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Guias e Dicas
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Reprodução de Pirarucu em Cativeiro, Notas de estudo de Engenharia Biológica

Manual elaborado pelo Sebrae

Tipologia: Notas de estudo

2010
Em oferta
30 Pontos
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Oferta por tempo limitado


Compartilhado em 16/12/2010

Tucano15
Tucano15 🇧🇷

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Baixe Reprodução de Pirarucu em Cativeiro e outras Notas de estudo em PDF para Engenharia Biológica, somente na Docsity! em Cativeiro Projeto Estruturante do Pirarucu da Amazônia Manual de Boas Práticas de Porto Velho | Novembro 2010 e Cultivo do Pirarucu Coordenação do Estruturante do Pirarucu da Amazônia Gestora Estadual: Roberta Maria Q. Figueiredo Sebrae Roraima Conselho Deliberativo Estadual Presidente: Almir Morais Sá Diretoria Executiva Diretor Superintendente: Alexandre Alberto Henklain Diretor Técnico: Alexandre Alberto Henklain Diretora de Administração e Finanças: Maria Cristina de Andrade Souza Coordenação do Estruturante do Pirarucu da Amazônia Gestor Estadual: Itamira Sebastiana Soares Sebrae Tocantins Conselho Deliberativo Estadual Presidente: Hugo de Carvalho Diretoria Executiva Diretor Superintendente: Paulo Henrique Ferreira Massuia Diretor Técnico: Maria Emília Mendonça P. Jaber Diretora de Administração e Finanças: João Raimundo Costa Filho Coordenação do Estruturante do Pirarucu da Amazônia Gestor Estadual: Gilberto Martins Noleto Sebrae Nacional SEPN – Quadra 515, Bloco C, Loja 32 – Asa Norte. 70.770-900 – Brasília - DF Tel.: (61) 3348-7100 – Fax: (61) 3347-4120 www.sebrae.com.br Diagramação e Conceito Gráfico: Carvalho Design | Vicente Carvalho 5 6 Índice Reprodução de Pirarucu 9 Histórico da Produção de Pirarucu em Cativeiro 10 Pirarucu em seu Ambiente Natural 12 Reprodução em Cativeiro 16 Pesquisa Pratica com Êxito 17 Estratégias de Manejo de Reprodutores 18 Equipamentos e como utilizá-los: 18 A Captura 20 Alimentação de Reprodutores 22 Doenças 23 Reprodução “Natural” 23 Identificação de Sexo 24 Condições Climáticas e Físicas Necessárias 26 Ambientes Apropriados para Reprodução 26 Formação de Casais 26 Agrupamento de Pirarucu 28 Estratégias de Agrupamento 28 Preparação para as Desovas 32 Desovas 33 Condições Físicas Importantes em Tanques de Reprodução 33 Capturar Ovos, Larvas ou Alevinos? 34 Larvicultura e Alevinagem em Laboratório 37 Tratamento de Doenças 39 Produção de Zooplâncton 40 Treinamento alimentar 42 Produção Extensiva 44 Produção Extensiva 44 Manejo e Transporte 44 Densidades Máximas Recomendadas para Transporte 45 Comentários do Autor 46 As tentativas de estabelecer produção em escala comercial de pirarucu em cativeiro, em geral, encontraram dificuldades e, até agora, não existe uma indústria bem-sucedida produzindo essa espécie em cativeiro. Apesar do fato de que alevinos de pirarucu foram produzidos em cativeiro durante a década de 1950, por um grupo de biólogos que trabalhou dentro do projeto federal do DNOCS no Ceará (1), a produção comercial de pirarucu em cativeiro não deslanchou. Naquela época, não existia tecnologia adequada, muito menos elementos de uma cadeia produtiva de piscicultura para estimular e sustentar uma indústria produzindo esse peixe em cativeiro. Alevinos produzidos dentro do projeto do DNOCS foram soltos em lagoas e reservatórios para controlar uma população indesejável de piranhas, onde sobreviveram e cresceram bem até que todos foram eliminados por pescadores. Devido à disponibilidade limitada, alevinos de pirarucu sempre foram caros. Frequentemente capturados da natureza e geralmente de baixa qualidade, apresentando enfermidades variadas, como verminose e parasitos protozoários nas brânquias, mostrando-se malnutridos e malpreparados para entrar em engordas, não tiveram muita chance de sobreviver em cativeiro. Produtores enfrentando estas dificuldades geralmente ficaram desanimados com as experiências com pirarucu. Na natureza, peixes adultos cuidam dos filhotes constantemente durante os primeiros meses de vida, protegendo-os de um grande leque de predadores nativos da Bacia Amazônica. Mesmo com este cuidado, peixes pequenos são vulneráveis aos insetos, pássaros, peixes, tartarugas, cobras, jacarés e até outros pirarucus. Reservatórios utilizados em sistemas extensivos de cultivo ao redor da Região Norte do Brasil acabam formando ecossistemas ricos em fauna, incluindo estes predadores capazes de comer pirarucu. Sem a proteção dos pais, muitos peixes pequenos estocados nesses reservatórios sumiram. A não realização de práticas de manejo apropriadas em geral dificultou as tentativas de cultivo intensivo dessa espécie em cativeiro. Rações adequadas para peixes carnívoros somente apareceram no mercado brasileiro em anos recentes, com interesse crescente no cultivo comercial de outras espécies carnívoras nativas, como o pintado e outras espécies de peixes marinhos. Estratégias extensivas que funcionaram melhor envolviam estocagem de alevinos maiores em reservatórios junto com peixes forrageiros. Nesta situação, pirarucus crescem rapidamente, alcançando maturidade sexual em 4 ou 5 anos quando pesam de 50 a 100 kg. Apesar das dificuldades citadas, principalmente durante a última década, a produção de pirarucu vem aumentando, resultando em estoques significativos de peixes em cativeiro. Como os pirarucus reproduzem naturalmente em reservatórios, que apresentam condições parecidas com seu ambiente natural, alevinos produzidos extensivamente em reservatórios viraram a primeira geração de pirarucu produzido em cativeiro. Existem peixes hoje em cativeiro varias gerações removidas dos seus ancestres selvagens. Esses peixes servem hoje como base genética de uma nova indústria. Produtores que controlaram melhor a reprodução desses animais ganharam mais experiência com pirarucu, repassando sua produção limitada de alevinos para outros produtores, e aumentando mais ainda os estoques e alimentando o interesse no pirarucu. Histórico da Produção de Pirarucu em Cativeiro 10 Anos de observação de pirarucu em cativeiro vêm trazendo maior conhecimento do processo reprodutivo da espécie. Experimentação e manipulação dentro do ambiente de cativeiro foram fundamentais na identificação dos fatores- chaves que estimulam a reprodução do pirarucu. Trabalhos com pesquisa e desenvolvimento realizados dentro do setor privado, incluindo a piscicultura Só Peixes da Amazônia em Pimenta Bueno, Rondônia, vêm mostrando resultados animadores. Hoje, a reprodução de pirarucu em cativeiro é bem mais previsível, sendo já uma realidade a produção em escala de alevinos de alta qualidade. Alevinos de qualidade utilizados em projetos de engorda de pirarucu mostraram claramente a sua importância, com crescimento rápido, conversão alimentar boa, uniformidade de tamanho e alta taxa de sobrevivência em sistemas tradicionais de cultivo, criando assim uma nova realidade para a longa espera da indústria de criação de pirarucu em cativeiro. Com fornecimento seguro de alevinos de qualidade, surgiu a oportunidade para a montagem de testes a campo com diferentes rações, sistemas produtivos e estratégias de engorda. Análise dos resultados destas experiências em “unidades de observação” serve para indicar boas práticas para engorda de pirarucu. Ao longo dos últimos três anos, estes trabalhos com reprodução e engordas foram realizados dentro do Projeto Estruturante da Pirarucu da Amazônia do Sebrae. 11 Em seu ambiente natural, durante a época de chuva, o pirarucu explora as áreas alagadas da Bacia Amazônica, nadando tranquilamente no meio da vegetação em busca de comida. Mostrando grande flexibilidade no seu comportamento alimentar, esse peixe possui uma boca enorme que produz uma sucção explosiva, sendo possível ouvir o momento da captura de peixes, cardumes de camarão ou outros pequenos animais de longas distâncias. O pirarucu também é capaz de filtrar organismos pequenos da água utilizando seus “rastros branquiais”. Estrutura da Cavidade Oral do Pirarucu Lagos marginais do Rio Araguaia Quando faltam alimentos preferidos, o peixe separa crustáceos, moluscos e outros organismos bênticos do substrato. Aparentemente sua língua óssea ajuda quebrar alimentos como moluscos ou crustáceos. Na época da seca, as águas que alagaram o mato voltam para os rios. Os pirarucus evitam os canais principais dos rios, preferindo permanecer em lagos marginais Pirarucu em seu Ambiente Natural 12 A fêmea é guardiã principal do ninho, parando com sua cabeça em cima do ninho e movimentando a água sobre o ninho com suas nadadeiras peitorais. Uma fêmea é capaz de permanecer no ninho até 45 minutos sem subir para respirar. O macho a substitui momentaneamente enquanto ela sobe para respirar. Ele vigia o perímetro em volta do ninho, geralmente de 5 a 10 metros da fêmea. Normalmente, os pais não se alimentam durante esse período. O macho respira com mais frequência, pois gasta mais energia. Caso um predador se aproxime ou alguma outra ameaça seja percebida, o macho é capaz de catar a massa de ovos do ninho em um instante, levando- os na boca. Ele pode devolver os ovos para o ninho logo em seguida, ou levá-los para outro ninho escavado por perto. Também é capaz de manter os ovos (ou larvas) na boca por um tempo maior, até a hora da eclosão ou mesmo após elas. Os ovos demoram +/- cinco dias para eclodir, e as larvas (veja Foto) permanecem mais quatro dias até que fiquem prontas para sair nadando do ninho, acompanhadas pelo pai. Sem intervenção pelo pai, o processo inteiro de uns nove dias acontece dentro do ninho. Larvas saiem do ninho e sobem pela primeira vez, acompanhadas pelo macho. Ele agora tem Massa de ovos de uma desova. Ovos de Pirarucu fecundados. 15 uma cor preta, transformação que acontece somente no final da incubação da prole. Forma uma bela coloração o vermelho brilhante sobre o preto. As larvas de um cm de comprimento, agora são escuras também, ainda com uma mancha verde na barriga o último vestígio do saco vitelino. Formam uma “nuvem” preta, abrindo e fechando, nadando lentamente perto da cabeça do pai em busca de alimento. A invasão das águas alagando a floresta e sua cama de vegetação garantem produção de plâncton. É a fêmea agora que vigia o perímetro, espantando possíveis predadores. Assim a família nada pela floresta alagada, mantendo o contato íntimo entre pai e filhotes durante o primeiro mês, e permanecendo juntos até dois meses. Os filhotes crescem rapidamente, nunca deixando de filtrar o plâncton, mas fazendo a transição para outros alimentos maiores, incluindo larvas, insetos, crustáceos e peixes pequenos. Teoricamente, mais de 40.000 ovos poderiam ser coletados em uma única desova. Fêmeas adultas desovam perto de 200 ovos por kg do seu peso, e existem fêmeas de mais de 200 kg. De outra forma, uma desova pesando 1.000 g teria 45.000 ovos, sendo que são +/- 45 ovos hidratados por grama, existindo relatos de desovas deste tamanho. Fêmeas desovam até sete vezes por ano. Fazendo as contas, parece ser possível produzir até 300.000 ovos de uma fêmea em um ano. Ainda não chegamos perto deste nível de produção, mas esses resultados mostram um potencial bem animador. A realidade da produtividade de alevinos é bem inferior o seu potencial. Utilizando uma estratégia semi-extensivo, em tanques de cativeiro com controle de qualidade de água e de predadores, uma única desova tipicamente produz de 1.000 a 4.000 alevinos pequenos de Apesar dos cuidados constantes dos pais, os números vêm diminuindo diariamente devido a ataques de predadores. Pescadores tipicamente capturam de 50 a 500 alevinos de 7 a 10 cm de uma desova na natureza. *Enquanto a literatura sugere que a língua óssea do pirarucu deve servir para segurar ou esmagar presas, possivelmente esse órgão curioso é utilizado para segurar a massa de ovos. A massa de ovos é lisa e delicada. Respiração aérea do macho enquanto segura uma massa de ovos seria difícil sem a engolir ou perdê-los. A língua áspera do pirarucu provavelmente serve para segurar uma massa de ovos, principalmente durante a respiração. 5 cm. Intervenção antecipada de um processo produtivo em que ovos ou larvas são tirados diretamente da proteção dos pais, parecido com as práticas utilizadas com tilápia e catfish, aumenta significativamente a renda. Captura de larvas recém-eclodidas do ninho já rendeu até 12.000 larvas. Desovas de mais de 20.000 ovos já foram capturadas. Uma das consequências interessantes da remoção antecipada de ovos e larvas é de que o casal volta a desovar depois da remoção da sua prole, sendo possível uma desova em média a cada 21 dias. Com coletas de rotina, um casal desova até sete vezes em um ano, num período de cinco meses. A incubação de ovos em laboratório demonstrou eclosão de 70%. Enquanto todo isso é positivo, varias fatores atrapalham realização de produção mais sucedida, mesmo com orientação técnica Reprodução em Cativeiro Potencial Produtividade 16 e estratégia bem planejada. Planteis de reprodutores geralmente incluem peixes que não cresceram perto do seu potencial, devido falta de comida. Enquanto um peixe de cinco anos poderia pesar mais de 100 kg, muitas vezes não chegam perto disso. Não podemos esperar produção positiva de reprodutoras mal nutridas. Muitos potenciais reprodutores foram comprados em lotes pequenos de alevinos, e são de fato irmãos. Não podemos esperar bons resultados cruzando irmãos. Estruturas e recursos físicos inadequadas não ofereçam condições ótimas para reprodução e produção de alevinos. Falta de experiência dificulta aplicação de boas práticas de manejo. Com otimização da tecnologia disponível, atualmente produtores dedicados poderiam esperar uma produtividade de 10.000 alevinos (ou mais) por fêmea adulta por ano. Eventualmente podemos esperar produção de até 50.000 alevinos por fêmea por ano. Experiências com manejos de reprodutores de pirarucu em cativeiro, com o objetivo de estimular sua reprodução, mostraram resultados de todas as formas. As que não funcionaram e ensinaram como não fazer e os acertos que indicaram quando estávamos no caminho certo. Estas “pesquisas práticas” sempre foram montadas com o objetivo de desenvolver estratégias que produzirão resultados positivos e reproduzíveis. Quando começaram acontecer muitas desovas, abriu-se uma grande oportunidade para aprender rapidamente em como lidar com a larvicultura, alevinagem e treinamento alimentar em escala. A pressão de ter dezenas de milhares de larvas de pirarucu de repente entrando no laboratório de uma vez forçou a procura de técnicas mais eficientes e convenientes. A consolidação do corpo de informação relacionado à reprodução de pirarucu em cativeiro, fez com que hoje exista uma tecnologia apropriada para produção econômica de alevinos de pirarucu de qualidade e em quantidades necessárias para deslanchar uma indústria. Produtores seguindo essas recomendações terão as ferramentas necessárias para produzir alevinos de pirarucu com êxito, evitando problemas maiores, e participando no início de uma atividade ainda inovadora e excitante. Procurar novas descobertas e melhorar a base tecnológica existente é desafio que unifica todos os participantes dessa atividade. Bom serviço e boa sorte para todos! Pesquisa Pratica com Êxito 17 Assim os tanques balançam, sem sair água deles. Deve encher para manter 20 cm de borda livre, cobrindo completamente o peixe com água, sem que a barriga do peixe encoste-se ao fundo do tanque. Peixes agüentam viagens longas com esse sistema de transporte. Peixes são removidos do TAP com a maca, sendo necessário colocar a maca dentro do TAP e o peixe dentro da maca, erguendo a maca para escoar água antes de remover o peixe. A Captura Planejamento para a captura e transporte de peixes grandes é importante, sendo necessário providenciar todos os equipamentos necessários, equipe de trabalho e hora prevista do serviço. Não se deve capturar pirarucus quando a temperatura da água é menos de 23 graus C, nem acima de 32 graus C, sendo aconselhável trabalhar de amanha durante os meses mais quentes. Abaixar o nível do tanque de onde vai retirar os peixes na preparação da captura é importante. Em águas de mais de um metro de profundidade, pirarucus podem saltar e atingir as pessoas no tórax, no pescoço ou na cabeça, sendo potencialmente letal. Reduzir a área do tanque facilita a visualização dos peixes e melhora a eficiência da captura. - Deve se passar rede de arrasto em áreas livres de obstáculos. Desenroscar uma rede presa em toco ou outro objeto fixo é extremamente perigoso com pirarucus grandes dentro da rede. Peixes assustados podem se machucar gravemente ao bater em objetos sólidos também. - Nunca se deve deixar os pescadores ficarem atrás da rede. Os peixes “atacam” a rede com força. Também não devem entrar na rede, principalmente quando a rede está em processo final de fechamento. - A melhor posição das pessoas na hora de fechar uma rede com pirarucu grande é nas duas pontas da rede e totalmente fora da água. Captura de Pirarucu com Rede de Arrasto com Água Baixa Fechando Rede de Arrasto com Segurança 20 - Tentar capturar um ou poucos peixes em cada fechamento da rede. Peixes não removidos imediatos da rede precisam de espaço para se manter em posição normal para não sofrer risco de afogamento. - É quase impossível segurar um peixe adulto dentro da água com as mãos. São fortes e lisos. Podem ser removidos da água com um puçá (veja seqüência de fotos), com uma rede (de dormir) ou colocando-o diretamente na maca. Um problema comum é que falta pessoal para segurar a rede e também retirar os peixes. - Uma técnica boa para realizar a captura é remover peixes da água com a própria rede, colocando o peixe no chão, com a barriga para baixo. É possível remover dois peixes adultos com essa técnica, com seis pessoas fortes, desde que não tenha barranco alto. Com mais de dois peixes na rede, precisa de mais pessoas para remover os peixes e colocar rapidamente em macas. -Tanques com “praias”, ou saídas com declives suaves facilitam as despescas. Terras bem gramadas são mais macias para acolchoar peixes no chão. Um colchão velho é excelente para proteger os peixes durante manejos. Captura de Peixe com Puçá Colocando Peixe na Maca Tirando Peixe da Água com Própria Rede 21 - Tanques com “praias”, ou saídas com declives suaves facilitam as despescas. Terras bem gramadas são mais macias para acolchoar peixes no chão. Um colchão velho é excelente para proteger os peixes durante manejos. - Geralmente pirarucus não mordem fora da água. A cauda é perigosa! Os peixes batem muito forte lateralmente com a cauda enquanto sentados de barriga para baixo, podendo quebrar pernas. Uma pessoa deve segurar a cabeça, sentando em cima do animal, com a cabeça do peixe entre as pernas. Os peixes respiram fora ou dentro da água, da mesma maneira; levantando a cabeça, exalando pelo opérculo, e abrindo a boca para inalar. A pessoa segurando a cabeça não deve atrapalhar esse movimento. Uma pessoa encostada de cada lado do centro do animal segura seus movimentos, sem ficar exposta a cauda. Peixes deitados de lado podem pular e se machucar. É importante manter os peixes de barriga para baixo. Tudo indica que é importante alimentar bem os reprodutores. Precisam ser bem nutridos para produzir ovos e larvas de qualidade e em quantidade. Como o potencial produtivo de cada fêmea dependerá do tamanho dela, o crescimento é importante. Sendo animais carnívoros, preferem comer peixes frescos ou vivos. Pirarucus em cativeiro aprendem rapidamente a ficar esperando comida quando tratados sempre no mesmo local. “Domesticando” peixes a comer na mão é interessante, pois a falta de interesse pela comida é sinal que estão mais interessados em reproduzir do que em comer. Preferem comer peixes pequenos, ou pedaços de peixes maiores. Peixes ou pedaços de 200- 300 g são ideais. É possível tratar reprodutores com ração, desde que a ração seja para peixes carnívoros, e de alta qualidade. Geralmente rações comerciais têm tamanho de “pellets” aquém do tamanho adequado para peixes grandes, e acaba sobrando. Qualidade de água é importante em tanques de reprodução, principalmente durante a época de reprodução, e evitar sobras de alimentos é fundamental. Uma prática utilizada por vários produtores é de misturar ração comercial com peixe moído, formando bolas. Dificilmente existe uma ração com qualidade nutricional igual a um peixe vivo. Custos de produção podem ser determinantes na hora de resolver a questão do alimento mais adequado para os reprodutores. Estocagem de peixes forrageiros vivos, juntos com reprodutores é interessante do ponto de vista nutricional. Problema com essa prática é que peixes forrageiros podem ser ameaças aos ovos ou filhotes de pirarucu. Uso de ração e peixes forrageiros é interessante com grupos de peixes juvenis, sendo alimentados como reprodutores futuros. Os peixes forrageiros limpam as sobras de ração e ajudam manter os peixes saudáveis e crescendo bem. Pelo menos durante a época reprodutiva, tratar peixes acasalados manualmente com peixes frescos é a melhor opção. Bons resultados foram conseguidos tratando peixes frescos à vontade, uma vez por dia, sendo perto de 1% do seu peso por dia. Alimentação de Reprodutores 22 Utilizamos marcadores rosa para identificar fêmeas e amarelas para machos. Podem ser colocados no mesmo local em frente da nadadeira dorsal, e são visíveis durante a respiração dos animais. A vantagem do marcador externo é que a identificação, depois é bem menos invasiva, não sendo necessário capturar os peixes. Por enquanto, o sistema mais fácil, seguro, barato e disponível a todos para identificação de sexo seria de marcadores externos de plástico. Outra opção é trabalhar com ambos. Hormônios sexuais, incluindo testosterona e estrogênio podem ser analisados para distinguir machos de fêmeas. Em Peru essa técnica foi empregada para identificar sexo de peixes adultos e juvenis (2). Análise desses hormônios no Brasil mostrou resultados mais complexos. A relação entre a concentração dos dois hormônios foi muito diferente do que os resultados do estudo peruano, com peixes de casais já formados mostrando um padrão bem diferente do que peixes “solteiros”. Esse fato mostra que acontecem mudanças significativas com a concentração de hormônios depois da formação do casal. Assim, medição de hormônios ou seus precursores deve ser avaliado com cuidado, ciente do fato que as concentrações dessas substâncias variam muito ao longo do ciclo reprodutivo do pirarucu, e entre animais, dependendo da sua posição social do grupo. O estudo no Peru com análise de vitelogenin, substância ligada com desenvolvimento e maturação de ovócitos e presente somente em fêmeas, foi confiável para identificação de sexo de pirarucu. Limitação dessas estratégia é que somente foi definitiva para sexagem de peixes adultos. Problema é que às vezes não sabemos se um animal é adulto ou não. Canalização, ou introdução de cateter ou sonda urinária no oviduto, processo utilizado na avaliação de ovócitos de outros peixes, não é possível com pirarucu sem machucar o animal devido ao formato do poro genital. Laparoscopia é processo cirúrgico envolvendo remoção de uma escama no local da gônada (ventro- lateral, do lado esquerdo), cortando com bisturi a pele, musculatura e peritônio e introduzindo um tubo rígido com lente ocular para visualização direta do ovário ou testículo. Esse procedimento está sendo empregado no Estado do Ceará, dentro do projeto de pirarucu do DNOCS para sexagem de juvenis de 8 ou 10 kg (3). Análise de DNA, com o objetivo de distinguir o sexo do pirarucu seria método confiável e menos estressante de sexagem. O desafio de identificar o sexo, analisando tecidos, como pele ou escama, foi objetivo de vários estudos realizados nos últimos anos, mas essa tecnologia ainda não está disponível para identificação do sexo de pirarucu. Ultrassom convencional não consegue atravessar as escamas para observar órgãos internos. Ultrassom com sonda trans-retal, de espessura fina para entrar no reto do animal é equipamento interessante para visualizar os órgãos sexuais. Serve para sexagem imediata e também para avaliação do desenvolvimento das gônadas. Sondas “transretais” de boi, ovinos, ou seres humanos não são adequadas. Equipamento especializado é necessário para realizar esses exames. ***Desenvolvimento de um exame rápido e não invasivo, com resultado saindo na beira do tanque seria ideal para facilitar tomada de decisões imediatas a respeito do manejo de reprodutores. “Hormônios sexuais, incluindo testosterona e estrogênio podem ser analisados para distinguir machos de fêmeas”. (...) 25 Pirarucus reproduzem dentro da Bacia Amazônica durante a época de chuva. Existem certas condições que são requerimentos absolutos para que aconteça a reprodução. Basicamente, peixes saudáveis formarão casais reprodutivos quando tiverem substratos adequados para construção de ninhos, em um metro de água, com transparência adequada para os peixes se ver, temperatura da água acima de 29o C, e pancadas de chuvas fortes. Sobrevivência das proles depende de uma qualidade de água adequada, alimento suficiente e proteção contra predadores. O processo reprodutivo é complexo, com uma etapa do processo necessária para desencadear outra, uma seqüência de estímulos ambientais desencadeando respostas comportamentais dos peixes, cujos acertos em harmonia com as mudanças ambientais são necessários para garantir sobrevivência dos filhotes. Precisamos lembrar e entender aquilo que acontece na natureza. Lá, o ambiente aquático do pirarucu sofre grandes mudanças com o processo reprodutivo de pirarucu englobando essas mudanças. Os animais que conseguem reproduzir no momento certo, no local certo, aproveitando qualidade de água adequada que confere sobrevivência dos seus ovos e larvas, em seguida as larvas tendo acesso a alimento suficiente, serão aqueles cujos genes continuarão sobrevivendo. Formação de casais é a etapa inicial do processo reprodutivo de pirarucu. Desova e incubação são outras etapas, e cuidar dos filhotes é ainda outra. Acontece que o ambiente ideal para formação de casais não é o mesmo que o ideal para sobrevivência de ovos, que não é ideal para alimentação de filhotes. Então, no ambiente de cativeiro seria necessário controlar e oferecer ambientes apropriados durante todo o processo para que todas as necessidades sejam atendidas. Foram realizadas pesquisas práticas testando várias estruturas e situações para avaliar a importância das condições ambientais e suas conseqüências na reprodução. A importância em identificar o sexo de reprodutores dependerá da estratégia produtiva empregada na hora de juntar grupos de peixes reprodutores. Formação de casais é necessário para acontecer a reprodução natural. Sabendo o sexo de cada animal, seria possível estocar um casal por tanque. Como dois (um macho e uma fêmea) é o número mínimo necessário para acontecer reprodução, Condições Climáticas e Físicas Necessárias Ambientes Apropriados para Reprodução Formação de Casais 26 uma divisão dessas aparentemente seria o uso mais eficiente de um plantel de reprodutores. Acontece que qualquer macho não forma um casal produtivo com qualquer fêmea. Poderíamos trocar parceiros até conseguirmos uma química aceitável entre os dois. Também acontece a formação de casais que reproduzem, mas com baixa produtividade. A eficiência dessa estratégia, então, ainda é questionável. Estratégia que vem funcionando melhor é a de colocar vários peixes juntos, deixando-os escolher seus próprios pares. Casais formados dessa maneira têm grande chance de reproduzir e produzir números maiores. Casais formados assim podem ser removidos de tanques de formação de casais e colocados em tanques de desova. Muitas descobertas foram possíveis através de observação de peixes em tanques pequenos e em águas claras. Tanques pequenos não são os preferidos dos pirarucus, mas facilitam muito nossa observação deles. Observação dos peixes e seus comportamentos em águas com transparência limitada é difícil. Água transparente é necessário para enxergar todas as suas atividades. Mas, como os pirarucus são bem conscientes daquilo que acontece fora da água, pelo menos perto das bordas dos tanques, a água transparente faz com que os peixes percebam a nossa presença, o que influencia seu comportamento. Em tanques com água transparente, grupos maiores de peixes mostram dificuldades em formar casais e reproduzir. Análise subjetiva dessa observação é que a visibilidade maior dentro da água faz com que os peixes não tenham sossego, sentindo e respondendo à presença dos outros peixes ainda longe deles. Acontecem muitas brigas e nada de reprodução. Tanques revestidos com lonas de PVC ou PEAD foram montados para manter água clara com proposta de avaliar as conseqüências. Muitas observações interessantes foram possíveis nesses tanques, incluindo a confirmação do fato de que os machos removam ovos dos seus ninhos, levando e segurando-os na boca por tempo prolongado. A primeira desova inteira capturada do ninho e colocada em uma incubadora em cativeiro saiu de um tanque revestido de plástico. Manipulação de qualidade de água em tanques pequenos revestidos é rápida, facilitando análise do impacto de mudanças químicas e físicas da água. A ideia de fabricar e instalar ninhos artificiais com a esperança de estimular desovas vem de uma técnica improvável utilizada na indústria americana para estimular a reprodução de catfish (animal que por coincidência produz massas de ovos muito parecidas com as do pirarucu). A técnica emprega ninhos artificiais fabricados com latas de leite metálicas. Machos escolhem e defendem essas latas de 20 litros como seus ninhos preferidos. As fêmeas entram para desovar, e os machos chocam as massas de ovos, que ficam colados no fundo. Coleta dos ovos é manual, sendo possível monitorar e coletar ovos de dezenas ou até centenas de “latas” por dia. Vários modelos de ninhos foram fabricados de concreto, madeira e plástico. Nenhum desses ninhos foi utilizado pelos pirarucus. Outra estratégia foi construir armações de madeira de 3m x 3m, enchendo-as de terra e areia e colocando estes ninhos dentro dos tanques revestidos de plástico. Os resultados foram positivos. Essas áreas foram escolhidas pelos pirarucus para escavar seus próprios ninhos. Assim os tanques plásticos, com suas águas transparentes, serviram para facilitar a observação da reprodução e avançar a tecnologia. Os peixes continuaram desovando dentro desses ninhos por três anos consecutivos, mas não com grande freqüência, nem com desovas grandes. Água transparente é interessante para facilitar observação, e boa para incubação de ovos, mas não tem plâncton para sustentar larvas. Aparentemente, o ato da escavação do ninho pelo macho e a aprovação da estrutura pela fêmea é importante; as fêmeas exigem ninhos autênticos, escavados pelo seu parceiro para desovar. Pirarucus gostam de solos firmes, podendo conter areia ou cascalho, e, 27 entrar em áreas apertadas. O sistema seria mais interessante se a área comum fosse menor do que os tanques motéis, ou sem condições para reproduzir. Lembrando que os peixes precisam de substratos adequados (terra firme), e profundidade apropriada (1 metro), poderia montar um sistema onde os hotéis oferecem condições propícias e a área comum não, servindo somente para a fuga de peixes submissos. Com o objetivo de melhorar a eficiência produtiva de um tanque, avaliar a influência da presença de outros peixes além do casal e prevenir lutas mortais foi construído divisores ou cercas de madeira dentro dos tanques. Esses divisores foram equipados com comportas, para poder controlar acesso e contato entre os peixes. Resultados em geral foram piores do que em tanques sem divisores. Uma estratégia que funcionou foi a de colocar três peixes em um tanque de 600 m2com três divisões, com as comportas mantidas abertas. Um casal se formou e reproduziu três vezes em um ano. Os peixes foram vistos se misturando, com lutas acontecendo de vez em quando. O terceiro peixe era um macho que passava a maior parte do seu tempo na área do lado da área escolhida pelo casal para construir seu ninho. Tanques maiores são mais produtivos, mas também mais caros para construir. Avaliação do tamanho ideal de tanques vai depender da disponibilidade e custo de terra, da água e de construção. Logicamente o valor dos peixes produzidos teria que ser considerado. O tanque mais produtivo conhecido foi um de 12.000 m2, onde foram estocados seis peixes adultos. Foi deixada aberta uma saída (manilha de 80 cm), de onde saíram três peixes, ficando outros três, sendo dois machos e uma fêmea. Seis, e possivelmente sete, desovas de uma única fêmea foram registradas nesse tanque em cinco meses. O tanque é mais de 50 vezes maior do que os tanques de 200 m2. Não produz 50 vezes mais do que os tanques menores, mas sua produtividade mostra a potencial produtividade de um casal quando tem espaço maior. Um problema dos tanques maiores é que a observação dos peixes, bem como a captura de ovos, larvas ou alevinos, é bem mais complicada. Resumindo, os sistemas que juntaram muitos peixes não deram bons resultados. Com altas densidades e grupos maiores a confusão não facilita a reprodução, mas pelo menos não acaba em mortalidades. Produção ou engorda de plantéis de reprodutores poderiam trabalhar com densidades altas. Tanques de formação de casais teriam que trabalhar com densidades menores, e em tanques de desova, deveria reduzir para dois ou três peixes. Enquanto um segundo macho com o casal estimula desovas, vários peixes causam confusão. O instinto do pirarucu é de lutar (principalmente entre os machos), e lutas breves e seguras são adequadas para estimular o processo, sendo possível provocar esta situação sem machucar os participantes. *Fora da época reprodutiva a interação social entre animais adultos muda bastante. A convivência é muita mais tranqüila. Casais interagem com outros peixes. Linhas invisíveis que marcam territórios defendidos em lutas mortais durante a época reprodutiva, fora dessa época desaparecem. Os cuidados necessários para proteger peixes durante a época produtiva podem ser relaxados. 30 31 Onde tem adultos juntos, desovas podem acontecer. Enquanto a época de chuva define a época reprodutiva de pirarucu, ocasionalmente podem acontecer desovas fora da época normal. Em regiões onde as épocas de chuva e a da seca são menos distinta, peixes podem estar “preparados” em praticamente qualquer época do ano. Fundamental é a observação dos reprodutores, aprendendo reconhecer as mudanças físicas e comportamentais que acontecem e sinalizam a preparação para a reprodução. Normalmente, no início da época das chuvas as temperaturas são altas. Quando começa a chover, o comportamento dos peixes se modifica. As cores mudam, machos e fêmeas ficam visivelmente mais avermelhados. Sinalizam que estão competindo para estabelecer territórios com pancadas das caudas na superfície da água. Peixes se agregam, nadando em círculos, um em volta do outro. Sem água transparente, poderia não se enxergar este comportamento. Começam a correr um atrás do outro. De repente, dois peixes começam a nadar juntos, um paralelo ao outro. As cores se intensificam. A formação do casal acontece com facilidade, às vezes não se percebe que aconteceu. Dois peixes vermelhos nadando juntos é sinal provável do acasalamento. Agora lutas com outros peixes são mais freqüentes e mais agressivas. Turbulência forte na beira do tanque mostra onde um peixe está atacando outro. O casal já formado luta para se manter. Casais formados podem reproduzir logo em seguida, principalmente aqueles formados no meio da época reprodutiva. Ou, esses comportamentos podem durar semanas. Sem estímulos ambientais ou as condições básicas adequados, o processo parece estacionar, sem prosseguir para a próxima etapa. Manchas de água turva aparecerão na hora dos peixes escavarem seus ninhos, tipicamente perto da beira do tanque. É o serviço principalmente do macho; a fêmea pode participar. Ele já está mais vermelho do que ela. Às vezes aparece a cauda dele fora da água, ou pelo menos cria uma turbulência na superfície enquanto escava com sua boca. A boca do macho fica avermelhada, machucada pelo serviço. Os peixes respiram com maior freqüência devido ao exercício físico envolvido, subindo a cada cinco minutos ou menos enquanto trabalham. Agora as lutas com outros peixes podem ser bem agressivas. Ninhos são defendidos com muita seriedade. Às vezes uma desova é depositada em um ninho recémescavado. Tipicamente, escavação e acabamento de ninhos é trabalho mais prolongado, podendo durar uma a algumas semanas antes de receber a primeira desova. A manutenção de ninhos é serviço intermitente durante a estação inteira, até cinco meses do ano. Perceber que tem um casal escavando um ninho é importante. Tipicamente o “ninho principal” acaba sendo mantido durante a estação inteira, e às vezes por vários anos em seguida. Marcar o local exato do ninho é interessante, pois é o local onde a captura de ovos ou larvas pode ser feita, e é necessário saber onde os peixes estão para poder avaliar seu comportamento. Às vezes dois ou três ninhos são escavados, um perto do outro, sendo nesse caso um “local principal”, e não um ninho único. Preparação para as Desovas 32 Não se deve raspar a peneira no fundo do ninho para evitar esmagar as larvas. Um movimento com a mão livre para empurrar água com as larvas dentro da peneira (sem encostar a mão no ninho) funciona bem. Devem ser transferidos para uma bacia, sendo importante não tirar as larvas da água, depois as larvas com a água da bacia podem ser despejadas dentro de um saco ou outro contêiner. Ovos, larvas e alevinos agüentam bem o transporte em sacos fechados com oxigênio. Precisa manter água de transporte e de tanques recipientes saturados com oxigênio dissolvido, perto de 7 ppm (veja Foto). Cuidados normais empregados com outros peixes tropicais devem ser observados, mantendo a temperatura do tanque original (normalmente de 28 a 300C), evitando choque térmico e outras mudanças bruscas entre a água do tanque de origem a água de transporte e a água de tanques recipientes. Assim, a água deve ser trocada aos poucos na hora de soltar. Larvas recém nascidas Captura de Larvas do Ninho Larvas dois dias pós-eclosão 35 Uma estratégia, que é mais prática para produtores menos experientes, a é de capturar larvas na hora que saem do ninho. É relativamente fácil enxergar o momento em que as larvas saem do ninho, pois o macho muda de cor, ficando preto. Ele sobe com as larvas em volta dele, e sai nadando lentamente pela superfície do tanque. Nesse momento, as larvas são lentas e vulneráveis, a prole fica fácil de capturar. Como as larvas ainda não estão se alimentando, não é necessário se preocupar com a presença de comida nos tanques delas. É um momento propício para realizar a captura. Devem ser capturadas sem passar o segundo dia, pois o consumo do saco vitelino acaba e precisam ser alimentadas imediatamente, quando seu sistema digestivo termina sua formação. Larvas devem ser capturadas de manhã para evitar temperaturas elevadas da água superficial. Ferramenta preferida é puçá de 60 a 80 cm diâmetro, com cabo leve e comprido (4 m) e tela resistente de 1 mm ou menos. Um lance perfeito com o puçá captura todas as larvas da desova em uma vez (veja Foto). É importante evitar bater no macho com o puçá, pois um susto grande pode fazer com que ele abandone a prole, que pode se perder. O puçá com as larvas não devem ser removidos da água, sendo possível remover lãs do puçá com uma bacia, trazendo água e larvas juntas dentro da bacia com água. Em seguida, são colocados dentro de um saco de transporte ou outro contêiner adequado, observando os cuidados descritos para ovos ou larvas. Captura de pós-larvas com puçá 36 Tanque Redondo de 1.000 l com Alevinos de 10 cm Larvas dentro do laboratório poderiam ser alojadas em tanques redondos ou calhas, sendo que uma superfície interna lisa, como de plástico, fibra de vidro, pedra, ou aço inox é importante. Tanques redondos são preferidos, pois facilitam limpeza. Tanques redondos de 1.000 a 1.500 litros funcionam bem e servem para todas as fases do processo (veja Foto). Tanques maiores podem ser interessantes para alevinos maiores. Devem ser equipados com uma saída de 1,5 ou 2 polegadas no centro do tanque, com cano vertical furado no centro e o externo com cotovelo móvel para poder regular o nível do tanque. Entrada pode ser de 1,5 ou 2 polegadas. Telas removíveis de tamanhos diferentes, confeccionadas em tubos e colocadas em volta do cano furado servem para conter os peixes de tamanhos diferentes, deixando passar sujeira. A tela adequada para larvas recém- eclodidas é de menos de 1 mm. Até 10.000 larvas recém-eclodidas podem ser estocadas em um tanque de 1.500 litros. O nível da água deve ser mantido em 20 a 40 cm de profundidade. Depois de começar a se alimentar bem, com 10 dias após a eclosão, deve-se reduzir a densidade pela metade, ou de 3.000 por m3, aumentando a profundidade para 40 a 80 cm. Para manter peixes de cinco cm no laboratório, é recomendado reduzir a densidade para 2.000 por m3. Com oito cm, uma densidade de 1.000/ m3 é apropriada. Larvas e pós-larvas precisam de bons níveis de oxigênio dissolvido, perto da saturação, e sem ser supersaturada. Pequenos alevinos começam a respirar ar com poucos dias de vida, mas a transição da respiração aérea não é imediata. Depois de 12 a 15 dias após a eclosão, os peixes não precisam mais de oxigenação ou aeração da água. Água deve ser limpa e livre de sólidos em suspensão. As brânquias de larvas de pirarucu são externas, e bem sensíveis a problemas de qualidade de água como amônia elevada, oxigênio baixo e água turva. Sujeira deve ser aspirada do fundo pelo menos duas vezes por dia. Evitam correntezas de água, exceto na hora de limpar os tanques, quando rotação suave da água dos tanques pode ser utilizada para remoção de sujeira. Limpeza deve incluir todas as superfícies e a tela. Renovação de água para larvas de uma troca por hora é suficiente. É necessário aumentar a renovação de água comensurada com o tamanho dos peixes. Depois do 5º dia após a eclosão, as larvas começam se alimentar. Aceitam náuplias de artemia ou zooplâncton de menos de 200 micras. Espécies de zooplâncton menores são Larvicultura e Alevinagem em Laboratório 37 Zooplâncton é o grupo de animais aquáticos bem pequenos que aparecem em corpos de água naturais e tanques escavados, e são alimentos naturais e perfeitos para alevinos de pirarucu. Produção de zooplâncton é prolífico, e pode ser capturada em tanques de engorda de outros peixes, ou em tanques especializados para esse fim. Tanques não recebendo ração devem ser adubados. Zooplâncton é facilmente capturado, puxando uma rede de plâncton. Redes de plâncton podem ser confeccionadas (veja desenho): Produção de Zooplâncton Fabricação de Rede de Plâncton 40 Uma armação fabricada de ferro redondo (barra de 3m) de 1/4 a 3/8 polegadas deve ser dobrada e amarrada ou soldada nos pontos para formar um retângulo de 1 m x 50 cm, e serve como boca da rede. A tela deve ser de 100 a 200 micras, sendo que um material barato e adequado é tecido chamado de organza, facilmente disponível em lojas de tecidos. O tecido deve ser cortado e costurado em forma de cone, com aplicação de cola de sapato nas emendas para vedar e fortalecer. Uma garrafa de 2 litros, com fundo cortado é amarrando no final do funil da rede com borracha, serve para esvaziar o conteúdo. Duas garrafas PET amarradas na parte superior da armação servem como boias, com uma corda comprida para puxar. O Plâncton fica concentrado na garrafa no fundo da rede, e deve ser colocado em baldes de 20l com água para transporte rápido até o laboratório, onde pode ficar estocado por algumas horas em incubadoras, tanques com aeração ou sacos com oxigênio. Melhor é alimentar com zooplâncton recém capturada. Produção de zooplâncton pode ser realizada através de adubação orgânica e/ou química da água. As possíveis receitas para produção de zooplâncton são infinitas. Basicamente, produção eficiente de zooplâncton requer produção de fitoplâncton, as microplantas que esverdeiam a água e que servem como base da cadeia alimentar. O zooplancton consome o fitoplâncton. Correção de pH estimula a produção dos plânctons, e geralmente aplicações de 1 a 4 toneladas de calcário agrícola por hectare são necessários para aumentar alcalinidade da água para 20 a 30 mg/l. É necessário aplicar macronutrientes para produzir fitoplâncton, sendo N (nitrogênio), P (fósforo) e K (potássio). Importantes são o N e P. Aplicação de adubos químicos na forma de fertilizantes agrícolas é eficaz e conveniente. Aplicação de matéria orgânica pode ser utilizada para acelerar e aumentar produtividade de plâncton. Matéria orgânica fornece outros micronutrientes que adubam a produção de fitoplâncton, estimula produção de uma grande variedade de outros microrganismos que o zooplâncton é capaz de ingerir e as partículas de matéria orgânica são consumidas diretamente pelo zooplâncton, dando uma resposta mais rápida. Popular entre produtores de alevinos são as farinhas de origem animal e os farelos vegetais (carne, sangue, arroz, semente de algodão, entre outros), e estercos (boi, cama de frango etc.). Melhor opção dependerá da disponibilidade e do custo dos vários materiais. Quantidade de adubos aplicada em tanques sem peixes vivos pode ser mais liberal, sendo que não tem perigo de matar os peixes. Produtos devem ser bem distribuídos nos tanques. Muitos produtores preferem misturar os materiais em água antes de lançar nos tanques, principalmente os adubos químicos. Adubação pesada é capaz de produzir plâncton suficiente para 100.000 alevinos de pirarucu em um hectare de água (10.000 m2) durante uma estação. De adubo: 200 kg de P, 300 kg de N (lembrando que esses produtos são diluídos, 200 kg de P significa 1.000 kg de produto de 20% pureza), e quatro toneladas de farinha de carne seriam suficientes, distribuídas ao longo do ano. Substituindo outros farelos vegetais com menos proteína, teria que aplicar mais (5 a 6 toneladas), com mais ainda de esterco seco (10 a 15 toneladas). Requerimentos variam, pois a variabilidade entre a qualidade de água, de solo, de materiais, de adubação prévia do tanque etc., é grande. Avaliação diária da produção de plâncton e o consumo dos peixes definem a necessidade em aumentar ou diminuir aplicações e área dedicada à produção de plâncton. 41 Ensinar peixes carnívoros a se alimentarem exclusivamente de rações secas é atividade bastante complicada para algumas espécies, menos com outras. Pirarucu deve ser uma das espécies mais fáceis de todas, sendo que o animal não é totalmente carnívoro. O fato de o pirarucu ser peixe filtrador, que continua consumindo zooplâncton por muitos meses, facilita muito esse trabalho. Técnicas complexas utilizadas com outras espécies de peixes carnívoras, envolvendo fabricação de uma seqüência de rações úmidas, que contem peixe moído ou outras carnes, não são necessárias. A transição de zooplâncton para ração comercial no caso de pirarucu é direta. Fundamental em desenvolver esse processo simplificado foi a identificação do “período crítico” para realizar a transição. Existe um momento certo em que os peixes mudam de comportamento e fica fácil executar a transição com peixes desse tamanho, que é de +/- sete cm. Pós-larvas pequenas de pirarucu formam cardumes bem organizados por instinto. Seu comportamento alimentar é de nadar em frente, um peixe ao lado do outro, um para cima, outro para baixo, cada um abrindo e fechando a boca, sem identificar visualmente sua presa (veja Foto). O grupo é eficiente e a distribuição dos alimentos disponível é justa. Cada indivíduo não tem vantagem sobre o outro, pois a entrada do zooplâncton na boca é cega e aleatória. Assim, o grupo não para. Continua em frente. Apresentação de ração enquanto os peixes se alimentam assim é fútil, pois os peixes não param para olhar e a maior parte da ração seria desperdiçada, caindo até o fundo e poluindo o tanque. Quando atinge um tamanho de 7 cm, os peixes começam a procurar presas individuais, parando para olhar e catar organismos da água. Este é o momento correto para começar a realizar o “treinamento” (veja Foto). Treinamento alimentar Cardume de Pirarucu de 3 cm Procurando Plâncton Peixes de 7 cm Prontos Para Treinamento Alimentar 42 Alevinos de pirarucu podem ser transportados em tanques de transporte ou em sacos com oxigênio (veja Fotos). Não precisam de cuidados especiais em sacos de transporte. Em caixas de transporte, não precisam de oxigênio ou aeração. Não é necessário adição de sal em água de transporte. Como é necessário manter um espaço aberto para respiração aérea, a tendência da água é balançar dentro do tanque parcialmente cheio, o que é perigoso para os peixes. Estratégia que funciona bem é a de colocar e inflar uma câmara de ar de caminhão dentro da caixa, fazendo com que a câmara fique flutuando na água, apertando a parte superior do tanque. Assim, a água não balança muito, e fica aberto o espaço no centro para respiração. Com renovações adequadas para manter água limpa, esse sistema é utilizado para transportar alevinos de pirarucu de longas distâncias sem mortalidades. Sacos Fechados: Peixes pequenos de 10 a 14 cm: 50-75 gramas por litro de água, com 25% água e 75% oxigênio Peixes maiores de 15 a 20 cm: 75-100 gramas por litro de água, com 25% água e 75% oxigênio Caixas abertas: Peixes pequenos de 10 a 14 cm: 20-30 g por litro de água Peixes maiores de 15 a 20 cm: 30-40 g por litro de água Densidades Máximas Recomendadas para Transporte São: Saco plástico com alevinos de pirarucu Tanque de transporte com câmara de ar 45 Informações vindas de histórias e principalmente de observações diretas de pirarucu em cativeiro, acabaram estimulando muitas teorias sobre a reprodução dessa espécie. Essas teorias tiveram que ser testadas e verificadas. O entendimento da natureza da reprodução de pirarucu foi aplicado na formação de estratégias sobre como industrializar a produção de alevinos de pirarucu. Assim, juntaram-se os pedaços desse grande quebra- cabeça, que acabam descrevendo uma tecnologia adequada para orientar uma atividade bastante complexa. Alevinos de pirarucu produzidos em cativeiro mostram sobrevivência e produtividade muito superior aos peixes capturados na natureza. A oportunidade para desenvolver projetos com melhoramento genético de pirarucu é clara, prometendo melhorar ainda mais a qualidade de peixes produzidos em cativeiro. A sobrevivência dessa espécie na natureza dependerá da continuação do processo de seleção natural, que vem funcionando durante os 300 milhões de anos de existência do pirarucu. Vale reforçar a importância de se respeitar as leis ambientais referentes a pesca de pirarucu, não se praticando a captura ilegal dessa espécie maravilhosa! Acreditamos que avanços com a tecnologia sustentável da piscicultura são fundamentais para o futuro dessa espécie e de todas as espécies aquáticas. Esse trabalho é oferecido com a esperança de que nessas ideias sobre o pirarucu sejam úteis para quem deseja trabalhar com seriedade com reprodução desse animal. Acreditamos que este documento sirva para orientar produtores novatos e esclarecer algumas dúvidas de produtores mais experientes. Apesar disso, não é tão simples quanto uma receita de bolo. A atividade não é para qualquer pessoa. O assunto é complexo, e a produção de peixe dá muito trabalho! As responsabilidades envolvidas em produzir alevinos de pirarucu são muitas e constantes. Os peixes não vão reproduzir o ano todo, mas os cuidados não param. Peixes não tiram férias! Existem produtores responsáveis que vão obter sucesso com a atividade, e outros que não vão realizar os cuidados necessários para que a atividade seja viável econômica e ecologicamente. Todos os detalhes envolvidos na produção de alevinos de pirarucu descritos neste documento representam soluções a para os muitos problemas sentidos durante as tentativas de descobrir como fazer o pirarucu reproduzir, como produzir mais, como perder menos e, finalmente como simplificar todo processo. O resultado é que ficou muito mais fácil produzir. Sofremos enquanto os peixes não reproduziram, quando aconteceram mortalidades, mas nunca desistimos. Sempre achamos soluções que deixaram o trabalho mais rentável, menos frustrante e menos trabalhoso. “Se problemas acontecem, significa que algo errado está sendo feito e que pode ser resolvido”. Como produtor, esta mantra deve ser seu guia. Esperamos que as teorias divulgadas e os desafios sugeridos sirvam para estimular outras investigações e pesquisas. Enquanto várias observações e aprendizagens já foram transformadas em estratégias práticas, atualmente sendo aplicadas na produção de alevinos de pirarucu, certamente teria muito espaço para novas descobertas, esclarecimentos e melhoramento da tecnologia. Continuaremos trabalhando com o objetivo de aperfeiçoar as tecnologias aplicadas na produção de pirarucu em cativeiro, acreditando em um grande futuro para essa espécie. Comunicações serão bem-vindas, sabendo que juntos sempre conseguiremos realizar mais nossos objetivos. Martin Halverson Comentários do Autor 46 Alevinos saudáveis pronto para entrar na engorda 47
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