., 2006). Todo o cuidado e atenção dispensados no trato das semen- tes devem continuar durante a produção das mudas no viveiro e sua expedição para o campo. O sucesso na produção das mudas no viveiro deve- se em grande parte ao cuidado que se tem na escolha e preparo do substrato, à melhor forma de irrigar e adubar as plântulas e à correta manutenção das mudas até o seu envio para o campo. Não menos importante é o cuidado no transporte das mudas e seu plantio. O viveirista que está começando sua atividade deve escolher, de início, poucas espécies para produzir, e que sejam pouco exigentes nos tratos culturais, além de apresentem maior potencial de comercialização (indicadas para arborização urbana, reflorestamento, produção madeireira, etc.). Isto assegura que sua pro- dução tenha saída, dinamizando o fluxo de produção do viveiro, evitando prejuízos ao produtor. Os conhecimentos básicos sobre produção das espécies são obtidos em literatura apropriada, que deve sempre ser consultada em caso de dúvida. É importante que, dentre as espécies escolhidas para produzir, sejam incluídas espécies pioneiras, secun- dárias e clímax (classes sucessionais – ver o volume um desta série). Com o tempo o viveirista pode ir aumentando o número de espécies e a quantidade produzida em cada uma das classes sucessionais. O importante é nunca perder de vista a produção, com qualidade, da sua muda. Neste manual procurou-se atender às necessida- des de produção desde o pequeno viveirista, que ain- da tem dúvidas em como preparar um bom substrato, até aquele que já faz uso de novas tecnologias. Além disso, a orientação quanto à utilização do gel para retenção de água no momento do plantio, é uma op- ção interessante a ser utilizada em nossa região, prin- cipalmente nos plantios para restauração ambiental, pois evita perda de mudas no campo. Esperamos que todos os leitores deste manual sintam-se motivados a levar adiante a idéia de mon- tar um viveiro florestal, fazendo dele uma atividade rentável e ambientalmente importante. 56 59 ANOTAÇÕES 60 ANOTAÇÕES iso é 7.4 T é Pt á E SEMENTES Ene fnma Meio Ambiente GOVERNO FEDERAL noResmus H e NTE
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