Baixe Capacitação Equipes PSF e outras Notas de estudo em PDF para Odontologia, somente na Docsity! CAPACITAÇÃO DAS EQUIPES DO PSF: DESVENDANDO UMA REALIDADE* Equipe: Raimunda Medeiros Germano (Coordenadora) Jacinta Maria Morais Formiga Mildred Negreiros Bezerra de Melo Rosana Lúcia Alves de Vilar José Jailson de Almeida Júnior (Bolsista) NATAL, 2005 * Esta pesquisa integra o Plano Diretor 2004-2005 do Observatório de Recursos Humanos em Saúde (NESC/UFRN), com patrocínio do Programa de Cooperação Técnica Ministério da Saúde / Organização Pan-Americana da Saúde/Representação do Brasil. Sua realização ocorreu em parceria com o Departamento de Enfermagem da UFRN. 2 SUMÁRIO 1 Introdução, 4 2 Caminhos percorridos, 9 3 Desvendando a realidade, 11 3.1 Tempo de serviço, 11 3.2 Processo de capacitação, 13 3.3 Critérios e formas de seleção e liberação, 17 3.4 Incentivos oferecidos, 18 3.5 Fontes de financiamento e parcerias, 18 3.6 Contribuições das capacitações para a prática cotidiana, 19 3.7 Estratégias de capacitação adotadas, 20 3.8 Facilidades e dificuldades identificadas, 20 3.9 Pólo de Educação Permanente, 23 3.10 Educação a distância, 24 3.11 Conhecimento sobre informática, 25 4 Considerações finais, 25 5 Bibliografia, 27 5 com vistas a mudanças radicais no sistema de forma articulada e perene. No transcorrer desses dez anos, o PSF, recuperando as iniciativas preconizadas pelo Movimento Sanitário Brasileiro e coerente com os princípios do SUS, vem se estabelecendo como uma estratégia estruturante da atenção básica, contribuindo para o reordenamento do modelo assistencial em todos os níveis de complexidade da atenção à saúde. Sobre o seu caráter estratégico, Teixeira (2003) destaca: ...O Saúde da Família deixou de ser um Programa que operacionalizava uma política de focalização da atenção básica em populações excluídas do consumo de serviços, para ser considerada uma estratégia de mudança do modelo de atenção à saúde no SUS. Na verdade, o instrumento de uma política de universalização da atenção básica, portanto um espaço de reorganização do processo de trabalho em saúde neste nível. Para Sucupira (2003), as idéias que fundamentam o Programa não são todas novas; algumas já se faziam presentes em outras políticas, sem obtenção de sucesso. Portanto, não há uma negação mecânica do modelo anterior, mas uma negação dialética de superação, na qual se considera elementos antigos e novos para construção de um outro tipo de modelo. Pode-se afirmar que a Estratégia Saúde da Família (ESF) busca romper com paradigmas cristalizados historicamente, incorporando um novo olhar, um novo pensar e um novo fazer, no qual o foco passe a ser a saúde e não a doença; a família e não o individuo; a equipe e não o médico; e a intersetorialidade e não um setor isolado. Franco e Merhy (2000), discutindo sobre as contradições e os novos desafios do PSF, enfatizam que, para remodelar a assistência à saúde, o Programa deve modificar os processos de trabalho, fazendo-os operar com “tecnologias leves dependentes”. Este tipo de tecnologia pressupõe a superação das estruturas rígidas do conhecimento técnico estruturado, abrindo possibilidades para produção do cuidado com maior interação e criatividade. Nesta lógica, um dispositivo essencial para mudança no processo de trabalho é a preparação das equipes, com novas visões mais 6 integralizadoras e novas competências voltadas para um perfil adequado ao modelo proposto. Isto significou a abertura de uma ampla e contínua discussão no âmbito das Universidades, com vistas à construção de projetos políticos pedagógicos que se alinhassem à nova realidade do processo de trabalho em saúde. Esse debate se expandiu para as escolas técnicas da área da saúde que, da mesma forma, vêm reestruturando seus currículos dentro dos princípios do SUS. Nesse sentido, deve-se reconhecer que o ensino técnico, nos últimos cinco anos, foi fortalecido pelas novas políticas governamentais de incentivo à formação profissional e, nestas, deve-se ressaltar a relevância do Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem (PROFAE). Este Projeto desencadeou o debate sobre a importância de serem viabilizados outros projetos para além da enfermagem, ampliando-se a formação profissional para as demais áreas do setor saúde. Assim, possibilitou uma política de inclusão na formação, a partir mesmo dos trabalhadores, como foi o caso dos auxiliares de enfermagem e, posteriormente, dos agentes comunitários de saúde (ACS), integrantes da equipe básica do PSF. Desde a implantação do PSF constatou-se dificuldades no âmbito do perfil profissional. Sem dúvida, este fato resulta de uma formação predominantemente baseada em uma atenção hospitalar e centrada na doença. Machado (2003), analisando o perfil dos profissionais do Programa, mostrou a pouca qualificação desses, pois cerca de 70% dos médicos e enfermeiros, que atuavam nas equipes, não possuíam formação de pós-graduação na área. Levcovitz; Garrido (1996) reforçam que, para uma nova estratégia, há que se conceber um novo perfil de profissionais. E ainda acrescentam que os processos de formação e educação permanente não devem se dar de forma isolada e descontextualizada. Em setembro de 2003, o Conselho Nacional de Saúde aprovou a Política de Educação e Desenvolvimento para o SUS: caminhos para a Educação Permanente em 7 Saúde, apresentada pelo Ministério da Saúde por meio do Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Essa política tem como desafio a adoção da educação permanente em saúde como estratégia para recompor as práticas de formação, atenção, gestão, formulação de políticas e participação da sociedade no setor saúde. Para tanto, os serviços de saúde devem investir no desenvolvimento da educação em serviço, como recurso estratégico para a gestão do trabalho e da educação na área. Nesta perspectiva, torna- se possível superar a tradição de capacitações pontuais por um processo formativo que contemple a educação permanente em saúde. Vale ressaltar que fazer educação permanente em saúde exige reflexão crítica sobre as práticas de atenção, de gestão e sobre as práticas de ensino, buscando processos educativos aplicados ao trabalho (BRASIL, 2005). Isto mostra que é de fundamental importância investir em políticas de formação e educação permanente de recursos humanos que levem à interdisciplinaridade, à articulação ensino/trabalho, à superação das práticas flexinerianas, incluindo igualmente as dimensões éticas e humanísticas orientadas para a cidadania. Nesta concepção surgiram os Pólos de Educação Permanente em Saúde (PEPS), como uma política incentivada pelo Ministério da Saúde (MS). Como os Pólos têm a característica de encontro e integração interinstitucional de educação e trabalho, de formação e intervenção na realidade, estes representam um suporte de apoio e sustentação do PSF, na medida em que contribuem para a preparação e atualização dos profissionais que compõem as equipes. O Pólo de Educação Permanente em Saúde para o SUS, no Rio Grande do Norte, foi aprovado pelo Conselho Estadual de Saúde através da Resolução n° 056053, de 09/06/2004. Constituído como uma representação colegiada de gestão e condução permanente de Educação em Saúde no Estado, tem como finalidade básica promover a articulação entre as instituições e entidades que diretamente propiciam a realização de atividades de ensino/serviço na área de saúde. É composto pelos seguintes segmentos: Secretaria de Estado da Saúde Pública (SESAP/RN); Universidade Federal do Rio 10 2 Caminhos percorridos O trajeto metodológico utilizado, neste estudo, fundamentou-se nos critérios da pesquisa interpretativa com abordagem quantitativa e qualitativa. O enfoque qualitativo permite a busca das raízes dos significados, das suas causas, extrapolando uma visão superficial que se possa ter deles (TRIVIÑOS, 1987). Este pensamento é reforçado por Minayo (1998), ao afirmar que deve ser usado o referencial qualitativo quando se pretende um aprofundamento maior da realidade, dentro de uma abordagem dialética. Ainda, segundo Minayo (1998, p.35), os dados qualitativos trazem para o interior da análise o subjetivo e o objetivo, os atores sociais, os fatos e os significados. A população alvo foi composta por profissionais das Unidades de Saúde da Família dos Distritos Sanitários Leste, Oeste e Norte, que compõem a rede da Secretaria Municipal de Saúde de Natal. O município, no período da coleta de dados, contava com 101 equipes. O critério de escolha da população foi por amostragem, a qual representou 22% das equipes que estão atuando no PSF, perfazendo um total de 22 equipes pesquisadas. Além disso, foi feito contato telefônico e, às vezes, pessoal com os profissionais das diversas equipes, convidando-os a participar da pesquisa, explicando os objetivos da mesma e marcando um dia para a aplicação dos instrumentos, de acordo com a disponibilidade de cada um. A grande maioria aceitou responder às questões e apenas poucos profissionais contactados se recusaram a responder o questionário, alegando problemas diversos. Em cada equipe foram aplicados seis questionários, com os seguintes profissionais: médico, enfermeiro, dentista, auxiliar/técnico de enfermagem, atendente de consultório dentário (ACD) e agente comunitário de saúde (ACS). Algumas equipes não possuíam dentista e ACD e, nestas, aplicou-se apenas quatro questionários. 11 O período de coleta dos dados ocorreu durante os meses de junho e julho, tendo sido utilizados dois instrumentos: entrevistas e questionários. Foram feitas 2 entrevistas e aplicados 109 questionários. As entrevistas foram realizadas com os membros da equipe da gestão da SMS de Natal/RN – Coordenadora de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde e Coordenadora do PSF. Optou-se pela entrevista semi-estruturada, com a utilização de um roteiro, pelo fato de permitir captar os significados que os atores atribuem à sua prática e apreender a dinâmica de organização do trabalho coletivo. Os questionários foram aplicados às equipes do PSF, em duas modalidades: uma, destinada aos profissionais de nível superior; e outra, aos profissionais de nível médio; ambas, com perguntas abertas e fechadas. Justifica-se a escolha desse instrumento pela abrangência do universo a ser pesquisado, composto por grande número de pessoas e, também, porque constitui o meio mais rápido de obtenção de informações, além de garantir o anonimato do respondente (GIL, 1994). As informações extraídas dos questionários e entrevistas foram categorizadas, apresentadas em forma de tabelas, quadros e discursos e analisadas à luz do aporte teórico. Para cada questionário e entrevista anexou-se um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, sendo este devidamente assinado pelo participante. No ato da coleta dos dados, uma carta/ofício e os objetivos da pesquisa foram apresentados ao gerente da unidade e aos profissionais participantes do estudo. Todos os preceitos éticos estabelecidos na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que trata de pesquisa envolvendo seres humanos, foram respeitados. 12 3 Desvendando a realidade Os resultados serão apresentados, tomando-se como base os questionários aplicados, junto às equipes do PSF, e as entrevistas realizadas. Pretende-se evidenciar as informações mais relevantes que retratam a realidade estudada. 3.1 Tempo de serviço Tabela 01 – Distribuição dos profissionais das equipes do PSF, quanto ao tempo de serviço na SMS. Natal, julho, 2005. Tempo de serviço (anos) N % 1 – 5 16 15 6 – 10 34 31 11 – 15 23 21 16 – 20 23 21 Mais de 20 09 08 Não informou 04 04 Total 109 100 Fonte: Pesquisa - Capacitação das equipes do PSF: desvendando uma realidade. Natal-RN. Quanto ao tempo de serviço dos profissionais que compõem as equipes do PSF na SMS, constata-se que 1/3 destes tem tempo de serviço variando entre 6 e 10 anos. Há também um percentual considerável situado entre 11 e 15 anos e entre 16 e 20 anos (42%). Esta informação confirma que grande parcela dos profissionais trabalha na instituição há mais de 11 anos. Tabela 02 – Distribuição dos profissionais das equipes por categoria, quanto ao tempo de serviço na SMS. Natal, julho, 2005. Tempo de serviço (anos) Médico % Enfermeiro % Dentista % Aux./Téc. de enfermagem % ACD % ACS % 1-5 44 - - - - 43 6-10 25 38 06 32 17 57 11-15 19 33 18 36 17 - 16-20 12 29 29 28 33 - 20 ou mais - - 29 04 25 - Não informou - - 18 - 08 - Total 100 100 100 100 100 100 Fonte: Pesquisa - Capacitação das equipes do PSF: desvendando uma realidade. Natal-RN. 15 Quadro 01 – Distribuição das capacitações realizadas pelos profissionais de nível superior das equipes do PSF. Natal, julho, 2005. (n=54) Capacitações por área % de profissionais capacitados % de profissionais não capacitados Treinamento Introdutório 79 21 Treinamento para SIAB 55 45 Saúde da mulher 51 49 DST/AIDS 50 50 Saúde do idoso 50 50 Hanseníase 44 56 Hipertensão 38 62 Tuberculose 38 62 Especialização em Saúde da Família 37 63 Diabetes 33 67 AIDPI 31 69 Saúde do adulto 29 71 Imunização 16 84 Saúde bucal 03 97 Outros 46 54 Fonte: Pesquisa - Capacitação das equipes do PSF: desvendando uma realidade. Natal-RN. Quanto à participação das equipes em processos de capacitação foi visto que 79% dos pesquisados com nível superior participaram do treinamento introdutório, confirmando as informações dos representantes da gestão quanto à oferta dessa capacitação por ocasião do ingresso no PSF. Outras que se destacaram foram: Treinamento para o Sistema de Informação na Atenção Básica em Saúde (SIAB) e cursos nas áreas de Saúde da Mulher, Saúde do Idoso, DST/AIDS. Sobre a realização do treinamento introdutório, Nascimento e Nascimento (2005) o reconhecem como um dos avanços ocorridos nos processos de capacitação para as equipes de saúde da família, destacando que, através dele, os profissionais passam a ter uma melhor compreensão do processo de trabalho nas ações e serviços de saúde. Deve-se ainda registrar que a área de saúde bucal foi a menos contemplada, o que confirma o relato dos dentistas quanto à sua insatisfação pela falta de oportunidade de oferta de cursos, conforme demonstram as falas a seguir: Muitos cursos só são direcionados para outras profissões, deixando a odontologia à margem dos conhecimentos; 16 Para o dentista não existem facilidades, porque nós somos sempre esquecidos e excluídos; é como se não fizéssemos parte da equipe. Outro dado a ser ressaltado refere-se à Especialização em Saúde da Família, realizada por 20 respondentes dos 54 pesquisados. Esse número não traduz a realidade do universo dos profissionais da rede, pois, segundo levantamento recente feito pelo Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva (NESC/UFRN), existem apenas 38 especialistas na área inseridos nas equipes, o que corresponde a cerca de apenas 14% do total desses profissionais. Quadro 02 – Distribuição das capacitações realizadas pelos Técnicos/Auxiliares de Enfermagem das equipes do PSF. Natal, julho, 2005. (n=22) Capacitações por área % de profissionais capacitados % de profissionais não capacitados Treinamento Introdutório 50 50 DST/AIDS 27 73 Planejamento familiar 27 73 Hanseníase 23 77 Saúde reprodutiva 15 85 Tuberculose 14 86 Treinamento para SIAB 09 91 Assistência ao idoso 09 91 Atualização em curativos 05 95 Atualização em vacinas 05 95 Acolhimento 05 95 BCG 05 95 Não respondeu 05 95 Fonte: Pesquisa - Capacitação das equipes do PSF: desvendando uma realidade. Natal-RN. A capacitação de maior destaque realizada pelos técnicos/auxiliares de enfermagem foi o Treinamento Introdutório. Outras capacitações mencionadas foram pouco expressivas, considerando o limitado número de participantes. Esses dados revelam que essa categoria também tem tido poucas oportunidades de acesso a cursos que seriam importantes para sua prática profissional. 17 Quadro 03 – Distribuição das capacitações realizadas pelos Agentes Comunitários de Saúde das equipes do PSF. Natal, julho, 2005. (n=21) Capacitações por área % de profissionais capacitados % de profissionais não capacitados Hanseníase 33 67 Qualificação para Agente Comunitário de Saúde 33 67 Família Brasileira Fortalecida 19 81 Tuberculose 19 81 Capacitação interna 14 86 Atenção ao idoso 14 86 Aleitamento materno 10 90 Imunização 10 90 Sarampo 10 90 Calazar 05 95 Saúde bucal 05 95 Diabetes 05 95 Hipertensão 05 95 Treinamento Introdutório 05 95 Alimentação infantil 05 95 DST/AIDS 05 95 Sexualidade 05 95 Cartão SUS 05 95 Busca ativa de pré-natal 05 95 Fonte: Pesquisa - Capacitação das equipes do PSF: desvendando uma realidade. Natal-RN. De acordo com as informações, pode-se observar que existe diversidade de ofertas nas áreas compatíveis com o processo de trabalho dos pesquisados, embora se perceba uma diminuta participação. Contudo, é importante assinalar que duas áreas se destacaram: Hanseníase e a Qualificação para Agente Comunitário de Saúde, ambas com um percentual de 33%. 20 privadas já estão celebrando convênio com a Secretaria, para realização de estágio na rede. A preocupação levantada foi com a necessidade de controle do número e distribuição dos alunos, para que as unidades de saúde não fiquem sobrecarregadas. 3.6 Contribuição das capacitações para a prática cotidiana De uma maneira geral, as equipes reconhecem que os processos de capacitação têm contribuído para o enfrentamento dos problemas no cotidiano. Esta posição foi mais expressiva entre os enfermeiros, atendentes de consultório dentário e agentes comunitários de saúde. Isso pode ser evidenciado nos depoimentos que se seguem: Os conhecimentos nos ajudam a refletir sobre nossa prática e a troca existente nos eventos também contribui para aprimorar nossas práticas. É um momento para oxigenar nossas idéias (enfermeiro); Fico segura no que estou fazendo, preparada para enfrentar o problema que aparecer dentro daquilo que aprendi (ACD). A capacitação proporcionou um melhor aprendizado para atuação na vida pessoal e profissional junto à comunidade (ACS). Arruda (2001) diz que o novo perfil de profissional de saúde requer novos processos de formação e educação permanente, ressaltando a Estratégia Saúde da Família como pertinente para a transformação do ensino e das práticas dos futuros profissionais. No entanto, outras categorias se ressentem pela falta de oportunidade de capacitação, como revela a seguinte fala: Para a Secretaria o auxiliar de enfermagem é visto como “sabe-tudo” pois só vêm cursos e treinamentos para nível superior e ACS (Auxiliar de enfermagem). Da mesma forma, os dentistas, em sua grande maioria, afirmaram que as capacitações da área são voltadas para aspectos eminentemente técnicos, não condizentes, portanto, com o processo de trabalho do cotidiano. Isso é reconhecido pelo próprio BRASIL (2005), quando afirma que as capacitações tradicionais, em geral, não se mostram eficazes para possibilitar a incorporação de novos conceitos e princípios às práticas estabelecidas – tanto 21 de gestão, como de atenção e de controle social – por serem descontextualizadas, não levarem em conta as concepções e as ações dos sujeitos envolvidos no trabalho em saúde e por serem organizadas com base na transmissão de conhecimentos. Apesar disso, a maioria dos demais profissionais afirmou que as capacitações têm trazido contribuições para mudanças na prática, porém nem sempre vem sendo possível efetivá-las, em decorrência da interferência de outros fatores. Dentre os mais citados, estão as condições de trabalho e a infra-estrutura deficiente dos serviços. 3.7 Estratégias de capacitação adotadas Os profissionais de nível superior (médico, enfermeiro e dentista) identificaram, como principais estratégias de capacitação adotadas pela unidade e pela SMS, as reuniões periódicas de equipes para avaliação e planejamento, destacando-as como momento de aprendizagem e construção coletiva. Acrescentaram, ainda, a participação em cursos de atualização, bem como em seminários/oficinas sobre temas diversificados. Os profissionais de nível médio (Auxiliar/técnico de enfermagem, ACD, ACS) igualmente enfatizaram as reuniões periódicas de equipe, além de ressaltarem a supervisão feita pelos profissionais da própria unidade e o treinamento em serviço. Outras estratégias apontadas, em menor escala, foram: participação em palestras, discussão de casos e a supervisão feita pelo nível central da SMS. 3.8 Facilidades e dificuldades identificadas Os quadros 05 e 06, a seguir, apresentam um demonstrativo das facilidades e dificuldades de participação nos processos de capacitação, relatadas pelas equipes do PSF e pelos representantes da gestão. 22 Quadro 5 – A visão das equipes. Natal, julho, 2005. Facilidades Dificuldades A liberação do trabalho para atividades educativas promovidas pela instituição; O financiamento dos cursos/outras atividades educativas ser da responsabilidade da instituição, não acarretando custos para os participantes; O acesso aos locais de realização das atividades educativas, mais centrais em relação às unidades de saúde, que estão situadas na sua maioria na periferia da cidade. Esta facilidade foi mencionada pelos profissionais de nível superior. O número limitado de vagas nos cursos/atividades educativas e nos processos de capacitação promovidos pela SMS; A prioridade para a enfermagem, em particular para o enfermeiro; A descontinuidade nos processos de capacitação; A má divulgação dos processos de capacitação, muitas vezes feita muito próxima à realização; A não liberação para cursos não promovidos pela instituição ou para os de longa duração (Ex: especialização ou mestrado); A não substituição dos profissionais que se afastam da unidade para participar de atividades educativas; O número insuficiente de auxiliares de enfermagem, inviabilizando ausências na unidade; A área de saúde bucal não ser contemplada nos processos educativos; A inexistência de capacitação em algumas áreas da clínica; A limitação das oportunidades para os profissionais de nível médio; A distância de alguns locais de realização (apontada pelos ACSs) e a não liberação de vale-transporte. Fonte: Pesquisa - Capacitação das equipes do PSF: desvendando uma realidade. Natal-RN. 25 3.10 Educação a distância A educação a distância vem assumindo um papel importante no contexto das novas tecnologias educacionais. Vários fatores têm contribuído para isto, entre eles, a boa relação custo benefício estabelecida, as condições para um maior aceso ao ambiente educacional, e o respeito ao tempo e à individualidade cognitiva dos sujeitos participantes do processo. Neder (2005), reforçando essas premissas, afirma que essa modalidade, por sua própria natureza, possibilita a produção de uma pedagogia que transgride a noção de tempo e espaço imposta pelos paradigmas tradicionais e confere uma (re) significação ao processo educativo. Portanto, considerando a educação a distância uma estratégia metodológica em expansão dentro das novas políticas educacionais, procurou-se investigar junto às equipes do PSF se essa modalidade de ensino vinha sendo utilizada em suas capacitações. Tabela 07 – Distribuição dos profissionais de nível superior quanto à participação em processos de educação a distância. Natal, julho, 2005. Categoria profissional Sim (%) Não (%) Total (%) Enfermeiro 43 57 100 Médico 06 94 100 Dentista 00 100 100 Fonte: Pesquisa - Capacitação das equipes do PSF: desvendando uma realidade. Natal-RN. Assim, na tentativa de conhecer a experiência dos profissionais com educação a distância, constatou-se que os enfermeiros foram os profissionais que tiveram uma maior participação nesta modalidade de ensino. O curso mais referido foi a Especialização em Formação Pedagógica - PROFAE. A propósito desta experiência, um estudo realizado pelo Núcleo de Apoio à Docência (NAD/RN) concluiu ter sido a mesma da mais alta significação pelo fato de ter permitido o preparo de um expressivo contingente de enfermeiros em um espaço de tempo reduzido (Formiga et al 2002). Em relação aos outros profissionais, apenas um médico citou ter participado de um curso sobre ginecologia, nesta modalidade. 26 3.11 Conhecimento sobre informática Entre os pesquisados de nível superior, a maioria (80%) disse ter conhecimento de informática e uma parcela destes trabalha com vários programas. Quanto aos profissionais de nível médio, observou-se, pelas respostas emitidas, que a maior parte (65%) também tem conhecimento na área, embora uma parcela significativa tenha informado não conhecer. 4 Considerações finais A presente pesquisa, que teve como propósito analisar a política de capacitação de Recursos Humanos para a Estratégia Saúde da Família, tendo como referência o município de Natal, possibilitou identificar aspectos significativos para a condução e aprimoramento dessa política. Assim, torna-se importante observar que, apesar dos esforços envidados pela SMS no sentido de promover a capacitação das equipes envolvidas com a ESF, existem limites e dificuldades a ser superados. O estudo mostrou que a política de capacitação de recursos humanos, desenvolvida pela SMS de Natal, ainda se pauta em processos educativos de natureza pontual e descontínua, não se caracterizando como uma educação permanente. Isso confirma as palavras de Almeida et al (1997), quando dizem que, de uma forma geral, os processos de capacitação dos recursos humanos nos serviços de saúde navegam ao sabor de propostas de atendimentos pontuais e fragmentadas. Sobre as necessidades de capacitação, as representantes da gestão informaram que são adotadas formas democráticas de identificação, articuladas com problemas vivenciados no nível local. Contudo, reconhecem que as oportunidades de acesso são limitadas, favorecendo mais algumas categorias profissionais, mesmo com a lógica instituída do trabalho em equipe, conforme a filosofia da ESF. Os profissionais das equipes destacam a área da enfermagem como aquela com maior oportunidade de atualização e, em sentido inverso, a área de saúde bucal. Em relação ao nível médio, vale ressaltar o papel decisivo do PROFAE, como política de profissionalização na área de enfermagem, que possibilitou a formação de um significativo contingente de auxiliares e técnicos de enfermagem. É importante 27 lembrar o compromisso institucional com a educação permanente destes profissionais. No momento atual, pode-se ressaltar a grande oportunidade de acesso que está sendo proporcionada aos ACSs para um curso de qualificação promovido pelo Ministério da Saúde/Secretaria de Saúde Pública do Estado, pois, dos 683 ACSs, do município, 50% estão participando do referido curso. Dentre os processos de capacitação realizados, constatou-se que o Treinamento Introdutório foi o que conseguiu abranger um maior número de participantes, provavelmente devido à atuação do Pólo de Capacitação em Saúde da Família, no período de 2000 a 2003.Outros cursos realizados foram voltados para os ciclos de vida, mas ainda existem várias áreas que não foram contempladas, tais como: saúde mental, violência intrafamiliar, saúde do adolescente, saúde do trabalhador, dentre outras. A liberação dos profissionais, para processos educativos de curto prazo e de interesse da instituição, ocorre sem maiores problemas. No entanto, como não existe substituição destes e nem a adoção de normas orientando as referidas liberações, são geradas situações de conflito ou desestímulo ao ingresso em cursos de maior durabilidade, mesmo os relacionados à área de trabalho. Um achado interessante se refere ao reconhecimento dos membros das equipes, quando consultados por ocasião da pesquisa, sobre a contribuição dos processos educativos para mudanças na prática. Porém, apontam que a existência de problemas referentes às condições de trabalho e a infra-estrutura dos serviços têm dificultado a implementação dessas mudanças. Apesar disso, afirmam que essas capacitações proporcionam a atualização dos conhecimentos, ampliam a visão sobre as políticas de saúde como um todo, ajudam a reflexão sobre a práxis, além de propiciarem maior segurança na atenção básica. No entanto, torna-se imperativo salientar que a verdadeira mudança do modelo da atenção à saúde só terá concretude se articulada às transformações do processo de trabalho, da forma de atuação e da organização do serviço, assentadas em novas bases integralizadoras e humanísticas. Ainda foram pontuadas, de acordo com os depoimentos dos representantes da gestão e das equipes, facilidades e dificuldades nos processos de capacitação, evidenciando-se, dessa forma, a necessidade de redirecionamento dos mesmos. 30 Pernambuco (IMIP). 2001. p.44. (Série: Publicações Científicas do Instituto Materno- Infantil de Pernambuco - IMIP). FORMIGA, J. M. M. et al. Encurtando distâncias, vencendo obstáculos, articulando saberes: uma experiência em enfermagem. In: Janete Lima de Castro (org.) PROFAE: educação profissional em saúde e cidadania. Brasília: Brasil, Ministério da Saúde, 2002. p.173-187. FRANCO, T.; MERHY E. PSF: contradições e novos desafios. (texto digitado). 2000. GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo:Atlas, 1994. GIL, C. R. R. Formação de recursos humanos em saúde da família: paradoxos e perspectivas. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.21, m.2, p. 490-498, mar/abr, 2005. GIOVANELLA, L.; ESCOREL,S.; MENDONÇA, M.H.M .de. 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