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Ludke e Marli
Menga Lúdke e Marli E. D. A. André
BÊ Temas Básicos de Educação e Ensino
Ade | cbu.
Capítulo 1
Evolução da pesquisa em Educação
A palavra pesquisa ganhou ultimamente uma popularização que
chega por vezes a comprometer seu verdadeiro sentido. Pode-se notar
esse fenômeno em várias instâncias da vida social. Na esfera do
comportamento político, por exemplo, observa-se um verdadeiro surto
de “pesquisas”, que procuram revelar especialmente as tendências
eleitorais de determinados grupos sociais, não sem correr o risco (por
vezes intencional) de dirigir essas tendências, como já foi revelado em
estudos sociológicos (Thiollent, 1980). Trata-se, pois, de uma concep-
ção de pesquisa bastante estreita. Também no âmbito de ensino de
nível elementar e médio, tem-se usado e abusado do tema. de maneira
a comprometê-lo, quem sabe, para sempre na compreensão dos estu-
dantes. A professora pede para os alunos “pesquisarem”” determinado
assunto e q que eles fazem, em geral, é consultar algumas ou apenas
uma obra, do tipo enciclopédia, onde coletam as informações para a
“pesquisa”, Às vezes são recortados jornais e revistas, em busca de
elementos para compor o produto final, a “pesquisa” a ser apresenta-
da ao professor. Ora, esse tipo de atividade, embora possa contribuir
para despertar a curiosidade ativa da criança e do adolescente, não
chega a representar verdadeiramente o conceito de pesquisa, não
passando provavelmente de uma atividade de consulta, importante,
sem dúvida, para a aprendizagem, mas não esgotando o sentido do
termo pesquisa.
Para se realizar uma pesquisa é preciso promover o confronto entre
os dados, as evidências, as informações coletadas sobre determinado
assunto € O conhecimento teórico acumulado a respeito dele. Em geral
crevemos, corresponde mais ou menos ao que se convencionou cha-
mar de paradigma positivista. Paradigma por indicar uma espécie de
modelo, de esquema, de maneira de ver as coisas e de explicar o
mundo. Positivisia por ter su» vrigem remota no filósofo francês
Augusto Comte, que, no início do século passado, lançou as bases de
uma sociologia positivista, para a qual o método de estudo dos fenôme-
nos sociais deveria aproximar-se daquele utilizado pelas ciências
físicas e naturais.*
Não cabe aqui u: fundamento da discussão sobre esse modelo,
que descrevemos brevemente. Nossa descrição é suficiente para ingi-
ear q tipo de pesquisa que vinha sendo desenvolvida predominante-
mente em educação. Nos ditimos anos, talvez na última década,
começaram a aparecer cntre os pesquisadores sinais de insatisfação
crescente em relação aos métodos empregados por aquele tipo de
nvestigação. Eles não estavam levando a resultados que ajudassem a
lescobrir soluções para os problemas prementes, que se acumulam na
área da educação, especialmente em nosso País.
Esse sentimento de insatisfação em relação aos resultados da pes-
quisa educacional, tl como tradicionalmente vinha sendo realizada,
não se registrou apenas entre pesquisadores brasileiros. Até mesmo
nos Estados Unidos, país onde a pesquisa em educação se encontra
bastante desenvolvida, pode-se observar em tempos recentes senti-
mento semelhante, mesmo satre pesquisadores que trabalharam por
waitos anos dentro daquela perspectiva **
Seria preciso buscar novas formas de trabalho em pesquisa, que
partissem de outros pressupostos, que rompessem com o antigo para-
digma e sobretudo que se adaptassem melhor ao objeto de estudo
considerado importants pelos pesquisadores em educação. Os estudos
do tipo levantamento, ou survey, como dizem os americanos, tá
prestaram e continuarão a prestar grandes serviços à pesquisa eduça-
cional, mas se limitam a oferecer uma visão geral e instantânea de um
determinado assunto, como se uma máguina fotográfica o tivesse
registrado em determinado momento. Eles não oferecem a possibilida-
de de penetração além dessa fotografia instantânea e tampouco permi-
tem uma averiguação das diferenças que grupos € indivíduos necessa-
tiamente apresentam dentro de conjuntos maiores, Ao contrário, pro-
curam obter um resultado médio, que reúna (e anule!) as diferenças
porventura existentes, Insistimos que esse tipo de estudo tem e terá
*Para uma explicação crítica sobre o positivismo e sua influência, veja-se o livro de Joha
Fiughes, A Filosofiu da Pesquisa Social. Rio de Janeiro, Zabar, 1983,
*tVer a respeito o artigo de Menga Lidke, “Novos enfoques da pesquisa em didática”,
no livro 4 Didútica em Questão, Vera Maria Candau (org). Petrópolis, Vozes, 1984.
6
sempre validade para certos tipos de problemas. Por exemplo, se
quisermos estudar o problema da evasão e da repetência no 1º grau a
nível estadual, não há melhor meio de se conseguir uma visão geral do
problema do que efetuando um levantamento junto aos estabelecimen-
tos da rede escolar. Porém, se quisermos saber o que se passa dentro
da sala de aula, que acaba contribuindo para aumentar a evasão e a
repeiência, não é exatamente q levantamento que irá nos ajudar, mas
um outro tipo de estudo, que permita compreender a trama intrincada
do que ocorre nums situação microssocial.
Da mesma forma o chamado design (delineamento) experimental
tem prestado e prestará bons serviços à pesquisa em educação quando
ela quiser destacar e colocar em foco as relações entre algumas
variáveis já previamente selecionadas, com base em evidências ante-
riores. Nesse caso é de grande importância o papel das hipóteses,
formuladas exatamente sobre as esperadas relações entre as variáveis.
Mas o esquema experimental supõe, como se vê, uma antecipação,
uma previsão de relações nem sempre possível dentro da realidade
fluida e de causalidade múltipla e recíproca que domina o mundo das
variáveis do campo educacional. Fazendo uma avaliação crítica da
abordagem de tipo experimental, que ele chama de ideologia instru-
mental, RH. Giroux observa que ela deveria ser encarada não apenas
pelos “princípios que governam as questões que propõe mas também
pelos temas que ignora e pelas questões que não propõe” (Giroux,
1983, p. 63).
Justamente para responder às questões propostas pelos atuais desa-
fios da pesquisa educacional, começaram a surgir métodos de investi-
gação e abordagens diferentes daqueles empregados tradicionalmente.
As questões novas vinham, por um lado, de uma curiosidade investiga-
tiva despertada por problemas revelados pela prática educacional. Por
outro iado, elas foram fortemente influenciadas por uma nova atitude
de pesquisa, que coloca o pesquisador no meio da cena investigada,
participando dela e tomando partido na trama da peça. É preciso saber
de que lado estamos, lembra-nos Rubem Alves (Alves, 1984).
Foram aparecendo então novas propostas de abordagens, com
soluções metodológicas diferentes, na tentativa de superar pelo menos
algurnas das limitações sentidas na pesquisa até então realizada em
educação. Assim surgiram a pesquisa participante, qu participativa, ou
ainda emanciparória, a pesquisa-ação, a pesquisa etnográfica ou naiu
ralística, o estudo de caso. Sobre a pesquisa participativa ou partici-
panie já existe alguma literatura disponível entre nós, representada
principalmente por dois livros organizados por Carlos R. Brandão
(198! e 1984) e um escrito por Pedro Demo (1984), além de vários
artigos em publicações periódicas, Sobre a pesquisa-ação acabam de
7
na ds Thiollent (1085) e a vraduçã
publicado na Frença em 1977 (Barbie
& € estudo de caso há alguns artigos
adução de dois trabalhos de Robert
vro que reúna essas aba gens de
umenio de trabalho pura futuros pesquisadores,
“mações a respeito dos princípio
as com as quais slas t E
ctendemos fazer neste livro.
sbre 2 abordagem sinográfic:
ti André (1978, 1984)
a
58 enconira um.
es problemas é
ente e)
mente dominante prescupação
uam as raízes dos problemas, qu
reperenicm rtan 5 OUÍTOS aspectos da educação em
nosso Pais. ETR a deve atacar mais frontalmente,
pro do prestar que sempre deveu à educação,
E encorajador º depoimento feito por Guiomar Namo de Medio,
validado duplamente pela sua condição de pesquisadora, autora de
obras de grande importância” e agora também administradora de um
grande sistema de educação, a rede municipal de ensino da cidade de
São Paulo. Ela registra, e ?
m publicação recente (Mello, 1985, p
2 peaquisa passa mais voliada para a apreensão do fu
is esperamos contribuir pa: a pesquisa em educação
vez mais suficiemies para pensarmos as sojuçãe
2 os problemas, esp mente os do 1º gray, Tive-
3 de organizar, há dois anos, um simpósio sobre a contribui
a pesquisa qualitativa pera o estudo da escola fundamental +”
eiendemos, com este livro, colaborar com um número maior
5 un se preparar para trabalhar com os
pecificos do dia-a-dia escolar.
especialmente seu livro Mapisiório de 1º Gras: da Competência Técnica 40
Compromisso Política, São Paulo, Cortez, 1982, um dos mais importantes trabalhos de
pesquisa em sducação publicados nos últimos anos.
** Apresentado no Lis:
Reio Horizonte, ou
1984.)
minério Regional de Pesquisa em Educação da Região Sudeste,
83. (Publicado depois em Cademos de Pesquisa, nº 48, maio.
8
Esses problemas, pela suz natureza específica, req
de estudo também especialmente adequadas. Zm lugar dos questioná-
rios aplicados a grandes amostras, ou dos coeficientes de correlação,
típicos das análises experimentais, são utilizadas mais freguentemente
neste novo tipo de estudo a observação pariicipante. que colz O
nesquisador à realidade estudada; a entrevista, que permite um maior
rofundamento das informações obtidas; é 2 análise documental, que
complementa os dados obtidos através da observação e da entrevista e
e aponta novos aspectos da realidade pesquisada, De qualquer
maneira, utilizando técnicas mais tradicionais ou mais recentes, o rigor
do trabalho científico deve continuar a ser o mesmo. Sem exageros que
imobilizem o seu trabalho, em vez de estimulá-lo, 0 pesquisador deve
estar sempre atento à acuidade e veracidade das informações que vai
obtendo, ou melhor, construindo. Que ele coloque nessa construção
toda a sua inteligência, habilidade técnica e uma dose de paixão para
temperar (e manter a têmpera). Mas que cergus o seu trabalho com o
maior cuidado e exigência, merecer E confiança dos que necessi-
m dos seus resultados. Falaremos sobre o modo de fazer isso nos
próximos capítulos e apresentaremos ao final alguns exemplos de
quem já o fez.
ias bibliográficas
5, R. Conversas com Quem Gesta de Ensinar. 7 cd, São Paulo, Cortez, 1984
ANDRÉ, M.5.D.A. A abordagem etnográfica: unia nova perspectiva na avaliação edu-
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Paulo, Ed, Polis, 1980. Pas Operária, São
Metodologia da Pesquisa — Ação, São Paulo, Cortez, 1985.
16
Capítulo 2
Abordagens qualitativas de pesquisa: à
vesquiso etnográfica e o estudo de caso
É cada vez mais evidente o interesse que os pesquisadores da área
de educação vêm demonstrando pelo uso das metodologias qualitati-
vas. Apesar da crescente popularidade dessas metodologias, ainda
parecem existir muitas dúvidas sobre o que realmente caracteriza uma
esquisa qualitativa, quando é ou não adequado utilizá-la e como se
coloca a questão do rigor científico nesse tipo de investigação. Outro
aspecto que também parece gerar ainda muita confusão é » uso de
termos como pesquisa qualitativa, etnográfica, naturalística, partici-
pante, estudo de caso e estudo de campo, muitas vezes empregados
indevidamente como eguivalentes.
Em seu livro 4 Pesquisa Qualitativo em Educação, Rogdan e Billen
(1982) discutem o conceito de pesquisa qualitativa apresentando cinco
características básicas que configurariam esse tipo de estudo:
i. A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte
direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento.
Segundo os dois autores, a pesquisa qualitativa supõe o contato direto
e prolongado do pesquisador com o ambiente e a siruação que está
sendo investigada, via de regra através do trabalho intensivo de
campo. Por exemplo, se a questão que está sendo estudada é à da
indisciplina escolar, o pesguisador procurará presenciar o maior núme-
ro de situações em que esta se manifeste, O que vai exigir um contato
direto e constante com o dia-a-dia escolar.
Como os problemas são estudados no ambiente em que eles ocorrem
naturalmente, sem qualquer manipulação intencional do pesquisador,
nu
Alguns autores acreditam que tudo estudo de caso é qualitativo. O
estudo qualitativo, como já foi visto. é o que se desenvolve numa
situação natural, é rico em dados descritivos, tem um plano aberto e
flexível e focaliza a realidade de forma complexa e contextualizada.
Nem todos os estudos de caso são, portanto, qualitativos. Os estudos
de casos clínicos, de serviço social, de direito, os casos médicos e as
biografias não são necessariamente qualitativos. Em educação, muitos
estudos de caso são qualitativos e muitos não.
Vamos tratar aqui especificamente dos estudos de casos qualitativos
ou “naturalísticos”. Falaremos de suas principais características, do
seu processo de desenvolvimento e enfocaremos alguns problemas
práticos na sua realização.
2.2.1. Características fundamentais do estudo de caso
As caracteristicas ou princípios frequentemente associados ao estu-
do de caso “'naturalístico”' se superpõem às características gerais da
pesquisa qualitativa anteriormente descritas, Entre estas destacam-se:
1, Os estudos de caso visam à descoberta. Mesmo que o investiga-
dor parta de alguns pressupostos teóricos iniciais, ele procurará se
manter constantemente atento a novos elementos que podem emergir
como importantes durante o estudo. O quadro teórico inicial servirá
assim de esqueleto, de estrutura básica & partir da qual novos aspectos
poderão ser dersctados, novos elementos ou dimensões poderão ser
acrescentados, na medida em que o estudo avance.
No seu estudo sobre as práticas de alfabetização de uma escola
pública, Salim (1984) identificou dois aspectos que se mostraram
relevantes para melhor compreender o processo de alfabetização: a
ajuda individual da professora às crianças com dificuldades de apren-
dizagem e o espaço de liberdads de que ela dispõe para desenvolver o
seu trabalho de sala, Esses aspectos não emergiram senão no desenro-
lar da pesquisa,
Essa característica se fundamenta no pressuposto de que o conheci-
mento não é algo acabado, mas uma construção que se faz e refaz
constantemente. Assim sendo, o pesquisador estará sempre buscando
novas respostas e novas indagações no desenvolvimento do seu tra-
balho.
2. Os estudos de cuso enfatizam q “interpretação em contexto”, Um
princípio básico desse tipo de estudo é que, para uma apreeensão mais
completa do objeto, é preciso levar em conta o contexto em que ele se
situa, Assim, para compreender melhor a manifestação geral de um
problema, as ações. as percepções, os comportamentos e as interações
:8
das pessoas devem ser relacionadas à situação específica onde ocor-
zem ou à problemática determinada a que estão ligadas. Na pesquisa
de Penin (1983), por exemplo, que focalizou uma escola pública da
periferia ds São Paulo, a análise é feita em função das características
específicas da região em que se localiza a escola, levando também em
sonia a história da escola e a sua situação geral no momento da
pesquisa: recursos materiais e humanos, estrutura física & administrati-
va etc. À autora mostra claramente como esses vários fatores ajuda-
ram a explicar a ação pedagógica desenvolvida naquela escola.
3, Os estudos de caso buscam retratar a realidade de forma comple-
tu e profunda. O pesquisador procura revelar a multiplicidade de
dimensões presentes numa determinada situação ou problema, focali-
zando-o como um todo. Esse tipo de abordagem enfatiza a complexi-
dade natural das situações, evidenciando a inter-relação dos seus
componentes. Por exemplo, ao estudar o preçesso de formação de
professores numa escola Normal, Lelis (1283) focalizou a dinâmica de
sala de aula, os conteúdos das várias disciplinas do currículo, a atuação
da equipe técnica da escola, as características dos alunos e como esses
vários elementos interagiam para configurar as práticas de formação
de professores.
4. Os estudos de caso usam uma variedade de fontes de informação.
Ao desenvolver o estudo de caso, o pesquisador recorre a uma
variedade de dados, coletados em diferentes momentos, em situações
variadas e com uma variedade de tipos de informantes. Assim, se O
estudo é feito numa escola, o pesquisador procurará fazer observações
em situações de aula, de reuniões, de merenda, de entrada e de saída,
das crianças; estará coletando dados no início, no meio é no final do
semestre letivo; ouvirá professores, pais, alunos, técnicos, serventes
eto. Com essa variedade de informações, oriunda de fontes variadas,
ele poderá cruzar informações, confirmar ou rejeitar hipóteses, desco-
brir novos dados, afastar suposições ou levantar hipóteses alterna-
tivas,
5. Os estudos de caso revelam experiência vicária e permitem
generalizações naturalísticas. O pesquisador procura relatar as suas
experiências durante o estudo de modo que o leitor ou usuário possa
fazer as suas “generalizações naturalísticas”. Em lugar da pergunta:
este caso é representativo do quê?, o leitor vai indagar: o que eu posso
(ou não) aplicar deste caso na minha situação? A generalização natura-
lística (Stake, 1983) ocorre em função do conhecimento experiencial
do sujeito, no momento em que este tenta associar dados encontrados
no estudo com dados que são frutos das suas experiências pessoais.
Por exemplo, ao ter contato com a pesquisa feita sor Kramer e André
19
(1984) sobre professores bem-sucedidos, uma determinada professora
. bode chegar à conclusão de que vários clementos da prática daqueles
professores são confirmados pela su; própria prática docente, como,
por exemplo, 2 ajuda individual aos alunas, harmonicamente associada
ao manejo grupal. Esse dado, então, nesse memento se generalizor
“maturalisticamente”
9. Estudos de caso procuram representar os di
conflitantes pontos de viste presentes numa situaçã endo o
objeto ou situação estudados pode tar opiniões divergentes, o
pesquisador voi procurar trazer para o estudo essa divergência de
opiniões, reve ponto de vista sobre a questão.
Desse modo é deix ios do esmdo tirarem conclusões
sobre esses aspectos contraditórios. Por exemplo, ao julgar um novo
sistema de avali O nos cursos de forração de professo-
res, O pesquisador procurará coletar à opinião de uma gama variada de
alunos desses cursos, inclnindo grupos mais ou menos críticos, poderá
entrevistar os professores desses cursos proçurando deliberadamenis
Os que estão a favor c os que estão contra e incluirá sua própria opinião
sobre a inovação.
O pressuposto que fundamenta essa orientação é o de que a realida-
de pode ser vista sob diferentes perspectivas, não havendo uma única
que seja a mais verdadeira. Assim, são dados vários elemento: para
gue o leitor pessa ci s suas pró; onclusões e decisões, além,
evidentemente, das ões do pá io investigador.
ferentes e às vezes
7. Os relosos do estudo de caso utilizam ume Enguagem e uma
forma mais acessível do que 03 ouiros relatórios de pesguisa. Os dados
do estudo de caso podem ser apresentados numa variedade de formas,
tais como dramatizações, desenhos, fotografias, colagens, slides, dis-
cussões, mesas-redondas etc. Os relatos escritos apresentam, geral.
mente, um estilo informal, nerrativo, ilustrado por figuras ds lingua-
sem, citações, exemplos c descrições. É possível também que um
mesmo caso tenha diferentes formas de relato, dependendo do tipo de
usuário a que se destina, A preocupação aqui é com uma transmissão
direta, clara e bem articulada do caso e num estilo que se aproxime da
experiência pessoal do leitor. Pode-se dizer que o caso é construído
duramte O processo de estudo; ele só se materializa enguanio caso, no
relatório final, onde fica evidente se ele se constitui realmente num
estudo de caso.
Em extrato do relatório da pesquisa de Safim (1984), que descreve a
aula de leitura de uma professora de 1ºséris, ilustra muito bem O tipo
de linguagem de um estudo de caso:
20
semema, mas só dos alunos que
reduzia 2 isso, Vejamos como
Quarto de giz despencando da parede, em pé
cadeiras” (p, 123),
s coisas aconteciam em sua: ia-se 4 aula,
mo estado, epoindo em cima de 4
ias características, pode-se indagar: em que o
estudo de caso se distingus de outros tipos de pesquisa? A preocupa-
são central ao desenvolver esse tipo de pesquisa é a compreensão de
uma instância singular. Isso significa que o objeto estindado é tratado
como único, uma represeniação singular da realidade que é multidi-
mensional e historicamente situada, Desse modo, a questão sobre o
caso ser ou não “tínico”, isto é, empiricamente representativo de uma
população determinada, torna-se inadequado, já que cada casc é
tratado coms tendo um valor intrínseco.
õ
ento de um estudo de caso
Nisbet e Wait (1978) caracterizam o desenvolvimento do estudo de
caso em três fases, sendo uma primeira aberta ou exploratória, a
segunda mais sistemática em termos de coleta de dados e a terceira
consistindo na análise e interpretação sistemática dos dados e na
siaboração do relatório. Como eles mesmos enfatizam, essas três fases
se superpõem em diversos momentos, sendo difícil precisar as linhas
que a
2, À jose exploratória
ta
[e
O estudo de caso começa como ur piano muito incipiente, que vai
se delinsando mais claramenie à medida que o estudo se desenvolve.
Podem existir inicialmente algumas questões ou pontos críticos (Stake,
1278) que vão sendo explicitados, reformulados ou abandonados na
medida em que se mostrem mais ou menos relevantes na situação
estudada. Essas questões ou pontos críticos iniciais podem ter crigem
no exame da literatura pertinente, podera ser fruto de observações e
depoimentos feitos por especialista sobre o problema, podem surgir de
um contato inicia) com a documentação existente e com as pessoas
ados ao fenômeno estudado ou podem ser derivados de especula-
ções bascadas na experiência pessoal do pesquisador (ou grupos de
pesquisadores).
Por exemplo, na pesquisa de Kramer - André (1284) os pontos
críticos iniciais emergiram de uma análise das pesquisas s estudos
sobre alfabetização e sobre a prática pedagógica das escolas de Ie grau.
Um desses pontos emergentes foi o seguinte: que critério a professora
'
2
eietvamente usa para considerar seus alunos alfabetizados? Esia se
iuiu uma questão crítica edida em que não tem uma
respasta única, envolvendo discussão e debate e podendo ser enfocada
sob diferentes pontos de vista.
Dentro da própria concepção tudo de caso que pretende não
partir ds uma visão predetermisada da realidade, mas apreender os
aspectos & imprevistos que onvelvem uma determinada situação,
atória se coloca como iuamental para uma definição
a Go objsto de estudo. E o momento de especificar as
questões ou po sríticos, de estubslecer os contatos ii para
entrada em campo, do incalizar os informantes e as fontes de dados
as para o estudo. Essa visão de abertura para a realidade
tentando captá-la como ela é resiments, e não como se quereria que
fosse, deve existir não só nessa fase mas no decorrer de todo q
trabalho, já que a lidade do estuds de caso é retratar urna unidads
ação.
2.3.2 4 deli
iltução do estudo
Uma vez identificados os elementos-chave e os contor nos aproxima-
dos do problema, o pesquisador pode proceder à coleta sistemática de
inform mações, utilizando Jastrumentos mais ou menos estruturados
olha sendo determinada pe
explorar é
limitado.
recorte é, po
para chegar a uma €:
levamos ea decerminação do
cpósitos do estudo ds caso e
ompreensão mais completa da situação estudada.
a ea eloboração do relatório
| loraiória do estudo surge a necessidade de juniar a
e torná-la disponível aos informantes para que
reações sobre a relevância e a acuidade do que é
“rascunhos” de relatório podem ser apresentados aos
por escrito ou constituir-se em apresentações visuais,
auditivas For exemplo, após um determinado período de perma-
nência em campo, o pesquisador pode preparar um relatório curto
trazendo a análise de um minado fato, O registro de uma cbserva-
ção, a transcrição de uma entrevista. Pode também fazer uma sessão
de slides, mostrando algum aspecto interessante do estudo, ou organi-
mural de fotografias onde seja possível capiar us reações
3 sobre 2 validade do que ' foi apreendido.
dentemente, essas s não se completam numa sequência
, mas sc interpolam em vários momentos, sugerindo apenas um
vimento constante no confronto teoria-empt
2.3.4. 4 prática do estudo de caso
Fá uma série de problemas que podem ser evocados quanto ao
starejamento ou desenvolvimento do estudo de caso, entre os quais se
desta cam a escolha do típico ou atípico e a questão da generalização
dos resultados.
A decisão sobre o caso ser ou não “típico”, isto é, empiricamente
representativo de uma população determinada, afeta necessariamente
a questão da generalização. Como cada “caso” é tratado como único,
singular, a possibilidade de generalização passa a ter menor relevânci
como lembra muito bem Aparecida Joly Gouveia (1984). Isso é muito
slaro, já que o interesse se volta para a investigação sistemática de uma
d cia específica. Assim, a questão de escolher, por exemplo, uma
cola comum da rede pública ou uma escola que esteja desenvolvendo
m trabalho especial dependerá do tema de interesse, o que vai
determinar se é num tipo de escola ou em cutro que a sua manifestação
se dará de forma mais completa, mais rica e mais natural. Quanto à
generalização do que foi apreendido num tipo de contexto para outros
contextos semelhantes, dependerá muito do tipo de leitor ou do
usuário do estudo.
E possível, por exemplo, que o leitor perceba a semelhança de
muitos aspectos desse caso particular com outros casos ou situações
por ele vivenciados, estabelecendo assim uma “generalização natura-
Vstica” (Stake, 1978). Esse tipo de generalização ocorre, no âmbito do
indivídua, através de um processo que envolve conhecimento formal,
mas também impressões, sensações, intuições ou seja, aquilo que
Polanyi chama de “conhecimento tácito”. O estudo de caso parte do
princípio de que o leitor vá usar esse conhecimento tácito para fazer as
generalizações e desenvolver novas idéias, novos significados, novas
compreensões.
Existe também um outro tipo de generalização, que fica mais
restrito ao âmbito profissional ou acedêmico, onde diferentes leitores
reconhecem as bases comuns de diferentes estudos de caso desenvol-
vidos em diferentes contextos. A identificação desses aspectos co-
muns e recorrentes vai permitir, assim, ump ampliação e maior solidez
no conhecimento do objeto estudado.
Concluindo, podemos dizer que o estudo de caso “qualitativo” ou
“naturalístico” encerra um grande potengial para conheces c com-
E e nei
Segando Denzin (1978), a observação participante é “uma estratégia
de campo que combina simultansamente a análise documental, a
revista de respondentes e informantes, a participação e a observa-
ção direta a introspecção” (p. 183).
E uma estratégia que envolve, pois, não só a observação direta mas
s pressupondo um grande
envolvimento do pesquisador na situação estudada.
Decidir qual o grau de envolvimento do trabalho de pesquisa não
significa decidir simplesments que a cbsszvação será ou não partici-
gante. À escolha é feita geralmente er termos d continua que
vai desde uma imersão total na realidade até um completo distancia-
mento, As variações dentro desse continuum são muitas é podem
inclusivs mudar conforme o desenrolar do estudo, Pode acontecer que
o pesquisador comece 6 trabalho come um espectador e vá gradual-
memte ae tornando um participants, Pode também ocorrer o contrário,
iste é, pods haver uma imersão total no fase inicial do estudo € um
distanciamento gradativo na fas
iodo um conjunto de técnicas metodológi
&
y
Ea
Evidentemente, o pesquisador vode decidir desde o início do estudo
que atuará como um participante totai do grupo, assumindo inclusive
um compromisso político de ação conjunta nos moldes da pesquisa
participante*. Esse tipo específico de envolvimento, entretanto, deve
ser analisado no contexto da pesquisa parti
Objetivos deste livro.
ipante, 9 que fugiria aos
udor deve enfrentar é em que
opósitos de saindo, Aqui
um continuum que vai desde a
otal expliciação até a não-revelação. Bu£ord Junker (1973) situa
quatro pontos dentro desse continuam: 1) participante total; 2) partici-
parte como observador; 3) observados come participante: 8 4) abser-
vador total,
Ne papel de “participante total”, o cbservador não revela ao grupo
sua verdadeira identidade de pesquisador nem o propósito do estudo.
O que ele busca com isso é tornar-se um membro do Empo para se
aproximar 9 mais possível da “perspectiva dos participantes”. Nesse
papel, o pesquisador fica com acesso limitado às relações estabeleci-
das fora do grupo ou às ligações do grupo com o sistema social mais
amplo. Por exemplo, se um pequisador quer conhecer 6 sistema de
ensino supletivo “por dentro”, ele pode desenvolver seu trabalho
como um participante total, matriculande-se num curso supletivo
somo se fosse um aluno. Com isss ele pode avaliar o curso por dentro,
“A propósito da pesquisa porticipante, ver trabalhos de Carlos R. Brandão,
especialmente Pesquisa Participente, Brasiliense, 198].
28
a deixará de ter a visão do sistema como um todo, além, & pe
te, dos problemas éticos implícitos no papel de “fingir” algo qu
não é.
G “participante como observador”, segundo Junker (1971), não
oculta totalmente suas atividades, mas revela apenas parte do q
pretende. Por exemplo, ao explicar os objetivos do seu trabalho para c
pessoal de uma-esccia, v pesquisador pode enfatizar que centrará a
observação nos comportamentos dos alunos, embora pretenda também
ruyo de técnicos ou Os próprios professores. 4 preocuos-
o deixar totalmente claro 5 que pretende, para não provocar
tas alterações no comportamento do grupo observado. Esta Ê
envolve questões ézicas óbvias,
rador como participante” € um papel em gue a idantidade
de pesquisador e os objetivos do sstudo são revelados ao grupo
pesquisado desde o início, Nessa posição, o pesquisador pode ter
acesso à uma gama variada de informações, até mesmo confiden
pedindo cooperação ao grupo, Contudo, terá em geral que aceitar
controle do grupo sobre o gue será ou não tornado público pel
pesquisa.
O papel de “observador total” é aquele em que 0 pesquisador não
interage com o grupo observado. Nesse papel ele pode desenvolver
sua atividade ds observação sem ser visto, ficando por detrás de va
de espelhada, ou pode estar na presença do grapo sem cs
ões | vais. Mais uma vez há questões
a concordâne,
o pode va é quanto à
eríodo de permanência do observador em cam; .
Tiamente 208 estudos antropológicas e sociológicos, em que o investi-
sedor permanece no minimo seis meses e frequentemente vários anos
convivendo com um grupo, os estudos da área de educação têm
muito mais curtos.
Ao rever 51 esindos qualitativos da área de educação desenvolvidos
nos Estados Unidos ds 1977 a 1980, Ross 2 Kyle (1982) concluíram que
9 período de observação nesses estudos variava entre seis semanas &
três anos, com ampla variedade dentro desse intervalo,
Em algumas pesquisas pode ser interessante haver diversos perio-
dos curius de observações intensivas para verificar, por exemplo
mudanças bavidas num determinado grograma ao longo do tempo. Fr
qutros estudos pode ser mais adeguado concentrar as observações em
determinados momentos, digamos no final de cada bimestre escolar.
A decisão sobre a extensão do período de observação deve depen-
der, acima de tudo, do tipo de problema que está sendo estudado e do
propósito do estudo. Um aspecto que deve ser levado em conta nessa
ma:
ig
,
o
ecisão é que, quanto mais curto o período de observação, maior a
probabilidade de conclusões apressadas, O que compromete a validade
do estudo. Por ouro lado, um longo período de permanência em
campo por si só não gerante validade. É preciso levar em conta outros
fatores, como a hahilidade e experiência do observador, a possibilida-
de de acesso aos dados, a recepiividade do irabalho pelo grupo, a
finalidade dos resultados etc,
hlemas relaci enados
confiabilidade dos dados e
erão mais explorados no
3,13, O conietdo das observações
Os focos de observação nas abordagens qualitativas de pesquisa são
pelos propúsitos específicos do estudo, que
por sua vez derivam de um quadro teórico geral, traçado pelo pesquisa-
cr. Com esses propósitos em mente, o observador inicia a coleta de
dados buscando sempre manter uma perspectiva de totalidade, sem se
desviar demasiado de seus focos de interesse, Para isso, é particular-
mente útil que cle oriente a sua observação em terno de alguns
de modo que ele nem termine com um amontoado de
ixe de obter certos dados que vão
completa do problema.
s em sua paia
tion (1980) e
s sobre O que deve ser incluído nas aliocações de campo,
Segundo Bogdan é Biklen, o conteúdo das observações deve envolver
uma parte descritiva e uma parte mais reflexiva. A parte descritiva
compreende um registro detalhado do que ecorre ''no campo”, ou
seja:
1. Descrição dos sujeitos. Sua aparência física, seus maneirismos,
seu modo de vestir, de falar e de agir, Os aspectos que os distinguem
dos cutros devem ser também enfatizados.
2, Reconstrução de diálogos. As palavras, Os gestos, Os depoimen-
tos, as observações feitas entre Os sujeitos ou entre estes e o pesquisa-
dor devem ser registrados. Ma medida do possível devem-se utilizar as
suas próprias palavras. As citações são extremamente úteis para
analisar, interpretar e apresentar os dados.
3. Descrição de locais. G ambiente onde é feita a observação deve
ser descrito. O uso de desenhos ilustrando a disposição dos méveis, o
espaço físico, a apresentação visual do quadro de giz, dos cartazes,
0
ateriais de classe podem também ser clermentos importantes à ser
gisirados.
4, Descrição de eventos especiais. As anotações devem incluir o que
eu, quem estava envolvido e como se deu esse envolvimento.
5. Descrição das atividades. Devem ser descritas : ividades
3 € os comportamentos das pessoas observadas, sem deixar de
trar a sequência em gue ambos ocorrem.
8, Cs comportamentos do observador, Sendo o principal instrur
to da pesquisa, é importante que o observador inclua nas suas anota-
es as suas atitudes, ações e conversas com os participantes durante o
do.
A parte reflexiva des anotações inclui as observações pessoais do
pesquisador. feitas durante a fase de coleta; suas especulações
mentos, problemas, ideias, impressões, pré-concepções, dúvid)
rtezas, surpresas e decepções. Às reflexões podem ser de v
tipos:
1. Rejlexões analíticas. Referem-se ao que está sendo “aprendido”
no estudo, isto é, temas que estão emergindo, associações e relações
e partes, novas ideias surgida
; metodológicas. Nestas estão envolvidos os pros
estratégias metodológicas utilizados, as decisões so
incamento (destgn) do estudo, os problemas encontr
ção dos dados e a forma de resolvê-los.
3. Dilemas éticos « conflitos. Aqui entram as questões surgidas no
relacionamento com os informantes, quando podem surgir confiitos
entre a responsabilidads profissional do pesquisador e o compromisso
com os sujeitos.
4. Mudanças na perspectiva do observador. É importante que sejam
anotadas as expectativas, opiniões, preconceitos e conjeturas do ob-
servador e sua evolução durante o estudo,
5. Esclarecimentos necessários. As anotações devem também con-
ter pontos a serem esclarecidos, aspectos que parecem confusos,
relações a serem explicitadas, elementos que necessitam de maior
exploração.
Evidentemente, essas sugestões não podem ser tomadas como
normas ou listas de checagem para o desenvolvimento do estudo. São
apenas diretrizes gerais que podem orientar a seleção do que observar
e ajudar a organização dos dados.
4. O registro das observeçã
Há formas muito variadas de registrar as observações. Alguns ão
penas anotações escritas, outros combinarão as amoiações com O
al transcrito de gravações. Cutros ainda registrarão os eventos
atravós de filmes, fotogra ias, st u outros equipamentos.
agens e desvantagens desses
talar apesas do registro escrito,
requentemente utilizada nos estudos de obser-
Embora pudéssemos
2s anotações, mas apenas
s pelo menos ac pesquisador
a nesse sontido referem-se a quen-
dante. As considerações p
o e onde
Uma regra geral sobre 8 !
quanto mais próximo do morente
Isso, no entanto, vai cepender
do, «
er as &
ser feitas as anotações é que,
a pbservação; maior sua à acuidade.
te não poderá fazer o registro na presença dos informantes, já que seu
papel de pesquisador não é revelado ao grupo. O “observador total”,
em geral, não vai encontrar muitos problemas, já que ele ou não está à
endo declaradamente um papel de observa-
ombinação de observador
uldades. Pode ser, por
“ momento da observação porque
isso compromet com o grupo. Nesse caso o observador
procurará encomirar o mais breve possível uma ocasião em que possa
completar siras notas, para que precise con muiio na memória,
i ente falível. Não será nada fécil para o pesquisador encontrar
omento propício para fazer as suas anotações, que não seja muito
istante dos eventos obser vados, paia o haver esquecimento, nem
provoque dúvidas nos participanies sobre seu verdadeiro papel.
5 S dois j papéis qu
te É que poosm E
A forma de registrar os dados também pode variar muito, dependen-
do da situação específica de observação. Do ponto de vista essencial-
mente prático, é interessante que, zo iniciar cada registro, o observa-
dor indigue o dia, a hora, e local da cbservação e o seu período de
duração. Ao fazer as anotações, é igualmente útil deixar uma margem
para a codificação do material ou para observações gera)
Sempre que possível, é interessante deixar bem distinto, em termos
isuais, as informações essencialmente descritivas, as falas, as cita-
ções e as observações pessoais do pesquisador. Outro procedimento
prático é mudar de parágrafo a cada nova situação observada ou a cada
32
onagem apresentada, Essas medidas têm um caráter mera-
mes tico, no sentido de ajudar a zação s e análise dos
dndos, tarefa extremamente trabalhosa e cstafante.
nalmente, a de! subre q tipo de material onds serão fei
ções também vai depender muito do estilo pesspal de cade
servador. Alguns podem preferir um papel de tamanho pequeno,
ão chamar mui o a atenção; outros se senti muito ma
usando fichérios ou folhas avulsas para facilitar o arquiva-
2 posterior classificação. Outros poderão adotar um tipo de
que mantenha junto todo o conjunto de abservações, para
naultas às informações já obtidas sempre que necessário.
nove Der
eme DI
te
Lazer co
a representa um dos instrumentos
eta de dados, dentro di perspectiva de pesquisa que
vo! el vendo neste livro. Esta é, aliás, uma das principais
a alho em quase todos os tipos de pesquisa utilizados n
ciências sociais. Ela desempenha importante papel não apenas nas
atividades científicas como em muitas outras ativ idades humanas.
Estames habi ; Com O seu nso e
abuso peles meios de comuni assa, espetialmen
que nos atinge de É e onde E
nte a inabilidade dem ume visiador que “antecipa e dor
ta do informante, através da própria pergunta, quase
ndo margem de liberdade de resposta, a não ser a própria confi
o. E que dizer de repórter ansioso, que não hesita em formuiar as
mais cruas às vítimas da tragédia recém-aconiecida? G
podero: a arma de comunicação, às vezes tão canhestramente
mpremada, pode ser de cnorme utilidade para a pesquisa em educa-
. É preciso, para tanto, conhecer os sems lúnitos c respeltar as suas
exigências.
De início, é importanie atentar para O caráier de interação que
permeia a entrevista. Mais do que outros instrumentos de pesquisa. que
em geral estabelecem uma relação hierárquica entre o pesquisador e o
pesquisado, como na observação unidirecional, por exemplo, ou na
os ou de técnicas projetivas, na entr
lação que se ria é de interação, havendo uma atmosfera de influên-
vis reciproca exirs quem pergunta e quem responde. Especialmente
nas entrevistas não totalmente estruturadas, onde não há a imposição
de uma ordem rígida de questões, o entrevistado discorre sobre o tema
proposto com base nas informações que ele detém e que no fundo são à
fe
Bi
a
s€
ao senteo
simossad sorIsp 'sonnofosd sajsa; 'sagdeirssstm “eagdepos ouros “ejtraso emos
mta Ojtafns Op OpSNpOIÁ Sp seio] SE SEPO] 9s-UOn|Dut OndenTts )saN “oBStêpssAu;
* mumá peronio 9 sogpafns sop wagentuy e opuenh “efos no “SONpIAIpAI <op ogssatdxa
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“B OIS] BAISUNSTO-OED “OJHDZ] BIID IEZINA Sjatitaatioa 9 anbiod Efas “oATA tem pisa
os opseêpssau; ep oxafas o onbsod elos “oruamesojsap ap no odurey ap sagsumam
ua iopesmbsad o anbiod v(os conguagom 9 copzp sor essas o oprmrd
:(6967) Esjog opungas fesuatnoop ssguue
ep om o opeiidolis 3 onb us sesisga sagõemis son souaim ojod ex
“soplyj0osS OgSeBIsdAUI Sp sopeiam
somo so welos onb sonbsjenb “epuioua Jos SA9p eoUnU ojxejnc
Op BZSIMRIE E SIgoS sSgS=W IC]! ap BI9Jdo1 68; s2n07 eun. cnh oprars
ENJuSTaNDOp Gp OsE! Gp suSSejuvA se LustunsaL ([BE]) UJONBrj 6 euro
"eJojos ep susmoç] semmo Jod sepigo
sSQásutojui se JBJUSISJALIOO opod ejs ossIp ESTy coposa somo
op sgamuyE sopecidxe woq sem Jos uIs4op onb seiusigoid vap
imu>unosp esigue 8 “erIQIeIOjdxO portog) emm ooo 'sjusumeups
ISA 2p SONIDA SN$S NO QquateLIOÁLIOS nas mim apod soxafns so
Oo ctSBISjUI É opuznb no (ojdusxo 104 “eqzou: ns vjod) joazopeidir:
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“DEE OJUO! gium OBS seja onb & sojuamnoop sop usfBiuea vono
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F9QÃsuOgN UWSISUIC] 9 OIXAIGO CpeanniSiop Wnu twsSans sew ep
-EZIenIxajuCa OgSunO EI Op aju0] pum semode vgs EN 'ogiemzogui
SP , JSIMEU,, LUG] Em epure mejuasocdoy iopesnbssd op seoõe:
-Bjvap é segdemao UISJbSLIepung onb seisugpias SEpRImnal ses Mopoé
SPO SP ESGIapod sino; um upquie) Wonjnsuoo sojuawnsop so
“SOpNgO SOpE;ImnSol sor apepriqeisa sIeiu vp end o 'sopnisa sajuazegip
B SSPQ 9P JAJIOS SALenjam) s sezoa SELIRA SOpeinstoo Jos uopod
sejsmnsop so “odinsy op ofuol oe OpuNSISISg "COL O [Sapo oj09;
sum wonjnsuos sejuotunoop so enb ap Ojez o urRaPIsap JRÍn] onampud
ug Teuopoeonpo ogóeieas eu no esimbssd eu sojuommnDop op osE
9 Brsá suoSeiura ap cpiss eua uIejrosode (ISS) ujosury s equis
SE
st-0p "d 'T86] cunfneis “op au “Let
SPUOJODONDA DIBOJON92 EISIASE BU EPRSNQNA 103 OEÃOS EISOP IRENUNCIÁ DESIOA EU
-Bj91 Sep opnjso un tiva selsugpias izasnq 2p opijãas uu epenjurexs
J2s errepod eorsodepad opIunar eum sied so-cp ejosss eum
ap Ssiossejoid soe epinquisTp Iejnano ewn 'oduiaxs 10q esssis)uy 59
sasssodiy no segisenh ap anIvd e sojistundop sou srenjsez sagôcuiozur
Ieotpuapt vosng jemremnoop esmeue = (j861) Asjmeo cpunses
sej-sZqnn QUICO
gRNUSg) eisop om o opeudoide s opuznã gesmbsad vu sojuswnsop
Sp osn op susfeuea se sent) Nisne SE: op seqeue q onb sem
“SaIej0osa SOAINDIC a gears “SOJATL QIR ORRIADIO 3 ORBIT
ap seureiBoId sp sonsior “sosimastp é “seguida “atual “sangessorgorms
“steossad SOLIBIp “sopumiomsm 'sepmo sasanssed “setisou “sojiata
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ojrsugjioduoo o aigos Esta sp SjuGy voo sopesa Jos wassod
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*OdUIaZ CANIL JessUd Jexiop OG sirond isa upuis
Sjustlagumugauos
arêpe WE IDDMISTASHES
& “sotIrA OUZOO “es IM RJ Song
As críti esquentem feitas ao uso de documentos são
também resumidas G e Lincoln (1981). A primeira delas é que
os documentos são amostras não-repr sem ativas dos fenômenos estu-
dados, Isso é particularmente verdadeiro quando se pretende, por
exemplo, estudar o que ocosrs no dia-a-dia das escolas Em a as
escolas não mantêm registro das suas atividad j
ias e dos resultados ohticos. fa ando existe no
ger: antadas por
spectiva “objetiv E que não
ento ag probler
: ntos, mas m 1 itativos em ge
pecificamente tratado a ga ímio p deste,
Tinslmente, a utilização
a serem enfatizados e temátidas a serem “focalizadas, Esse ponto,
je ser contestado Jembrand do se do próprio propósito da
4 próxima questão se refere no
tal, isto é, 205 procedimentos
análise de documentos,
A primeira decisão nessas processo é a caracterização do tipo de
documento que será usado ou selecionado. Será do tipo oficial (por
xemplo, um decreto, um parecer?, do tipo técnizo (como um relatório,
um planejamento, um livro-texto) ou do tipo pessoal (uma carta, um
diário, uma antobiografia)? Envolverá informações de arquivos ofi-
ciais ou arquivos escolares? Qu ambos? Será um material instrucional
filme, livro, roteiro de programa, 2) ou um trabalho escolar (caderno,
prova, redação)? Incluirá um único tipo desses materiais ou uma
combinação deles?
A escolha dos documentos não é aleatória, Ha geralmente alguns
propósitos, ideias ou hipóteses guiando a sua seleção. Por exemplo,
para uma análise do processo de avaliação nas escolas o exame das
provas pode ser muito útil, Já para o estudo da interação grupal dos
alunos a análise das provas pode não ser necessária.
ao
Selecionados os documentos, o pesquisador procederá à análise
propriamente dita dos dados. Para isso ele recorre geralmente à
metodologia de análise de conteúdo, que é definida por Krippendortf
(1980) como “uma técnica de pesquisa para fazer inferências válidas e
replicáveis dos dados para o seu contexto” ip. 21). Explicitando
melhor sua definição o autor afirma que a análise de contendo? pode
cterizar-se como um método de investigação do conteúilo, simbéli-
co das mensagens. Essas mensagens, diz ele, podem set abordadas de
restos form: b inúmeros ângulos. Pode, por exemplo, haver
»arieções na unidade de análise, que pode ser « palavra, a sentença, 0
garágrafo ou o texto como um todo. Pode também haver variações na
forma de tratar essas unidades. Alguns podem preferir a contege
valavras ov expressões, outros podem fazer análise da estrutura lógica
de expressões e elocuções s outros, ainda, pedem fazer análises
temáticas. O enfoque da interpretação também pode variar. Alguns
poderão trabalhar os aspectos políticos da comunicação, outros os
pectos psicológicos, ouiros, ainda, os literários, cs filosóficos, os
icos e assim por diante.
Outro ponto discutido por Krippendorff diz respeito à necessidade
de consenso sobre o conteúdo do material analisado. A concordância
só ocorre para os aspectos mais óbvios da comunicação ou quando há
pontos de vista cultural e sociopolíticos similares entre os pesquisado-
foques parece contribuir | mais pera aumentar o conhecimes
2 do que 5 paia timisê Io. A exigência de consenso parece, is anitiço
ismo analítico coEseieefaticd dos esque-
Sos de pesquisa dos que uma necessidade do ato de conhecer.
Emi sua inadequação nas abordagens qualitativas de pesquisa que
visam sobrerdo à compreensão.
ppendortf enfatiza ainda que as mensage:
seu contexto. Isso signi açã
mensagens o receptor utiliza não só O conhecimento Formal, lógico,
mas também um conhecimento experiencial onde estão envolvidas
sensações, percepções, impressões e intuições. O reconhecimento
desse caráter subjetivo da análise é fundamenta! para que possam ser
tomadas medidas específicas e utilizados procedimentos adequados “o
seu controle.
Tomando a definição proposta por Krippendortf com as devidas
ponderações por ele feitas, o processo de análise de conteúds tem
início com a decisão sobre a unidade de análise. Holsti (1969) apresenta
*Para um estudo mais aprofundado do tema, consu.tar a 3ibliogrefia anexa a este capítule.
4
e unidade: unidade de registro e unidade de contexto. No
i ele, o pesquisador pods selecionar segmentos espe-
úficos do conteúdo para fazer a análise, determinando, por exemplo, »
irequência com que aparece no texto ums palavra, um tópico, um
ou um determinado item.
«plorar o contexto em que
s à sua frequência. Mais
eotiido vai depender da natureza
e das úesnões Espepíficas da
a eleváncia
o em unidades não
eai ge grande rigor inteisciual e muita Sedicação. Não
na melhor ou mais correia. O que se exige é sistomatiza-
são e cosrência do esquema escolhido com o que pretende o estudo.
Decidido o tipo de codificação. o próximo passo da análise é a forma
de registro. Aqui também pode haver muitas variações. Alguns preferi-
são ir » forendis enotações à margem de próprio material analisado,
as formas de síntese da
imeiro momento de classi-
de fonte de informação, os
é « O locai das scorrênci:
do for adequada
uxílio do computa-
dor. A análise pur CoHptEção & reguér muito tempo de programação,
sor jaso deve ser reservada para situações em que os dados sejam
reaimente volumosos cu venham a ser utilizados por diferentes Des-
s0as num longo espaço de tempo.
Depois de organizar os dados, num processo de inúmeras leituras e
releituras, o pesquisador pode voltar a exeminá-los para tentar detectar
temas s temáticas mais frequentes. Esse procedimento, essencialmen-
te indutivo, vai culminar na construção de categorias ou tipologias.
À construção de categorias não é tarefa fácil, Elas brotam, num
primeiro momento, do arcabouço teórico em que ss apoia a pesquisa.
Esse conjunto inicial de categorias, no entanto, vai ser modificado ao
iongo do estudo, num processo dinâmico de confronto constante entre
teoria 8 empiria, oque origina novas concepções £, consequentemente,
novos focos de interesse,
42
Wão existem normas fixas nem procedimentos padronizados para a
criação de categorias, mas acredita-se que um quadro teórico consis-
tente pode auxiliar uma seleção inicial mais segura e relevante. Além
disso, há algumas sugestões práticas apresentadas por Guba & Lincoln
(1981) que podem ajudar a formar categorias a partir dos dados. Em
primeiro lugar, dizem eles, faça o exame do material procurando
encontrar os aspectos recorrentes. Verifique se certos temas, obssrva-
cões e comentários aparecem e reaparecem em contextos variados,
indos de diferentes fonies e em diferentés situações. Esses aspectos
que aparecem com certa regularidade são a base para 6 primeiro
agrupamento da informação em categorias. Os dados que não puderem
ser agregados devem ser classificados em um grupo à parte para serem
posteriormente examinados. Esses dados não devem ser desprezados,
pois nem sempre a importância de um tópico pode ser medida pela
frequência com que ocorre. Certas informações e observações, apa-
entemente isoladas e discrepantes. podem vir a se constituir em
importantes elementos na elucidação das questões do estudo.
Guba e Lincoln sugerem que se faça em seguida a avaliação do
conjunto inicial de categorias. Segundo eles, as categorias devem antes
de tudo refletir os propósitos da pesquisa. Os cutros critérios são:
homogeneidade interna, heterogeneidade externa, inclusividade, coe-
rência e pizusibilidade. Com isso eles querem dizer que, se uma
categoria abrange um único conceito, todos os itens incluid
categoria devem ser homogêneos, ou seja, devam estar lógica c coe-
rantemente integrados. Além disso, as categorias devem sor muiva-
mente exclusivas, de medo que as diferenças entre clas fiquem bem
claras. É desejável também, de acordo com esses autores, que g grande
parte dos dados seja incluída em uma ou entra das categorias. E mais:
9 sistema deve ser passível de reprodução por outro juiz, isto é, deve
ser validado por um segundo analista, que, tomando o mesmo material,
pode julgar se o sistema de classificação faz sentido em relação aos
propósitos do estudo e se esses dados foram adequadamente classifica-
dos nas diferentes categorias. Finalmente, o melhor teste sobre a
propriedade de um sistema de categorias é sua credibilidade junto aos
informantes. Submetido à apreciação destes últimos, o esquema de
categorias pode ser aprovado, criticado e, se necessário, reformulado.
Depois da obtenção de um conjunto inicial de categorias, através de
um processo que Guba e Lincoln chamam de convergente, a próxima
etapa envolve um enriquecimento do sistema mediante um processo
divergente, incluindo as seguintes estratégias: aprofundamento. liga-
ção e ampliação. Baseado naquilo que já obteve, o pesquisador volta a
examinar o material no intuito de aumentar o seu conhecimento,
descobrir novos ângulos e aprofundar 2 sua visão. Pode, ainda. explo-
43
istradas pelo pesquisador. É importante que ele
reveja irequentemente as suas anotações e escreva todos os comentá-
rios gue lhe ocorram nesse momento: tópicos ou temas recorrentes,
personagens e acontecimentos intrigantes, esclarecimentos sobre as-
pectos anferiormente o! vidas, soluções e explicações. É
gistrado, para que não se perca até
is observações e comentários pessoais podem
is à elucidação das principais questões
afase final da an T
oferecer elementos substan
investigadas.
4.1. 4 análise após « coleta de dados
A fase mais formal de análise tem lugar quando a coleta de dados
está praticamenis encerrada, Nesse memento o pesquisador já deve
ter uma ideia mais ou menos clara das possíveis direções teóricas do
estudo € parte ontão nara “trabalhar”' o material acumulado, buscando
destacar os principais achados da pesquisa.
O primeiro passo nessa análise é a construção de um conjunto de
categorias descritivas. O referencial teórico do estudo fornece geral-
mente a base inicial de conceitos a partir dos quais é feita a primeira
classificação dos dados. Em alguns casas, pode ser que essas catego-
ias iniciais sejam suficiontos, pois sua amplitude e flexibilidade permi-
tem abranger à maior saric dos dado Os casos, as caracteris-
ticas esp: ação podem exi ção de novas catego-
ias conceituais,
Para Formar es categorias iniciais, é preciso ler e relcr 5
material até chegar a uma espécie de “impregnação” do seu conteúdo
(Michelar, 1980). Essas leituras sucessivas devem possibilitar a divisão
do maierial em seus elementos componentes, sem contudo perder de
vista a relação desses elementos com todos 93 outros componentes.
Outro ponto importante nesta ctapa é a consideração tanto do conteú-
do manifesto quanto do conteúdo latente do material. É preciso que à
análise não se restrimja au que está explícito no material, mas procure
ir mais a fundo, desveiando mensagens implícitas, dimensões contradi-
tórias c temas sistematicamente “'silenciados”.
É possível que, ao fazer essas leituras sucessivas, o pesquisador
utilize alguma forma de codificação, isto é, uma classificação dos
dados de acordo com es categorias teúricas iniciais ou segundo concei-
tos emergentes. Nessa iarefa ele pode usar números, letras ou outras
formas ds anoiações que permitam reunir, numa outra etapa, compo-
nentes similares. Por exemplo: s£, numa determinada pesquisa, um dos
conceitos focalizados for a disciplina escolar, o pesquisador pode
teniar identificar, nos relatos de entrevista com os professores e com o
48
pessosi técnico e nos relatórios do observação, q os momentos em
que aparece o tema, marcando esses trechos (co eta D,
exemplo). Em seguida ele pode rennir todo o material rely
problemática da disciplina juntando todos os trechos com código
semelhante.
A forma de codificação pode variar muito. Alguns preferem fazer
anotações à margem dos relatos, identificando cada categoria com um
código e registrando numa folha à parte a caiegoria e as páginas
podem ser localizadas, Outros preferem xerocopiar as. ano s
recortando e reunindo as partes referentes aos mesmos conceitos.
Outros ainda utilizam fichários, onde vão separando, ao longo da
coleta, todo o material relativo a um mesmo tema ou conceito.
Esse trabalho deverá resultar rum conjunto inicial de categorias que
provavelmente serão resxaminadas e modificadas num momento sub-
seguente. É quando, por exemplo. categorias relacionadas são combi-
nadas para furmar conceitos mais abrangentes ou ideias muito amplas
são subdivididas em componentes menores para facilitar a composição
& apresentação dos dados.
4.1.1, Da análise para a teorização
A classificação e organização dos dados prepara uma fase mais
complexa da amálise, que ocorre à medida que o pesquisador vai
reportar os seus achados. Para apresentar Os dados de forma
coerenic, ele provavelmente icrá que rever a: i
reavaliá-ias, e novas ideias podem
processo.
à categorização, por si mesma, não esgota a análise, É preciao que O
pesquisador vá além», ultrapasse a mera. descrição, buscando realmente
acrescentar algo à discussão já existente sobre o assunto Tocalizado.
Para isso ele terá que fazer um esforço de absiração, ultrapassando os
dados, tentando estabelecer conexões e relações que possibilitem a
proposição de novas explicações o interpretações, É preciso dar o
“salto”, como se diz vulgarmente, acrescentar algo ao já conhecido.
Esse acréscimo pode significar desde um conjunto de proposições bem
concatenadas e relacionadas que configuram ums nova perspectiva
Teórica até o simples levantamento de novas questões e questionamen-
tos que precisarão ser mais sistematicamente explorados cm estudos
4.1.2. Problemas éticos, metodológicos « políticos no uso das abordo-
gens qualitotivas
O uso das abordagens qualitativas na pesquisa suscita primeiramer-
te uma série de questões éticas decorrentes da interação do pesquisa-
49
E jeitos pos atos, No ca
ma pode se tornar realmente gre
sua identidade de peaqu
o da observação, esse proble-
bservador decidir não revelar
grupo pesquisado, “fi
fingindo” ser
servações através de uma
ação, em ambos os casos, é
“warede esp
considerado ar
lhes pe
tar que crsa +
n
E)
2 (1970) procuram argumen-
tica não deve ser automaticamente rejeitada, peis pode
fico em curtas áreas era que
se problema é o pedido de
elização da pesquisa. Nos
s Unidos, todos os projetos qr m financiamento do governo
igem um consentimento, por escriio, dos sujeitos do estudo, Isso,
i solve iota t ê devido principalmente
ereng: iletus entre & quisador e O sujeito, O que
ds levar 2 um consentimento por int: dação cu por constrangi-
A questão mais séria, aqui, é a da manipulação dos sujeitos que po-
dem vir a saber que estão sendo usados sem autorização vindo 2 desen-
de de resi i Iquer tipo de pesquisa, Como,
7 Esta questão da manipula-
aus de suas implicações
eu cfcito na ubjetividade das
acie dos estudos.
o êcau relaciona com a
ormações, Para conseguir certo tipo de dado, o pesquisad
: tam que assegurar aos sujeitos 0 anonimato. Se essa
ela i 1 cumprida. Na situação de
cularmente relevante, pois a
to pode fa; * uma relação mais descontraída
pontânea, € consaquentá ato & de dados que pode-
comprometer o entrevistado sc sua identidade não for protegida.
ma medida geralmente tomada para manter o anonimato dos
e, not qualquer motivo, o:
Gesejável que ele não seja gar:
Outra conseguência éa relaçã
estabelece entre o pesqui
sobre as informações gus serão ou não ternadas públicas. No processo
de negociação inicial do estudo, pode ficar determinado que os sujeitos
terão direito de veto no momento do relatório. Isso podes resultar na
30
omissão de dados importantes do relatório, se 9 encaminhamento justo
308 informantes não for adequado. Em ceso de dúvida subrs um
controle excessivo da inivrmação, é preferível que não seja garantido
e controle, sob pena de se revelar um quadro muito mutilado da
situação estudada.
Além das questões de natureza ética, há várias outras mais re acio-
das no pesquisador como principal instrumento da pesq
provedimentos metodológicos por ele utilizados durante o es
A questão mais geral e mais fregientemente Isvantada,
bordagens qualitativas é a da subjetividade do pesquisador. Os parti-
rios de uma postura mais tradicional em relação ao conhecimento
q defendem o ponto de visia de que os julgamentos do valor do
seiaador não devem afetar nem a coleta nem a análise dc dados.
Num outro extremo estão aqueles que afirmam ser m ossível à
jetividade. Uma postura mais equilibrada parece ser a daqueles que,
reconhecendo a impossibilidade de separar os valores pessoais do
processo de pesquisa, sugerem alguns cuidados especiais no sentido de
controlar o efeito da subjetividade. Uma das formas de controle é a
revelação, pelo pesguisador, de seus preconceitos, valores, pressupos-
tos, de modo que as pessoas possam julgar o sen peso relativo no
desenvolvimento do estudo. Na medida do possível, o pesquisador
deve tambér revelar ao leitor ie medica cle foi afevado pelo
estudo, do as mudanç
dár
: importante que ele deixe cia
idos para selecionar certo tipo de dados, e não outro
rias situações, o não outras, & para entrevistar certas
pessoas, e não outras.
Us cuidados com a objetividade são importantes porque eles afetam
diretamente a validade do estudo, Relacionados a este problema surge
sórie de questões práticas como o tempo de permanênciz em
o, à frequência « a duração das observações e a confiabilidade
dos dados.
É evidente que um longo período de permanência em campo, como
em geral ocorre nos estudos antropológicos e sociológicos. que se
estendem por anos a fic, aumenta a possibilidade de inferências,
rpretações e conclusões acuradas, pois há tempo para corrigir
falsas interpretações, rever O rumo des inferências e reorisntar os
focos de atenção. 4 regra geral de bom senso parece ser esia: quanto
maior o período de estada no campo, maior a probabilidade de resulta-
dos acurades, O que consubssanciará a validade das informações.
Quando o poríodo de observação precisa ser abreviado, geralmente
por razões de natureza prática, Walker (1980) sugere algumas medidas
para que a velidade do estudo não ligue demasiadamente comprometi-
5
que haja uma intensa comunicação entre o
ados e que sejam revelados,
os diferentes pontos de vista dos diferentes
eno estudado. Ouira medida é a explicitação dos
gro Dos sobre B
métodos e pros
fique claro “'cc
revelar as api
das informações
»a pelo peso or.
práti ca relacionada à validade dos dades é a que
duração e periodicidade das obs rvações. S Seo
rarar o fenômeno de forma completa, é preciso que
os dados ssjara q dade de s ções, em momentos
variados e com £ informação. O pesquisador node
reçurrer, para isso, às estraiégias propostas por Denzin (1970), que
consistem na “ri, o”, ou seja, checagem de um dado obtido
través de di “a, om situações variadas e em momen-
tos diferentes. sria ser fortalecido com 0 emprego
de diferemes métodos e diferentes observadores, que se
cenirariam nos mesmos aspectos para confirmação ou não-confirma-
ção sistemática. Podem ainda ser usados outros recursos, como o
envolvimento de grupos de pesquisadores nas várias etapas da pesqui-
sa, o estabelecimento progressivo dos focos de interesse etc. À ques-
tão básica sobre esse ponto é que não existem critérios absolutos,
netiros e não-arvitrários para determinar “ que é vélido a não o
=
estudo pretende 1
da pesquisa qual
erminado momento, sobre »
e -relstado (Smith, 1984
Esse aspecto nos &
tipo de investigação assume am coráter totalmente à diferente daguo
dos estudos tradicionais. O que se espera não é que observadores
wtalmente isentos cheguem às mesmas representações dos mesmos
1 gue haja alguma concordância, pelo menos temperá-
ria, de que essa forma de representação da realidade é aceitável,
embora possam e: T outras igualmente aceitáveis, O importante é
manter uma atituds flexível e aberta, admitindo que outras interpreta-
ções podem ser sugeridas, discutidas e igualmente aceitas.
Referências biblipgráficas
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São Paulo, Edit, Pulis, 1980.
-disetiva em Sociologia, in
o Sucioi e Enquete Operária.
pátio, assim como na balbúrdia eventual da merenda, Foram testemu-
nhados vs encontros regulares do conselho de classe e as reuniões
improvisadas para discutir algum problema disciplinar. Fizeram-se
muitas entrevistas, tanto fermal comp informalmente. Nenhuma con-
versa de corredor ou na sala do café foi desprezada. Tudo contribuiu
como material para o case.
Foi-se juntando uma massa considerável de informações pertinen-
tes. Como não há. neste tipo de estudo, hipóteses que orientem a
coleta e a análise de dados, é necessário que o próprio pesquisador
estabeleça seus padrões de análise mais adequados. Aos poucos ele vai
percebendo a configuração desses padrões, ao redor de certos questio-
namentos hásicos. As suposições iniciais podem ou não ser confirma-
das, mas frequentemente são enriguecidas por outras, surgidas no
caminho. A natureza flexível do estudo de caso favorece exatamente o
crescimento do âmbito do cstudo para abrigar novas suposições que
venham tentar explicar os problemas constatados. E aí, no calor da
corrente vital apreendida pelo zaso, o pesquisador propõe suas pró-
prias explicações, baseadas em tudo o que sabia antes de começá-lo,
mas sobretudo em tudo o que aprendeu ao realizá-lo.
Uma das maivres dificuldades enfrentadas por Tânia foi encontrar
uma maneira de consegpir, no relato do caso, um equilíbrio satisfatório
entre os dados obtidos pela observação « pelas entrevistas, de um lado,
e a fundamentação teórica que embasava o estudo, de outro. Por muito
tempo as duas ordens de fatores correram paralelas, sem se integrar
harmoniosamente, como o estudo regueria. Foi depois de muita refle-
xão e a partir de sugestão de uma das autoras (Marli) que Tânia
encontrou finalmente a solução para essc problema, fazendo fluir e se
interpenetrar as duas correntes, a que trazia 0 fluxo de dados e a que
trazia os fundamentos teóricos.
Ao deixar que lhe fluíssem conjuntamente das mãos as duas corren-
tes, Tânia logrou a integração tão desejada e o caso foi-se compondo.
Ao mencionar as mãos do pesquisador queremos exatamente enfatizar
a importância do ato de escrever quando se redige o caso. No dizer da
própria Tânia durante a defesa de tese, e confirmando a afirmação de
vários autores, “o caso sé passa a existir depois de escrito”. E ao
escrevê-lo que o pesquisador lhe dá corpo e forma e o vai burilando o
melhor que pode.
Antes e durante a redação do caso, o pesquisador é atormentado pela
imposição de ter de escolher, dentre o vasto material recolhido, aquilo
que vai realmente constituir o caso. Ainda na expressão de Tânia, “foi
necessário proceder a uma verdadeira mutilação de várias partes do
estudo para selecionar aquelas que ficariam presentes no caso”. Essa
58
seleção é inevitavelmente reduioia, pois O pesquisador tem que elege
alguns dos aspecios mais sepresentarioas da realidade, a seu ver, se
quiser chegar a um termo, Do contrário ficará infinitamente relatando
& Seu Caso...
Outro problema sentido c vencido por Tânia ao redigir c seu caso foi
separação clara entre as evidências recolhidas sobre cada aspecto
da problema e as interpretações elaboradas por ela a respeito.
unquanto pesquisadora e interessada no assunto estudado. Uma das
virtudes mais imoressantes do estudo de caso é justamente p tir,
pela forma como é relatado, que cade leitor acompanhe as inferênci
tes pelo pesquisador à partir das evidências apresentadas & também.
propor snas próprias interpretações, a partir das mesmas evidências.
Para que isso seja possível é necessário que o redator terha o maior
cuidado em separar claramente O que são as evidências, a respeito de
quê, e quais as conclusões delas extraídas. Tânia foi bastante feliz ao
resolver esse desafio, O que nem sempre ocorre nos estudos do gênero
publicados entre nôs.
Um curro aspecto específico do estudo de merece ser comen-
tado, Ele se iiga ao fato de ela continuar a trabalhar na escola estudada
como responsável pela biblioteca, ao mes:no tempo que desenvolvia o
estude. Essa dupla pertinência a preocupoa muito duranie um bom
tempo. Sobretudo porque lhe parecia já conhecer iudo q que se
passava na escola, não absorvendo tudo o que poderia atrav
observações e entrevistas. Aos poucos foi sc dando conta de que não
esa bem assim que as ceisas se passavaro. Embora partisse ce um
conhecimento tácito, como ocorre em qualquer estudo de casc, e que
na situa: talvez fosse mais avantajado, havia muita coisa nova a ser
aprendica com seu estudo, mas foi só quando ela aceitou que estava
realmente aprendendo sobre o problema é que o estudo destanchou,
Ela passou então a anotar tudo o que merecia ser anotado e à fazer as
suas interpretações e comentários pertinentes, deixando para trás
uela atitude pouco animada, típica de quem acha que já sabe tudo. É
interessante notar que ela nunca deixou de assumir, quer durante o
estudo, quer no relato escrito, 0 seu caráter de membro da instituição
estudada. Ássim, tanto os colegas que participaram do estudo como os
seus leitores de agora podem situar perfeitamente a perspectiva de
onde ela o focalizou
A segair apresentamos alguns extratos do estudo de caso de Tânia.
esperando que eles sejam não só suficientes para dar una ideia de seu
conteúdo e de sua forma, como também estimulantes no sentido de se
buscar & leitura integral do estudo,
Alguns excertos da introdução justificativa e metodologia:
Objetivo do estudo
O objetivo do estudo joi descrever o que as pessoas dizem e fazem
acerca da alfabetização em u escola estadual de 1º gr
ambio bano, na Beisada Peninense.
totalidade, tentei enlendê-ia como a
osição da reslidede. Embora em
exominê-ia à luz do foco
todo.
ações i
ssões da experiência passa-
da, guando o problema aflorou pela primeira vez. Como ponto de
partida eu tinha o o gesto com o aluno, sobretudo
em atendimento individual, era fundamental para a alfabetização.
À preockpação foi sempre d r felar as palavras e as ações das
professoras, que origimariam por sua vez O os temas eos es os 5 de
do, questões fr: giut-
350 105 Pp
viais. Estas incluira
1 Enéreuer pa
aihos
do mesto es
iicativa
Por que escolhi a alfabetização como tema de estudo?
Acina de tudo porto: 2a arretado pelo) jracdsso ne
— obstáculo à dação eà ialhoria des iândiçães de vida de
milhares de e usses populares.
Considero d; imp ia crucial tentar, se não responder, pelo
menos clarificar os questões ditadas pela prática de alfabetiz
nos nossas escolas públicas.
As ouiras razões joram: as iu s 2 Os questionamentos
sempre pr resentes em guose vinte anos de prática em escolas públicas
de 1º grau, emergentes principalmente da experiência como alfabeti-
zadora no inícin do magistério, em turma multisseriado de cingisnta
alunos em zona rural e praiang s do experiência de oito anos em
turmas da 1º à & série como orientadora educecional e pedagógica.
do
es 08 criférios que nortearam a minha escolha. Impreg-
nados pele intencionalidade e transpirando os juízos de valor inoren
tes a toda escolha, à educação E À pesguis
E.)
Justificativa da metodologia
tudo de caso — um método naturalista de pesqui-
sa eduça onal — esteve vinculada à intenção de contribuir nesta
oportunidade, pelo menos em j
escola estudada ampliassem sua
elando aos seus alhos os surtos sienif
5 pessoais, nreiendi possihilit
fica. O propósito desse estudo seria, então, “lidar igtelás
professoras a desmitificar (Staks, 1982, p. 7)* certas con
«ce da aprendizagem da leitura e do escrita pelas cr
ses populares, Além disso, ajudá-l confiar mais ng sua
. percebida de forma menas ingênua e, a parir daí,
ne, irais
das cla.
ta açã
tornada menos intuitiva, mais independente, mais conse:
crítica.
(p. 12)
ussibilita, segund:
os professor:
e por
», um prolongamento das ex,
5 cheguem a 38 valores p para a re
em função di idade
lar e dentro daquele contexto espe
Entusiasmava-me, acima de tude, o estudo em profindidas
escola e suas classes de alfabetização. inieressava-ine rey sempre em
mente « perspeciiva do contexto e, ao mesmu tempo, poder apreca-
der « multiplicidade e a especificidade da escola, porque, como diz
Brandão (... 1987), ao estudar a questão da evasão e da repetêncio, é
precise conhecer a forma como a escola trabalha com a clientela
predominante em nossas escolas públicas, a gue vive a condição
pobreza. E esta possibilidade vislumbrei no método de estudo de
caso.
“Stuho, RE. Estudos de Caso em Pesquisa e Avaliação Educacioral, Educação e
Seleção. 3: 5-14. 1983
ot
Ç
Progressivamente, io ficando bem mais claro para mim que
escrever era a atividade principal no estudo. Aquilo que escrevia a
partir das observações é que constituiria o conteúdo do relatório
final, embora com madiicações. E aquilo que escrevia identificava
com ideias, concepções, noções anteriores, já existentes em mim,
Quer dizer, es impressões que eu registrava eram um amálgama de
fatos concretos permeados por idéias que direcionavam o olhare o
ouvir, fazendo até com que ouiras facetas e aspectos de uma mesma
situação ficassem de fora, sem sequer serem percebidos ou sendo
percebidos de maneira distorcido. Por tudo isso estava convicta,
nuguele momento, de que a observação não podia deixar de ser
seletiva, Esta certeza deixavo-me mais tranquila e dava origem a
uma aceitação mais amadurecida e serena deste fato inevitável,
(p. 20-21)
Agora, já entrando no caso:
Deixo o pátio e dirijo-me à sola de aula du professora Elvira, À
todo momento a professora tenta controlar alguns alunos. Debru-
sam-se na janela pura olhar us cenas no pátio, Abre-se a poria da
sala € entram intempestivamente uns oito alunos. Pegam as pastas
provocando uma certa agi Dizem afoitamente:
* genio vai embora pra € & diretora mandou.
A professora, meio aturdida, parece duvidar se essa ordem é
verdadeira, O mesmo acontece com a professora da sala vizinha,
entrando em busca de esclarecimentos. Ninguém parece entender
coisa alguma. Até ser comprovada a informação dos alunos. Em-
baixo, continuava o “bafajó”. Enire os alunos dispensados por
usorem blusa diferente ou sapato de outra cor, observo sairem mais
uns quarro que, apesar de vestidos “como mandava o figurino”,
uproveitam a “onda” para escapulir.
A professora tenta retomar a aula, prosseguindo na correção dos
cadernos. Os alunos sentados ao lado da janela levantam-se insis-
tentemente para olhar, com curiosidade, o desenvoivimento dos
acontecimentos. Dat a pouco, utma reclamação do Jorge:
Professora, a senhora hoje não tomou 4 minha leitura!...
A professora, justificando:
Não tomei de ninguém. Hoje vocês perderam muito tempo lê
embaixo... Estude essas três lições para amanhã,
Entram mais duas alunas dispensadas da aula. Vêm pegar seu
material. Em uma delas faltava na blusa o boiso com escudo.
Fui levada, então, a perguniar-me quem se lembraria do prejuizo
cousado por aquela e ouiras interferências semelhantes, em termos
de apropriar-se levianamente do precioso tempo de aula das crian-
ças, além de fazê-las sentirem-se constrangidas, predispondo-as
talvez contra a escola e o estudo.
(p. 39-40)
6)
Parece-me que se trata mesmo da má utilização do tempo dos
alunos. Como geralmente os mais inquietos e instáveis são os que
não se encontram ainda em condições de acompanhar o trabalho
que os demais realizam com relativa tranquilidade, eles estariam, a
meu ver, necessitando de um outro tipo de atuação por parte das
professoras. Um atendimento capaz de reverter realmente em seu
benefício. levando-os a um progresso palpável. Acho mesmo que,
com sua atitude “indisciplinada”, estariam, inconscientemente, à
pedir isto. O tempo todo.
(p. 50)
[6]
Não é simplesmente porque as crianças faltam que há fracasso. É
porque há fracasso que as crianças deixam de frequentar a escola.
(p.34)
Cd)
A posição da projessora Mirtes talvez complemente esse ponto de
vista e até o fortaleça indiretamente. Ela atendeu à solicitação da
orientadora para acelerar o lançamento de palavras-chave, mas não
colheu os frutos esperados, A partir daí, parece considerar que o
sucesso da alfabetização não decorre da saída proposta. Um tanto
perscrutadora e demonstrando certa aflição, parecendo pensar alto,
ao final do aula extravasa sua divida e sua lúcida constatação:
Fico me perguntando o que pode influir na alfabetização. São
tantos fatores!
Dai para criar as suas próprias alternativas de lidar com as
dificuldades que encontrou na sua turma, naquele momento, seria só
um passo, Pena que não o tivesse dado.
(e)
tp. B1)
53
O tema central do estudo é a questão da avaliação. Sua autora,
Ruth, se viu motivada para o assunto, a princípio, pelas dificuldades
apresentadas por suas alunas de um curso de pedagogia, iuturas
srofessoras formadoras de outras professoras, portanto. Ela ss preo-
upava então, o com razão, com a concepção que ossas moças tinham
ia. avaliação em educação e como ela iria repercutir na formação de
suas a fico aras alunas do curso nermal, gue viriam a ser proiessoras do 1º
grau.
Ha verdade, o problema tinha surgido nara Rutk a partir dos relatos
que suas alunas faziam dos estágios obrigatórios junto a professoras de
* grau, scbrerudo no gue se referia à avaliação. Suas alunas faziam
oa
com nentários do tipo: “A professora só avalia com bass nas provas”,
“As a rão ia critérios comuns”,
“Cada um avalia de um
ideluk, 1985, . 18). Esses comentários levavam-na a se
par egunão coma Andeva E eval lação entre as professoras do |º grau.
Ao comunicar sua ideia à vrieniadora, esta hs indagou se não seria
mais interessante abordar logo as professores engajadas atuzimente no
Ạgrau, para conhecer o que pensavam sobre avaliação, em vez de
começar por suas futuras formadoras. Ruth ponderou a sugestão s
resolveu finalmente mudar os sujeitos do seu estudo. Estudaria então o
que se passa não apenas na cabeça, mas também na prática da
professora de 1º grau no que diz réspeito à avaliação.
Seu esiudo se reveste de um particular interesse, a noss
das tenebrosas estatísticas que consiatam há quatro décadas a ei
são de cerca de metade das crianças, logo nos dois primeiros anos do ?º
grau. Ciaro que não é a avaliação o único fator responsável por esse.
injusta exclusão, mas ela representa o mecanismo pelo qual se sfetua
essa operação.
O que se passa na cabeça da professora ao classificar um aluno
como reprovado, sabendo que isso pode contribuir quase fatalmente
para que ele acabe se evadindo, se não no primeiro ou no segundo,
sertamente após o terceiro ou o quarto ano de repetição? Será que a
professora tem consciência das consequências do seu ato (simplesmen-
te!) classificatório? Como ela manipula todo o instrumental avaliztivo
disponível, como provas, testes, fichas, conselhos de classe etc.? Ou
será que cla é que é manipulada £ por todo esse arsenal, do qual oraluno
sore 4 peso sem saber extrair dele o melhor uso? Como a instituição
escolar — composta por professores, diretores, orientadores, elunos,
pais e acrescida de uma outra dimensão exterior, representada pelos
supervisores, pelos técnicos e administradores do setor central (o
DEC, no Rio de Janeiro) — reage à legislação específica sobre avalia-
ção? Como são divulgados, entendidos e cumpridos (ou não) os
pareceres a cla relativos? Enfim, toda essa delicada trama, de tanta
E
E
68
importância para a educação, especialmente na escola de 1º grom, foi
que acabou se convertendo no objeto de estudo para Buth.
Como Tânia, ela não estava interessada em acrescentar informaçõe
estatísticas às disponíveis sobre o assunto, já sobejamente preccu na o
s. O que lhe interessava sra descobrir o que se passava realmer j
rátio a diária da professora z
a com relação à avaliação Para faze:
ss cobe rta ela presisaria colar-se a es32 práxica diária, se possiv
e ap enas uma professora nem de uma só escola.
s instrumentos por excelência seriarn 4 observação do trabalho
em cata de auia, das reuniões cos conselhos de classe, mas também a
entrevista de professoras, de diretoras, de orientadoras, que atuam
direta ou indiretamente sobra 9 ensino.
Como Tânia, ela tinha suas convicções iniciais, bassadas em uma
reflexão crítica sobre a literatura específica de avaliação educacional e
sobre sua cxperiência como professora de 1º grau. Elas não chegavam
a constituir hipóteses a serem testadas, mas simples pistas, ainda
vagas, à serem seguidas.
A partie daí o estudo foi desenrelando-se e, como no de Tânia,
algumas questões foram conTigurando-se como fundamentais, Sugerin-
do padrões para a análise. Foi o caso da prova, por exemplo, que
começou a surgir, dentre as muitas informações recolhidas, como
chave para explicação de vários aspectos do processo avaliativo na
esecla de 1º gran, Não simplesmente a prova como mera verifi ação de
comhscimentos, tal como se apresenta usualmente no jargão avalia:
mas a prova entendida, aplicada, elaborada. escamutcada, trapac.
até negada no complicado sistema do forças que compõem q uma
cola. Que significa realmente uma prova para o processo de avaliz-
o cos slunos7 E que significa cla para a avaliação da própria.
rulessora ou da supervisora que à elaborou? E para o DEC, isio é,
a o sistema de controls central, como pesam os resultados das
svas na definição do destino dos alunos e das escolas? E como estas
resguardam de possíveis conse: equências 1 negativas de seus resulta-
s, através dê mecanismos os mais engenhosos!
Pois todas essas intrigantes questões, típicas da avaliação, passaram
a povoar o universo de estudo de Ruth. Ela seguin cuidadosamente,
dor quase dois anos, o trabalho de vários proiessores, em três escolas
diferentes, todas da rede pública de 1º gran c aiundendo a uma clientela
de baixa renda. Como Tânia, ela constatou padrões de comportamento
de âmbito geral quase que uniformizados sob à pressão € o comodismo
da rotina, mas também documentou bem-sucedidas trajetórias alierna-
tivas tentadas por professores corajcsos.
Como não constitui propriamente um caso, o estudo de Ruth não
cuidou de focalizar o todo de uma escola, preferindo destaçar 2
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O momento mais dificil do estudo foi o de análi
Embora ao longo siudo fossem emergindo às €:
fácil optar pelas falas e deser 8 que deixassem evidente, para e
leitor, aquilo que extava cleo p a, Passei longo tempo selecio-
nando as falas, e s ' ureanizando: as na tentativa de deixar
mais clara e viva a experiência. Bra um mundo de dados qi
o para mim. Queria colocar iudo
ttento muita coisa foi necessório abandonar, A
ar da escrita me parecia um meio difícil para
o e significados: algumas questões na análise de
dados qualitailvcs. Cadernos de Cesquisa, Fundação Carlos Chagas. São Parlo, 45: 66-
71, 1883.
so er ano
o: o se 8)
ns nivar, após vê
(p. 22-23)
os documentos legais
ilidade aos estabaleci-
ra organizar seus próprios sistemas de avalia:
no parecer acima citado," essa autonomia é
êm go próprio professor. Entretanto, existem diretri.
É das nos próprios documentos legais, que têm o
intuito de orient prática desenvolvida nas escolas, assim come
previsto um apoio a ser dado pela Secretaria Municipal de Educação
e Cultura em matéria de avaliação. Vi se configurando aqui algumas
questões: Como são veiculadas as diretrizes 2 as normas presc
Dela a nível da unidade escolar? No que constitui o referido
avaliação
ade e respons
251 a necessidade de us tudo
junto à prático desenvolvida na sola de aula, de conviver 2 observar
q dia-a-dia dessa prática, de modo q verificar essa atração um
pouco além do que é dito e informado pelos documentos ou mesmo
pelo discurso dos educadores.
(E. 6263)
(o
Na intimidade da sala de aula obese;
ento do desempenho de cada aluno
ccompanhamento. Paralelamente, iento capiar à percepção que os
projessores têm desse acompanhamento. Neste momento sentarei
descrever o que pude observar em relação a cada um desses as-
pecios.
9 como éfeito o sevrapanha-
que é feito em função desse
* Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Nducação é Cultura, Resolu
2021981.