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aristoteles arte poetica, Notas de estudo de Administração Empresarial

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Tipologia: Notas de estudo

Antes de 2010

Compartilhado em 02/09/2008

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Baixe aristoteles arte poetica e outras Notas de estudo em PDF para Administração Empresarial, somente na Docsity! CAPÍTULO I Da poesia e da imitação segundo os meios, o objeto e o modo de imitação Nosso propósito é abordar a produção poética em si mesma e em seus diversos gêneros, dizer qual a função de cada um deles, e como se deve construir a fábula visando a conquista do belo poético; qual o número e natureza de suas (da fábula) diversas partes, e também abordar os demais assuntos relativos a esta produção. Seguindo a ordem natural, começaremos pelos pontos mais importantes. 2. A epopéia e a poesia trágica, assim como a comédia, a poesia ditirâmbica, a maior parte da aulética e da citarística, consideradas em geral, todas se enquadram nas artes de imitação. 3. Contudo há entre estes gêneros três diferenças: seus meios não são os mesmos, nem os objetos que imitam, nem a maneira de os imitar. 4. Assim como alguns fazem imitações em modelo de cores e atitudes —uns com arte, outros levados pela rotina, outros com a voz –, assim também, nas artes acima indicadas, a imitação é produzida por meio do ritmo, da linguagem e da harmonia, empregados separadamente ou em conjunto. 5. Apenas a aulética e a citarística utilizam a harmonia e o ritmo, mas também o fazem algumas artes análogas em seu modo de expressão; por exemplo, o uso da flauta de Pã. 6. A imitação pela dança, sem o concurso da harmonia, tem base no ritmo; com efeito, é por atitudes rítmicas que o dançarino exprime os caracteres, as paixões, as ações. 7. A epopéia serve-se da palavra simples e nua dos versos, quer mesclando metros diferentes, quer atendo-se a um só tipo, como tem feito até ao presente. 8. Carecemos de uma denominação comum para classificar em conjunto os mimos de Sófron (1) e de Xenarco, (2) Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (1 of 53) [3/9/2001 15:05:19] 9. as imitações em trímetros, em versos elegíacos ou noutras espécies vizinhas de metro. 10. Sem estabelecer relação entre gênero de composição e metro empregado, não é possível chamar os autores de elegíacos, ou de épicos; para lhes atribuir o nome de poetas, neste caso temos de considerar não o assunto tratado, mas indistintamente o metro de que se servem. 11. Não se chama de poeta alguém que expôs em verso um assunto de medicina ou de física! Entretanto nada de comum existe entre Homero e Empédocles,(3) salvo a presença do verso. Mais acertado é chamar poeta ao primeiro e, ao segundo, fisiólogo. 12. De igual modo, se acontece que um autor, empregando todos os metros, produz uma obra de imitação, como fez Querémon(4) no Centauro, rapsódia em que entram todos os metros, convém que se lhe atribua o nome de poeta. É assim que se devem estabelecer as definições nestas matérias. 13. Há gêneros que utilizam todos os meios de expressão acima indicados, isto é, ritmo, canto, metro; assim procedem os autores de ditirambos(5), de nomos(6), de tragédias, de comédias; a diferença entre eles consiste no emprego destes meios em conjunto ou em separado. 14. Tais são as diferenças entre as artes que se propõem a imitação. CAPÍTULO II Diferentes espécies de poesia segundo os objetos imitados Como a imitação se aplica aos atos das personagens e estas não podem ser senão boas ou ruins (pois os caracteres dispõem-se quase nestas duas categorias apenas, diferindo só pela prática do vício ou da virtude), daí resulta que as personagens são representadas melhores, piores ou iguais a todos nós. 2. Assim fazem os poetas: Polignoto(7) pintava tipos melhores; Páuson(8), piores; e Dionísio(9), iguais a Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (2 of 53) [3/9/2001 15:05:20] 3. A prova é-nos visivelmente fornecida pelos fatos: objetos reais que não conseguimos olhar sem custo, contemplamo-los com satisfação em suas representações mais exatas. Tal é, por exemplo, o caso dos mais repugnantes animais e dos cadáveres. 4. A causa é que a aquisição de um conhecimento arrebata não só o filósofo, mas todos os seres humanos, mesmo que não saboreiem tal satisfação durante muito tempo. 5. Os seres humanos sentem prazer em olhar para as imagens que reproduzem objetos. A contemplação delas os instrui, e os induz a discorrer sobre cada uma, ou a discernir nas imagens as pessoas deste ou daquele sujeito conhecido. 6. Se acontece alguém não ter visto ainda o original, não é a imitação que produz o prazer, mas a perfeita execução, ou o colorido, ou alguma outra causa do mesmo gênero. 7. Como nos é natural a tendência à imitação, bem como o gosto da harmonia e do ritmo (pois é evidente que os metros são parte do ritmo), nas primeiras idades os homens mais aptos por natureza para estes exercícios foram aos poucos criando a poesia, por meio de ensaios improvisados. 8. O gênero poético se dividiu em diferentes espécies, consoante o caráter moral de cada sujeito imitador. Os espíritos mais propensos à gravidade reproduziram as belas ações e seus realizadores; os espíritos de menor valor voltaram-se para as pessoas ordinárias a fim de as censurar, do mesmo modo que os primeiros compunham hinos de elogio em louvor de seus heróis. 9. Dos predecessores de Homero, não podemos citar nenhum poema do gênero cômico, se bem que deve ter havido muitos. 10. Possuímos, feito por Homero, o Margites(20) e obras análogas deste autor, nas quais o metro iâmbico [ U — ] é o utilizado para tratar esta espécie de assuntos. Por tal razão, até hoje a comédia é chamada de iambo, visto os autores servirem-se deste metro para se insultarem uns aos outros (icmbize iu). 11. Houve portanto, entre os antigos, poetas heróicos e poetas satíricos. Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (5 of 53) [3/9/2001 15:05:20] 12. Do mesmo modo que Homero foi sobretudo cantor de assuntos sérios (ele é único, não só porque atingiu o belo, mas também porque suas imitações pertencem ao gênero dramático), foi também ele o primeiro a traçar as linhas mestras da comédia, distribuindo sob forma dramática tanto a censura como o ridículo. Com efeito, o Margites apresenta analogias com o gênero cômico, assim como a Ilíada e a Odisséia são do gênero trágico. 13. Quando surgiram a tragédia e a comédia, os poetas, em função de seus temperamentos individuais, voltaram-se para uma ou para outra destas formas; uns passaram do iambo à comédia, outros da epopéia à representação das tragédias, porque estes dois gêneros ultrapassavam os anteriores em importância e consideração. 14. Verificar se a tragédia esgotou já todas as suas formas possíveis, quer a apreciemos em si mesma ou em relação ao espetáculo, já é outra questão. 15. Em seus primórdios ligada à improvisação, a tragédia (como, aliás, a comédia, aquela procedendo dos autores de ditirambos, esta dos cantos fálicos(21), cujo hábito ainda persiste em muitas cidades), a tragédia, dizíamos, evoluiu naturalmente, pelo desenvolvimento progressivo de tudo que nela se manifestava. 16. De transformação em transformação, o gênero acabou por ganhar uma forma natural e fixa. 17. Com referência ao número de atores: Ésquilo foi o primeiro que o elevou de um a dois, em detrimento do coro (22) , o qual, em conseqüência, perdeu uma parte da sua importância; e criou-se o protagonista. Sófocles introduziu um terceiro ator, dando origem à cenografia. 18. Tendo como ponto de partida as fábulas curtas, de elocução ainda grotesca, a tragédia evoluiu até suprimir de seu interior o drama satírico; mais tarde, revestiu-se de gravidade e substituiu o metro tetrâmetro (trocaico) pelo trimetro iâmbico. 19. Até então, empregava-se o tetrâmetro trocaico como o modelo mais adequado ao drama satírico e às danças que o acompanhavam; quando se organizou o diálogo, este encontrou naturalmente seu metro próprio, já que, de todas as medidas, a do iambo é a que melhor convém ao diálogo. 20. Prova isto o fato de ser este metro freqüente na linguagem usual dos diálogos, ao passo que o emprego do hexâmetro é raro e ultrapassa o tom habitual do diálogo. Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (6 of 53) [3/9/2001 15:05:20] 21. Acrescentaram-se depois episódios e outros pormenores, dos quais se diz terem sido embelezamentos. 22. Mas sobre estas questões, basta o que já foi dito, pois seria enfadonho insistir em cada ponto. CAPÍTULO V Da comédia. Comparação entre a tragédia e a epopéia A comédia é, como já dissemos, imitação de maus costumes, mas não de todos os vícios; ela só imita aquela parte do ignominioso que é o ridículo. 2. O ridículo reside num defeito ou numa tara que não apresenta caráter doloroso ou corruptor. Tal é, por exemplo, o caso da máscara cômica feia e disforme, que não é causa de sofrimento. 3. Não ignoramos nenhuma das transformações da tragédia, nem os autores destas mudanças. Sobre a comédia, que em seus inícios foi menos estimada, nada sabemos. Bem tardiamente o arconte lhe atribuiu um coro, até então composto por voluntários. 4. Só mesmo quando a comédia assumiu certas formas, os poetas que se dizem seus autores começaram a ser citados. Ignora-se quem teve a idéia das máscaras, dos prólogos, do maior número dos atores e de outros pormenores análogos. 5. Os autores das primeiras intrigas cômicas foram Epicarmo (23) e Fórmis (24). Assim, a comédia se originou na Sicília. 6. Em Atenas, foi Crates (25) o primeiro que, renunciando às invectivas em forma iâmbica, começou a compor fábulas sobre assuntos gerais. Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (7 of 53) [3/9/2001 15:05:20] caracteres permitem qualificar o homem, mas é da ação que depende sua infelicidade ou felicidade. 13. A ação, pois, não de destina a imitar os caracteres, mas, pelos atos, os caracteres são representados. Daí resulta serem os atos e a fábula a finalidade da tragédia; ora, a finalidade é, em tudo, o que mais importa. 14. Sem ação não há tragédia, mas poderá haver tragédia sem os caracteres. 15. Com efeito, na maior parte dos autores atuais faltam os caracteres e de um modo geral são muitos os poetas que estão neste caso. O mesmo sucede com os pintores, se, por exemplo, compararmos Zêuxis(27) com Polignoto; Polignoto é mestre na pintura dos caracteres; ao contrário, a pintura de Zêuxis não se interessa pelo lado moral. 16. Se um autor alinhar uma série de reflexões morais, mesmo com sumo cuidado na orientação do estilo e do pensamento, nem por isso realizará a obra que é própria da tragédia. Muito melhor seria a tragédia que, embora pobre naqueles aspectos, contivesse no entanto uma fábula e um conjunto de fatos bem ligados. 17. Além disso, na tragédia, o que mais influi nos ânimos são os elementos da fábula, que consistem nas peripécias e nos reconhecimentos. 18. Outra ilustração do que afirmamos é ainda o fato de todos os autores que empreendem esta espécie de composição, obterem facilmente melhores resultados no domínio do estilo e dos caracteres do que na ordenação das ações. Esta era a grande dificuldade para todos os poetas antigos. 19. O elemento básico da tragédia é sua própria alma: a fábula; e só depois vem a pintura dos caracteres. 20. Algo de semelhante se verifica na pintura: se o artista espalha as cores ao acaso, por mais sedutoras que sejam, elas não provocam prazer igual àquele que advém de uma imagem com os contornos bem definidos. 21. A tragédia consiste, pois, na imitação de uma ação e é sobretudo por meio da ação que ela imita as personagens em movimento. Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (10 of 53) [3/9/2001 15:05:20] 22. Em terceiro lugar vem o pensamento, isto é, a arte de encontrar o modo de exprimir o conteúdo do assunto de maneira conveniente; na eloqüência, é essa a missão da retórica, e a tarefa dos políticos. 23. Mas os antigos poetas apresentavam-nos personagens que se exprimiam como cidadãos de um Estado, ao passo que os de agora os fazem falar como retores. 24. O caráter é o que permite decidir após a reflexão: eis o motivo por que o caráter não aparece em absoluto nos discursos dos personagens, enquanto estes não revelam a decisão adotada ou rejeitada. 25. Com relação ao pensamento, consiste em provar que uma coisa existe ou não existe ou em fazer uma declaração de ordem geral. 26. Temos, em quarto lugar, a elocução. Como dissemos acima, a elocução consiste na escolha dos termos, os quais possuem o mesmo poder de expressão, tanto em prosa como em verso. 27. A quinta parte compreende o canto: é o principal condimento (do espetáculo). 28. Sem dúvida a encenação tem efeito sobre os ânimos, mas ela em si não pertence à arte da representação, e nada tem a ver com a poesia. A tragédia existe por si, independentemente da representação e dos atores. Com relação ao valor atribuído à encenação vista em separado, a arte do cenógrafo tem mais importância que a do poeta. CAPÍTULO VII Da extensão da ação Após estas definições, diremos agora qual deve ser a tessitura dos fatos, já que este ponto é a parte primeira e capital da tragédia. 2. Assentamos ser a tragédia a imitação de uma ação completa formando um todo que possui certa extensão, pois um todo pode existir sem ser dotado de extensão. Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (11 of 53) [3/9/2001 15:05:20] 3. Todo é o que tem princípio, meio e fim. 4. O princípio não vem depois de coisa alguma necessariamente; é aquilo após o qual é natural haver ou produzir-se outra coisa; 5. O fim é o contrário: produz-se depois de outra coisa, quer necessariamente, quer segundo o curso ordinário, mas depois dele nada mais ocorre. 6. O meio é o que vem depois de uma coisa e é seguido de outra. 7. Portanto, para que as fábulas sejam bem compostas, é preciso que não comecem nem acabem ao acaso, mas que sejam estabelecidas segundo as condições indicadas. 8. Além disso, o belo, em um ser vivente ou num objeto composto de partes, deve não só apresentar ordem em suas partes como também comportar certas dimensões. Com efeito, o belo tem por condições uma certa grandeza e a ordem. 9. Por este motivo, um ser vivente não pode ser belo, se for excessivamente pequeno (pois a visão é confusa, quando dura apenas um momento quase imperceptível), nem se for desmedidamente grande (neste caso o olhar não abrange a totalidade, a unidade e o conjunto escapam à vista do espectador, como seria o caso de um animal que tivesse de comprimento dez mil estádios). 10. Daí se infere que o corpo humano, como o dos animais, para ser julgado belo, deve apresentar certa grandeza que torne possível abarcá-lo com o olhar; do mesmo modo as fábulas devem apresentar uma extensão tal que a memória possa também facilmente retê-las. 11. A dimensão desta extensão é fixada pela duração das representações nos concursos e pelo grau de atenção de que o espectador é suscetível. Ora, este ponto não depende da arte. Se houvesse que levar à cena cem tragédias, o tempo da representação teria de ser medido pela clepsidra, como antigamente se fazia e ainda é feito em outros lugares, segundo se diz. 12. O limite, com relação à própria natureza do assunto, é o seguinte: quanto mais abrangente for uma Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (12 of 53) [3/9/2001 15:05:20] 9. De acordo com isto, é manifesto que a missão do poeta consiste mais em fabricar fábulas do que fazer versos, visto que ele é poeta pela imitação, e porque imita as ações. 10. Embora lhe aconteça apresentar fatos passados, nem por isso deixa de ser poeta, porque os fatos passados podem ter sido forjados pelo poeta, aparecendo como verossímeis ou possíveis. 11. Entre as fábulas e as ações simples, as episódicas não são as melhores; entendo por fábula episódica aquela em que a conexão dos episódios não é conforme nem à verossimilhança nem à necessidade. 12. Tais composições são devidas a maus poetas, por imperícia, e a bons poetas, por darem ouvido aos atores. Como destinam suas peças a concursos, estendem a fábula para além do que ela pode dar, e muitas vezes procedem assim em detrimento da seqüência dos fatos. 13. Como se trata, não só de imitar uma ação em seu conjunto, mas também de imitar fatos capazes de suscitar o terror e a compaixão, e estas emoções nascem principalmente,... (e mais ainda) quando os fatos se encadeiam contra nossa experiência, 14. pois desse modo provocam maior admiração do que sendo devidos ao acaso e à fortuna (com efeito, as circunstâncias provenientes da fortuna nos parecem tanto mais maravilhosas quanto mais nos dão a sensação de terem acontecido de propósito, como, por exemplo, a estátua de Mítis, em Argos, que em sua queda esmagou um espectador, que outro não era senão o culpado pela morte de Mítis), 15. daí resulta necessariamente tais fábulas serem mais belas. CAPÍTULO X Das fábulas, umas são simples, outras complexas, por serem assim as ações que as fábulas imitam. 2. Chamo ação simples aquela cujo desenvolvimento, conforme definimos, permanece uno e contínuo e Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (15 of 53) [3/9/2001 15:05:20] na qual a mudança não resulta nem de peripécia, nem de reconhecimento; 3. E ação complexa aquela onde a mudança de fortuna resulta de reconhecimento ou de peripécia ou de ambos os meios. 4. Estes meios devem estar ligados à própria tessitura da fábula, de maneira que pareçam resultar, necessariamente ou por verossimilhança, dos fatos anteriores, pois é grande a diferença entre os acontecimentos sobrevindos por causa de outros e os que simplesmente aparecem depois de outros. CAPÍTULO XI Elementos da ação complexa: peripécias, reconhecimentos, acontecimento patético ou catástrofe A peripécia é a mudança da ação no sentido contrário ao que parecia indicado e sempre, como dissemos, em conformidade com o verossímil e o necessário. 2. Assim, no Édipo(33), o mensageiro que chega julga que vai dar gosto a Édipo e libertá-lo de sua inquietação relativamente a sua mãe, mas produz efeito contrário quando se dá a conhecer. 3. Do mesmo modo, no Linceu(34), trazem Linceu a fim de ser levado à morte e Dânao acompanha-o para matá-lo; mas a seqüência dos acontecimentos tem como resultado a morte do segundo e a salvação do primeiro. 4. O reconhecimento, como o nome indica, faz passar da ignorância ao conhecimento, mudando o ódio em amizade ou inversamente nas pessoas votadas à infelicidade ou ao infortúnio. 5. O mais belo dos reconhecimentos é o que sobrevém no decurso de uma peripécia, Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (16 of 53) [3/9/2001 15:05:20] 6. como acontece no Édipo. Há outras espécies de reconhecimento. O que acabamos de dizer ocorre também com objetos inanimados, sejam quais forem; é matéria de reconhecimento ficar sabendo que uma pessoa fez ou não fez determinada coisa. 7. Mas o reconhecimento que melhor corresponde à fábula é o que decorre da ação, conforme dissemos. Com efeito, a união de um reconhecimento e de uma peripécia excitará compaixão ou terror; ora, precisamente nos capazes de os excitarem consiste a imitação que é objeto da tragédia. Além do que, infortúnio e felicidade resultam dos atos. 8. Quando o reconhecimento se refere a pessoas, às vezes produz-se apenas numa pessoa a respeito de outra(35), quando uma das duas fica sabendo quem é a outra; em outros casos, o reconhecimento deve ser duplo: assim, Ifigênia foi reconhecida por Orestes(36), graças ao envio da carta, mas, para que Orestes o fosse por Ifigênia, foi preciso um segundo reconhecimento. 9. A este respeito, duas partes constituem a fábula: peripécia e reconhecimento; a terceira é o acontecimento patético (catástrofe). Tratamos da peripécia e do reconhecimento; 10. o patético é devido a uma ação que provoca a morte ou sofrimento, como a das mortes em cena, das dores agudas, dos ferimentos e outros casos análogos. CAPÍTULO XII Divisões da tragédia Tratamos anteriormente dos elementos da tragédia, e de quais se devem usar como suas formas essenciais. Quanto às partes distintas em que se divide, são elas: prólogo, epílogo, êxodo, canto coral; 2. compreendendo este último o párodo e o estásimo; Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (17 of 53) [3/9/2001 15:05:20] que na maioria das vezes terminam em desenlace infeliz. Como já dissemos, tal concepção é justa. 10. A melhor prova disto é a seguinte: em cena e nos concursos, as peças deste gênero são as mais trágicas, quando bem conduzidas; e Eurípides, embora falhe de vez em quando contra a economia da tragédia, nem por isso deixa de nos parecer o mais trágico dos poetas. 11. O segundo modo de composição, que alguns elevam à categoria de primeiro, consiste numa dupla intriga, como na Odisséia, onde os desenlaces são opostos: há um para os bons, outro para os maus. 12. Esta última categoria é devida à pobreza de espírito dos espectadores, pois os poetas limitam-se a seguir o gosto do público, propiciando o que ele prefere. 13. Não é este o prazer que se espera da tragédia; ele é mais próprio da comédia, pois nesta as pessoas que são inimigas demais na fábula, como Orestes e Egisto(42), separam-se como amigos no desenlace, e nenhum recebe do outro o golpe mortal. CAPÍTULO XIV Dos diversos modos de produzir o terror e a compaixão O terror e a compaixão podem nascer do espetáculo cênico, mas podem igualmente derivar do arranjo dos fatos, o que é preferível e mostra maior habilidade no poeta. 2. Independentemente do espetáculo oferecido aos olhos, a fábula deve ser composta de tal maneira que o público, ao ouvir os fatos que vão passando, sinta arrepios ou compaixão, como sente quem ouve a fábula do Édipo. 3. Mas, para obter este resultado pela encenação, não se requer tanta arte e exige-se uma coregia dispendiosa. Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (20 of 53) [3/9/2001 15:05:20] 4. Os autores que provocam, pelo espetáculo, não o terror, mas só a emoção perante o monstruoso, nada têm em comum com a natureza da tragédia; pois pela tragédia não se deve produzir um prazer qualquer, mas apenas o que é próprio dela. 5. Como o poeta deve nos proporcionar o prazer de sentir compaixão ou temor por meio de uma imitação, é evidente que estas emoções devem ser suscitadas nos ânimos pelos fatos. 6. Examinemos, pois, entre os fatos, aqueles que aparentam a nós serem capazes de assustar ou de inspirar dó. Necessariamente ações desta espécie devem produzir-se entre amigos ou inimigos, ou indiferentes. 7. Se um inimigo mata outro, quer execute o ato ou o prepare, não há aí nada que mereça compaixão, salvo o fato considerado em si mesmo; 8. o mesmo se diga de pessoas entre si estranhas. 9. Mas, quando os acontecimentos se produzem entre pessoas unidas por afeição, por exemplo, quando um irmão mata o irmão, ou um filho o pai, ou a mãe o filho, ou um filho a mãe, ou está prestes a cometer esse crime ou outro idêntico, casos como estes são os que devem ser discutidos. 10. Nas fábulas consagradas pela tradição, não é permitido introduzir alterações. Digo, por exemplo, que Clitemnestra(43) deverá ser assassinada por Orestes, e Erífila por Alcméon,(44) 11. mas o poeta deve ter inventiva e utilizar, da melhor maneira possível, estes dados transmitidos pela tradição. Vamos explicar mais claramente o que entendemos pelas palavras "da melhor maneira possível". 12. Há casos em que a ação decorre, como nos poetas antigos, com personagens que sabem o que estão fazendo, como a Medéia de Eurípedes, quando mata os próprios filhos; 13. Em outros casos, a personagem executa o ato sem saber que comete um crime, mas só mais tarde toma conhecimento do seu laço de parentesco com a vítima, como, por exemplo, o Édipo de Sófocles. O ato produz-se, ou fora do drama representado, ou no decurso da própria tragédia, como sucede com a Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (21 of 53) [3/9/2001 15:05:20] ação de Alcméon, na tragédia de mesmo nome escrita por Astidamante, ou com a ação de Telégono no Ulisses ferido(45), 14. Existe um terceiro caso: o que se prepara para cometer um ato irreparável, mas age por ignorância, e reconhece o erro antes de agir. Além destes, não há outros casos possíveis; 15. forçosamente, o crime comete-se ou não se comete, com conhecimento de causa, ou por ignorância. 16. De todos estes casos, o pior é o do que sabe, prepara-se para executar o crime porém não o faz; é repugnante, mas não trágico, porque o sofrimento está ausente; por isto ninguém trata semelhante caso, a não ser muito raramente – como acontece,. por exemplo, na Antigona, no caso de Hémon com relação a Creonte(46). 17. O segundo caso é o do ato executado. 18. É preferível que a personagem atue em estado de ignorância e que seja elucidada só depois de praticado o ato; este perde o caráter repugnante e o reconhecimento produz um efeito de surpresa. 19. O último caso é o melhor, como o de Mérope em Cresfonte:(47) ela está para matar o próprio filho, mas não o mata porque o reconhece; e também na Ifigênia, em que a irmã dispõe-se a matar o próprio irmão; e na Hele.(48) CAPÍTULO XV Dos caracteres: devem ser bons, conformes, semelhantes, coerentes consigo mesmos No que diz respeito aos caracteres, quatro são os pontos que devemos visar. Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (22 of 53) [3/9/2001 15:05:20] 5. Os reconhecimentos, operados pela confiança que o sinal deve gerar, bem como todos os do mesmo tipo, não denotam grande habilidade; são preferíveis os que provêm de uma peripécia, como no Canto do Banho. 6. A segunda espécie é a devida à inventiva do poeta, e por tal motivo não é artística; assim, Orestes, na Ifigênia, faz-se reconhecer declarando ser Orestes, e Ifigênia, graças à carta; mas Orestes declara aquilo que o poeta, e não a fábula, quer que ele declare. 7. Este meio é vizinho daquele que declarei defeituoso, pois Orestes podia ter apresentado alguns sinais sobre si. O mesmo se diga da voz da lançadeira no Tereu de Sófocles. 8. A terceira espécie consiste na lembrança; por exemplo, a vista de um objeto evoca uma sensação anterior, como nos Ciprios de Diceógenes, onde a vista de um quadro arranca lágrimas a uma personagem; do mesmo modo, na narrativa feita a Alcino, Ulisses, ao ouvir o citarista, recorda-se e chora. Foi assim que os reconheceram. 9. Em quarto lugar, há o reconhecimento proveniente de um silogismo, como nas Coéforas(52): apresentou-se um desconhecido que se parece comigo, ora, ninguém se parece comigo senão Orestes, logo, quem veio foi Orestes. Idêntico é o reconhecimento inventado pelo sofista Políido (53), a propósito de Ifigênia, por ser verossímil que Orestes, sabendo que sua irmã tinha sido sacrificada, pensasse que também ele o seria. Outro exemplo é o de Tideu de Teodectes (54), o qual, tendo vindo com a esperança de salvar o filho, ele próprio foi morto. Outro exemplo, finalmente, aparece nas Fineidas(55), onde as mulheres ao verem o lugar em que chegaram, raciocinaram sobre a sorte que as aguardava: aquele fora o lugar pelo destino designado para morrerem, pois ali foram expostas. 10. O reconhecimento pode igualmente basear-se num paralogismo por parte dos espectadores, como se vê na peça Ulisses, falso mensageiro; a personagem acha-se capaz de reconhecer o arco, que na realidade não vira; a afirmação de que poderá reconhecer o arco é a base do paralogismo dos espectadores. 11. De todos estes meios de reconhecimento, o melhor é o que deriva dos próprios acontecimentos, pois o efeito de surpresa é então causado de maneira racional, por exemplo, no Édipo de Sófocles e na Ifigênia; pois é verossímil que Ifigênia quisesse entregar uma carta. Estas espécies de reconhecimento são as únicas que dispensam sinais imaginados e colares. 12. Em segundo lugar vêm todos os que estribam num raciocínio. Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (25 of 53) [3/9/2001 15:05:20] CAPÍTULO XVII Conselhos aos poetas sobre a composição das tragédias Quando o poeta organiza as fábulas e completa sua obra compondo a elocução das personagens, deve, na medida do possível, proceder como se ela decorresse diante de seus olhos, pois, vendo as coisas plenamente iluminadas, como se estivesse presente, encontrará o que convém, e não lhe escapará nenhum pormenor contrário ao efeito que pretende produzir. 2. A prova está nesta crítica feita a Cárnico (56): Anfiarau(57) saía do templo; escapou este pormenor ao poeta, porque não olhava a cena como espectador, mas foi o bastante para a peça cair no desagrado, pois os espectadores se indignaram. 3. Na medida do possível, é importante igualmente completar o efeito do que se diz pelas atitudes das personagens. Em virtude da nossa natureza comum, são mais ouvidos os poetas que vivem as mesmas paixões de suas personagens; o que está mais violentamente agitado provoca nos outros a excitação, da mesma forma que suscita a ira aquele que melhor a sabe sentir. 4. Por isso a poesia exige ânimos bem dotados ou capazes de se entusiasmarem: os primeiros têm facilidade em moldar seus caracteres, não sentem dificuldade em se deixarem arrebatar. 5. Quanto aos assuntos, quer tenham sido já tratados por outros, quer o poeta os invente, convém que ele primeiro faça dos mesmos uma idéia global, e que em seguida distinga os episódios e os desenvolva. 6. Eis o que entendo por "fazer uma idéia global": por exemplo, a propósito de Ifigênia. Uma donzela, prestes a ser degolada durante um sacrifício, foi tirada dos sacrificadores, sem estes darem pelo fato; e transportada a outra região onde uma lei ordenava que os estrangeiros fossem imolados à deusa; e a donzela foi investida nesta função sacerdotal. Passado algum tempo, o irmão da sacerdotisa chega àquela região, e isto ocorre porque o oráculo do deus lhe prescrevera que se dirigisse àquele lugar, por motivo Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (26 of 53) [3/9/2001 15:05:20] alheio à história e ao entrecho dramático da mesma. Chegando lá, ele é feito prisioneiro; mas quando ia ser sacrificado, deu-se a conhecer (quer como explica Eurípides, quer segundo a concepção de Políido, declarando naturalmente que não somente ele, mas também sua irmã devia ser oferecida em sacrifício) e com estas palavras se salvou. 7. Após isto, e uma vez atribuídos nomes às personagens, 8. Importa tratar os episódios, tendo o cuidado de bem os entrosar no assunto, como, no caso de Orestes, a crise de loucura, que provocou sua prisão, e o plano de purificá-lo, que causou sua salvação. 9. Nos poemas dramáticos os episódios são breves, mas baseando-se neles, a epopéia assume proporções maiores. 10. De fato, o assunto da Odisséia é de curtas dimensões. Um homem afastado de sua pátria pelo espaço de longos anos e vigiado de perto por Poseidon acaba por se encontrar sozinho; sucede, além disso, que em sua casa os bens vão sendo consumidos por pretendentes que ainda por cima armam ciladas ao filho deste herói; depois de acossado por muitas tempestades, ele regressa ao lar, dá-se a conhecer a algumas pessoas, ataca e mata os adversários e assim consegue salvar-se. Eis o essencial do assunto. Tudo o mais são episódios. CAPÍTULO XVIII Nó, desenlace; tragédia e epopéia; o Coro Em todas as tragédias há o nó e o desenlace. O nó consiste muitas vezes em fatos alheios ao assunto e em alguns que lhe são inerentes; o que vem a seguir é o desenlace. 2. Dou o nome de nó à parte da tragédia que vai desde o início até o ponto a partir do qual se produz a mudança para uma sorte ditosa ou desditosa; e chamo desenlace a parte que vai desde o princípio desta mudança até o final da peça. Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (27 of 53) [3/9/2001 15:05:20] 4. Disso fazem parte a demonstração, a refutação, e também a maneira de mover as paixões, tais como a compaixão e o temor, a cólera e as outras. 5. É evidente que devemos empregar estas mesmas formas, a propósito dos fatos, sempre que for necessário apresentá-los comoventes, temíveis, importantes ou verossímeis. 6. A diferença consiste no fato de certos efeitos deverem ser produzidos sem o recurso do aparato cênico, e outros deverem ser preparados por quem fala e produzidos conforme suas palavras. Pois qual seria a parte daqueles que têm à sua disposição a linguagem, se o prazer fosse experimentado sem a intervenção do discurso? 7. Entre as questões relativas à execução, uma há que se prende ao nosso exame: as atitudes a tomar no decurso da dicção; mas tal conhecimento depende da arte do comediante e dos que são mestres nessa arte. Trata-se de saber como se exprime uma ordem, uma súplica, uma narrativa, uma ameaça, uma interrogação, uma resposta, e outros casos deste gênero. 8. Com base no fato de o poeta conhecer ou ignorar estas questões, não se lhe pode fazer nenhuma crítica digna de consideração. Quem consideraria como falta o que Protágoras censura, a saber, que o poeta, pensando endereçar uma súplica, na realidade dá uma ordem, quando exclama: "Canta, deusa, a cólera". Segundo inquire aquele crítico — exortar a fazer ou a não fazer, é dar uma ordem? 9. Coloquemos de lado esta questão, pois ela respeito não à poesia, mas a outra arte. Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (30 of 53) [3/9/2001 15:05:20] CAPÍTULO XX Da elocução e de suas partes Eis os elementos essenciais da elocução: letra, sílaba, conjunção, nome, verbo, artigo, flexão, expressão. 2. A letra é um som indivisível, embora não completo, mas de seu emprego numa combinação resulta naturalmente um som compreensível, pois os animais também fazem ouvir sons indivisíveis, mas a esses não dou o nome de letras. 3. As letras dividem-se em vogais, semivogais e mudas. É vogal a letra que produz um som perceptível, sem movimento da boca (para articular), como o "A" e "O "; a semivogal produz um som perceptível com a ajuda desses movimentos, o "S" e o "R"; a muda, que se produz com esses movimentos, não tem som por si mesma, mas torna-se audível juntando-se às letras sonoras; por exemplo, o "G" e o "D". 4. As diferenças entre estas letras provêm das modificações dos órgãos da boca, dos lugares onde se produzem, da presença ou ausência de aspiração, de sua duração maior ou menor, de seus acentos agudos, graves, intermediários; mas o estudo destas particularidades é do domínio da métrica. 5. A sílaba é um som sem significação, composto de uma muda e de uma letra provida de som, pois o grupo "GR" sem o "A" é uma sílaba, e também ajuntando-se o "A", como "GRA"; mas o estudo dessas diferenças compete igualmente aos metricistas. 6. A conjunção é uma palavra destituída de significado, que, sendo composta de vários sons, não tira nem confere a um termo seu poder significativo, e que se coloca nas extremidades ou no meio, se não convém lhe assinalar um lugar independente no começo de uma composição, por exemplo, meu, htoi,dh. 7. O artigo é um termo sem significação que designa o começo, o fim ou a divisão de uma preposição, por exemplo, to amji (em volta) e to peri (os arredores) e outros casos análogos, ou pode ser uma palavra vazia de sentido que não impede que se produza, com a ajuda de vários sons, uma expressão dotada de sentido, mas ele em si não produz esta expressão com sentido, e se coloca nas extremidades e no meio. 8. O nome é um som composto, significativo, sem indicação de tempo, e nenhuma de suas partes faz sentido por si mesma, pois, nos nomes formados de dois elementos, não empregamos cada elemento com Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (31 of 53) [3/9/2001 15:05:20] um sentido próprio; por exemplo, em Teodoro, o elemento doro não apresenta significado. 9. O verbo é um som composto, significativo, que indica o tempo, e do qual nenhum elemento é significativo por si, tal como igualmente sucede nos nomes; com efeito, os termos "homem" e "branco" não dizem nada sobre o tempo, mas as formas "anda", "andou" indicam, a primeira, o tempo presente, a segunda, o tempo passado. 10. A flexão é uma modificação do nome e do verbo, que indica uma relação, como "deste" ou "a este", e outras relações análogas, o singular ou o plural, como "os homens", "o homem"; o estado de ânimo de uma personagem que interroga ou que manda: "Andou?" "Vá!"; estas últimas formas são flexões do verbo. 11. A locução (ou expressão) é um conjunto de sons significativos, algumas partes dos quais têm significação por si mesma, 12. pois nem todas as locuções são constituídas por verbos e nomes, por exemplo, na definição do homem, a locução pode existir sem verbo expresso. Deve ter, no entanto, sempre uma parte significativa; por exemplo, na proposição "Cleon anda", esta parte é o nome "Cleon". 13. A locução aparece una de duas maneiras: quando designa uma só coisa, ou quando oferece várias partes ligadas entre si. Assim, a Ilíada apresenta unidade por efeito da reunião de suas partes, e o termo "homem", porque designa apenas um ser.(62) CAPÍTULO XXI Das formas dos nomes; das figuras Eis as espécies de nomes: primeiramente o nome simples. Chamo simples o nome que não é composto de elementos significativos, por exemplo "terra"; 2. nome duplo, é o composto ora de um elemento significativo e de outro vazio de sentido, ora de elementos todos significativos. Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (32 of 53) [3/9/2001 15:05:20] 23. São femininos os que terminam em vogal sempre longa, como H e W ou em A alongado; 24. daí resulta o mesmo número de finais para os masculinos e os femininos, pois Y e X são as mesmas que S. 25. Nenhum nome termina em muda ou em vogal breve. 26. Em I terminam apenas três nomes: meli (mel), commi (goma), peperi (pimenta); em G terminam cinco: pvu (rebanho), napu (mostarda), gonu (joelho), doru (lança), aotu (cidade). Os neutros terminam por estas mesmas letras e por N e S. CAPÍTULO XXII Das qualidades da elocução A qualidade principal da elocução poética consiste na clareza, mas sem trivialidades. 2. Obtém-se a clareza máxima pelo emprego das palavras da linguagem corrente, mas à custa da elevação. Exemplo deste último estilo é a poesia de Cleofonte e de Esténelo. 3. A elocução mantém-se nobre e evita a vulgaridade, usando vocábulos peregrinos (chamo peregrinos os termos dialetais), a metáfora, os alongamentos, em suma tudo o que se afasta da linguagem corrente. 4. Se, porém, o estilo comportar apenas palavras deste gênero, torna-se enigmático ou bárbaro; enigmático, pelo abuso de metáforas; bárbaro, pelo uso de termos dialetais. 5. Uma forma de enigma consiste em exprimir uma coisa qualquer numa seqüência de termos absurdos. Isso não é possível de atingir reunindo os vocábulos por eles mesmos, mas só através da metáfora, por exemplo: "vi um homem que, com fogo, colava bronze noutro homem" e outras expressões semelhantes. Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (35 of 53) [3/9/2001 15:05:20] 6. O uso de termos dialetais faz da língua algo estranho, porém ainda inteligível. Importa, pois, praticar de algum modo a mistura de termos. A vulgaridade e a trivialidade serão evitadas por meio do termo dialetal, da metáfora, do vocábulo ornamental e das demais formas anteriormente indicadas; mas o termo próprio é o que dá clareza ao discurso. 8. O meio de contribuir em larga escala para a clareza, evitando a vulgaridade, são os alongamentos, as apócopes e as modificações introduzidas nas palavras; pelo fato de mudar a fisionomia dos termos correntes e de sair da rotina, evita-se a banalidade, mas a clareza subsistirá na medida em que as palavras participarem dessa rotina. 9. Por isso, os que censuram este gênero de estilo e põem o poeta em ridículo, são criticados sem razão. Assim, Euclides, o Antigo, pretendia ser fácil escrever em verso, desde que fosse permitido alongar as sílabas à vontade, e à maneira de paródia citava este verso em estilo vulgar: Quando vi Ares marchando para Maratona [ bazein é um termo da linguagem em prosa, no qual ba (breve) alonga-se em ba (longa) ] e este outro: Ele que não teria gostado do seu heléboro 10. Claro que, se o poeta utiliza este processo, cai no ridículo, pois é necessário conservar o meio termo em todas as partes da elocução. 11. De fato, servir-se com exagero de metáforas, de termos dialetais, de formas análogas, é o mesmo que provocar o riso de propósito. 12. Quão diferente é o emprego moderado dos dois termos, pode se verificar nos versos épicos, introduzindo no metro vocábulos da prosa. 13. Se, em vez destes vocábulos estranhos, das metáforas e de outras figuras de palavras, usarmos palavras correntes, ver-se-á que dizemos a verdade. Por exemplo, num verso iâmbico composto por Ésquilo, Eurípides não fez mais do que mudar uma só palavra (ou seja, no lugar do termo usual, empregou uma glosa); foi o bastante para que um dos dois versos parecesse belo, e o outro vulgar. Com efeito, Ésquilo no Filocteto escrevera: A úlcera que come as carnes de seu pé, e Eurípedes substituiu o verbo "come" pelo verbo "banqueteia-se". Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (36 of 53) [3/9/2001 15:05:20] Se no verso: Agora ele é pouco considerável, impotente e sem vigor, alguém quisesse empregar os termos próprios, teríamos: E agora ele é pequeno, fraco e disforme. Ou: Depois de ter trazido um miserável assento e uma simples mesa, seria possível escrever: Depois de ter trazido uma cadeira reles e uma pequena mesa; e, em lugar da expressão: "a praia muge", teríamos "a praia emite um grito". Arífrades(63), em suas comédias, zombava dos autores de tragédias, por utilizarem termos que ninguém emprega na conversação, dizendo, por exemplo, "das casas longe", em lugar de "longe das casas", e seqen e egv de nin e "de Aquiles a respeito" em vez de "a respeito de Aquiles", e expressões idênticas. 15. Estas maneiras de se exprimir, justamente por não serem habituais, comunicam à elocução aspecto isento de vulgaridade. Mas Arífrades não dava por isso. 16. É importante saber empregar a propósito cada uma das expressões por nós assinaladas, nomes duplos e glosas; maior todavia é a importância do estilo metafórico. 17. Isto só, e qual não é possível tomar de outrem, constitui a característica dum rico engenho, pois descobrir metáforas apropriadas equivale a ser capaz de perceber as relações. 18. Entre os nomes, os duplos convêm sobretudo aos ditirambos, as glosas, a poesia heróica, as metáforas, os versos iâmbicos. 19. Na poesia heróica devem empregar-se todas as expressões indicadas; nos versos iâmbicos, como neles principalmente se procura a imitação da linguagem corrente, convêm os nomes de que nos servimos geralmente na conversação, isto é, o nome usual, a metáfora e o vocábulo ornamental. 20. Deve bastar quanto dissemos sobre a tragédia e imitação por meio da arte dramática. Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (37 of 53) [3/9/2001 15:05:20] 7. Daí resultam várias vantagens, como engrandecer a obra, permitir aos ouvintes transportarem-se a diversos lugares, introduzir variedade por meio de episódios diversos; pois a uniformidade não tarda em gerar a saciedade, causa do fracasso das tragédias. 8. A experiência provou que a medida mais conveniente à epopéia é o metro heróico. Com efeito, se, para fazer uma imitação em forma narrativa, se empregasse metro diferente, ou variado, saltaria aos olhos a inconveniência, 9. Visto ser o metro heróico , de todos o que possui maior gravidade e amplidão, sendo por isso o mais apto a acolher glosas e metáforas, e também neste particular a imitação pela narrativa é superior às outras. 10. O iambo e o tetrâmetro são metros de movimento, feitos um para a dança e o outro para a ação. 11. O resultado seria de todo extravagante, se se combinassem estes metros, como fez Querémon. 12. Por este motivo, jamais alguém escreveu um poema extenso que não fosse em verso heróico; e como dissemos, a própria natureza do assunto nos ensina a escolher o metro conveniente. CAPÍTULO XXV Como se deve apresentar o que é falso Sem dúvida, Homero é por muitas razões digno de elogio; e a principal delas é o fato dele ser, entre os poetas, o único que faz as coisas como elas devem ser feitas. 2. O poeta deve dialogar com o leitor o menos possível, pois não é procedendo assim que ele é imitador. Os poetas que não Homero, pelo contrário, ao longo do poema procedem como atores em cena, imitam pouco e raramente; ao passo que Homero, após curto preâmbulo, introduz imediatamente um homem, uma mulher ou outro personagem, e nenhum carece de caráter, e de cada um são estudados os costumes. Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (40 of 53) [3/9/2001 15:05:20] 3. Nas tragédias, é necessária a presença do maravilhoso, mas na epopéia pode-se ir além e avançar até o irracional, através do qual se obtém este maravilhoso no grau mais elevado, porque na epopéia nossos olhos não contemplam espetáculo algum. 4. A perseguição de Heitor, levada à cena, mostrar-se-ia inteiramente ridícula: "uns imóveis e que não perseguem, e o outro (Aquiles) que lhes acena com a cabeça negativamente". Numa narrativa, esses detalhes estranhos passam desapercebidos. 5. Ora, o maravilhoso agrada, e a prova está em que todos quantos narram alguma coisa acrescentam pormenores imaginários, com intuito de agradar. 6. Homero foi também quem ensinou os outros poetas como convém apresentar as coisas falsas. Refiro-me ao paralogismo. Eis como os homens pensam: quando uma coisa é, e outra coisa também é, ou, produzindo-se tal fato, tal outro igualmente se produz, se o segundo é real, o primeiro também é real, ou se torna real. Ora, isto é falso. Daí se imagina que, se o antecedente é falso, mas mesmo assim a coisa existe ou vem a se produzir, estabelece-se uma ligação entre antecedente e conseqüente: sabendo que o segundo caso é verdadeiro, nosso espírito tira a conclusão falsa de que o primeiro também o seja. Disso temos exemplo no episódio do Banho. 7. É preferível escolher o impossível verossímil do que o possível incrível, 8. E os assuntos poéticos não devem ser constituídos de elementos irracionais, neles não deve entrar nada de contrário à razão, salvo se for alheio à peça, como no caso de Édipo ignorante das circunstâncias da morte de Laio; e nunca dentro do próprio drama, como na Electra, onde se fala nos Jogos Píticos(66) e nos Mísios, onde um personagem vem de Tegéia até Mísia, sem proferir palavra. 9. Seria ridículo pretender que a fábula não se sustentaria sem isso. Antes de mais nada, não se deveriam compor fábulas desse gênero; mas, se há poetas que as fazem e de maneira que pareçam ser razoáveis, pode-se introduzir nelas o absurdo, pois o passo inverossímil da Odisséia, que trata do desembarque (de Ulisses pelos feaces), não seria tolerável, se fosse redigido por um mau poeta. Mas, em nosso caso, o poeta dispõe de outros méritos que lhe possibilitam mascarar o absurdo por meio de subterfúgios. 11. Quanto à elocução, deve ser muito acurada só nas partes de ação com menos movimento, que não ostentam nem estudos de caracteres, nem pensamentos; um estilo demasiado fulgurante, exibido em toda a peça, deixaria na sombra os caracteres e o pensamento. Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (41 of 53) [3/9/2001 15:05:20] CAPÍTULO XXVI Algumas respostas às críticas feitas à poesia Sobre os pontos de controvérsia e as soluções para eles, sobre o número e as diferentes espécies de controvérsia, alguma luz derramarão as considerações em seguida: 2. Sendo o poeta um imitador, como o é o pintor ou qualquer outro criador de figuras, perante as coisas será induzido a assumir uma dessas três maneiras de as imitar: como elas eram ou são, como os outros dizem que são ou dizem que parecem ser, ou como deveriam ser. 3. O poeta exprime essas maneiras diversas por meio da elocução, que comporta a glosa, a metáfora e muitas outras modificações dos termos, como as admitimos nos poetas. 4. Acrescentemos que não se aplica o mesmo critério rigoroso da política à poesia, nem às outras artes em relação à poesia. 5. Em arte poética, são duas as ocasiões de cometer faltas: umas referentes à própria estrutura da poesia; outras, acidentais. 6. Se o poeta se propõe imitar o impossível, a falta é dele. Mas se o erro provém de uma escolha mal feita, se ele representou um cavalo movendo ao mesmo tempo as duas patas do lado direito, ou se a falta se refere a algum conhecimento particular como a medicina ou qualquer outra ciência, ou se de qualquer modo ele admitiu a existência de coisas impossíveis, então o erro não é intrínseco à própria poesia. 7. É com este critério que convém responder às críticas relativas aos poetas controversos. Examinemos primeiro o que diz respeito à própria arte: se o poema contém impossibilidades, há falta; 8. no entanto, isto nada quer dizer, se o fim próprio da arte foi alcançado (fim que já foi indicado) e se, desse modo, esta ou aquela parte da obra redundou mais impressionante, como, por exemplo, a Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (42 of 53) [3/9/2001 15:05:20] 26. Em suma, devemos atribuir a presença do impossível à própria poesia, ou ao melhor para a situação, ou à opinião corrente. 27. No que diz respeito à poesia, deve-se preferir o impossível crível ao possível incrível. E talvez seja impossível que os homens sejam tais como os pinta Zêuxis; 28. mas ele os pinta melhores porque o paradigma deve ser de valor superior ao que existe; quanto às coisas irracionais referidas pela opinião, temos de admiti-las tais como são propaladas e 29. mostrar que por vezes não são ilógicas, pois é verossímil que aconteçam coisas na aparência inverossímeis. 30. Quanto às contradições, conforme foi dito, é necessário examiná-las, como se faz com as provas colocadas nos processos, ver se a afirmação refere-se ao mesmo caso e às mesmas coisas e da mesma maneira, se o poeta falou, ele próprio, e por que motivo, e o que pensaria sobre o assunto um homem sensato. 31. Entretanto a crítica tem fundamento, quando se trata do absurdo e da perversidade pura, não havendo então necessidade de se recorrer ao irracional, como fez Eurípedes a propósito de Egeu, ou à maldade de Menelau na peça Orestes. 31. As críticas referem-se a cinco pontos: o impossível, o irracional, o prejudicial, o contraditório, o contrário às regras da arte. As refutações devem ser buscadas nos casos enumerados, e são doze. CAPÍTULO XXVII Superioridade da tragédia sobre a epopéia Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (45 of 53) [3/9/2001 15:05:20] Poder-se-ia perguntar qual das duas é superior à outra, se a imitação épica ou a trágica. 2.Com efeito, se a menos vulgar é a melhor, e se é sempre esta a que se dirige aos melhores espectadores, a que se propõe imitar tudo seria por conseguinte a mais vulgar. 3. Os atores em cena, julgando que o público seria incapaz de sentir caso eles não acrescentassem a interpretação ao texto escrito, às vezes multiplicam os movimentos, semelhando os maus tocadores de flauta que rebolam a fim de imitar o lançamento do disco, ou que arrastam o corifeu, quando acompanham com seu instrumento a representação do Cila. 4. As críticas que os antigos atores dirigem a seus sucessores, deveriam aplicar-se à tragédia. Assim, Minisco tratava Calípides de macaco, por causa da gesticulação forçada demais. O mesmo se dizia de Píndaro. Estes últimos são, assim, em relação aos primeiros, o que toda a arte trágica é em relação à epopéia. 5. Esta, segundo se diz, é feita para um público de bom gosto, que não precisa de toda aquela gesticulação, ao passo que a tragédia se destina ao vulgo; e se a tragédia tem algo de banal, manifestamente é de qualidade inferior. 6. Em primeiro lugar, esta crítica não vai endereçada contra a arte do poeta, mas sim contra a do ator, pois que até o rapsodo pode levar a imitação ao ponto de se servir de gestos, como fazia Sosístrato, ou mesmo entremeá-la com o canto, como Mnasíteo de Oponte. 7. Em seguida, não devemos condenar toda gesticulação, nem toda dança, mas só a dos maus executantes, como era censurado Calípides e em nossos dias o são alguns outros, por imitarem mulheres de condição servil. 8. Acresce que a tragédia, mesmo não acompanhada da movimentação dos atores, produz seu efeito próprio, tal como a epopéia, pois sua qualidade pode ser avaliada apenas pela leitura. Portanto, se ela é superior em tudo o mais, não é necessário que o seja neste particular. 9. Em seguida, ela contém todos os elementos da epopéia; 10. com efeito, a tragédia pode utilizar o metro desta última, e, além disso — o que não é de pouca Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (46 of 53) [3/9/2001 15:05:20] importância — dispõe da música e do espetáculo, que concorrem para gerar aquele prazer mais intenso que lhe é peculiar. 11. Além disso, sua clareza permanece intacta, tanto na leitura quanto na representação. 12. E mais: com extensão menor que a da epopéia, mesmo assim ela atinge seu objetivo, que é imitar; ora, o que é mais concentrado proporciona maior prazer do que o diluído por longo espaço de tempo – pensemos no que seria o Édipo tratado no mesmo número de versos que a Ilíada! 13. Além do mais, a imitação em qualquer epopéia apresenta menor unidade que na tragédia. A prova é que, de qualquer imitação épica se extraem vários argumentos de tragédia, de modo que, se o poeta em sua epopéia trata uma só fábula, ela será exposta de modo forçosamente breve, e resultará bem mesquinha, ou então, conformando-se às dimensões habituais do gênero, resultará prolixa. Mas se trata muitas fábulas, ou seja, se a obra é constituída por muitas ações, carece de unidade. 14. Por exemplo, a Ilíada comporta muitas partes deste gênero, bem como a Odisséia, partes que em si são extensas, e no entanto estes poemas formam um todo da maneira mais perfeita e constituem, no mais alto grau, a imitação de uma arte única. 15. Portanto, se a tragédia se distingue por todas estas vantagens e mais pela eficácia de sua arte (ela deve proporcionar, não um prazer qualquer, mas o que é por nós indicado), é evidente que, realizando melhor sua finalidade, ela é superior à epopéia. 16. Falamos sobre a tragédia e sobre a epopéia, sobre a natureza e espécie das mesmas, sobre seus elementos essenciais, número e diferença dos mesmos, sobre as causas que as tornam boas ou más, enfim sobre as críticas e os efeitos que provocam. Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (47 of 53) [3/9/2001 15:05:20] 26. Melopéia era a parte da arte musical que se referia à composição melódica, subordinando a música à poesia. Pouco chegou até nós, referente à melopéia. Era uma seqüência de sons musicias dispostos de forma a provocar uma emoção estética harmoniosa, tornando-se, por isso, agradável. 27. Zêuxis de Ericléia viveu em Atenas no final do século V. A.C. Pintava figuras de crianças e mulheres mitológicas. 28. Apenas alguns fragmentos e nomes de personagens chegaram até nós destes poemas cíclicos. Eram conhecidos entre os séculos VII A.C. e V A.C.. Os personagens principais eram Heracles, herói dório, e Teseu, o herói ateniense. Eram coletâneas de poemas, escritas por vários poetas conhecidos, entre os quais sabe-se que estavam incluídos Pisandro de Rodes (séc. VII A.C.), Paníase de Samos (séc. V. A.C.), Baquídiles de Ceos (sécs. VI A.C. e V A.C.) 29. Esse ponto é bastante discutido, porque a Odisséia contém a parte em que Ulisses é ferido na perna por um javali, no monte Parnaso, sendo posteriormente reconhecido por sua ama Euricléia, que o identifica justo ao observar a ferida. Por alguma razão— esquecimento, ou porque a edição de que dispunha não trazia esta cena—, Aristóteles diz que ela não fora mencionada por Homero. Assim também, quanto à loucura fingida por Ulisses, que Aristóteles menciona também não estar presente na Odisséia, a informação é errônea. 30. Refere-se a Herodoto de Helicarnasso, hostoriador das guerras médias (séc. V A.C.). 31. Alcibíades (séc. V. A.C.), ficou famoso por ser belo e leviano, causando sérios problemas à sua pátria. 32. A tragédia de Agatão perdeu-se. O autor foi poeta de renome, pois obteve a vitória de 416 A.C. com sua primeira peça. Agatão fez críticas ao estilo usado por Agatão nas Tesmofórias. Parece que Platão não gostava do poeta, pois erle aparece no Banquete fazendo um discurso medíocre. 33. Uma das oito tragédias de Sófocles que não chegaram até nós. 34. Tragédia de Teodectes de Fasélis (sec. IV A.C). Linceu era um dos filhos de Egito. Casado com Hipermnestra, sua prima, uma das cinqüenta danaides, foi poupado pela esposa, quando o pai delas mandou que todas as suas filhas matassem os homens com quem tinham casado. Linceu foi sucessor de seu tio e sogro Dânao, morto pelos argivos em lugar do próprio Linceu. 35. Aristóteles refere-se à Electra de Sófocles. Na peça, Electra já é conhecida por Orestes, antes de o reconhecer. 36. Trata-se da Ifigênia em Tauris, peça de Eurípides representada em 410 A.C. 37. commoz: lamentação, ação de bater no peito; diálogo lírico entre o coro e alguns personagens em cena, às vezes em versos líricos, outras em versos iâmbicos mesclados aos líricos, em estrofes que iam se sucedendo livremente. 38. Alcméon era filho do adivinho Anfilau. Matou sua mãe, Erífila, por ter ela forçado o marido a ir cercar Tebas, sabendo que a missão era suicida. Mais tarde Alcméon, após abandonar a esposa Alfesibéia para se casar com Calirroe, morreu degolado pelos irmãos de Alfesibéia. Astidamante (poeta que viveu Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (50 of 53) [3/9/2001 15:05:20] nos séculos V e IV A.C) sobre Alcméon. 39. Meleagro tomou parte na expedição dos Argonautas e matou, em seguida, ojavali de Cálidon. Também matou os dois irmãos de sua mãe numa briga.desesperada, Em desespero, ela jogou no fogo a tocha em que as Parcas haviam acorrentado o fio da vida de Meleagro. A tocha queima e Meleagro morre com a combustão. 40. Télefo era rei da Mísia. Quando os troianos foram cercados, ele correu a ajudá-los. Nas margens do rio Caíco, foi ferido por Aquiles. Usando a ferrugem da lança de Aquiles, Ulisses curou-o, fazendo que Télefo, por gratidão, se tornasse aliado dos gregos. Havia uma tragédia a respeito desta lenda, denominada Mísios, hoje perdida. Também Eurípides e Agatão escreveram tragédias, perdidas, denominadas Télefo. 41. Aristóteles censura os críticos do que seriam alguns defeitos das peças de Eurípides, em função das regras então codificadas sobre o teatro grego – como a repetição dos mesmos efeitos e meios, intrigas inverossímeis, etc. 42. Egisto aparece nas peças em que Clitemnestra é personagem. No Ajax de Sófocles, porém, Teucro, Menelau e Agamenon saem reconciliados pela intervenção de Ulisses. 43. Clitemnestra era filha de Tíndaro e de Leda. Seus irmãos eram Castor e Pólux, e a Helena que, na fábula de Homero, motivou a Guerra de Tróia. Seu marido Agamemnon, ao retornar de Tróia, foi assassinado por ela epor Egisto, que era amante de Clitemnestra. Os filhos famosos de Clitemnestra, Orestes, Ifigênia e Electra, planejam matar a mãe. Ifigênia exclui-se do drama. Orestes, sempre incitado por Electra, mata sua mãe Clitemnestra e o amante desta, Egisto. 44. Alcméon era filho de Erífila. 45. Telégono, filho de Ulisses e de Circe ou de Calipso, tentou devastar a ilha de Itaca, aonde fora lançado por uma tempestade. Ulisses o enfrenta e é morto pelo próprio filho, que não o reconheceu. Sófocles escreveu uma tragédia (desaparecida) sobre o tema. 46. Antígona era filha de Édipo. É condenada à morte por Creonte, por ter sepultado seu irmão Polinice, que o tirano Creonte considerava traidor da pátria. Hëmon, filho de Creonte, suicidou-se porque amava Antígona, com quem ia casar-se. Também a esposa de Creonte se mata, e a injustiça é reparada com estas mortes. 47. Mérope de Acádia, esposa de Cresfonte. Eurípides escreveu uma tragédia a respeito de sua história. O marido de Mérope é assassinado por um tirano, que a desejava e tenta depois obrigá-la a casar com ele. O terceiro filho de Mérope, criado em segredo pelo avô, mata o tirano antes que consiga realizar seu intento. 48. Hele, filha de Atamante, rei de Orcômeno na Beócia, tem um irmão chamado Frixo. Os dois nasceram do primeiro matrimônio de Atamante. A madrasta do casal de irmãos, Ino, os perseguia e Zeus, para libertá-los, enviou um carneiro com velocino de ouro que os transportaria até a Anatólia. Hele caiu no mar que ganhou seu nome, e Frixo chegou à Cólquida. Os maiores dramaturgos da Grécia usaram essa história para compor tragédias, todas hoje perdidas. Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (51 of 53) [3/9/2001 15:05:20] 49. Melanipo é personagem de uma tragédia de Eurípides, à qual deu o nome. Há um verso dessa tragédia no Banquete de Platão. Eurípides compôs outras tragédias usando Melanipo, mas todas foram destruídas. 50. Medéia é uma tragédia de Eurípides. Foi representada em 413 A.C.. Oartifício cênico a que Aruistóteles se refere é o carro alado que Medéia recebe de presente do Sol, puxado por dois dragões. 51. Cárcino de Atenas, poeta trágico (século IV A.C.). 52. Coéforas é a segunda obra de uma trilogia escrita por Ésquilo (séc. VI/V A.C.). A primeira peça é Agamenon, a segunda chama-se Oréstia e a terceira Eumênides. 53. Parece que este Políido é o mesmo Políido pintor, músico e poeta ditirâmbico que viveu no século IV ou final do século V. 54. Teodectes de Fasélis foi poeta trágico e orador. Viveu no século IV A.C. Seus personagens agiam e discursavam em tribunais. 55. As Fineidas dizem respeito aos filhos de Fineu, rei da Trácia, que deu ouvidos ao vitupério de sua segunda esposa e mandou vazar os olhos dos filhos de seu primeiro matrimônio. 56. Autor desconhecido. 57. Adivinho célebre, viajou com os argonautas. Sua mulher, Erífila, seduzida pelo feitiço de um colar, descobriu o esconderijo onde ele estava, pois não queria participar da guerra contra Tebas. Aclméon, filho deles, apunhalou a própria mãe por vingança por haver esta descoberto o ardil de Anfiarau.. 58. Ajax, filho de Télamon, suicidou-se após um acesso de loucura, provocado porque as armas de Aquiles foram dadas a Ulisses. Após ter matado as reses do rebanho que pertencia ao exército, ele volta a si e se mata. Há uma peça de Sófocles sobre o tema, onde o delírio de Ajax é provocado por uma deusa. 59. Íxion é punido, assim como Ajax, por seu excesso de orgulho. Zeus o leva para o Olimpo, onde Íxion ousa apaixonar-se por Hera. Zeus o precipita no Tártaro, onde tem que mover uma roda em movimento perpétuo. Ésquilo compôs uma peça a respeito deste mito. 60. Ftiótidas eram as mulheres da Ftia, pequena região onde Aquiles reinava. Sófocles escreveu uma sobre respeito o tema. 61. Sófocles e Eurípides fizeram peças sobre a tragédia de Peleu. 62. Este capítulo, de pouca importância no que diz respeito à Teoria Aristotélica sobre a arte poética, está cheio de lacunas no texto original. 63. A obra de Arífrades foi toda destruída e não se tem notícia alguma deste poeta como pessoa. 64. Existem controvérsias a respeito desta interpretação feita por Aristóteles. A historiografia siciliana (Diodoro da Sicília, séc. I d. C) afirma que houve tratados entre Susa, Cartago e a Pérsia, e as expedições não foram, em absoluto, uma coincidência. Arte Poética - Aristóteles file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (52 of 53) [3/9/2001 15:05:20]
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