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Cemitérios, fonte de contaminação, Notas de estudo de Química

Cemitérios, fonte de contaminação

Tipologia: Notas de estudo

2011

Compartilhado em 28/04/2011

josue-oliveira-5
josue-oliveira-5 🇧🇷

4.7

(12)

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Baixe Cemitérios, fonte de contaminação e outras Notas de estudo em PDF para Química, somente na Docsity! G E O L O G I A A M B I E N T A L 2 4 • C i ê n C i a H o j e • v o l . 4 4 • n º 2 63 Cemitérios A falta de medidas de proteção ambiental no sepultamento de corpos humanos em covas abertas no solo, ao longo dos últimos séculos, fez com que a área de muitos cemitérios fosse contaminada por diversas substâncias, orgânicas e inorgânicas, e por micro-organismos patogênicos. Essa contaminação ocorre quando os cemitérios são implantados em locais que apresentam condições ambientais desfavoráveis. No Brasil, ainda não existe uma política efi ciente de planejamento e de gestão ambiental dos cemitérios, principalmente os públicos. Robson Willians da Costa Silva e Walter Malagutti Filho Departamento de Geologia Aplicada, Universidade Estadual Paulista (Rio Claro, SP) s e t e m b r o d e 2 0 0 9 • C i ê n C i a H o j e • 2 5 G E O L O G I A A M B I E N T A L  Desde a pré-história, de acordo com registros arqueológicos, existe o hábito de enterrar os mortos, ou cobri-los com pedras. Há evidências de que comunidades neandertais enterravam seus mortos. Entretanto, os cemitérios – terrenos destinados apenas ao se- pultamento dos mortos – teriam sido implantados pelos primeiros cristãos. As palavras ‘cemitério’ e ‘necrópole’ têm origem grega. A primeira vem de koumetèrian (que significa ‘dormitório’), enquanto necrópole deriva de necrópolis (‘cidade da morte’ ou ‘cidade dos mortos’). Já a palavra ‘cadáver’, que faz parte do mesmo contexto, tem origem latina e significa ‘carne dada aos vermes’, o que traduz o destino dessa matéria orgânica. O costume de enterrar os cristãos mortos nas igrejas ou em suas imediações começou durante a Idade Média. Essa prática significou uma apro- ximação entre os cadáveres, muitos vitimados por doenças contagiosas, e os vivos, o que aumentou significativamente a disseminação dos agentes patogênicos em epidemias como as de tifo, peste bubônica e outras. Na época, o tipo de sepultamento predominante era a inumação, processo simplifica- do com simples recobrimento dos corpos com terra em profundidades que variavam de 1 m a 2 m. Cemitérios Embora algumas civilizações, como a romana, já determinassem que os mortos deviam ser enter- rados fora dos limites da cidade, foi a partir do século 18 que a palavra cemitério começou a ter o sentido atual, quando por razões de saúde pú- blica foi proibido o sepultamento nos locais habi- tuais (em terras da família ou em igrejas). Na França, já em 1737, uma comissão de médicos, formada pelo Parlamento de Paris, recomendou mais cuidado nas sepulturas e decência na manu- tenção dos locais onde os mortos eram enterrados. Na mesma época, em 1743, o abade francês Charles-Gabriel Porée publicou um texto conde- nando os enterros em igrejas e propondo a criação de cemitérios fora das cidades. Autoridades de países e cidades da Europa, a partir daí, passam a proibir sepultamentos nas igrejas e a promover a instalação de cemitérios, para que os enterros ocorressem ao ar livre e longe do perímetro urba- no. Em Portugal, em 1801, o príncipe regente D. João VI proibiu os sepultamentos em igrejas (in- clusive em suas colônias, como o Brasil). As decisões sobre a implantação de cemitérios fora das cidades eram baseadas no mau cheiro dos cadáveres e em ‘emanações’ tidas como perigosas Fontes potenciais de contaminação Fo to cícero ro d r ig u es 2 8 • C i ê n C i a H o j e • v o l . 4 4 • n º 2 63 G E O L O G I A A M B I E N T A L cos e à retenção e eliminação de bactérias e vírus. A eficácia na retenção de micro-organismos de- pende de fatores como tipo de solo, aeração, baixa umidade, teor de nutrientes e outros. Para reter organismos maiores, como as bactérias, o meca- nismo mais importante é o de filtração, relaciona- do à permeabilidade do solo. Para reter vírus, bem menores, e evitar que atinjam o lençol freático, é mais relevante a adsorção (adesão de moléculas de um fluido a uma superfície sólida), que depen- de da capacidade de troca iônica da argila e da matéria orgânica do solo. Nos terrenos destinados à implantação de ce- mitérios, a espessura da zona não saturada e o tipo de material geológico são fatores determinantes para a filtragem do necrochorume (figura 4). A proporção de argila no solo deve ficar entre 20% e 40%, para favorecer os processos de decompo- sição (que dependem da presença de ar) e as con- dições de drenagem do necrochorume. Solos com média permeabilidade e nível freá- tico profundo são ideais para sepultamentos, pois favorecem a putrefação e a filtragem do necrocho- rume, o que significa baixa vulnerabilidade de contaminação. Se o material geológico tem pouca permeabilidade e o nível freático é quase afloran- te, o solo é extremamente vulnerável à contami- nação, pois favorece fenômenos como a saponifi- cação. Também podem ocorrer diversas situações intermediárias: se, por exemplo, a permeabilidade do solo for alta e o nível freático pouco profundo, a vulnerabilidade à contaminação será alta. Risco para a água superficial Em cemitérios em que o terreno está impermea- bilizado pelos túmulos e pela pavimentação das ruas em torno, e onde o sistema de drenagem das águas das chuvas é deficiente, estas podem escoar superficialmente e inundar os túmulos mais vul- neráveis. Após atravessarem a área dos cemitérios, essas águas são em geral lançadas na rede pluvial urbana e canalizadas para os corpos d’água, con- taminando-os com substâncias trazidas do interior do cemitério. Para minimizar esse problema, a Resolução nº 355 do Conama estabelece que a área de sepul- tamento deve ter um recuo mínimo de 5 m em relação ao perímetro do cemitério. Esse recuo deve Estão presentes ainda no necrochorume metais pesados, provenientes dos adereços dos caixões, além de formaldeído e metanol, utilizados na embalsamação dos corpos. O uso, comum atual- mente, da tanatopraxia – técnica de maquiar par - tes do falecido com cosméticos, corantes, enrije- ce dores e outros produtos – também é fonte de substâncias para o necrochorume, que pode ainda conter resíduos de tratamentos químicos hospi- talares (de medicamentos, por exemplo). Os compostos orgânicos degradáveis liberados no processo de decomposição dos corpos esti- mulam a atividade microbiana no solo sob áreas de se pultamentos. Também aumentam, no solo, o teor de compostos de nitrogênio e fósforo e o de sais (o que eleva a condutividade elétrica) e o ín- dice de acidez. A contaminação do subsolo O necrochorume proveniente dos cemitérios po- de contaminar o subsolo se o meio físico local for vul nerável, o que dependerá de suas características geológicas e hidrogeológicas. O solo pode ser divi- di do, de modo simplificado, em duas zonas (figura 3). A zona não saturada (ou de aeração) é compos - ta de partículas sólidas e de espaços vazios, ocu- pados por porções variáveis de ar e água. Já a zona saturada é aquela em que a água ocupa todos os es- paços. O limite entre essas zonas é definido pelo ní- vel do lençol freático. O movimento da água ten de a ser vertical na primeira e horizontal na segunda. A zona não saturada atua como um filtro, por apresentar um ambiente (solo, ar e água) favorável à modificação de compostos orgânicos e inorgâni- A d A PtA d o d e b r Ag A , 2006 Figura 3. A distribuição das águas no solo produz duas zonas distintas, a zona não saturada (ou de aeração), onde o ar penetra nos espaços existentes, e a zona saturada, onde os espaços são preenchidos apenas pela água s e t e m b r o d e 2 0 0 9 • C i ê n C i a H o j e • 2 9 G E O L O G I A A M B I E N T A L Sugestões para leitura FÁvero, F. Medicina legal. belo horizonte, vila rica editoras reunidas, 1991. MAnoel Filho, J. Hidrogeologia: conceitos e aplicações. Fortaleza, cPrM, 1997. Migliorini, r. b. Cemitérios contaminam o meio ambiente? Um estudo de caso. cuiabá, editora da uFMt, 2002. silvA, l. M. Os cemitérios na problemática ambiental. são Paulo, sincesp & Acembra, 1995. ser ampliado se as características do solo da área forem desfavoráveis, como permeabilidade redu- zida, distância inadequada em relação ao nível do lençol freático e outras. Risco para a água subterrânea Implantar cemitérios em locais onde as caracterís- ticas geológicas favorecem os fenômenos conser- vativos dos corpos ou reduzem a retenção do con- taminante na camada superficial, e onde o lençol freático é pouco profundo, pode contaminar as águas subterrâneas. Túmulos em ruínas ou com rachaduras, problemas causados principalmente pela compactação do solo, por raízes de árvores e pela negligência dos proprietários, também favo- recem a contaminação dessas águas. Ao estabelecer que o lençol freático deve estar, no mínimo, a 1,5 m do fundo das sepulturas, a resolução do Conama ainda prevê que, se não for possível manter essa distância ou se as condições do solo não forem apropriadas, os sepultamentos devem ser feitos acima do nível natural do terreno, para reduzir o risco de contaminação. A posição do lençol freático, as características do solo e ou- tros aspectos (entre eles as rachaduras nas sepul- turas) influenciam (figura 5) os riscos de contami- nação das águas subterrâneas. Quando o solo apresenta média permeabilidade e alta capacidade de adsorção e retenção do mate- rial argiloso, associada à grande distância até o lençol freático, o necrochorume move-se lentamen- te e as substâncias do contaminante são intercep- tadas na zona não saturada. Essa situação é clas- sificada como de médio risco de contaminação de águas subterrâneas. Se a sepultura estiver abaixo do nível freático, pode ser inundada, gerando uma situação de extremo risco, já que, em geral, os caixões não são impermeáveis. Quando o solo tem elevada permeabilidade, o que permite a infiltração profunda do necrochorume, ou a distância para o lençol freático é inadequada, a situação é de alto risco, porque os contaminantes chegam facilmen- te às águas subterrâneas. Nesses casos, para dimi- nuir a possibilidade de contaminação do aquífero, o sepultamento deve ocorrer acima do nível natu- ral do terreno.  A d A Pt A d o s d e PA ch ec o , 1 98 6 Figura 4. A vulnerabilidade das áreas dos cemitérios à contaminação ambiental depende da estrutura e dos materiais do solo e da posição das covas em relação ao nível freático Figura 5. O risco de contaminação de águas subterrâneas pelo necrochorume formado pela decomposição dos corpos também está associado às características do solo e à distância das covas para o lençol freático. Em casos de alto risco, o sepultamento deve ser feito acima do nível natural do terreno
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