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219071376 - I - Corintios - Como - Resolver - conflitos - na - Igreja - Hernades - D-Lopes, Notas de estudo de Teologia

Corintios - Como - Resolver - conflitos - na - Igreja - Hernades - D-Lopes

Tipologia: Notas de estudo

2015
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Baixe 219071376 - I - Corintios - Como - Resolver - conflitos - na - Igreja - Hernades - D-Lopes e outras Notas de estudo em PDF para Teologia, somente na Docsity! 1 / _ C O M E N T Á R I O S F . X P O S 1 T 1 V O S h a g n o s Hernandes Dias Lopes 1 Corintios Como resolver conflitos na Igreja Dedicatória D e d ic o este livr o ao presbítero Hudson Peyneau e sua querida esposa Lelis Marisa Boechat Peyneau, irmãos amados, amigos preciosos, companhei­ ros de caminhada. Esse casal hospita­ leiro tem sido uma bênção em minha vida, família e ministério. Sumário Prefácio 1. Igreja, o povo chamado por Deus (ICo 1.1-31) 2. As glórias do evangelho (ICo 2.1-16) 3. As imagens da igreja (ICo 3.1-23) 4. As marcas do ministro da igreja (ICo 4.1-21) 5. O exercício da disciplina na igreja (ICo 5.1-13) 6. Como lidar com as demandas interpessoais e as paixões intrapessoais (ICo 6.1-20) 7. Princípios de Deus para o casamento (ICo 7.1-40) 8. Como lidar com a liberdade cristã (ICo 8.1-13) Espírito Santo dada ao apóstolo Paulo e o zelo de Deus com a harmonia doutrinária e social de Sua Igreja. Vemos a relevância para os nossos dias, a eficácia e aplicabilidade em problemas que a Igreja tem enfrentado, como a falta de zelo pela ordem no culto, a secularização da vida crista e o liberalismo, dentre outros. A Igreja de Cristo precisa voltar às suas origens e ser guiada pela Palavra de Deus, para nao cometer os mesmos erros, tanto do passado quanto do presente, onde as opiniões pessoais estavam e estão acima das verdades bíblicas. Finalmente, este é um livro elaborado pelo pregador e pastor Hernandes Dias Lopes, e só depois editado pelo es­ tudioso Hernandes Dias Lopes. Explico melhor: a Primeira Carta de Paulo aos Corintios foi pregada no púlpito da nossa igreja nos cultos de quarta-feira, durante aproxima­ damente um semestre. Isso torna esta obra peculiar, pois apresenta características pastorais de alguém que tem gran­ de experiência nao só no púlpito de uma igreja, mas tam­ bém em todo o território nacional e, ainda, pela Graça de Deus, no exterior. Posteriormente o Rev. Hernandes resol­ veu revisar esses sermões, e por intermédio de um trabalho de digitação e diagramação, o livro chega às suas mãos. Que o Senhor possa abençoar grandemente a você, prezado amigo, na leitura deste livro, do mesmo modo que Ele abençoou a minha vida e a vida da minha família. E que possamos colocar em prática as verdades bíblicas apresentadas neste livro. José Tadeu Carvalho Martins Médico urologista, e Presbítero da Primeira Igreja Presbiteriana de Vitória. Igreja, o povo chamado por Deus (ICo 1.1-31) P eter W a g n e r d iz q u e ICoríntios provavelmente tem mais conselhos prá­ ticos para os cristãos do nosso tempo do que qualquer livro da Bíblia.1 Estudar essa carta é fazer um diagnóstico da igre­ ja contemporânea, é ver suas vísceras e entranhas. E colocar um grande espelho diante de nós mesmos. O apóstolo Paulo plantou a igreja de Corinto no final de sua segunda viagem missionária. Ele passou um ano e seis meses pregando a Palavra de Deus na­ quela grande cidade (At 18.11) e, nesse tempo, ele gerou esses crentes em Cristo (4.15). Depois, Paulo foi para a cidade de Efeso, na Ásia Menor. De lá mandou essa carta para a igreja de Corinto. Essa primeira carta, certamente, nao foi a primeira carta que Paulo escreveu aos coríntios. Ele escreveu outra carta, porém, não temos conhecimento do seu paradeiro. Paulo faz referência a essa primeira carta que escrevera: “Já em carta vos escrevi que nao vos associásseis com os impuros” (5.9). Essa carta que temos, ICoríntios, é a resposta de Paulo a uma consulta que a igreja fizera a ele. “Quanto ao que me escrevestes, é bom que o homem não toque em mulher” (7.1). A problemática que a igreja estava vivendo chegou ao conhecimento de Paulo em Efeso, por intermédio de uma irmã da igreja de Corinto chamada Cloe. E quando Cloe visitou Paulo em Efeso, ela levou a ele a informação de que, na igreja de Corinto, havia muita coisa que estava em desacordo com o que ele ensinara, pois havia divisões e contendas na igreja. Então, Paulo, escreve esta carta, como que trazendo resposta e solução de Deus para os problemas que a igreja estava vivenciando. Por que Paulo resolveu plantar uma igreja em Corinto? Paulo era um missionário estrategista. Ele escolhia as cidades para as quais se dirigia com muito critério e cuidado. Corinto era uma das maiores e mais importantes cidades do mundo como também Roma, Efeso e Alexandria. Por que Paulo escolheu Corinto? Por que ele permaneceu dezoito meses nessa cidade? Levantarei aqui algumas razões pelas quais o apóstolo Paulo escolheu a cidade de Corinto, para plantar uma igreja. Em primeiro lugar, a razão geográfica. Corinto era uma cidade grega, de grande importância. Ela ficava bem pró­ xima de Atenas, a grande capital da Grécia, e a capital da Bíblia quanto da cidade. A contextualização de Paulo, porém, nao era para enfraquecer o sentido da verdade, mas para aplicá-la com mais pertinência. A verdade de Deus é imutável, mas os métodos de apresentá-la podem variar. Pela sua abertura a novas idéias. Corinto era uma cida­ de altamente intelectual. O principal hobby da cidade era ir para as praças e ouvir os grandes filósofos e pensadores exporem suas idéias. Era uma cidade que transpirava cultura e conhecimento. Paulo entendia que o evangelho poderia chegar ali e mudar a cosmovisão da cidade. O evangelho não é antiintelectualista, ao contrário, ele é dirigido à razão. Concordamos com John Stott, quando disse que crer é tam­ bém pensar. O evangelho precisa entrar nas universidades, influenciar a imprensa e alcançar os formadores de opinião da sociedade. Precisamos orar para Deus levantar escritores evangélicos cheios do Espírito Santo, com talento e conhe­ cimento. Precisamos rogar a Deus que desperte pessoas para usar os recursos modernos da tecnologia disponíveis para tornar mais eficiente o processo da evangelização. Em quarto lugar, a razão moral. Embora Corinto fosse uma cidade acentuadamente intelectual, era ao mesmo tempo profundamente depravada moralmente. David Prior diz que, como a maioria dos portos marítimos, Corinto se tornou tão próspera quanto licenciosa.7 Talvez Corinto tenha ganhado a fama de ser uma das cidades mais depravadas da história antiga. A palavra korinthiazesthai, viver como um coríntio, chegou a ser parte do idioma grego, e significava viver bêbado e na corrupção moral.8 A nova moralidade que estamos vendo hoje nada mais é do que a velha moralidade travestida com roupagem um pouquinho diferente. A cidade de Corinto era corrompida por algumas razões: A prostituição. Em Corinto se confundia religião com prática sexual. Naquela cidade, a deusa Afrodite era adorada e tinha o seu templo sede na Acrópole, uma montanha com mais de 560 metros de altura, na parte mais alta da cidade.9 Afrodite era considerada a deusa do amor. Peter Wagner afirma que aproximadamente mil sacerdotisas trabalhavam como prostitutas cultuais nesse templo de Afrodite. Milhares de coríntios adoravam seus deuses “visitando” essas “sacerdotisas”.10 Se não bastasse isso, essas prostitutas cultuais, à noite, desciam para a cidade de Corinto e se entregavam aos muitos marinheiros e turistas que ali chegavam de todos os cantos do mundo. E, então, o clima da cidade era profundamente marcado pela promiscuidade sexual. O homossexualismo. Corinto era a cidade onde ficavam os principais monumentos de Apoio. Esse deus grego representava o ideal da beleza masculina.11 A adoração a Apoio induzia a juventude de Corinto bem como a juventude grega em geral a se entregar ao homossexualismo. Talvez Corinto fosse o centro homossexual do mundo na época. Se você quer ter uma vaga idéia do que significava Corinto, lembre-se que Paulo escreveu sua carta aos romanos dessa cidade. Parece que Paulo escreveu Romanos 1.24-28 abrindo a janela da sua casa e olhando para a cidade de Corinto. A cidade estava entregue às práticas homossexuais sem nenhum pudor. Muitos membros da igreja de Corinto, antes da sua conversão, tinham vivido na prática do homossexualismo (ICo 6.9-11). A carnalidade. Havia na igreja de Corinto divisões e práti­ cas sexuais desregradas. Os próprios crentes estavam entran­ do em contendas e levando suas querelas aos tribunais do mundo. Havia sinais de confusão a respeito do casamento e incompreensão a respeito da liberdade cristã. Os crentes ricos se embriagavam na ceia e os pobres passavam fome. Havia confusão com respeito aos dons espirituais, à ressur­ reição dos mortos e às ofertas. Tudo isso foi diagnosticado por Paulo naquela igreja. A igreja tinha conhecimento, mas não amor; tinha carisma, mas não caráter. Na verdade, era uma igreja infantil e carnal. Em quinto lugar, a razão espiritual. Corinto era uma cidade com muitos deuses e muitos ídolos. Até hoje, quando se visita Corinto, pode se visualizar enormes estátuas e monumentos que foram dedicados aos deuses. Por ver a cidade perdida no cipoal de uma infinidade de deuses, Paulo entendeu que eles estavam precisando do Deus verdadeiro. Paulo sempre esteve atento à cultura do povo que queria alcançar. Onde ele encontrava uma sinagoga, aí ele iniciava o seu trabalho de evangelização. Peter Wagner diz que, como em todo o império romano, havia na sinagoga três tipos de pessoas: judeus, prosélitos, e tementes a Deus.12 A sinagoga era uma ponte. Paulo usou essa ponte para levar o evangelho para toda a cidade. Paulo precisou trabalhar em Corinto para o próprio sus­ tento, pois a igreja não estava disposta a sustentá-lo. Logo que chegou a Corinto, Paulo começou a fabricar tendas com a ajuda dos irmãos Priscila e Áqüila, deixando de inves­ tir totalmente seu tempo na pregação do evangelho. Mais tarde, Paulo exortou os crentes de Corinto, dizendo que precisou despojar outras igrejas para poder servi-los (2Co 11.8,9) e nesse particular a igreja de Corinto foi inferior a todas as demais igrejas (2Co 12.13). Paulo chegou mesmo a usar uma linguagem de ironia, dizendo: Perdoem-me por ter sido injusto com vocês, nao exigindo o que era dever de vocês, o meu sustento (2Co 12.13). precisa ser transformado contínua e progressivamente à imagem de Cristo. Essa é a santificação processual. Essa santificação é progressiva e só terminará com a glorificação. Em quarto lugar, a igreja é uma fam ília universal. Perten­ cer à Igreja de Deus é um fato maravilhoso. Diz o apóstolo Paulo: “[...] com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor...” (1.2). E um grave erro teológico olharmos para o nosso grupo, para a nossa denominação ou para a nossa igreja local e ter a pretensão, a vaidade, a petulância de acharmos que nós somos os únicos salvos e os únicos que herdarão o céu. Fomos chamados para ser santos com todos os que em todo lugar invocam o nome do Senhor. A Igreja de Deus é maior do que a nossa deno­ minação, maior do que a nossa igreja local. Ela é composta por todos aqueles que invocam o nome do Senhor em todo lugar, e em todo o tempo. A Igreja de Deus é universal. Se você está em Cristo, pertence a uma família que está espalha­ da por todo o mundo. Jesus não é propriedade exclusiva de nenhuma igreja local. Paulo está dizendo ainda no versículo 2 o seguinte: “[...] Senhor deles (os que invocam o nome do Senhor Jesus Cristo) e nosso”, ou seja, Jesus Cristo não é propriedade exclusiva de igreja nenhuma. E Senhor deles e Senhor nosso, é Senhor nosso e é Senhor deles. Nenhuma igreja pode ter a exclusividade na apropriação de Jesus. Em quinto lugar, a igreja é um povo enriquecido pela graça de Deus (1.4-6). A igreja não é apenas separada por Deus e para Deus, mas também é enriquecida pela graça de Deus. Diz o apóstolo Paulo: “Sempre dou graças a [meu] Deus a vosso respeito, a propósito da sua graça, que vos foi dada em Cristo Jesus; porque, em tudo, fostes enriquecidos nele” (1.4,5a). A palavra grega plutocracia, “enriquecido” refere- se a uma pessoa muito rica. O crente não é uma pessoa pobre; ele é uma pessoa muito rica. Paulo diz em Efésios: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais, em Cristo” (Ef 1.3). Agora, Paulo está dizendo que os crentes em Corinto foram enriquecidos em toda palavra, em todo conhecimento, com todos os dons espirituais (1.7; 2Co 8.7). Quando somos salvos recebemos dons espirituais. A igreja de Corinto era uma igreja rica na palavra, no conhecimento e na capacitação dos dons. Tinha todos os recursos para realizar a obra de Deus. Tudo isso deveria motivar a igreja a uma vida de santidade. Em sexto lugar, a igreja é um povo que espera a segunda vinda de Cristo (1.7). O que mais motiva a igreja a ser santa? Paulo diz que é a expectativa da volta de Jesus. A expectativa da volta de Cristo leva a igreja a se santificar. Quando o crente aguarda Jesus, quando ele vive nessa expectativa de que Jesus vai voltar, ele se santifica. O apóstolo João diz que aquele que tem essa esperança se santifica, se torna puro como Ele (Jesus) é puro (IJo 3.1-3). Uma pessoa que perde de vista a verdade sobre a segunda vinda de Cristo tem a tendência de cair num marasmo, na mesmice e se descuidar da sua vida espiritual. Nós deveríamos estar com os olhos elevados, aguardando a volta do Senhor Jesus Cristo. Quando o crente aguarda a vinda de Cristo, ele vive uma vida santa (1.7; 3.13; 4.5; 15.23,24,51,52; 16.22; IJo 3.1-3). Em sétimo lugar, a igreja é um povo que tem dependência da fid elidade d e Deus (1.8,9). Paulo diz que a fidelidade de Deus deve nos levar a uma vida de santidade. Nos versículos 8 e 9, lemos que Jesus Cristo também nos confirmará até o fim para sermos irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo. A nossa salvação depende da fidelidade de Deus (1.8,9). A perseverança dos santos, a segurança e a certeza da salvação não estão firmadas em nossas mãos. Em última instância, quem persevera é o próprio Deus, pois aquele que começou boa obra em nós há de completá-la até o dia de Cristo Jesus (Fp 1.6). Paulo diz que é o próprio Jesus quem nos confirmará até o fim. Bom é saber que a nossa vida está nas mãos de Cristo Jesus, e das Suas mãos ninguém pode nos tirar (Jo 10.28). E bom saber que os problemas da vida não podem nos tirar das mãos de Deus nem nos afastar do Seu amor (Rm 8.35-39). E o Senhor quem nos confirma até o fim. A nossa salvação é garantida por Deus até o final. A perseverança da salvação é de Deus. Ele já nos chamou à comunhão com Cristo. A igreja é um povo chamado à comunhão fraternal (9.10-25) Depois que Paulo elogiou a igreja e falou da sua posi­ ção em Cristo, começou a tratar dos problemas de divisão que a afligiam. A igreja lidou desde o início com as tensões provocadas pelas divisões. Estamos vivendo uma época fa­ tídica neste sentido, onde tantas igrejas se dividem. As pes­ soas não têm mais compromisso com a verdade nem com a aliança de amor. Elas firmam um compromisso hoje e amanhã já estão desfazendo esse pacto. David Prior lamen­ ta que o triste é que os membros insatisfeitos muitas vezes têm o pensamento ingênuo de que outra igreja na região seria uma opção um pouco melhor. Dessa inquietação sur­ ge o hábito comum do “troca-troca” de igrejas.18 William MacDonald assevera que Paulo reprova firmemente o sec­ tarismo em Corinto (1.13) mostrando para a igreja que ele não estava procurando ganhar convertidos para ele ou para comentam: “Algumas pessoas estão descontentes”. Algumas pessoas, alguém, o pessoal sao termos genéricos e indefini­ dos que não devem ser usados. Paulo agiu diferente. Ele diz que os irmãos da casa de Cloe o informaram que esta­ va acontecendo divisão dentro da igreja. Paulo é específico quanto à informante e quanto à informação. Essa transpa­ rência neutraliza a maledicência dentro da igreja. Quando as coisas são trabalhadas em um ambiente de abertura e de transparência, o mal é tratado e resolvido sem deixar feri­ das, mágoas e ranços. Depois de apontar o problema, Paulo roga aos irmãos que em nome de Jesus falem a mesma coisa. Que não haja entre eles divisões. A palavra “divisão” é a palavra grega cisma, cujo significado é rasgar um tecido. O que Paulo está dizendo é que havia na igreja algo como um tecido rasgado. E isso que eles estavam fazendo: rasgando a igreja! O apóstolo ordena à igreja: “[...] antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer” (1.10b). Paulo menciona quatro partidos dentro da igreja de Corinto: “Eu sou de Paulo, e eu, de Apoio, e eu, de Cefas, e eu, de Cristo” (1.12). Por que quatro partidos dentro da igreja? Quais eram esses partidos? Existia o partido liberal de Paulo, o PLP. O partido liberal de Paulo era certamente o partido dos fundadores da igreja. Embora os crentes de Corinto tivessem tido muitos preceptores, foi Paulo quem os levou a Cristo (4.15). Paulo foi o evangelista e o fundador da igreja. Ele ganhou cada um deles para Cristo. Então, certamente aqueles primeiros membros da igreja começaram a dizer: Não! Paulo foi quem começou tudo por aqui. Ele foi o fundador da igreja. Nós fomos os pioneiros desta igreja e nós estamos ligados ele. Nós somos do partido de Paulo. Talvez os que engrossavam esse partido fossem também aqueles indivíduos que seguiam a linha da pregação de Paulo, por exemplo, da liberdade cristã, não ficando atrelados ao legalismo que os judeus queriam impor. E bem provável ainda que os membros desse partido fossem pessoas que controlavam a estrutura da igreja e, possivelmente, não deixavam os novatos participar dela.22 William Barclay esclarece que esse grupo era um partido formado principalmente por gentios. E muito provável que esse partido quisesse converter a liberdade em libertinagem e utilizasse seu cristianismo como uma desculpa para fazer o que bem queria.23 Não importa que matiz tenha esse grupo, ele não obedecia ao ensino de Paulo. E interessante que o partido seguidor de Paulo contraria e desobedece aos próprios ensinamentos de Paulo. O apóstolo não havia autorizado aqueles irmãos a colocá-lo numa posição de destaque que ele jamais pedira ou jamais poderia ocupar. Existia o partido filosófico de Apoio, o PFA. Nós poderí­ amos chamá-lo de partido filosófico de Apoio. E por que era o partido filosófico de Apoio? Porque Apoio era da ci­ dade de Alexandria, a segunda maior cidade do mundo. Alexandria era o centro da atividade intelectual do mundo. Os alexandrinos eram entusiasmados com as elegâncias li­ terárias. Foram eles que intelectualizaram o cristianismo. Os que diziam pertencer a Apoio eram, sem dúvida, os in­ telectuais que estavam lutando para que o cristianismo se convertesse rapidamente numa filosofia em lugar de uma religião.24 Em Alexandria floresceu a grande escola da inter­ pretação alegórica. Ali estava uma das maiores bibliotecas do mundo. Influenciado pelo clima de sua cidade, Apoio tornou-se um grande orador, um homem de fluência na palavra (At 18.24). Mais tarde, Apoio foi discipulado por Áqüila e Priscila, os companheiros de Paulo (At 18.26). É muito provável, portanto, que o grupo de Apoio tenha sido o grupo dos intelectuais, daqueles que gostavam de um dis­ curso bem elaborado, eloqüente, e cheio de beleza retórica. Aquele grupo formou uma elite cultural dentro da igreja. Existia o partido conservador de Pedro, o PCP. O partido conservador de Pedro era composto, possivelmente, pelos judeus e pelos prosélitos que se tornaram judeus por meio da circuncisão. Muitos gentios aderiam à fé judia e eram chamados de pessoas tementes a Deus. Essas pessoas iam à sinagoga, estudavam a lei e observavam os ritos judeus. Paulo sempre visitou as sinagogas para ali anunciar o evangelho, pois entendia que essas pessoas já tinham começado um processo de busca espiritual. Os membros da sinagoga, normalmente, eram conservadores e gostavam de observar os ritos e as cerimônias judias. Como o apostolado de Pedro foi direcionado especialmente aos da circuncisão, havia dentro da igreja de Corinto um grupo que seguia sua liderança. David Prior afirma que, de modo geral, todos concordam que “de alguma forma, o grupo de Cefas representava o cristianismo judeu”.25 William Barclay esclarece que os membros do partido de Pedro eram aqueles que ensinavam que o homem devia observar a lei para a salvação. Eram os legalistas que exaltavam a lei, e que ao fazê-lo, apequenavam a graça.26 Existia o partido cristão de Jesus, o PCJ. E bem provável que esse partido, com o nome mais bonito, fosse o mais problemático. Talvez esse fosse o partido exclusivista. Os membros desse grupo evidenciavam um orgulho espiritual sutil, dando a entender que eles eram os únicos cristãos verdadeiros.27 Talvez esse partido dissesse o seguinte: Quem não estiver do nosso lado, está fora. Quem não estiver no nosso grupo não tem salvação. Quem não jogar no nosso a ninguém. Eles estavam acostumados a uma história de grandes milagres, e eles aguardavam um Messias vencedor que iria quebrar o jugo dos seus inimigos. Na plenitude dos tempos veio o Messias sofredor, aquele que se fez carne e morreu numa cruz. Não era isso que os judeus esperavam. Por isso, eles tropeçaram na cruz. Não viram nela o poder nem a sabedoria de Deus. Os judeus não viram na cruz um instrumento de salvação para eles. A ênfase deles era em milagres poderosos e a cruz era um sinal de fraqueza. Eles aguardavam um Messias vencedor e Jesus veio como o Messias sofredor. Porque os judeus esperavam sinais, eles tropeçaram na cruz. Contudo, a fraqueza de Deus, a cruz, é mais forte do que os homens (1.25). Os gregos (1.23b). O maior problema dos gentios era em relação à cruz. Para os gregos, a cruz era uma tolice, porque eles enfatizavam a sabedoria. Eles escarneceram da cruz. Mas Paulo pergunta: “Onde está o sábio? Onde, o escri- ba? Onde, o inquiridor deste século?” (v. 20). Paulo está dizendo que a sabedoria do homem não conseguiu atingir o conhecimento pessoal de Deus, e não levou o homem ao conhecimento da salvação. O tempo áureo dos gregos e dos romanos, e a filosofia de Sócrates, Platão e Aristóteles não lhes trouxeram iluminação espiritual. O apogeu da filosofia grega, na idade de ouro, o século de Péricles, foi conside­ rado por Paulo como tempo de ignorância e cegueira (veja At 17.30). A sabedoria deles não os habilitou a conhecer a Deus nem a receber a salvação. Paulo diz que Deus deu um grande zero para a sabedoria humana, pois ela não conse­ guiu conduzir o homem à salvação. Charles Hodge menciona quatro razões por que Paulo considerou nula a sabedoria humana como instrumento de salvação: 1) Deus deu o Seu veredicto de que a sabedoria humana não passa de tolice (1.19,20); 2) A experiência provou a insuficiência da sabedoria humana para conduzir as pessoas ao conhecimento de Deus (1.21); 3) Deus estabeleceu o evangelho para ser o grande instrumento da salvação (1.21-25); 4) A experiência dos corintios revelou que a sabedoria humana não pôde conduzi-los à salvação nem lhes dar certeza dela. Eles estavam em Cristo não porque eram mais sábios do que outros, mas simplesmente porque Deus os havia escolhido e chamado (1.26-30). O plano de Deus em todas essas coisas era humilhar o homem “[...] para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” (1.31).30 Alguns, porém, creram e eles experimentaram o poder e a sabedoria da cruz (1.24,25). Quando alguém olha para Jesus, vê nele o poder de Deus. Paulo fala para os judeus e para que aqueles que estão querendo milagres, que Jesus é o maior milagre. Ele é o poder de Deus. Paulo olha para os gregos que estão buscando sabedoria e diz: Jesus é a sabedoria de Deus. Jesus é quem revelou Deus. Jesus é a síntese da sabedoria. Nele estão escondidos todos os tesouros da sabedoria (Cl 2.3). A sabedoria de Deus está no evangelho. Os gregos não olharam para a cruz do ponto de vista de Deus. Paulo pergunta ao sábio, ao escriba e ao filósofo se eles conheceram a Deus por intermédio de seus estudos (1.20,21)? Não! Eles conheceram a Deus por meio do evangelho. Paulo só tem uma mensagem (1.21,24): Cristo crucifi­ cado é o poder de Deus para os judeus e a sabedoria de Deus para os gregos. Nós somos chamados à comunhão por causa da nossa união com Cristo: Ele morreu por nós. Nós fomos batizados em Seu nome. Nós estamos identificados com Sua cruz. Que maravilhosa base para a unidade espiritual! A igreja é um povo chamado para glorificar a Deus (1.26-31) O grande problema dos crentes de Corinto é que eles tinham a tendência de ser orgulhosos, e às vezes, se ufana­ vam de coisas que deveriam fazê-los chorar! Os coríntios tinham a tendência de ficar inchados de orgulho (4.6; 5.2; 8.1). Mas o evangelho nao deixa espaço para a soberba ou a vaidade. Como Paulo lida com essa questão? Em primeiro lugar, Paulo relembra os crentes de Corinto quem eles haviam sido (1.26). Eles estavam cheios de vai­ dade. Paulo corrige o problema da vaidade humana, mu­ dando o foco dessa vaidade para a glorificação do nome de Deus. O Senhor chamou-os não por causa do que eram, mas a despeito disso. Eles eram terríveis pecadores (6.9- 10). Paulo os coloca no seu devido lugar (1.26). Em segundo lugar, Paulo relembra os crentes de Corinto o motivo que Deus os chamara. Paulo lembra os coríntios a razão de Deus tê-los chamado. Paulo está dizendo que “Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus” (v. 27-29). Deus escolhe o tolo, o fraco, o humilde e o desprezado para ressaltar o orgulho do mundo e a sua necessidade de graça. O mundo perdido admira o berço de ouro, o status social, o sucesso financeiro, o poder político, o reconhecimento social. Mas nenhuma dessas coisas pode nos recomendar Deus ou nos garantir a vida eterna. O que é que as pessoas do mundo dão valor? Elas dão valor ao berço ilustre, ao nome da família, ao lugar onde a pessoa mora, a faculdade que ela cursou, a posição que a pessoa N o ta s d o c a p ít u l o 1 1 W a g n e r , Peter. Se não tiver amor. Editora Luz e Vida. Curitiba, PR. 1983: p. 27. 2 B arclay, William. I y II Coríntios. Editorial La Aurora. Buenos Aires. 1973: p. 14. 3 R ie n e c k e r , Fritz, e R o g e r s , Cleon. Chave lingüística do Novo Testa­ m ento grego. 1985: p. 321. 4 W a g n e r , Peter. Se não tiver amor. 1983: p. 13. 5 P r io r , David. A mensagem d e ICoríntios. 1993: p. 12. 6 Prior, David. A mensagem d e ICoríntios. ABU Editora. São Paulo, SP. 1993: p. 11. 7 P r io r , David. A mensagem d e ICoríntios. 1993: p. 11. 8 B a r c la y , William. I y II Coríntios. 1973: p . 14. 9 P r i o r , David. A mensagem d e ICoríntios. 1993: p. 11. 10 W a g n e r , Peter. Se não tiver amor. 1983: p. 12. 11 P r i o r , David. A mensagem d e ICoríntios. 1993: p . 12. 12 W a g n e r , Peter. Se não tiver amor. 1983: p. 15. 13 W ie r sb e , Warren W. Comentário b íb lico expositivo. Vol. 5. Geográfica Editora. Santo André, SP. 2006: p. 742-747. 14 W ie r sb e , W a r r e n W . Comentário b íb lico expositivo. 2006: p. 742. 15 R ie n e c k e r , Fritz e R o g e r s , Cleon. Chave lingüística do Novo Testa­ m ento grego. Edições Vida Nova. São Paulo, SP. 1985: p. 284. 16 W ie r sb e , W a r r e n W . Comentário b íb lico expositivo. 2006: p. 742. 17 R ie n e c k e r , Fritz, e R o g e r s , Cleon. Chave lingüística do Novo Testa­ m ento grego. Edições Vida Nova. São Paulo, SP. 1985: p. 284. 18 P r io r , David. A mensagem d e ICoríntios. 1993: p. 24. 19 M a c D o n a l d , William. B elievers B ib le commentary. Thomas Nelson Publishers. Nashville, TN. 1995: p. 1749. 20 W ie r sb e , W a r r e n W . Comentário b íb lico expositivo. Vol. 5. 2006: p. 743. 21 W ie r sb e , W a r r e n W . Comentário b íb lico expositivo. Vol. 5. 2006: p. 743. 22 W a g n e r , Peter. Se não tiver amor. 1983: p. 35. 23 B arclay , William. I y I I Coríntios. 1973: p. 26. 24 B arclay , William. I y I I Coríntios. 1973: p. 27. 25 P r io r , David. A mensagem d e ICoríntios. 1993: p. 33. 26 B arclay , William. I y I I Coríntios. 1973: p. 27. 27 W a g n e r , Peter. Se não tiver amor. 1983: p. 37. 28 B arclay , William. /y I I Coríntios. 1973: p. 28. 29 R i e n e c k e r , Fritz, e R o g e r s , Cleon. Chave lingüística do Novo Testa­ m ento grego. 1985: p. 286. 30 H o d g e , Charles. In The classic B ib le commentary. Ed. By Owen Collins. Crossway Books. Wheaton, IL. 1999: p. 1219. 31 L e i th , John H . Base christian doctrine. Westminster/John Knox Press. Louisville, Kentucky. 1993: p. 185. 32 M a c D o n a l d , William. B elievers B ib le commentary. 1995: p. 1751. 33 W ie r s b e , W a r re n W . Comentário bíb lico expositivo. Vol. 5. 2006: p. 747. Capítulo 2 As glórias do evangelho (1Co 2.1-16) A INTEGRIDADE DO EVANGELHO estava sendo atacada em Corinto. O evangelho se misturava com a filosofia. Os corintios queriam um evangelho híbrido, mistu­ rado com a sabedoria humana. Queriam o evangelho e mais alguma coisa. Estamos vendo essa mesma tendência na igreja contemporânea, a tendência de querer o evangelho e alguma coisa mais, a tendência de rejeitar a simplicidade e a pureza do evangelho. No século 19 houve uma grande tendência de misturar evangelho com a filosofia, com o saber humano, e com as bombásticas descobertas da ciência. Isso desaguou no liberalismo que tem matado muitas igrejas. judeus e loucura para os gregos, era o conteúdo da pregação de Paulo. Paulo se gloriava daquilo que os judeus e gregos se envergonhavam. Paulo escandaliza a cidade de Corinto ao dizer que é no Cristo crucificado que se encarna a verdadeira sabedoria de Deus. Para Paulo o evangelho é absolutamente cristo- cêntrico. Como nós estamos hoje precisando ouvir isso! A maioria dos programas evangélicos que circulam na mídia está perdendo a centralidade da cruz e centralizando-se no homem. O evangelho, porém, não é antropocêntrico, mas cristocêntrico! Em segundo lugar, relembra-os de sua dedicação exclusiva ao evangelho (2.1,2,4). Paulo relembra aos corintios a sua resolução de se dedicar exclusivamente ao evangelho. “Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem e de sabedoria” (2.1). Paulo está mostrando que ele não foi a Corinto criar um fã-clube. Ele não foi a Corinto como um filósofo, para apresentar mais uma idéia. Ele foi a Corinto para glorificar a Deus pregando o evangelho de Jesus Cristo. Paulo é categórico quando toma uma firme decisão em Corinto: “Porque decidi nada saber entre vós...” (2.2). Essa decisão é resultado de um pensamento claro, categórico, e amadurecido. E como se Paulo dissesse: “Eu tomei a decisão e não volto atrás. Eu não quero tratar de outra matéria, a não ser ‘Jesus Cristo e este crucificado’”. Por que a paixão de Paulo é o evangelho? Porque enten­ deu que Cristo é tudo e em todos. Não há outra mensagem nem outro evangelho. Política, filosofia nem dinheiro po­ dem ocupar na vida e na pregação de Paulo o lugar da cruz de Cristo. A vida para Paulo era anunciar Cristo. Essa é a grande necessidade dos pregadores. A pregação do evangelho é a maior necessidade da igreja e a maior necessidade do mundo. Precisamos de pregadores que tenham paixão pelo evangelho. Que não tenham outra mensagem a não ser o evangelho. Que não tenham outro sonho a não ser o evan­ gelho. Que não tenham outra bandeira além do evangelho. Que não tenham outra atração a não ser o evangelho. Hoje, a pregação do evangelho tornou-se fonte de lucro. Muitos pregadores pregam não para glorificar a Cristo nem mesmo para a salvação dos perdidos e a edificação dos salvos, mas pregam para auferirem lucro. São indivíduos inescrupulo- sos que fazem do evangelho um produto, do púlpito um balcão, da igreja uma empresa e dos crentes consumidores. Muitos pregadores engrandecem a si mesmos e os seus dons de tal maneira que lançam sombra sobre Jesus. Ne­ nhum nome deve ser dado entre os homens pelo qual im­ porta que sejamos salvos (At 4.12). Nenhuma mensagem pode ocupar o lugar da mensagem da cruz. Havia em certa igreja um pregador muito alto, homem de grande estatura, que dominicalmente se levantava para pregar. Atrás do púlpito ficava um vitral muito bonito, onde tinha uma cruz desenhada. E de repente num culto especial, aquela igreja convidou outro pregador para uma conferência, um homem de altura mediana. Quando o pastor da igreja se levantava as pessoas não conseguiam ver o vitral com a cruz. Mas nesse dia, com o novo pregador, os crentes viram a beleza da cruz estampada no vitral atrás do púlpito. De repente, uma mfenininha chamou a atenção de sua mãe, dizendo: “Mamãe onde está aquele pregador que quando ele se levanta a gente não pode ver a cruz?”36 E a pergunta daquela menina representa uma verdade, muitas vezes, em nossos dias. Há um grande perigo do pregador se levantar e impedir que as pessoas vejam a cruz de Jesus; do pregador se levantar e dar mais ênfase aos seus talentos, aos seus dons, a sua capacidade do que pregar Jesus, e este crucificado. Muitos pregadores engrandecem a si mesmos e os seus dons de tal forma que não podemos ver Jesus. Devemos nos gloriar apenas na cruz de Cristo (G1 6.14). Em terceiro lugar, relembra-os acerca da sua maneira de pregar o evangelho. Paulo mostra uma terceira coisa à igreja. E observem que no versículo 1 ele diz que ao chegar a Corinto, ele não anunciou o testemunho de Deus com ostentação de linguagem, ou de sabedoria, ou seja, ele não se tornou um filósofo ou um orador, mas chegou a Corinto como uma testemunha. Paulo diz que tem duas maneiras de pregar o evangelho: Primeiro ele menciona o aspecto negativo: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria...” (2.4). E possível o pregador cometer esse grave erro. Dar mais ênfase à forma do que ao conteúdo. E quando a forma passa a ser mais importante do que o conteúdo, cai-se no erro dos filósofos que iam às praças e disputavam quem falava mais bonito. A segunda maneira é positiva: “E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós” (2.3,4; 2Co 11.30). Paulo não está falando aqui de uma fraqueza e debilidade física. O que Paulo está dizendo é que o evangelho é algo tão sublime e maravilhoso que quando ele foi a Corinto, foi na total dependência de Deus. Ele não foi com ufanismo ou com autoconfiança; ele não foi com soberba ou vangloria, mas foi com muita humildade, por entender a grandeza e a majestade da mensagem que ele estava pregando. Essa é a atitude que o pregador deve ter. Ele deve subir ao púlpito com temor e tremor. Embora Paulo fosse um apóstolo, ele veio a Corinto sem presunção, sem autoconfiança, mas com humildade, sabendo da sublimidade do seu ministério pregador do que à mensagem. Paulo precisa ensinar a essa igreja que o vaso, o mensageiro, é de barro (2Co 4.7). O importante nao é o vaso de barro, o importante é o poder, é o conteúdo que está dentro do vaso. Esse conteúdo é o poder de Deus. Esse conteúdo é o evangelho. E é esse con­ teúdo que tem de ser ressaltado. Paulo chega a perguntar à igreja de Corinto: quem é Paulo? Quem é Apoio? Apenas servos por meio de quem vocês creram. Paulo quer que eles confiem em Deus e nao no mensageiro. O propósito da pregação não é enaltecer o pregador, mas o Jesus que o pre­ gador anuncia. Todas as vezes que a igreja comete o pecado do culto à personalidade, dando mais ênfase ao pregador que à pregação, conspira contra Jesus, esvazia o evangelho, e torna-se um obstáculo para o pecador vir a Cristo. O evangelho foi concebido na eternidade e faz parte do plano eterno de Deus (2.6-9) Três verdades sublimes são aqui destacadas: Em primeiro lugar, a origem da verdadeira sabedoria (2.7). Jesus Cristo crucificado é a sabedoria de Deus. A verdadeira sabedoria, Sofia, não é a filosofia, mas o evangelho. A sabedoria de Deus não está na Sofia, na filosofia humana, mas no evangelho. A sabedoria de Deus é “Jesus Cristo e este crucificado”. Qual é a origem da verdadeira sabedoria? A sabedoria não procede de homens, procede de Deus. Paulo diz: “[...] mas falamos a sabedoria de Deus em mistério...” (2.7). Essa sabedoria não é produto da lucubração humana, nem do pensamento refinado dos corifeus da filosofia. Essa sabedoria vem de Deus e não dos homens. Paulo chega a dizer: “Entretanto, expomos sabedoria entre os experi­ mentados...” (2.6). O termo “experimentados” é um tanto difícil de entender porque é a palavra teleios, de onde vem a palavra maduro. Paulo nao está falando de certa categoria de crente, mas está fazendo uma distinção entre os sábios do mundo e aqueles que são convertidos. Esses experimen­ tados são na verdade os que são convertidos, que têm o Espírito Santo e são novas criaturas. Em outras palavras, Paulo está comparando os salvos com os perdidos. Paulo orienta que essa sabedoria não começou na História, mas na eternidade. Ele diz: “[...] a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade...” (2.7). Outrora escondida, mas agora plenamente aberta, revelada a outras pessoas. A verdadeira sabedoria não procede dos homens, mas de Deus. Nossa salvação foi planejada por Deus na eternidade. Até mesmo a morte de Cristo estava nos planos de Deus (At 2.22,23; lPe 1.18-20). O evangelho não é uma idéia tardia, um plano de última hora, mas algo planejado na mente de Deus desde a eternidade. E nesse sentido que João Calvino chegou a dizer que nós só conhecemos a Deus porque Deus se revelou a nós. O conhecimento de Deus não é produto da investigação humana, mas da revelação divina. Nós não O conhecemos pela sabedoria humana. Antes, O conhecemos porque Ele se revelou a nós. Deus se revelou na natureza, na consciência, nas Escrituras e em Jesus Cristo. Qual foi o propósito de Deus abrir as cortinas e nos mos­ trar a verdadeira sabedoria, que é Jesus? Deus preordenou essas cousas para a nossa glória (2.7). O que é que Paulo está querendo dizer com isso? Que a sabedoria de Deus objetiva não apenas a sua própria glória, mas, também, a glória da igreja. A sabedoria de Deus inclui você na medida em que ela objetiva a sua glorificação, a sua entrada no céu, a sua redenção em Jesus Cristo. O propósito dessa sabedoria não é apenas a glória de Deus, mas também a glória dos remidos. O plano de Deus sempre objetiva a plena glória de Deus (Ef 1.6,12,14), mas também culminará em nossa glória, em nossa completa redenção (Jo 17.22-24; Rm 8.28-30). Em segundo lugar, o conhecimento da verdadeira sabe­ doria. Como é que podemos conhecer essa sabedoria que nasceu na eternidade, que nasceu em Deus? O apóstolo Paulo diz: “[...] sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu” (2.8). O homem não regenerado não conhece a sabedoria de Deus. Pela sabedoria huma­ na, o homem não conheceu a Deus, mas pela sabedoria de Deus, o homem foi salvo pela cruz. Paulo está dizendo que essa sabedoria, nenhum dos poderosos deste século conhe­ ceu. Quem são os poderosos desse século? A palavra grega que aparece aqui descreve as autoridades romanas e judias que crucificaram o Senhor da Glória. E ele diz que eles não a conheceram “[...] porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória”. Por que as autoridades judias pediram a crucificação de Jesus? Por que as autoridades romanas O crucificaram? Porque não conheciam a Jesus! Porque se tivessem conhecido de fato quem Jesus Cristo era, jamais teriam crucificado o Senhor da Glória. Os intelectuais do mundo são cegos espiritualmente, eles não têm discernimento espiritual nem entendimento espiritual. Por isso, quando Jesus estava na cruz disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34). Preste atenção em um detalhe maravilhoso do evangelho. Paulo está dizendo que a ignorância espiritual é a causa de um imenso mal e também é ocasião de um imenso bem. E a causa de um imenso mal porque eles crucificaram o Em segundo lugar, o Espírito Santo sonda tanto os salvos quanto as coisas profundas de Deus (2.10,11). O Espírito Santo nao só habita nos crentes, mas o Espírito Santo também sonda os crentes e sonda semelhantemente as profundezas do ser de Deus. Nos versículos 10 e 11, Paulo faz uma comparação muito bonita. Como é que o homem entenderá Deus? Como você pode entender Deus? Paulo diz que ninguém entende o homem a não ser o espírito que está dentro do homem. Eu olho para você, mas eu não saberei dizer o que está dentro do seu coração. Eu não saberei dizer o que está na sua mente. Eu não saberei dizer quais os seus sentimentos. Nenhum de nós tem a capacidade de perscrutar, sondar, e investigar na plenitude o que o outro está sentindo, pensando ou desejando dentro de seu coração. Paulo nega os conceitos de Filo, de que o espírito humano pode conhecer o divino, e afirma que somente o Espírito divino pode tornar conhecidas as coisas de Deus.44 Eu não posso saber o que vai dentro do seu coração, mas o seu espírito sabe. Ninguém pode saber realmente o que se passa no interior de um homem. Ninguém, exceto o espírito desse mesmo homem. De fora, os outros homens podem apenas fazer conjecturas. Mas o espírito do homem não faz conjecturas. Ele sabe. De igual maneira, raciocina Paulo, ninguém de fora de Deus pode saber o que acontece dentro de Deus. Só o Espírito Santo, que é Deus, conhece a Deus plenamente e revela Deus para nós por intermédio da Sua Palavra.45 Paulo diz que ninguém conhece o homem a não ser o espírito que está dentro do homem. Agora, eu posso cogitar acerca do que você está pensando, mas eu não posso ter certeza. No entanto, você sabe exatamente o que está pensando e sentindo. Alguém fora de você não pode discernir o que você está pensando e sentindo. Paulo explica que assim também é com Deus. Ninguém de fora de Deus consegue sondar o Ser de Deus. Ninguém de fora de Deus consegue conhecer o Ser de Deus a não ser o Espírito Santo de Deus. E ele está dizendo que o Espírito Santo é uma personalidade, porque Ele tem conhecimento para sondar. Paulo está dizendo que o Espírito Santo é onisciente, porque Ele é capaz de sondar as profundezas de Deus. Ele está dizendo que é o Espírito Santo, quem habita em nós, é quem conhece as profundezas de Deus, a pessoa de Deus, os atributos de Deus, a Glória de Deus, e o projeto de Deus. E esse Espírito Santo quem nos revela a pessoa de Deus. E por isso que precisamos depender do Espírito Santo para conhecermos a Bíblia, o evangelho. Eu não posso pregar o evangelho fiado em conhecimento humano, em sabedoria humana, porque é o Espírito Santo quem nos revela essas verdades. Em terceiro lugar, o Espírito Santo é quem ensina os sal­ vos. O apóstolo Paulo escreve: “[...] o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras en­ sinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espí­ rito...” (2.12b,13). De que maneira o Espírito nos ensina? Não é de uma forma subjetiva, mas de uma maneira obje­ tiva. Paulo diz que ele nos ensina conferindo cousas espiri­ tuais com espirituais. O que seriam essas cousas espirituais? A própria Palavra de Deus. Se você quer conhecer a sabedoria de Deus precisa estudar a Palavra de Deus. Paulo está dizendo que a Bíblia interpreta a Bíblia. Você confere cousas espirituais com cousas espirituais. Você lê um texto e o interpreta à luz de outro texto. Você tem de comparar a Palavra de Deus com a Palavra de Deus. Jesus prometeu que o Espírito Santo nos ensinaria (Jo 14.26), nos guiaria (Jo 16.13). Ele nos ensina por intermédio da Palavra (Jo 17.8). Em quarto lugar, o Espírito Santo leva os salvos à ma­ turidade espiritual (2.14-16). No versículo 14, Paulo diz “Ora, o homem natural [nao regenerado ou o homem sá­ bio segundo este mundo] não aceita as cousas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”. O homem na­ tural não entende e não aceita as cousas de Deus. Porque sua mente não alcança, ele não aceita. Sua mente e sua von­ tade estão em oposição às coisas de Deus. Não entende por que elas se discernem espiritualmente e não aceita porque o evangelho parece loucura para ele. Por que é que o homem natural não entende as cousas de Deus? Porque o evangelho não é entendido pela sabedoria humana. Um cientista pode não entender o evangelho e um analfabeto entendê-lo. Nao é uma questão de habilidade ou de ginástica mental. Não se trata de ser uma pessoa arguta, de mente atilada, de uma alta capacidade de perquirição. Paulo está dizendo que o homem natural, o sábio segundo este mundo, não entende as cousas de Deus porque as coisas espirituais se discernem espiritualmente, e ele não as aceita porque os valores do evangelho são loucura para ele. O que o mundo aplaude, o Reino de Deus rejeita; aquilo que o Reino de Deus enaltece, o mundo não dá valor. O evangelho é loucura para o mundo. E no versículo 15, Paulo diz: “Porém o homem espiritual julga todas as cousas”. A palavra “julgar” fica um pouco confusa para nós, sobretudo, quando diz no final do versículo “[...] mas ele mesmo não é julgado por ninguém”. Muitas pessoas usam esse versículo para encher o peito e dizer: eu sou crente e não aceito que As imagens da igreja (ICo 3.1-23) N esse capítu lo Pau lo fala sobre a igreja. Ele usa três metáforas diferentes: família, campo e templo. Para Paulo, a igreja é uma família, cujo alvo é a matu­ ridade; um campo cujo alvo é a quan­ tidade e um templo, cujo propósito é a qualidade, afirma Warren Wiersbe.47 Vamos examinar mais de perto essas fi­ guras. A igreja é a família de Deus (3.1-4) Paulo nao está ensinando que existem duas categorias de crentes: os crentes carnais e os espirituais, os maduros e os imaturos. Essa tese de que o crente carnal recebeu a Cristo como Salvador, mas ainda não o recebeu como Senhor; que ele está justificado, mas ainda nao está se santificando e que ele é salvo, mas ainda nao obedece a Cristo é uma falácia. Esse ensino gera nos crentes uma falsa convicção de pecado e uma falsa segurança de salvação. Aquele que ainda não recebeu a Cristo como Senhor nunca o recebeu como Salvador. A grande ênfase do Novo Testamento é o senhorio de Cristo. Cristo não é Salvador de quem Ele ainda não é o Senhor. Entretanto, por que Paulo chama os crentes de Corinto de carnais? A imaturidade e a carnalidade dos crentes de Corinto eram resultantes de dois fatores. Em primeiro lugar, a imaturidade é conseqüência d e não se ter apetite espiritual. A primeira razão da imaturidade era revelada pela dieta espiritual. Paulo fala que estava dando leite para eles, porque não podiam receber alimento sólido. Há alguns que pensam que a diferença entre leite e carne é que algumas pessoas da igreja podem receber determinado tipo de ensino e doutrina enquanto outras não. Será que Paulo está dizendo que algumas pessoas podem receber um tipo de ensino e que só mais tarde, elas podem receber outro tipo de doutrina? Não é isso que Paulo está dizendo! A diferença é de aprofundamento. Você ensina as mesmas doutrinas para uma classe de crianças e para uma classe de doutorado. Não existem doutrinas secretas destinadas apenas aos iniciados e experimentados. Isso é gnosticismo e não cristianismo.48 Os mesmos temas tratados numa classe de neófitos são também estudados pelos crentes mais maduros. Uma mesma verdade é leite e carne, esclarece Charles Hodge.49 João Calvino dizia que Cristo é leite para os bebês e carne para os adultos.50 Você pode ensinar para a criança sobre Jesus de tal maneira que ela entenda e você pode ensinar num curso de pós-doutorado sobre Jesus aprofundando as mesmas verdades. A mesma verdade que ensinamos para os teólogos ensinamos para as crianças mais tenras. O que acontecia com a igreja de Corinto era que havia passado muito tempo, e os crentes ainda estavam nos rudimentos da fé. Eles não demonstravam sinais de maturidade no conhecimento nem na prática da Palavra. Por isso, Paulo os chama de crianças espirituais. O texto de Hebreus 5.11-14 revela que a maturidade não é apenas uma questão de conhecimento, mas, sobretudo, de prática. Há crentes que nunca deixam os rudimentos da fé cristã. Não se desenvolvem. Não se aprofundam. Estão sempre bebendo leite. A maturidade não é alcançada apenas pelo conhecimento da Palavra. Diz o autor aos Hebreus que o alimento sólido é para os adultos, que pela prática tiveram suas faculdades exercitadas (Hb 5.14). Por que é que os crentes de Corinto eram bebês? Porque eles ouviam e não colocavam em prática. Por isso, Paulo está dizendo que é preciso que alguém chegue e ensine sempre as mesmas coisas a eles. Os crentes de Corinto não exercitavam o que ouviam; por conseguinte, eram crianças. Um crente imaturo está sempre empolgado com os ru­ dimentos, porém, não demonstra interesse em se aprofun­ dar na Palavra. Ele não tem apetite por alimento sólido. Ele não tem gosto pelo estudo meticuloso das Escrituras. Não tem prazer na lei do Senhor nem se afadiga no estudo da Palavra. Em segundo lugar, a imaturidade é conseqüência de relacionamentos mal orientados. A imaturidade é conhecida quando os crentes deixam de viver em união para formarem partidos dentro da igreja (3.3,4). Um crente imaturo em vez de construir pontes de comunhão cava ministério é cultivar o solo, semear a semente, regar a planta e fazer a colheita dos frutos. Nós somos como os obreiros que trabalham nesse campo, e esse campo é a própria igreja. Na igreja há diversidade de ministérios. Há aqueles que preparam o terreno, os que regam o que foi semeado, e aqueles que colhem o fruto na hora da colheita. Quais são as lições que Paulo está ensinando? Em primeiro lugar, Paulo esvazia a controvérsia sobre o culto à personalidade. Quando Paulo pergunta: “Quem é Apoio? E quem é Paulo?” Ele mesmo responde: “Servos por meio de quem crestes” (3.5). Assim, Paulo denuncia a infantilidade e a carnalidade da igreja (3.4), pois seus membros estavam andando segundo os homens. Paulo elabora argumentos para esvaziar a controvérsia sobre o culto à personalidade no versículo 5. O que ele está dizendo é que a ênfase deve recair sobre Deus e não sobre o obreiro. Devemos tirar os nossos olhos dos instrumentos e colocá-los em Jesus.56 Quem é Paulo? Quem é Apoio? No texto original a pergunta não é quem, mas o quê? No texto grego o termo está no neutro. Paulo não pergunta quem é Paulo ou quem é Apoio; ele pergunta: O que é Paulo e o que é Apoio? Quando Paulo faz essa pergunta, usando o neutro, ele desvia a atenção dos crentes da pessoa dos pregadores e concentra a atenção deles em suas funções.57 O culto à personalidade é um grave desvio da igreja neste século. Atualmente as pessoas estão dando muito mais ênfase ao mensageiro do que à mensagem; estão focando mais o por­ tador do evangelho do que o evangelho em si mesmo. Paulo estava dizendo à igreja de Corinto: Não pensem que eu sou um dono de igreja. Não me coloquem num pedestal. Eu sou apenas um servo, Apoio também é apenas um servo. A palavra “servo”, usada aqui, é diáconos aquele que serve.58 E errado concentrar a atenção no servo do Senhor, devemos olhar para o Senhor dos servos. Paulo está dizendo com isso que na Igreja de Deus não há donos, chefes nem caudilhos. Não há ninguém que possa ser colocado no pedestal. A Igreja só tem um dono e um Senhor e esse Senhor é Jesus Cristo. Paulo não está querendo menosprezar o obreiro, mas exaltar a Jesus. Ele destaca a importância do servo, quando pergunta: “O que é Paulo? O que é Apoio? Servos por meio de quem crestes”. Paulo e Apoio foram usados por Deus para levar o evangelho aos corintios. Por meio deles é que o evangelho chegou até a igreja de Corinto. Portanto, o que está em destaque é o evangelho e não os instrumentos que Deus usou para anunciar o evangelho. Ambas as funções são importantes, tanto a de Paulo (plantar) quanto a de Apoio (regar), mas são inúteis, se Deus não der o crescimento.59 Cometemos um grave pecado contra Deus, quando damos mais importância aos mensageiros do que à mensagem, quando destacamos mais aqueles que pregam o evangelho do que o próprio conteúdo do evangelho. Em segundo lugar, Paulo ensina a diversidade de minis­ térios na igreja. Diz o apóstolo Paulo: “Eu plantei, Apoio regou; mas o crescimento veio de Deus. De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento” (3.6,7). Deus chama uns para prepa­ rar o terreno, outros para semear, outros para regar e ainda outros para colher. Há vários ministérios na igreja e nenhum é mais impor­ tante do que o outro. A ênfase não recai nos obreiros, mas em Deus que dá o crescimento. A igreja é como um corpo que tem diversos membros, com diversos ministérios e diversos dons. A vida e o crescimento da igreja são um milagre que só Deus pode realizar. O crescimento numérico pode até ser fabricado, mas o crescimento espiritual só Deus o produz. Leon Morris destaca o fato de que o verbo usado por Paulo para “dar crescimento” está no tempo contínuo, ao passo que os verbos “plantar” e “regar” estão no aoristo. Paulo e Apoio fizeram a obra que lhes competia, a qual é vista como consumada. Mas a atividade de Deus, de dar o crescimento, era contínua.60 Em terceiro lugar, Paulo ensina a interdependência dos ministérios na igreja (3.8). Paulo, Apoio e Pedro não estavam competindo na igreja entre si; ao contrário, cada um estava fazendo o seu trabalho sob o senhorio de Cristo. Há diversidade de ministérios, mas unidade de propósitos. O plantar e o regar são tarefas vitais e cada uma depende da outra. Não estamos competindo na obra, estamos trabalhando todos para o Senhor da obra. Não somos rivais, somos parceiros, cooperadores de Deus. Nós não estamos brigando para ter um espaço ao sol na igreja. Nós somos um. Nós estamos no mesmo barco, no mesmo time, na mesma obra e com o mesmo objetivo. Em quarto lugar, Paulo ensina que não há espaço para vaidades pessoais no ministério da igreja. A grande ênfase de Paulo é sobre Deus e não sobre o homem. Quando a igreja começa a colocar o seu foco e holofotes no homem, demonstra imaturidade espiritual. Paulo diz: “Ora, o que planta e o que rega são um; e cada um receberá o seu galardão, segundo o seu próprio trabalho” (3.8). Quando a igreja coloca os holofotes sobre o obreiro, ela subtrai a glória que é de Deus. Aqueles que promovem o culto à personalidade ou gostam de espetáculo e gostam de novidades. Elas não têm discernimento para identificar os perigos e os riscos das heresias que entram disfarçadamente dentro das igrejas. É nesse contexto que Paulo mostra que a igreja precisa cons­ truir e se edificar, mas com qualidade. Deus não está inte­ ressado apenas em número, ele quer vida. O segundo extremo é a numerofobia. Essa é a atitude da acomodação. Ela acontece quando a igreja se conforma com a esterilidade e cria justificativas para tentar tapar o sol com a peneira e justificar a sua falta de frutos espirituais. Se nós devemos construir a igreja do modo que Deus quer, temos de olhar quatro princípios importantes que Paulo ensina. Warren Wiersbe coloca esses princípios assim: o alicerce apropriado, os materiais apropriados, o projeto apropriado e o motivo apropriado.64 Em primeiro lugar, devemos construir sobre o fundam ento certo (3.10,11). O apóstolo é claro: “Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como pru­ dente construtor; e outro edifica sobre ele. Porém cada um veja como edifica. Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo” (3.10,11). O fundamento, o alicerce e a pedra fundamental da igreja não é o papa, não é o pastor, não é um missionário nem é uma liderança local. Pastores e pregadores mudam, passam e morrem; somente a igreja edificada em Jesus so­ brevive.65 Jesus Cristo é o fundamento da Igreja (Is 28.16; At 4.11; Ef 2.20; lPe 2.6). Ele é a pedra sobre a qual a Igreja está edificada (Mt 16.18). A Igreja não poderia ser edificada sobre Pedro nem sobre Paulo, porque tanto Pedro quanto Paulo morreram. Eles passaram, mas Cristo permanece para sempre. Nao podemos abandonar a mensagem da cruz embo­ ra essa mensagem seja escândalo para os judeus e loucura para os gregos. Paulo diz: Eu estou determinado a pregar só Jesus. E o fundamento da igreja é Jesus (3.11). Paulo está dizendo que quando o crente deixa de edificar sobre o fun­ damento, ele começa naufragar na vida. Seria loucura cons­ truir uma casa sem lançar o fundamento certo. Também seria uma irresponsabilidade construir uma casa, lançando o fundamento errado. Em segundo lugar, precisamos construir com o material certo (3.12-17). Paulo usa duas categorias de materiais: Ouro, prata e pedras preciosas pertencem a uma categoria de material permanente, belo, valoroso e difícil de ser obtido. Depois ele cita outros três tipos de material: madeira, feno e palha. Esses pertencem a uma espécie de material temporário, barato e fácil de obter. E o que representa todo esse material? Esse material não está falando de pessoas, mas de doutrinas, de verdades. Muitas pessoas estavam tentando construir a igreja com um evangelho imiscuído e misturado com a filosofia paga. Um evangelho secularizado, centrado no homem. Para Paulo, esse tipo de pregação era madeira, palha e feno. Nessa mesma linha de pensamento, Charles Hodge afirma: “Em consistência com o contexto, ouro, prata e pedras preciosas, pode somente significar a verdade; e madeira, palha e feno, o erro”.66 Devemos construir com material nobre, duradouro, e permanente; um material que resista ao fogo do julgamento. E preciso que o obreiro cave para encontrar esses materiais, porque ouro, prata e pedras preciosas não são encontrados na superfície. E preciso cavar na Palavra, mergulhar nas profundezas das riquezas de Cristo, e se alimentar dessas finas iguarias. Se o obreiro ficar sempre na superfície sem jamais se aprofundar, ele acabará construindo com palha, feno e madeira. Esses materiais são encontrados em qualquer lugar da superfície. O livro de Provérbios (3.13-15; 2.1-5; 8.10,11) apresen­ ta a sabedoria da Palavra de Deus como tesouro que precisa ser procurado, protegido e investido na vida diária. Os co­ ríntios tentavam construir a igreja com a sabedoria humana, a sabedoria deste mundo, quando deveriam ter dependido da sabedoria de Deus em Cristo, revelada na Palavra. E importante ressaltar que em cada uma das figuras usadas para a igreja, Paulo deu destaque à Palavra: A Palavra de Deus é alimento para a família, semente para o campo e material para o templo. Tanto para edificar a família, quanto para plantar o campo, ou para construir o templo, o material, a obra-prima é a Palavra de Deus. Pregadores e professores preguiçosos vão ver uma grande fumaceira no dia do julgamento. O material que eles usa­ ram para edificar não resistirá ao fogo nem eles vão receber recompensa. Deus nos adverte que se nós destruirmos o seu santuário, usando material impróprio, Ele nos destruirá (isso não é condenação eterna, mas é a perda da recom­ pensa) (3.15). No último dia, muitos ministérios vão se transformar em cinza. A Igreja não pode ser destruída sem severa punição (Lv 15.31; Nm 19.20). Em terceiro lugar, devemos construir de acordo com o plano correto (3.18-20). Se quisermos construir do jeito que Deus quer, devemos construir de acordo com o plano correto. Paulo diz que há uma sabedoria do mundo que funciona no mundo, mas não na igreja. A sabedoria do mundo não funciona para a igreja, porque a sabedoria de Deus é diferente da sabedoria do mundo. Aquilo que o mundo valoriza, o N o ta s d o c a p ít u l o 3 47 W ie r s b e , Warren W. Comentário bíblico expositivo. V o l. 5. 2006: p. 754. 48 B a r t o n , Bruce B. et ali. Life application B ib le com m entary on Philippians, Colossians & Philemon. Tyndale House Publishers. Wheaton, IL. 1995: p. 178. 49 H o d g e , Charles. Commentary on the First Epistle to the Corinthians. 1994: p. 49. 50 Citado por H o d g e , Charles. Commentary on the First Epistle to the Corinthians. 1994: p. 49. 51 R ie n e c k e r , Fritz, e R o g e r s , Cleon. Chave lingüística do Novo Testamento grego. 1985: p. 290. 52 B a r c la y , William. I y II Corintios. 1973: p. 42. 53 M o r r i s , L eo n . ICoríntios: In trodução e comentário. 1983: p. 50. 54 R ie n e c k e r , Fritz, e R o g e r s , Cleon. Chave lingüística do Novo Testamento grego. 1985: p. 290. 55 P r i o r , D a v id . A mensagem d e ICoríntios. 1993: p. 58. 56 D e H a a n , M. R. Studies in First Corinthians. Zondervan Publishing House. Grand Rapids, MI. 1966: p. 35. 57 M o r r i s , L eo n . ICoríntios: In trodução e comentário. 1983: p. 52. 58 H o d g e , Charles. Commentary on th e First Epistle to th e Corinthians. 1994: p. 51. 59 P r i o r , David. A mensagem d e ICoríntios. 1993: p. 60. 60 M o r r i s , L eon . ICoríntios: In trodução e comentário. 1983: p. 52. 61 P r i o r , David. A mensagem d e ICoríntios. 1993: p. 61. 62 B a r c la y , William. I y II Corintios. 1973: p. 46. 63 W ie r s b e , W a rre n W . Comentário b íb lico expositivo. Vol. 5. 2006: p. 757. 64 W ie r s b e , W a rre n W . Comentário bíblico expositivo. Vol. 5. 2006: p. 757-759. 65 P r i o r , David. A mensagem d e ICoríntios. 1993: p. 62. 66 H o d g e , Charles. Commentary on the First Epistle to the Corinthians. 1994: p. 56. 67 W ie r s b e , W a rre n W . Comentário b íb lico expositivo. Vol. 5. 2006: p. 758. 68 H o d g e , Charles. Commentary on th e First Epistle to the Corinthians. 1994: p. 62. As marcas do ministro da igreja (1 Co 4.1-21) A ssim c o m o P a u l o u s o u três imagens para a igreja no capítulo 3, também uti­ liza três figuras para descrever o minis­ tro cristão. O obreiro é um mordomo que vive com fidelidade, um espetáculo ao mundo que revela humildade e um pai que demonstra amabilidade.69 E sobre esses três aspectos que vamos discorrer neste capítulo. O ministro é um mordomo fiel (4.1-6) Paulo ainda está corrigindo o mesmo problema identificado desde o capítulo 1, a divisão na igreja em virtude do culto à personalidade. O mundo estava entrando na igreja de Corinto e a filosofia do mun­ do conduzia os seus assuntos internos. Corinto era uma cidade grega e o grande hobby dessa cidade era ir para a praça, a ágora, a fim de escutar os gran­ des filósofos e pensadores discutirem suas idéias e expo­ rem a maneira como viam o mundo ao seu redor. Eles se identificavam com um ou outro líder, com esse ou aquele filósofo. Eles acabavam se tornando seguidores de homens. Centrando-se em seus líderes, os coríntios estavam prestan­ do fidelidade a homens; homens de Deus é verdade, mas apenas homens. Essa era a maneira que o mundo se com­ portava e ensinava. Sempre que a igreja segue os grandes nomes e gira em torno de homens, está imitando o mun­ do.70 Uma vez que eles estavam acostumados a vivenciar isso no mundo, queriam, agora, fazer o mesmo dentro da igreja. Por isso, diziam: Eu sou de Paulo, eu de Apoio, eu de Cefas e eu de Cristo. Como Paulo combate essa idéia do culto à personalidade? Após afirmar que os obreiros da igreja são apenas servos ou diáconos, ele prossegue em seu argumento, dizendo que eles são escravos condenados à morte que trabalham sob as ordens de um superior (4.1). Vamos examinar alguns pontos importantes: Em primeiro lugar, o obreiro é um escravo sentenciado à morte. Paulo escreve: “Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo” (4.1). A palavra - “ministro” na língua portuguesa representa o primeiro escalão do governo. O ministro é uma pessoa que ocupa uma alta posição política, de grande projeção na liderança, e tem em suas mãos um grande poder e autoridade. Se olharmos a palavra “ministro” no campo religioso, estaremos falando de alguém que exerce a função de líder na igreja local. Todavia, a palavra usada pelo apóstolo Paulo para definir o ministro nos dá uma idéia totalmente contrária. A palavra grega b) Nao era função do mordomo buscar nova provisão ou servir qualquer alimento que não fosse provido pelo senhor. A Palavra de Deus deve ser ensinada de formas variadas. Paulo diz para ensinarmos todo o conselho de Deus (At 20.27). Hoje, não temos mais profetas nem apóstolos como tinham as igrejas primitivas! Eles pregavam mensagens de revelação. Quando os profetas diziam Assim diz o Senhor, eles estavam recebendo uma mensagem inspirada, inédita, e nova da parte de Deus. E essa mensagem iria fazer parte do cânon das Escrituras. Nos dias atuais, porém, nenhum homem e nenhuma mulher recebe mensagens novas de Deus. Tudo o que Deus tem para nós já está nas Escrituras. Mesmo que um anjo descesse do céu e pregasse outra mensagem que vá além daquela que está nas Escrituras, deve ser prontamente rejeitada e considerada como anátema! (G11.6-9). A Bíblia já tem uma capa posterior. Ela já está concluída, fechada e é por isso que no livro do Apocalipse diz que nós não podemos acrescentar ou retirar mais nada do que nela está escrito (Ap 22.18,19). A pregação hoje não é revelável, mas expositiva. Você não acrescenta mais nada ao que está na Palavra, mas expõe apenas o que está na Palavra. Nao recebemos mensagens novas, mas damos ao povo o conteúdo da Palavra de Deus já revelada. c) A função do mordomo era servir as mesas com in­ tegridade. O ministro nao é um filósofo que cria a sua própria filosofia. Não é assim o despenseiro. Ele não cria uma doutrina, uma teologia ou uma idéia a fim de aplicá- la e ensiná-la. Cabe a ele transmitir o que recebeu. E Paulo sempre usa essa expressão: “[Eu] vos entreguei o que tam­ bém recebi” (ICo 15.3). O despenseiro não pode entregar o que não recebeu. E o que é que ele recebeu? E o que está na Palavra! Sendo assim, o despenseiro nao podia mudar o alimento. De igual forma, nós não podemos mudar a mensagem. Também o despenseiro não podia adulterar o alimento, ou seja, ele não podia mudar o conteúdo, a subs­ tância, e a essência do alimento. Nós não podemos mudar nem diluir a Palavra de Deus. Ainda, o despenseiro não podia acrescentar nenhum ali­ mento no cardápio além daquele que estava na despensa. Nós não podemos pregar o evangelho e mais alguma coisa. E o evangelho, somente o evangelho e, todo o evangelho. Finalmente, o despenseiro não podia reter as iguarias que o senhor da casa havia provido para toda a casa, para toda a família. Ele tinha de distribuir todo o alimento que o seu senhor providenciara para a família e para o restante da casa. E isso significa dizer que o despenseiro precisa pregar para a igreja todo o conselho de Deus. Não pode pregar apenas as doutrinas da sua preferência. A melhor maneira de fazer isso é pregando expositivamente, livro por livro. Essa é a maneira mais adequada de se colocar na mesa todas as iguarias providenciadas pelo Senhor. Em terceiro lugar, o despenseiro precisa ser absolutamente f i e l no exercício do seu trabalho. A função do mordomo não era agradar às demais pessoas da casa, nem muito menos aos outros servos, mas ao seu senhor.76 Diz o apóstolo Paulo: “Ora, além disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel” (4.2). De acordo com a filosofia dos gregos e a sabedoria do mundo, as pessoas valorizam a popularidade e o sucesso. Mas Deus requer dos despenseiros fidelidade. Sucesso sem fidelidade é consuma­ do fracasso. No dia em que formos prestar contas da nossa administração, o que Deus vai pesar não é o critério do su­ cesso nem o da popularidade, mas o critério da fidelidade. O que Deus requer do despenseiro nao é sucesso nem po­ pularidade, mas fidelidade: fidelidade ao Senhor, fidelidade à missão e fidelidade ao povo. Em quarto lugar, o despenseiro está exposto ao ju lgam ento (4.3-6). O ministro, na qualidade de mordomo, passa por três crivos de julgamento: O julgamento dos homens (4.3a), o julgamento próprio (4.3b,4a) e o julgamento de Deus (4.4b).77 a) O julgamento dos homens. Diz o apóstolo: “Todavia, a mim mui pouco se me dá ser julgado por vós, ou por tribunal humano” (4.3a). O julgamento dos homens não é o mais importante, porque nós não estamos servindo a homens, mas servindo a Deus. Paulo está dizendo que se ele fosse servo de homens ou procurasse agradar a homens, ele não seria servo de Cristo (G11.10). O grande projeto do ministro de Deus não é ser popular aos olhos dos homens, mas fiel diante de Deus. b) O julgamento da consciência (4.3b-4). Os filósofos gregos e romanos (Platão e Sêneca, por exemplo) conside­ ravam a consciência como o juiz máximo do homem. Para Paulo, apenas Deus pode sê-lo.78 O apóstolo Paulo conti­ nua: “[...] nem eu tampouco julgo a mim mesmo. Porque de nada me argúi a consciência; contudo, nem por isso me dou por justificado” (4.3b-4). Paulo diz que os gregos e os romanos estavam errados quanto a essa matéria. Platão e Sêneca estavam equivocados com respeito ao julgamento da consciência. O nosso supremo juiz não é a nossa cons­ ciência. Nós podemos ser aprovados pela nossa consciência e reprovados por Deus. A nossa consciência não é total­ mente confiável. c) O julgamento de Deus. Paulo conclui, dizendo: “[...] pois quem me julga é o Senhor” (4.4b). Por que é que o quando um general ia para a guerra e retornava vitorioso, ele acorrentava pelo pescoço os vencidos e entrava na sua cidade, montado em sua carruagem numa grande procissão trazendo os derrotados que eram sentenciados à morte e le­ vados ao anfiteatro para serem lançados às feras ou passados ao fio da espada. Vejamos o que diz o apóstolo Paulo: “Por­ que a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos tornamos espetáculo ao mundo...” (4.9). A palavra grega teatron, “espetáculo” dá origem à nossa palavra “teatro”. Paulo diz que o ministro cristão é o teatro do mundo, e que a sua vida se desenrola num palco e numa arena de morte. O coliseu romano se tornou o centro des­ ses espetáculos, onde os cristãos eram colocados para lutar contra feras e expostos à morte. Essa é a figura que Paulo evoca para os apóstolos de Cristo. Os ministros não estão no pódio para os aplausos dos homens, mas na arena do te­ atro, para serem entregues à morte. Fritz Rienecker ensina que Paulo usa a ilustração para a humilhação e a indigni­ dade a qual os apóstolos são sujeitados. Deus é aquele que comanda o espetáculo e utiliza as fraquezas de seus servos a fim de demonstrar Seu poder e força.80 Paulo faz quatro contrastes para revelar a sua ironia com a igreja de Corinto: reis-prisioneiros (4.7-9), sábios- loucos (4.10a), fortes-fracos (4.10b) e nobres-desprezados (4.10c-13).81 Em primeiro lugar, reis e prisioneiros (4.7-9). Visto que a igreja estava cheia de vangloria, Paulo ironiza os crentes de Corinto, dizendo: “Já estais fartos, já estais ricos; chegastes a reinar sem nós” (4.8). Paulo diz para eles: Vocês estão fartos e ricos demais! Eles estavam como a igreja de Laodicéia, satisfeitos com a sua espiritualidade. Pensavam que tinham tudo. Estavam cheios de vangloria. Eles tinham um alto conceito de si mesmos. Os corintios pensavam que eles eram uma igreja de muito sucesso, muito madura e eficiente. Mas Paulo afirma que aquilo que você tem, é o que você recebeu. “Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias como se o não tiveras recebido?” (4.7). Paulo está dizendo que não há margem para a vaidade, para a soberba e para o orgulho espiritual. Se Deus lhe deu um ministério de projeção, você não tem de ficar vaidoso com isso, isso não é seu. Não é devido aos seus méritos, não é devido à sua inteligência ou capacidade humana. E graça de Deus. E por que, então, você se vangloria como se fosse mérito seu? Paulo começa a mostrar para aquela igreja que a teologia da glória é precedida pela teologia da cruz. E a grande bandeira do cristão é a teologia de João Batista que dizia: “Convém que ele [Jesus] cresça e que eu diminua” (Jo 3.30). Deus colocou os apóstolos em primeiro lugar na igreja, mas o mundo coloca os apóstolos em último lugar. Há três princípios na metáfora reis-escravos condenados. Se nós estamos sendo abençoados, outros estão sendo esbofeteados; se nós estamos sendo esbofeteados, isso vai abençoar outras pessoas; todos os cristãos são, ao mesmo tempo, reis e prisioneiros sentenciados à morte. Somos tanto reis quanto escravos. Somos ricos em Cristo e desprezados pelo mundo. Jamais alcançaremos a bem-aventurança plena aqui. Ainda somos humanos. Ainda estamos no mundo. Ainda somos mortais. Ainda estamos expostos ao pecado, ao mundo e ao diabo. Em segundo lugar, sábios e loucos. O apóstolo diz: “Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós sábios em Cristo” (4.10b). Paulo usa uma linguagem de ironia, pois todos o consideravam um louco, pelo fato de ter deixado o judaísmo e o rabinado, uma carreira promissora de grandes vantagens, com muito dinheiro e sucesso, com muita projeção, para se tornar um homem andarilho, um itinerante que não tinha morada certa, que passava fome, sentia frio, era açoitado e preso. Imagino que diziam para ele: Tu és louco Paulo! Houve um momento em sua vida em que ele achava que ser sábio era se gloriar nas coisas que tinha (Fp 3.4-8). Mas ele considerou todas essas glórias do seu passado como esterco, como lixo, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo (Fp 3.8). Paulo era louco de acordo com o critério dos homens. Ele abandonou seu status, sua posição e suas vantagens. Contudo, na verdade, os coríntios que se consideravam sábios aos próprios olhos, eram tolos aos olhos de Deus. Paulo diz: “Ninguém se engane a si mesmo; e se alguém dentre vós se tem por sábio neste século, faça-se estulto para se tornar sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus” (3.18,19). O caminho para se tornar espiritualmente sábio é tornar-se tolo aos olhos do mundo. O mártir do cristianismo, Jim Elliot disse: “Não é tolo aquele que dá o que não pode reter, para ganhar o que não pode perder”. Houve um momento em que Paulo confiou na sua força, mas depois que Cristo o salvou, ele passou a gloriar-se apenas em sua fraqueza (2Co 12.7-10). Em terceiro lugar, fracos e fortes. Diz o veterano apóstolo: “[...] nós fracos, e vós fortes” (4.10b). Aos olhos de Deus os apóstolos são os primeiros (ICo 12.28), mas aos olhos do mundo, eles são os últimos. A igreja de Corinto se considerava forte, poderosa e Paulo chegou a dizer que teve um tempo em sua vida em que ele se achava forte e Em segundo lugar, o pa i é aquele que é um exemplo para os filhos (4.16,17). Paulo diz: “Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores” (4.16). A palavra “imitadores”, no grego, é mimetai, de onde vem a palavra mimetismo, mímica. Ou seja, você ensina o filho não apenas por aquilo que você diz, mas, sobretudo, por aquilo que você faz. Os filhos aprendem primeiro pelo exemplo, depois pela doutri­ na. Albert Schweitzer, um grande pensador alemão, declara que o exemplo não é apenas uma forma de ensinar, mas a única forma eficaz. Paulo podia ser exemplo para os seus filhos e os seus filhos podiam imitá-lo porque ele imitava a Cristo. Ele diz: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (11.1). Em terceiro lugar, o pa i é aquele que é f i e l em disciplinar os filhos (4.18-21). O pai é aquele que gera, que ensina pelo exemplo e também, o que disciplina com amor. Veja o que diz o apóstolo Paulo: “Alguns se ensoberbeceram, como se eu não tivesse de ir ter convosco; mas, em breve, irei visitar- vos, se o Senhor quiser, e, então, conhecerei não a palavra, mas o poder dos ensoberbecidos. Porque o reino de Deus consiste não em palavra, mas em poder. Que preferis? Irei a vós outros com vara ou com amor e espírito de mansidão?” (4.18-21). Há um momento em que a intolerância precisa ter um fim. Há um momento em que a única forma de alcançar o coração do filho é o expediente da disciplina. Reter a vara do filho é pecar contra ele. Aborrece a alma do filho o pai que retém a disciplina. Chega um momento em que um pai responsável precisa disciplinar os seus filhos. Um pai que ama não pode ser indulgente com os filhos. O pai não apenas dá exemplo e ensina, mas também disciplina os filhos quando eles se tornam rebeldes. Paulo diz que existia dentro da igreja uma dicotomia, um hiato, um abismo entre o que os cristãos falavam e o que eles viviam. Paulo contrasta discurso e poder, palavras e obras (4.19,20). Os crentes de Corinto não tinham proble­ ma com discursos pomposos, mas eles não tinham poder. Falavam, mas não viviam. Havia um abismo entre o que falavam e o que praticavam. Eles eram uma igreja falante e eloqüente, mas não praticante. Então Paulo lhes diz que o problema não é falar, mas viver, pois o Reino de Deus não consiste em palavra, mas em poder! Não adianta você falar bonito, ter um discurso bonito, não adianta ser eloqüente, fanfarrão, tocar trombeta! O Reino de Deus é poder, é vida, é transformação. Em quarto lugar, o p a i é aquele que dá afeto e carinho aos filhos (4.14,21). O pai gera, dá exemplo, disciplina, e também dá carinho. O filho que só apanha fica revoltado e recalcado. O filho que só recebe carinho fica mimado e imaturo. Precisamos dosar disciplina com ternura. Tem o tempo certo de usar a vara e o tempo certo de pegar o filho no colo. Precisamos equilibrar correção com encorajamento. Paulo pergunta: “Que preferis? Irei a vós outros com vara, ou com amor, e espírito de mansidão?” Paulo era aquele homem de coração doce e cheio de ternura, um pai que tinha vontade de colocar os filhos no colo. Precisamos desenvolver esse sentimento de proximidade, de intimidade e de amabilidade na igreja. Veja a intensidade dos sentimentos desse apóstolo vetera­ no. Quando ele escreve aos gálatas, afirma: “[...] meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós” (G1 4.19). A figura que ele usa é a de uma mãe dando a luz. Depois ele diz aos presbíteros de Efeso, que ele era aquele pai que exortava dia e noite com lágrimas a cada um (At 20.31). Ele ainda disse aos tessalonicenses que ele era como uma ama, que acaricia os filhos (lTs 2.7). N o ta s d o c a p ít u l o 4 69 W ie r s b e , Warren W. Comentário bíblico expositivo. Vol. 5. 2006: p. 760-765. 70 P r i o r , David. A mensagem d e ICoríntios. 1993: p. 65. 71 B a r c la y , William. I y II Coríntios. 1973: p. 48. 72 H o d g e , Charles. Commentary on th e First Epistle to the Corinthians. 1994: p. 64. 73 P r i o r , David. A mensagem d e ICoríntios. 1993: p. 65. 74 R ie n e c k e r , Fritz, e R o g e rs , Cleon. Chave lingüística do Novo Testamento grego. 1985: p. 292. 75 H o d g e , Charles. Commentary on the First Epistle to the Corinthians. 1994: p. 65. 76 W iersbe, Warren W Comentário bíblico expositivo. Vol. 5. 2006: p. 760. 77 W iersbe, Warren W. Comentário bíblico expositivo. Vol. 5. 2006: p. 760. 78 P r i o r , David. A mensagem d e ICoríntios. 1993: p. 66. 79 W iersbe, Warren W. Comentário bíblico expositivo. Vol. 5. 2006: p. 761. 80 R ie n e c k e r , Fritz, e R o g e rs , Cleon. Chave lingüística do Novo Testamento grego. 1985: p. 293. 81 W iersbe, Warren W. Comentário bíblico expositivo. Vol. 5- 2006: p. 762. Lembra-se de Davi? Ele amava os seus filhos. Ele foi capaz de chorar amargamente com a morte de Absalão, mas nao tinha disposição de discipliná-lo de maneira correta. Somos informados que Davi nunca contrariou o seu filho Adonias (lRs 1.6). João Calvino chegou a dizer que uma das marcas da verdadeira igreja é a correta aplicação da disciplina bíblica. Precisamos olhar para esse assunto com muito cuidado e zelo, porque, via de regra, a questão da disciplina tem sido mal empregada na Igreja de Deus. Há dois extremos perigosos quanto à questão da disciplina na igreja: Ela é aplicada com displicência ou com rigor desmesurado. Em alguns lugares os líderes fazem vista grossa ao pecado, tolerando-o ou passando por cima de situações que trazem desonra ao nome de Deus e escândalo aos olhos do mundo. Esse foi o erro da igreja de Corinto. Mas existe também o risco de se aplicar a disciplina sem amor e com rigor excessivo, proibindo até mesmo aquilo que a Palavra de Deus não condena. Muito da disciplina que é aplicada nas igrejas, hoje, é aplicada em cima de usos e costumes, e não em questões vitais de desobediência, de rebeldia e de O uso da disciplina não pode ser abusivo. Ricardo Gon- dim, no seu livro Eproibido, narra uma história muito triste de um pastor que tinha um ministério reconhecido e tomava conta de várias igrejas. Certo dia recebeu em sua casa vários obreiros para uma reunião de liderança. Enquanto conver­ sava animadamente com os líderes, sua esposa chegou e in­ terrompeu a reunião, sussurrando em seu ouvido algumas palavras: “A nossa filha cortou o cabelo”. O pastor, imedia­ tamente, deixou os obreiros na sala, dirigiu-se ao quarto da filha tomado por fúria. Sua filha, de dezoito anos havia tosado as pontas do cabelo. O pastor, irado, e sem qualquer controle emocional, vociferou para a filha assustada: “O que é que você quer fazer comigo, menina? Você quer destruir meu ministério?” Bruscamente arrancou o cinto da calça e começou a bater na filha descontroladamente, deixando vergões ensangüentados no corpo dela. Após castigá-la com os açoites, olhou para ela e disse: “Enquanto você estiver debaixo do meu teto, eu nao tolero tamanho insulto e tão grave pecado”. Depois dessa vergonhosa cena, deixou a fi­ lha machucada no quarto e voltou para a reunião para tra­ tar dos assuntos da igreja. Quinze minutos mais tarde sua esposa voltou, novamente, agora, desesperada para lhe dar outra notícia. A moça de dezoito anos havia jogado álcool em si mesma e incendiado o próprio corpo. Para espanto do pastor, meia hora depois, sua filha estava morrendo em um pronto-socorro de um hospital. Esse é o tipo de disciplina que não tem base na Bíblia. Muitas vezes, se aplica uma disciplina rigorosa, sem amor, condenando uma prática que não passa de usos e costumes. Vamos observar algumas lições importantes no texto em tela. A igreja numa cultura em decadência (5.1) A igreja está inserida numa cultura em decadência. Essa não era apenas uma realidade da igreja de Corinto, mas, também é a condição da igreja contemporânea. A igreja é uma contracultura dentro de uma cultura decadente. A sociedade secular não conhece os princípios de Deus, não ama os valores absolutos de Deus nem está sujeita à lei de Deus. Vamos destacar alguns pontos: Em primeiro lugar, a sensualidade desregrada (5.1). Corinto era uma cidade moralmente decadente. William Barclay diz que em matéria sexual os pagãos não conheciam o significado da castidade. Os cristãos eram como uma pequena ilha de cristianismo rodeada por todos os lados por um mar de paganismo.82 Em Corinto estava um dos principais templos dos cultos gregos. Ali ficava o templo de Afrodite, a deusa grega do amor e do sexo. Nesse templo havia cerca de mil prostitutas cultuais que prestavam uma espécie de serviço litúrgico àquela divindade paga por meio da prostituição. A libertinagem e a promiscuidade prevaleciam na cidade de Corinto. Aquelas prostitutas desciam do templo para o cais, onde navios aportavam, e mantinham relações sexuais com os marinheiros que chegavam diariamente de todas as partes do mundo. Da cidade de Corinto se levantava o mau cheiro da prostituição e de toda sorte de degradação sexual. Lá em Corinto, também, ficava o maior monumento de Apoio, uma figura que expressava a beleza do corpo masculino e sugestionava o povo à prática do homossexualismo. Corinto era uma cidade profundamente marcada pela homossexualidade e Paulo testemunha que muitos membros da igreja haviam sido arrancados das garras do homossexualismo pelo poder do evangelho (6.9,10). Em segundo lugar, vejamos três níveis de degradação (5.9,10). Corinto era uma cidade marcada pelo adultério e até mesmo pela chantagem sexual dentro do casamento (7.3-5). A sensualidade desregrada era de certa forma o pano de fundo desse grave escândalo dentro da igreja. ♦♦♦ Há outro aspecto que quero ressaltar. Veja o que Paulo diz: “Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros; refiro-me, com isto, não propriamente aos impuros deste mundo, ou um pecado mais hipócrita, mais danoso, e mais condená­ vel. Quando um crente peca, está pecando contra o conhe­ cimento. O crente sabe que o pecado é errado, reprovado por Deus e danoso à saúde espiritual da igreja. Portanto, quando um crente se entrega ao pecado, o julgamento so­ bre ele será mais severo. A atitude errada da igreja em relação ao pecado (5.1,2,6) Paulo destaca quatro atitudes erradas em relação ao pecado. Em primeiro lugar, fazer concessão ao pecado (5.1). Duas coisas estão provocando tristeza no apóstolo Paulo. Primeiro é o fato da concessão ao pecado. Um membro da igreja che­ gou a ponto de cometer um pecado pior do que o pecado cometido no mundo. No entanto, a maior tristeza de Paulo foi a reação e a atitude da igreja em relação ao pecado do jovem incestuoso. Diz Paulo: “E, contudo, andais vós enso- berbecidos e não chegastes a lamentar, para que fosse tirado do vosso meio quem tamanho ultraje praticou?” (5.2). Em segundo lugar, não lamentar nem chorar pelo pecado (5.2). O grande problema que Paulo viu na igreja foi que os crentes não lamentaram o grave pecado de incesto cometido por esse moço. A palavra grega penthein, “lamentar” aqui é a palavra chorar o choro amargo de um funeral.87 Paulo está dizendo: Como vocês choram nos funerais, deveriam também chorar pelo pecado. Esse pecado deveria provocar em vocês uma dor tão aguda e tão forte quanto a dor que vocês enfrentam na hora do luto. Porém, em vez de chorar, a igreja estava ensoberbecida. Ela se avaliava e dava nota máxima a si mesma. Julgava-se uma igreja de mente aberta, onde as pessoas tinham plena liberdade e nenhuma espécie de restrição. Nada de imposições, nada de regras, nada de princípios e nada de fiscalizar a vida alheia, diziam eles. Hoje, também, nós só choramos nos funerais, mas nao derramamos nenhuma lágrima pelos escândalos e estragos que o pecado faz no meio da igreja. Em terceiro lugar, fica r ensoberbecido p elo pecado (5.2,6). O que estava acontecendo é que a igreja nao apenas tolerava o pecado, mas, também estava vaidosa por causa dele. Paulo reprova a igreja, dizendo: “Não é boa a vossa jactância” (5.6). Que coisa estranha nessa igreja! Ela não estava neutra nem indiferente em relação ao pecado, mas ensoberbecida e jactando-se por causa dele. A nossa sociedade, de modo semelhante à sociedade de Corinto, não tolera absolutos. Cada um quer viver a sua vida. Cada um é dono das suas decisões. Cada um faz suas escolhas. O mundo é plural. Nesse mundo, a disciplina está cada vez mais difícil. Você chama a atenção de um membro faltoso da igreja e ele diz: “Eu não quero que ninguém me incomode. Sou dono da minha vida e não permito que ninguém interfira nas minhas escolhas. Se vocês não estão satisfeitos com minha conduta aqui, eu vou para outra igreja”. E o pior, na outra igreja, esse membro faltoso, sem nenhum sinal de arrependimento, é recebido com festa! Em quarto lugar, não aplicar a disciplina (5.2). Paulo mostra à igreja que a concessão ao pecado é uma atitude errada. Em vez de estarem chorando e lamentando pelo pecado, eles estavam ensoberbecidos. Por causa da atitude errada da igreja, ela deixou de aplicar a disciplina ao membro faltoso. “[...] e não chegastes a lamentar, para que fosse tirado do vosso meio quem tamanho ultraje praticou?” (5.2). Sempre que a igreja tem uma visão equivocada do pecado, ela falha na aplicação da disciplina. O perigo do pecado na igreja (5.6) Qual é o perigo do pecado na igreja? Quero destacar duas coisas. Em primeiro lugar, a contaminação interna. Paulo diz: “Nao é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda?” (5.6). Paulo usa aqui a figura do fermento. Um pouco de fermento tem a capacidade de penetrar em toda a massa e fazer toda a massa crescer. O fermento penetra e influencia toda a massa. Paulo está dizendo que o pecado tem o mesmo efeito do fermento. A tolerância com o pecado dentro da igreja tem o mes­ mo efeito do fermento. Assim como o fermento, o pecado também vai penetrando, se enraizando, se infiltrando, in­ fluenciando e contaminando toda a massa. Às vezes, pensa­ mos o contrário. Uma laranja podre num saco de laranjas saudáveis pode apodrecê-las todas. Contudo, as laranjas saudáveis não poderão restaurar a laranja apodrecida. Se a questão do pecado não for tratada de maneira correta, esse pecado vai contaminar e fermentar toda a igreja. Paul diz que o pecado é sobremaneira maligno e ele pode contami­ nar toda a massa (Rm 7.13). Em segundo lugar, o enfraquecimento externo (5.7). Paulo diz: “Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado” (5.7). O que Paulo está dizendo? O que ele está dizendo é que aqueles irmãos convertidos em Cristo eram massa sem fermento. Portanto, eles deviam lançar fora o velho fermento que estava ameaçando a igreja. Por que é que a igreja deveria jogar fora o velho fermento? Porque quando a igreja tolera o pecado, ela perde a santidade, a autoridade e o poder. O pecado destrói o testemunho da igreja.
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