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Guias e Dicas
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Sociologia Aplicada, Notas de estudo de Sociologia

Sociologia Aplicada

Tipologia: Notas de estudo

2011

Compartilhado em 22/08/2011

ana-luiza-aragao-7
ana-luiza-aragao-7 🇧🇷

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Baixe Sociologia Aplicada e outras Notas de estudo em PDF para Sociologia, somente na Docsity! SOCIOLOGIA APLICADA SOCIOLOGIA APLICADA Graduação SOCIOLOGIA APLICADA APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Os tempos atuais nos trazem mudanças que são cada vez mais aceleradas. Estas se refletem em nosso cotidiano exigindo-nos adaptações e assimilações constantes. O nosso jeito de falar, trabalhar, assim como de estudar são alterados. Não estudamos mais como antigamente. Hoje, temos um elemento-chave que faz parte, permanentemente, desta atividade - o ‘computador’. Os currículos escolares se modificam para acompanhar essas mudanças e como um dos frutos de todas essas transformações temos uma nova metodologia de ensino que é o Ensino a Distância – EaD. Dentro desse contexto descrito acima, a Sociologia, como outras disciplinas, inicia sua trajetória “on-line” ao seu lado. Tendo em vista essas novas necessidades, procuramos organizar uma disciplina que propicie a você – aluno – uma auto-suficiência, isto é, que você seja capaz de conduzir o seu processo de aprendizagem, fazendo a leitura do material, interagindo com o conteúdo e se auto-avaliando ao final de cada unidade de estudo. Se por um lado a Sociologia é considerada uma ciência nova, pois nasceu no século XIX, por outro lado, é considerada também uma ciência dinâmica que incorpora novas questões, constantemente, ao seu objeto de estudo e amplia suas relações com outras ciências. E é essa visão dinâmica que enfatizamos em nossos estudos, procurando não só transmitir conhecimentos, mas estimular a reflexão, contribuindo para fomentar a produção de conhecimentos através da pesquisa. Dessa forma, iremos introduzi-lo no estudo das principais problemáticas que fazem parte do arcabouço teórico desta disciplina, assim como não deixaremos de examinar seus principais pensadores que montaram os diferentes paradigmas no intuito de embasá-lo para a compreensão da realidade social aplicando a teoria à prática através de exemplos de sua vida real. As profundas mudanças que vivenciamos hoje conferem à Sociologia um especial papel analítico, daí a importância do seu ensino na formação profissional de diferentes áreas, contribuindo para que este profissional possa construir uma postura crítica e consciente deste quadro, assumindo um papel ativo na busca de uma sociedade mais justa e solidária. Estaremos presente para auxiliá-lo nesta tarefa quando for preciso, por isso vamos em frente, cumprindo passo a passo as atividades propostas, administrando bem o seu tempo e alcançando todos os prazos! UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO O CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO E INTELECTUAL DO SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA O surgimento da Sociologia pode ser identificado no bojo de um amplo processo histórico que tem início na transição feudal-capitalista, quando se dá a desagregação da sociedade feudal no século XV e vai até o período das revoluções burguesas - revolução industrial inglesa e a revolução francesa no século XVIII, marcando a consolidação da sociedade capitalista. Respondendo a essas indagações, estaremos com os nossos estudos bem encaminhados... Sendo assim, vamos em frente! A CRISE DO FEUDALISMO Caminharemos juntos nesta etapa, visando entender que, para que a nova ordem pudesse ganhar espaço, o Feudalismo teria que extinguir todas as suas possibilidades de reprodução. A partir dos séculos XV e XVI podemos observar que grandes transformações ocorreram na Europa e, conseqüentemente, no mundo todo. Esses acontecimentos desestruturaram o sistema feudal existente e deram origem a um novo sistema – o capitalismo. A grande crise do feudalismo desenvolveu-se na Europa Ocidental no século XIV, atingindo indiscriminadamente campo e cidade, disseminando a fome, epidemias e as guerras, podendo ser explicada por um conjunto de fatores que trouxe, como conseqüência, a superação do sistema feudal. A economia medieval encontrava-se em crise face à baixa produtividade agrícola, ocasionada pelo esgotamento dos solos - utilização inadequada de técnicas agrícolas predatórias - o que projetava um declínio na produção de alimentos, gerando a fome e, conseqüentemente, as epidemias. Em meados do século XIV, os comerciantes genoveses trouxeram da região do Mar Negro uma epidemia que, no espaço de dois anos, espalhou a morte por toda a Europa, atingindo homens e mulheres adultos e crianças de todos os segmentos sociais, sendo conhecida como Peste Negra – um castigo de Deus. A crise se agravou na medida em que os senhores feudais viram seus rendimentos declinarem devido à falta de trabalhadores e ao despovoamento dos campos. Capitalismo: sistema social baseado no capital, no dinheiro. SOCIOLOGIA APLICADA A mortalidade trazida pela fome e a peste negra foi ainda ampliada pela longa Guerra dos Cem Anos (1337/1453), desencadeada pela disputa das regiões de Bordéus e Flandres, entre França e Inglaterra. A conjuntura de epidemias, de aumento brutal da mortalidade e de superexploração camponesa que caracterizou a Europa do século XIV trazendo a crise, foi sendo superada no decorrer do século XV, com a retomada do crescimento populacional, agrícola e comercial. FORMAÇÃO DOS ESTADOS-NACIONAIS Para acompanharmos as transformações em curso, é fundamental concentrarmos-nos na aliança entre a burguesia e o rei, que resulta na formação dos Estados-Nacionais, verificando-se a consolidação territorial a partir de práticas políticas absolutistas, com o fortalecimento do poder e autoridade dos reis. Essa nova forma de organização política atendia aos interesses tanto da nobreza quanto da burguesia. Os nobres, apesar de sua crescente dependência frente aos reis e da perda de autonomia, tiveram assegurados os seus privilégios feudais sobre os camponeses, mantendo suas terras e os seus títulos nobiliárquicos, além de cargos administrativos, pensões e chefias de regimentos militares. Os burgueses procuraram aliar-se aos reis, financiando-os com recursos para a manutenção de exércitos profissionais permanentes, necessários à manutenção da ordem e do poder. Além disso, a centralização política e administrativa trouxe a gradual unificação de impostos, leis, moedas, pesos, medidas e alfândegas em cada país, beneficiando o comércio e a burguesia. Os Estados-Nacionais, formados a partir de fins do século XIV em Portugal e durante o século XV na França, Espanha e Inglaterra, evoluíram no sentido do Absolutismo monárquico. Sistema político o qual o rei detém o poder total, cabendo-lhe o direito de impor leis e obediência aos súditos. Mesmo as regiões que permaneceram divididas em pequenos reinos e cidades, como a Itália e a Alemanha, a tendência foi para o fortalecimento do poder político dos governantes locais. MERCANTILISMO E A EXPANSÃO COMERCIAL ULTRAMARINA Veremos agora como os europeus – pioneiramente Espanha e Portugal - chegam a regiões nunca antes alcançadas e quais os seus verdadeiros interesses. A expansão territorial implementada pela política UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO mercantilista resultou na conquista e exploração de novos territórios denominados “colônias” e estas passando a cumprir o papel de complementaridade da economia da metrópole, constituindo-se em fontes geradoras de riquezas dos países europeus. Através do “Pacto Colonial”, ficava assegurada a exclusividade das transações mercantis estabelecidas entre as metrópoles e suas respectivas colônias, numa relação também conhecida como monopólio comercial. Dentre as características do Mercantilismo, podemos identificar: • expansão marítima comercial e a conquista de novos mercados fornecedores de matérias-primas e mão-de-obra; • busca incessante do lucro, através da manutenção de uma balança comercial de superávit, ou seja, exportar sempre mais do que importar; • idéia metalista – nível de riqueza de um país medido pelo montante de ouro e prata acumulado em seu tesouro nacional; • absolutismo monárquico – poder político centralizado em torno do rei que constituía-se na autoridade maior do sistema, com o Estado controlando a política econômica em favor dos interesses burgueses. As práticas mercantilistas impulsionaram o crescimento do capitalismo comercial dando origem à acumulação primitiva de capitais, pré-condição necessária ao desenvolvimento do próprio capitalismo. Secularização É importante agora, percebermos as mudanças do entendimento do homem sobre si mesmo e o mundo. Na transição feudal-capitalista surge um novo homem, principalmente nos centros urbanos, mais crítico e sensível, representando um pensamento antropocêntrico – o homem como o centro de todas as coisas e racionalista – crença ilimitada na capacidade da razão em dar conta do mundo - movimento resgatado da antiguidade greco-romana, que chocava-se com a postura teocêntrica e dogmática, definida pelo poder clerical na Idade Média. Desenvolve-se, então, uma nova forma de entender a realidade, isto é, a razão passou a ser considerada o elemento principal de interpretação dos fatos. O homem constrói uma concepção anticlerical apoiada em bases de liberdade, que não precisava se submeter à autoridade divina imposta pela Igreja Católica. Renascimento O Renascimento foi um movimento intelectual que marcou a cultura européia entre os séculos XIV e XVI, originário da Itália e irradiado por toda a Europa. SOCIOLOGIA APLICADA Americana e a Revolução Francesa, que introduziram grandes alterações nessas sociedades e influenciaram a mudança de outras no mundo a fora. Você pode observar que a sociedade que antes tinha suas bases na produção da terra passa a ter suas bases na produção industrial e trouxe consigo uma nova forma de trabalho, que é o trabalho assalariado. Este também trouxe novas formas de relações entre as pessoas e de representatividade nos governos. Tudo mudava. Aquela sociedade tradicional que antes existia estava completamente transformada precisando se organizar para atender às novas necessidades. Revolução Industrial Inglesa Agora, iremos pesquisar a revolução que alterou a relação entre os homens, configurando as formas do mundo contemporâneo. No decorrer do século XVIII, a Europa Ocidental passou por uma grande transformação no setor da produção, em decorrência dos avanços das técnicas de cultivo e da mecanização das fábricas, a qual se deu o nome de Revolução Industrial. A invenção e o aperfeiçoamento das máquinas permitiram o aumento vertiginoso da produtividade, resultando na diminuição dos preços dos produtos e o crescimento do consumo e dos lucros. Esse momento revolucionário de passagem da energia humana, hidráulica e animal para motriz, é o ponto culminante de uma revolução tecnológica, social e econômica, cujas origens podem ser encontradas nos séculos XVI e XVII, com a política de incentivo ao comércio, adotada pelos Estados-Nacionais e a adoção da política mercantilista. A acumulação de capitais nas mãos dos comerciantes burgueses e a abertura dos mercados proporcionada pela expansão marítima estimularam o crescimento da produção, exigindo mais mercadorias e preços menores. Gradualmente, passou-se do artesanato disperso para a produção em oficinas e destas para a produção mecanizada nas fábricas. Para Karl Marx, a Revolução Industrial integra o conjunto das chamadas “Revoluções Burguesas” do século XVIII, responsáveis pela crise do Antigo Regime na passagem do capitalismo comercial para o industrial. Os outros dois movimentos que a acompanham são a Independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa que, sob influência dos princípios iluministas, assinalam a transição da Idade Moderna para a Idade Contemporânea. A Inglaterra foi o país pioneiro da industrialização, sendo que alguns fatores contribuíram para isso: • o principal deles foi a aplicação de uma política econômica liberal em meados do século XVIII, liberalizando a indústria e o comércio o que acarretou um enorme progresso tecnológico e aumento da produtividade em um curto espaço de tempo; UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO • a Lei de Cercamento dos Campos, denominados “enclouseres” marcou o fim do uso comum das terras, expulsando o homem do campo e gerando o “trabalhador livre”. Na medida em que não tinham mais condições de vida no meio rural, partiam para as cidades, gerando forte concentração de mão-de-obra urbana, o que favorecia às indústrias; • a Inglaterra possuía grandes reservas de carvão mineral em seu subsolo, a principal fonte de energia para movimentar as máquinas e as locomotivas a vapor. Possuíam também consideráveis reservas de minério de ferro, principal matéria- prima utilizada neste período. • a burguesia inglesa tinha capital suficiente para financiar as fábricas, comprar matéria-prima, máquinas e contratar empregados por causa da grande taxa de poupança que existia na época; • a agricultura inglesa desenvolveu-se com a difusão de novas técnicas e instrumentos de cultivo. A mecanização da produção criou o proletariado rural e urbano, composto de homens, mulheres e crianças, submetido a jornadas de trabalho diárias, extensivas e intensivas, de mais de 16 horas no campo ou nas fábricas. Com a Revolução Industrial, consolida-se o sistema capitalista baseado em duas classes fundamentais: a burguesia detentora do capital e o proletariado, que nada possuíam a não ser a sua força de trabalho, que vendiam aos capitalistas em troca de um salário. O capital apresenta-se sob a forma de terras, dinheiro, lojas, máquinas ou crédito. O agricultor, o comerciante, o industrial e o banqueiro, donos do capital, controlam o processo de produção, contratam ou demitem os trabalhadores, conforme seus interesses. As formas de transformação de matérias-primas em produtos são: trabalho artesanal – é a forma mais primitiva de trabalho, dominada pelo homem há milhares de anos. O trabalho era manual, sem a utilização de máquinas e o artesão realizava sozinho todas as etapas da produção, desde o preparo da matéria-prima até o acabamento final dos produtos, não havendo divisão do trabalho. O artesão era dono dos meios de produção - oficina e ferramentas simples - possuindo também o produto final de seu trabalho. trabalho manufaturado – estágio intermediário entre o artesanato e a indústria. Neste processo, podemos observar o uso de máquinas simples e a divisão social do trabalho (especialização do trabalhador) com cada trabalhador ou grupo de trabalhadores, realizando uma etapa para a obtenção do produto final. Na manufatura, já encontramos a figura do capitalista com interferência direta no processo produtivo, passando a comprar a matéria- prima e a determinar o ritmo de produção. indústria moderna – com a mecanização da produção introduzida pela Revolução Industrial, os trabalhadores perdem o controle do processo SOCIOLOGIA APLICADA produtivo, passando a trabalhar para um patrão – burguês - na condição de operários – empregados assalariados. Esses trabalhadores passam a manejar máquinas que pertencem agora ao empresário, dono dos meios de produção e para o qual se destina o lucro, sendo que a matéria-prima e o produto final não mais lhes pertencem. Temos como etapas da industrialização, os seguintes períodos: Primeira Revolução Industrial – desenvolvida entre meados do século XVIII até as últimas décadas do século XIX, com a predominância do trabalho intensivo com jornadas de trabalho de até 16 horas por dia, com baixa remuneração do operariado. Utilização de máquinas à vapor nas indústrias têxteis, sendo que a grande fonte de energia era o carvão mineral. Segunda Revolução Industrial – compreendida entre as últimas décadas do século XIX até o final da década de 1970 – século XX. A jornada de trabalho cai para 8 horas diárias e passa a ser regulamentada por leis trabalhistas, a partir dos avanços sociais relativos ao processo histórico de cada país. O petróleo vai substituindo o carvão até se constituir na principal fonte de energia e a indústria automobilística como maior atividade produtiva. Terceira Revolução Industrial – conhecida também como Revolução Técnico-Científica, tem início a apartir da segunda metade da década de 1970, sendo caracterizada pelo avanço do conhecimento e tecnologia avançada. As jornadas de trabalho são mantidas em 8 horas diárias. Os setores de ponta são a informática, a robótica, as telecomunicações, a química fina e a biotecnologia. Neste período, temos uma diversificação quanto às fontes de energia – hidrogênio, energia solar, etc. A Revolução Industrial favoreceu também o desenvolvimento dos transportes. Logo vieram a locomotiva e a navegação a vapor, o que fez com que houvesse uma redução nos custos dos fretes, baixando os preços dos produtos e aumentando o consumo. Com a Revolução Industrial, a Inglaterra se transformou no maior produtor e exportador de produtos manufaturados e a população dos centros urbanos cresceu assustadoramente. Não podemos esquecer de que havia nesse país matérias-primas indispensáveis para o funcionamento e a construção dessas máquinas – carvão e ferro. E, então, você já pode imaginar o que foi acontecendo: a burguesia investiu na inovação tecnológica e as máquinas foram cada vez mais se aprimorando e aumentando a produção que se expandia por todo o mundo, estabelecendo laços de dependência entre as nações. O trabalho assalariado que substitui o trabalho artesanal ganha força utilizando-se fortemente da mão-de-obra feminina e infantil e a energia a vapor cresce em lugar da energia humana. Revolução Francesa A Revolução Francesa é um importante marco histórico da transição do feudalismo para o capitalismo, inaugurando um novo modelo de sociedade baseada na economia de mercado. UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO Estas reformas estavam embasadas no Liberalismo que triunfara no século XIX e pregava a liberdade e a igualdade inata entre os homens. Porém, suas reformas estabeleciam a autoridade e a ordem pública contra os abusos do individualismo da Escola Liberal (RIBEIRO JR. 1988:15). A Sociologia nasce como resposta a esse individualismo pregado pela sociedade capitalista e vai assim enfatizar as ações altruístas entre os homens. O positivismo de Comte comparava a sociedade à vida orgânica, cujas partes que a constituem desempenham funções que se orientam para a preservação do todo. Sendo assim, a sociedade não poderia sofrer revoluções violentas e sim se desenvolver harmoniosamente. Repudia o laissez-faire do Liberalismo, pregando o planejamento social. Comte defendia a idéia de que as ciências deveriam atingir a máxima objetividade possível. A influência de Comte foi além da escola francesa, atingindo também os republicanos no Brasil, como podemos observar, o lema na bandeira nacional “Ordem e Progresso”. A especificidade do conhecimento sociológico As ciências se distinguem pelos seus objetos de estudo e pelos seus métodos. E com a Sociologia não vai ser diferente. Se observarmos uma sociedade, veremos que os homens praticam atos que podemos chamar de individuais, tais como: dormir, respirar, caminhar, como também, praticam atos considerados sociais – casar, fazer reuniões, pedir demissão – são situações que só podem ser entendidas através das relações que se estabelecem entre indivíduos ou grupos de indivíduos e que não podem ser entendidas isoladamente. São estes fatos coletivos que interessam à Sociologia, pois suas causas são encontradas não no individual, mas sim na sociedade. É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Nesta primeira unidade estudamos a formação da Sociologia como conhecimento científico. Na próxima unidade, estudaremos a Sociologia Clássica. Espero você na próxima unidade. Temos muito que estudar! Positivismo: corrente fi- losófica cujo iniciador foi Augusto Comte. Defendia a ciência acima de tudo. Laissez-faire: expressão francesa que transmite uma das essências do Liberalismo que dizia: deixai - fazer, ou seja, o homem era livre para fazer o que quisesse. Objeto de estudo: aquilo que vai ser estudado pelo ci- entista. 1 SOCIOLOGIA APLICADA SOCIOLOGIA APLICADA Graduação EXERCÍCIOS 9 SOCIOLOGIA APLICADA U N ID A D E 1 A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO 1. A partir da transição feudal-capitalista, surge uma nova postura intelectual do homem, nova forma de ver a realidade e uma nova maneira de interpretar as coisas sagradas, que o colocava numa condição de liberdade, rompendo com a submissão diante da autoridade divina: a) existencialismo; b) positivismo; c) marxismo; d) racionalismo; e) tomismo. 2. A Sociologia é a ciência que estuda as ações humanas sob qual perspectiva? a) As ações humanas fora do contexto histórico-social; b) As ações humanas comparativamente às demais espécies animais; c) As ações humanas tomadas isoladamente; d) As ações humanas tomadas em coletividade; e) As ações humanas tomadas em estado de natureza. 3. Dentre os pensadores iluministas, destacamos Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que defendia a idéia de: a) procura do lucro individual sem escrúpulos; b) centralização política em torno de um Estado forte; c) intolerância religiosa; d) um estado democrático que garanta igualdade para todos; e) divisão do poder político em Legislativo, Executivo e Judiciário. 4. A Crise Geral do Feudalismo do século XIV, só foi superada em função da: a) retomada do crescimento populacional, agrícola e comercial; b) linha de crédito bancária obtida junto aos reis; c) Revolução Industrial Inglesa; d) fatores naturais dada a fé religiosa do povo; e) união entre todos os segmentos sociais em torno do Pacto de Moncloa. 5. A produção industrial trouxe consigo uma nova forma de expressão do trabalho: a) servil; b) escravo; c) voluntário; d) assalariado; e) terceirizado. SOCIOLOGIA APLICADA 25 U N ID A D E 2 A SOCIOLOGIA CLÁSSICA Como vimos na Unidade 1, a Sociologia enquanto ciência surgiu como resposta intelectual para as “crises” decorrentes da implantação e da consolidação das sociedades capitalistas modernas. Nesta segunda unidade de estudo, vamos a Sociologia Clássica. OBJETIVOS DA UNIDADE: Compreender o pensamento de três autores considerados clássicos na Sociologia do século XIX e no início do século XX. São eles Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx. PLANO DA UNIDADE: • Uma nova ciência: a Sociologia. • A Sociologia de Émile Durkheim. • A Sociologia de Karl Marx. • A Sociologia compreensiva de Max Weber. Bons estudos! UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA 26 UMA NOVA CIÊNCIA: A SOCIOLOGIA As transformações sociais, econômicas e políticas desencadeadas pelo duplo processo revolucionário - a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, no século XVIII - fizeram emergir um novo gênero de “questões sociais” que despertou o interesse de filósofos e intelectuais em investigar a sociedade. A sociedade passava assim a se constituir em objeto de estudo de uma nova ciência – a Sociologia. Observadores da nascente sociedade industrial, cada um deles procurou em estudos que realizaram, interpretar as questões sociais fundamentais da sociedade de seu tempo. Todos três, de maneira diversa, estavam comprometidos com o propósito de apresentar respostas para a crise da sociedade moderna. Suas obras apresentam distintas interpretações das crises sociais de uma nova sociedade que nasce mergulhada em contradições profundas. Para Durkheim(1858-1917), a crise da sociedade industrial moderna estava associada à fragilidade moral da época em orientar com eficácia a conduta dos indivíduos. A sociedade só poderia manter sua estrutura e equilíbrio se reconstituísse uma nova moral comum que pudesse reunir os membros da coletividade. Para ele, a Sociologia deveria servir para resgatar o bom funcionamento da sociedade, reconstruindo novos hábitos e valores, instituindo, enfim, uma nova moral capaz de recuperar a “normalidade social” e preservando, assim, a ordem social. Para Karl Marx (1818-1883), a questão fundamental da sociedade do seu tempo eram as contradições insolúveis engendradas pela sociedade capitalista. O antagonismo entre as classes sociais constituía a realidade concreta do capitalismo. Para ele, a divisão do trabalho entre os homens era uma fonte inesgotável de exploração e alienação. A ciência, em sua tarefa de conhecer a realidade, deveria converter-se em um instrumento político para a transformação social. A contribuição dos trabalhos realizados por Weber(1864-1920) tornou- se referência para o desenvolvimento da Sociologia. Polêmico pelas críticas ao positivismo de Durkheim e ao Materialismo Histórico de Marx, Weber foi capaz de compreender as particularidades das ciências humanas realçando o caráter particular de cada formação social e histórica, realçando aquilo que ela apresenta de específico. Caro aluno, saiba que quando buscamos empreender uma análise da vida social, nos deparamos com um conjunto significativo de pressupostos teóricos, que nos levam a diferentes abordagens e concepções metodológicas também variada. A marca principal da análise sociológica do fenômeno social é a pluralidade de abordagens e contribuições teóricas que nos informam como a realidade e a vida social foram analisadas e interpretadas. Essa diversidade teórica nos permite construir diferentes imagens do fenômeno estudado e apontam para diferentes direções. SOCIOLOGIA APLICADA 27 A SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM Embora, Auguste Comte seja reconhecidamente apresentado como fundador da Sociologia pela sua preocupação de dotar a Sociologia de bases científicas, Durkheim é apontado como um dos primeiros grandes teóricos desta ciência. Representante do Positivismo, uma das preocupações centrais de Durkheim foi estabelecer a Sociologia como uma disciplina rigorosamente científica. De acordo com Durkheim, a Sociologia deveria assentar-se em uma base sólida afastando-se de todas as orientações que transformavam a investigação social numa dedução de fatos particulares, mergulhada em generalidades abstratas, interpretando a realidade social sem critérios e limites impostos pela ciência. Autor de obras essenciais para o pensamento sociológico, como: A Divisão de Trabalho Social (1893), As Regras do Método Sociológico (1895), O Suicídio (1897) e As Formas Elementares da Vida Religiosa (1909). Em sua visão, a Sociologia deveria delimitar com rigor o objeto de estudo de seu interesse; definir um objeto de investigação próprio, específico, distinto do objeto analisado por outras ciências. Em sua obra – “As Regras do Método Sociológico (1895)”, Durkheim afirmava que a Sociologia deveria estudar fatos essencialmente sociais e procurar interpretá-los sociologicamente. O Fato Social como objeto de investigação da Sociologia Para Durkheim, o objeto de estudo da Sociologia é o fato social. Mas, o que são fatos sociais? Afirma Durkheim (1970, p.87-88): “Antes de procurar saber qual é o método que convém ao estudo dos fatos sociais, importa dar a conhecer os fatos que assim designamos. A questão é tanto mais necessária quanto as pessoas se servem desta qualificação sem grande precisão. Empregam-na correntemente para designar, mais ou menos, todos os fenômenos que ocorrem na sociedade, mesmo que apresentem, apesar de certas generalidades, pouco interesse social. Mas, partindo desta acepção, não há, por assim dizer, acontecimentos humanos que não possam ser apelidados de sociais. Cada indiví-duo bebe, dorme, come, raciocina, e a sociedade tem todo o interesse em que estas fun-ções se exerçam regularmente. Assim, se estes fatos fossem sociais, a sociologia não teria um objeto que lhe fosse próprio e o seu domínio confundir-se-ia com os da biologia e da psicologia. Mas, na realidade, há em todas as sociedades um grupo determinado de fenômenos que se distinguem por características distintas dos estudados pelas outras ciências da natureza. Quando desempenho a minha obrigação de irmão, esposo ou cidadão, quando satis-faço os compromissos que contraí, cumpro UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA 30 Uma pessoa pode não querer usar o idioma falado em sua sociedade, pode não querer usar a moeda corrente em seu país ou pode não querer se subordinar aos códigos legais vigentes em seu meio, mas certamente, suas atitudes serão severamente tolhidas pela força que a sociedade exercerá sobre seu comportamento. Além da exterioridade e coercitividade dos fatos sociais, uma terceira característica deve ser considerada – a generalidade. Será considerado social o fato que é geral, ou seja, o fato que se manifesta pela sua natureza coletiva, difusa - formas de viver consolidadas socialmente, como os hábitos, as crenças e os valores, e também, as formas de habitação, as vias de comunicação que definem o fluxo das correntes migratórias e de escoamento da produção. Portanto, o domínio da Sociologia compreende um determinado grupo de fenômenos – fatos sociais – que são reconhecidos pelo seu poder de coerção externa que exerce ou é suscetível de exercer sobre os indivíduos; e se manifestam pela sua generalidade, pela difusão que têm no interior de uma determinada sociedade. O Método Sociológico Para Durkheim, o conhecimento e a explicação da vida social impõem ao pesquisador a escolha de um método que permita investigar de maneira cientifica os fatos sociais. Para observar e interpretar a realidade social, o pesquisador deveria assumir posição semelhante a do estudioso das ciências naturais, considerando, entretanto, que a Sociologia examina fatos que pertencem ao reino social, com especificidades próprias que os distinguem dos fenômenos da natureza. Segundo Durkheim, a explicação científica dos fatos sociais exigiria do pesquisador um compromisso com a objetividade e a neutralidade em relação aos fenômenos observados. A regra fundamental para observação dos fatos sociais era considerá-los como coisa, isto é, como realidades exteriores ao indivíduo. O distanciamento do pesquisador em relação ao objeto investigado é condição essencial para garantir a cientificidade de seu estudo. O sociólogo deve ser capaz de observar a realidade dos fatos sem “contaminar” a interpretação com suas prenoções, seus preconceitos, sentimentos e concepções de mundo pessoais, o que certamente, dificultaria conhecer verdadeiramente o objeto em questão. O sociólogo deve procurar interpretar a realidade tal como ela é, e não como ele gostaria que ela fosse, fazendo prevalecer visões permeadas de valores e preconceitos. A Sociedade Precursor da corrente positivista e inspirado nas análises das ciências naturais, Durkheim compara a sociedade a um corpo vivo, em que cada “órgão”, ou seja, cada uma das partes que compõem a sociedade, SOCIOLOGIA APLICADA 31 desempenha uma função específica para a preservação e a coesão do todo. Ao comparar a sociedade a um organismo vivo, Durkheim identifica dois estados em que a sociedade pode se encontrar: o normal e o patológico. Para ele, os fenômenos que apresentam uma regularidade no meio social e que estão previstos em sua estrutura e organização deverão ser interpretados como normais. De outra forma, a sociedade poderá apresentar comportamentos que podem ameaçar a integridade e a harmonia sociais, colocando em risco o consenso que deverá prevalecer. Tais situações são consideradas “patológicas”, anormais. Considerava Durkheim que a sociedade poderia apresentar, como um “corpo vivo” que é, alguma disfunção. Depois de instalada, a “doença” deveria ser tratada para não provocar prejuízos maiores e comprometer a integridade e “bom” funcionamento da ordem social. Os fenômenos sociais “patológicos” deveriam ser tratados para restabelecer a “saúde” e o equilíbrio da sociedade. Para Durkheim, a sociedade industrial se encontrava em um estado patológico porque as crises geradas por ela colocavam em risco o seu pleno funcionamento. A crise que se encontrava a sociedade capitalista, não era de natureza econômica, como defendiam os socialistas, mas sim uma certa fragilidade moral e a ausência de regras de conduta e comportamento que correspondessem à nova realidade, capazes de frear o ímpeto de destruição e de desordem sociais e guiar com eficácia a vida dos indivíduos. A Sociologia de Karl Marx Ao lado de Émile Durkheim e Max Weber, Karl Marx faz parte do grupo seleto de intelectuais que integram o pensamento teórico da Sociologia Clássica. Autor de obras fundamentais para a teoria sociológica, como o Manifesto do Partido Comunista(1848), Contribuição à Crítica da Economia Política (1859) e, sem dúvida, a mais importante obra dedicada a interpretar o funcionamento do sistema capitalista – O Capital (1867). A questão central que orientou os trabalhos de Marx foi analisar o funcionamento do capitalismo, o processo histórico que o gerou e a sua evolução. Em sua trajetória intelectual, contou com a colaboração de outro importante intelectual alemão – Friederich Engels(1820-1903). Comprometidos com a não-preservação da ordem socioeconômica do sistema capitalista, Marx e Engels não estavam interessados em dotar a Sociologia de um caráter científico, institucionalizá-la como disciplina acadêmica, como, aliás, fizeram Durkheim e Weber, mas sim torná-la instrumento político de reflexão e crítica da sociedade capitalista, denunciando as contradições e os antagonismos entre as classes sociais, com o objetivo extremo de proporcionar os fundamentos teóricos para a transformação revolucionária desse modelo de sociedade. Embalados por um ideal revolucionário, defendiam a adesão da ciência a uma proposta de ação política prática. Para Marx, a ciência deveria converter-se em um instrumento de transformação radical da sociedade. UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA 32 A análise socioeconômica do capitalismo Enquanto para análise positivista, as crises sociais e os conflitos entre trabalhadores e empresários na sociedade capitalista eram interpretados como fenômenos passageiros, passíveis de serem superados pela inclusão de um sistema de regras para orientar a conduta dos indivíduos. A análise marxista procurou realizar uma crítica radical a esse modelo histórico de sociedade, apontando suas contradições e antagonismos. Comprometidos com ideal revolucionário de transformação social, Marx e Engels identificavam a luta de classes como a principal característica da sociedade capitalista. Concordavam que a crescente divisão de trabalho na sociedade moderna era a principal fonte de exploração, opressão e alienação. Afirmava Marx, em O Manifesto do Partido Comunista: A história de todas as sociedades que existiram até os nossos dias tem sido a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta. Nas primeiras épocas históricas, verificamos, quase por toda parte, uma completa divisão da sociedade em classes distintas, uma escala graduada de condições sociais. Na Roma antiga encontramos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores vassalos, mestres, companheiros, servos; e, em cada uma destas classes, gradações especiais. A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classe. Não fez senão substituir novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta às que existiram no passado. Entretanto, a nossa época, a época da burguesia caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado. (Marx, Karl. Manifesto do Partido Comunista. In: FERNANDES, Florestan. Marx e Engels – História. São Paulo: Editora Ática, p.365-366) Dois conceitos essenciais para o pensamento de Marx podem ser analisados a partir deste trecho do Manifesto do Partido Comunista: classe social e alienação. Marx partiu da idéia de que a sociedade estava dividida em classes, cada uma com regras e condutas apropriadas, mas que estão inseridas em um único sistema que é o modo de produção capitalista. SOCIOLOGIA APLICADA 35 1) os homens constroem a sua vida (social) e a sua história, porém não as constroem em condições por eles escolhidas, determinadas pela sua vontade. A vida em sociedade estabelece relações sociais que não foram geradas pela vontade individual. A ação do indivíduo no mundo que o envolve obriga-o a contrair relações, as relações sociais. Elas determinam o ser social, ou seja, o indivíduo é o resultado das forças econômicas e das relações sociais que atuam sobre ele. Para viver, os homens têm de inicialmente transformar a natureza, arrancando dela tudo o que necessita para subsistir e para ultrapassar a vida simplesmente natural. É pelo trabalho que os homens transformam e dominam a si próprios e a natureza. Assim, é pelo trabalho, através dos instrumentos que ele gerou, como as ferramentas ou máquinas, as técnicas empregadas para produzir e a divisão do trabalho, que os homens produzem a sua existência. Portanto, as relações fundamentais de qualquer sociedade são as relações de produção. As relações de produção são as formas pelas quais os homens se organizam para executar a atividade produtiva. São as relações fundamentais dos homens com a natureza e dos homens entre si na sua atividade produtiva. As relações de produção articulam-se a três elementos: as condições naturais (clima, solo, fauna, flora, etc.) determinada pela própria natureza, as tecnologias e a divisão do trabalho. Esses três elementos constituem as forças produtivas. No curso da história, cada um desses elementos pode sofrer modificações e aperfeiçoamentos. Por exemplo, a exploração e o uso de novos recursos naturais exigem o aperfeiçoamento tecnológico e a invenção de novas técnicas para atingir o máximo de produção. Por outro lado, além da incorporação de novos instrumentais e tecnologias, uma nova organização da divisão do trabalho também será exigida, determinando novos padrões de formação e aperfeiçoamento da capacidade técnica da força de trabalho. Portanto, as forças produtivas e as relações de produção são fatores essenciais para organização de toda atividade produtiva realizada em sociedade. A forma como cada uma existe e se desenvolve vai determinar o que Marx chamou de modo de produção. 2) Defendendo rigoroso determinismo econômico em todas as sociedades humanas, Marx distingue as etapas da história humana a partir dos modos de produção. São quatro os modos de produção: o asiático, o antigo, o feudal e o capitalista. Segundo Aron (1987), esses quatro modos de produção podem ser reunidos em dois grupos. Os modos de produção antigo, feudal e capitalista são representantes da história do Ocidente. Enquanto o modo de produção asiático caracteriza uma civilização distinta da do Ocidente. O modo de produção antigo é caracterizado pela escravidão; o modo de produção feudal pela servidão e o modo de produção capitalista pelo trabalho assalariado. Eles correspondem a três modos distintos de exploração do homem pelo UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA 36 homem. O modo de produção capitalista seria a última etapa de uma formação social baseada na exploração do homem pelo homem, na medida em que o modo de produção que o substituiria, seria o modo de produção socialista, não submeteria a massa de trabalhadores à exploração e à opressão. 3) Estabelece uma distinção entre a infra-estrutura e a superestrutura. Compara a sociedade a um edifício, cuja base, a infra-estrutura, seria representada pelas forças econômicas - forças produtivas e relações de produção, enquanto a superestrutura representaria as idéias, costumes e instituições jurídicas e políticas, as ideologias e as filosofias. É sobre essa base econômica que se ergue a superestrutura da sociedade moderna. O campo político, jurídico e ideológico por sua vez representa a forma como os homens estão organizados no processo produtivo. Para Marx, a esfera econômica determina e condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral. A Sociologia compreensiva de Max Weber Pretendendo distanciar-se do Positivismo de Durkheim – que pretendia estabelecer “leis universais” comuns a várias ou a todas as configurações históricas, e do Materialismo Histórico de Marx – que pressupõe um determinismo econômico na análise dos processos históricos, Max Weber parte da idéia de que cada formação histórica carrega especificidade e importância próprias. Sendo tarefa do sociólogo trazer à tona o que há de peculiar, de particular em cada uma delas. Para Weber, os fenômenos sociais que interessam a Sociologia não devem ser tratados como “coisa”, ou seja, fatos exteriores que devem ser analisados à distância pelo pesquisador. “O domínio do trabalho científico não tem por base as conexões ‘objetivas’ entre as ‘coisas’ mas as conexões conceituais entre os problemas. Só quando se estuda um novo problema com auxílio de um método novo e descobrem verdades que abre novas e importantes perspectivas é que nasce uma nova ciência”. (WEBER, M. A “Objetividade” do Conhecimento nas Ciências Sociais. In: COHN, G. Weber – Sociologia. São Paulo: Editora Ática, p.84) Nem tampouco devem tentar interpretá-los sempre tomando como única explicação causal a esfera econômica. “Em nenhum domínio dos fenômenos culturais pode a redução unicamente a causas econômicas ser exaustiva, mesmo no caso específico dos fenômenos ‘econômicos’”. (WEBER,Op.Cit,86) Sua obra é marcada pela análise teórica e empírica dos fatos econômicos, históricos e culturais. Weber partia do pressuposto que a realidade social era infinita e inesgotável, portanto, o conhecimento e os fundamentos gerados pelas ciências sociais não deveriam se limitar a determinar “leis” gerais que explicassem a totalidade da vida social. SOCIOLOGIA APLICADA 37 “A ciência social que nós pretendemos praticar é uma ciência da realidade. Procuramos compreender a realidade da vida que nos rodeia e na qual nos encontramos situados naquilo que tem de específico; por um lado, as conexões e a significação cultural das suas diversas manifestações na sua configuração atual e, por outro, as causas pelas quais se desenvolveu historicamente assim e não de outro modo. Ocorre que, tão logo tentamos tomar consciência do modo como se nos apresenta imediatamente a vida, verificamos que se nos mani-festa, “dentro” e “fora” de nós, sob uma quase infinita diversidade de eventos que aparecem e desaparecem sucessiva e simultaneamente. E a absoluta infinidade dessa diversidade subsiste, sem qualquer atenuante do seu caráter intensivo, mesmo quando prestamos a nossa atenção, isoladamente, a um único “objeto” - por exemplo, uma transação concreta -; e isso tão logo tentamos sequer descrever de forma exaus-tiva essa “singularidade” em todos os seus componentes individuais, e muito mais ainda quando tentamos captá-la naquilo que tem de causal-mente determinado. Assim, todo o conhecimento reflexivo da realidade infinita realizado pelo espírito humano finito baseia-se na premissa tácita de que apenas um fragmento limitado dessa realidade poderá constituir de cada vez o objeto da compreensão científica, e de que só ele será “essencial” no sentido de “digno de ser conhecido”. (WEBER, In: COHN, 1979, p.88) Segundo Weber, o propósito da ciência não é dar conta da infinita e exaustiva totalidade da vida social, reduzindo-a às leis gerais “vazias de conteúdo”. “Isto porque quanto mais vasto é o campo abrangido pela validade de um conceito genérico – isto é quanto maior a sua extensão -, tanto mais nos afasta da riqueza da realidade, posto que para poder abranger o que existe de comum no maior número possível de fenômenos, forçosamente deverá ser mais abstrato e pobre de conteúdo.” (Ibid., p.96) Na perspectiva de Weber, a ciência pode e deve produzir uma análise objetiva das diversas dimensões (econômica, política, cultural, religiosa, etc.) da realidade, sem a intenção de reduzir e aprisionar toda a riqueza dos fatos a leis gerais. O que importa é compreender a significação que a realidade da vida possui para os indivíduos em diferentes contextos e em diferentes épocas. O método sociológico interpretativo Para Weber, todo o conhecimento da realidade social é parcial, limitado e subordinado a pontos de vista particulares. O cientista social fará sempre uma seleção, consciente ou inconscientemente, dos elementos da realidade que pretende analisar a partir do seu ponto de vista particular, destacando UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA 40 Os “tipos ideais” Para tornar possível a investigação e a compreensão de categorias e conceitos empregados na análise sociológica, Weber recorreu a certos instrumentos metodológicos que permitiriam ao cientista uma investigação dos fenômenos particulares. A este recurso metodológico Weber chamou de tipo ideal, o qual cumpriria duas funções principais: primeiro a de selecionar explicitamente a dimensão do objeto que virá a ser analisado e, posteriormente, apresentar essa dimensão de uma maneira pura, sem suas sutilezas concretas. Para Weber(Falta o ano e a página), o tipo ideal é construído: “mediante a acentuação unilateral de um ou vários pontos de vista, e mediante o encadeamento de grande quan-tidade de fenômenos isoladamente dados, difusos e discretos, que se podem dar em maior ou menor número ou mesmo faltar por completo, e que se ordenam segundo os pontos de vista unilateralmente acentua-dos a fim de se formar um quadro homogêneo de pensamento. Torna-se impossível encontrar empiricamente na realidade esse quadro, na sua pureza conceitual, pois trata-se de uma utopia. A atividade historio-gráfica defronta-se com a tarefa de determinar, em cada caso particular, a proximidade ou afastamento entre a realidade e o quadro ideal, em que medida portanto o caráter econômico das condições de determinada cidade poderá ser qualificado como “economia urbana” em sentido conceitual. Ora, desde que cuidadosamente aplicado, esse conceito cumpre as funções específicas que dele se esperam, em benefício da investigação e da representação”. Trata-se, portanto, de uma construção teórica abstrata dos fenômenos particulares que se pretende investigar. O cientista constrói um modelo (tipo ideal) acentuando algumas características cujo exame lhe parece importante na observação do fenômeno selecionado para o estudo. Segundo Costa(2005, 100): o tipo ideal não é um modelo perfeito a ser buscado pelas forma-ções sociais históricas nem mesmo em qualquer realidade observável. É um instrumento de análise científica, numa construção do pensa-mento que permite conceituar fenômenos e formações sociais e iden-tificar na realidade observada suas manifestações. Permite ainda com-parar tais manifestações. A construção do tipo ideal permite ao sociólogo explicar uma realidade complexa, partindo de traços característicos essenciais. Chegamos ao final desta unidade, abordando as principais questões e conceitos que orientaram os estudos dos principais teóricos clássicos da Sociologia. Esperamos que você tenha percebido que a realidade social é um fenômeno que pode ser compreendido de várias formas distintas e que a análise sociológica é plural, porque permite olhar um mesmo fenômeno por diferentes ângulos. SOCIOLOGIA APLICADA 41 LEITURA COMPLEMENTAR: COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à ciência da sociedade. 3a.ed. ver. ampl..SãoPaulo: Moderna, 2005. 416p. MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. 38a. ed. São Paulo: Brasiliense,1994. (Coleção Primeiros Passos-57). 58p. QUINTANEIRO, T. Um Toque de Clássicos: Durkheim, Marx e Weber. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999. 157p. É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Na unidade 3, estudaremos a caracterização da sociedade humana. Vamos em frente! 1 SOCIOLOGIA APLICADA SOCIOLOGIA APLICADA Graduação EXERCÍCIOS 13 SOCIOLOGIA APLICADA a) Afetiva. b) Irracional. c) Racional em relação aos fins. d) Tradicional. e) Racional em relação a valor. EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM E FIXAÇÃO 1. Explique porque, segundo Durkheim, os fatos sociais são exteriores e coercitivos: ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ 2. Leia e explique a afirmação a partir da análise sociológica desenvolvida por Max Weber: “Apenas as idéias de valor que dominam o investigador e uma época podem determinar o objeto de estudo e os limites desse estudo.” ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ 1 SOCIOLOGIA APLICADA SOCIOLOGIA APLICADA Graduação SOCIOLOGIA APLICADA 43 U N ID A D E 3 CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA Nesta unidade, veremos como o homem é um ser que necessita viver em grupo para se hominizar, ou seja, para se tornar verdadeiramente humano. Examinaremos o seu ambiente social e a sua produção em grupo. Vamos lá! OBJETIVOS DA UNIDADE: • Diferenciar a sociedade humana da sociedade animal, identificando seus elementos principais. • Conceituar cultura atentando para as suas sutilezas. • Construir uma visão crítica acerca da influência da indústria cultural nos dias atuais, avaliando seu papel ideológico. PLANO DA UNIDADE: • Elementos principais da sociedade humana. • A essência da cultura. • Classificação da cultura. • Cultura popular e cultura erudita. • Indústria cultural ou cultura de massa. Bons estudos! UNIDADE 3 - CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA 46 Assim o homem transmite a sua cultura, mas ao mesmo tempo rompe com as tradições, renovando esta cultura e acrescentando novos elementos à mesma. Desta forma, observamos que o homem é um ser histórico que vive a cada época de maneira diferente. CLASSIFICAÇÃO DA CULTURA As culturas apresentam um aspecto material e outro não-material. Aqui podemos situar as tradições, os costumes, as leis, as ciências, as ideologias, etc. A cultura, também possui o seu lado material, concreto, em que são produzidos todos os tipos de objetos, máquinas, ferramentas, que estão ligados, obviamente, ao lado abstrato. Sob o enfoque marxista, como vimos na unidade I, o homem é o único animal que produz cultura, pois é o único animal que transforma a natureza através de seu trabalho, produzindo bens materiais para a sua subsistência. CULTURA POPULAR E CULTURA ERUDITA Esses conceitos geram, muitas vezes, discussões entre os estudiosos da questão, pois como se define o que é popular e o que é erudito? Quais os critérios utilizados para separarmos o que é uma coisa e o que é outra? O critério mais utilizado é o da classe social, ou seja, a cultura popular pertenceria ao povo e a cultura erudita às elites ou classes dominantes dentro da sociedade capitalista. Para alguns antropólogos, estas definições são muito mais complexas do que aparentemente se apresentam, pois as classes não são homogêneas e nem tão pouco a sua produção cultural. Portanto, esta divisão traz em si um grande debate científico. Em uma sociedade como a nossa, verificamos a existência de uma inter- relação entre a cultura popular e a cultura erudita, o que permite a manutenção da sociedade como um todo. Os elementos que a princípio pertencem à cultura popular ou à cultura erudita vão se transformando dinamicamente e se entrelaçando. O que podemos dizer é que este fenômeno é conseqüência da vivência do homem em sociedade. E assim, se por um lado vemos a feijoada que a princípio era alimento de escravos nos melhores restaurantes das cidades, por outro lado, vemos a música clássica (pertencente às elites) em um radinho de pilha de um operário. SOCIOLOGIA APLICADA 47 Edgar Morin (1986, p.75), grande pensador sobre as questões culturais, analisa o conceito de cultura da seguinte forma: Cultura: falsa evidência, palavra que parece uma, estável, firme, e, no entanto, é a palavra armadilha, vazia, sonífera, mimada, dúbia, traiçoeira. Palavra mito que tem a pretensão de conter em si completa salvação: verdade, sabedoria, bem-viver, liberdade, criatividade... O que percebemos é que a cultura é um sistema em que todos os elementos estão ligados entre si e que cada sociedade transmite a seus membros a sua cultura, o seu patrimônio cultural. Cada sociedade possui a sua cultura e é ela que a caracteriza. Indústria cultural ou cultura de massa Podemos começar a falar de indústria cultural ou cultura de massa a partir do século XVIII quando foi marcante a multiplicação dos jornais na Europa, fato que anteriormente à industrialização somente o clero e a nobreza tinham acesso à escrita. A industrialização trouxe consigo grandes transformações sociais, econômicas, políticas e culturais, não somente os bens materiais produzidos por ela apresentaram aumento no consumo, mas também os bens culturais. O número de leitores aumentou consideravelmente com o barateamento dos custos do papel, os jornais tinham cada vez mais tiragens. Cresceram as companhias de teatro, balé, circos, que se preocupavam com o público das cidades que aumentava a cada dia com o êxodo rural. Todas estas transformações fizeram com que um ramo da indústria passasse a se dedicar exclusivamente a este fato. Logo, não só os jornais apresentavam crescimento, como já foi dito anteriormente, mas os livros, as peças, as “mercadorias culturais” como um todo, cresciam. Este termo, indústria cultural, foi criado por dois grandes filósofos contemporâneos: Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheime (1895- 1973). Eles explicam como os meios de comunicação de massa (rádio, televisão, cinema) vendem as mercadorias culturais e como são veiculadas as imagens da sociedade capitalista através da propaganda desta sociedade, a fim de que ela se mantenha como está, ou seja, para que a sua estrutura permaneça a mesma. UNIDADE 3 - CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA 48 Os atuais meios de produção propiciaram a reprodução de obras de arte que foram sendo popularizadas em larga escala. E sobre esse aspecto os estudiosos da questão afirmam que não podemos pensar em cultura erudita ou cultura popular sem antes examinarmos a indústria cultural. Entretanto, os autores mencionados criticavam a indústria cultural, pois consideravam que, ao invés de democratizar os bens culturais chamados de eruditos, simplesmente os banalizavam, na medida em que o povo não conseguia compreendê-los. Logo, só serviam para controlar e manter o status quo através da dependência e da alienação dos homens. Em contrapartida, outros autores, assim como Marshall Mcluhan (1911-1980) analisam a indústria cultural sob outro ângulo mais positivo, pois consideram que os meios de comunicação de massa aproximam os homens e diminuem as distâncias territoriais e sociais entre eles e muitas vezes, estes são as únicas fontes de informação para uma considerável parcela da população. Segundo esta corrente de pensadores, a indústria cultural contribuiu para a emancipação e melhoria das sociedades, pois promovendo a padronização dos gostos e sensibilidades entre as classes sociais, promove também a união e o sentimento de nacionalidade. Faça uma revisão deste conteúdo, buscando rever os pontos principais que foram abordados. LEITURA COMPLEMENTAR: CASTRO & DIAS. Introdução ao pensamento sociológico. Rio de Janeiro: Eldorado, 1981. KOENIG, S. Elementos de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. MORIN, E. Cultura de Massa no século XX. O espírito do tempo -2. NECROSE. Rio de Janeiro: Forense, 2001. É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Na próxima unidade, estudaremos a estratificação social. Até lá! Status quo – expressão latina que significa o sistema vigen- te. 16 UNIDADE 3 - CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA 4. Como vimos nesta unidade, o homem é um ser que não nasce pronto e por isso depende do grupo social para se: a) movimentar. b) concentrar. c) transportar. d) socializar. e) especializar. 5. O processo de socialização é aquele no qual: a) o homem aprende a cultura de sua sociedade de forma contínua. b) a criança aprende a respeitar seus amiguinhos. c) o homem troca experiências com as gerações mais novas. d) o homem aprende a cultura dos países com quais mantém contato. e) as crianças brincam com os coleguinhas na escola. 6. Marque (V) para as afirmativas verdadeiras e (F) para as falsas: I. ( ) As culturas apresentam três aspectos considerados importantes: o material, o não-material e o sobrenatural. II. ( ) Os conceitos de cultura erudita e de cultura popular são facilmente definidos entre os antropólogos. III. ( ) Muitas vezes, quando definimos cultura, somente o seu aspecto abstrato é lembrado, como as tradições e as crenças. IV. ( ) A linguagem simbólica é considerada uma linguagem abstrata porque se baseia na fantasia humana. V. ( ) Verificamos em sociedades como a nossa, uma freqüente inter- relação entre o que é erudito e o que é considerado popular. a) F, V, V, V, V. b) F, V, V, F, V. c) V, V, F, F, V. d) F, F, V, F, V. e) V, V, F, V, F. 7. Dois elementos são apontados durante esta unidade como diferenciadores da sociedade humana, são eles: a) o trabalho e os meios de comunicação. b) a cultura de massa e os meios de comunicação. c) a linguagem simbólica e os meios de comunicação. d) a leitura e os transportes. e) a linguagem simbólica e o trabalho. 8. A indústria cultural é vista por alguns autores sob um ângulo negativo porque: a) faz com que as pessoas consumam cada vez mais mercadorias des- necessárias. 17 SOCIOLOGIA APLICADA b) diminui o papel da escola, pois as crianças se interessam mais pela televisão do que pelos estudos. c) vende muito mais revistas do que livros. d) serve apenas para controlar e manter a sociedade capitalista através da dependência e da alienação dos homens. e) aumenta o consumo de bens que antes eram apenas das classes dominantes. EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM E FIXAÇÃO 1. Quais são as críticas mais apontadas à indústria cultural por Adorno e Horkheime? ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ 2. Explique por que Edgar Morin afirma que a palavra cultura parece ser uma armadilha. ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ 1 SOCIOLOGIA APLICADA SOCIOLOGIA APLICADA Graduação SOCIOLOGIA APLICADA 51 eles. Esse tipo de organização social parte do pressuposto de que os direitos são desiguais por natureza, já que os elementos que os caracterizam foram definidos hereditariamente. Somente os indivíduos considerados puros poderiam exercer cargos públicos. Como as ocupações são hereditárias, salvo algumas exceções, a sociedade apresenta uma divisão funcional do trabalho baseada nesse esquema. A industrialização teve grande impacto nesse sistema, mas este incorporou muitas inovações. Cada casta possui leis específicas e tribunais próprios. Grurye (In: Lakatos, 1985) aponta algumas transgressões que devem ser julgadas pelos tribunais: · comer, beber ou manter atividades com pessoas de outras castas; · tomar por concubina mulheres pertencentes a outras castas; · adultério; · sedução de mulheres casadas; · recusa de cumprimento de promessa de casamento; · recusa de manter uma esposa; · o não pagamento de dívidas; · roubo; · quebra dos hábitos de comércio peculiar à casta; · apropriar-se de clientes de outro e elevar ou reduzir os preços das mercadorias e serviços; · matar uma vaca ou outro animal sagrado; · insultar um brâmane; · desafiar os costumes das castas por ocasião de cerimoniais de casamento e outras. Essas castas podem ser encontradas em qualquer lugar da Índia, apesar de apresentarem diferenciações ocasionadas por vários fatores que deram origem a divisões múltiplas. Algumas dessas subcastas têm caráter nacional, mas outras são encontradas apenas em determinados locais. Desvinculando a casta de seu conteúdo religioso, como ocorre na Índia, alguns autores consideram a existência das castas em outras circunstâncias, tais como: no Antigo Egito, no Japão medieval, na Alemanha nazista. A ORGANIZAÇÃO SOCIAL ATRAVÉS DOS ESTAMENTOS A sociedade feudal européia (séc. IX ao séc. XIV) se organizou através desse sistema, que tinha suas bases apoiadas na tradição que definia seus estratos em nobres, clero e servos. Nobres – dedicavam-se à guer- ra, à caça e a funções jurídicas e administrativas. Clero – dividia-se em alto clero (era uma elite eclesiástica e intelectual e seus membros vi- nham da nobreza); baixo clero que era composto pelos padres originários da população pobre. Servos – trabalhavam a terra para si e para os seus senho- res. UNIDADE 4 - A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL 52 Como foi dito anteriormente, era através da tradição que se definia os elementos principais dessa organização que eram a honra, a hereditariedade e a linhagem. Os estamentos ou estados eram semelhantes às castas, porém não eram tão fechados. A mobilidade social era difícil, mas não impossível. Este tipo de hierarquização social está ligado a um determinado momento histórico com suas características econômicas e políticas. E como se comportavam as pessoas nesse tipo de organização social? Cada uma se comportava de acordo com o seu estamento porque os privilégios também eram desiguais, pois aqueles que se encontravam no topo da pirâmide social (nobres e clero) possuíam maiores privilégios. As atividades guerreiras, sacerdotais e a administração pública eram reservadas aos estamentos dominantes. Para manter seus privilégios, esses estamentos criavam certas resistências à penetração de outros através de monopólios de determinadas funções e da endogamia. Os servos trabalhavam nas terras dos senhores feudais e estes os protegiam. Um servo que não estivesse ligado a um senhor feudal estava desprotegido perante a lei. A propriedade e o uso da terra, no sistema feudal, determinavam uma série de obrigações que estavam ligadas por relações de reciprocidade e de fidelidade. Existiam também, nesse tipo de organização social, os vassalos, que eram aqueles que serviam a um senhor. Possuíam obrigações de ajudar nas guerras, guardar os castelos, prestar serviços de criadagem doméstica, entre outros. Como foi dito acima, o senhor também tinha obrigações de proteger os seus vassalos. Os senhores feudais, por sua vez, também eram vassalos do rei, que estava no topo desta hierarquização e ao qual todos estavam subordinados. Esse tipo de organização social é chamado de patrimonialista, pois está ligado diretamente à propriedade da terra, que era o maior patrimônio que alguém poderia ter. Dessa forma, se definia a organização política da sociedade feudal. Os nobres que não possuíam terras e usavam as de outro nobre subordinado a eles. O clero também possuía terras e, com isso, muitos nobres estavam subordinados a ele. O poder estava nas mãos daqueles que detinham a propriedade das terras, daí a nobreza e o clero estarem no topo da pirâmide social e, conseqüentemente, os cargos públicos estavam vinculados a esse esquema de tradição e fidelidade. Os valores dessa sociedade eram difundidos pela Igreja Católica e os indivíduos aceitavam que determinadas pessoas eram portadoras desses privilégios pela hereditariedade, pela honra e pela linhagem. Senhor – o proprietário das ter- ras, também denominado de suserano. Marx foi o primeiro estudioso a utilizar esse conceito, “clas- ses sociais”, apesar de não tê- lo definido com precisão. SOCIOLOGIA APLICADA 53 AS CLASSES SOCIAIS A sociedade capitalista produz uma hierarquização social própria que se configura no sistema de classes sociais, ou seja, essas classes expressam como se organiza tal tipo de sociedade. Dessa forma, uns são capitalistas – proprietários dos meios de produção e outros possuem apenas a sua força de trabalho - operários. Esses dois grupos dão origem às classes sociais que sustentam todo o sistema e como resultado dessa relação surgem os interesses opostos, os antagonismos. Quando falamos que as classes que sustentam o sistema capitalista são duas, não quer dizer que existam apenas essas duas. Outras classes intermediárias foram surgindo ao longo do desenvolvimento do capitalismo. Historicamente, desde o nascimento do sistema capitalista com a queda do sistema feudal, essas classes são consideradas antagônicas tanto no que diz respeito ao aspecto econômico quanto ao aspecto político. Economicamente, no que diz respeito à apropriação/expropriação e politicamente no que diz respeito à dominação que a classe capitalista exerce sobre as demais. Essa divisão da sociedade em classes sociais não é um fato opcional, isto é, os homens não escolhem participar de uma ou de outra classe, pois elas são produzidas socialmente. Contudo, a mobilidade social é possível nesse sistema, um indivíduo pode ir de uma classe para outra dependendo de seu êxito nas relações de produção. O operário não pode dizer que não vai mais trabalhar para o capitalista e o capitalista não pode dizer que não precisa mais do operário, pois estariam abrindo mão de sua própria existência. As classes sociais só se estabeleceram no sistema capitalista, porque estão relacionadas a esse sistema. Como vimos, anteriormente, no sistema feudal a hierarquização dos estratos estava baseada em estamentos. Por que isso acontece? Porque a forma de organização do trabalho é diferente e a forma de propriedade também. Na sociedade capitalista, o trabalho é livre e assalariado e a cada dia requer uma divisão mais especializada. Isto se faz necessário porque no capitalismo existe a necessidade de se gerar sempre excedentes que são comercializados e geram os lucros dos capitalistas. Quanto à distribuição do prestígio, este está associado às relações entre as pessoas e os elementos da produção, os proprietários dos meios de produção sempre gozam de maior prestígio social do que os trabalhadores. Quanto à distribuição de poder, também não é diferente, possuem maior poder aqueles que detêm os meios de produção. Antagônicas – que possuem interesses contrários, opostos. 19 SOCIOLOGIA APLICADA U N ID A D E 4 A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO 1. A organização do trabalho no sistema de classes sociais se diferencia do sistema baseado em estamentos porque: a) permite o trabalho escravo em suas colônias; b) se utiliza do trabalho assalariado; c) mantém uma relação de servidão entre as pessoas; d) depende do trabalho servil dos operários; e) permite a existência do trabalho feminino e infantil. 2. Marque a alternativa que corresponde ao sistema de castas. a) Existe a liberdade de mudar de um estrato para o outro; b) Os servos trabalhavam nas terras do senhor; c) A busca pelo lucro é sempre o maior objetivo; d) O trabalho assalariado é uma característica essencial; e) Os indivíduos não podem mudar de um estrato para o outro. 3. Para entendermos a estratificação social de uma sociedade é necessário: a) observar como eram as relações de vassalagem entre os senhores feudais e o rei; b) estudar as relações entre os empregados e os serviços prestados por eles; c) compreender como os capitalistas obtém os seus lucros; d) compreender como os homens organizam sua produção e como distri- buem o poder na sociedade; e) estudar a distribuição das mercadorias na economia. 4. No sistema de castas indiano as desigualdades sociais são justificadas através: a) dos problemas políticos; b) da base religiosa; c) das diferenças sociais; d) das culturas populares; e) da economia de mercado. 5. O sistema feudal possuía como seu principal bem: a) a terra; b) o castelo do senhor feudal; c) o exército do rei; d) o produto agrícola; e) a igreja. 20 UNIDADE 4 - A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL 6. Complete a frase abaixo com o grupo de palavras mais adequado. Chamamos de estratificação social a ___________________ de pessoas ou grupos de pessoas que vivem em uma sociedade determinada, ocupando ____________________ diferentes, de acordo com os _______________ que lhes são atribuídos. a) convocação – cargos – missões b) colocação – cargos – valores c) aceitação – estratos – ocupações d) especificação – locais – problemas e) hierarquização – posições – valores 7. Os estamentos faziam parte de um tipo de estratificação social que estava apoiada em: a) relações econômicas onde o lucro era o principal objetivo; b) tradições das épocas greco-romanas; c) relações de obrigações e fidelidade entre seus membros; d) produções de riquezas nas colônias americanas; e) produções de um excedente para a comercialização. 8. A mobilidade social no sistema capitalista é considerada: a) muito rígida porque o operário sempre vai ser operário; b) fechada porque cada classe tem o seu próprio lugar no sistema; c) rígida e fechada porque é herdada de pai para filho; d) semi-aberta, pois o capitalista permite que o operário mude de classe ou não; e) aberta porque um indivíduo pode mudar de classe social. EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM E FIXAÇÃO 1. Por que é dito, pelos estudiosos da questão da estratificação, que somente na sociedade capitalista e não na sociedade feudal, e nem na indiana, a mobilidade social é possível? ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ 2. Explique por que as classes sociais (capitalistas/ trabalhadores) possuem interesses antagônicos. ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ 1 SOCIOLOGIA APLICADA SOCIOLOGIA APLICADA Graduação 57 SOCIOLOGIA APLICADA Portanto, observando por esta perspectiva, a globalização é um fenômeno típico da segunda metade do século XX que estabeleceu a crescente inter-relação das economias e das sociedades dos vários países, tanto no que diz respeito à circulação de mercadorias e serviços quanto aos mercados financeiros e de informações e que vem se desenvolvendo até hoje. Segundo outros autores, a globalização surgiu a partir da queda do bloco socialista e o conseqüente fim da Guerra Fria (entre 1989 e 1991), como esclarece IANNI ( 1997, p.219): (...) Emerge de forma particularmente evidente, em suas configurações e em seus movimentos, no fim do século XX, a partir do desabamento do mundo bipolarizado em capitalismo e comunismo (...) A globalização também é considerada como uma fase do desenvolvimento do capitalismo, ou seja, assim como o colonialismo esteve para a sua etapa comercial e o imperialismo para sua fase industrial e inicio da financeira, está a globalização para a fase científico-tecnológica do capitalismo. Verificamos também que essa fase é uma expansão que tem por objetivo aumentar os mercados e conseqüentemente os lucros da classe dominante. Desta forma, a globalização rompe fronteiras geográficas e históricas se consolidando a cada dia, como podemos observar nos estudos de IANNI (1997, p.221): Na base da ruptura que abala a geografia e a história no fim do século XX está a globalização do capitalismo. Em poucas décadas, logo se revela que o capitalismo se tornou um modo de produção global. Está presente em todas as nações e nacionalidades, independente de seus regimes políticos e de suas tradições culturais ou civilizatórias. Aos poucos, ou de repentemente, as forças produtivas e as relações de produção organizadas em moldes capitalistas generalizam-se por todo o mundo. Mas apesar dessa expansão da globalização ter sido vertiginosa, isto não quer dizer que tenha sido de forma linear e sem resistências. Encontramos, no decorrer desse processo, avanços e recuos, como esclarece HAESBAERT (1998, p.14): Se retornarmos no tempo, verificaremos que, na identificação de fases ou “ondas”, o capitalismo apresentou avanços e recuos em sua dinâmica competitiva, imperialista e globalizadora, não só pela natureza contraditória de sua reprodução como também pela interferência, mais ou menos intensa, dos trabalhadores (organizados em sindicatos, por exemplo) e do Estado (...) A sociedade global deixou de ser imaginária e se tornou uma realidade econômica, política e social, tendo conseqüências marcantes no campo cultural, pois alterou as condições de vida e de trabalho de muitas pessoas. 58 UNIDADE 5 - A SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA No passado, as inovações tecnológicas atingiram a sociedade agrária dando lugar ao desenvolvimento do setor industrial, a mão de obra se transferiu para a área urbana. Hoje, as novas tecnologias, ligadas ao setor da informação e da microeletrônica atingem o setor industrial, aumentando a sua produção e destruindo milhões de empregos. Entretanto, como podemos observar, há uma mudança nos empregos, como afirma MAGNOLI et al (1997, p.24): Nas duas últimas décadas, a diminuição de empregos industriais nos países ricos foi parcialmente compensada pela criação de empregos no setor de serviços. Nos países do G7 (os sete países economicamente mais poderosos do planeta: Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Grã-Bretanha, Itália e Canadá), entre 1974 e 1994, registraram-se treze anos de redução de empregos no setor secundário: no mesmo período os serviços ampliaram continuamente os seus postos de trabalho (...) Surge então, a sociedade de informação ou a sociedade pós-moderna como chamou Daniel Bell sociólogo de Harvard. Atualmente, muito mais trabalhadores lidam com a informação do que dentro de fábricas. Muito mais pessoas gastam o seu tempo criando, processando ou distribuindo informações. E o que caracteriza uma sociedade, como já vimos em outras unidades, é justamente o modo como se organiza o trabalho. Portanto, a sociedade hoje é chamada de sociedade de informação, pois passou a sociedade industrial em números de trabalhadores (Naisbitt, 1983). Da mesma forma que a rede de transportes levou os produtos da industrialização, a rede de comunicação está levando agora os novos produtos da sociedade da informação. AS CONSEQÜÊNCIAS DO PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO. O fenômeno da globalização vem desafiando os estudiosos quanto as suas conseqüências. Apesar de seu aspecto econômico ter sido enfatizado, outras ciências, como já foi dito anteriormente, também vêm estudando esse processo. A cada dia são promovidos seminários, encontros, palestras de avaliação e previsão de suas conseqüências. O interesse dispensado ao tema pelas universidades e pela imprensa, já demonstra que este se trata de um assunto que gera polêmicas e conflitos. Delineiam-se, desta forma, dois grupos de análises: os que são a favor e os que são contra a globalização, FLORIANI (2004). GLOBALIFÓLICOS GLOBALIFÍLICOS Grupo que critica a globalização Grupo que defende a globalização O grupo contrário à globalização critica a idéia de que este fenômeno promove a interdependência entre os países e as regiões, aproximando-os e propiciando o desenvolvimento. Acredita, este grupo, que a unilateralidade 59 SOCIOLOGIA APLICADA do poder das nações mais ricas em busca da hegemonia do mercado é que acaba prevalecendo, ou seja, essas nações é que ditariam sempre as regras para as nações mais pobres. Além de destacarem que as nações mais ricas possuem o domínio da tecnologia e que hoje a distância entre os países ricos e os países pobres é cada vez maior do que no passado. Já para o grupo que a defende, a globalização desfaz fronteiras e o mundo passa a ser um todo regido por regras e práticas comuns, que devem ser adotadas por todos. Nessa abordagem, muitas são as vantagens advindas da globalização, pois um mercado sem limites entre as nações, que possui liberdade e se auto- regulariza é a base ideal para o desenvolvimento pleno do Neoliberalismo. Também, o Estado se livra de suas responsabilidades públicas, diminuindo sua participação nas ações sociais destinadas a garantir o desenvolvimento da população, deixando essas atribuições para as empresas particulares. É a política do Estado Mínimo. Conseqüentemente, os Estados-Nacionais transformarão seus perfis adotando novas formas e funções possibilitando a formação de uma gestão mundial, como prevêem alguns cientistas políticos. Entretanto, o processo de globalização vem recebendo severas críticas desde as últimas crises no mercado financeiro internacional e também a partir do elevado crescimento dos níveis de pobreza e de exclusão social. Um outro aspecto apontado é que a globalização não está conseguindo uniformizar os gostos, os padrões culturais como era previsto, pois os seus benefícios não são para todos os cidadãos como já foi dito acima. Grande parte da população não consegue se inserir nesse processo ficando assim excluída. Diante desses fatos, adverte FLORIANI (2004, p.54) que: Como pano de fundo, dois cenários parecem desafiar os contendores: por um lado, o economicismo do Fórum Econômico (Davos-Nova York) que não só propugna por mais globalização dos mercados, do comércio, mas considera a única saída viável para o planeta; por outro, o Fórum Social Mundial (de Porto Alegre) que se coloca na resistência do processso, com os mais diferentes matizes, mas com uma grande coincidência de oposição ao neoliberalismo globalizante. Além dos riscos econômicos, sociais e culturais, Giddens e Beck (In: Floriani, 2004) apontam como o maior problema da sociedade mundial o risco global, em especial o risco ecológico proveniente, dentre outros, da crescente desigualdade entre as regiões e países. Hegemonia – dominação e di- reção exercidas por uma clas- se social dominante. Neoliberalismo – Fase atual do capitalismo que prega a liber- dade total de transações co- merciais sem a interferência do Estado. Estados-Nacionais – Surgiram na Europa renascentista quan- do as monarquias absolutistas empreenderam a centralização do poder político, destruindo assim o poder local dos senho- res feudais. 1 SOCIOLOGIA APLICADA SOCIOLOGIA APLICADA Graduação EXERCÍCIOS 21 SOCIOLOGIA APLICADA U N ID A D E 5 A SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA EXERCÍCIOS AUTO-AVALIAÇÃO 1. Uma das conseqüências da globalização, apontada pelos estudiosos, será: a) o estudante ficará cada vez mais dependente do computador e da televisão; b) o professor passará a transmitir muito mais conteúdos do que agora; c) o professor se ocupará mais em valorizar os livros; d) o aluno será cada vez mais independente e autodidata; e) a direção das escolas terá que ser mais centralizadora. 2. Os teóricos que são contrários à globalização declaram que: a) o comércio exterior não é tão expressivo quanto pretende ser; b) a globalização trará uma ameaça de guerra constante entre as na- ções; c) as culturas locais serão as mais prejudicadas; d) a educação será atingida de forma progressista; e) haverá um relacionamento mais humano entre as nações pobres e as nações ricas. 3. Marque (V) para as afirmativas verdadeiras e (F) para as falsas. I. A era da comunicação global começou através da televisão. ( ) II. A globalização tem como um de seus objetivos aumentar os mercados e, conseqüentemente, os lucros da classe dominante. ( ) III. A globalização alterou as condições de vida e de trabalho de muitas pessoas. ( ) IV. Entramos na sociedade de informação ou na sociedade pós-moderna. ( ) V. Hoje, muito mais trabalhadores estão nas fábricas do que criando, processando e distribuindo informações. ( ) a) F, F, V, F, V; b) F, F, F, V, V. c) F, V, V, V, F; d) V,V, F, F, V; e) V, F, V, F, F; 22 UNIDADE 5 - A SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA 4. A globalização por ser um fenômeno ligado às tecnologias, o marco histórico de seu início é apontado como sendo: a) As Grandes Navegações; b) A chegada do Homem à lua; c) O descobrimento das Américas; d) A invenção do telefone. e) O lançamento do satélite Sputinik; 5. Complete o parágrafo abaixo com o grupo de palavras mais adequado. O processo de globalização vem recebendo severas ______________, desde as últimas ___________ do mercado financeiro internacional e também a partir do elevado crescimento da pobreza e da ___________. a) condenações – críticas – poluição; b) condenações – advertências – exclusão social. c) críticas – crises – exclusão social; d) advertências – décadas – fome; e) características – advertências – inclusão social. 6. O tema globalização é considerado: a) por demais econômico, pois só atinge essa área de estudo; b) irrelevante, pois queira ou não teremos que participar dele; c) um tema ultrapassado, pois já se falou muito sobre ele e tudo já foi dito; d) um tema polêmico, haja vista a quantidade de palestras e artigos sobre o assunto; e) unilateral, pois só interessa as grandes empresas. 7. A Globalização é um fenômeno que faz parte de uma determinada fase do capitalismo que é: a) a fase tecnológico-científica; b) a fase comercial; c) a fase colonial; d) a fase financeira; e) a fase imperialista. 8. O fenômeno da globalização é um processo que acontece: a) somente na área econômica, pois promove diversos tipos de transa- ções comerciais; b) entre os países considerados centrais, pois os países periféricos não podem participar desse processo; c) nos campos econômicos e políticos, pois envolve transações de alto nível; d) na Europa e nos Estados Unidos, pois é lá que se encontram os paí- ses centrais que comandam o capitalismo mundial; e) na economia, na política e nas áreas cultural e social, pois envolve situações variadas de transações e comunicações. SOCIOLOGIA APLICADA 63 U N ID A D E 6 CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA Muito bem, pessoal! Aqui vocês encontrarão alguns dos conceitos e expressões muito utilizados no campo da Sociologia. OBJETIVOS DA UNIDADE: Conceituar e diferenciar os principais conceitos da ciência sociológica observando sua dinâmica a fim de instrumentalizar-se para a compreensão da mesma. PLANO DA UNIDADE: • ACOMODAÇÃO • E adaptação? • ALIENAÇÃO: Você já ouviu falar em alienação? • ANTAGONISMO SOCIAL • ASSIMILAÇÃO • CIDADANIA • COMPETIÇÃO • CONFLITO • CONSCIÊNCIA DE CLASSE • COOPERAÇÃO • DIREITOS FUNDAMENTAIS • INTERAÇÃO SOCIAL • JUSTIÇA SOCIAL • MOBILIDADE SOCIAL • MOVIMENTOS SOCIAIS Bons estudos! UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA 64 A nossa preocupação foi articular esses conceitos com letras de música, textos de historiadores, poetas, jornalistas, pois é a partir da contextualização que os significados se tornam mais claros. ACOMODAÇÃO A acomodação é um processo pelo qual os indivíduos se ajustam formal e exteriormente a uma sociedade, muitas vezes de forma imposta e obrigatória. Desenvolve-se a acomodação quando as pessoas ou grupos julgam necessário agir em conjunto, apesar das diferenças e divergências. É uma situação que pode ter vida curta ou perdurar séculos. É um processo que pode acompanhar, reduzir ou evitar um conflito, o que não significa que a solução gere satisfação para ambos os contendores. Repare como Gilberto Freire (1984, p.163) aborda esse assunto: “Não foi só de alegria a vida dos negros escravos dos ioiôs e das iaiás brancas. Houve os que se suicidaram comendo terra, enforcando- se, envenenando-se com ervas e potagens dos mandingueiros. O banzo deu cabo de muitos. O banzo - a saudade da África. Houve os que de tão banzeiros ficaram lesos, idiotas. Não morreram, mas ficaram penando.” E ADAPTAÇÃO? A adaptação é um processo pelo qual o indivíduo se ajusta à sociedade, podendo-se afirmar que esse ajuste ocorre em três níveis: o afetivo, o biológico e o cognitivo. Há de salientar-se que o primeiro está relacionado aos valores prezados pela sociedade, os afetivos em relação aos pais, aos namorados, a pátria, etc. - que geram inclusive datas comemorativas. O segundo refere-se aos hábitos de um povo e o terceiro, aos padrões desenvolvidos por ela, como, por exemplo, os padrões morais. Em relação ao patriotismo, percebe-se que os próprios poetas trataram de cultivá-lo e difundi-lo, muitas vezes até de formas diversas. Veja como esse sentimento se revela nos versos extraídos do poema “Pátria Minha”, de Vinícius de Moraes (1998, p.179) (...) Se me perguntarem o que é a minha pátria direi: Não sei. De fato, não sei Como, por que e quando a minha pátria Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água Que elaboram e liquefazem a minha mágoa Em longas lágrimas amargas. Vontade de beijar os olhos de minha pátria De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos... Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias SOCIOLOGIA APLICADA 65 De minha pátria, de minha pátria sem sapatos E sem meias pátria minha Tão pobrinha! (...) O segundo e o terceiro níveis podem ser ilustrados pelo seguinte poema (Oswald de Andrade, 1971, p.84) que trata da chegada dos portugueses ao Brasil. Veja a estranheza que os hábitos e os padrões de comportamento dos índios causam aos portugueses: (...) os selvagens Mostraram-lhes uma galinha Quase haviam medo dela E não queriam por a mão E depois a tomaram como espantados primeiro chá Depois de dançarem Diogo Dias Fez o salto real as meninas da gare Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis Com cabelos mui pretos pelas espáduas E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas Que de nós as muito bem olharmos Não tínhamos nenhuma vergonha. ALIENAÇÃO: VOCÊ JÁ OUVIU FALAR EM ALIENAÇÃO? Naturalmente, sim. Alienação é um afastamento ou separação de partes ou do todo da personalidade em relação à realidade exterior na qual se insere. Esse fato pode ser exemplificado a partir dos versos de Bertolt Brecht (1982, p.183) em “O analfabeto político”: O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa Dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, Da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA 68 É o que se verifica nas estrofes de Ferreira Gullar (1980, p.137) em seu poema O Açúcar: O branco açúcar que adoçará meu café Nesta manhã de Ipanema Não foi produzido por mim Nem surgiu no açucareiro por milagre. (...) Este açúcar veio da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira, dono da mercearia. Este açúcar veio de uma usina de açúcar em Pernambuco ou no Estado do Rio e tampouco o fez o dono da usina. (...) Em lugares distantes, onde não há hospital nem escola, homens que não sabem ler e morrem de fome aos 27 anos plantaram e colheram a cana que viraria açúcar. Em usinas escuras, homens de vida amarga e dura produziram este açúcar branco e puro com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.” COMPETIÇÃO Você já reparou como os indivíduos competem entre si na sociedade em maior ou menor intensidade, porque seus desejos e necessidades são diferentes? A competição se faz presente quanto maior for a escassez dos recursos ou mesmo quando existem poucos lugares para muitos. A competição é a luta que ocorre quando as pessoas tentam maximizar suas vantagens a expensas dos demais. A competição pode ser pessoal, como quando dois rivais lutam para vencerem uma eleição; ou pode ser impessoal, como nos concursos públicos, SOCIOLOGIA APLICADA 69 em que os concorrentes nem ao menos têm a consciência da identidade dos outros. Todas essas tentativas de melhorar de vida ou de atingir uma posição mais significativa na sociedade tem por base uma competição. No inciso II, do art. 37, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, encontra-se a seguinte determinação: (...) a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração. Nasce desse dispositivo, então, uma intensa luta entre candidatos por uma vaga no serviço público. Ao se empenharem nos estudos, tentam através destes alcançar seu objetivo, excluindo assim o uso da força e da violência. CONFLITO Conflito é um processo que pode ser definido como um processo em que os envolvidos procuram obter recompensas pela eliminação ou enfraquecimento dos competidores. É um processo que revela uma grande tensão entre os indivíduos, já que o objetivo a ser alcançado visa à lesão, neutralização e eliminação dos rivais. Isso torna-se freqüente quando os privilégios de uma classe social chegam a tal ponto que a menos favorecida já consegue obter o mínimo necessário para a sobrevivência. A todo momento a imprensa noticia os conflitos entre os fazendeiros e os integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra: MST e ruralistas entram em conflito em Cascavel O conflito no campo teve mais um capítulo de tensão ontem: integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) afirmam terem sido agredidos após pararem em um bloqueio promovido por ruralistas em Cascavel, no Oeste do Paraná. Os supostos agressores negam e acusam os sem-terra de terem agido com violência. O resultado da confusão: vários feridos. Os sem-terra se dirigiam para a fazenda experimental da Sygenta Seeds, desapropriada pelo governo estadual, em Santa Tereza do Oeste, quando foram parados quilômetros antes do destino por um bloqueio da Sociedade Rural Oeste (SRO) na BR-277. Segundo a assessoria do MST, os integrantes tiveram que descer dos veículos e atravessar a pé os tratores e caminhões parados na pista, momento em que alguns teriam sido atingidos por pauladas. A viagem somente pôde prosseguir no fim da tarde, quando a pista começou a ser liberada. Já o presidente da SRO, Alessandro Meneghel, afirma que os cerca de 150 produtores rurais não agrediram ninguém e que, UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA 70 ao contrário, teriam sido alvejados por pedras. “Uma delas acertou um homem de 70 anos”, contou. “Chegaram a mostrar arma para nós”. O MST promovia uma marcha de encerramento da 1ª Jornada de Educação na Reforma Agrária, que teve início no último domingo (26), no Centro de Convenções e Eventos de Cascavel. A manifestação dos ruralistas aconteceu em frente ao Parque de Exposições Celso Garcia Cid. Disponível em: <http:/ /www.terradedireitos.org.br>. Acesso em: 27/12/2006 Outro caso remete a uma situação particular que desde tempos remotos vem preenchendo as páginas da literatura universal – o tão malfadado triângulo amoroso. Confira em “Domingo no Parque”, de Gilberto Gil: (...) A semana passada, no fim da semana João resolveu não brigar No domingo de tarde saiu apressado E não foi pra Ribeira jogar capoeira Não foi pra lá, pra Ribeira, foi namorar (...) Foi no parque que ele avistou Juliana Foi que ele viu Foi que ele viu Juliana na roda com João Uma rosa e um sorvete na mão Juliana seu sonho, uma ilusão Juliana e o amigo João (...) Olha a faca! (olha a faca!) Olha o sangue na mão (ê, José) Juliana no chão (ê, José) Outro corpo caído (ê, José) Seu amigo João (ê, José) Amanhã não tem feira (ê, José) Não tem mais construção (ê, João) Não tem mais brincadeira (ê, José) Não tem mais confusão (ê João) CONSCIÊNCIA DE CLASSE Já ouviu falar de consciência de classe? Pois bem. De acordo com Karl Marx, é um processo pelo qual os membros de uma classe – o proletariado SOCIOLOGIA APLICADA 73 militares, trazendo como um de seus pontos altos a ampliação e defesa dos direitos de cidadania. Outro exemplo relaciona-se a uma fábrica que se volta para uma atividade complexa, que exige fases diversas, desenvolvendo-se numa forma contínua e indireta, pois a etapa seguinte depende da anterior e, evidentemente, cada momento tem um trabalhador especializado. DIREITOS FUNDAMENTAIS Naturalmente você já deve ter ouvido falar em Direitos Fundamentais. São aqueles direitos considerados indispensáveis à pessoa humana, necessários para assegurar a todos uma existência digna, livre e igual. Direitos Individuais são limitações impostas pela soberania popular aos poderes constituídos, para resguardar direitos indispensáveis à pessoa humana. Após os governos militares, fez-se questão de que a Constituição Federal, também denominada “Constituição Cidadã”, deixasse explícitos esses direitos, conforme se verifica no artigo 5º: Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) INTERAÇÃO SOCIAL É o processo que ocorre quando pessoas agem sob a influência recíproca de um contexto social. Pode ocorrer por meio de comunicação. Saiba que a esse conceito relacionam-se cooperação, competição e conflito. Observe a seguinte estrofe de Bertolt Brecht (1982): Eu vim para a cidade no tempo da desordem, quando a fome reinava. Eu vim para o convívio dos homens no tempo da revolta e me revoltei ao lado deles. Assim se passou o tempo que me foi dado viver sobre a terra.” JUSTIÇA SOCIAL Numa concepção ampla, justiça é um conceito que remete a idéia de eqüidade, ou seja, o processo em que as pessoas almejam obter aquilo que merecem. Do ponto de vista jurídico, por exemplo, justiça assume o sentido de tratamento imparcial de todos perante a lei, com vistas a garantir os direitos prescritos nas normas legais instituídas em uma determinada sociedade. Você já deve ter observado que o termo tem sido empregado para designar uma realidade determinada, uma justiça específica. UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA 74 Há uma divisão clássica que distingue três espécies da justiça nas relações entre os homens: a) as relações entre grupos ou pessoas particulares; b) as relações entre a sociedade e seus membros; c) as relações entre os membros das sociedades como tais ligadas à justiça regida pelo direito, isto é, justiça legal. Tem sido freqüente, no entanto, o emprego dessa expressão para a distribuição igualitária das riquezas, a justa remuneração, que incluiria as condições mínimas de sobrevivência, a distribuição da propriedade privada e dos seguros sociais. E não havendo isso, haverá naturalmente injustiça social, fato elucidado por Émile Zola (1978, p.209), ao tratar do dia-a-dia dos trabalhadores de uma mina de carvão no século XIX, em O Germinal: Na rua estava escuro, era noite fechada, e a lua, entre as nuvens, iluminava a terra de uma maneira sinistra. Em vez de atalhar pelos jardins, a mulher [ esposa de Maheu, que saiu de casa para implorar comida para a família de 10 pessoas] fez a volta, desesperada, não ousando entrar em casa. Mas, ao longo das fachadas mortas, todas as portas ressudavam fome e inércia. De que adiantava bater? A miséria estava por toda parte. Havia semanas que não se comia mais, o próprio cheiro de cebola tinha desaparecido, esse cheiro forte que de longe, do campo, anunciava a aldeia; agora só havia um odor de porões bolorentos, de buracos úmidos onde ninguém vive. Os ruídos vagos iam esmorecendo aos poucos: eram lágrimas abafadas, pragas soltas ao léu. E o silêncio era cada vez mais pesado, sentia-se avançar o sono da fome, o esquecimento dos corpos jogados nas camas sob os pesadelos dos estômagos vazios (...) MOBILIDADE SOCIAL É o movimento ascendente ou descendente próprio das sociedades estratificadas. Segundo Cherkaoui (1995, p.183) pode-se considerar a mobilidade como resultado de uma seleção de indivíduos através de uma série de mecanismos próprios de certos agentes como a família, a escola, a Igreja, as burocracias. Essas instâncias controlam, orientam, determinam diretamente a posição dos indivíduos dentro da sua estratificação própria. O lugar e a importância desses agentes de seleção variam de sociedade para sociedade. Para determinada mobilidade social, a família constitui instância de orientação mais importante; para outra, é a Igreja ou o exército; para uma terceira, é a escola e a competência adquirida no seio de certas organizações. MOVIMENTOS SOCIAIS Segundo Alain Touraine (1995), os movimentos sociais se identificam simultaneamente por um modo de ação, por um tipo de participantes e, sobretudo, por um desafio. Segundo ele, os movimentos sociais consistem de fato numa: 1- “ação conflitual”, 2- conduzida por um “ator de classe”, 3- SOCIOLOGIA APLICADA 75 que se opõe a seu adversário de classe com vistas a fazer prevalecer uma nova ordem de vida e de sociedade. Exemplo de movimento social é o Movimento dos Sem-Terra no Brasil. Este movimento consiste em um movimento político-social brasileiro cujos integrantes vêm ocupando as terras improdutivas como forma de pressão pela reforma agrária, reivindicando também empréstimos e ajuda para que possam realmente produzir nessas terras. Apesar dos constantes conflitos e massacres, hoje existem escolas em sua área de assentamento e acampamento e um trabalho de alfabetização de jovens e adultos sem-terra. Tem-se notícia também da formação de técnicos e de educadores em cursos de nível médio e superior, assim como diversas outras iniciativas de formação de sua militância e do conjunto da família Sem-Terra. É interessante notar que a Constituição da República Federativa, em seu inciso XXIII, do art. V, determina que a propriedade atenderá a sua função social, ainda que o inciso anterior garanta o direito de propriedade. Caso contrário, em se tratando de propriedade rural, haverá desapropriação para fins de reforma agrária. Assim, esperamos que você daqui para frente comece também a associar esses conceitos com a sua realidade e o mundo que o envolve. Boa sorte! É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA) .Interaja conosco! LEITURA COMPLEMENTAR: ANDRADE, C. D. de. Obra Completa. 4ª edição. Rio de Janeiro: Nova Aguillar, 2000. 163p. ANDRADE, O. A Descoberta. 2ª edição. Rio de Janeiro: Civilização brasileira. 1971. 253p. BOURDON, R. & Bourricaud F. Dicionário Crítico de Sociologia. 2ª edição. São Paulo: Ática, 2002. 653p. BRECHT, B. Poemas. 2ª edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982. 224p. CHAUÍ, M. Convite à filosofia. 13ª edição. São Paulo: Ática, 1995. 424p. FERREIRA G. Toda poesia. 3ª edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. 300p. FREIRE, G. Casa grande & senzala. 7ª edição. Rio de Janeiro: José Olympio, 1984. 294p. 25 SOCIOLOGIA APLICADA CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS PELA SOCIOLOGIA EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO 1-Leia atentamente a estrofe do poema Banzo, de Menotti del Picchia. “Ele fica na porta da senzala de mão no queixo e cachimbo na boca varado de angústia, olhando o horizonte, calado, dormente, pensando, sofrendo, chorando, morrendo.” As palavras do poeta ilustram um momento de nossa história. Elas exemplificam um caso de: a) competição. b) conflito. c) acomodação. d) cooperação. e) mobilização social. 2-Observe a estrofe abaixo (Língua Portuguesa, de Olavo Bilac). “Amo o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo! Amo-te, ó rude e doloroso idioma, Em que da voz materna ouvi: “meu filho!” E em que Camões chorou, no exílio amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho!” Os versos exemplificam um caso de: a) assimilação. b) adaptação. c) competição. d) cooperação. e) acomodação. 3-Leia, com atenção, a seguinte notícia: Quinta-feira, Abril 22, 2004 Brasil: Governo quer impedir confrontos entre índios e garimpeiros na Amazônia . U N ID A D E 6 26 UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS PELA SOCIOLOGIA “Brasília, 21 de Abril - A Polícia Federal e as Forças Armadas iniciaram uma operação conjunta em Rondônia para tentar solucionar os conflitos entre índios e garimpeiros na Reserva Indígena Roosevelt, na Amazônia, anunciou o ministro da Justiça do Brasil. Márcio Thomaz Bastos, que recebeu terça-feira representantes de 35 tribos indígenas do Brasil, admitiu ter ‘há muito tempo’ informações de que os garimpeiros que exploravam diamantes nas terras indígenas da etnia Cinta Larga corriam riscos. ‘0 governo tem há muito tempo informações das dificuldades, dos problemas, dos riscos no garimpo Roosevelt. É uma situação séria, que veio relegada de outros governos. Hoje, estamos a começar uma operação que tem vindo a ser planejada desde julho do ano passado’, afirmou. A Polícia Federal já resgatou 29 corpos de garimpeiros na região, a 534 quilômetros da capital Porto Velho, e continuam as buscas por mais vítimas do massacre na maior reserva de diamantes da América do Sul. “ (http://indios.bloQspot.com/2004) A situação retratada consiste em: a) cooperação. b) acomodação. c) assimilação. d) alienação. e) conflito. 4. Leia os seguintes versos de Comportamento Geral, de Gonzaguinha: “Você deve aprender a baixar a cabeça / E dizer sempre: ‘Muito obrigado’ São palavras que ainda te deixam dizer / Por ser homem bem disciplinado / Deve pois só fazer pelo bem da Nação / Tudo aquilo que for ordenado Pra ganhar um Fuscão no juízo final / E diploma de bem comportado Você merece, você merece Tudo vai bem, tudo legal Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé / Se acabar em teu Carnaval’ Observa-se que o autor trata de: a) alienação. b) conflito. c) consciência de classe. d) competição. e) cooperação. 5. Quando você lê uma notícia sobre a situação dos hospitais públicos que não vêm atendendo às necessidades da população, é correto afirmar que se trata: a) de mobilização social. b) de afronta a um direito fundamental. c) de competição. d) do respeito à cidadania. e) ocorrência de justiça social. 27 SOCIOLOGIA APLICADA 6. Cidadania consiste: a) apenas na participação das decisões políticas. b) em não ser alienado. c) em opinar sobre a atual situação de nosso país. d) não só na luta pelos próprios direitos, mas também na efetivação des- tes. e) apenas na observação de realidade. 7. A organização de uma festa de aniversário para uma pessoa feita por um grupo de amigos é um caso de: a) conflito. b) competição. c) cooperação. d) mobilização social. e) consciência de classe. 8. O conflito existente entre as classes sociais reflete: a) a justiça social. b) o antagonismo social. c) cidadania. d) alienação. e) acomodação. ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM E FIXAÇÃO 1. A cidadania consiste apenas na luta por determinados direitos do homem? Justifique sua resposta e exemplifique. ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ 2. Você deve ter observado que o termo ‘conflito’ relaciona-se a duas situações bem distintas. Disserte sobre elas e exemplifique. ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________
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