Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Manejo Ecológico do Solo, Notas de estudo de Engenharia Florestal

Apostila muito boa que fala sobre as práticas do manejo ecológico do solo cuja importância está relacionada com a utilização racional dos recursos naturais e uma base de agricultura sustentável e autoeficiente, pois o modelo de produção convencional poucas vantagens e uma série de problemas para o agricultor.

Tipologia: Notas de estudo

2011

Compartilhado em 06/04/2011

kellyson-reis-mota-12
kellyson-reis-mota-12 🇧🇷

5

(2)

12 documentos

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Manejo Ecológico do Solo e outras Notas de estudo em PDF para Engenharia Florestal, somente na Docsity! Manejo Ecológico do Solo Tereza Cristina de Oliveira Saminêz1 Francisco Vilela Resende2 Introdução Nos sistemas naturais a ciclagem dos nutrientes ocorre através dos processos de formação e decomposição da biomassa vegetal (fluxo orgânico) e através das entradas e saídas de nutrientes por via não orgânica (fluxo mineral). O fluxo mineral é decorrente da ação de agentes físicos, sendo as entradas via chuva, vento e decomposição de rochas e as saídas por lixiviação, erosão e fixação (a curto prazo). Os ecossistemas naturais possuem mecanismos para minimizar as perdas de nutrientes, sobretudo na vegetação (Khatounian, 2001). Nos agroecossitemas as principais saídas do fluxo mineral se dão por lixiviação, erosão e exportação pelas culturas, e as entradas por fertilizantes e corretivos. A capacidade de reserva de nutrientes dos solos, retenção de nutrientes no complexo coloidal e matéria orgânica (MO), será maior quanto maior a presença de argilas do tipo 2:1 e teor de MO. Para os solos mais intemperizados, pobres em argilas 2:1 e MO, como os de cerrado, maior é a importância do fluxo orgânico de nutrientes. A preservação dos nutrientes nos solos dependerá diretamente do manejo do solo e da biomassa vegetal. Assim, dependendo do manejo da biomassa vegetal dada pelo produtor, maior ou menor será a quantidade de nutrientes a serem incorporados ao sistema, via adubação (fluxo mineral). Segundo Hernani et al. (1995), como alternativas de manejo da biomassa vegetal têm-se a rotação e consorciação de culturas, e o uso de espécies de adubos verdes. Preparo do solo O conceito de solo como um corpo predominantemente mineral, morto, focalizado no manejo agroquímico e como mero substrato para as plantas deve ser abandonado pelo olericultor que se adentrar ao sistema orgânico de produção. Na linha de raciocínio da agricultura orgânica o solo deve ser encarado como um organismo vivo e sua fertilidade baseada em aspectos físicos, químicos e também biológico, que no modelo convencional de agricultura é relegado a um segundo plano. Na olericultura convencional trabalha-se com intensa movimentação do solo para construção de canteiros, leiras, abertura de covas e sulcos, muitas vezes utilizando-se de intensa mecanização, que resultam na degradação física e desequilíbrio biológico do solo. No sistema orgânico de produção de hortaliças deve- 1 Engª Agrª, Msc em Agronomia, Área de Concentração Solos, Pesquisadora da Embrapa Hortaliças. Caixa Postal 218, CEP 70359-970 - Brasília –DF. E-mail: tereza@cnph.embrapa.br. 2 Eng° Agrº, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador da Embrapa Hortaliças. E-mail: fresende@cnph.embrapa.br Os tópicos bases e princípios de sistemas orgânicos, Planejamento da horta e Requisitos básicos para produzir organicamente foram adaptados do texto de Carlos Armênio Khatounian. 2 se adotar uma abordagem conservacionista, evitando-se a mobilização excessiva e compactação do solo. O preparo do solo no primeiro ano de cultivo deve basear-se em aração, gradagem e levantamento dos canteiros (Sudo et al., 1997). Nos anos subsequentes evitar, na medida do possível, o uso de enxada rotativa e outros implementos que causem degradação excessiva de solo. Recomenda-se um sistema de preparo de solo com mecanização reduzida, deixando-o sempre protegido por cobertura morta ou verde. Os canteiros devem ter de 0,80 m a 1,0 m de largura, 15 a 20 cm de altura e estar distanciados uns dos outros em aproximadamente 30 cm (Vieira et al., 1997). Para hortaliças de canteiro ou leiras como alface, cenoura, alho, rúcula, batata-doce, mandioquinha-salsa, etc, o olericultor orgânico pode trabalhar com canteiros ou camalhões semi-defintivos reduzindo a freqüência de máquinas e implementos nas áreas de produção. Desta forma, os canteiros são apenas reparados com enxadas, após cada cultivo. A adubação orgânica é aplicada sobre os canteiros ou leiras e sua incorporação feita pelos próprios organismos do solo. O cultivo mínimo ou plantio direto é feito sobre a cobertura morta da cultura anterior, normalmente adubos verdes ou restos culturais, sem que seja feito um novo preparo de solo. As espécies a serem usadas como cobertura morta devem ser selecionadas segundo seu potencial de formação de palhada. Coquetéis de gramíneas e leguminosas, além de espécies de adubos verdes, podem ser utilizados como formadores de palhada. Para isto é necessário aguardar até que as plantas completem seu ciclo. São relatados com bons resultados os exemplos do plantio de tomate e pimentão sobre palhada de aveia preta, e vagem e pepino sobre palhadas de gramíneas. O cultivo mínimo e plantio direto são usados para cultivo orgânico de hortaliças plantadas em covas e/ou sulcos como brássicas, cebola, pimentão, quiabo, berinjela, jiló, tomate, promovendo revolvimento mínimo do solo e usados espécies adequadas para formação de palhada. Fertilidade do solo A produção de hortaliças é uma atividade extremamante desgastante quanto à fertilidade do solo. Apenas as forrageiras de corte, plantas para produção de silagem ou feno causam maior impacto na fertilidade do solo do que as hortaliças. Este desgaste se dá pelo uso intensivo do solo e retirada elevada de biomassa e nutrientes da área (Esquema 1). Portanto, ao iniciar o cultivo orgânico de hortaliças em uma área, é fundamental a realização da análise química do solo para verificar seu pH e teores totais de nutrientes e de matéria orgânica. Ao longo dos anos, análises periódicas devem ser realizadas com o objetivo de acompanhar possíveis oscilações do pH e dos teores de nutrientes totais. A manutenção do solo em equilíbrio é o foco principal dos sistemas orgânicos de produção e a análise periódica do solo é o principal instrumento de acompanhamento deste fator, além de fornecer os suportes para seu restabelecimento. A correção do solo ou calagem deve ser realizada três meses antes do plantio. Recomenda-se usar calcário dolomítico de boa qualidade e em quantidades nunca superiores a duas toneladas por hectare, por ano (Brasil, 1999). A elevação 5 O uso de estercos animais puros na olericultura orgânica é menos comum que nas formas compostadas por questões de ordem econômica e sanitária. Na cultura da cebola Pereira et al. (2002) avaliaram o uso esterco de curral (10, 20 e 40 t/ha) e esterco de galinha (5, 10 e 20 t/ha). Utilizando a cultivar CNPH 6400, no espaçamento de 0,25 x 0,25 cm, os autores mostraram que o esterco de curral na dose de 20 t/ha apresentou os melhores resultados para os caracteres: stand de plantas/m2, peso total de plantas/m2, peso total de bulbos/m2 e produção de total de bulbos do tipo I. Tabela 1. Relação C/N e teores de N, P e K em fertilizantes orgânicos. MATERIAL C/N N P K Esterco de carneiro Esterco de gado Esterco de galinha Esterco de porco Composto Palha de milho Palha de arroz Palha de feijão Capim colonião Grama Crotalária (C. juncea)* Guandu* Mucuna preta* Serragem de madeira 15:1 18:1 10:1 10:1 10:1 112:1 39:1 32:1 27:1 36:1 26:1 29:1 22:1 865:1 2,13 1,92 3,04 2,54 1,00 0,48 0,78 1,63 1,87 1,39 1,95 1,81 2,24 0,06 1,28 1,01 4,70 4,93 0,80 0,38 0,58 0,29 0,53 0,36 0,40 0,59 0,58 0,01 3,67 1,62 1,89 2,35 0,80 1,64 0,41 1,94 - - 1,81 1,14 2,97 0,01 * Dados de florescimento em % na matéria seca. Adaptado de Kiehl (1985) Tabela 2: Composição química (base seca) de alguns restos vegetais de interesse como matéria-prima para o preparo de fertilizantes orgânicos. Material Matéria Orgânica % N % C/N P2O5 % K2O Abacaxi: fibras 71,41 0,90 44/1 traços 0,46 Arroz: cascas 54,55 0,78 39/1 0,58 0,49 Arroz: palhas 54,34 0,78 39/1 0,58 0,41 Aveia: cascas 85,00 0,75 63/1 0,15 0,53 Aveia: palhas 85,00 0,66 72/1 0,33 1,91 Café: cascas 82,20 0,86 53/1 0,17 2,07 Café: palhas 93,13 1,37 38/1 0,26 1,96 Capim-gordura 92,38 0,63 81/1 0,17 - Capim-guiné 88,75 1,49 33/1 0,34 - Capim-jaraguá 90,51 0,79 64/1 0,27 - Capim-meloso 90,00 0,70 75/1 0,22 0,5 Capim-mimoso 93,69 0,66 79/1 0,26 - Capim-napier-verde 96,00 1,40 40/1 0,33 0,76 Capim-pé-de-galinha 86,99 1,17 41/1 0,51 - Crotalária juncea 91,42 1,95 26/1 0,40 1,81 Eucalipto: resíduos 77,60 2,83 15/1 0,35 1,52 Feijão-de-porco 88,54 2,55 19/1 0,50 2,41 Feijão-guandú 95,90 1,81 29/1 0,59 1,14 Feijoeiro: palhas 94,68 1,63 32/1 0,29 1,94 Labelabe 88,46 4,56 11/1 2,08 - 6 Milho: palhas 96,75 0,48 112/1 0,38 1,64 Mucuna-preta 90,68 2,24 22,1 0,58 2,97 Serragem de madeira 93,45 0,06 865/1 0,01 0,01 Fonte: Adaptado de KIEHL (2001) e SOUZA (2002). Tabela 3: Teores de macro e micronutrientes de diversos resíduos orgânicos. C N P2O5 Ca Mg K2O Na Fe Mn Cu Zn Resíduo C/N % Ppm Vinhaça 14 1,3 0,09 0,005 0,06 0,03 0,26 37 55 6 1,4 3,8 Torta de filtro 29 7,9 0,27 0,63 0,26 0,13 0,07 92 10960 190 19 49 Torta/mamona 6 30,1 5,5 1,99 5,37 0,59 1,44 207 1420 55 80 141 Esterco de gado 13 19,4 1,53 0,53 0,83 0,34 1,16 1700 3623 196 8 57 Esterco de aves (cama) 20 32,5 1,60 1,50 2,33 0,78 1,76 - 3.125 550 21 266 Fonte: Adaptado de FUNDAÇÃO CARGILL (1983) e SOUZA (2002). Tabela 4: Composição média e relação de proporção de NPK para diversas fontes de fertilizantes orgânicos e minerais. % na matéria seca Fertilizantes Orgânicos N P K Proporção NPK Cinzas - 2,5 10 0-1-4 Fosfato de Araxá - 30 - 0-3-0 Ossos carbonizados - 35 - 0-3,5-0 Torta de Mamona 5,0 2,0 1,1 5-2-1 Torta de Algodão 6,0 3,0 1,4 4-2-1 Cascas de Café 1,7 1,4 3,7 12-1-26 Esterco de Cavalo 0,7 0,4 0,3 2-1-1 Esterco de Coelho 2,0 1,3 1,2 1,5-1-1 Esterco Bovino de Curral Curtido 5,0 2,5 5,0 2-1-2 Esterco Bovino Seco 2,0 1,5 2,2 1,5-1-1,5 Esterco de Ovelha 2,0 1,0 2,5 2-1-2 Esterco de Cabra 3,0 2,0 3,0 1,5-1-1,5 Esterco de Galinha 4,0 4,0 2,0 2-2-1 Resíduo de Esgoto 2,0 1,5 0,5 4-31 Bagaço de Cana 0,3 0,03 0,02 14-1-1 Borra de Café 1,8 0,1 0,01 176-9-1 Farinha de Ossos Crua 2,0 20,0 - 1-10-0 Guano 2,5 8,8 1,1 2-8-1 Serragem de Madeira 0,06 0,01 0,01 6-1-1 Lixo Curtido 1,1 0,3 0,6 3-1-2 Palha de Arroz 0,8 0,6 0,4 2-1-1 Palha de Café 1,4 0,2 2,0 5-1-7 Feijão (sementes) 2,6 0,5 2,4 5-1-5 Palha de Feijão 1,6 0,3 1,9 6-1-7 Guandu – sementes 3,6 0,8 1,8 4-1-2 Cascas de Mandioca (raiz) 0,4 0,3 0,5 1-1-1 Milho (palha) 0,5 0,4 1,6 1-1-4 7 Mucuna (sementes) 3,9 1,1 1,4 4-1-1 Fonte: Adaptado de DADONAS (1989), citado por PECHE FILHO & DE LUCCA (1997) Tabela 5: Composição típica de materiais orgânicos de origem animal, vegetal e agroindustrial (sem secar) utilizados como adubos orgânicos. U* C N P K Ca Mg S Zn Cu Cd Ni Pb Material Orgânico C/N g/kg mg/kg Esterco bovino fresco 20 620 100 5 2,6 6 2 1 1 33 6 0 2 2 Esterco bovino curtido 21 340 320 15 12 21 20 6 2 217 25 0 2 1 Esterco de galinha 10 550 140 14 8 7 23 5 2 138 14 2 2 17 Esterco de porco 9 780 60 7 2 5 12 3 - 242 264 0 2 3 Torta de filtro 27 770 80 3 2 0,6 5 0,8 3 20 13 - - - Torta de mamona 10 90 450 45 7 11 18 5 - 128 73 - - - Mucuna 20 870 60 3 0,6 3 2 0,4 - 6 3 - - - Crotalária juncea 25 860 70 2,8 0,4 3 2 0,4 - 2 1 - - - Milho 46 880 60 1,3 0,2 3 0,5 0,2 - 3 1 - - - * U- Umidade; Fonte: Raij et al., 1996. O esterco de aves é um adubo orgânico bastante solúvel com rápida disponibilização de nutrientes para as plantas. Leal & Silva (2002) compararam o esterco bovino e a cama de aviário na adubação de pimentão orgânico cultivado em ambiente protegido e em céu aberto. Foi utilizada a cultivar Cascadura Ikeda, com transplante das mudas em duas linhas por canteiro espaçadas de 0,5 m entre si. Na adubação de plantio, aplicou-se 250g de cama de aviário ou 500g de esterco bovino, 40g de calcário dolomítico, 20g de termofosfato de Yoorin e 20g de cinza. Na adubação de cobertura, realizada aos 60 dias após o plantio, utilizou-se 250g de cama de aviário ou 500g de esterco bovino. Os resultados obtidos mostraram melhor produção para a adubação de plantio com esterco bovino e de cobertura com cama de aviário. Composto O composto orgânico é o produto final da decomposição aeróbia (na presença de ar) de resíduos vegetais e animais. A compostagem é o processo de degradação de resíduos orgânicos em húmus, quando empregadas as técnicas adequadas de manejo. Trata-se de uma prática muito comum na olericultura orgânica, que visa o melhor aproveitamento da matéria orgânica e sua desinfecção contra certas pragas. O composto orgânico funciona como excelente estruturador do solo, favorecendo um rápido enraizamento, aumentando a saúde e resistência das plantas. A transformação dos resíduos ocorre, principalmente, através da ação de organismos, podendo ser subdividida em duas etapas: física (desintegração – quebra mecânica dos resíduos) e química (decomposição e transformação da biomassa – os resíduos são primeiramente decompostos em suas unidades estruturais básicas por enzimas extracelulares e posteriormente absorvidas e 10 Esquema 3. Montagem da meda de composto. O material a ser compostado deve ser dividido em quatro (4) camadas. Na formação de cada camada coloca-se primeiro o material mais fibroso ou de tamanho maior. A composição de cada camada da pilha de composto é indicada abaixo. 4a camada Capim triturado Capim roçado Yoorin master 3a camada Cama de matriz Capim triturado Capim roçado Yoorin master 2a camada Cama de matriz Capim triturado Capim roçado Yoorin master 1a camada Cama de matriz Capim triturado Capim roçado Tabela 7. Teores de macro e micronutrientes de fontes de matéria orgânica. Embrapa Hortaliças, 2003. Ca Mg K P S Cu Zn Fe Mn B Amostras g/kg mg/kg Cama de Matriz 29,96 7,98 20,35 18,69 4,67 145,90 214,90 3524,00 357,20 34,39 Capim Napier 6,53 3,14 13,15 1,92 1,08 11,00 48,80 1444,0 92,20 10,47 Braquiária 8,93 2,68 3,88 1,65 2,74 8,40 13,10 5465,0 96,60 19,44 Composto 1* 46,24 8,46 9,69 12,09 7,70 54,80 182,40 33366,0 648,70 41,87 Composto 2** 73,85 11,38 17,83 17,86 8,78 69,50 245,70 21876,0 656,60 70,28 Composto de Farelos 55,14 12,74 12,38 16,49 17,67 29,30 80,80 7449,0 398,60 26,92 Esterco Bovino 8,70 5,32 13,78 5,08 13,11 27,50 55,50 132540 444,0 31,40 * Composto 1 – cama de matrizes de aves pobre ** Composto 2 – cama de matrizes de aves rica 11 Adubação verde A prática de adubação verde consiste no aproveitamento de plantas cultivadas ou crescidas esporadicamente no próprio local ou importadas de outra área, deixadas, preferencialmente, na superfície do solo, com a finalidade de preservar e/ou melhorar a fertilidade das terras agrícolas (Chaves & Calegari, 2001). O uso de plantas leguminosas como adubo verde são fundamentais em sistemas orgânicos de produção, pois permitem a melhoria das condições químicas, físicas e biológicas do solo, destacando-se a fixação biológica de nitrogênio, elemento essencial ao crescimento das plantas. A terminologia adubação verde está fortemente associada à aplicação de espécies de plantas da família das leguminosas, pelo benefício adicional da fixação biológica de nitrogênio. Mas hoje já são usadas espécies de outras famílias de plantas que também possuem potencial de uso como espécies de adubos verdes. Levando-se em consideração a cultura comercial, a adubação verde pode ser classificada em: adubação verde em rotação (plantio de espécies de adubos verdes no verão ou inverno, cobrindo o solo por um período de 4 a 6 meses, prática utilizada no preparo de solo no cultivo de plantas perenes), adubação verde em consórcio (adubo verde plantado em consórcio com a cultura principal), adubação verde em sucessão (plantado logo após a cultura principal), e adubação verde em áreas de pousio temporário (viável em áreas degradadas ou que não estão incorporadas ao processo produtivo) (Guerreiro, 2002). Cabe complementar, que as espécies de adubos verdes podem ser usadas isoladamente ou em conjunto (coquetel). O coquetel de adubos verdes é a mistura de espécies pertencentes a diferentes famílias, que possuam diferentes hábitos de crescimento (arquitetura da parte aérea) e ocupam diferentes estratos do solo (desenvolvimento do sistema radicular). A seleção e o manejo da espécie de adubo verde a ser plantada, dependerá do objetivo pretendido. Na maioria das vezes, procura-se espécies de crescimento rápido, com boa cobertura do solo e com grande produção de biomassa vegetal. Geralmente, a incorporação é realizada na época do florescimento, período de maior produção de biomassa e fixação de N. Para obter material de decomposição mais rápida, fazer incorporação antes do florescimento e para obter material de decomposição mais lenta, deixar as espécies em pé mais tempo. A produção de matéria fresca, seca e extração de nutrientes da parte aérea de algumas espécies de adubos verdes são apresentados na figura 1 e tabela 8, respectivamente. Algumas espécies de adubos verdes apresentam tolerância à acidez do solo, dentre elas destaca-se o feijão bravo do Ceará (Canavalia brasiliensis), o feijão de porco (Canavalia ensiformes) e mucuna preta (Mucuna aterrima). As espécies de adubos verdes apresentam comportamentos diferentes, de acordo com o ambiente. No verão, as principais espécies de adubos verdes mais utilizadas são: mucuna preta (Mucuna aterrima), Crotalaria juncea, Crotalaria ocroleuca, Crotalaria spectabilis, Crotalaria paulina, feijão-de-porco (Canavalia ensiformis), guandu (Cajanus cajan), girassol (Helianthus annus), milheto (Pennisetum glaucum) e sorgo forrageiro (Sorghum bicolor). No inverno, as principais espécies utilizadas são: aveia 12 preta (Avena strigosa Scheb), nabo forrageiro (Raphanus sativus), ervilhaca (Vicia sativa) e ervilha forrageira (Pisus arvense). Na agricultura orgânica, muitos produtores têm manejado as adubações de forma similar ao sistema de agricultura convencional, realizando a mesma freqüência de adubação. Entretanto, deve-se considerar que os adubos orgânicos são fontes pouco solúveis e muitos apresentam liberação lenta de nutrientes para as plantas. Desta forma, aplicações freqüentes de adubos orgânicos em culturas de ciclo curto, como é o caso das olerícolas, podem não apresentar os resultados esperados, sendo aproveitados apenas pela cultura seguinte. Considerando este fator, o olericultor orgânico, dependendo das condições do solo, pode substituir as aplicações de adubos para cada cultura individualmente por adubações por ciclos de cultivo, envolvendo maior número de espécies, reduzindo sobremaneira a mão de obra e os custos de sua propriedade. Sob esta mesma ótica, a necessidade de aplicações de adubos em cobertura em sistemas orgânicos de produção de hortaliças precisa ser bem avaliada pelo produtor. Em alguns trabalhos realizados pela Embrapa Hortaliças com cebola a utilização desta prática com compostos a base de farelos e microorganismos não influenciou na produtividade da cultura. 15 * Valores seguidos de letras iguais dentro da coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade; ** MS - Matéria seca da parte aérea (t/ha). Fonte: Saminêz et al. (2003b). Biofertilizantes líquidos O biofertilizante funciona como fonte alternativa de suplementação de nutrientes, via foliar. São aplicados diluídos em água na proporção de 2 a 5%. Entre esses, destacam-se o biofertilizante líquido (esterco de curral fermentado), o Supermagro e o Agrobio. O biofertilizante líquido é preparado à base de esterco de curral fresco e água, na proporção 1:1, fermentado de forma anaeróbia em bombonas plásticas. Nomes: Agrobio, Super Magro, Biofertilizante Vairo, efluentes de biodigestor etc... O supermagro e o Agrobio são variantes deste processo visando suprir micronutrientes junto com o biofertilizante. São formados pela mistura de micronutrientes na forma de sais aos materiais orgânicos, juntamente com melaço, leite e água. Estes produtos, ao serem absorvidos pelas plantas, funcionam como fonte suplementar de micronutrientes e de componentes inespecíficos. Acredita-se que possam influir positivamente na resistência das plantas ao ataque de pragas e de doenças, regulando e tonificando o metabolismo. Revelam potencial para controlar diretamente alguns fitoparasitas através de substâncias com ação fungicida, bactericida ou inseticida presentes em sua composição. Biofertilizante Agrobio (Fernandes, 2002) Ingredientes para a primeira semana (para produzir 500 litros do Agrobio) 200 litros de água 100 litros de esterco fresco bovino 20 litros de leite de vaca ou soro de leite 3kg de melaço Modo de Preparo Os ingredientes devem ser bem misturados e deixados fermentar por uma semana. A este caldo nutritivo, nas sete semanas subsequentes, são acrescentados, semanalmente, os seguintes produtos, previamente dissolvidos em água: 430 g de bórax ou ácido bórico, 570 g de cinza de lenha, 850 g de cloreto de cálcio, 43 g de sulfato ferroso, 60 g de farinha de osso, 60g de farinha de carne, 143 g de termofosfato magnesiano, 1,5 kg de melaço, 30 g de molibdato de sódio, 30 g sulfato de cobalto, 43 g de sulfato de cobre, 86 g de sulfato de manganês, 143 g de sulfato de magnésio, 57 g de sulfato de zinco, 29 g de torta de mamona e 30 gotas de solução de iodo a 1%. Nas quatro últimas semanas, são adicionados 500 ml de urina de vaca. A calda deve ser bem misturada duas vezes por dia. Após oito semanas o volume deve ser completado para 500 litros e coado. 16 São indispensáveis para produção do Agrobio em maior escala, os seguintes materiais: caixa d’água de plástico com tampa e capacidade de 500 litros; bancada de concreto ou madeira; conexões de 2 polegadas; pá; baldes; tela e peneira para coagem. A Agrobio pronto apresenta cor bem escura e odor característico de produto fermentado, pH na faixa de 5 a 6. A análise química do biofertilizante fornece os seguintes resultados: 34,69 g/l de matéria orgânica; 0,8% de carbono; 631 mg/l de N; 170 mg/l de P; 1,2 g/l de Ca e 480 mg/l de Mg, além de traços dos micronutrientes essenciais às plantas. O seu uso é isento de riscos à saúde, uma vez que os testes microbiológicos, até hoje conduzidos, mão detectaram coliformes fecais, bactérias patogênicas e toxinas. Recomendações de uso Na produção de mudas – tratamento preventivo com Agrobio a 2% (20 mililitros do Agrobio para um litro de água), através de pulverizações foliares. Hortaliças folhosas – após o transplantio das mudas, tratamento preventivo com Agrobio, através de pulverizações foliares semanais, na concentração de 4% (40 mililitros do Agrobio para um litro de água) ou, ainda, duas pulverizações/semana a 2%. Hortaliças de fruto a) Cultivo orgânico em sistema protegido (estufas) – tratamento preventivo através de pulverizações foliares semanais com Agrobio a 4% (40 ml/l). b) Cultivo convencional a campo – tratamento preventivo através de pulverizações foliares semanais com Agrobio a 4% (40 ml/l). Culturas perenes – Inicialmente, são recomendadas quatro pulverizações foliares com Agrobio a 4% (duas aplicações a intervalo semanal, seguidas de mais duas pulverizações quinzenais) deverão ser feitas após podas, colheitas e estresse hídrico. Análises químicas de tecidos foliares, com a possível freqüência, são indicadas para monitorar os teores de micronutrientes das culturas perenes. Para hortaliças exigentes em micronutrientes como repolho, couve-flor, brócolos, tomate e alho, os biofertilizantes são alternativas interessantes para fornecimento complementar ou como fonte única destes nutrientes nos sistemas orgânicos de produção. Conclusões Entretanto, o uso dos biofertilizantes na olericultura orgânica ainda necessita de estudos efetivos para se entender sua atuação e definir formas e épocas adequadas de aplicação. Souza et al. (2002) avaliaram o efeito do “Agrobio” sobre a produção de mudas de alface. Foram comparados três cultivares de alface (Elisa, Lívia e Regina) em quatro concentrações do biofertilizante (0, 2, 4 e 6%), aplicados 17 semenalmente. A cultivar Elisa apresentou maior crescimento, com maior peso fresco e seco da parte aérea. O efeito do Agrobio só foi observado para o peso seco das raízes. Neste trabalho, provavelmente, não foi observado o efeito do Agrobio, pois foi utilizado um substrato comercial, que geralmente possuem quantidades de nutrientes suficientes para o bom desenvolvimento das mudas, isto não inviabiliza a aplicação de biofertilizantes para substratos orgânicos, que possuem menores concentrações de nutrientes, além de liberação mais lenta dos mesmos. A ausência de significância também pode ser atribuída a fitossanidade das mudas, pois não ocorrendo pragas e doenças, não é possível verificar o efeito do biofertilizante. Novos estudos devem ser realizados para recomendação do uso de biofertilizantes na produção de mudas de alface e outras hortaliças, em substratos orgânicos. Aldrighi et al. (2002) também não encontraram efeito da aplicação de diferentes concentrações do biofertilizante supermagro e urina de vaca em mudas de tomate em substrato formado por vermicomposto bovino (70%) + casca de arroz carbonizada (30%) e atribuíram a ausência de significância aos aspectos nutricional do substrato e fitossanitário das mudas. Outras fontes de nutrientes Em alguns casos é necessário complementar a adubação orgânica com nutrientes ausentes ou pouco disponíveis na fonte, e que limitarão a plena atividade biológica do solo e das plantas. Entre esses elementos destacam-se o potássio, magnésio, cálcio e o fósforo, principalmente nas condições brasileiras. Os principais produtos utilizados como fontes destes nutrientes em cultivos orgânicos são: • Calcários (calcítico, magnesiano e dolomítico). • Fosfatos naturais e semi solubiizados, farinha de ossos, termofosfatos, escórias e outras fontes com baixa solubilidade. • Minerais de rocha moídos que sejam fontes de cálcio e/ou magnésio, fósforo, potássio,e outros elementos. • Cinzas vegetais e resíduos de biodigestores. • Húmus de minhoca, guanos e turfas. • Tortas e farinhas de resíduos vegetais e animais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Instrução Normativa nº. 7, de 17 de maio de 1999. Dispõe sobre normas para a produção de produtos orgânicos vegetais e animais. Diário Oficial (da República Federativa do Brasil), Brasília, p. 11, 19 de mai. 1999. Seção 1. COSTA, M.B.B. da; CALIGARI, A.; MONDARDO, A.; BULINASI, E.A.; WILDNER, L. do P.; ALCÂNTARA, P.B.; MIYASAKA, S.; AMADO, T.J.C. Adubação verde no sul do Brasil. ASPTA, Rio de Janeiro, 1992. 346p.
Docsity logo



Copyright © 2024 Ladybird Srl - Via Leonardo da Vinci 16, 10126, Torino, Italy - VAT 10816460017 - All rights reserved