Baixe O Tamanho das Partículas de Poeira Suspensas no Ar dos Ambie e outras Notas de estudo em PDF para Cultura, somente na Docsity! O TAMANHO DAS
PARTÍCULAS DE POEIRA
SUSPENSAS NO AR
DOS AMBIENTES DE TRABALHO
O TAMANHO DAS PARTÍCULAS DE POEIRA SUSPENSAS NO AR DOS AMBIENTES DE TRABALHO Aos meus pais, Alcy e Iodiviga, pelas oportunidades que me proporcionaram. Ao meu marido, Germano, pelo incentivo e apoio incondicionais. À minha filha, Lumena, pela compreensão e tempo que deixei de lhe dedicar. “ Ainda que os operários cubram seu rosto, absorvem pelo nariz e pela boca revoluteantes átomos de gesso que penetram nas vias respiratórias e, misturados à linfa, se aglutinam em nódulos ou se incrustam nos sinuosos condutos pulmonares, interceptando a respiração.” Bernardino Ramazzini As Doenças dos Trabalhadores, 1700 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 19 2. POEIRA 21 2.1 Classificação das Poeiras 22 2.1.1 Efeitos sobre o organismo 23 2.1.1.1 Efeitos fibrogênicos 23 2.1.1.2 Efeitos cancerígenos 23 2.1.1.3 Efeitos tóxicos sistêmicos 23 2.1.1.4 Efeitos cutâneos 24 2.1.1.5 Efeitos irritantes 24 2.1.2 Partículas na respiração 24 2.1.2.1 Mecanismos de defesa do sistema respiratório 24 2.1.2.2 Reação do pulmão às partículas de poeira inalada 25 3. AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL A POEIRAS 29 3.1 Convenções para Amostragem de Poeiras 30 3.2 Amostragem de Aerodispersóides 34 3.2.1 Bombas de amostragem 34 3.2.2.Meio de coleta 34 3.2.2.1 Seleção do filtro 35 3.2.3 Separadores de partículas 37 3.3 Estratégia de Amostragem 38 3.4 Análises de Poeiras 41 3.5 Legislação Ocupacional para Poeiras 42 3.5.1 Limites de exposição 42 3.5.2 Legislação brasileira 44 LISTA DE FIGURAS Figura 3.1: Representação esquemática das principais regiões do trato respiratório e sua correspondência com as frações inalável, torácica e respirável 32 Figura 3.2: Aspecto do filtro de membrana de éster de celulose observado por microscopia eletrônica 36 Figura 3.3: Aspecto do filtro de membrana de policarbonato observado por microscopia eletrônica 36 Figura 3.4: Aspecto do filtro de membrana de PVC observado por microscopia eletrônica 36 Figura 4.1: Diâmetro equivalente medido com base em diversas prorie- dades da partícula 51 Figura 4.2: Exemplo de distribuição de tamanho de partícula típico das poeiras 52 Figura 4.3: Distribuição do tamanho de partícula da figura 4.2 construída em escala logarítmica para o tamanho de partícula 53 Figura 4.4: Distribuição de freqüência acumulada das partículas construída em escala logarítmica 54 Figura 4.5: Distribuição de freqüência acumulada das partículas construída em escala log-probabilidade 55 Figura 4.6: Métodos para medição do diâmetro da partícula por microscopia 58 Figura 4.7: Fotomicrografia obtida ao microscópio ótico com aumento de 500X 60 Figura 4.8: Fotomicrografia obtida ao microscópio eletrônico de varredura com aumento de 5000X 63 Figura 4.9: Exemplos de recursos de edição de imagem 66 Figura 4.10: Exemplos de medições quantitativas de partículas 67 Figura 4.11: Esquema de varredura do filtro para seleção dos campos de visualização destinados à medição do tamanho das partícu- las por microscopia ótica 68 Figura 4.12: Esquema do quadro de medição do analisador de imagem 69 Figura 5.1: Vista geral da descarga das peneiras classificadoras 72 Figura 5.2: Ensacamento da areia classificada 73 Figura 5.3: Amostrador de poeira inalável, tipo IOM, marca SKC 74 Figura 5.4: Curva de distribuição de freqüência dos dados de medição de tamanho de partícula da amostra P-100A, coletada junto à Pe- neira #100, construída a partir dos dados da tabela V.2 77 Figura 5.5: Curva de distribuição de freqüência dos dados de medição de ta- manho de partícula da amostra P-100A coletada junto à Peneira #100, construída a partir dos dados da tabela V.3 78 Figura 5.6: Curva de distribuição de freqüência acumulada dos dados de me- dição de tamanho de partícula da amostra P-100A coletada junto à Peneira #100, construída a partir dos dados da tabela V.3, em es- cala de log-probabilidade 79 Figura 5.7: Curva de distribuição de freqüência dos dados globais de medição de tamanho de partícula do laboratório de classificação de areia, obtidos por microscopia ótica acoplada a sistema de análise de imagem Q-600 82 Figura 5.8: Gráfico de porcentagem acumulada em massa para os dados glo- bais de medição de tamanho de partícula no laboratório de classi- ficação de areia 83 Figura 5.9: Gráfico de porcentagem acumulada em massa para os dados de medição de tamanho de partícula da amostra-teste, coletada junto às peneiras classificadoras 85 19 1 INTRODUÇÃO E xistem muitos tipos de partículas suspensas no ar do ambiente onde o homem vive, porém algumas são peculiares do ambiente de trabalho. A variedade de poeiras às quais os trabalhadores estão expostos, na forma de substância pura ou em misturas, é muito grande. A inalação é a forma mais comum de entrada das poeiras no organismo. Os efeitos das poeiras inaladas dependem das espécies químicas que as compõem, da sua concentração no ar, do local de deposição no sistema respiratório e do tempo de exposição do trabalhador a essas poeiras. O tamanho da partícula inalada é o fator que determina o local de deposição no organismo e o potencial de risco da exposição, uma vez que nem toda partícula consegue penetrar no trato respiratório, e dentre as que penetram nem todas che- gam ao pulmão. O risco à saúde pode ser avaliado adequadamente somente depois de se me- dir o número relativo de partículas insolúveis, pequenas e grandes, presentes no ambiente. As partículas grandes insolúveis são capturadas nas passagens nasais e vias aéreas superiores, e são rapidamente eliminadas pela tosse, espirro ou engoli- das. Elas são preocupantes no trato respiratório superior somente se produzirem irritação local ou propagação para tecidos adjacentes contatados. Entretanto, se partículas grandes são solúveis, elas podem ser absorvidas e transportadas para um 20 órgão crítico ou de concentração após a dissolução nos fluídos presentes no orga- nismo humano. Já as partículas pequenas insolúveis podem se depositar nos espaços mais profundos do pulmão. Elas podem ser removidas pelos processos fisiológicos de proteção e limpeza ou podem ser retidas no corpo por longos períodos. A combina- ção desses diversos processos governa o potencial de risco das poeiras. Métodos para medição de tamanho de partícula em aerodispersóides são pesquisados desde o início do século XX. O interesse por essa área tem sido mais intenso nos últimos 30 anos, estimulado pelo aumento da poluição urbana, por estudos sobre doenças ocupacionais causadas pela exposição a poeira e pelo desen- volvimento de dispositivos para controle de salas limpas destinadas a trabalhos com componentes eletrônicos. Muitos métodos para a medição de tamanho de partícula foram refinados ou desenvolvidos durante esse período, partindo da microscopia para métodos instru- mentais automatizados. As técnicas utilizadas para determinação da distribuição de tamanho de par- tícula devem levar em consideração as necessidades da Higiene Ocupacional. Os resultados de distribuição de tamanho de partícula podem ser associados aos métodos comumente usados para identificação e determinação de concentra- ção, fornecendo, assim, mais informações sobre os riscos nos ambientes de traba- lho. Ao se estudar as poeiras, deve-se ter em mente que, em quantidade excessi- va, elas sobrecarregam os sistemas de proteção e limpeza do organismo, favore- cendo a instalação de doenças respiratórias. Para qualquer tipo de poeira, o grau de risco para a saúde depende do tipo de exposição e de fatores individuais. A exposi- ção é caracterizada principalmente pelo tipo de poeira, sua concentração no ar e duração da exposição. Os fatores individuais consideram a constituição geral e estado de saúde do indivíduo exposto (no caso, o trabalhador), o que inclui o estado funcional do trato respiratório superior, o funcionamento e estrutura dos pulmões, o estado imunológico geral e reatividade bioquímica. Todos esses fatores desempe- nham seu papel na origem de doenças respiratórias. 21 2 POEIRA O exame de uma amostra de ar extraída de qualquer ambiente, seja ele de trabalho ou não, revela a presença de partículas de vários tamanhos, formas e composições químicas. Os aerodispersóides são definidos como uma reunião de partículas, sólidas ou líquidas, suspensas em um meio gasoso pelo tempo suficiente para permitir a observação ou medição. O tamanho das partículas presentes em um aerodispersói- de varia na faixa de 0,001 a 100 µm (1). As partículas líquidas podem ser produzidas por: - ruptura mecânica de líquidos, e são chamadas de névoas; - ou condensação de vapores de substâncias que são líquidas à temperatura am- biente, e são chamadas de neblinas (2). As partículas sólidas são produzidas por: - ruptura mecânica de sólidos, e são chamadas de poeiras; - ou condensação de vapores de substâncias que são sólidas à temperatura ambi- ente, e são chamadas de fumos (2). Vários nomes são usados para descrever o material particulado suspenso no ar. O nome partícula se refere a uma unidade simples da matéria, tendo, geralmente, uma densidade próxima da densidade intrínseca do material original. 24 2.1.1.4 Efeitos cutâneos Devido ao seu formato, composição química ou capacidade de adsorver ou- tras substâncias, certas poeiras podem dar origem a dermatites irritativas ou alergi- as. Em algumas ocasiões, sua inalação pode produzir urticária alérgica. 2.1.1.5 Efeitos irritantes Esses efeitos compreendem a irritação da mucosa dos olhos e do trato respi- ratório, provocando avermelhamento, queimação, lacrimejo, tosse, espirro e incha- ço. 2.1.2 Partículas na respiração (4, 7) O caminho que as partículas de poeira percorrem no sistema respiratório é constituído pelo nariz, boca, faringe, laringe, árvore traqueobronquial e alvéolos pulmonares. Nariz - Constitui um filtro no qual o ar é aquecido, umedecido e onde as par- tículas são parcialmente removidas. A retenção das partículas se inicia pelo impac- to com as paredes nasais e por sedimentação. As partículas depositadas são elimi- nadas por espirros e se depositam na parte posterior ciliada de onde podem ser extraídas ou levadas para a faringe. Faringe e laringe - As partículas retidas nas mucosas da cavidade bucal, gar- ganta, faringe e laringe podem ser eliminadas ao se cuspir ou são engolidas. Árvore traqueobronquial - Neste trecho as partículas podem ser retidas por impacto contra as paredes ou simplesmente por sedimentação, devido a perda de velocidade do ar. As partículas retidas podem ser impulsionadas até o exterior pe- los cílios existentes nessa região. Região alveolar - As partículas que alcançaram a região alveolar depositam- se nas paredes, tanto por difusão como por sedimentação. O mecanismo de expul- são é muito lento e só parcialmente conhecido. A maior parte destas partículas são retidas nas paredes alveolares. 2.1.2.1 Mecanismos de defesa do sistema respiratório (6, 8-12) O aparelho respiratório intercepta a maior parte das partículas inaladas, que passam através do nariz e da boca e ao longo dos canais de condução de ar, antes que elas atinjam as partes mais delicadas do pulmão. O pulmão tem capacidade para remover parte da poeira depositada através do movimento mucociliar, movi- mento de limpeza do sistema respiratório que é auxiliado pela membrana mucosa e pelos cílios das células de defesa, e do sistema de macrófagos, células de defesa do corpo encarregadas da eliminação de organismos estranhos através do processo da fagocitose. Também é importante saber que as células do pulmão, incluindo 25 as superfícies em contato com o ar, normalmente têm uma rápida renovação ou taxa de reposição, onde as células com a superfície parcialmente danificada são rapidamente trocadas por células novas e normais. Entretanto, a capacidade de auto proteção e reparo de danos tem um limite. A deposição excessiva de poeira pode causar efeitos adversos no aparelho respi- ratório. Dependendo da natureza química e física das partículas inaladas e também dos compostos químicos adsorvidos sobre suas superfícies, a resposta biológica pode ser de vários graus, desde uma reação não danosa, passando por leve e séria, até uma reação certamente fatal. Outro fator importante que governa a resposta biológica é a relação entre a quantidade de partículas depositada nos pulmões e a porção de partículas efetiva- mente retida. Essa relação mostra que as respostas biológicas estão relacionadas com a concentração e o tamanho das partículas. Partículas em contato com o tecido das células provocam uma resposta espe- cífica para cada tipo particular de célula. Essa resposta pode ser passageira ou tem- porária com danos à célula, desde aqueles não persistentes até os mais sérios. Por outro lado, danos persistentes ou morte da célula pode ocorrer, levando a alterações secundárias do tecido de vários graus de gravidade. Devido às variações no número de células que produzem respostas, à capa- cidade ou normalidade de reposição e reparo das células, à sobrevivência imunoló- gica da célula e à hiperatividade ou sensibilidade de reação das células, a resposta total do tecido pode ser muito diferente para cada indivíduo exposto em condições similares. 2.1.2.2 Reação do pulmão às partículas de poeira inalada (6, 8, 11) Considerando os componentes celulares, a organização do pulmão e a ma- neira pela qual as células respondem ao estímulo ou ao dano, pode-se antecipar as várias reações desse órgão à deposição de poeira. Tais reações dependerão da natu- reza e do número de partículas específicas depositadas, bem como da influência de agentes coexistentes inalados e da reatividade do indivíduo. O comportamento físico das partículas suspensas no ar e no arranjo anatômi- co dos tubos condutores de ar do sistema respiratório indica que partículas maiores que 10 µm de diâmetro são removidas, na sua maioria, na passagem da corrente de ar através do nariz e vias aéreas superiores. A deposição de poeira na região traqueobronquial normalmente estimula um fluxo de muco para auxiliar o trabalho de condução dos cílios ali existentes (siste- ma mucociliar). Se a produção de muco é excessiva, ou se esse muco não é remo- vido adequadamente, ele pode acumular nas passagens de ar, reduzindo o volume 26 dos tubos condutores e elevando a resistência ao fluxo de ar. A estimulação pro- longada das células e das glândulas de secreção do muco pode induzir a hipertrofia ou alargamento dessas estruturas, que podem ser invadidas pelo muco e causar um persistente estreitamento das passagens de ar e a elevação da resistência ao fluxo de ar. As partículas depositadas além do bronquíolo terminal e da região onde ocorre movimento mucociliar induzem várias reações: a) Se a lâmina de muco do bronquíolo terminal se estende para regiões mais dis- tantes, partículas que caem nessa lâmina podem ser puxadas lentamente pelo sistema mucociliar e removidas. b) Partículas depositadas nos alvéolos do pulmão podem ser rapidamente ingeri- das por macrófagos, cuja função é processar material estranho. Alguns dos macrófagos, com suas partículas ingeridas, se movem sobre a escada mucocili- ar e aparecem na saliva ou são engolidos. Outros macrófagos morrem, descar- regam as partículas, que são reingeridas por novos macrófagos, e esse processo é repetido indefinidamente. A vida do macrófago sob circunstâncias normais é medida em termos de sema- nas ou talvez um mês ou mais. Sua vida pode ser encurtada se a partícula ingerida é especialmente tóxica, como é o caso da sílica livre cristalizada, que mata o macró- fago em um período de horas ou dias. Partículas de poeira que se alojam nos alvéolos estimulam o recrutamento e a- cúmulo dos macrófagos nessa área provocando reações intensas dos tecidos do pulmão com a morte dos macrófagos. c) Fibroblastos são células presentes no interstício do pulmão que podem ser esti- muladas para formar quantidades excessivas de retículo e colágeno. A formação excessiva de colágeno acompanha a inflamação prolongada ou crônica na maio- ria dos órgãos do corpo. Esta é uma parte da familiar formação de cicatriz nos tecidos que pode agir tanto sobre a pele como dentro do pulmão. A fibrose pul- monar é uma seqüela comum da inflamação pulmonar crônica. Os produtos li- berados pela morte dos macrófagos estimulam os fibroblastos na produção ex- cessiva de colágeno, promovendo o desenvolvimento da fibrose (cicatrizes pulmonares). d) A transformação maligna é um fato que pode ocorrer com qualquer célula do corpo que se divide, e isto não é uma exceção para o pulmão. Devido à rápida regeneração das células do pulmão há provavelmente maior vulnerabilidade às alterações carcinogênicas pela presença da poeira ou outros agentes. 29 3 AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL A POEIRAS O objetivo principal e fundamental da Higiene Ocupacional é a prevenção das doenças profissionais que podem ser originadas por agentes nocivos presen- tes no ambiente de trabalho. A prevenção é realizada através de ações destinadas a evitar precocemente qualquer alteração fisiológica que implique em alguma respos- ta danosa à saúde dos trabalhadores. Para cumprir este objetivo, a Higiene Ocupacional está continuamente de- senvolvendo e aperfeiçoando uma série de metodologias que, através da detecção, quantificação e controle dos possíveis contaminantes presentes no ambiente de trabalho, evitem o surgimento das doenças profissionais. Nesse contexto, a avaliação ambiental é um diagnóstico sobre a situação produzida por um ou vários fatores ambientais, e inclusive, a ação combinada de- les, baseada nos dados obtidos em medições ou estimadores da exposição, e com- parados com critérios ou padrões de exposição (4) . A natureza das doenças e o grau de probabilidade de sua ocorrência em situa- ções de exposição a poeiras depende da combinação de muitos fatores, entre eles (13): • a distribuição de tamanho de partícula (que governa como a poeira entra no corpo, via inalação, e onde é depositada no trato respiratório); • a concentração de poeira no ambiente (que governa quanto pode ser depo- sitado) , e 30 • a forma e reatividade das partículas (que governam o destino subseqüente e as respostas biológicas para a presença das partículas em contato com teci- dos vulneráveis). 3.1 Convenções para Amostragem de Poeiras A avaliação do risco ocupacional, ou seja, a probabilidade de uma pessoa so- frer um determinado dano para sua saúde devido às condições de trabalho(14), cau- sado pela inalação de material particulado potencialmente tóxico, usualmente re- quer a medição de sua concentração em massa. Esse risco é melhor avaliado quan- do as partículas que não contribuem para isto são excluídas da concentração medi- da. As primeiras recomendações para a avaliação de poeiras nos ambientes de tra- balho levavam, então, em consideração apenas duas categorias de poeiras: • poeira respirável, composta de partículas menores que 10 µm; • poeira total, composta por todo material particulado que está suspenso no ar. A definição da fração respirável para poeiras suspensas no ar foi originalmente recomendada pelo British Medical Research Council (BMRC) em 1952, e interna- cionalmente adotada em 1959 durante a “ Johannesburg Pneumoconiosis Conference”. À partir daí, dispositivos seletores, conhecidos como ciclones, foram desenvolvidos para separar as partículas menores que 10 µm, consideradas como as causadoras das pneumoconises. No caso da poeira total, sua frágil definição é fortemente afetada pelos méto- dos escolhidos para a sua medição. Esses métodos variam de país para país, inclu- indo diferenças nas características dos dispositivos de coleta, tipos de filtros utili- zados, fluxo ajustado para amostragem da poeira, técnicas de coleta adotadas, etc. Diversos experimentos têm demonstrado que existem variações consideráveis de desempenho entre amostradores utilizados para coletar a mesma poeira sob condi- ções ambientais idênticas. Assim, aquilo que se chama de poeira total acaba sendo simplesmente o particulado que ficou retido sobre o filtro (15). Apesar desses problemas essas recomendações para amostragem de poeira são seguidas ainda hoje. A maioria dos limites de exposição para particulados, adota- dos em diversos países, são expressos em termos de concentração em massa de poeira total. Os estudos mais recentes, porém, mostram que a medição da massa total de partículas suspensas no ar é inadequada para predizer os efeitos da maioria dos aerodispersóides inalados (13, 16-18). Definições mais abrangentes que a de poeira total passaram a ser necessárias para explicar doenças como câncer nasal e bronquial e bronquite crônica, causadas 31 por partículas que se depositam nas vias aéreas superiores e região traqueobronqui- al (19). Nos últimos 20 anos vários estudos foram realizados para quantificar a fração de partículas suspensas no ar que realmente entram no sistema respiratório, procu- rando estabelecer uma analogia direta dos instrumentos de amostragem com o que acontece durante a inalação humana, concluindo-se que partículas maiores que 100 µm possuem pequena probabilidade de penetração no sistema respiratório (7, 17). Para melhor compreensão das frações estabelecidas por convenção, o trato respiratório foi dividido, como mostra a tabela III.1, em regiões consideradas bases anatômicas para identificação das frações de partículas relevantes. As especifica- ções para construção de instrumentos de amostragem e definição de limites de ex- posição para amostragens por seleção de tamanho de partícula também são baseadas nessa referência. Tabela III.1 Divisão do trato respiratório em bases anatômicas de referência se- gundo o mecanismo de deposição das partículas Região Estruturas Anatômicas Localização Doenças relacionadas 1. Vias Aéreas Superiores Nariz Boca Nasofaringe Orofaringe Laringofaringe Laringe Extratorácica Irritação do septo nasal, faringe e laringe Câncer de faringe e laringe 2. Região Traqueobronquial Traquéia Brônquios Bronquíolos (bronquíolos terminais) Torácica (pulmonar) Broncoconstrição Bronquite crônica Câncer bronquial 3. Região de Troca de Gases Bronquíolos respiratórios Dutos alveolares Sacos alveolares Alvéolos Alveolar Pneumoconioses Enfisema Alveolite Câncer pulmonar A aplicação das informações sobre como o tamanho da partícula determina a inalabilidade (a fração em massa que realmente entra pela boca e nariz durante a inalação) e a região de deposição das partículas dentro do trato respiratório pode permitir que as amostras coletadas seletivamente com relação ao tamanho das par- tículas se relacionem mais diretamente com o risco ocupacional oferecido pelo aerodispersóide inalado (7, 20). Entidades importantes como o British Medical Research Council (BMRC), a U.S. Atomic Energy Commission, a American Conference of Governmental In- dustrial Hygienists (ACGIH), a U.S. Occupational Safety and Health Administration (OSHA), a U.S. Environmental Protection Agency (EPA), o Co- 34 3.2 Amostragem de Aerodispersóides Os instrumentos de amostragem são o meio técnico pelo qual o particulado pode ser coletado, dentro das convenções adotadas para amostragem, para posterior quantificação da massa de poeira (13) . As amostragens de poeiras são realizadas com o auxílio de um conjunto amostrador composto de (4): - uma bomba de amostragem, - um porta-filtro, contendo o filtro adequado para o tipo de poeira que se preten- de coletar, - um separador de partículas, quando se deseja coletar poeira em uma faixa de tamanho específico. Para efeito de avaliação da exposição ocupacional do trabalhador o conjunto amostrador deve simular a respiração humana, fazendo com que o ar carregado de partículas passe através de um dispositivo que retenha as partículas que provavel- mente se depositariam no trato respiratório(7). A bomba de amostragem aspira o ar contaminado fazendo-o passar por um separador de partículas que seleciona as partículas que se deseja estudar, por faixa de tamanho, deixando-as passar para um filtro coletor que as retém. 3.2.1 Bombas de amostragem (4, 30-32) As bombas utilizadas para a amostragem de aerodispersóides são instrumen- tos portáteis encarregados de fazer passar um determinado volume de ar através dos filtros de coleta. Estas bombas devem possuir um sistema de controle de vazão para ajustes, na maioria das vezes na faixa de 1,0 a 3,0 litros por minuto, baterias recarregáveis e um sistema automático de controle de fluxo que lhes permita com- pensar, de maneira instantânea, as variações no fluxo do ar aspirado, com uma precisão de + 5%. O valor da vazão de amostragem é selecionado de acordo com a metodologia específica adotada para cada tipo de poeira que se pretende coletar e do tipo de separador de partículas utilizado. 3.2.2 Meio de coleta (3, 33, 34) A filtração é a técnica mais utilizada para a coleta de aerodispersóides. Mei- os filtrantes de muitos tipos diferentes e com variadas propriedades são fabricados para atender aos requisitos de amostragem e análise de aerodispersóides específicos. Os filtros de membrana, fabricados em vários materiais, diâmetros e tama- nhos de poro, são os meios mais usados para a amostragem de particulados. São produzidos como uma camada contínua de material, normalmente um polímero, 35 com poros de tamanho uniforme, determinados com precisão. Removem as partí- culas filtradas principalmente por interceptação, ainda que os mecanismos de im- pactação e difusão também atuem de alguma forma. Partículas maiores que o ta- manho do poro do filtro são retidas na superfície do filtro ou próximo dela. O número de poros desses filtros é bastante alto, ao redor de 70 a 80% da superfície do filtro, permitindo razoável taxa de fluxo de ar enquanto a perda de carga do filtro ainda é pequena. Uma vez que as partículas são coletadas na região da superfície do filtro, os poros tendem a se tornar obstruídos rapidamente, aumentando a perda de carga do filtro devido à resistência à passagem do ar. Os filtros de membrana não são indicados nos casos onde grandes volumes de ar contendo partículas grossas e pesadas precisam ser amostrados. Por outro lado, esses filtros são muito úteis para vários tipos particulares de análise devido às suas propriedades de seleção por tamanho ou composição química. 3.2.2.1 Seleção do filtro (3) A análise química das partículas coletadas por filtração são diretamente influenciadas pelo filtro escolhido. Se, por exemplo, é necessário realizar uma aná- lise das partículas metálicas depositadas sobre o filtro, o conteúdo de metais na composição do filtro deve ser o menor possível. Se o filtro é calcinado como parte da análise, então um baixo conteúdo de cinzas será um critério para a sele- ção do filtro. Se o filtro deve ser dissolvido durante a análise, então é necessário conhecer sua solubilidade em vários reagentes. Para as análises de particulados utilizando a microscopia ótica é necessário conhecer as características óticas do filtro, como índice de refração e cor, e reatividade com substâncias que possam torná-lo transparente. Para análises por microscopia eletrônica, é necessário que o filtro seja plano e liso para permitir uma boa visualização das partículas contra o fundo do filtro. Análise gravimétrica pede que o filtro tenha pequena massa por unidade de área, além de baixa higroscopi- cidade. A maioria dos fabricantes fornecem tabelas contendo informações sobre as características de seus filtros, tais como diâmetro dos poros, espessura, massa por unidade de área, solubilidade e tempo de dissolução, conteúdo de cinzas, eficiência de coleta. A composição química é fornecida para alguns tipos de filtros sele- cionados. O tamanho do poro do filtro é selecionado considerando-se o tamanho das menores partículas a serem coletadas. As Figuras 3.2, 3.3 e 3.4 mostram o aspecto dos filtros de membrana de éster de celulose, policarbonato e PVC, respectivamen- te. As imagens mostradas foram obtidas por microscopia eletrônica. 36 Figura 3.2 Aspecto do filtro de membrana de éster de celulose observado por microscopia eletrônica Figura 3.3 Aspecto do filtro de membrana de policarbonato observado por microscopia eletrônica Figura 3.4 Aspecto do filtro de membrana de PVC observado por microscopia eletrônica 39 Com base no conhecimento sobre a disponibilidade de equipamentos, tem- po necessário para a execução da coleta de amostras, exatidão dos procedimentos de amostragem e análise que serão utilizados, dados sobre o ambiente de trabalho e atividades específicas de cada trabalhador, adota-se a estratégia de amostragem mais adequada. No caso da exposição ocupacional a poeiras, muitos processos e operações de trabalho já são suspeitos com relação ao potencial de risco oferecido para a saúde dos trabalhadores. Entre as operações que são fontes geradoras de poeiras podemos citar como exemplos: - operações com sólidos: descarregamento, mistura, separação, extração, brita- gem, moagem, transporte, carregamento, ensacamento; - pulverização pressurizada: limpeza de peças, jateamento abrasivo, pintura, desengraxamento; - operações de moldagem: corte, esmerilhamento, enchimento, moagem, molda- gem, rebarbação, serragem, perfuração. As informações sobre os riscos ocupacionais específicos oferecidos pelas poeiras e o conhecimento dos processos e operações envolvidas são complementa- dos pela visita ao local de trabalho. É nesse momento que o risco potencial pode ser identificado e se obtém uma visão preliminar sobre as condições reais de exposição dos trabalhadores. A esse conjunto de informações dá-se o nome de reconhecimento de risco. A visita ao local de trabalho envolve a observação da rotina dos trabalhadores com relação à execução de suas tarefas e a verificação de características do ambiente que possam influenciar a exposição dos trabalhadores à poeira, como por exemplo(42): - tipos de operações de trabalho; - condições potencialmente perigosas e fontes geradoras de poeira, lembrando que as poeiras que não podem ser vistas são as que oferecem maior risco para o trabalhador, pois são justamente as que se encontram na faixa respirável (3, 37). - posicionamento dos trabalhador em relação às fontes geradoras de poeira; - número de trabalhadores por operação; - número de trabalhadores que circulam pela área; - horários de trabalho (turnos e ciclos de trabalho); - procedimentos de trabalho usados para desempenho das tarefas; - existência de ventilação natural e de sistemas de ventilação artificial; - uso de equipamento de proteção individual. 40 Uma vez que, através da visita preliminar ao ambiente de trabalho, se identifique a possibilidade de qualquer exposição que represente risco à saúde do trabalhador, inicia-se a etapa de planejamento da estratégia de amostragem, que consiste de(42): a) Seleção do tipo de amostragem a ser realizada O resultado da amostragem deve representar as condições reais de trabalho e de exposição a que estão submetidos os trabalhadores. Dependendo do objetivo da avaliação pode-se optar entre (20, 42): • “Amostragem pessoal”, onde o dispositivo de amostragem é colocado na lapela do trabalhador, posicionado na zona respiratória (150 + 50 mm das narinas do trabalhador). • “Amostragem ambiental ou do ar geral (estática”), onde o dispositivo de amostragem é colocado em um local fixo na área de trabalho. b) No caso de amostragem pessoal, seleção dos trabalhadores para o uso dos dis- positivos de amostragem • Trabalhadores de risco máximo: seleção dos trabalhadores que presu- mivelmente estão expostos ao maior risco. • Seleção aleatória de trabalhadores dentro de um grupo homogêneo de risco, quando não é possível identificar diferenças de exposição entre os trabalhadores. c) Escolha do tempo de duração da amostragem De modo geral, seguindo a terminologia comumente aceita, proposta pelo NIOSH (National Institute for Occupational Safety and Health), podemos selecionar um dos seguintes tipos de amostragens: • “Amostragem com amostra única de período completo”, onde uma só amostra cobre toda a jornada de trabalho de 8 horas. • “Amostragem com amostras consecutivas de período completo”, onde ao longo de toda a jornada de trabalho de 8 horas se obtêm duas ou mais a- mostras de mesma ou diferentes durações. • “Amostragem com amostras consecutivas de período parcial”, onde amos- tras de igual ou diferentes durações cobrem parte do tempo de exposição dos trabalhadores. Neste caso, deve ser amostrado pelo menos 70% da jor- nada de trabalho diária e semanal, o que corresponde a 6 a 7 horas em um dia e 3 a 4 dias em uma semana. 41 • “Amostragem com amostras pontuais”, onde amostras de curta duração (menos de uma hora, em geral alguns minutos de duração) são tomadas a- leatoriamente durante a jornada de trabalho. Devido às variações nas amostragens, às flutuações nos ambientes de trabalho, à existência de erros de outras origens, a exposição medida raramente coincide com a exposição verdadeira. Assim qualquer resultado de amostragem em Higiene Ocupacional será sempre uma estimativa da exposição média verdadeira. Por isso, devem ser empregados conhecimentos de estatística para se estabelecer um interva- lo de confiança em torno do qual o valor da exposição estimada contenha o valor verdadeiro da exposição. 3.4 Análises de Poeiras Para a análise bem sucedida de amostras ambientais de poeira, vários fato- res estão intimamente correlacionados, como o tipo de poeira a ser analisada, o tipo de filtro de coleta, as técnicas de amostragem e análise adotadas. Com o objetivo de se conhecer as possíveis interferências analíticas e se fa- zer as correções necessárias para a aplicação da técnica analítica adequada, é de vital importância, e em muitos casos imprescindível, que a amostra seja acom- panhada de toda informação possível com relação à natureza da poeira, processos de trabalho e características do ambiente. O tipo de filtro utilizado para a coleta de particulados deve ser compatível com as técnicas analíticas a serem usadas posteriormente. As características do filtro devem ser analisadas levando-se me consideração o estado físico, natureza e comportamento dos contaminantes que se deseja reter, visando a coleta e transporte de amostras estáveis. Várias técnicas analíticas são utilizadas para a determinação da concentração de poeira suspensa no ar de ambientes de trabalho. As técnicas mais comuns para análise de amostras ambientais de poeiras são a gravimetria, a difratometria de raios-x, a espectrometria de infravermelho, espectrometria de absorção atômica e a microscopia ótica(43-45). 44 ais: “Os valores limites de exposição não foram desenvolvidos para serem usados como normas legais, e a ACGIH não recomenda seu uso como tal. Contudo, reconhece-se que, em certas situações, pessoas ou organizações possam querer fazer uso destas recomendações ou guias como suplemento para seus programas de saúde e segurança ocupacional. A ACGIH não se opõe ao uso desta forma, desde que o uso dos limites de exposição venham a contribuir para a otimização da pro- teção do trabalhador. Não obstante, os usuários devem reconhecer as restrições e limitações nessa utilização, assumindo as responsabilidades por este tipo de u- so.”(29) 3.5.2 Legislação brasileira (26) A Legislação Brasileira, através da NR-15 - Anexo n° 12 - LIMITES DE TOLERÂNCIA PARA POEIRAS MINERAIS, estabelece Limites de Exposição para apenas 3 tipos de poeiras miner • Asbesto • Sílica livre cristalizada • Manganês e seus compostos Os limites de exposição para asbesto e manganês foram revisados pela Portaria n° 1 de 28/05/91 e Portaria n° 8 de 05/10/92, respectivamente. Os limites para sílica livre cristalizada permanecem os mesmos desde 08 de junho de 1978, data da publicação da Portaria n° 3214, que regulamentou a Lei n° 6514, de 22 de dezembro de 1977, que aprovou as Normas Regulamentadoras (NR’s) relativas à Segurança e Medicina do Trabalho. Os limites de tolerância brasileiros foram baseados nas recomendações da ACGIH publicadas em 1974, corrigidos para a jornada de trabalho de 48 horas, vigente no Brasil em 1978, e permanecem os mesmos até hoje, sem considerar que diversas substâncias constantes da lista brasileira passaram a ter indicação de potencial carcinogênico (52). Tabela III. 4 Limites de tolerância brasileiros para poeiras minerais POEIRA MINERAL LIMITE DE TOLERÂNCIA Asbesto Asbesto crisotila: 2,0 fibras/cm3 ✶ Proibido o uso de anfibólios Manganês e seus compostos 5 mg/m3 Sílica livre cristalizada Poeira respirável: LT = 8 % quartzo + 2 Poeira total: LT = 24 % quartzo + 3 • • • 45 Por outro lado, a ACGIH revisa seus limites a cada 2 anos, e atualmente atribui limites para mais de 40 tipos diferentes de poeiras, alguns dos quais com indicação para amostragem de poeira inalável. A ACGIH ainda recomenda limite de exposição para Poeiras Não Classificadas (PNOC) (29). Na ausência de Limite de Tolerância estabelecido pela Legislação Brasileira, recomendava-se que se usasse o Limite de Exposição correspondente, adotado pela ACGIH, como uma postura profissional. À partir de 1994 essa recomendação pas- sou a fazer parte da NR-9: PROGRAMA DE PREVENÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS (PPRA), regulamentada pela Portaria n° 25, de 29 de dezembro de 1994, que alterou a Portaria n° 3214, tornando a recomendação anterior uma ferra- menta legal (26). Os limites de exposição adotados pela ACGIH, quando aplicados para jorna- das de trabalho maiores que 40 horas semanais devem ser corrigidos através de um fator de redução obtido com a aplicação da Fórmula de Brief & Scala (2): FR = 40 x 168 - h (equação 01) h 128 onde: FR = fator de redução h = jornada de trabalho em horas Devido `as limitações apresentadas pelos limites de exposição, a sua aplica- ção deve ser obrigatoriamente complementada com outras informações que possam auxiliar na sua interpretação. O desenvolvimento e aperfeiçoamento de metodologias analíticas, as novas técnicas de detecção, com aumento de sensibilidade e especificidade, podem ser integradas com os procedimentos para diagnóstico precoce, prevenção de doenças e correção de qualquer desvio da situação aceitável para um ambiente de trabalho. É necessário que a avaliação dos dados, relativos aos efeitos da exposição dos trabalhadores a contaminantes ambientais, seja realizada de maneira científica. Isso ajuda a resguardar a saúde dos trabalhadores das possíveis influências políticas ou socio-econômicas que possam afetar os Limites de Exposição. 3.6 Controle Exposição Ocupacional à Poeira Para que a poeira cause algum dano é necessário que ela penetre no orga- nismo humano e atinja os órgãos sensíveis à sua ação. Por isso é necessário conhe- cer as condições de dispersão de particulados no ar do ambiente de trabalho para que se possa adotar as medidas adequadas de controle da poeira. 46 As medidas de controle mais indicadas para cada situação deveriam ser estudadas como antecipação de riscos, prevista na fase de projeto de uma instala- ção industrial. Normalmente esse estudo é feito após a avaliação ambiental, quando a produção já está em andamento (4, 53). Os princípios básicos da tecnologia de controle são simples (53, 54): • sempre que possível, evitar o uso de materiais em pó, ou que poeira seja formada e liberada durante o processo industrial; • se isto não for possível, conter a poeira de tal forma que esta não se propa- gue no ambiente de trabalho; • se isto não for possível ou suficiente, isolar a poeira ou diluí-la no ambien- te de trabalho; • e em último caso, colocar um bloqueio na via de entrada do organismo (vias respiratórias do trabalhador) para impedir que a poeira alcance o pulmão. Portanto a hierarquia dos controles deve ser (54): 1. controle do agente de risco na fonte de geração de poeira; 2. controle do agente de risco na trajetória (entre a fonte e o receptor); 3. controle do agente de risco no receptor (trabalhador). O ideal seria a eliminação completa de qualquer agente que pudesse afetar a saúde nos ambientes de trabalho, mas na prática isto nem sempre é possível. O que freqüentemente se procura atingir é a redução máxima da concentração de poeira, de modo a minimizar o risco. 3.6.1 Medidas de controle relativas ao ambiente de trabalho(2,53-55) As estratégias para controle de poeiras devem visar principalmente a prevenção de danos à saúde do trabalhador através de medidas de controle coletivas, que be- neficiam o maior número de trabalhadores possível. Essas medidas devem ser ins- taladas tanto na fonte como na trajetória de propagação da poeira, poupando o tra- balhador do uso de equipamentos de proteção individual. São aquelas que: (a) eliminam ou reduzem a utilização de materiais em pó ou a formação de poei- ras, como: - “substituição de materiais nocivos” por outros menos tóxicos ou que dêem origem a menor risco, levando em consideração sua viabilidade técnica e econômica, e principalmente a “não introdução” de um novo risco; 49 4 MEDIÇÃO DO TAMANHO DAS PARTÍCULAS A prática da higiene ocupacional é voltada para o reconhecimento, avaliação e controle dos fatores ambientais originados do ou no local de trabalho, que po- dem causar danos à saúde ou bem-estar, ou desconforto significante e ineficiência entre trabalhadores ou entre membros da comunidade. Um desses fatores é a quan- tidade de partículas sólidas finamente divididas suspensas no ar como resultado de diversos tipos de processos de trabalho. A determinação da distribuição de tamanho de partícula e a interpretação do papel do tamanho das partículas nos efeitos à saúde do trabalhador contribuíram com uma importante parcela dos avanços da Higiene Ocupacional. Os episódios da silicose, no início dos anos 30, forneceram um considerável impulso para os estu- dos sobre a medição do tamanho e comportamento das partículas de poeira (58). O conhecimento sobre a distribuição do tamanho das partículas presentes no ar de ambientes de trabalho pode auxiliar a: • localizar regiões do sistema respiratório atingidas com maior intensidade pelas partículas inaladas, • localizar condições operacionais onde possa existir maior risco durante a exposição, • ajudar na escolha dos dispositivos de amostragem mais adequados para tomada de amostras, • avaliar o desempenho de equipamentos de controle. 50 Amostragem de aerodispersóides para medir tamanho de partícula também é executada em muitas pesquisas e investigações experimentais e na avaliação de características de coleta de amostradores de ar (34). É importante que na obtenção, registro, comparação ou interpretação de resul- tados de medição tamanho de partícula se considere a teoria e limitações dos méto- dos de amostragem e análise empregados e o significado dos dados de tamanho de partícula obtidos. Qualquer dado de tamanho de partícula deve estar relacionado aos métodos de amostragem e medição usados. A exposição dos trabalhadores a material particulado pode ser avaliada ade- quadamente somente quando todos os tamanhos de partícula presentes na zona respiratória dos trabalhadores estão representados na amostra em proporções ade- quadas, e os parâmetros que influenciam a amostragem em ambientes ocupacionais são estudados adequadamente. 4.1 O Tamanho das Partículas A faixa de tamanhos de partículas dos aerodispersóides é extremamente grande. Para cada objetivo de amostragem há tamanhos de partícula de maior inte- resse. A estratégia de amostragem deve ser planejada de modo a favorecer a coleta eficiente e a medição do tamanho de tais partículas com exatidão e precisão aceitá- veis. Os métodos de coleta de particulados devem ser selecionados de maneira a preservar o formato das partículas em relação ao estado original do aerodispersói- de. Os resultados obtidos durante a medição de tamanho terão pouca ou nenhuma relação com o tamanho ou forma das partículas no estado original do aerodisper- sóide se o método de coleta alterar essa forma. 4.1.1 Diâmetro equivalente (1, 34, 59) O tamanho de uma partícula é a dimensão que melhor caracteriza seu estado de subdivisão. Para partículas esféricas, o diâmetro é uma medida adequada e sufi- ciente, mas as partículas de formas irregulares necessitam da medição de várias dimensões para serem caracterizadas. Para descrever uma partícula tridimensional irregular através de um único número adotou-se o diâmetro equivalente, que é determinado pela medição direta do diâmetro da partícula ou pela medição de algum parâmetro que esteja relaciona- do com o seu tamanho. Vários tipos de diâmetros equivalentes podem ser extraídos a partir de técnicas que medem diferentes propriedades físicas específicas da partícula, como volume, área, resistência à movimentação em um gás ou poder de espalhamento da luz. O mais usado desses diâmetros é o diâmetro esférico equivalente, que corres- ponde ao diâmetro de uma esfera que tem o mesmo valor da propriedade 51 física da partícula irregular que está sendo medida. A figura 4.1 ilustra uma partí- cula cujo diâmetro equivalente foi medido baseado em diversas propriedades. Esfera de mesmo comprimento máximo Esfera que passa pela mesma abertura de peneira dpen. Esfera de mesmo comprimento mínimo dmin dvol. Esfera de mesmo volume dsed dmax dw Esfera de mesma massa Esfera que tem a mesma taxa de sedimentação dárea Esfera de mesma área Figura 4.1 Diâmetro equivalente medido com base em diversas propriedades da partícula (79) Devemos estar cientes de que a técnica de caracterização de tamanho, que mede uma determinada propriedade da partícula (por exemplo, diâmetro equivalen- te através da área), dará respostas diferentes de outra técnica que mede uma propriedade ou dimensão diferente da primeira (por exemplo, diâmetro equivalente através do volume). Todas as técnicas fornecem resultados aceitáveis. Mas, quando propriedades diferentes da partícula são medidas não é possível comparar diretamente esses re- sultados. Recomenda-se que as medições sejam feitas sempre da mesma maneira e com a mesma técnica, e que o método utilizado sempre seja registrado (59). Para garantir a validade estatística dos resultados de análise de tamanho, as partículas submetidas a medição devem ser escolhidas de maneira completamente aleatória. Nesse tipo de análise, apenas uma fração do número total de partículas que compõe a população de partículas estudada tem o seu tamanho de fato medido. Por isso, é essencial seguir regras criteriosas em todas as fases da amostragem e análise. 54 A distribuição normal é caracterizada pelos parâmetros que medem a tendência central da distribuição (média aritmética) e pela dispersão ao redor da tendência central (desvio padrão) (58). No caso da distribuição lognormal transformada em distribuição normal, como na Figura 4.3, o valor de tendência central é agora melhor denominado de média geométrica, e o desvio padrão é chamado de desvio padrão geométrico. Outra forma de apresentar os dados é através da distribuição de freqüência acumulada. Este tipo de gráfico é mais útil para a análise da distribuição de tama- nho de partícula. A porcentagem acumulada de poeira que é mais fina (ou mais grossa) que um determinado tamanho, é mostrada em função do limite superior do intervalo de classe, em uma escala logarítmica, como na Figura 4.4. Diâmetro da partícula (µm) % d e pa r tí cu la s a ba ix o do ta m an h o in di ca do Média geométrica = 4,7 µm Intervalo Freq (%) Freq.Acum. (%) de Classe 1 - 1,41 µm 0,6 0,6 1,41 - 2 3,0 3,6 2 - 2,83 10,6 14,2 2,83 - 4 22,8 37,0 4 - 5,66 27,0 64,0 5,66 - 8 21,0 85,0 8 - 11,2 11,2 96,2 11,2 - 16 3,1 99,3 16 - 22,6 0,7 100,0 Figura 4.4 Distribuição de freqüência acumulada das partículas construída em escala logarítmica (58) A determinação dos dois parâmetros que definem uma distribuição, a média e o desvio padrão, que são a média geométrica e o desvio padrão geométrico quan- do se emprega os logaritmos dos números, é facilitada ainda mais pelo uso da esca- la log-probabilidade (abscissa em escala logarítmica e ordenada em escala de pro- babilidade). Nesse tipo de construção gráfica a curva de distribuição de freqüên- cia acumulada obtida é uma reta, como mostrado na Figura 4.5. Podemos, então, ler a média geométrica e o desvio padrão geométrico dos diâmetros das partículas diretamente nesse gráfico. 55 No gráfico da distribuição de freqüência acumulada a média geométrica é o valor de diâmetro correspondente a 50% dos tamanhos medidos, dividindo a curva de freqüência ao meio. A dispersão da distribuição, ou desvio padrão geométrico, é determinada a- través do mesmo gráfico. Utilizam-se os valores de diâmetro correspondentes a 84,1% e 50% dos valores medidos projetados sobre a reta e aplica-se a equação 02. sg = 84,1% dos tamanhos (equação 02) 50% dos tamanhos Intervalo Freq (%) Freq.Acum. (%) de Classe 1 - 1,41 µm 0,6 0,6 1,41 - 2 3,0 3,6 2 - 2,83 10,6 14,2 2,83 - 4 22,8 37,0 4 - 5,66 27,0 64,0 5,66 - 8 21,0 85,0 8 - 11,2 11,2 96,2 11,2 - 16 3,1 99,3 16 - 22,6 0,7 100,0 Figura 4.5 Distribuição de freqüência acumulada das partículas construída em escala log-probabilidade(58) 56 4.1.3 Significado prático do tamanho de partícula(1) Apesar da média geométrica e do desvio padrão geométrico descreverem completamente a distribuição lognormal, esses parâmetros não têm um significado físico para ajudar na interpretação de resultados experimentais. Um diâmetro mé- dio é apenas o diâmetro de uma partícula hipotética que de alguma maneira representa o total de partículas presentes na amostra. Para os aerodispersóides, o interesse está freqüentemente centrado no com- portamento aerodinâmico das partículas. Os dados das distribuições de tamanho obtidos na forma de freqüência por número, volume ou massa devem ser converti- dos no tipo de informação mais adequado, se o comportamento aerodinâmico pre- cisa ser levado em consideração (19, 59). O diâmetro aerodinâmico equivalente é definido como o diâmetro de uma partícula esférica de densidade igual a uma unidade, que tem o mesmo comporta- mento aerodinâmico que a partícula real considerando seu tamanho, forma e densi- dade. Essa informação é crucial para determinar se uma partícula é capaz de pene- trar em um filtro, ser removida por um separador de partículas ou se depositar no pulmão. O diâmetro aerodinâmico de uma partícula pode ser medido através da de- terminação da velocidade da partícula em um fluxo conhecido. Instrumentos usan- do esse princípio, como o Aerodynamic Particle Sizer Spectrometer e o Aerosizer Particle Size Analyzer da TSI Incorporated, são utilizados para medir o diâmetro aerodinâmico das partículas. O diâmetro aerodinâmico pode ser muito diferente do diâmetro linear medi- do diretamente sobre a partícula devido às variantes de forma e densidade dessa partícula; entretanto, ele serve como uma base para comparação em casos onde as propriedades aerodinâmicas da partícula são de interesse maior (3). O diâmetro médio que mais se aproxima do diâmetro aerodinâmico médio é o diâmetro médio mássico, que é o diâmetro baseado na massa das partículas. Para o diâmetro médio mássico metade da massa das partículas é constituída por partículas com diâmetro menor que o diâmetro linear médio e a outra metade da massa das partículas por partículas de diâmetro maior (1). O diâmetro médio mássico é o diâmetro que melhor caracteriza a deposição de partículas no trato respiratório. Quando a poeira é composta por partículas de um único material, o diâmetro médio mássico pode ser obtido graficamente a partir da curva de distribuição de freqüência dos dados de medição. Calcula-se a massa das partículas medidas em cada intervalo de classe com base na densidade do material estudado e no diâmetro esférico equivalente. 59 - baixo custo do equipamento comparado ao de outros tipos de equipamentos destinados à mesma finalidade. O microscópio ótico é indicado para identificação e medição de tamanhos de partículas na faixa de diâmetro entre 0,8 e 20 µm (3). Detecção de partículas menores que as limitadas por esta faixa depende da resolução do instrumento. Um limite inferior teórico poderia chegar a até 0,2 µm, dependendo dos acessórios instalados e do ajuste do microscópio. Na prática, a medição deve ser executada somente para partículas pelo menos 10 vezes maiores que o limite de resolução da lente objetiva usada (60, 61). Recomenda-se que a medição de tamanho de partícula por microscopia ótica seja limitada a tamanhos de até 75 µm, mas partículas maiores podem ser medidas desde que não estejam em uma proporção superior a 10% do número total de partí- culas de poeira medidas. Se a proporção exceder 10%, essas partículas devem ser removidas e analisadas separadamente por uma técnica mais adequada (60). 4.2.1.1 Preparação da amostra (3, 59-61) A maioria das amostras de particulado requer preparação especial para aná- lise por microscopia. Partículas depositadas sobre uma superfície lisa de vidro, do tipo de uma lâmina de microscópio, são o ideal para análise por microscopia ótica. O cuidado na preparação da amostra destinada à medição de tamanho é uma das recomendações mais importantes. As partículas devem ser representativas da população da qual elas são obtidas e devem estar dispersas uniforme e aleatoria- mente sobre a lâmina de microscópio, sem preferência de tamanho ou forma, uma vez que somente algumas regiões, selecionadas de acordo com alguma regra prede- terminada, serão examinadas. Atenção especial deve ser dada: • à presença de aglomerados e quebra de partículas individuais; • ao grau de dispersão do particulado sobre a lâmina; • ao estabelecimento de um procedimento de preparação de amostras que se- ja simples, produza erro mínimo e alta reprodutibilidade; • à escolha de um meio de montagem que produza bom contraste entre as partículas e esse meio, e que não reaja ou dissolva as partículas; • à limpeza dos materiais de suporte da amostra, como lâminas e lamínulas para microscopia; • à quantidade de particulado nas amostras, evitando-se campos de visuali- zação muito carregados, já que partículas encostadas ou sobrepostas geram erros de medição. Sugere-se 30 a 50 partículas por campo de visualização. 60 4.2.1.1.1 Amostras coletadas sobre filtros (62-67) A deposição de partículas diretamente sobre a superfície de filtros de mem- brana permite o exame das partículas que estão aproximadamente no mesmo plano focal. O filtro de membrana pode ser montado sobre uma lâmina de micros- cópio utilizando-se uma substância adesiva ou um solvente que possa torná-lo transparente. O processo de transparentação do filtro é o mais indicado, pois não envolve o movimento das partículas sobre a superfície do filtro e fornece bom con- traste entre a partícula e o meio que a rodeia. O reagente mais adequado para a transparentação do filtro de membrana de- ve ser estudado de acordo com o tipo de partícula a ser analisada e o tipo de filtro utilizado para coleta das mesmas. A Figura 4.7 apresenta uma amostra de poeira contendo quartzo coletada so- bre filtro de membrana de éster de celulose de 0,8 µm de poro e preparada para visualização por transparentação usando-se o método da acetona/triacetina(64). O filtro foi colocado sobre uma lâmina de microscópio e exposto ao vapor de aceto- na por alguns segundos; sobre o filtro transparentado foi colocada uma gota de triacetina e uma lamínula de proteção, aguardando-se 24 horas antes da visualiza- ção ao microscópio ótico. Nessa imagem podem ser observados aspectos como forma, tamanho, presença de aglomerados de partículas, homogeneidade da amos- tra com relação à distribuição dos vários tamanhos sobre o filtro. 10 µm Figura 4.7 Fotomicrografia obtida ao microscópio ótico com aumento de 500X 61 4.2.2 Medição por microscopia eletrônica de varredura O microscópio eletrônico é uma ferramenta poderosa para o estudo de poei- ras e fumos submicrométricos relacionados com a higiene ocupacional. Ele permite a observação, contagem e medição de tamanho de partículas de até cerca de 0,001 µm, em contraste com o limite de resolução do microscópio ótico. Detalhes da superfície das partículas depositadas sobre um filtro podem ser observados com clareza, profundidade de foco e alta magnificação. As aplicações gerais da microscopia eletrônica de varredura em pesquisas sobre partículas finas não eliminam a necessidade da microscopia ótica. Elas devem ser consideradas complementares, cada uma com suas próprias vantagens especiais. A microscopia eletrônica de varredura oferece as seguintes vantagens: - as amostras são fáceis de preparar e dispensam replicatas; - examina a superfície da amostra, fornecendo informações sobre tamanho, for- ma, textura e topografia da superfície; - pode-se perceber a contaminação da superfície da partícula; - aglomerados e impurezas podem ser observados diretamente; - amostras coletadas sobre filtros de membrana podem receber recobrimento metálico diretamente sem outro tipo de preparação; - a capacidade de variar rapidamente a magnificação de valores baixos a altos possibilita a análise de uma partícula individualmente; - a composição elementar de partículas individuais pode ser determinada, quan- do a microscopia eletrônica está acoplada a uma técnica de microanálise. Por outro lado, as principais desvantagens da microscopia eletrônica são o alto custo do equipamento, o custo e complexidade de operação e manutenção e o alto nível de experiência do operador. A principal razão para a sua utilização é a alta resolução obtida quando as a- mostras são examinadas. Uma importante característica da microscopia eletrônica de varredura é a aparência tridimensional da imagem da amostra, que é um resulta- do direto da grande profundidade de foco, além do efeito de contraste produzido pelo realce de sombras. A profundidade de foco do microscópio eletrônico de var- redura (MEV) é de aproximadamente 300 vezes a do microscópio ótico, e devido a essa valiosa característica o MEV é capaz de fornecer muitas informações sobre a textura da superfície de partículas. O exame das amostras pode ser feito tanto sobre imagens da tela gravadas em arquivo como podem ser processadas ao vivo. A qualidade da análise depende da dispersão das partículas sobre o filtro de coleta e da nitidez da imagem obtida, ou 64 4.2.3 Análise de imagem como auxiliar na medição de tamanho de partícula Os avanços dos últimos anos, na área da informática, têm permitido o desenvolvimento e aperfeiçoamento de diversos equipamentos para análise auto- mática e semi-automática de imagens. Reconhecimento, contagem e medição de tamanho, forma, posição, densidade e outras propriedades similares de objetos presentes em uma imagem são tarefas que podem ser executadas com relativa facilidade e excelente reprodutibilidade pelos microcomputadores. Vários progra- mas especialmente desenvolvidos para medição de tamanho de partícula estão dis- poníveis no mercado, fornecendo excelentes resultados. Os programas para análise de imagem usados para a medição de partículas foram desenvolvidos principalmente para preservar a natureza relativamente abso- luta dos métodos baseados na microscopia, enquanto reduzem a subjetividade e fadiga do operador associadas com medições manuais. Deve-se lembrar, porém, que os sistemas para análise de imagem não são capazes de discriminar defeitos causados por deficiências na preparação da amostra ou ajustes inadequados do microscópio da mesma maneira que o olho humano do operador e também não fazem ajustes de foco durante as medições em um campo de visualização. Sistemas totalmente automáticos requerem que as partículas estejam homogeneamente dispersas e claramente separadas umas das outras, pois o programa analisador de imagem confunde partículas encostadas ou sobrepostas e as conta e mede como se fossem uma única partícula. Nos programas semi-automáticos, ou interativos, o operador pode selecionar ou rejeitar partículas, separar agregados e decidir sobre a escolha de campos de visualização. Muitas possibilidades estão disponíveis no mercado e estas diferem bastante em termos de sofisticação, preço, recursos, modo e velocidade de opera- ção. A análise de imagem oferece outras vantagens sobre a medição manual de partículas (65, 73-76): - vários tipos de medições podem ser feitas em cada partícula simultaneamente; - o procedimento de medição é padronizado; - pode-se retornar a um campo visualizado para verificação; - diversos métodos de cálculo de tamanho de partícula podem ser aplicados simultaneamente; - programas adequados permitem a discriminação de partículas de diferentes morfologias; - os resultados de análise podem ser apresentados no formato final necessário para interpretação dos dados, por exemplo, como histogramas cumulativos de número de partículas por faixa de tamanho. 65 O processo de análise e medição da imagem é composto de seis etapas princi- pais: (1) aquisição da imagem; (2) digitalização da imagem; (3) processamento da imagem; (4) edição da imagem; (5) análise da imagem; (6) tratamento e apresentação de dados. A formação da imagem é uma etapa crucial em análise de imagem. O analisador de imagem pode receber as imagens através de uma câmera de televisão de alta resolução, em interface com um microscópio ótico, ou aceitar imagens digitalizadas vindas de um microscópio eletrônico. Uma imagem pode ser digitalizada a partir de sinais obtidos em tempo real (ao vivo), de uma cópia da imagem original gravada para tratamento posterior ou de uma cópia fotográfica da imagem (fotomicrografia). Uma vez digitalizadas, as imagens podem ser armazenadas para análise e processamento futuro ou para obje- tivo de arquivo. As várias regras de processamento de imagem são aplicadas para produzir uma imagem modificada ou processada que realça algum aspecto da imagem original em relação a outros. Isto funciona como um filtro que seleciona certos tipos de dados da imagem. Dependendo do que é considerado de maior interesse é possível construir uma operação de processamento adequada para destacar tal característica da informação de fundo da imagem, de maneira que a mesma possa ser medida com melhor definição. Após o processamento, muitas vezes é necessário que a imagem seja editada. Nesse momento objetos podem ser selecionados para exame ou eliminados, partí- culas que se tocam podem ser separadas, objetos em particular, bordas, contornos ou alguma outra estrutura definida podem ser corrigidos. Alguns exemplos de edi- ção de imagem são mostrados na figura 4.9. 66 Completa a linha Separa objetos Elimina objetos Preenche buracos Preenche os objetos selecionados Seleciona objetos Seleciona objetos para mediçãoRejeita objetos para medição Elimina todos os objetos Dilata objetos Figura 4.9 Exemplos de recursos de edição de imagem (70) A análise da imagem envolve operações que quantificam algum aspecto da imagem. A análise pode ser executada sob dois pontos de vista diferentes: medi- ções gerais, que se aplicam ao campo de visualização inteiro, como por exemplo a contagem do número de partículas, e aquelas que se aplicam individualmente para cada partícula dentro da imagem, como por exemplo medições de tamanho, forma, posição e brilho. Alguns exemplos de medidas quantitativas são mostrados na Figura 4.10. 69 Figura 4.12 Esquema do quadro de medição do analisador de imagem. Programas de medição automáticos não permitem a interferência do opera- dor nos casos de partículas agrupadas. Os ajustes de foco são feitos antes da aquisi- ção da imagem e as medições são feitas sob o melhor ajuste de foco geral da ima- gem inicial. Já os programas semi-automáticos ou interativos permitem que o ope- rador corrija defeitos de contagem e medição. Quando as medições são realizadas sobre um grande número de objetos de um mesmo tipo, normalmente é necessário algum tipo de tratamento estatístico dos dados, como o cálculo da média, desvio padrão, estabelecimento de relações entre diferentes parâmetros e a determinação da distribuição do número de objetos em função de um parâmetro, como por exemplo o tamanho. Os resultados do tratamen- to estatístico podem ser apresentados na forma de tabelas e gráficos. 4.2.3.1 Preparação da amostra (65 - 67, 73-76) Para compensar todas as vantagens oferecidas, a análise de imagem exige cuidados especiais para o processo de medição em relação à medição de tamanho de partícula feita pelo método manual. A imagem apresentada para análise, deve ser cuidadosamente preparada para reduzir ao mínimo os erros nas medições. Boas técnicas de preparação de amostras são muito mais importantes para esse tipo de trabalho, e maior cuidado deve ser tomado no ajuste dos instrumentos envolvidos na aquisição da imagem, como microscópio, câmara de TV e máquina fotográfica. 70 Todas as vantagens do analisador de imagem não são capazes de compensar as deficiências causadas por técnicas de preparação ruins, ajustes inadequados e microscópios de recursos pobres. Por isso, a qualidade da apresentação da imagem para o sistema deve ser melhor do que aquilo que seria aceitável para a microscopia convencional. 4.3 Análise de tamanho de partícula por difração de luz a laser (77-79) Para a medição do tamanho de partícula pela técnica de difração de luz a la- ser o diâmetro é determinado a partir do volume da partícula. Todas as partículas presentes na amostra são submetidas à medição, já que toda a amostra passa pelo feixe de laser. Como a quantidade de material necessário para a análise é pequena em comparação ao todo pesquisado, cuidados especiais devem ser tomados na a- mostragem. Apesar de existir uma lacuna na aplicação da teoria dos analisadores de par- tículas a laser, já que suas medições são baseadas no conceito de partícula esférica, e a medição de partículas de forma irregular ainda não pode ser rigorosa, isso não reduz o interesse por esses instrumentos para os casos em que a velocidade, repro- dutibilidade e manuseio simples são mais interessantes que a exatidão da medição. Partículas suspensas, geralmente em um meio líquido, são medidas por re- circulação da amostra em frente ao feixe de laser. As partículas passam através do feixe de laser e a difração é obtida para todas as partículas. Portanto, todas as partí- culas presentes na amostra são submetidas ao processo de medição. Os métodos óticos baseados na difração da luz por partículas suspensas em um fluído têm sido muito usados para a análise de tamanho de partícula. A variável utilizada para a medição do tamanho de uma partícula individual, do tamanho mé- dio ou da distribuição de tamanhos é o espalhamento da luz dentro de um certo ângulo do espaço, baseada no fato de que o ângulo de difração é inversamente pro- porcional ao tamanho da partícula. Portanto, partículas grandes espalham a luz a ângulos menores que as partículas pequenas. A eletrônica moderna e a tecnologia dos computadores tornou possível ana- lisar as distribuições de tamanho de partícula mais rápida e reprodutivelmente que os métodos tradicionais utilizados para essa finalidade. 4.3.1 Preparação da amostra (78, 79) A análise de tamanho de partícula a laser exige que a amostra seja preparada de maneira a se obter um estado de dispersão adequado. As partículas devem estar separadas umas das outras, em um meio líquido que envolva completamente cada uma delas, de modo a não haver contato prolongado entre elas. A dispersão adequada pode ser conseguida com o auxílio de agitação mecâ- nica e/ou ultrassom, além da adição de um dispersante. A seleção do dispersante deve considerar a não solubilidade das partículas, compatibilidade química, visco- sidade, densidades relativas, preço e métodos de descarte. 71 5 MODELO DE APLICAÇÃO AMOSTRAS COLETADAS EM AMBIENTE DE TREABALHO C omo exemplo de aplicação para as considerações apresentadas anteriormen- te foram coletadas amostras em um ambiente de trabalho no qual também se estava avaliando a exposição ocupacional à sílica livre cristalizada da maneira tra- dicional para esta finalidade. As amostras foram coletadas de maneira a possibilita- rem um mapeamento completo do ambiente avaliado em termos da distribuição dos tamanhos de partícula presentes nos principais postos de trabalho. 5.1 Descrição do Local de Trabalho (80) O local avaliado foi um laboratório onde se efetuava a classificação de areia de rio, por peneiramento, para utilização na construção civil. A areia era classifica- da segundo a norma brasileira NBR-7214 com as seguintes granulometrias: 0,15; 0,3; 0,6 e 1,2 mm. Para a separação granulométrica eram utilizadas cinco peneiras vibratórias: peneira mestra, peneira #16, peneira #30, peneira #50 e peneira #100. As atividades eram executadas por equipe formada por um encarregado e 7 ajudan- tes. O laboratório estava instalado em um galpão de aproximadamente 15m de largura por 20m de comprimento, com pé direito de 4,5m de altura. O local possuía uma única porta frontal de 10m de largura por 3,5m de altura. As paredes eram construídas de tijolo aparente pintadas de branco. No alto das paredes existiam 74 5.3 Coleta das Amostras A coleta da poeira suspensa no ar do ambiente de trabalho foi realizada utilizando coletores “IOM Inhalable Dust Sampler” (Figura 5.3), contendo filtros de membrana de éster de celulose de 0,8 µm de poro, acoplados a bombas de amos- tragem portáteis com vazão ajustada para 2 λ/min. Figura 5.3 Amostrador de poeira inalável, tipo IOM, marca SKC Foi realizada amostragem ambiental estática com os dispositivos de amos- tragem fixados junto às peneiras, forno e pontos de ensacamento. Esses pontos foram selecionados por serem identificados como fontes geradoras de poeira loca- lizados em áreas de trabalho e circulação dos trabalhadores. Os dispositivos foram distribuídos de maneira a possibilitarem a avaliação de todo o ambiente de traba- lho. O tempo de coleta para cada amostra variou entre 5 e 50 minutos, dependen- do do tempo de duração e da quantidade de poeira gerada em cada uma das opera- ções. As amostras foram coletadas ao longo da jornada de trabalho, acompanhando o processo produtivo durante 4 dias consecutivos, em momentos de intensa geração de poeira e em momentos com geração mais branda de poeira. 5.4 Análise das Amostras As amostras coletadas foram preparadas para análise por microscopia ótica com transparentação dos filtros de membrana de éster de celulose sobre uma lâmina de microscópio usando o método da acetona/triacetina(64). 75 As amostras preparadas foram examinadas ao microscópio para seleção ini- cial. Amostras muito carregadas (com excesso de particulado, partículas aglomeradas e sobrepostas) foram descartadas. As análises foram realizadas com o Microscópio Ótico, marca Leica, modelo DMRXP, acoplado ao Sistema de Análise de Imagem Quantimet-600 (Q-600), instalados no Laboratório de Caracterização Tecnológica - Departamento de Enge- nharia de Minas da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. As imagens foram obtidas usando sistema de polarização em luz transmitida e Nicois cruzados, com aumento de 500X. A calibração linear do analisador de imagens foi realizada utilizando-se uma escala micrométrica padrão, obtendo-se a referên- cia de 1 pixel = 0,31 µm. As medições de tamanho de partícula foram realizadas com imagens “ao vivo”. O diâmetro selecionado para medição foi o Diâmetro de Feret Horizontal. Foram analisadas 20 amostras, medindo-se em média 2000 partículas por amostra, conforme dados da Tabela V.1. Tabela V.1 Número de partículas medidas por amostra analisada PONTO DE AMOSTRAGEM AMOSTRA N° PARTICULAS MEDIDAS P-16/1 2028 Peneira #16 P-16/2 2024 P-16/3 1146 P-30/1 2029 Peneira #30 P-30/2 2029 P-30/3 1339 P-50/1 3017 Peneira #50 P-50/2 3019 P-50/3 2008 Peneira #100 P-100/1 2016 P-100/2 3025 P-M/1 1793 Peneira Mestra P-M/2 2994 P-M/3 2026 F-1 1835 Forno F-2 2007 F-3 1999 E-1 2039 Ensacamento E-2 2010 E-3 2025 76 5.5 Dados de Medição Os dados de medição de tamanho de partícula das amostras coletadas no ambiente de trabalho foram inicialmente classificados em intervalos de classe de igual comprimento linear de diâmetros, para verificação do tipo de distribuição de freqüência. Todas as amostras com os dados assim classificados mostraram ade- rência à distribuição lognormal, demonstrando a possibilidade de tratamento conforme descrito no item 4.1.2 deste livro. Um exemplo desse tratamento é mos- trado através da amostra P-100A, coletada junto à Peneira #100. Os dados de me- dição são apresentados na Tabela V.2 e Figura 5.4. Tabela V.2 Dados de medição de tamanho de partícula da amostra P-100A, cole- tada junto à Peneira #100, obtidos por microscopia ótica associada a sistema de análise de imagem e classificados em intervalos de classe de igual comprimento linear Intervalo de Classe (µm) No. de Partículas Observado Frequência em número (%) <0,50 152 7,54% 0,5 - 1,5 840 41,67% 1,5 - 2,5 494 24,50% 2,5 - 3,5 218 10,81% 3,5 - 4,5 114 5,65% 4,5 - 5,5 57 2,83% 5,5 - 6,5 41 2,03% 6,5 - 7,5 31 1,54% 7,5 - 8,5 16 0,79% 8,5 - 9,5 13 0,64% 9,5 - 10,5 6 0,30% 10,5 - 11,5 7 0,35% 11,5 - 12,5 6 0,30% 12,5 - 13,5 4 0,20% 13,5 - 14,5 2 0,10% 14,5 - 15,5 3 0,15% 15,5 - 16,5 2 0,10% 16,5 - 17,5 5 0,25% 17,5 - 18,5 1 0,05% 18,5 - 19,5 1 0,05% 19,5 - 20,5 1 0,05% > 20,5 2 0,10% TOTAL 2016 100,00% 79 Os valores de média geométrica e desvio-padrão geométrico dos diâmetros da distribuição foram obtidos diretamente do gráfico de distribuição da freqüência acumulada construído em escala de log-probabilidade para cada uma das amostras, conforme a equação 02 e exemplificado através da Figura 5.6. sg = 84,1% dos tamanhos (equação 02) 50% dos tamanhos Fr eq uê nc ia a cu m ul ad a ab ai xo (% ) Diâmetro da partícula (µm) 0.1 1 10 50 99.9 99.8 99.5 99 98 95 90 80 70 60 50 40 30 20 10 5 2 1 0.5 0.2 0.1 . . . . . . . . . . . . Desvio-padrão geométrico = 2,3 Média geométrica = 1,5 Figura 5.6 Curva de distribuição de freqüência acumulada dos dados de medição de tamanho de partícula da amostra P-100A coletada junto à Peneira #100, construída a partir dos dados da tabela V.3, em escala de log-probabilidade. 80 As 20 amostras coletadas junto aos principais postos de trabalho do local a- valiado foram tratadas da mesma maneira exemplificada através da amostra P-100A. Os valores da média geométrica e do desvio padrão geométrico dos diâ- metros da distribuição, apresentados na tabela V.4, foram obtidos à partir dos grá- ficos de distribuição de freqüência acumulada, construídos em escala de log- probabilidade, de maneira semelhante à utilizada na Figuras 5.6. Tabela V.4: Parâmetros característicos das distribuições de tamanho de partícula para as amostras coletadas no local avaliado, obtidos à partir do grá- fico de distribuição da freqüência acumulada construído em escala de log-probabilidade. Ponto de Amostragem Amostra Média Geométrica Desvio padrão geométrico PENEIRA 16 P-16 / A 2,2 2,5 P-16 / B 2,0 2,3 P-16 / C 1,8 2,5 PENEIRA 30 P-30 / A 2,1 2,7 P-30 / B 2,4 2,6 P-30 / C 2,5 2,7 PENEIRA 50 P-50 / A 2,0 2,5 P-50 / B 2,1 2,7 P-50 / C 2,6 2,7 PENEIRA 100 P-100 / A 1,5 2,3 P-100 / B 2,0 2,5 PENEIRA P-M / A 2,1 2,7 MESTRA P-M / B 2,0 2,7 P-M / C 1,9 2,8 FORNO F / A 2,5 2,0 F / B 2,3 2,7 ENSACAMENTO E / A 1,9 2,4 E / B 2,0 2,5 81 A observação da Tabela V.4 mostra que as partículas se distribuíam homo- geneamente no ambiente de trabalho avaliado. De maneira geral, as amostras apre- sentam média geométrica e desvio padrão geométrico muito próximos. Esses parâmetros indicam que as partículas presentes nos principais postos de tra- balho desse ambiente provavelmente obedecem à mesma distribuição lognormal. Supondo que todas as partículas analisadas pertenciam a uma mesma distri- buição lognormal , o número total de partículas observado em cada classe de tama- nho foi somado e reunido na Tabela V.5 para representar a distribuição global de tamanhos de partícula no ambiente avaliado. Tabela V.5 Dados globais de medição de tamanho de partícula no laboratório de classificação de areia, obtidos por microscopia ótica e sistema de aná- lise de imagem Q-600 Intervalo Diâm.médio Número de Partículas Freqüência Freqüência de Classe (µm) da classe (µm) por classe por classe (%) acumulada (%) 0,49 0,49 2732 6,4 6,4 0,5 - 0,7 0,60 2757 6,5 12,9 0,7 - 1,0 0,90 4789 11,3 24,2 1,0 - 1,4 1,20 5752 13,5 37,7 1,4 - 2,0 1,70 6170 14,5 52,3 2,0 - 2,8 2,40 5916 13,9 66,2 2,8 - 4,0 3,40 5043 11,9 78,1 4,0 - 5,6 4,80 3614 8,5 86,6 5,6 - 8,0 6,80 2571 6,1 92,6 8,0 - 11,3 9,65 1530 3,6 96,3 11,3 - 16,0 13,65 908 2,1 98,4 16,0 - 22,6 19,30 452 1,1 99,5 22,6 - 32,0 27,30 175 0,4 99,9 32,0 - 45,2 38,60 52 0,1 100,0 45,2 - 64,0 54,60 5 0,0 100,0 TOTAL - 42466 100,0 - 84 5.6 Confirmação do resultado obtido Sabendo que a técnica de microscopia ótica pode apresentar deficiências pa- ra medição de tamanho de partícula presentes no início da faixa de interesse para a avaliação de aerodispersóides, ou seja, para partículas menores que 0,8 µm foi realizada a análise de uma amostra-teste utilizando analisador de partículas a laser. A amostra-teste foi coletada de uma superfície plana localizada próxima à área das peneiras classificadoras, mas em local elevado e livre de deslocamento causado pela circulação dos trabalhadores. O local foi selecionado de modo a per- mitir que a poeira suspensa no ar pudesse se depositar e ser recolhida para análise. Os resultados dessa análise são mostrados na Tabela V.7. Tabela V.7 Dados de medição de tamanho de partícula para a amostra-teste cole- tada próximo às peneiras classificadoras, obtidos com o Analisador de Partículas à Laser, marca Sympatec Intervalo de Classe (µm) Diâm.médio da classe (µm) Freqüência Por classe (%) Freqüência acumulada abaixo (%) < 0,18 0,14 0,04 0,04 0,18 - 0,22 0,20 0,01 0,05 0,22 - 0,26 0,24 0,01 0,06 0,26 - 0,30 0,28 0,01 0,06 0,30 - 0,36 0,33 0,02 0,08 0,36 - 0,44 0,40 0,04 0,11 0,44 - 0,52 0,48 0,06 0,17 0,52 - 0,62 0,57 0,11 0,29 0,62 - 0,74 0,68 0,20 0,49 0,74 - 0,86 0,80 0,26 0,75 0,86 - 1,00 0,93 0,37 1,12 1,00 - 1,20 1,10 0,57 1,69 1,20 - 1,50 1,35 0,84 2,53 1,50 - 1,80 1,65 0,70 3,23 1,80 - 2,10 1,95 0,51 3,73 2,10 - 2,50 2,30 0,46 4,20 2,50 - 3,00 2,75 0,45 4,65 3,00 - 3,60 3,30 0,56 5,21 3,60 - 4,20 3,90 0,58 5,79 4,20 - 5,00 4,60 0,73 6,52 5,00 - 6,00 5,50 0,87 7,39 6,00 - 7,20 6,60 1,16 8,55 7,20 - 8,60 7,90 1,76 10,31 8,60 - 10,20 9,40 2,75 13,05 10,20 - 12,20 11,20 4,63 17,69 12,20 - 14,60 13,40 7,25 24,94 14,60 - 17,40 16,00 10,57 35,50 17,40 - 20,60 19,00 14,22 49,72 20,60 - 24,60 22,60 18,95 68,67 24,60 - 29,40 27,00 19,74 88,40 29,40 - 35,00 32,20 11,60 100,00 85 Como os dados de massa e volume são proporcionais com relação à densi- dade, as porcentagens de massa acumulada são as mesmas porcentagens de freqüência acumulada em volume mostradas na Tabela V.7 e o diâmetro médio mássico de 19 µm pode ser lido diretamente no gráfico de porcentagem acumulada em massa, mostrado na Figura 5.9. O resultado obtido pelo analisador de partícu- las a laser confirmou os resultados obtidos por microscopia ótica. Portanto esses dados puderam ser aproveitados para a avaliação do laboratório de classificação de areia, nessa faixa de aplicação. Diâmetro médio no intervalo de classe (µm) % M as sa a cu m ul ad a ab ai xo 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 10 20 30 40 : Poeira Respirável : Poeira Torácica : Poeira Inalável < 10 µm < 25 µm ...< 100 µm Figura 5.9 Gráfico de porcentagem acumulada em massa para os dados de medi- ção de tamanho de partícula da amostra-teste, coletada junto às penei- ras classificadoras Os dados de medição de tamanho de partícula obtidos por microscopia ótica e confirmados pelo analisador de partículas à laser indicaram que 70 a 80%, em mas- sa, das partículas medidas no laboratório de classificação de areia estão na faixa torácica (partículas < 25 µm) e que destas, apenas 10 a 15%, em massa, estão na faixa respirável (partículas < 10 µm). Essas informações mostram que o principal risco para os trabalhadores desse local está relacionado a doenças pulmonares de uma forma geral, sendo a silicose uma dessas doenças. 86 5.7 Comparação dos resultados de medição de tamanho de partícula com os resultados de concentração em massa obtidos durante avaliação ambiental Durante o período em que foram coletadas amostras para determinação de ta- manho de partícula, também foram coletadas amostras para determinação da con- centração em massa de sílica livre cristalizada no mesmo local(80). Para esse tipo de determinação foi realizada a coleta das partículas respiráveis utilizando dispositi- vos amostradores acoplados a ciclones de nylon tradicionais. Esse tipo de coleta serve para avaliar principalmente o risco de silicose. De 48 amostras coletadas especificamente para determinação da concentração de sílica livre cristalizada na faixa respirável(44,45,80) somente 36 amostras possuiam massa suficiente para aplicação da metodologia utilizada para análise de sílica por difração de raios-x. Dentre as amostras analisadas 17 apresentaram concentrações abaixo do limite de tolerância proposto pela legislação brasileira, não chegando a ultrapassar nem mesmo o nível de ação. Apenas 4 amostras apresentaram concentrações superiores ao limite de tolerância e outras 15 amostras ultrapassaram o nível de ação. 48 amostras coletadas 36 amostras analisadas por DRX 17 amostras < LT 4 amostras > LT 15 amostras > NA Sendo: LT = limite de tolerância e NA = nível de ação, onde NA = ½ LT Em um ambiente onde a matéria-prima manipulada é composta exclusiva- mente por areia com mais de 95% de quartzo era de se esperar que fossem obtidas concentrações elevadas de sílica livre cristalizada. Esse resultado pode ser melhor compreendido quando se observa a distribui- ção de tamanho de partícula do ambiente, conforme Figuras 5.8 e 5.9. Nesse ambiente, a coleta somente da fração respirável(81), comum para avali- ação da exposição ocupacional à sílica livre cristalizada, deixou de fora a principal fração de particulado nocivo à saúde do trabalhador, tornando a avaliação ambien- tal incompleta. 89 viável. 7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS • Desenvolvimento de metodologia de amostragem para coleta de poeira suspensa no ar, em quantidade suficiente para a medição de tamanho de partícula, utilizando o Analisador de Partículas por Difração de Luz a La- ser. • Estudo de medição de tamanho de partícula, em amostras ambientais de poeira, utilizando outros tipos de observação com microscopia ótica: mi- croscopia de campo escuro, microscopia com contraste de fase e microsco- pia com contraste de interferência. • Investigação das características de exposição ocupacional à poeira, relacionadas a ramos de atividade específicos, aplicando a técnica de medição de tamanho de partícula mais • Atualização da legislação brasileira relativa aos limites de exposição para poeiras minerais. 91 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. WILLEKE, K., BARON, P. A. Aerosol Measurement - Principles, Tech- niques and Applications. Van Nostrand Reinhold, New York, 1993. 2. SOTO, J. M. G. et al. Riscos Químicos. Fundacentro, São Paulo, 1991. 3. MURPHY, C.H. Handbook of Particles Sampling and Analysis Methods. Verlag Chemie International, Flórida, 1984. 4. FUNDACIÓN MAPFRE. Manual de Higiene Industrial. Editorial MAPFRE, Espanha, 1991. 5. OIT. Polvo, Efectos Biológicos. Enciclopedia de Salud y Seguridad en el Tra- bajo, p. 1892-1897, 1989. 6. BRAIN, J. D., VALBERG, P. A. Deposition of Aerosol in the Respiratory Tract. American Review of Respiratory Disease, Vol. 120, 1979. 7. LIDÉN, G. Performance Parameters for Assessing the Acceptability of Aerosol Sampling Equipment. Analyst, Vol. 119, 1994. 8. NIOSH. The Pulmonary Effects of Inhaled Inorganic Dust. Patty’s Industrial Hygiene and Toxicology, Vol. 1, Cap. 7, 1978. 9. NIOSH. Occupational Respiratory Diseases. U.S. Department of Health Hu- man Services. Public Health Service Centers for Disease Control, 1992. 94 38. GIBSON, H., VINCENT, J. H., MARK, D. A Personal Inspirable Aerosol Spectrometer for Applications in Occupational Hygiene Research. Ann. Occup. Hyg., Vol. 31, n° 4A, p. 463-479, 1987. 39. CARLSON, K. H. et col. A Comparison of Two Dustiness Evaluation Meth- ods. Am. Ind. Hyg. Assoc. J., Vol.53, p. 448-454, 1992. 40. LIDÉN, G., KENNY, L.C. Errors in Inhalable Dust Sampling for Particles Exceeding 100 µm. Ann. Occup. Hyg., Vol. 38, n° 4, p. 373-384, 1994. 41. AITKEN, R. J., DONALDSON, R. Large Particle and Wall Deposition Ef- fects in Inhalable Samplers. HSE Contract Reserch Report N° 117/1996. Institute of Occupational Medicine, Edinburg, 1996. 42. NIOSH. Occupational Exposure Sampling Strategy Manual. U.S. Depart- ment of Health, Education and Welfare. Public Health Service Centers for Disease Control, Cincinnati, 1977. 43. NIOSH. NIOSH Manual of Analytical Methods. 4th edition, U.S. Department of Health and Human Services, Public Health Service Centers for Disease Control and Prevention, Cincinati, 1994. 44. SANTOS, A. M. A. Determinação Gravimétrica de Aerodispersóides. Revis- ta Brasileira de Saúde Ocupacional, n° 66, vol. 17, p. 20-25, 1989. 45. SANTOS, A. M. A. Determinação Quantitativa de Sílica Livre Cristalizada por Difração de Raios X. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, n° 65, vol. 17, p. 55-59, 1989. 46. GRIFFITHS, W. D. The Shape Selective Sampling of Fibrous Aerosols. J. Aerosol Sci., Vol. 19, p. 703-713, 1988. 47. BHASKAR, R., LI, J., XU, L. A Comparative Study of Particle Size De- pendency of IR and XRD Methods for Quartz Analysis. Am. Ind. Hyg. Assoc. J., Vol.55, p. 605-609, 1994. 48. WIECEK, E. The X-Ray Investigation of the Size of Crystallites in Quartz Dusts of Various Fibrogenic Properties. Medycyna Pracy, Vol. 23, p. 81- 89, 1982. 49. ARCURI, A. S. A., CARDOSO, L. M. N. Limites de Tolerância? Revista Brasileira de Saúde Ocupacional n° 74, Vol. 19, Fundacentro, São Paulo, 1991. 50. THOMAS, H. F. Some Observations on Occupational Hygiene Standards. Ann. Occup. Hyg., Vol. 22, p. 389-397, 1981. 51. HENSCHLER, D. Exposure Limits: History, Philosophy, Future Develop- ments. Ann. Occup. Hyg., Vol. 28, n° 1, p. 79-92, 1984. 95 52. IARC. Silica and Some Silicates, Coal Dust and Para-aramid Fibrils. IARC Monographs on the Evaluation of the Carcinogenic Risk of Chemicals to Humans, International Agengy for Research on Cancer, Vol 48, Lyon, France, 1997. 53. OIT. Polvo, Control Industrial. Enciclopedia de Salud y Seguridad en el Tra- bajo, p. 1888-1892, 1989. 54. GOELZER B. I. F. Apostila Introdução à Tecnologia de Controle em Saúde Ocupacional. Higienista do Trabalho da Organizaçao Mundial da Saúde. 55. GREENOUGH, G. K. Industrial Dust Control - The Problems and Some Suggestions for Improvement. Ann. Occup. Hyg., Vol. 32, n° 1, p. 45-57, 1988. 56. JACOBSON M. et col. Dust Measurement and Control. Coal Worker’s pneumoconiosis, Vol. 200, Annals of the New York Academy of Sciences, N.Y., 1972. 57. TORLONI, M. e col. Programa de Proteção Respiratória - Recomendações, Seleção e Uso de Respiradores. Fundacentro, São Paulo, 1995. 58. SILVERMAN, L., BILLINS, C. E., FIRST, M. W. Particle Size Analysis in Industrial Hygiene. American Industrial Hygiene Association and U.S. Atomic Energy Commission (Division of Technical Information). Academic Press Inc., New York, 1971. 59. STOCKHAM, J. D., FOCHTMAN, E. G. Particle Size Analysis. Ann Arbor Science Publishers Inc., Michigan, 1979. 60. ALLEN, T. Particle Size Measurement - Powder Sampling and Particle Size Measurement. Volume I, 5th edition, Chapman & Hall, London, 1997. 61. BS 3406 (1993). Methods for Determination of Particle Size Distribution. Part 4: Guide to Microscope and Image Analysis Methods. British Stan- dard, 1993. 62. MCCRONE, W. C., DELLY, J. G. The Particle Atlas, Volume I - Principles and Techniques. Ann Arbor Science Publishers Inc., Michigan, 1973. 63. ROOKER, S. J. On the Visibility of Fibres by Phase Contrast Microscopy. Am. Ind. Hyg. assoc. J., Vol. 43, n.7, p. 505-515, 1982. 64. ISO. ISO 8672 - Air Quality - Determination of the Number Concentration of Airborne Inorganic Fibres by Phase Contrast Pptical Microscopy - Membrane Filter Method. Geneva, Switzerland, 1993. 65. VICKERS INSTRUMENTS INC. Automatic Detection and Counting of As- bestos Fibers. Am. Ind. Hyg. Assoc. J., Vol. 40, p. A-50 a A-53, 1979. 96 66. LE GUEN, J. M. M., GALVIN, S. Cleating and Mounting Techniques for the Evaluation of Asbestos Fibres by the Membrane Filter Method. Ann. Occup. Hyg., Vol. 24, n° 3, p. 273-280, 1981. 67. BURDETT, G. J. et al. Mass Concentrations of Airborne Asbestos in the Non-occupational Environment - A Preliminary Report of U.K. Meas- urements. Ann. Occup.Hyg., Vol. 28, n° 1, p. 31-38, 1984. 68. GOLDSTEIN, J.I. et al. Scanning Electron Microscopy and X-Ray Micro- analysis. Plenum Press, New York, USA,1992. 69. IMAGE-PRO. The Proven Solution for Image Analysis. Image-Pro Plus Version 1.3 for Windows. Reference Guide. Media Cybernetics, USA, 1995. 70. Russ, J. C. Computer-Assisted Microscopy: The Measurement and Analysis of Images. Plenum Press, New York, USA, 1992. 71. Inoué, S. Video Microscopy. Plenum Press, New York, USA, 1989. 72. ALLEN, T. Particle Size Measurement. 4th edition, Chapman & Hall, Lon- don, 1990. 73. KENNY, L. C., ROOD, A. P. Particle Size Analysis by Automated Optical Microscopy. Health and Safety Executive, London, 1984. 74. KENNY, L.C. Automated Focusing of an Optical Microscope. Journal of Microscopy, Vol 132, n° 1, p. 97-107, 1983. 75. KENNY, L .C. Asbestos Fibre Counting by Image Analysis - The Perform- ance of the Manchester Asbestos Program on Magiscan. Ann. Occup. Hyg., Vol. 28, n° 4, p. 401-415, 1984. 76. KENNY, L. C. Automated Analysis of Asbestos Clearance Samples. Ann. Occup.Hyg., Vol. 32, n° 1, p. 115-128, 1988. 77. SYMPATEC GmbH. Manual de Operações. Alemanha, 1985. 78. GRIFFITHS, D. Palestra técnica: Análise de Tamanho de Partículas através da Técnica de Espalhamento de Luz à Laser. Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, São Paulo, 1997. 79. RAWLE, A. The Basic Principles of Particle Size Analysis. Malvern Instru- ments Ltd., Spring Lane South, Malvern, UK 80. SANTOS, A.M.A., BON, A..M.T., AMARAL, N.C. Avaliação Ambiental de Sílica Livre Cristalizada Realizada no Laboratório de Classificação de Areia do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S/A - IPT. Relatório Técnico RT/02, Fundacentro, São Paulo, 1998. 81. ALTREE-WILLIAMS, S. at al. Reference Material for the Quantitation of α-Quartz in Respirable Dust by X-Ray Diffraction. Ann. Occup.Hyg., Vol. 24, n° 4, p. 347-356, 1981.