Baixe Fundamentos de Eletroquímica- A. R. Denaro- 1974 e outras Notas de estudo em PDF para Química, somente na Docsity! WININDOB1IT 30 SOLNINYONNI
FUNDAMENTOS DE
ELETROQUÍMICA
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FUNDAMENTOS. DE.
ELETROQUÍMICA
título original
ELEMENTARY ELECTROCHEMISTRY
a edição em língua inglesa foi publicada por —
BUTTERWORTH & CO (PUBLISHERS) LTD.
copyright (Q 1971 by BUTTERWORTH, Londres
Ê direitos reservados
para a lingua portuguesa pela
Editora Edgard Bliicher Ltda.
1974
É proibida a reprodução total ou parcial
por quaisquer meios
sem autorização escrita da editora
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São PauLo — SP — Brasi
Impresso no Brasil Printed in Brazil
CONTEÚDO
Introdução
Os primórdios da eletroquímica — Condutores eletrônicos c eletro-
líticos — Sistemas de unidades — As leis de Faraday da eletrólise —
Coulômetros
Condução cletrolítica iz
Resistividade e condutividade — Medida da condutância de cletró-.
litos — Constante da célula — Condutividade molar — Variação da con-
dutividade molar com a concentração — Teorias da ionização — Condu-
tividades molarcs-limite dos ions — Mobilidade iônica e condutância
iônica — Números de transporte — Determinação dos números de trans-
porte — Hidratação de íons — Números de transporte verdadeiros e
aparentes — Íons complexos Ê ( ARA
Equilibrios iônicos
A teoria de ácidos e bases de Lowry e Brónsted — Influência do solvente
sobre a força de ácidos c bases — O conceito de atividade — Constantes
de dissociação de ácidos e bases - Unidades das constantes de dis-
sociação — Auto-ionização de solventes — Relação entre as forças de
ácidos e bases conjugados — Ácidez e alcalinidade de soluções aquosas —
Neutralização é hidrólisc — Soluções-tampão — Teoria dos indicadores
ácido-base - A faixa de viragem dos indicadores — O uso de indica-
dores em titulações ácido-base — Produtos de solubilidade c solubilidades
Potenciais de eletrodo reversíveis
Semicélulas — Atividade de gases — Variação do potencial de cletrodo
com a atividade — Células cletroguímicas c reações na célula — Poten-
ciais de junção liquida — Medida da fem — Convenções de sinal — A
escala de hidrogênio de potenciais de eletrodo — Outros eletrodos de
referência — Relação entre potencial e atividade — Termodinâmica das
células — Aspectos termodinâmicos da convenção de sinais — Ativi-
dades iônicas médias — Células de concentração — Sistemas redox —
Potenciais-padrão e constantes de equilíbrio — Titulações redox —
Indicadores redox a
Aplicações das medidas de condutância
Determinação da condutividade molar-limite — Determinação da so-
lubilidade de um sal pouco solúvel — Determinação de constantes de
RR e AD PS a
32
s9
ei E
* indício
e rd -
dissociação — Determinação das constantes de hidrólise — Titulações
condutimétricas
6 Aplicações das medidas de fem
Determinação de produtos de solubilidade — Determinação de funções
termodinâmicas — Medidas de pH — Definição moderna de pH — Ele-
o trodos ion-seletivos — Titulações potenciométricas — Determinação dos
A números de transporte — Cocficientes médios de atividade iônica — De-
“ terminação dos coeficientes médios de atividade iônica — Determinação
dos potenciais de cletrodo-padrão — Determinação de constantes de
28 dissociação — Determinação do produto iônico da água
7 Eletrólise
Processos eletródicos — A dupla camada elétrica — O tratamento ciné-
tico de potenciais de eletrodo reversíveis — Sobretensão de ativação —
Medida do potencial de um eletrodo em funcionamento — Significado
da densidade de corrente de troca — Sobretensão de concentração —
Transporte na eletrólise — Correntes de difusão-limite — Voltagens de
decomposição e potenciais de neutralização — Polarografia — Titulações
amperométricas
Leituras complementares
Índice
PREFÁCIO
Destina-se este livro a estudantes que tenham uma noção apenas superficial
de eletroquimica, e pretende ser uma introdução útil a estudos mais aprofundados
desse assunto.
Nesta segunda edição, ampliames o último capítulo, para incfuir uma abor-
dagem mais quantitativa da cinética dos processos eletródicos,
Supomos que os conhecimentos de termodinâmica e de cinética química dos
leitores progridam, em outros cursos, paralelamente este estudo de eletroquímica.
Onde necessário, apresentamos no texto as equações termodinâmicas e cinéticas «
relacionadas a tópicos de eletroquímica. Apresentamos uma introdução qualita-
tiva do conceito de atividade, prevendo uma possível falta de conhecimento de 4
certos conceitos termodinâmicos pelos leitores,
Na presente edição, aproveitamos a oportunidade de converter as unidades 3
das grandezas físicas e sua nomenclatura às recomendadas pelo Sistema Intes-
nacional de Unidades (Systéme International &Unités) (SI). Como o sistema
internacional engloba a Convenção Internacional de Sinais de Potenciais de
Eletrodos, esta foi incluída no texto e não num apêndice, como na edição anterior.
Ao final do último capítulo, apresentamos sugestões para leituras posteriores. :
Mas os livros citados ainda não foram editedos com as unidades convertidas ao 4
sistema SL Achumos, contudo, que o estudante que pretende ampliar seus conhe- )
cimentos sobre eletroguímics com novas leituras já conheça de maneira salisfalória
os principios básicos da mesma, de modo que um problema como esse, de mudança
de sistemas de" unidades, não apresente maiores dificuldades.
121
AR.D.
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
OS PRIMÓRDIOS DA ELETROQUÍMICA
Nicholson e Carlisl: foram os primeiros a observar, em 1800, que, quando
dois fios inertes, por exemplo de platina, ligados aos pólos de uma célula voltaica
ou a uma bateria, eram imersos numa solução aquosa diluída de ácido sulfúrico,
uma corrente elétrica atravessava O circuito. Simultaneamente, desprendiam-se-
bolhas de hidrogênio num dos pólos, e bolhas de oxigênio no outro. Obviamente
estava ocorrendo algum processo de decomposição da solução, sob o efeito da
corrente elétrica. Com outros sistemas, foi passível observar efeitos semelhantes:
evolução de guses, deposição de materiul sobre os fios imersos na solução, ou
mesmo dissolução dos próprios fios. Todas essas situações são exemplos do fenô-
meno denominado eleróiise. j
Os primeiros estudos quantitativos sobre a eletrólise foram efetuados por
Faraday em 1833; ele foi o primeiro a empregar a nomenclatura ainda hoje em
uso. Os fios, ou eletrodos, que são mergulhados na solução, chamam-se ánudo
* cátodo, respectivamente. O ânodo pode ser definido como sendo o eletrodo no
qual a cletricidade negativa (elétrons) abandona a solução, e o cátodo como o
eletrodo no qual a eletricidade negativa entra na solução. Essas definições são
universais e se aplicam a qualquer situação. A solução que transporta a corrente
é chamada de eletrólico; a porção mais próxima ao ânodo é o anólito; c a porção
mais próxima do cátodo é o católito.
Para explicar a passagem da corrente elétrica através do eletrólio, Faraday
supôs que a corrente de eletricidade devia-se ao movimento de partículas dotadas
«ke cargas, que cle chamou de íons. Os íons que se dirigem para o ânodo são cha-
mados ânions, e os que se dirigem para o cátodo são chamados cátions.
Com essas definições, verifica-se que, se o cátodo for o eletrodo no qual a
carga negativa entra na solução, ele deve estar ligado a uma fonte de eletricidade
negativa. Isso que equivale a dizer que ele deve estar ligado ao pólo negativo de
uma bateria e terá, ele próprio, carga negativa. Os cátions que se movem em direção
do cátodo devem apresentar, portanto, cargas positivas, tal como as cargas for-
necidas pela bateria que atrai os ions aos eletrodos. Reciprocamente, os ânions
possuem cargas negativas. Ao alcançarem os eletrodos, admite-se que os íons
neutralizam suas cargas, formando átomos ou moléculas comuns.
CONDUTORES ELETRÔNICOS F ELETROLÍTICOS
Considerando uma eletrólise, deparamos com duas classes de condutores
“de eletricidade;
Condutores eletrônicos. São condutores nos quais não ocorre transferência
de matéria quando percorridos por uma corrente elétrica. Os fios que ligam os
obterem os valores reais da corrente em ampéres. No presente
los esse problema da maneira exposta a seguir.
uma quantidade física é igual ao produto de um número puro
e uma unidade, por exemplo,
c = 3,6 x 107º moldm”*
Essa equação pode ser rearranjada para dar
ui a variação do número de oxidação é 1 e, portanto, 96487C de eletricidade
iarão à formação de 1 mol de Fe(CN)”.
OULÔMETROS
Frequentemente é necessário saber-se qual a quantidade de eletricidade que
passou através de um circuito. Isso pode ser feito medindo-se a corrente que o
atravessa durante um tempo conhecido, mas esse método não é satisfatório,
c
=36x 10"º devido a variações da corrente. A aplicação das leis de Faraday leva a um método
moldm”* que resolve esse problema. Como a quantidade de qualquer substância depositada
ou ou dissolvida num eletrodo é proporcional à quantidade de eletricidade que passou
E =36 através dele, basta incluir no circuito uma célula eletrolítica e determinar a fração mM
1073 mol dm”?
Para evitar repetição do simbolo da unidade, é comum tabelarem-se os resultados.
na forma de números puros. Segue daí que uma coluna na qual o número puro
36 aparece como correspondendo a uma concentração de 3,6 x 107º mol dm”,
deve ter como título c/(107? moldm”?) As mesmas considerações são válidas
para os eixos de gráficos nos quais números puros são representados como pontos
ao longo dos eixos.
de reação que ocorreu durante a passagem da corrente. Tais dispositivos são v
chamados coulômetros. Existem muitos tipos, e os mais importantes são os men-
clonados a seguir.
O coulômetro de cobre
O coulômetro de cobre consiste num ânodo de cobre e num cátodo de cobre,
imersos em uma solução de sulfato de cobre, usualmente contendo ácido sul-
fúrico e álcool. Durante a passagem da corrente, o cobre passa para a solução,
& cobre metálico passa a ser depositado sobre o cátodo. O álcool existente na
solução inibe a oxidação do cobre recém-depositado no cátodo. O cátodo é pesado
antes e depois da eletrólise e, através do aumento de peso verificado, pode-se
calcular a quantidade de eletricidade que passou pelo cátodo.
O coulômetro de cobre é um instrumento resistente, de precisão moderada,
conveniente para medir quantidades de eletricidade de até 0,1 faraday.
O coulômetro de iodo
O coulômetro de iodo possui compartimentos separados para o ânodo e o
shtodo interligados por um tubo estreito, que impede difusão entre o anólito e
O católito. Os eletrodos são feitos de uma liga platina-irídio. O anólito é uma
solução concentrada de iodeto de potássio e o católito é uma solução-padrão
— de iodo em iodeto de potássio. O eletrólito que comunica os dois é uma solução
de iodeto de potássio a 10%.
Com a passagem de corrente, os íons iodeto torno do ânodo liberam
elétrons e se transformam em iodo e, no cátodo, o iodo já existente é reduzido
4 Íons iodeto pelos elétrons fornecidos pelo cátodo. A quantidade de eletricidade
que atravessa o sistema é calculada através da variação da concentração de iodo
em torno dos eletrodos.
O coulômetro de iodo tem maior precisão que o coulômetro de cobre e pode
medir, em certas circunstâncias quantidades de eletricidade baixas, como 25C,
com erro inferior a 0,1%.
AS LEIS DE FARADAY DA ELETRÓLISE
Os resultados das investigações de Faraday sobre o fenômeno da eletrólise
podem ser resumidos em suas duas leis para a eletrólise.
1. A quantidade de produto primário formado num eletrodo pela eletrólise
é diretamente proporcional à quantidade de eletricidade que passa pela solução.
2. As quantidades de diferentes produtos primários formados num eletrodo
pela mesma quantidade de eletricidade são proporcionais a suas massas moleculares
relativas, ou massas atômicas relativas, divididas pela variação de seu número
de oxidação durante o processo eletrolítico.
Segue-se da primeira lei, que uma quantidade constante de uma dada subs-
tância deposita-se ou dissolve-se num eletrodo por uma dada quantidade de
eletricidade. Da segunda lei, conclui-se que a quantidade de substância depositada
ou dissolvida num eletrodo pela ação de uma dada quantidade de eletricidade
é proporcional a M,/z (ou 4,/z), onde M, é a massa molecular relativa (A, é a
: massa atômica relativa) ce z a variação do número de oxidação associado ao
E processo eletrolítico. Assim, para a formação de 1/z mol de qualquer substância
é necessária uma mesma quantidade de eletricidade. Essa quantidade é igual a
: 96487 C. Percebe-se que a carga elétrica existente em um mol de um ion é igual
ao produto de seu número de oxidação pela constante de Faraday (F), que tem o
: valor de 96487 C mol”!
Essas afirmações se tornarão provavelmente mais claras considerando-se
dois exemplos. Na eletrólise de sulfato de cobre (II) entre eletrodos de cobre, ocorre
no cátodo uma deposição de cobre:
Cu?* + 2e — Cu.
A variação do número de oxidação do cobre nesse processo é 2 e, portanto, 96 487 C
de eletricidade depositarão 1/2 mol de cobre.
Na eletrólise, entre eletrodos de platina, de ferrociancto de potássio, ocorre
no ânodo a oxidação dos íons ferrocianeto a ferricianeto:
Fe(CNJ” — Fe(CN)” + e.
O coulômetro de gás
No coulômetro de gás, hidrogênio e oxigênio são gerados em eletrodos de
Platina, respectivamente por eletrólise de uma solução aquosa de eletrólitos apro-
priados. Mede-se o volume da quantidade total de gás, numa temperatura e pressão
conhecidas. Como pequena massa de gás ocupa um grande volume, o coulômetro
de gás é útil para medir quantidades de eletricidade muito pequena, até da ordém J
de 5C.
Re
Fundamentos de eletroquímica
O coulômeiro de prata
Esse é, provavelmente, o coulômetro mais preciso. O cátodo é um cadinho
de platina contendo uma solução de nitrato de prata puro. Durante a eletrólise,
prata metálica é depositada sobre o cadinho de platina; a diminuição de cletrólito
é compensada pela dissolução de um ânodo de prata suspenso na solução. O
ânodo é envolvido por um recipiente poroso que intercepta quaisquer partículas
sólidas que possam cair do ânodo, impedindo assim que estas se depositem no
cadinho de platina, O cadinho é pesado antes e depois da eletrólise, ea quantidade
de cletricidade é calculada a partir da massa de prata depositada.
Ê
CAPÍTULO 2
CONDUÇÃO ELETROLÍTICA
RESISTIVIDADE E CONDUTIVIDADE
A resistência (R) de qualquer condutor elétrico é proporcional a scu com-
primento (l) e inversamente proporcional à área de sua secção transversal (a),
Relia.
É, portanto, possível escrever
e
Ref (2-1)
onde p é uma constante de proporcionalidade conhecida como resistividade do
condutor. Como R é uma resistência, | um comprimento e a uma árca, vê-se, da .
Eq. (2-1), que p deve Ler como unidades as unidades de (resistência) (comprimento).
Por exemplo, um pedaço de cobre de 0,2m de comprimento e secção transversal
com área de 107º m? apresenta uma resistência de 3,45 x 1070. Da Eq. (2-1),
= Ro
at
e, substituindo os valores acima, teremos a resistividade do cobre dada por
2.345 x 1020 x 107%m?
Ps 2m )
p= 1,725 x 107º Qm.
ou
Na condução eletrolítica, estamos mais interessados na condutância, e não
na resistência; quanto melhor condutor for o material, mais baixa será sua resis-
tência e, portanto, a condutância é inversamente proporcional à resistência. Defi-
nimos a condutividade (x) como sendo o inverso da resistividade
x= jp. 2-2)
Dessa equação, concluímos que a unidade de condutividade é (resistência)"*
(comprimento! A Tab. 1 apresenta valores da condutividade para alguns
materiais.
A condutividade pode ser expressa em termos de resistência combinando-se
us Egs. (2-1) e (2-2), dando 7
t
a (2
R=U/
De acordo com a lei de Ohm,
e
| Figura |, Células de condutância
Fundamentos de eletroquímica
Material
Prata 633 x 10º
Cobre 5.80 x 10º
Cloreto de sódio fundido 33
KCI sq. 0,1 mol dm * 1,29 x 1072
NaOH ag. 0,1 mol dm”? 221 x 1072
CH,COOH aq, 0,1 mo! dm"? 520 x 10-*
Água 40 x 1078
Enxofre 25 x 10-16
(Segundo Handbook of Chemistry and Physics, 37º ed,
Chemical Rubber Publ, Co, 1955)
e, portanto, j
CORDA
ou
PULO
=p
I/a é à corrente por unidade de área da seção transversal. Esta é conhecida como
densidade de corrente, e representada pelo simbolo j. U/l é a queda de potencial
por unidade de comprimento, c é conhecida como gradiente de potencial, ou
intensidade de campo elétrico (E). Portanto
x=jE (2-4)
é a condutividade pode ser considerada como à corrente que passa através de
uma seção transversal unitária sob ação de gradiente de potencial unitário.
MEDIDA DA CONDUTÂNCIA DE ELETRÓLITOS
Na medida da condutância de um eletrólito, a propriedade determinada, na
prática, é a resistência, obtendo-se a condutividade através da Eq. (2-3).
A solução eletrolitica é colocada numa célula de condutância, que constitui
um ramo de um circuito tipo ponte de Wheatstone. A Fig 1 mostra dois exemplos
Figura 2. Circuito da ponte de Wheatstone
Condução eletrolítica
de células de condutância. São em geral recipientes de vidro contendo dois eletrodos.
montados a uma distância fixa um do outro, medindo-se a resistência do volume —
de solução contida entre estes eletrodos. Percebe-se assim por que usamos, ao |
medir a resistência de uma solução fracamente condutora, de preferência, eletrodos
de seção transversal de área grande, pouco afastados um do outro. Essa situação
reduzirá à resistência do eletrólito contido entre os dois eletrodos a um valor
suscetível de fácil medição [veja a Eq. (2-1)]. Com uma solução condutora mais
forte, os eletrodos poderão 'ser menores c mais afastados um do outro.
É impossivel usar corrente contínua ao medir a resistência de uma solução
eletrolítica, com eletrodos inertes, pois ocorreria eletrólise, acumulando-se os
produtos nos eletrodos c interferindo na medição, Por essa razão, emprega-se
corrente alternada com cerca de 1 (0 Hz, de modo que a pequena proporção
de eletrólise que ecorr em uma metade da célula é completamente compensada
pela que ocorre no semiciclo oposto. Para reduzir ao mínimo quaisquer inter-
ferências de outros efeitos residuais, usam-se, nas células de condutância, eletrodos
de platina platinizados. Esses cletrodos são eletrodos de platina sobre os quais
foi depositada eletroliticamente outra camada de platina, em um estado fina-
mente dividido, Nos últimos «nos foram feitas algumas medições precisas usando
corrente continua, mas nestes casos são necessários eletrodos especiais; o método
da corrente alternada é o método padrão, para uso geral.
A Fig. 2 representa o princípio de funcionamento do circuito da ponte de
Wheaistone; os quatro ramos da ponte são a célula de condutância, uma resis-
tência variável, R', e as dus parcelas do fio, xy e yz. À resistência R' é fixada em
um valor próximo ao da resistência da célula, e 2 ponte é balanceada movendo-se
um contato deslizante sobre o fia xz. O detetor no circuito é um fone de baixa
resistência, c o estado de equilibrio é indicado por um minimo de intensidade
do som no fone, Como empregamos corrente alternada, é necessário equilibrar
não somente as resistências dos ramos da ponte, mas também as capacitâncias.
Para tal, temos uma capacitância variável ligada em paralelo à resistência Rº.
Com capacitâncias balanceadas, a intensidade mínima do sinal no fone é detetada
mais facilmente.
Se o ponto de equilibrio estiver, por exemplo, em y, tal como na Fig 2, então
4 resistência R da célula será obtida pela expressão
RL”,
RO w
(2-5)
Os instrumentos empregados na prática são bem mais sofisticados que o
esquematizado na Fig. 2; nesses instrumentos, o ho xz é substituido por resistores
variáveis, O ponto de equilíbrio é frequentemente detetado por um “olho mágico”,
A condutência varia acentuadamente com a temperatura; portanto a célula
de condutância deve ser mantida sempre num termostato,
CONSTANTE DA CÉLULA
A condutividade de uma solução está relacionada a sua resistência, através
do Eq. (2-3). Em medidas de condutância, E pode ser tomada como distância entre
os eletrodos da célula c a como área dos eletrodos. Para uma dada célula, | e a
serão constantes, e I/a é conhecido como a constante da célula. A constante da
vélula pode ser medida diretamente, mas é mais comum deduzir seu valor, me-
alindo-se na célula a resistência de um eletrólito de resistividade conhecida com
16 Fundamentos de eletroquímica
ao produto das cargas c inversamente proporcional ao quadrado da distância
r entre elas,
or,
F dE
Para converter essa relação numa igualdade, introduz-se uma constante de pro-
porcionalidade (e) junto com um fator 4x, para racionalizar a equação
UM.
P = tam
Esse fator e é uma constante para um determinado meio e chama-se permitividade.
O valor de & para o ar é apenas cerca de 1/80 do valor para a água. Na água,
portanto, a força entre os íons é muito menor c, consequentemente, será preciso
um trabalho menor para afastá-los. Quando o cristal é colocado na água, os ions
tornam-se hidratados e o sistema perde alguma energia livre, suficiente para rea-
lizar o trabalho de separa os íons.
A teoria de Arrhenius da ionização, portanto, não explica a variação da
condutividade molar com a concentração, que se observa com eletrólitos fortes.
O trabalho que levou a uma cxplicação do comportamento de eletrólitos
fortes foi iniciado por Milner (1912). Milner calculou a distribuição de ions numa
solução de um eletrólito forte completamente dissociado. Uma contribuição
melhor foi a de Debye e Húckel (1923); a tcoria de Debye-Hiúckel é a base dos
modernos pontos de vista sobre eletrólitos fortes.
Considere a condutância de um cletrólito forte completamente dissociado
em solução, por exemplo, cloreto de sódio. Os íons de sódio e de cloreto não estarão
distribuídos aleatoriamente no solvente. Cada fon de sódio, tendo carga positiva,
tenderá a atrair para si os íons de clorcto, de carga negativa, e a repelir outros
íons de sódio. Essas forças eletrostáticas serão compensadas em grande parte pelo
movimento térmico dos íons, mas, no balanço final, cada ion de sódio estará cir-
cundado por uma nuvem iônica contendo mais ions de cloreto do que íons de
sódio. Anslogamente, cada íon de cloreto estará circundado por uma nuvem
iônica contendo mais jons de sódio do que íons de cloreto.
Suponhamos agora que uma corrente atravesse a solução e fixemos nossa
atenção num íon de sódio particular. Quando a corrente flui, o ion de sódio se
moverá em direção ao cátodo, c sua nuvem iônica se moverá em direção oposta.
A nuvem iônica original se romper, c uma nova se formará. Na prática, é neces-
sário um curto intervalo de tempo para essa operação. Esse intervalo é conhecido
como tempo de relaxação. Assim, antes da destruição da nuvem original, o ion
de sódio estará afastado do centro, c haverá como efeito total uma atração para
trás. À velocidade do ion de sódio será menor, Esse efeito é chamado efeito de
relaxação ou efeito de assimetria.
Uma vez que a nuvem iônica conterá moléculas de água, em virtude da
hidratação dos ions de gloreto, o ion de sódio estará sujeito a um crescente obs-
táculo a seu movimento, por causa das moléculas de solvente que se deslocam
em sentido oposto. Isso cria outra força que retarda o ion de sódio, diminuindo
ainda mais sua velocidade. Esse efeito é conhecido como efeito eletroforético.
À medida que diluímos a solução, os ions se espalham e se afastam mais e
a densidade da nuvem iônica diminui. Portanto as forças de atração interiônicas
são menores e a velocidade do ion aumenta. Em consequência, a carga é trans-
ferida com velocidade maior, dando origem a uma corrente maior, c a conduti-
Condução eletrolítica 17
vidade molar da solução aumenta. Essa variação continuará, até que, numa
diluição infinita, os íons estejam infinitamente afastados um do outro e os efeitos
interiônicos sejam nulos. Nessas condições, isto é, na diluição infinita, a condu-
tividade molar será um máximo.
Com base nesses argumentos, Debyc e Hiickcl puderam derivar uma expressão
que relacionasse a condutividade molar observada (A), numa determinada con-
centração (c), à condutividade molar em diluição infinita (A). Os cálculos foram
posteriormente modificados por Onsagcr, e o resultado é conhecido como equação
de Debye-Hiickel-Onsuger, cu, simplesmente equação de Onsager:
A=AS-(A+BA”) e, (2-12)
onde 4 e B são constantes que podem ser deduzidas teoricamente, c que depen-
dem da temperatura e da natureza do solvente. Essa equação é válida, com exatidão
satisfatória, para soluções de concentração de até 107? mol dm”?, e dá erros de
poucos por cento na faixa de concentrações de 1073 a 107? mol dm”?, para ele-
trólitos uni-univalentes. A equação de Onsager, portanto, representa a justificativa
teórica para a relação empírica de Kohlrausch.
Para soluções concentradas, e mesmo para soluções diluídas de alguns eletró-
litos multivalentes, contudo, a equação de Onsager falha. Uma das razões disso
foi apontada originalmente por Bjerrum, que mostrou que, à medida que a con-
contração dos íons aumenta, podem ocorrer pares de fons de carga oposta na
solução. Esses pares iônicos, de fons de cargas opostas, formam-se quando ions
de cargas opostas se aproximam o suficiente para serem' considerados como que
uma entidade única. A carga total dessa entidade única é zero quando são envol-
vidos dois ions de carga unitária, e, assim sendo, um par iônico não contribuirá
para a condutância da solução. Deve ser frisado, porém, que esses pares iônicos
não são estáveis, trocando continuamente de parceiros. A associação de ions em
eletrólitos fortes foi estudada principalmente por Davies e por Fuoss e Kraus.
Esses pesquisadores estabeleceram equações que explicam a condutância de ele-
trólitos fortes até concentrações de 10"! maldm”?,
Em vista da teoria de Debye-Húckel, poderíamos pensar que a atração inter-
iônica pudesse ter alguma importância na determinação da condutância de
eletrólitos fracos. Em soluções diluídas de eletrólitos fracos, porém, o número
de íons presentes é muito pequeno, e os efeitos interiônicos são desprezíveis. Com
soluções muito concentradas, a atração interiônica torna-se mais importante.
Já vimos que a relação A/A“ pode não ter significado algum como indicativa
de grau de ionização no caso de eletrólitos fortes, e devemos lembrar que essa
relação foi considerada como sendo igual ao grau de ionização no caso em que
as velocidades dos ions foram supostas constantes Sabemos agora que as velo-
cidades dos íons variam com a concentração, e que a variação na relação A/A”
é realmente uma medida da variação da velocidade dos íons com a concentração,
no caso de eletrólitos fortes. Por esse motivo, é preferível chamar a razão A/AS
de razão de condutância. Somente no caso de soluções diluídas de eletrólitos fracos,
» relação em questão pode ser considerada como sendo o grau de ionização.
CONDUTIVIDADES MOLARES-LIMITE DOS ÍONS
A equação de Onsager (2-12) ou a equação empírica de Kohlrausch (2-8)
constituem-se num método conveniente para determinar-se Aº para cletrólitos
fortes. Considerando os resultados dessas determinações para vários pares de
Fundamentos de eletroquimica
Tabela 5, Dados da condutâncis para vários ejetrólitos a 25ºC
Diferença Eletrólicos a Diferença
Bemêmo? Qemimol! (pares) moi! A Temimol
OR RR
DA Mano, iss 480
cu BRs DE um
(Segundo B,F. Conwey, Electrochemical Data, Amsterdam, Elsevier, 1952)
eletrólitos, deparamos com alguns fatos interessantes. Na Tab. 5, são mostrados
valores de A? para diversos pares de eletrólitos, c as diferenças entre eles.
Nota-se que a diferença entre os A” para os pares de sais da primeira coluna
da Tab. 5 são constantes. A única diferença que existe entre eles é o cátion, pois
cada par tem o mesmo ânion. As diferenças nos valores de Aº da quarta coluna
podem analogamente scr atribuídas a diferenças nos ânions. Essas obscrvações
levaram Kohlrausch a postular sua lei da migração iônica independente: “cada
ion contribui com uma quantidade definida para a condutividade molar-limite
total do eletrólito, independendo da natureza do outro ion”. Essa lei pode ser
escrita matematicamente como segue:
AP =AÇÃHAS, (2-13)
onde AF e AZ são as condutividades molares-limite do cátion c do ânion, res-
pectivamente. Experiências que serão descritas mais adiante podem ser empregadas
para determinar que fração da corrente total é transportada por um determinado
ion na eletrólise; com esses dados, é possivel calculsrem-se as condutividades
molares-limite de íons individuais. Alguns valores são dados na Tab. 6.
A condutividade molar de um ion é uma medida da quantidade de corrente
que ele pode transportar. Como a corrente é a velocidade de transferência de
carga elétrica, a comparação das condutividades molares de vários ions terá mais
significado se as condutividades molares usadas se referirem todas a jons com a
mesma carga. É, assim, mais significativo comparar A(Na') com A(1Mg?*), em
vez de compará-lo com A(Mg?*). Dessa maneira, podem ser comparadas as con-
dutividades molares de quantidades equivalentes de transportadores de carga.
Vemos, da Tab. 6, que
A“(Mg?") = 53,06 27! em? mol"?.
Tabela 6. Condutividades molares-limite a 25*C
AS
Cátion gs Ani
E 2 Temê moi so o
He 3498 “om
Na E ca
K* 752 NO;
Ag 6152 1503
Mg?* Cuscoo-
leu r
(Segundo BE Conway, Elecirochemical Data, Amsterdam, Elsevier, 1952)
Condução eletrolítica 19
Se, porém, um mol de íon magnésio se referisse à entidade Mg?*, teríamos
A“(Mg?*) = 106,1207! em? mol”.
Podemos constatar que são válidos os seguintes tipos de relações:
A(GMg?*) = 3A“(Mg?"),
AP(2CIT) = 2A*(CI”).
Mencionou-se anteriormente que é melhor comparar as condutividades
molares de quantidades de ions que possuem a mesma carga. O caso mais simples
é obviamente aquele no qual as quantidades de íons escolhidas possuem carga
unitária. Para se chegar à condutividade molar de tal quantidade de ion, o proce-
dimento mais simples é dividir a condutividade molar de uma determinada quan-
lidade qualquer dada de um ion, pelo número de oxidação dessa quantidade de
ion, quantidade que pode ser expressa como A,/z. Essa quantidade pode ser
denominada condutividade equivalente, mas deve-se frisar que, como o número
de oxidação de um ion é adimensional, a condutividade equivalente, tal como
definida, terá as mesmas dimensões que a condutividade molar. Um ou dois
exemplos ilustrarão esse aspecto.
A=(Ag*) = 61,920"“emímol"! (z=1)
AP(Ag”)/z = 61,920" cm? mol”!,
AS(SO2") = 1600"!cmimol-!, (z=2),
A(SO2-)z = 8082 !emêmol”*.
Outro aspecto relacionado a esse assunto refere-se uo cuidado que deve ser
tomado ao se aplicar a lei da migração independente dos íons, como equacionada
em (2-13) As condutividades molares iônicas devem referir-se à quantidade de
lons contida na quantidade de eletrólito especificada. Assim sendo, aplicando-se
a Eq. (2-13) ao cloreto de magnésio, por exemplo, podemos escrever,
ASMgCI;) = A“(GMg?*) + AP(CIT),
AT(AMEgCL,) = 53,06 + 76,34,
= 129400"! cm? mol”!
Por outro lado, podemos escrever
A“(MgCL;) = A“(Mg?*) + A(2CI"),
= A“(Mg?*) + 2A“(CI"), (2-14)
= 106,12 + 152,68,
= 2588007! cm? mol-!. j
Recomenda-se enunciar a lei da migração independente dos íons de uma
maneira mais geral que a da Eq. (2-13), para evitar a obrigatoriedade de definir
um mol de ion como a quantidade do mesmo contido em um mol de eletrólito.
Suponha que um mol de cletrólito forneça em solução v, moles de um cátion,
e v. moles de ânion:
(eletrólito) = v, (cátion) + v (ânion). (2-15)
Comparando as Egs. (2-14) e (2-15), veremos que a forma mais generalizada da
lei da migração independente dos íons é
AC =v,AS+VAS. (2-16)
Um dos principais empregos do conceito da migração independente dos
lons reside no fato de fornecer-se um método de calcular A” para eletrólitos fracos.
donde
Ro
20 Fundamentos de eletroquímica
Esses valores não podem ser determinados extrapolando-se um gráfico de A“
contra e, como no caso de eletrólitos fortes. Para o cálculo de A“ do ácido
acético. por exemplo, podemos escrever
A“(CH,COOH) = A“(H*) + AMCH,COO”),
49,8 + 40,997! cm? mol-!,
= 390707! em? mol”.
Esse assunto será discutido mais detalhadamente no Cap. 5.
MOBILIDADE IÔNICA E CONDUTÂNCIA IÔNICA
A condutância de um eletrólito é uma medida da corrente que ele pode con-
duzir, e corrente é a proporção de transferência da corrente elétrica. A carga é
conduzida através do cletrólito pelos íons e, portanto, a condutância de um ele-
trólito depende da quantidade ou proporção de carga que os ions podem conduzir.
Essa velocidade depende de três fatores:
1) 0 número de cargas de cada fon; obviamente, a um ion polivalente está
ussociada mais carga que a um lon univalente;
2) da concentração dos íons: quanto mais ions estiverem presentes, maior
a velocidade com que a carga pode ser transferida;
3) da velocidade dos ions; novamente, quanto mais rapidamente um ion se
desloca, maior a velocidade de transferência de carga.
A velocidade do íon, por sua vez, depende de quatro fatores, apresentados
a seguir.
(a) Intensidade do campo clétrico. A corrente passa através da solução em
virtude da carga que está sendo transferida entre os eletrodos. Uma diferença
de potencial é imprimida aos eletrodos, o que dá origem a um campo clétrico
ma solução. Uma partícula carregada situada num campo clétrico sofre a ação
de uma força proporcional à intensidade do campo elétrico.
(b) A viscosidade do solvente. Se a única força atuando sobre o ion fosse a
devida ao campo elétrico, o ion seria continuamente acelerado. O cfeito da vis-
cosidade do solvente, que aumenta com a velocidade, opõe-se à força da aceleração.
Depois de um tempo muito curto, o ion sc move com velocidade uniforme.
(c) Efeito de assimetria. Este já foi discutido anteriormente. O efeito retarda
o ion; sua intensidade depende da concentração.
(d) Efeito eletroforético. Também esse efeito já foi discutido, verificando-se
que ele retarda o ion porque aumenta a resistência da viscosidade do solvente;
a intensidade desse efeito também depende da concentração.
É necessário considerarmos agora a condutância de um eletrótito em termos
das velocidades dos ions. Considere uma solução de um cletrólito de concentração
c. Suponha ser a o grau de ionização, (Para eletrólitos fortes, a = 1, mas o termo
é aqui considerado de modo tal a permitir que esta argumentação seja igualmente
aplicável a eletrólitos fortes e fracos.) Sejam c, e c.. respectivamente, as con-
centrações do cátion e do ânion.
Seja E a intensidade do campo elétrico aplicado externamente; v. ep.
são, respectivamente, as velocidades do cátion e do ânion nesse campo, na con-
centração dada.
Considere um plano de superfície 4, localizado no interior da solução per-
pendicular ao sentido de fluxo da corrente, como mostrado na Fig 5. A qualquer
Condução eletrolítica
Ra
LE
tempo +, qualquer cátion originalmente localizado no plano A terá percorrido
uma distância v,t em direção ao cátodo. A quantidade de carga transferida pela
área 4 pelos cátions, num tempo t, será, portanto, igual à quantidade de carga
transportada pelos cátions confinados num bloco retangular de seção transversal
Ae comprimento st. O volume desse “bloco” de solução é v, t4, e a concentração
de cátions ne solução é c,. A quantidade de cátions contidos no “bloco” é,
assim, c,u,tA. A carga transportada por um mol de cátions é o produto do
número de oxidação, z,, c da constante de Faraday, F. A quantidade de carga
transferida pelos cátions através da área A, num tempo (, é igual a c,n,14zZ.F.
Analogamente, os ânions transportarão uma quantidade de carga igual a
cv tA|z]F, através da área 4, num tempo 7, Nesse caso, usamos o módulo do
número de oxidação, |. |. ou seja, consideramos apenas a magnitude do mesmo,
desprezando seu sinal. Isso porque estamos interessados na quantidade total de
eletricidade transferida, e não em quantidade de eletricidade positiva ou negativa
transportada.
A velocidade de transferência de carga pelos cátions e ânions, respectivamente,
é obtida dividindo-se as quantidades c,t,147 + Fe cv tA|2.|F, pelo tempo
1. A velocidade de transferência de carga é igual à corrente, e, designando-se a
corrente transportada pelo cátion c ânion, respectivamente, através da área A,
como I, e T.., teremos
Io =copz FA el =eo ela. (2-7)
a
Figura 5. Condução eletrolítica
A corrente total, [= [. +1.,é portanto,
I=eonaz,FA + ev fe FA. (2-18)
Se um mol de eletrólito fornece v, cátions c » ânions, teremos
Cc =vac ec mv dc
Substituindo na Eq. (2-18).
I=v.geu,z,FA+v aco je JA,
=acFA(vev,2. + v.0. | |
Como a densidade de corrente é j = I/A, teremos
j=acF(revez, + vo fe) (2-19)
Como os eletrólitos obedecem à lei de Ohm, as velocidades dos tons devem ser
proporcionais à intensidade do campo clétrico, de modo que
v,=u,E e v =u E (2-20)
onde wu, e u. são constantes de proporcionalidade c, respectivamente, as velo-
cidades do cátion c do ânion no campo elétrico de intensidade unitária, na con-
centração de eletrólito em questão. Os termos «, cw. são chamados de mobilidades
Fundamentos de elerroquímica
Figura 7. Célula de Hittorf
La Sh)
Na determinação de números de transporte pelo método de Hittorf é preferível
evitar sistemas que envolvam desprendimento de gases nos cletrodos, pois disso
pode resultur ngitação e misturu de diferentes partes da solução, Usualmente o
desprendimento de gases é evitado empregando-se, quando possível, eletrodos
constituídos pelo metal correspondente ao cúution do eletrólito, Nesses casos, o
ânodo se dissolve durante a eletrólise e, no cátodo, há deposição de material Um
sistema desse tipo leva a uma modificação no exame da Fig. 6.
Considere, por exemplo, a eletrólise de sulfato de cobre(II) entre eletrodos
de cobre.
Católito
Perda de Cu?! por Doutraleação . £ Cu?+
Ganho de Cu?* por migração = QL,/z,F de ué
Perda total de u2* = (1-1,)0/2F E Cut
Perda de SO2- por migração = Q: fr |? = sor.
Perda de cletrólito no católito E cuso,.
Anólito
Ganho de Cu?* por dissolução do ânodo E cur.
Perda de Cu?+ por migração = Qr.fr.P SE cut,
Ganho total de Cu?! = (| «h;:2F e Cuz
Ganho de SOZ” por migração = Qt Az |F a so”.
Ganho de eletrólito no anólito SE CusO,.
Condução eletrolítica 27.
Nesse caso, ao invés de haver uma perda de eletrólito em ambos os eletrólitos,
há um ganho de eletrólito no ânodo. Além disso, a variação em cada eletrodo se
relaciona ao número de transporte do ânion; o número de transporte do cátion
não pode ser determinado independentemente, mas deve scr calculado a partir
du relação
tri =1
Se a solução a analisar é uma solução de cloreto de sódio, é óbvio que os
eletrodos não podem ser constituídos por sódio. Com o emprego de cletrados
inertes, haverá desprendimento de gás hidrogênio no cátodo e de cloro no ânodo.
O desprendimento desses gases pode, ainda, ser evitado pelo uso de um ânodo
de prata c de um cátodo de prata revestido com cloreto de prata. No ânodo, o
cloro reage com a prata para formar cloreto de prata x, no cátodo, o hidrogênio
reduz o cloreto de prata a prata.
“ Métodos de fronseira móvel
Vimos, das Egs. (2-25) c (2-26) que há uma relação entre os números de trans-
porte e as velocidades dos ions. Portanto, se pudéssemos medir essas velocidades,
poderiamos calcular os números de transporte. Os métodos de fronteira móvel
de determinação do número de transporte se baseiam nesse princípio, que pode
ser explicado com auxílio de uma célula vertical (Fig. 8).
A célula contém uma solução de um eletrólito uni-univalente, MA (por
exemplo, KCI) numa concentração e, juntamente com duas outras soluções, cha-
madas de soluções indicadoras. Uma solução indicadora, M'A (por exemplo,
LiCI), contém um sal com um cátion diferente, mas com o mesmo ânion que a
solução em estudo. A outra solução indicadora, MA' (por exemplo, CH;COOK),
contérs um sul com o mesmo cátion que a solução em estudo, mas com um ânion -
diferente.
A solução MA é colocada entre as soluções indicadoras, de modo tal que a
solução mais densa ocupe o fundo da célula. Isso impede a mistura, e formam-se
“fronteiras” entre as soluções, em a c em b. A fronteira em a se deve exclusiva-
MA
of---
MA
as? +
Figura & Célula de [zoateita Figura 9, Aparelho de from.
móvel teira móvel autogênica
ia aa ie ta cd id cd atri
OP O
28 Fundamentos de eletroquímica
mente à diferença entre os cátions M e M, pois os ânions, nos dois lados da
fronteira, são idênticos. Analogamente, a fronteira cm b deve-se à diferença de
ânions, 4 e 4'.
Passando-se uma corrente, os cátions se dirigem para o cátodo e arrastarão
consigo, nessa direção, também a fronteira a. Os ânions migrarão em direção
ao ânodo, levando consigo, em direção ao ânodo, também a fronteira b. Para
que as fronteiras permaneçam perleitamente definidas durante a experiência, é
fundamental que o ion situado antes dz fronteira mova-se mais rapidamente que
o situado atrás da fronteira. Se não fosse assim, o fon mais distante poderia ultra-
passar o ion mais próximo, provocando mistura da solução, levando, assim, à
destruição da fronteira. As condições necessárias para formação de fronteiras
nítidas podem ser formuladas como segue.
Fronteira a: a velocidade de M deve ser maior que a velocidade de M'.
Fronteira b: a velocidade de 4 deve ser maior que a velocidade de 4º.
Se esse for o caso, a distância percorrida pela fronteira a num dado tempo
será proporcional à velocidade do cátion M, e a distância percorrida por b no
mesmo intervalo de tempo será proporcional à velocidade do ânion A
Suponha que, após certo tempo, a fronteira a tenha se deslocado até é e a
fronteira b até b. Então
adav, e bb.
Como
D e.
t=e—t— te,
teto. s,+o
teremos
aa bh
= € LE
aa + bb' ad + bb
Existem muitos exemplos de aparelhos que se prestam para experiências de
fronteira móvel. O aparelho de uso mais simples é provavelmente, aquele no qual
a Ironteira se forma automaticamente no início da experiência. Esse tipo de fron-
teira é chamado de fronteira autogênica. Um aparelho de fronteira móvel auto-
gênica é o ilustrado na Fig. 9. Consiste num estreito tubo vertical de área transversal
uniforme, com volume calibrado, Um ânodo de cobre ou cádmio é ligado à
extremidade inferior do tubo, ao passo que à extremidade superior é ligada a um
recipiente contendo um cátion adequado. Se a solução a estudar fosse uma solução
de cloreto de potássio, o cátodo seria provavelmente de prata, revestido por cloreto
de prata. Todo o aparelho é preenchido com a solução em estudo, e provoca-se
a passagem de corrente. O ânodo de cádmio se dissolve, para formar cloreto de
cádmio, que funciona como solução indicadora. À fronteira entre o cloreto de
potássio e o cloreto de cádmio é, assim, gerada automaticamente na superficie
do ânodo, logo que a corrente é ligada; durante o decurso da experiência, a fron-
teira se move, subindo pelo tubo vertical.
Suponha que a fronteira se mova através de um volume V num tempo t, e
que, durante esse intervalo de tempo. a corrente seja mantida constante num
valor 1. Durante o lempo £, uma quantidade de carga It atravessará qualquer
ponto do circuito. A fração dessa quantidade de eletricidade transportada pelo
cátion é igual a seu número de transporte, t, . Portanto uma carga It, passará
por qualquer ponto do aparelho. Como a carga possuida pelo cátion é z,F, a
quantidade de cátion necessária para transportar a carga em questão é Itt,/z, F.
Condução eletrolítica 29
Se a concentração do cátion na solução for c,, então o cátion atravessará um
volume Jt,/z,Fc, num tempo t. Portanto
lt,
“ze,
BERNA
7
HIDRATAÇÃO DE ÍONS
Já mencionamos antes que a maioria dos íons sofre hidratação em solução
aquosa; medidas do número de transporte contribuíram para comprovar essa
suposição. Essas medidas foram empregadas para se caleularem as condutividades
molarcs-limite dos íons individuais, através da Eq. (2-26); essas condutâncias
constituem uma medida das velocidades com que os íons se movem, As condu-
tividades molares-limite dos ions de três dos metais alcalinos (Tab. 7) mostram
um aspecto interessante.
Tabela 7. Condutividades molares-limite a 25ºC
RE ur Na” E
ATIGTE em? mol! 36,69 E Tas
O jon de lítio é o menor e o mais leve desses três íons, sendo que tamanho e
O peso aumentam para o sódio e mais para o potássio. Seria, pois, de se esperar
que o íon de lítio migrasse mais rapidamente e que tivesse a condutância mais
clevada desses três ions. Mas, na prática, verifica-se exatamente o contrário.
Para explicar essa discrepância, Bredig sugeriu que, de um modo geral, os
ions são hidratados e, quando o ion se move, todo o complexo hidratado é que
realmente migra. Se o íon de lítio for mais hidratado que o jon de sódio, e este
mais que o ton de potássio, a discrepância nas velocidades poderá ser explicada
pela diferença em tamanho dos complexos como um todo.
Nernst sugeriu que, se incluirmos numa célula do tipo Hittorf uma substância
inerte que não migre sob a influência de um campo elétrico, então os ions con-
dutores carregarão consigo alguma água, c a concentração da substância inerte
deverá variar. Medindo-se a variação de concentração da substância inerte, é
possível calcular a quantidade de água transportada pelos íons.
Experiências desse tipo foram cfctuadas por Washburn, usando sacarose e
rafinose como substâncias inertes; as concentrações foram medidas com um pola-
rimetro. Dessa maneira, só é possível medir valores relativos de hidratação; mas,
se estipularmos que o próton é hidratado por uma molécula de água, então as
hidratações relativas dos três íons alcalinos terão os valores mostrados na Tab. 8.
Vê-se que o fon de lítio é bem mais hidratado que o íon de sódio, e que este
é mais hidratado que o jon de potássio. Esses fatos explicam satisfatoriamente
a ordem de condutância desses ions.
A ordem de hidratação dos íons alcalinos, como apresentada na Tab. 8, não
surpreenderá nem um pouco se considerarmos como poderia ocorrer a hidratação.
Tabela 8. Hidratação relativa de cátions
H Ê Na XE
30 : Fundamentos de eletroguímica
fa) (bj +
Figura 10. Molécula de água Figura 11. Interação ion-dipolo
A molécula de água não é linear, havendo um ângulo de 104,5 graus entre as duas
ligações hidrogênio-oxigênio, como mostrado na Fig. 10(a). Ao átomo de oxigênio
se associam mais elétrons que aos dois átomos de hidrogênio e pode-se considerar
a molécula atuando como dipolo [Fig. 10(bi]. Íons da solução podem exercer
uma força de atração em uma ou em outra extremidade do dipolo, conforme sc
trate de um cátion ou de um ânion. A Fig 11 ilustra a hidratação de um cátion
por meio dessa interação fon-dipolo.
O número de dipolos que são atraídos dessa mancira dependerá da força
do campo elétrico na superficie do íon. Esta, por sua vez, dependerá do raio do
ion. Quanto menor for um ton, mais próxima da supcrfícic estará a carga central,
tanto maior será o campo elétrico e tanto maior a força de atração exercida
sobre os dipolos (no caso, moléculas de água). Portanto, como o lítio é o menor
dos íons dos metais alcalinos, é de se esperar que cle apresente o maior grau de
hidratação.
Esse não é o único processo de hidratação de ions. Em alguns íons poliva-
lentes, a atração exercida sobre as moléculas de água é tão grande, como con-
segiiência da carga aumentada dos íons, que a água está tão lirmemente ligada
que pode ser considerada como coordenada no ion.
NÚMEROS DE TRANSPORTE VERDADEIROS E APARENTES
A determinação dos números de transporte pelo método de Hittorf depende
de uma variação da concentração do eletrólito produzida pelas reações no eletrodo
e pela migração dos íons. Se considerarmos o fato de serem os íons hidratados
e carregarem com eles algum solvente, veremos que esse fator afetará também
us variações de concentração que ocorrerão, Se não considerarmos a hidratação
ao calcularmos os números de transporte a partir de variações de concentração,
os números obtidos serão apenas aparentes, havendo necessidade de uma correção
“para se chegar aos mimeros de transporte verdadeiros. Obviamente, quanto maior
a concentração dos ions, maior quantidade de solvente é arrastada, e os fatores
de correção crescem com 'o aumento da concentração. Em soluções diluídas,
contudo, a correção a ser feita é desprezível.
ÍONS COMPLEXOS
Muitas vezes o número de transporte de um ion apresenta um valor negativo,
ou um valor maior do que a unidade, como, por exemplo, no caso do iodeto de
cádmio. Na Tab. 9, apresentamos resultados para esse sal em várias concentrações.
Condução eletrolítica 3a
Tabela 9. Valores de t, e 1. pata soluções de iodeto de cádmio
eimoldm* OM 005 02 05 10 20
[A 044 036 0,17 0 0,12 022
4 0,56 0,64 0,83 10 1,12 1,22
À medida que a concentração aumenta, o número de transporte do ion cádmio
decresce até zero, tornando-se depois negativo. Tais resultados podem ser atribuídos
à formação de íons complexos. [ons de cádmio e ions de iodeto se combinam pura
formar um íon complexo, que pode provavelmente ser representado por [CdL,)?”,
Cd?* + 417 =[Cdi,]*”.
Como esse ion complexo é um ânion, ele migrará em direção ao ânodo, trans-
portando, portanto, o cádmio para o ânodo c não para O cátodo. A concentração
do íon complexo aumenta com o aumento da concentração da solução e, em con-
sequência, quantidades cada vez maiores de cádmio são transportadas para O
ânodo, so invés de serem transportadas para o cátodo. Quando o cletrólito atings
uma concentração de 0,5 moldm 3, a quantidade de chdmio que se dirige ao
ânodo, sob a forma de íon complexo, é igual à que se dirige ao cátodo, na forma
de ion simples. Em concentrações ainda maiores, haverá formação de grande
quantidade de ion complexo, de modo que a quantidade de cádmio que migra
pura o ânodo ultrapasst a que se dirige ao cátodo; como conseqiência, o número
de transporte para o íon de cádmio torna-se negativo. Como a soma dos números
de transporte do ânion e do cátiom é igusl a um, o número de transporte do ion
de iodeto deverá ser maior que um.
3% Fundamentos de eletroquímica
diretamente em lugar das atividades relativas. A equação-limite de Debye-Hiickel
nos possibilita calcular os limites de concentração abaixo das quais se justifica
o emprego das concentrações em lugar das atividades relativas,
Vamos supor que, com valores de coeficientes de atividade iônica situados
entre 0,95 e 1,00, possamos considerar as atividades dos íons como sendo idênticas
a suas concentrações. Consideremos agora uma solução 0,1 moldm”* de ácido
acético, aquosa, a 25ºC. A Tab. 3 mostra que o grau de dissociação do ácido
acético nessas condições é de 0,01331, o que significa que as concentrações dos
ions de hidrogênio e de acetato serão de (0,1 x 0,01331) mol dm”?. A força iônica
da solução é dada por
AomeZh- + Cpo Ze )
onde os simbolos H* e Ac” significam íons de hidrogênio c de acetato, respectiva-
mente. Portanto
1 40,1 x 0,01331 x 12) + (0,1 x 0,01331 x 13),
= 0,001331 mol dm”*
O coeficiente de atividade para os íons de hidrogênio, ou para os íons de acetato,
será dado pela Eq. (3-2),
log Yy+ ==0,5123. JT,
0,51 x 12 x 000133],
0,0186,
de onde a
log ya. = L9BI4,
e
Yur = 0,958.
Analogamente, o coeficiente de atividade do ion de acetato tembém terá o valor
de 0,958. Uma concentração de ácido acético de 0.1 mol dm”? será, portanto,
O limite superior que permite o emprego de concentrações iônicas em lugar de
atividades iônicas; o mesmo será válido para outros Eletróiitoa fracos com forças
semelhantes às do ácido acético.
Se considerarmos um eletrólito forte, tal como o ácido clorídrico, que, em
solução aquosa, encontra-se completamente dissociado, verificaremos logo que a
concentração dos ions será igual à do ácido, com um grau de interação iônica
conseqiientemente maior. Nesse caso, é de se esperar que o limite superior para
empregar concentrações em lugar de atividades seja bem menor do que para
eletrólitos fracos. Suponhamos uma solução aquosa a 25*C de ácido clorídrico
de concentração 0,001 moldm”*. As concentrações dos ions hidrônio e cloreto
serão iguais a 0,001 mol dm”*, pois a dissociação é completa. A força iónica da
solução é dada por
1 = Aenezho + Casé),
= H[(0,001 x 12) + (0,001 x 1º)],
= 0,001 moldm”*.
O coeficiente de atividade dos íons de hidrogênio é dado por
log Ya. = 05123. /T,
=-0,51 x 12 x “0,001,
=—0,0161
“ Equilíbrios iônicos 37
e, portanto,
log yu. = 19839
vue = 0964.
O coeficiente de atividade dos íons de cloreto será também de 0,964, Como esses
valores situam-se dentro dos limites iniciais de 0,95 a 1,00 anteriormente esti-
e
, pulados, o limite superior da concentração de um elétrolito forte que permite
considerar as concentrações iônicas em vez de atividades iônicas é cerca de
0,001 mol dm”*.
Em soluções de eletrólitos fracos, estarão presentes moléculas não-ionizadas
de soluto, e essas moléculas estarão sujeitas a forças intermoleculares do tipo
das forças de van der Waals. A rigor, deveriamos usar atividades para particulas
não-ionizadas bem como para íons. As forças intermoleculares entre partículas
neutras, porém, são muito mais fracas que as forças cletrostáticas entre ions; em
consegiência, os coeficientes de atividade de espécies neutras não sc afastam muito
da unidade.
Como regra geral para soluções de eletrólitos fracos, podemos dizer que, se
os coeficientes de atividade iônica podem ser tomados como iguais à unidade,
com muito mais razão os coeficientes de atividade de moléculas de soluto neutras
podem ser consideradas como sendo iguais a um.
Estas últimas sofrem alguma interação molecular, o mesmo acontecendo
com as moléculas neutras de solvente. No caso do solvente, entretanto, a atividade
relativa usualmente se relaciona à fração molar do solvente na solução, através
da relação
a= fx, (3-4)
onde x é a fração molar do solvente, dada por
E tis K
Cn +, 8)
sendo n, a quantidade de solvente c n, a quantidade de soluto na solução. Quando
o sistema é fconstituido por solvente puro, n, = 0 e x = |, Como não haverá
interações entre as moléculas de solvente e o soluto, nessas condições, o coeficiente
de atividade apresenta valor unitário e a atividade relativa do solvente é igual
a sua fração molar. Assim sendo, a atividade relativa do solvente puro é igual
à unidade. Quando uma solução é tão diluída que os coeficientes de atividade das
várias espécies de soluto podem ser consideradas iguais a um, a solução se apro-
xima de solvente puro, e a atividade desse solvente no sistema pode ser tomada
como unitária, com erro desprezível.
CONSTANTES DE DISSOCIAÇÃO DE ÁCIDOS E BASES
Quando um ácido HA é dissolvido em água, estabelece-se, o seguinte equi-
librio:
HA + H,0=H,0'+A”.
Aplicando-se a lei do equilibrio, é mais correto usar atividades relativas em vez
de concentrações; teremos então
Gg X a
e “ga X Go
= constante, (3-6)
38 Fundamentos de eletroquímica
O símbolo H” representa o próton hidratado. Como usamos atividades relativas,
a constante é uma constante verdadeira.
Se a solução for diluída, poderemos considerar a atividade relativa da água
igual a um, e escrever
d+ X d-
ga
K, é chamada de constante de dissociação termodinâmica!” do ácido trata-se de
uma constante válida para soluções nas quais a fração molar do solvente tem
valores bem próximos de um.
A Eq. (3-7) pode ser escrita de outra forma:
LEE
[Ha] É
8-7
(3-8)
onde os termos entre colchetes representam concentrações. Se a solução for sufi-
cientemente diluída, os coeficientes de atividade podem ser considerados iguais
a um, com um erro desprezivel, de modo que podemos escrever
BART r, e
Fregiientemente o membro esquerdo da Eq. (3-9) é considerado igual a k,,
chamada constante de dissociação clássica. Esta não é verdadeiramente uma cons-
tante, pois varia levemente com a concentração. Se limitarmos nossas considerações
a soluções diluídas, poderemos empregar a Eg. (3-9) sem introduzir erros apreciáveis,
A constante de dissociação clássica k, é idêntica à constante ds lei da diluição
de Ostwald [Eq. (2-11)] e, tendo-se em vista as aproximações feitas para chegarmos
à Eg (3-9), é digno da nota salientar a constância dos dados pers o ácido acético,
na quarta coluna da Tab. 3. A constância da expressão da lei da diluição é um
tanto acidental. À medida que a concentração aumenta, os coeficientes de atividade,
que são omitidos na lei da diluição, decrescem; isso daria valores de k decrescentes
com o aumento da concentração. Contudo os valores de x, que foram usados para
calcular k, foram obtidos a partir de medidas de condutância, com a suposição
de que as velocidades dos íons não variam com a variação de concentração.
Sabemos agora que isso não é verdade, e que as velocidades dos ions diminuem
com o aumento da concentração, de modo que os valores de x empregados eram
demasiados pequenos. Esse fato explica a omissão dos coeficientes de atividade;
a constância de k deve-se, pois, a dois erros que se cancelam mutuamente. Ambos
os erros são muito pequenos em soluções diluídas.
Uma situação semelhante à existente para ácidos é observada para as bases.
Se uma base B for dissolvida em água, estabelece-se o seguinte equilíbrio:
B+H,0=BH* + HO”.
Aplicando-se a lei do equilíbrio,
Gr X Gon
= constante. HO
ag X Go
incluímos o termo “termodinâmico” porque a atividade é um conceito termodiná-
mico. Para informações mais detalhadas sobre atividades c coeficientes de atividade, suge-
rimos consultar um texto de termodinâmica
Equilibrios iônicos 39
Admitindo a solução suficientemente diluída para considerar iguais a um a ati-
vidade relativa da água e os coeficientes de atividade das diferentes espécies de
ions, a Eg. (3-10) se reduz a
(er =k 8 K, 11)
onde k, e K, são es constantes de dissociação clássica e termodinâmica, res-
pectivamente, da base B.
Essas constantes de dissociação de ácidos e bases são úteis para indicar a
força de ácidos e bases. Quanto maior a força de um ácido ou de uma base, maior
será o grau de dissociação, e maior a constante de dissociação.
Na Tab. 10, apresentamos as constantes de dissociação de alguns ácidos
e bases em água.
Tabela 10. Constantes de dissociação de ácidos e bases em água a 25'€
Ácido K, Base K,
Acético 1,75 x 107 Amônia 1,77 x 1073
Monccloroacético 140 x 103 Etilamina 4,66 x 1074
Propiônico 1,34 x 107! Dietilamina 1,00 x 1072
Fórmico 177 x 100% Trietilamina SA x 1074
Benzóico 63 x 107º Anilima ACI:
(Segundo B. E. Convay, Electrochemical Data, Amsterdam, Elsevier, 1952)
É interessante observar como o solvente afeta a força de um ácido. A cons-
tante de dissociação do ácido benzóico em água é 6,3 x 1073; num solvente
constituido de 20%, de metanol c 80% de água, a constante será 1,9 x 1075,
Ácidos polibásicos terão uma constante de dissociação para cada estágio
da dissociação, o mesmo valendo para bases poliácidas. Por exemplo, o ácido
fosfórico se dissocia em três etapas, atribuindo-se a cada ctapa uma constante
de dissociação:
H,PO, + H,0=H,0' + H;POj K, =7,11 x 103,
H;PO, + H,O=H,0' + HPOI” K, =634 x 1074,
HPO;" + H,0=H,0* +POI” K,=473x 10-82,
Verificamos que estes equilíbrios mostram que H,PO, é um ácido cuja base
conjugade é H,PO7: que H,POZ pode comportar-se como um ácido que dá
origem a base conjugada HPOZ”, que, por sua vez, pode comportar-se como
ácido e dar origem à base conjugada POj”.
As constantes de dissociação de ácidos e bases variam com a temperatura,
e seus valores devem, por isso, ser acompanhados sempre pela indicação da tem-
peratura para a qual são válidas.
UNIDADES DAS CONSTANTES DE DISSOCIAÇÃO
Atividades termodinâmicas são adimensionais e, se considerarmos a constante
de dissociação termodinâmica de um ácido HA como sendo dada por
K, = Se Xp,
“ Ina
40 Fundamentos de elerroquímica
será fácil compreender que as constantes de dissociação termodinâmicas serão
também adimensionais. Contudo a constante de dissociação clássica é dada por
k = LHSIIAS]
2º [HA]
e, como as concentrações possuem unidades, frequentemente (mol dm*), é claro
que a constante de dissociação clássica terá dimensões, dependendo do número
de espécies envolvidas no equilibrio.
Essas obscrvações são válidas para quaisquer constantes de equilibrio, e
podem constituir um meio de identificar se são constantes termodinâmicas ou
clássicas.
AUTO-IONIZAÇÃO DE SOLVENTES
Independentemente de sua pureza, muitos solventes apresentam pequena
condutância elétrica. Atribui-se esse fato a fons que surgem das moléculas de
solvente por meio de um processo de sulo-ionização. Por exemplo, amônia liquida,
fluoreto de hidrogênio líquido « água apresentam esse fenômeno:
NH, + NH, =NH; + NH;,
HF +HF &H,Ft+F”,
H,0 - H,0=H,0* + OH-.
ização de um solvente envolve transferência de um próton,
como nos casos vistos, ela é chamada Ireguentemente de autoprotólise. Consi-
derundo-se um solvente genérico HX, esses equilíbrios podem ser representados por
XH + XH= XH; — Xo.
Aplicando-s: a lei do equilíbrio,
Gxyi X Gy-
= constante.
Qua
Como o grau de ionização é pequeno, podemos considerar a atividade relativa
do solvente não-ionizado como sendo igual a um e escrever +
Gym; X dy = Kyo, (32-12)
onde K, é uma constante conhecida como produto iônico do solvente. Como a
concentração dos ions é muito baixa, suas atividades relativas são frequentemente
consideradas iguais às suas concentrações c a Eq. (3-12) pode ser escrita
[XHIIXT] = K
No caso particular do solvente água, o produto iônico é representado por K,.
de modo que
[H'] [OH] = K,. (32-13)
onde H* simboliza o próton hidratado.
O produto iônico K, foi determinado por medidas de condutância rigorosas,
feitas em água extremamente pura (conhecida como “água de condutividade”),
tendo-se encontrado o valor de 107! a 25ºC,
RELAÇÃO ENTRE AS FORÇAS DE ÁCIDOS E BASES CONJUGADOS
Considere a interação de um ácido HA com um solvente anfiprótico, tal
como água
HA + H,0=H,0* + A”;
Equilíbrios iônicos at
AT éa base conjugada do ácido HA e pode, por sua parte, reagir com o solvente:
A- + H,OSHA + 0H”.
A constante de dissociação do ácido HA é
[HI LAT]
K =
ea constante de dissociação da base conjugada, AT, é
gs [HA] [0H]
REP RIIpAA
Dessas duas expressões,
— LH") LAT] [HAJ[OHT] us s
e = tu"çom
e, portanto,
KK, = K,. (3-14)
Esse resultado implica que as forças de um ácido c uma base conjugados, num
mesmo solvente, devem apresentar uma razão inversa um cm relação ao outro.
Quanto mais forte o ácido, isto é, quanto maior K,, tanto menor deverá ser K,,
isto é, tanto mais fraca deverá ser a base, conjugada, para verificar-se a Eq. (3-14).
Estabelecida essa equação, é comum frequentemente se fazer uso apenas das
constantes de dissociação dos ácidos. Podemos obter informações sobre a força
dá base mencionando « constante de dissuciação de seu ácido conjugado, desde
que seja conhecido o produto iônico do solvente.
ACIDEZ E ALCALINIDADE DE SOLUÇÕES AQUOSAS
Numa amostra de água pura, os ions de hidrogênio c os íons de hidróxido
se formam a partir das moléculas de solvente:
H,O + H,0=H,0* + HO”,
A concentração dos íons hidrônio deve ser igual à concentração dos ions de
hidróxido, e diz-se que a água é neutra. Como [H*] = [OH”] teremos, da
Eq. (3-13),
[H*]= [0H] = /K, = 1071 = 10-? mol dm-2.
Portanto, numa solução neutra a 25ºC, a concentração de ions de hidrônio é
igual a 16"? mol dm=?. Se a concentração de íons de hidrônio for maior do que
107 mol dm 3, a solução serê ácida; se for menor que 10? mol dm”, a solução
será alcalina.
Uma escala prática de acidez e alcelinidade é obtida por meio da definição
de pH; o pH é o logaritmo decimal do inverso da atividade do íon de hidrogênio:
1
pH=log — = loga.
Que
Na maioria dos casos, é suficiente considerar-se a atividade do fon de hidrogênio
como sendo igual à concentração do ion de hidrogênio, e escrever
pH =-log[H*]. (3-15)
46 Fundamentos de eletroquímica
Novamente o ion BH' é o ácido conjugado da base B c a reação de hidrólise
pode ser encarada como a dissociação do ácido BH'. Se tomarmos, por exemplo,
o sal cloreto de anilinio, C)H;NH,CI, como um exemplo de sal de um ácido forte,
HCl, é de uma base fraca, C;HSNH,, a constante K, da Eq. (3-21) poderá ser
chamada indistintamente de constante de hidrólise do cloreto de anilínio, ou,
designada K,. de constante de dissociação ácida do íon de anilínio, C;H,NHS -
Na reação de hidrólise, podemos ver que [B] = [H*], de modo que a cons-
tante de hidrólise pode ser escrita na forma
= EE,
* [BH
“Se ocorrer reduzida proporção de hidrólise (K, < 1072) a concentrução dos
ions de BH* não será muito menor que a concentração dos ions do sal, e, cha-
mando esta de c, teremos
Hop
K «EP,
ou
LH] = Ke.
Sabemos, da Eq. (3-21) que K, — K,/K, é, portanto, teremos
(uº)= (FE
VK,
Escrevendo sob a forma logarítmica esta última expressão,
log [H*] = Hog K, -Hog K, + Hoge,
pH = !pK,-!pK,-Sogc. (3-22)
No caso de um sal de ácido e base fracos, ambas us reações de hidrólise ocorrerão
A +H,O=HA+0H",
BH' +H,0=B+ H,0*.
Considerando-se unitária a atividade da água, as constantes de equilíbrio K, e
K,, para a primeira e segunda reações, respectivamente, são dadas por
[HA] [0H7] [BJ[H'
K="59— e Km =
' 1 a]
Quando somamos as duas reações, para representar a hidrólise total que se veri-
fica, teremos
ou
A-+BH* + 2H,0=H,0* + 0H + HA +B,
ca constante de equilibrio dessa reação será
[HJ [ON ICHATEB] pp
TA) [BH] sã
HATE]
“TA JBHO Kk,
Como K,, K, e K, são constante, a expressão
[HA] (B)
[AI [BH
ou
Equilíbrios iônicos 47
deve também ser uma constante: ela é chamada constante de hidrólise do sal.
Assim sendo,
KkK,;
k= i 13-23)
K, é a constante de dissociação da base A”. que está relacionada a K,, constante
de dissociação de seu ácido conjugado HA, através da Eq. (3-14):
K, = KJK,.
Também K,, constante de dissociação do ácido BH”, relaciona-se à constante
de dissociação da base conjugada B, K,,
K, = KJK,.
Portanti
ortanto E KK,
hi KKK,
Ko
K= EK, (3-24)
O cálculo do pH de um sal de ácido fraco e base fraca é mais complicado,
mas, se introduzirmos algumas simplificações, poderemos chegar a valores apro-
ximados, com certa facilidade. Suponha que seja c a concentração do sal, c que
o ácido c a base originais tinham forças semelhantes. Nesse caso particular, as
duas reações de hidrólise ocorrem paralelas, numa mesma proporção, de modo
que podemos dizer que [HA] <= [B]. Além disso, se ocorrer pouca hidrólise
(K, < 1072) a concentração dos íons BH* e a concentração dos fons A” não
serão muito menores que a concentração do sal. Estabelecemos assim uma segunda
aproximação: [BH']=[A"]=c A constante de hidrólise
[HA] [B]
poderá ser escrita [BHTJ[A"]
[HA
Ka = SL,
de onde
[HA] cy 2:25)
A constante de dissociação do ácido original, K,. é
= LEI IAT
1 Fem THA]
e, portanto, [HA]
[ua] = UE ! pe,
Recordando que [A”] = c, teremos
[MA] = [NTE
e, substituindo na Eq. (3-25),
dC,
Eip-=r
48 Fundamentos de eletroquímica
ou
Essa expressão pode ser escrita na forma logaritmica:
H =4pK, + 2pk, -ipk,. 13-26)
A Eq. (3-26) mostra que o pH da solução independe da concentração do sal, mas
é preciso lembrar que isso só scrá válido se o ácido c a base originais tiverem
forças semelhantes e se a hidrólise não ocorrer em grau muito acentuado.
SOLUÇÕES-TAMPÃO
Soluções aquosas tanto de cloreto de sódio como de acetato de amônio têm
plI em torno de 7. O cloreto de sódio é um sal de ácido e base fortes; não há
hidrólise e a solução final será neutra. O acetato de amônio é sal de ácido e base
fracos, de forças semelhantes (K, = 1,75 x 1075; K, = 1,77 x 1075); nessas cir-
cunstâncias, a Eq. (3-26) prevê uma solução final bastante próxima da neutralidade.
Se adicionarmos | cm? de ácido cloridrico, 0,1 mol&m”*, a 1 dm? de solução
de cloreto de sódio, o pH irá variar de 7 a 4 (isto é aumenta mil vezes u concen-
tração de ions de hidrogênio). Adicionando-s: 1 cm? de ácido clorídrico de con
centração 0,1 mol dm”3, a 1 dm? de solução de acetato de amônio, o pH pratica-
mente não se altera. Essa resistência a variações do pH durante a adição de ácido
ou de álcali é conhecida como ação Lumponunte (ou ação-tampão), e soluções
que apresentam esse comportamento são chamadas de soluções-tampão.
Soluções-tampão quase sempre contém um ácido fraco e um de scus sais
com uma base forte, ou, então, contêm uma base fraca c um de scus sais de ácido
forte. As soluções são empregadas sobretudo quando é necessário resistir variações
de pH, ou para funcionarem como soluções de pH conhecido.
Se uma solução-tampão for uma mislura de ácido fraco e de seu sal de base
forte, a ação tamponante ocorrerá da seguinte maneira: ao adicionarmos ions
de hidrogênio, estes são removidos por meio de combinação com o ânion do sal,
para formar ácido não-ionizado,
HO + A >HA + H,0.
Se adicionarmos ions de hidróxido, estes serão removidos pela reação com o
ácido livre, com formação de mais sal,
OH" + HA>A + H,0.
No caso de uma solução-tampão constituida por uma base fraca e um de
seus sais, os jons de hidrogênio serão removidos por uma combinação direta com
a base livre, com formação de sal,
H,0' + B>BH* + H,0.
Os fons de hidróxido são removidos por uma combinação com o cátion do sal,
formando-se a base não-ioni ,
OH" + BH“ > B+4 H,0.
Considere uma solução-tampão formada por um ácido fraco « um de seus
sais. A constante de dissociação do ácido é dada por:
= HA,
““ THA
Equilibrios iônicos 49
O termo HA se refere à concentração de ácido não-dissociado, mas, se o ácido
for fraco, uma fração muito pequena se mostrará ionizada, de modo que podemos
considerar [HA] = [ácido), onde [ácido] é a concentração total de ácido na
solução-tampão. Analogamente, a concentração de ions A” provenientes da
dissociação do ácido será desprezível se comparada com a concentração de íons
A- provenientes do sal, totalmente dissociado. E, portanto, [A”] = [sal]. Subs-
tituindo-se essas duas aproximações na expressão para a constante de dissociação,
teremos
[sat]
=[H*
K. = [HI do
ES x [icido],
mo
Escrevendo na forma logarítmica,
[ácido]
log [H*] = log K, + lo
E e [H*] = log E sal]
[sal] 2
pH = pk, + log-=—— [ácido] (3-27)
A Fa. (3-27) é frequentemente chamada de equação de Henderson. À fórmula
correspondente para uma solução-tampão formada por uma base fraca e um
seu sal, pode ser obtida a partir da expressão para a constante de dissociação
du base:
— [BHT][OHT],
CRE)
Fazendo-se as aproximações [BH*] = [sal] e [B] = [basc],
- ron) (ss
E ne [0H7] [base]
tom] = 4, al,
de onde se deriva a
Bal,
pOH =pK, + log
(3-28)
[base]
Lembrando que pH + pOH = pK,, a Eq. (3-28) pode também ser escrita de
outra forma:
[sal], E
[base] (Ei
Devido às aproximações que foram feitas na derivação das equações de Henderson
[(3-27), (3-28) e (3-29]], estas apresentam resultados satisfatórios apenas no inter-
valo de pH de 4 a 10, Como a maior parte das aplicações práticas de soluções-
-tampão caem nesse intervalo, essas equações são adequadas à maior parte dos
casos. Para soluções-tampão eficientes em pH <4 ou > 10 devem ser usadas
equações bem mais complicadas.
A capacidade tamponante de uma solução pode scr encarada como sendo
a quantidade de ácido ou álcali que ela pode absorver sem sofrer alteração de
PH =pk, -pK,-log
50 Fundamentos de eletroquímica
PH. Verifica-se que as soluções-tampão apresentam sua maior capacidade ou
eficiência quando a relação [sal]/[ácido] ou a relação [sal]/[base] forem iguais
a um. À medida que cssas duas relações se afastam da unidade, a capacidade
diminui. Verificou-se, além disso. que um efeito tamponante satisfatório só pode
ser obtido quando essas relações se situam entre 10 e 1/10. Assim sendo, o inter-
valo útil para emprego de soluções-tampão situa-se entre
pH=PK,41 Tabela 11, Soluções-tampão e seus intervalos de emprego
EE RE a25º'C
pOH = pk,+1 Solução Intervalo
pl. DDD >>»
Ácido acético; acetato de sódio 17-56
Fosfato diácido de potássio; fosfato
monoácido dz sódio 53-80
Ácido bó:
6,7-9,2
Alguns exemplos de soluções-tampão e seus intervalos de emprego encontram-se
na Tab. 11.
TEORIA DOS INDICADORES ÁCIDO-BASE
Indicadores para titulações ácido-base são invariavelmente ácidos orgânicos
fracos ou bases orgânicas fracas, cuja forma não-ionizada existe usualmente sob
duas formas tautoméricas em equilibrio. Dessas duas formas tautoméricas, apenas
uma sofre ionização em grau apreciável. Os dois tautomérios apresentam cores
diferentes; a cor do ion formada pela ionização de um dos tautomérios é u mesma
da cor do tautomério que lhe deu origem.
Considerando-se um indicador de caráter ácido c chamando-se o mesmo
de HIn, onde In representa a parte orgânica da molécula, poderemos escrever
os equilíbrios, conforme segue:
Hin,=HIn,=>H* + la;,
cor A cor B
onde os índices | e 2 representam as duas formas tautômeras da parte orgânica
da molécula. Numa solução ácida, existe grande concentração de ions de hidro-
gênio, o que deslocará o equilibrio para a esquerda. A cor A é, portanto, a cor
desse indicador em meio ácido. Em solução alcalina, os ions de hidrogênio pro-
duzidos pelo indicador serão consumidos por uma combinação com os ions de
hidróxido, e o equilíbrio precedente se deslocará bastante para a direita. À cor B
será a cor desse indicador em uma solução alcalina. A fenolftaleina pode servir como
um exemplo desse tipo de indicador; os equilíbrios serão, nesse caso, especificos:
00. 00 09
tias
CooH
A
Incolor Vermelho
|
=0
Equilibrios iônicos 51
Para que uma substância possa ser um bom indicador, a concentração de
HIn, deve scr muito pequena, comparada com a de HIn,. Dessa mancira, a cor
de uma solução alcalina deve-se quase exclusivamente aos íons In7, formados
em qualquer proporção somente em soluções alcalinas. Além disso, a cor em meio
ácido, devida a Hln,, não será mascarada pela cor de solução alcalina, devida a
Hin,. tautomério também formado em meio ácido,
A constante de equilíbrio para o equilíbrio tautomérico será
K = [Ha],
[Hin,]
É permitido, nesse caso, o emprego de concentrações, já que a concentração do
indicador na solução é quase sempre muito pequena, e as atividades relativas
podem ser consideradas idênticas às concentrações. Como já foi mencionado, a
constante K deve ser muito pequena para que a substância funcione como bom
indicador e dê um final de titulação nítido.
A constante de equilibrio para a ionização será
a UH*)n7]
*= Tamo)
CHin,] [0] [1n;] [ut] Ein] E
=fEo] (ha) [Hi] Gsm
KK
onde K, é conhecida como constante do indicador.
Em: solução, « concentração de HIn, scrá desprezivel, e a quantidade total
de indicador na forma de cor B pode ser considerada como sendo igual à con-
centração dos ions In; . A quantidade total de indicador na forma de cor À será
igual à concentração de HIn,. Portanto, se x for u fração do indicador que está
na forma correspondente à cor alcalina (B, nesse caso), teremos
xo [Inj] e (l-x)o [Hin,).
Substituindo na Eg. (3-30),
+ UH (3:31)
Essa equação é conhecida como eguação do indicador.
Considerando-se um indicador de caráter de base fraca, e chamando esse
indicador de InOH, os equilíbrios poderão ser escritos
In,0H=In,0H In; + OH”,
cor A co E
onde os indices 1 c 2 novamente representam as duas formas tautoméricas da
parte orgânica da molécula. Em soluções ácidas, o íons de hidrogênio presentes
em grande número se combinarão com os íons de hidróxido formados pela
ionização do indicador; o equilibrio anterior estará deslocado fortemente para
a direita. O indicador em meio ácido apresentará, portanto, a cor B. Em solução
alcalina, o indicador terá a cor 4, como concluiremos após considerações análogas.
A constante de equilíbrio para o equilíbrio tautomérico será:
[in,0H],
= [im 0H)º
ade
Só Fundamentos de eletroquimica
Quando titulamos um ácido forte com uma base fraca (K, = 10%), o pH
do ponto de equivalência será de 5,15 c o pH da solução varia rapidamente nas
proximidades do ponto de equivalência: de 4,1 a 6,3. É possivel obter-se um final
de titulação nítido usando-se indicadores como vermelho de metila, que tem faixa
de viragem dentro desses limites.
Com um ácido forte e uma base muita fraca (K, = 107º), não há mudança mais
ou menos acentuada de pH e não é possivel executar-se uma titulação satisfatória.
Se titularmos um ácido fraco (K, = 1075 com uma base fraca de K, = 107*,
a Eq. (3-26) mostra que o pH do ponto de equivalência deve ser 7. A curva de
neutralização desse caso é obtida fazendo-se a curva do ácido fraco da Fig 12(a)
encontrar-se com a curva da basc fraca da Fig 12(b), o que se dará em plH7. No
diagrama, as linhas pontilhadas indicam essa situação. Também aqui não ocorre
variação acentuada de pH, e uma titulação satisfatória é impossível.
PRODUTOS DE SOLUBILIDADE E SOLUBILIDADES
Quando uma solução saturada de um eletrólito está em contato com o soluto
sólido, existe um equilibrio entre os íons na solução e no sólido. No caso de um
eletrólito uni-univalente, esse equilíbrio pode ser representado por
MAIS) =M* + AT
e a constante de equilibrio, K,, é dada por
Ke a OMR OAS,
Ima
Como dissemos, a atividade relativa de um líquido puro é unitária. Da mesma
mancira, a atividade relativa de um sólido puro é tomada como unitária, c a
expressão anterior sc transforma em
K = age a (3:37)
A constante K, é conhecida como produto de solubilidade.
A Pq. (3-37) significa que o produto das atividades relativas dos fons M*
e A” em uma solução saturada de MA deve ser constante para uma dada tempe-
ratura. Esse principio é válido quer os ions provenham exclusivamente da subs-
tância MA, quer haja contribuição a suas atividades relativas por outros eletrólitos
presentes na solução.
A Eq. (3-37) pode ser escrita em termos de concentrações e coeficientes de
atividade,
Ks= (cueca) x Queda (3-38)
O principio do produto de solubilidade, expresso pelas Egs. (3-37) e (3-38) aplica-se
u qualquer solução suturada, mas tem importância prática apenas nos casos de
sais pouco solúveis.
Considere uma solução saturada de um sal pouco solúvel, MA, em água,
estando a solução em contato com o soluto sólido puro. Como o sal é pouco
solúvel, a solução será extremamente diluída, e os coeficientes de atividade podem
ser considerados unitários. Nessas condições, a Eq. (3-38) reduz-se simplesmente a
K = cura (3.39)
Se o sal, na solução, estiver completamente dissociado, cu- = ca- = Cua, onde
Cma é à concentração do sal na solução saturada. A Eq. (3-29) pode então ser
escrita
K, = cum,
Equilíbrios iônicos By
E ema = Ky
A solubilidade do sal é portanto, dada pela raiz quadrada do produto de solubi-
lidade. Devemos ter muito cuidado ao aplicar esse principio. Ek se baseia na
suposição de que o sal está completamente dissociado na solução. Se os ions M*
se associarem com os íons A”, eles formam como que moléculas não-ionizadas
de MA na solução, c a solubilidade verdadeira do sal será maior do que a dada
pelo produto de solubilidade.
Precisamos agora examinar o efeito de eletrólitos adicionados a uma solução
saturada de um sal MA, pouco solúvel, em contato com MA sólido. Suponha,
num primeiro exemplo, que adicionamos à solução um eletrólito que não contém
nem M* nem A”, Um cletrólito desse tipo é chamado muitas vezes de eletrólito
indiferente, em relação a MA. O efeito da adição desse sal será um aumento na
força iônica da solução. Este ocasionará um decréscimo nos coeficientes de ativi-
dade iônica, yy. é ya- e. para que a Eq. (3-38) permaneça válida, as concentrações
dos ions M* e A” deverão aumentar. A adição de um eletrólito indiferente aumen-
tarê inicialmente a solubilidade do sal, MA. Sabemos, contudo, que à medida
que a força iônica aumenta, os coeficientes de atividade iônica decrescem a um
minimo para, em seguida, aumentarem novamente. Chegaremos então, com uma
concentração muito alta de cletrólito indiferente, a um ponto em que a solubili-
dade pode diminuir. Contudo, na maioria dos casos práticos, esse estágio não
é atingido.
Quando o eletrólito adicionado tem um ion comum ao sal, MA, a situação
é diferente. Suponha que o eletrólito adicionado contenha o íon A”. À medida
que aumenta a força iônica da solução, o termo dos coeficientes de atividade da
Eq. (3:38) (vw Ya) diminui. Entretanto esse decréscimo será compensado
pelo aumento do termo c, -, devido aos fons A” adicionados. Assim sendo, para
que a equação continue válida, o termo cy. deve diminuir, o que se reflete na
diminuição da solubilidade do sal, MA. Esse efeito é chamado muitas vezes de
“efeito do ion comum”.
Devemos lembrar que, com concentrações muito clevadas do cletrólito adicio-
nado, o termo (yy- ' va-) aumentará, favorecendo o aumento apresentado pelo
termo c,-. Em consequência, será mais acentuada a diminuição de cy-. e da
solubilidade do sal, MA. Mas, na maioria dos casos de interesse prático, não
alcançamos essa situação.
Além da influência dos fatores discutidos sobre a Eq. (3-38) há outro efeito
que pode influenciar a solubilidade do sal, MA. Se qualquer dos íons adicionados
pode formar um complexo com os íons M* ou A”, teremos como resultado um
aumento da solubilidade. Por exemplo, se for cloreto de prata o sal em questão,
o equilíbrio, na ausência de outros sais adicionados, será
ABCIs) => 4g' + CI
Se adicionarmos ions cianeto à solução, verificaremos que os ions de ciancto
reagem com os íons de Ag", formando ions de argentocianeto:
Ag” + 2CN” — Ag(CN);
Essa reação perturba o primeiro equilibrio, provocando a dissolução de maior
quantidade de cloreto de prata. A complexação leva a um aumento da solubilidade,
quer o eletrólito adicionado tenha ou não um fon comum. Os efeitos da com-
plexação podem ser observados com concentrações moderadas, inferiores às
necessárias para alterar o efeito dos coeficientes de atividade.
58 Fundamentos de eletroquímica
Os efeitos dos sais adicionados, nos limites das condições de interesse prático,
podem ser resumidos como segue.
Quando o cletrólito adicionado for indiferente, a solubilidade do sal sumen-
tará com concentração crescente de eletrólito adicionado. Esse efeito pode ser
aumentado pela formação de complexos.
Quando o eletrólito adicionado possuir um ion comum, a solubilidade do
sal inicialmente diminuirá, à medida que aumentar a concentração de eletrólito
adicionado. Esse decréscimo passa por um mínimo c, cm concentrações mode-
radas, observa-se um aumento de solubilidade, devido à formação de complexos.
CAPÍTULO 4
POTENCIAIS DE ELETRODO REVERSÍVEIS
SEMICÉLULAS
Quando um metal é parcialmente imerso numa solução de seus ions, obser-
va-se a ocorrência de uma separação de cargas c o estabelecimento de uma dife-
rença de potencial entre o metal e a solução. Alguns dos átomos do metal perdem
elétrons, passando para a solução como fons do metal,
MSM +e
Esse processo levaria à acumulação dos elétrons liberados no meta], que passaria
a ter carga elétrica negativa em relação à solução.
Analogamente, alguas dos iors do metal em solução abstrairão elétrons
do metal, depositando-se como átomos metálicos,
Mt +e-M
Esse processo levaria a um déficit de elétrons no metal, que, assim, passaria a
ter carga positiva em relação à solução.
Sc u primeira reação ocorresse mais rapidamente que a segunda, o metul
adquiriria carga global negativa, o que tornaria mais difícil aos íons positivos
abandonarem o metal, retardando assim a velocidade da reação, A carga negativa
do metal poderia atrair os ions metálicos positivos em solução, acelerando a
segunda reação. Dessa maneira, us velocidades das duas reações se igualam,
estabelecendo-se um equilíbrio.
Se a segunda reação ocorresse inicialmente com maior velocidade, o metal
passaria a ter uma carga global positiva, acelerando, dessa mancira, a primeira
reação e retardando a segunda, levando novamente uo estabelecimento de um
equilibrio,
O equilíbrio entre essas duas reações pode ser representado por
MEM! +e,
dependendo o potencial final adquirido pelo metal da posição do equilibrio, que,
por sus vez, depende das atividades relativas das espécies envolvidas. Esse potencial
é conhecido como potencial de eletrodo do metal; se o sistema se encontrar em
equilíbrio termodinâmico, o potencial é conhecido como potencial de eletrodo
reversível do metal!”
O conceito de potencial de eletrodo não se limita a metais; é possível conceber
eletrodos nos quais há gases em equilíbrio com ions em solução. Por exemplo,
é possivel borbulhar cloro em torno de um eletrodo de platina platinizada imerso
numa solução contendo íons cloreto. O gás cloro é absorvido pela superfície da
“Potenciais de eletrodo nada mais são do que fem de pilhas nas quais o potencial de
um dos eletrodos é arbitrariamente considerado como tendo valor zero. Ás vezes, chamam-se
“fem do eletrodo” ou “fem da semipilha”. (N. do T)
x
60 Fundamentos de eletroquímica
platina, e passa a participar de um equilíbrio com os íons cloreto da solução:
1CI, +e=CI.
Nesse caso, os elétrons são abstraídos do eletrodo de platina, ou acumulados
no eletrodo de platina; esse eletrodo inerte não participa quimicamente da reação,
mas atua simplesmente como condutor elétrico.
Nota-se que, nos exemplos apresentados, os equilíbrios envolvem duas reações
opostas, uma reação de oxidação e uma reação de redução. É evidente que deve
ser assim, pois as reações envolvem perda ou ganho de elétrons. Os equilíbrios,
portanto, existem entre as formas oxidada c reduzida do sistema que funciona
como eletrodo. Num eletrodo metálico, o próprio metal é a forma reduzida (que
possui mais elétrons) c os íons metálicos são a forma oxidada (que possui menos
elétrons) No caso do elétrodo de cloro, o gás cloro é a forma oxidada, e os ions
de cloreto a forma reduzida.
Tais sistemas são conhecidos como semicélulas, e os potenciais por eles desen-
volvidos são conhecidos geralmente como potenciais do eletrodos dos sistemas
envolvidos. Hã, contudo, um outro tipo de semicélula, na qual tanto a lorma
oxidada como a reduzida do sistema existem em solução. Um exemplo desse tipo
é a semivélula constituida por um elétrodo de platina imerso numa solução con-
tendo ions ferroso e férrico. O equilíbrio será, nesse caso,
Ft +eFe*,
O eletrodo de platina forncos e recebe os elétrons, tal como no caso do cletrodo
de cloro. Embora não haja diferenças fundamentais entre esse último tipo de
semicélula c os exemplos dados anteriormente, os eletrodos nos quais as formas
oxidada e reduzida se encontram em solução foram chamados de eletrodos redox,
e seu potencial de potencial redox.
Já vimos que a intensidade do potencial desenvolvido por uma semicélula,
seja potencial de eletrodo ou potencial redox, dependerá das atividades das espécies,
envolvidas no equilibrio, Antes de considerarmos a relação entre potencial e
atividade, será vantajoso comentarmos um pouco mais o conceito de atividade.
ATIVIDADE DE GASES
No Cap. 3 mostramos que a atividade relativa de liquidos puros e de sólidos
puros é considerada igual à unidade. Essas atividades relativas de que tratamos
são, na realidade, as atividades das substâncias em relação a sua atividade em
um cstado-padrão escolhido arbitrariamente. O estado-padrão escolhido normal-
mente para sólidos e líquidos é a forma que é estável a 25ºC c a 1 atm de pressão.
Num sentido mais restrito, a atividade relativa de sólidos c liquidos é unitária
somente nessas condições. Mas, na maioria das situações encontradas na eletro-
química, é suficientemente preciso considerar as atividades relativas de sólidos
e líquidos puros como sendo iguais a um, e, a não ser que seja especificado de
outra maneira, consideramos esse valor.
(Como daqui por diante usaremos com muita frequência o termo atividade
relativa, adotaremos o costume corrente de abreviar o termo para atividade sim-
plesmente, subentendendo-se que se trata de atividade relativa).
No caso de gases, a siluação é ligeiramente diferente. Sabe-se que a atividade
é encarada como uma forma “corrigida” de concentração que levou em consi-
deração a interação iônica ou molecular. Para gases, muitas vezes é conveniente
medir-se a concentração através de sua pressão parcial. A atividade de um gás
pode, então, ser considerada como uma pressão parcial corrigida, onde a correção
é necessária devido ao comportamento de gás não-ideal do gás em questão. Se.
o gás tiver comportamento de gás ideal, a atividade será igual à pressão parcial
(medida em atmosferas). Em pressões baixas, digamos abaixo de poucas atmos-
feras, a maioria dos gases tem cárater bastante próximo a um gás ideal e, nessas
condições, é adequado considerar-se a atividade do gás igual à sua pressão parcial.
Muitas observações cletroquímicas são feitas a pressões de latm e, se a pressão
parcial de um gás qualquer envolvido num eletrodo de gás for igual à pressão
atmosférica, teremos precisão suficiente, se considerarmos a atividade como sendo
unitária.
Resumindo, podemos considerar a atividade de um sólido puro igual a um,
ea atividade de um gás será igual à pressão parcial do mesmo, em pressões infe-
riores a umas poucas atmosferas.
Quando uma substância tem atividade unitária, diz-se que cla se encontra
no estado-padrão de atividade unitária. Esse termo vem da termodinâmica, c
sua origem não nos interessa aqui; mas precisamos verificar como ele se aplica
a eletrodos.
Se todos os componentes envolvidos no equilíbrio em uma semicélula tiverem
atividades iguais a um, todos estarão no estado-padrão, e diz-se que a célula é
um cletrodo-padrão. Por exemplo, se um fragmento de zinco puro é imerso numa
solução de íons de zinco com atividade um, ele constitui um eletrodo-padrão
de zinco. Se, numa semicélula de cloro, o gás cloro tiver pressão parcial de 1 atm
e os ions cloreto na solução tiverem atividade unitária, o sistema constituirá um
eletrodo-padrão de cloro.
Os potenciais dos eletrodos em seus estados-padrão são chamados de
potenciais de eletrodo-padrão dos sistemas. O potenciul de um eletrodo-padrão
de zinco, por exemplo, é chamado potencial de eletrodo-padrão do zinco. E
VARIAÇÃO DO POTENCIAL DE ELETRODO COM A ATIVIDADE
Já frisamos que, num eletrodo, existes um equilibrio entre as formas oxidada
e reduzida do sistema. A Eq. (4-1) dá a relação entre potencial de eletrodo e ativi-
dades das formas oxidada e reduzida do sistema que constitui o cletrodo:
S fatividade da forma oxidada) |
(atividade da forma reduzida)
Nessa equação, E é o Braco de eletrodo, E* o potencial de eletrodo-padrão,
R« constante dos gases, Ta temperatura, z o número de elétrons envolvidos na
reação e F u constante de Faraday.
A Eq. (4-1) será deduzida mais adiante. No momento, será suficiente verificar
como ela sc aplica às diferentes semicélulas. O potencial do sistema redox ferroso-
-férrico será dado por
Es E + (4-1)
E=E+— : (42)
ara
Nesse caso, E será chamado de potencial redox e E” será o potencial redox-padrão,
pois ambas as formas, « oxidada e a reduzida existem em solução. Também se
observa facilmente que z = 1, pois apenas um elétron é envolvido na reação do
eletrodo:
Fe** + ex=Fe2t,
O EE NOM
66 Fundamentos de eletroquímica
uni-univalente de atividades a, c q,, o potencial da junção líquida, E,, é dado por
RT, a
E m=(t. to In a (4-8)
onde t, e t. são os números de transporte do cátion e do ânion, respectivamente.
Com o emprego de uma ponte salina, podemos considerar a maior parte da
difusão como devida ao eletrólito da ponte, sendo aplicável a Eq. (4-8). A razão
da escolha de cloreto de potássio ou nitrato de amônio como eletrólitos adequados
para pontes salinas reside no fato de terem os ions de ambos os sais números de
transporte muito próximos de 0,5. Observando a Eq. (4-8), veremos que, nesse
caso, o potencial de junção líquida é quase nulo. Substituímos, portanto, um
potencial de junção líquida por dois, que atuam em sentidos opostos e com valores
muito próximos de zero. e
& célula ilustrada na Fig 15 é usualmente representada pelo esquema
Zn/Z0SO,/ /CuSO,/Cu
(a barra dupla no meio do diagrama representa a climinação de qualquer potencial
de junção líquida).
MEDIDA DA FEM
A fem de células cletroquimicas é medida comparando-se a fem da célula
em questão com a fem de uma célula de referência ou de comparação. Essas células
de referência são chamadas geralmente de células-padrão. O termo “padrão”
não se refere, nesse caso, ao estado-padrão; significa apenas que a fem da célula
já está determinada rigorosamente. A célula-padrão mais usada é a célula de Weston
(Fig. 16) Ela tem uma fem de 1,01859 V a 20 ºC; essa voltagem permanece cons-
tante durante um periodo de vários anos.
4 fem a scr medida é compurada com a fem da célula de Weston, usando-se
O circuito de um potenciômetro (Fig 17) Um fio AB é ligado a um acumulador
ou outra fonte de corrente contínua. O fio suporta uma corrente pequena é, se
os pinos de ligação tiverem baixa resistência, a queda de voltagem ao longo do
comprimento do fio será igual à diferença de potencial entre as placas do acumu-
lador. Como sc vê no esquema, o pólo positivo deste é ligado a A c o pólo nega-
tivo é ligado a B. Sc a diferença de potencial do acumulador for 2 V, c ponto 4
será 2V mais positivo que o ponto B. O fio deve ser uniforme, de modo que um
ponto situado a meia-distância de 4 e B seja 1 V negativo em relação a Ac IV
positivo em relação a B.
Solução
saturada
de sulfato
de cádmio
Figura 16 Célula de Weston
caso, Sm,0-77
Amálgama de cádmio a |:
12.5% Ni) Fios de
=! contato
de platina
Hg SO,
Mercúrio
Potenciais de eletrodo reversíveis 67
Acumulador
Al
Figura 17. Cireuito do potenciômetro
O pólo positivo da célula de Weston também é ligado a 4 e o pólo negativo
é ligado, através de um comutador (K) a um galvanômetro, ligado por sua vez
ao fio AB por um contato deslizante, A célula cuja fem desejamos medir é ligada
em paralelo à célula de Weston, entre o ponto 4 e o comutador, K.
O circuito da célula de Weston é ligado colocando-se o comutador na posição
mostrada na figura; o contato deslizante é ajustado até que o galvanômetro não
mostre nenhuma deflexão. Suponhamos que a posição desse contato deslizante
seja o ponto €, como mostrado. Se o galvanômetro não mostrar qualquer deflexão,
não pode haver passagem de corrente através da célula de Weston o que significa
que a fem da célula deve ser contrabalanceada exatamente pela voltagem acusada
no fio entre os pontos 4 c C, Sc a fem de célula de Weston for E,, poderemos
escrever
E, AC.
A célula de fem desconhecida X é agora intercalada no circuito, colocando-se o
comutador na posição mostrada pela linha pontilhada, encontrando-se um novo
ponto de equilibrio, C'. Se a fem da célula X for E,, então
E ZAC
SAO
E, AC
e
ou
Ec (4-9)
Acontece frequentemente ser desconhecida a polaridade da célula X, de
modo que não saberemos qual eletrodo deve ser ligado a A. Se a célula estiver
ligada corretamente, sua fem será oposta à voltagem fornecida pelo fio da ponte,
sendo possível encontrar um ponto de equilíbrio. Se, porém, a célula estiver ligada
de modo incorreto, sua fem estará em série com a voltagem do fio, e será impossível
chegar-se a um ponto com corrente zero através do galvanômetro. Nesse caso,
não encontraremos nenhum ponto de equilíbrio.
Uma medida potenciométrica fornece, portanto, duas informações sobre
a célula. Primeira, é determinada a fem da célula; e, segundo, é possível deduzir
a polaridade da célula,
CONVENÇÕES DE SINAL
Como no caso de todas as informações científicas, é desejável que as duas
informações obtidas de uma medida potenciométrica sejam indicadas de um
modo padronizado. Existem diversas maneiras possíveis para se atingir essa fina-
lidade. No passado, dois métodos eram usados correntemente; um deles era usado
68 Fundamentos de eJetroquímica
sobretudo pelos químicos norte-americanos, e o outro pelos químicos europeus.
O método mais aceito « empregado hoje é o método proposto pela União Inter-
nacional de Quimica Pura e Aplicada (International Union of Pure and Applied
Chemistry, LU.P.A.C.) em 1953, e que se tornou conhecido como a convenção
internacional de sinais.
Na convenção internacional, a célula é representada por um diagrama ou
esquema, º a fem da célula é escrita como o potencial do eletrodo situado à direita
no diagrama em relação ao do eletrodo da esquerda. A fem da célula pode, assim,
ser positiva ou negativa, dependendo de como escrevemos o diagrama c dos
potenciais dos dois eletrodos que constituem a célula.
A título de ilustração. consideremos a célula de Daniell mostrada na Fig 15.
Vamos supor que, numa medida potenciométrica, encontremos o valor de 1 V
para a fem da célula, com o eletrodo de cobre como pólo positivo e o cletrodo de
zinco como pólo negativo da célula. Poderiamos dizer que o eletrodo de cobre
&1V mais positivo que o cletrodo de zinco, « que o eletrodo de zinco é 1 V mais
negativo que o eletrodo de cobre. Se a célula for representada pelo diagrama
Zn/ZnS0,/ /CuSO, (Cu,
o potencial do eletrodo da direita (Cu) será +1 V, em relação ao eletrodo da
esquerda (Zn), c a fem da célula seria dada por Eq = IV.
Mas, se a célula for representada pelo diagrama
Cu/CuSO, /ZnSO,/Zn, .
o potencial do eletrodo da direita (Zn) seria de —1 V, em relação ao eletrodo da
esquerda (Cu) c a fem da célula seria dada por E, =-1V.
Um resultado típico do resultado de uma medida potenciométrica poderia,
por exemplo, ser o seguinte:
Mg/Me(NO,)./ PINO, ),/Pb. (E = +2,24V).
Esse resultado teria a seguinte interpretação: a fem da célula é de 2,24 V, e o pólo
positivo seria o eletrodo de chumbo. Uma vez estabelecida dessa maneira a pola-
ridade da célula, a reação da célula poderia ser deduzida da maneira discutida
no parágrafo sobre reações da célula. Um outro método de deduzir a reação da
célula será discutido mais adiante, depois de considerar a termodinâmica das
células; mas o método acima é mais recomendado, pois se fundamenta em prin-
vípios mais básicos.
Deve-se notar que, com base na convenção de sinais apresentada, a fem da
célula é obtida sempre sublraindo-se o potencial do eletrodo a esquerda no dia-
grama do potencial do cletrodo situado à direita. Portanto
Eco pg Esivcita ss Esquerda
A ESCALA DE HIDROGÊNIO DE POTENCIAIS DE ELETRODO
Todas as medidas comuns de fem de células fornecem o potencial de um
eletrodo em relação ao outro. Conforme mostramos há pouco, no caso da célula
de Daniel, somente é possivel dizer que o eletrodo de cobre é 1! V mais positivo
que o eletrodo de zinco, ou que o eletrodo de zinco é 1 Y mais negativo que o
eletrodo de cobre: mas não foi possível estabelecer-se o valor absoluto do potencial
de qualquer um dos eletrodos. Não é possivel medir-se o potencial de eletrodo
isolado, pois a semicélula deve ser ligada ao dispositivo de medida, o que apre-
(4-10)
Pocen
ais de eletrodo reveráveis ao
senta o problema de estabelecer contato elétrico com a solução sem introduzir
uma segunda interface metal-solução. Portanto, medidas práticas sempre levam
a uma diferença entre dois potenciais de eletrodo individuais.
Se quisermos atribuir valores particulares aos diferentes potenciais de ele-
trodo, poderemos adotar um potencial zero arbitrário. O padrão adotado atual-
mente é o padrão devido originalmente a Nernst, que sugeriu que o potencial
de um eletrodo-padrão de hidrogênio poderia ser tomado como igual a zero em todas
as temperaturas. Dessa mancira, todos os demais potenciais de eletrodo podem ser
indicados com relação ao eletrodo-padrão de hidrogênio. Se observarmos, por
exemplo, que = fem de uma célula na qual um certo eletrodo está acoplado a um
eletrodo-padrão de hidrogênio for de x V, com o cletrodo de hidrogênio funcio-
nando como pólo negativo, poderemos afirmar agora que o potencial do eletrodo
em questão é +x V na escala do hidrogênio, ou, simplesmente, que o potencial
é +x V. Se o eletrodo de hidrogênio tivesse sido o pólo positivo, o potencial do
eletrodo em questão seria -x V.
O potencial de qualquer eletrodo pode, assim, ser expresso em relação a
um cletrodo-padrão de hidrogênio mantido na mesma temperatura, sendo que
este último é considerado um eletrodo de referência primário.
Outra maneira de dizer isso é dizer que os potenciais das semicélulas são
definidos em termos de fem de uma célula completa, formada combinando-se a
semicélula em questão com um eletrodo-padrão de hidrogênio; este último ele-
trodo é escrito à esquerda no diagrama da célula. Dessa maneira, o potencial da
semicélula Zn?*/Zn corresponde à fem da célula
Pt; Hy(a = 1yH*(a = 1)//Zn?*;Zn.
A fem dessa célula é dada como o potenciul do eletrodo de zinco (eletrodo da
dircita) em relação ao potencial do eletrodo-padrão de hidrogênio (eletrodo da
esquerda).
É importante notar que a abreviação para a célula em questão é obtida
simplesmente omitindo-se o eletrodo de hidrogênio, permanecendo Zn?';Zn.
Embora tenhamos considerado o potencial do eletrodo-padrão de hidrogênio
como sendo igual a zero em todas as temperaturas, isso não significa necessaria-
mente que o potencial desse eletrodo não varie com a temperatura. Na realidade,
é provável que ele varic consideravelmente, mas isso não fará diferença na escala
de potenciais de eletrodo em qualquer temperatura específica. Estamos simples-
mente impondo o valor arbitrário zero ao coeficiente de temperatura do potencial
do eletrodo-padrão de hidrogênio.
A Tab. 13 apresenta alguns valores de potenciais de eletrodo-padrão, na
escala do eletrodo-padrão de hidrogênio.
OUTROS ELETRODOS DF REFERÊNCIA
Na prática, nem sempre é fácil ou conveniente lançar-se mão de um eletrodo-
-padrão de hidrogênio, Esses eletrodos não podem ser usados em soluções que
contenham substâncias passíveis de redução, e eles estão sujeitos u envenenamentos
por substâncias que envenenam uma catálise heterogênea. Embora o eletrodo-
-padrão de hidrogênio permaneça como eletrodo primário de referência no qual
se baseiam todas as medidas de potencial, muitas vezes empregamos eletrodos
de referência auxiliares.
Para cletrodo de referência auxiliar presta-se qualquer eletrodo cujo potencial,
em relação ao eletrodo-padrão de hidrogênio, possa ser determinado previamente
7 Fundamentos de eletroquímica
Tabela 13, Potenci,
de eletrados-padrão a 25€
v v
3,045 Sm 0,136
-2925 Pb?'/Pb 0,126
287 Cult/Cu +0,337
M a DIA Ag'jAg +0,7991
Mgt/Mg 237 Au3t/Au 41,50
ABALO 1,66 OH/0, +0401
-0,763 LA, +0.5355
0440 +1,0652
0,403 +1,3595
=(,3363 +265
(Segundo W. M. Latimes, Oxidation Potentials, 2º
ed., New York, Prentice-Hall, 1952)
com precisão. Embora, em princípio, qualquer eletrodo possa ser escolhido para
essa finalidade, há um aspecto prático a considerar, o de fornecer resultados con-
sistentes e reprodutíveis. Essa limitação restringe a escolha, e a forma mais comum
de eletrodos auxiliares de referência atualmente em uso consiste em um metal
cm contato com uma solução saturada de um sal pouco solúvel desse metal, e
que contém, além disso, uma solução de outro sal de ânion comum. Os seguintes
sistemas de eletrodos servem de exemplos:
Ag/AgCU(S), KCI aq,,
Hg/Hg;SO,(s), K,SO, aq,
Hg/Hg.CL,is), KCl ag.
Em cada caso, o potencial do eletrodo é governado pela atividade do ânion na
solução.
Considere um eletrodo de prata-cloreto de prata contendo cloreto de potássio
no qual u atividade dos íons de cloreto em solução é aç;-. O potencial do cletrodo
de prata depende diretamente da atividade dos íons de prata, a,,+, na solução,
como previsto pela Eq. (4-5). que agora passa a ser escrita
E = Ei, +(RTIF) Im ay, (4:11)
onde Ei, é o potencial-padrão do eletrodo de prata. De acordo com o princípio
do produto de solubilidade, o produto das atividades dos ions de prata c dos ions
de cloreto na solução será igual ao produto de solubilidade do cloreto de prata,
Kasa: Ássim sendo,
A+ X dy = Kage
Kasa,
ou
Gago
Substituindo na Eq. (4-11),
RT, K
Em Boto oc
se, RT l RT
E = Ext o Ka pI don. (4-12)
O termo (RTjFiIn Kycy será constante em temperafura constante, e pode ser
combinado com EA, para dar uma nova constante, simbolizada por Ejço € que
Potenciais de eletrodo reversíveis n
pode ser encarada como o potencial-padrão do eletrodo prata-cloreto de prata.
A Eq. (4-12) transforma-se então em
E = Exa (RTP) ln aço (4-13)
Poderíamos ter chegado à mesma conclusão aplicando u Eq. (4-1 1) à situação
de equilibrio do eletrodo, que pode ser representado por
AgSAg' +e
Ag" + CIT = AgCl(s).
Ou, combinando-se os dois estágios,
Ag + CIT = AgCl(s) + e.
Aplicando a Eq. (4-1), teremos
E=Elat
e
RT Inf Aga,
X Gay
Como a prata e o cloreto de prata são sólidos puros, suas atividades serão iguais
a um, e a Eq. (4-14) se transforma em
» (4-14)
o gRES: 4
Beba dra
RT
E = Exa na.
ou
Contudo é interessante notar que
se RT
Elec = Edy + po 18 Ka
Exatamente os mesmos argumentos são válidos para os outros dois eletrodos
auxiliares de referência. Os potenciais de cada um são governados pelas atividades
dos jons de sulfato c de cloreto, respectivamente.
Mencionamos de passagem que eletrodos desse tipo, muitas vezes chamados
“eletrodos de segunda espécie”, proporcionam um método útil de montar eletrodos
reversíveis em relação a ânions. Em alguns casos, isso seria muito difícil, ou mesmo
impossível, com sistemas simples de eletrodos.
O eletrodo auxiliar de referência mais comum é provavelmente o eletrodo
de mercúrio-cloreto mercuroso, conhecido como eletrodo de calomelano; quando
a solução é saturada em relação ao cloreto de potássio, chama-se eletrodo de calo-
melano saturado. Este é usado comumente para medições normais, mas, para
um trabalho mais rigoroso, prefere-sc usar um eletrodo de calomelano contendo
solução de KCI de concentração 1 mol dm”*, pois seu potencial é menos influen-
ciado pela temperatura. Um modelo comum de eletrodo de calomelano é o
ilustrado na Fig. 18.
RELAÇÃO ENTRE POTENCIAL E ATIVIDADE
A Eq. (4-1), que dá a variação do potencial de um eletrodo com as atividades
dos constituintes, pode ser deduzida com o auxílio de uma célula na qual um
eletrodo redox genérico é combinado com um eletrodo-padrão de hidrogênio.
Considere a célula representada pelo diagrama
forma oxidada (a = a,,) Pt
E) forma: reduzida. ( = ac) fo
H(a=1)
7% Fundamentos de eletroquímica
Suponha que uma molécula de um cletrólito sc dissocic em solução, forne-
cendo v. cátions e v. ânions:
(eletrólito) = v, (cátion) + v. (ânion).
Sejam a, e a. respectivamente as atividades dos cátions e dos ânions, À atividade
iônica média da solução, a, , relaciona-se às atividades iônicas individuais através
da definição
(ag =a; xa”, (4-28)
na qual
vv tr.
Embora as atividades iônicas individuais não possam scr medidas, é útil
continuar mantendo válido esse conceito, na dedução das relações existentes
entre os potenciais de eletrodos isolados c atividades iônicas. Medidas de potencial
não podem ser realizadas em eletrodos isolados e, quando combinamos dois
eletrodos para formarem uma célula completa, a expressão obtida para s fem
da mesma conterá termos de atividades iônica que poderão ser relacionados a
uma atividade iônica média numa abordagem mais exata do problema.
CÉLULAS DE CONCENTRAÇÃO
Se combinarmos duas semicélulas de mesma natureza química para formar
uma célula cletroquímica, surgirá uma fem se houver entre elas alguma diferença
de atividade, Essa diferença poderá residir nas soluções ou nos eletrodos. Células
desse tipo são chamadas de células de concentração. Consideraremos inicialmente
alguns exemplos de células nas quais a diferença de atividade está nas soluções.
Eletrodos idênticos em soluções de atividades diferentes
1) Considere a célula representada esquematicamente por
Ag/AgNO, /AgNO Ag
(ash (4):
(a barra dupla no meio da célula representa eliminação do potencial de junção
líquida, o que se observa, por exemplo, interligando-se duas semicélulas por uma
ponte salina). Suponha que as atividades dos íons de prata nos membros direito
e esquerdo sejam, respectivamente, (a.), e (a,);; Os potenciais dos eletrodos
são E, e E,. A Eq. (4-5) nos dá
RT
E, = tp lola
RT
E = Et In (a).
FP
A fem da célula será dada pela Eq. (4-10),
Ea = E/7B,
RT RT
= [es + In (a, ]-[ Ee a In (a,)
RT RT
= in(ad-— In(ash.
RT, (aj);
us mm | mtiê..
F “(ad
Potenciais de eletrodo reversíveis 7”
Se (a.,), > (a,),, à Eq. (4-26) mostra que a fem da célula será positiva, indi-
cando que o eletrodo da direita é o pólo positivo da célula. Suponhamos ser esse
o caso. Se a célula começar a funcionar, ocorrerá uma reação de oxidação no pólo
negativo, ou seja, a dissolução de prata metálica com formação de íons de prata,
de atividade (a,),,
Ag> Ag" te
(a.h
A correspondente reação de redução no pólo positivo será a deposição de
prata metálica formada dos íons de prata da solução, de atividade (a,);,
Agt +e- Ag.
(asd
A reação total será
” Ag! > Ag*
(ad (a)
e a neutralidade elétrica da solução é mantida pela difusão seletiva de cátions
c ânions da ponte salina para as soluções que envolvem os eletrodos.
À medida que a reação se processa, a solução mais concentrada torna-se
mais diluída, e a solução mais diluída torna-se mais concentrada, até que ambas
cheguem a uma mesma atividade. Teremos então uma situação de equilíbrio,
quando a fem da célula for nula.
Mencianamos atrás que a atividade de uma espécie isolada de um ion não
pode ser determinada. Portanto não será possível calcular a fem da célula de
concentração a partir da Eq. (4-26); torna-se necessário estabelecer uma série
de suposições.
As atividades dos lons de nitrato nos eletrodos da direita c da esquerda são,
respectivamente, (a. ), e (a.),. As atividades iônicas médias das soluções de
nitrato de prata nos membros direito e esquerdo são (a,); e (a.),, respectiva-
mente: e, de acordo com a Eq. (4-25), são dadas por
(as); = (ala),
(a.)j = (a Ja),
Essas expressões podem ser combinadas, c obtemos
las (ala),
la.) (aca)
Se considerarmos que a razão entre as atividades dos ions de nitrato é igual à
razão entre as atividades dos tons de prata, teremos (a, ),(a.), = (a. Ja),
e, portanto,
e
(a,)ã E (a.
(asi (ak
A Eq. (4-26) pode agora ser escrita de outra forma:
RT lo,
F. ash
De um modo geral, teremos, para esse tipo de células de concentração, que
envolvem z elétrons nas reações dos eletrodos, a expressão
RT | (asd,
Eg=— 1
cd = E À asda
Eu= (4-27)
(4-28)
78 Fundamentos de eletroquímica
2) Consideremos agora « mesma célula, mas sem eliminar a junção liquida;
os resultados serão um pouco diferentes:
Ag/AgNO,: AgNO,/Ag.
(apta (ag) s(a da
Usando a mesma notação que no caso anterior, o eletrodo à direita será o pólo
positivo da célula e o eletrodo à esquerda o pólo negativo. Já vimos que a reação
no eletrodo da direita é
Ag' +e- Ag.
(ada
Há, portanto, entrada de elétrons na solução pelo eletrodo da direita; e, de acordo
com a definição dada no Cap. 1, este deverá ser o cátodo. Por outro lado, o cle-
trodo da esquerda é o ánodo. Observa-se que, nesse caso, o cátodo é positivo e
o ânodo negativo, situação contrária à observada na eletrólise. É importante
lembrar que, quando é fornecida energia para o sistema, energia essa proveniente
de uma fonte externa (eletrólise), os ânodos são positivos e os cátados negativos.
Quando a energia é fornecida pelo sistema (célula cletroquimica), os ânodos são
negativos e os cátodos são positivos.
Considere agora a passagem de 96487C de cletricidade através da célula.
No eletrodo da esquerda, haverá dissolução de um mol de prata, formando íons
de prata. Simultaneamente, t, moles de tons de prata migrarão através da junção
líquida em direção ao eletrodo da direita (cátodo); !. é o número de transporte
médio para o íon de prata para as duas concentrações envolvidas na junção
líquida. Portanto o ganho global de íons de prata no eletrodo da esquerda é
(1-1,) moles. Analogamente, 1. moles de ion de nitrato migrarão através da
junção líquida em direção ao eletrodo da esquerda (ânodo). A alteração que ocorre
na solução pode ser escrita como segue:
ganho de Íons de prata com atividade (a,), = (l-t,Jmol =t. mol,
ganho de íons de nitrato com atividade (a), = t. mol,
No eletrodo da direita, haverá deposição de um mol de íons de prata, mas, ao mesmo
tempo, £, moles migrarão para a solução através da junção liquida. A perda total
de íons de prata é, portanto, (1 -t,) ou t. moles. Tgualmente, t. moles de ion
de nitrato terão migrado através da junção liquida, afastando-se desse eletrodo.
A variação na solução que envolve o eletrodo da direita pode ser escrita como
perda de íons de prata com atividade (a,), =. mol,
perda de íons de nitrato com atividade (a), = t. mol.
A reação total para uma quantidade de eletricidade igual a 96487 C é, pois,
t-Ag* +t NO; —»t. Ag! +t. NO;
(a,); (a) (a,), (a)
Aplicando-se a isoterma de reação de van't Hof? [Eq. (4-17)],
E (as) x (a.
AG =4G en (429)
Para o nitrato de prata, um eletrólito uni-univalente, a Eq. (4-25) dará
axa. =ai
- att.
e, portanto,
d; dt:
Potenciais de eletrodo reversíveis 7
Substituindo-se na Eq. (4-29).
AG = 4Gº 42% RT In Sel. (4:30)
las)
Mas AG* é a variação de energia livre quando todos os reagentes c produtos se
encontram em seus estados-padrão de atividade unitária. Se assim fosse, os pro-
dutos seriam idênticos aos reagentes e, portanto, a energia livre dos produtos
deveria ser exatamente igual à energia livre dos reagentes. Em consequência, AG”
deverá ser nulo. A Fq. (4-30) se reduz então a
AG=2 RT lazh,
(as)
Substiluindo nessa expressão AG = -zFE,,, com z = 1, teremos
-FEq = 2 RT neh
asd
a RT, (a.).
=. — InDE2. (4-31
a NT (431)
A Eq. (4-31) dá a fem total da célula com junção líquida. Observe que o número
de transporte que aparco na equação é o do ânion. Na célula considerada, os
eletrodos estão em equilíbrio com os cátions nas soluções; o número de transporte
que aparece em expressões do tipo da Eq. (4-31) é aquele que corresponde ao íon
com o quai os eletrodos não apresentam reversibilidade.
Para determinarmos o valor do potencial de junção liquida, precisamos
apenas subtrair da Eq. (4-31) a Eq. (4-27), o que nos dará
RT | la.) RT IS (as
Em 2t40 > Ins
o CR DIO (eg);
ou
p= Sm Er (432)
a
onde E, é o potencial de junção líquida. Recordando que t, +t. =1,a Eq.
(4-32) passa a ter a forma,
tonta, (4:33)
expressão idêntica à Eq. (4-8).
Devemos nos lembrar de que as Eqs. (4-32) e (4-33) não são exatas, devido
às aproximações que foram feitas ao deduzir-se a Eq. (4-27).
Vê-se, da Eq. (4-33) que o potencial de junção líquida pode somar-se ou
opor-se à fem devida aos potenciais dos eletrodos, dependendo de qual dos números
de transporte é maior, t. ou t,. Se o número de transporte do ânion for maior
que o do cátion, o ânion sc difundirá mais rapidamente através da junção. Como
ambos os íons difundem da solução mais concentrada para a mais diluída, haverá
uma transferência de carga negativa através da junção, da direita para a esquerda.
A separação de cargas através da junção que ocorre por esse mecanismo aumenta
a fem devida aos eletrodos, pois o eletrodo da esquerda já é o pólo negativo da
célula, porquanto tenhamos considerado (a,), > (4,),-
80 Fundamentos de eletroquímica
' A equação geral da fem de uma célula de concentração com uma junção
líquida, e na qual os eletrodos estão em equilíbria com os íons positivos, é
v RT, fa,
Ega
v, 2F (a)
A equação geral para o potencial de junção líquida de uma célula desse tipo é
Bm(1. 1) Rr Be,
zF (a)
- 3) É também possível construir uma célula de concentração, combinando-se
dois eletrodos de segunda espécie, por exemplo,
Ag/AgCI(s), KCI//KCI, AgCIís)/Ag.
(a); (a),
Suponha, para simplificar, que o potencial de junção líquida foi eliminado mediante
o emprego de uma ponte salina; as atividades dos íons de cloreto nos eletrodos
da esquerda e da direita, são, respectivamente, (a) c (a. ),. Suponha, ainda,
due os potenciais dos dois eletrodos são E, e E,.
Aplicando-se a Eq. (4-13), teremos
(4:34)
(4-35)
RT
E = Exa In (a),
RT
E, = Exa SR In (a).
Empregando a Eq. (4-10), teremos para a fem da célula
E = E, Es,
=lES
=| Ear
Fr.
into) [| Era ST mta |
RT, RT
=p na h- nad,
= RT po (ch,
= Ei (4-36)
Também nesse caso a Eq. (4-36) não pode ser. “empregada diretamente para cal-
cular E; uma aproximação deve ser feita, ou seja, a razão das atividades dos
ions d: cloreto nas cuas soluções é igual à razão dos ions de potássio nas duas
soluções. A razão (a. );/(a..), pode então ser considerada igual à razão (asas
e a Eq. (4-36) fica sendo
RT las,
Eu=——h
TF Pa,
(4-37)
Se (4,4); > (4,),, à Eq. (4-37) mostra que a fem da célula será positiva, indi-
cando que o eletrodo da dircita é o pólo positivo da célula.
Se a junção liquida não tiver sido eliminada, a fem da célula será dada com
exatidão por
S RT, (au)
Eq = 2, —— In ta.
PM a (4.38)
cet
Potenciais de eletrodo reversíveis 81
O múmero de transporte que aparece na Eq. (4-38) é o do cátion, pois os eletrodos
estão em equilibrio com os ânions da solução. A contribuição do potencial de
junção líquida é dada de modo aproximado por
RT, (a.)
E w(t,-=t)—— In ÉS.
=) ai
A equação geral para a fem de uma célula de concentração na qual os eletrodos
estão em equilibrio com tons negativos, e na qual as semicélulas podem ser inter-
ligadas por uma ponte salina, é a seguinte:
RT
ELINCAN
zF asd
Se as duas semicélulas apresentarem uma junção líquida, a expressão geral para
a fem será
(4-39)
Eu= 4.40)
ora RT lona )
Easter o] (4:41)
e a equação geral para o potencial de junção líquida será
x RT qq (Gado,
E = (: 1) E in ai (4-42)
Os tipos de células de concentração discutidos nas itens (1), (2) e (3) são, por
vezes, denominados células de concentração com transporte, pois há um transporte
de íons através da junção líquida. Embora pontes salinas reduzam a um minimo
os potenciais de junção liquida, é possivel construir-se uma célula de concentração
que não apresenta nenhuma junção líquida, evitando-se assim o incômodo po-
tencial de junção liquida. Tais células são, às vezes, denominadas de células de
concentração sem transporte.
4) Como um exemplo de célula de concentração sem transporte consideremos
Zn/ ZnSO,, Hg,SO,(s)/Hg/Hg,SO (s), ZnSO, /Zn.
(a disla dh la sJarta.)>
Nessa célula, as atividades dos tons de zinco e de sulfato diferem. Suponha que
as atividades sejam (a,), e (a.), na esquerda e (a,), e (a.), nã parte direita.
As atividades iônicas médias das soluções de sulfato de zinco na esquerda e na
direita, (a,), € (a,);, respectivamente, serão dadas por:
faz) = (ag)(a.),
(az) = (a Jia do.
A célula é, na realidade, uma célula dupla, formada por duas células ligadas
em sério, c poderá, assim, ser representada por outro esquema:
Zn/ Zn80,, Hg,SO.(s)/Hg-—Hg/Hg,SO,(), Zn80,/Zn.
(a) la) lada (a)
Ve-se que cada célula isolada é uma célula química constituida por um eletrodo
simples de zinco e um eletrodo de mercúrio-sulfato mercuroso. Para se determinar
a fem da célula dupla, é mais conveniente determinar as expressões das fem das
células isoladas.
Suponha que a fem da célula que contém sulfato de zinco de at de iônica
média (a,), é igual à E!. De acordo com a Eq. (4-10), a fem da célula será dada por
E' = Eygso,” Exa
e
86 Fundamentos de eletroquimica
Observamos que o termo logarítmico é a constante de equilibrio da reação e,
chamando essa constante de K, teremos
RT :
or in K = Br Es
In K = (Ef - Ego) (4-54)
2.
RT
Sc a reação tivesse sido realizada numa célula eletroquímica constituída
por um eletrodo ferroso-férrico c por um eletrodo estanoso-estânico, teriamos
de escrever, pura sermos coerentes com a reação precedente, o eletrodo de ferro
à direita, c a fem-padrão da célula teria sido (Ep, - Es.) A Eq. (4-53) nos leva,
portanto, u um resultado genérico,
nk= (455)
Embora a Eq. (4-55) tenha sido deduzida a partir de considerações a respeito
da interação de dois sistemas redox, ela se constitui num resultado absolutamente
geral, aplicável a qualquer reação que ocorra numa célula, independendo do fato
de termos sistemas de eletrodos redox ou eletrodos normais na célula.
Chegaremos ao mesmo resultado se combinarmos a Eq. (4-16),
-AG' = zFES,,
com a relação termodinâmica,
AG = -RTInK,
teremos
-RTInK=-2FE
1FE a.
1 K = RT
Potenciais redox-padrão ou potenciais de eleirodo-padrão podem, portanto,
ser aproveitados para calcular constantes de equilíbrio.
TITULAÇÕES REDOX
Em titulações redox. empregamos sistemas redox como reagentes volumétricos
para análise quantitativa Há, entretanto, restrições « considerar na escolha do
sistema a scr usado. Se quisermos, por exemplo, titular uma solução de íons ferrosos
com ions céricos, teremos como reação
Fe2t + Ce*t + Fe3t + Cet,
Se o volume da solução cérica adicionado for uma medida da quantidade de
íons ferrosos presentes, na solução original, será necessário que a reação se com-
plete dentro dos limites de exatidão da volumetria. Se a reação se completar em
99,9%, teremos suficiente exatidão na medida. Esses valores significam que, na
solução final, 0,1% do conteúdo em ferro ainda se deve ao íon ferroso.
A constante de equilibrio da reação precedente é dada por
k = rest Gees,
Great” Greer
— Potenciais de eletrodo reversíveis 87
Se a reação se processou em 99,9%, a razão entre as atividades dos ions férrico
e ferroso será dada por
a sos 10?
Analogamente, a razão entre as atividades dos fons Ce?* e Cc** será
doar 999 “poa,
Gas OT
O equilíbrio para a reação é, portanto, 10º, Sc quisermos uma oxidação quantita-
tiva dos íons Fe?* pelos íons Ce**, a reação deverá ter uma constante de equi-
líbrio não menor que 10º.
A reação poderia ser executada numa célula eletroquimica, tal como
Pi/Fe?!, Fe? !;/Ce?", Cet! jPi,
a sua fem-padrão seria, de acordo com a Eq. (4-10),
Ei = E Br
Da Tab. 14, tiramos os valores numéricos, e teremos
Ei, =1,61-077 = 0,84 V.
Substituindo na Eq. (4-55) z = 1, R = 8,314JK"!mol"!, T = 298K, F = 96500€
mol”!, e fazendo a conversão para logaritmos decimais,
0,84
log K = 059 = 14,23,
K=19 x 10",
Como esse valor é muito maior que 10%, é óbvio que íons ferrosos podem ser
titulados quantitativamente por fons céricos.
Se considerarmos agora o valor-limite da constante de equilíbrio, 109, teremos
como valor-limite da fem-padrão da célula na qual a reação poderia ser efetuada,
a 25ºC,
Ea,
0,059 V
Eja = 0,059 x 6 = 035 V.
Isso significa que, para que dois sistemas redox sejam adequados para litulações
redox, a diferença entre seus potenciais redox-padrão deve ser, pelo menos, de
0,35 V. Isso somente é válido para o caso z = 1, em ambos os sistemas. Se tivermos,
num sistema, z = [ e, no outro, z = 2, poderemos demonstrar que o valor minimo
de K, para uma determinação quantitativa, é 10º; isso, por sua vez, significa que
a diferença entre os potenciais redox-padrão dos dois sistemas deve ser, pelo menos,
de 0,26 V.
Examinaremos agora a variação de potencial que sc manifesta no decorrer
de uma titulação redox. Considere, por exemplo, a titulação de uma solução de
sulfato ferroso com uma solução de sulfato cérico. Após cada adição de sulfato
cérico, atingir-se-á um equilibrio e, em todas as etapas da titulação, E, será igual
a Ec. O potencial pode, pois, ser calculado, em qualquer estágio da titulação,
através de uma das relações:
log 10º =
RT É
Ep = Etta Saio, (4-56)
Gras
À
4
88 Fundamentos de eletroquímica
ou
(4:57)
É conveniente usar a Eq. (4-56) para calcular o potencial antes do final da titulação
ea Eq. (4-57) depois de passar pelo final da titulação. O potencial no final da titu-
lação pode ser calculado da maneira que segue.
Como dito antes, a constante de equilibrio da reação pode ser escrita
Gras X Areas
relação que será mantida durante toda a titulação. Contudo, no final da mesma,
teremos
Gras Goes
Gra. Gças
Portanto a :
EE (gre)
Apos
ou
Grit SE.
Aros
Substituindo na Eq. (4-56), teremos
E= E. 45T VE,
onde E, é o potencial no final da titulação.
A variação do potencial nas imediações do ponto final da titulação de ions
Fe?* com íons Ce** foi calculada por cssc método, e o resultado registrado
graficamente na Fig. 19.
Deve-se frisar que a Fig. 19 representa uma situação um tanto idealizada,
Nu prática real de laboratório, haverá modificações nos potenciais devido a alguma
complexação dos ions Fe?* e Ce** pelos fons de sulfato presentes na solução.
16,
= Figura 19. Variução do potencial
a durante a titulação de íons ferrosos
. com ions céricos
S5 95 72 &
“a Feltoxidado — “h Ce*” excesso
Potenciais de eletrodo reversíveis 89
A variação do potencial real, contudo, mostrará o mesmo comportamento que
o da figura, apresentando uma variação rápida nas proximidades do final da
titulação.
INDICADORES REDOX
O ponto final de uma titulação redox pode ser detetada com o emprego de um
indicador redox. Esses indicadores são também sistemas redox, cujas formas
oxidada e reduzida mostram cores diferentes.
Já dissemos antes que, quando misturamos dois sistemas redox de potenciais
diferentes, ocorre uma reação na qual o sistema de potencial mais elevado oxida
o sistema de potencial mais baixo, Disso resulta uma aproximação dos valores
dos dois potenciais, o maior deles diminuindo c o menor aumentando, até se
igualarem num ponto em que a reação tenha atingido o equilíbrio. Esse ponto
será alvo de um exame mais rigoroso, para averiguar o cfcito das quantidades
relativas dos dois sistemas redox sobre as variações de potencial que ocorrem.
Suponha que adicionemos uma pequena quantidade de um indicador redox
a uma quantidade relativamente grande de solução de íons ferrosos e férricos.
Suponha ainda que o potencial do indicador é muior que o potencial do sistema
ferroso-férrico. Os ians ferrosos serão oxidados pelo indicador. Representando-se
4 forma oxidada do indicador por O e a formu reduzida por R, « reação poderá
ser escrita como
Ft + O>Fe! + R,
supondo-se uma diferença de apenas um elétron entre as formas O e R.
Como só existe uma quantidade pequena de indicador, ele pode ser conver-
tido totalmente à forma reduzida, com uma perda mínima de ions Fe?!. Sendo
ussim, haverá uma queda considerável em seu potencial, pois haverá uma variação
enorme na razão das atividades, aç/ag. Como isso é realizado por uma quantidade
mínima de íons ferroses de uma quantidade relativamente grande de sistema
ferroso-férrico, a variação da razão das atividades dos ions ferroso e férrico,
apse/âpa- será muito pequena. O potencial do sistema ferroso-férrico aumentará
apenas em uma quantidade infinitesimal,
É fácil compreender que, quando se adiciona uma pequena quantidade de
indicador a uma quantidade relativamente grande de um sistema redox, o indi-
cador passa a ter o potencial do sistema ao qual é adicionado. Na titulação do
sulfato ferroso com sulfato cérico, por exemplo, o potencial de qualquer indicador
presente seguirá o comportamento da curva mostrada na Fig 19.
Já afirmamos, no Cap. 3, que o olho humano só pode detetar uma variação
de cor em um indicador com misturas entre quantidades-limite de aproximada-
mente 10 e W0%, das formas de cores diferentes. Se um indicador redox se encontrar
totalmente na forma reduzida e for oxidado gradualmente, o olho humano co-
meçará a perceber mudança na cor somente quando cerca de 10%, do indicador
se encontrar na forma oxidada. O potencial do sistema, nesse ponto, será dado por
RT, 009
E=E+ nar
RT,
E=Et ln o (4-58)
9% Fundamentos de eletroquimica
Depois que 90%, do indicador estiver na forma oxidada, o olho não detetará mais
mudanças de cor, e o potencial, nesse ponto, será dado por
pança EE jp el
a a)
= Ef, + RT qn 10. (4-59)
2F
O intervalo de potenciais no qual o olho humano observa uma mudança de cor
num indicador redox é, portanto, dado pelas Egs. (4-58) e (4-59), nas quais Hj, é
o potencial redox-padrão do indicador. Considerando z = 1, c uma lemperatura
de 25ºC, teremos como limites desse intervalo Eç, — 0,059 e Ep, + 0,059, A faixa
de valores em que se pode empregar um indicador redox com z = 1 pode, assim,
ser considerada como Er, + 0,06 V, isto é, uma faixa a cerca de 0,12V.
Para que uma titulação redox seja quantitativa, temos já a condição de haver
uma diferença de, pelo menos, 0,3V entre os potenciais redox-padrão dos dois
sistemas. Se esse for o caso, a rápida variação de potencial no ponto final deverá
cobrir um intervalo de, no mínimo, 0,12V. Deveria, pois, ser sempre possivel
atingir-se um ponto final bastante nitido quando empregássemos um indicador
redox, desde que seu intervalo de uso esteja incluido na variação de potencial
no ponto final da titulação. O indicador ideal escolhido será obviamente aquele
que tiver um potencial redox-padrão igual ao potencial do ponto final dy titulação.
CAPÍTULO 5
APLICAÇÕES DAS MEDIDAS DE CONDUTÂNCIA
DETERMINAÇÃO DA CONDUTIVIDADE MOLAR-LIMITE
Eletrólitos fortes. A condutividade molar-limite!! de eletrólitos fortes pode
ser determinada por um método de extrapolação. Determina-se 2 condutância
a várias concentrações baixas v constrói-sc um gráfico da condutividade molar
contra a raiz quadrada da concentração. Esse gráfico deverá dar uma linha reta,
como ilustrado na Fig. 4, e Iscilmente poderemos extrapolar para obter o valor- .
“limite da condutividade molar.
Eletróliros fracos. No caso de eletrólitos fracos, a condutividade molar-limite
não pode ser determinada diretamente. Sc forem conhecidas as condutividades
molares dos fons constituintes do eletrólito, em diluições infinitas, então a con-
dutividade molar-limite do eletrólito poderá ser obtida através da lei de Kohlrausch
[Fa. (2-16)],
AE =v,AZ+vAS.
Um exemplo de cálculo desse tipo foi apresentado no Cap. 2.
A condutividade molar-limite de um eletrólito fraco pode também ser obtida
combinando-se os valores dessa grandeza para certos eletrólitos fortes. Por exemplo,
AF(CH,COOH) = A“(HCI) + A“(CH,COONg)- A“(NaC!). (5-1)
A validade dessa relação pode ser verificada subdividindo-se os termos do membro
direito da expressão em seus vários componentes iônicos:
A(HCI) + AS(CH,COONa)- A“(NaCI),
= AH") + AP(CI ) + ACH,COO”) + A“(Na*)-AV(Na')-AS(CI),
= A(II*) 4 A“(CH,COO”),
- A(CH;COOH).
Ácido clorídrico, acetato de sódio c cloreto de sódio são tudos eletrólitos
fortes, para os quais é fácil determinar-se experimentalmente o valor de A”.
DETERMINAÇÃO DA SOLUBILIDADE DE UM SAL POUCO SOLÚVEL
Se um sal pouco solúvel se dissociar de modo simples c completo, sua solubi-
lidade poderá ser determinada por meio de medidas de condutância.
Determina-se » condutividade de uma solução saturada do sal, e subtrai-se
a condutividade do solvente, Temos como resultado a condutividade devida ao
próprio sal:
Kootução — Ksvínento = ug
MO autor emprega o termo “condutividade”; em português, emprega-se iregiiente-
mente “condutância equivalente” para A e “condutância equivalente em diluição infinita”
para AS. (N, do T)
9% Fundamentos de eletroquímica
Calcula-se A a partir de medidas de condutância em soluções de cloridrato de
anilínio, e A' a partir da condutância de soluções nas quais a hidrólise foi quase
totalmente impedida por meio de adição de anilina em excesso. Conhecendo-se
os valores de A” de medidas de condutância em soluções de ácido clorídrico, é
possível calcular-se a através da Eq. (5-14) c, consequentemente, K, através da
Eq. (5-12). Relembramos aqui que K, pode também ser considerada como sendo
a constante de dissociação ácida do ion anilínio.
TITULAÇÕES CONDUTIMÉTRICAS
Durante o decorrer de uma titulação, as concentrações dos vários jons em
solução variam. Se essas variações levarem a uma variação na condutância final
da solução, será possível acompanhar o decorrer dessa titulação mediante medidas
de condutância. Essa técnica encontra sua principal aplicação nos casos de titu-
lações ácido-base e titulações com formação de precipitados.
Para melhor se compreenderem os princípios nos quais se basciam as titulações
condutimétricas, é necessário ter-se uma idéia a respeito das grandezas relativas
das condutâncias de lons. Essas informações podem scr tiradas da Tab. 6,que
mostra que as condutividades molares-limite da maioria dos ions se situam entre
40 e 70827! cmi mol”!, As exceções dignas de menção são os ions de hidrogênio
e os ions de hidróxido, para os quais os valores mais apropriados se situam em
torno de 350 e 198927! cm? mol”!, respectivamente. Embora nas titulações con-
dutimétricas as dbservações não sejam feitus u diluições infinitas, podemos dizer
que, excetuando-se os íons hidrogênio e hidróxido, a maioria dos íons apresenta
condutâncias semelhantes. Tendo em mente esses fatos, examinaremos alguns
exemplos particulares de titulações condutimétricas.
Ácido forte-base forte. Considere, por exemplo, a titulação de ácido cloridrico
com hidróxido de sódio. Inicialmente a solução conterá íons de hidrogênio e íons
de cloreto. Quundo adicionumos ions de sódio e fons de hidróxido na forma de
solução de hidróxido de sódio, os ions de hidróxido sc combinarão com os íons
de hidrônio, para formar água. No ponto final da titulação, a solução conterá
ions de sódio e íons de cloreto. Desprezamos os ions provenientes da dissociação,
minima, da água, pois sua contribuição à condulância final da solução será des-
prezível quando comparada à dos outros ions presentes.
No início da titulação, a solução contém fons de hidrogênio e ions de cloreto:
no ponto final da titulação, conterá ions de sódio c ions de cloreto. Torna-se óbvio
que, à medida que a titulação progride, os íons de hidrogênio, altamente condu-
tores, vão sendo substituídos por ions de sódio, de condutância muito mais baixa.
Como resultado, a condutância da solução diminuirá.
Depois de atingido o ponto final, a adição de novas quantidades de hidróxido
de sódio à solução se traduz somente na adição de novos ions, mais precisamente
ions de sódio e íons de hidróxido. A presença desses ions provocará um aumento
da condutância da solução.
Se fizermos um gráfico da condutância da solução contra a quantidade de
titulante adicionada, teremos um decréscimo da condutância a um minimo, no
ponto final da titulação, e, em seguida, um aumento da condutância. Os valores
reais da condutividade da solução não precisam ser conhecidos, bastando valores
relativos, e as leituras na ponte de condulância podem ser usadas diretamente,
sem necessidade de correção mediante a constante da célula. Os valores das con-
dutâncias usados para construir 0 gráfico serão proporcionais às condutividades
da solução,
Aplicações das medidas de condutância 9
Se fosse possível adicionar o álcali ao ácido sem alterar o volume da solução,
a condutância diminuiria linearmente com a adição de álcali, para aumentar de
modo praticamente linear depois de atingido o ponto final. O gráfico consistiria,
então, em duas retas interceptantes. Mas, na prática, o volume da solução aumenta,
o que significa que o mesmo número de íons se encontra num volume maior, o
que fará com que a condutância diminua ainda mais rapidamente, provocando
um desvio da linearidade da relação. Esse desvio pode ser corrigido em grande
parte multiplicando-se o valor da condutância lido pelo volume total da solução.
Assim sendo, multiplicando-se a condutância, K, da solução pelo volume total
da mesma, V, e construindo-se um gráfico do produto assim obtido contra o
volume, v, de álcali adicionado, obteremos um gráfico como o da Fig. 20.
Ácido fraco-base forte. Os dados que obteríamos na titulação de um ácido
fraco com uma base forte também estão representados na Fig. 20. No caso de
um ácido fraco, a solução inicial não conterá tantos ions como uma solução de
ácido forte, e a condutância inicial será muito mais baixa. Chamando o ácido
de HA, sua ionização pode ser representada por
HASHt+A.
A solução conterá jons H”, ions A, e moléculas não-ionizadas de HA. Suponha
que a solução esteja sendo titulada com hidróxido de sódio e considere a adição
de apenas pequena quantidade do álcali Íons de hidrogênio da solução foram
substituídos por íons de sódio. A remoção dos jons de hidrogênio provocará uma
dissociação maior de moléculas do ácido, para regenerar o equilíbrio precedente;
mas a dissociação será compensada pela presença dos ións A , que ainda existem
livres e que podem ser considerados como ânions do sal NaA, um eletrólito forte
« totalmente dissociado. Por causa dessa supressão de uma dissociação ulterior
do ácido fraco, teremos como resultado a substituição de íons de hidrogênio por
tons de sódio e um descréscimo inicial na condutância da solução. À medida que
a titulação prossegue, o processo pode ser encarado como uma substituição de
moléculas não-ionizadas de icido, HA, por íons Na” c íons A”, de maneita que
a condutância da solução começa a aumentar. Íons de sódio e ions A” estão sendo
adicionados à solução antes do ponto final da titulação. Depois do ponto final,
o hidróxido de sódio excesso adicionado permanece na solução sob a forma
de ions Na* e OH”. Como a condutância de OH” é bem maior que a de A”,
Base fraca
vK
7 ”
“igura 20. Titulação condutimétrica de Figura 21. Titulação condutimétrica de
ácidos com bases fortes. (V = volume ácidos com bases fracas. (V = volume
cia da total da solução; K = condutância da
solução; v = volume de base adicionado)
98 Fundamentos de eletroquímica
a condulância da solução aumentará mais acentuadamente depois do final da
titulação. Esse comportamento é ilustrado na Fig. 20,
Como se trata de titulação entre ácido fraco e base forte, o sal formado estará
sujeito a hidrólise. Enquanto houver excesso de ácido ou base, esta será evitada
manifestando-se apenas na região do ponto final da titulação. O gráfico da con-
dutância não mostrará uma descontinuidade acentuada, mas a transição entre
as duas retas se parecerá com uma ligeira curva. O ponto final poderá ser encon-
trado prolongando-se os dois segmentos retos e determinando-se sua interseção.
Ácido muito fraco-base forte. Quando o ácido a ser titulado for muito fraco,
o número de íons presentes inicialmente pode ser considerado desprezivel. Adicio-
nando-se álcali, o sal formado será totalmente ionizado e a titulação pode ser
encarada como uma adição de tons à solução. Nesse caso, a condutância da solução
aumenta desde o início da titulação, e continua a aumentar mais rapidamente
depois de atingido o ponto final. Novamente a hidrólise do sal formado será res-
ponsável pela formação de uma ligeira curva na interseção dos dois segmentos
retos.
Ácidos-bases fracas. Quando titulamos ácidos com bases fracas, o aspecto
do gráfico antes de se atingir o ponto final da titulação será em tudo semelhante
ao obtido quando o titulante é base forte. Contudo, depois de atingir o ponto final,
o excesso de base presente na solução estará em grande parte não-ionizado, se
a base for fraca. A presença de excesso de base não contribui, portanto, de maneira
significativa para a condutência da solução, que permanece praticamente cons-
tante, no valor correspondente ao do ponto final da titulação. A Fig 21 ilustra
esse comportamento.
No caso de uma titulação ácido forte-base fraca, a hidrólise do sal formado
será responsável por uma leve curvatura no ponto de interseção das duas retas
do gráfico. No caso de uma titulação ácido fraco-base fraca, a hidrólise do sal
terá um efeito maior sobre a representação gráfica da condutância, provocando
uma curvatura num intervalo bem maior. Realmente, para se obter um ponto final
satisfatório, tanto ácido como base só podem ser moderadamente fracos (ou seja.
K, e K, não inferiores a 107º) Se o ácido e « base forem demasiado fracos, todo
o gráfico parecerá uma curva, em toda a região que fizermos medidas.
Misturas de ácidos. Usando-se uma técnica condutimétrica é possivel titular,
com uma base, uma mistura de um ácido fraco e um ácido forte. Adicionando-se
úlcali à solução ácida, a primeira reação que ocorre é « substituição dos ions
hidrogênio provenientes do ácido forte pelos cátions do álcali A condutância
da solução descresce, o que corresponde à neutralização do ácido forte. Depois
de neutralizado completamente o ácido forte, as quantidades de álcali que vão
sendo adicionadas neutralizarão o ácido fraco. Esse processo corresponde pratica-
mente à substituição de moléculas não-ionizadas de ácido fraco pelos íons do sal
formado. A condutância da solução, portanto, aumenta. Depois de neutralizado
o ácido fraco, a condutância da solução aumentará mais rapidamente se usarmos
como titulante uma base, forte. Um gráfico da condutância contra a quantidade
de base adicionada mostrará duas inflexões. A primeira corresponde ao titulo
do ácido, e a segunda ao ácido fraco. Essa situação encontra-se ilustrada na Fig 22.
Titulações por precipitação. Considere a titulação de uma solução de cloreto
de potássio com uma solução de nitrato de prata. A reação que ocorre é a precipi-
tação de cloreto de prata
KCL + AgNO, — AgCI + KNO,.
“Aplicações das medidas de condutância 99
vK
A, .
so S
g
7
Figura 22. Titulação condutimétrica de
Figura 23. Titalação condutimétrica de
olume total reações de precipitação. (V = volume
da solução; total da solução; K = condutância da
solução; e = volume de base adicionado)
misturas de ácidos. (V
da solução; K = condutâni
e = volume de buse adicionado)
Inicialmente temos uma solução contendo íons de potássio e ions dz cloreto. No
final da titulação, se desprezarmos a ligeira solubilidade do cloreto de prata, a
solução conterá ions de nitrato c ions de potássio. Antes do ponto final da titulação,
ocorre substituição dos íons de cloreto por ions de nitrato. A Tab. 6 mostra que
as condutâncias desses dois íons são muito parecidas, de modo que não ocorrerá
variação apreciável na condutância da solução antes do ponto final. Depois de
atingido o final, a adição de excesso de nitrato de prata simplesmente provoca
aumento do número de íons presentes na solução c, com isso, provocará aumento
da condutância da solução. O ponto no qual tem início esse aumento é o ponto
final da titulação.
Considere agora a titulação de uma solução de sulfaro de magnésio com
solução de hidróxido de bário. Durante o decorrer da mesma, precipitarão tanto
o sulfato de bário como o hidróxido de magnésio:
MeSO, + Ba(OH), — Mg(OH), | + BaSO, |.
A solução inicial contém íons de magnésio « íons de sulfato: à medida que a titu-
lação prossegue, ambos os íons são retirados da solução, pois precipitam. A con-
dutância da solução diminuirá até atingir, no ponto final, valor quase nulo: os
únicos íons presentes na solução nesse momento são devidos à pequena solubi-
lidade do hidróxido de magnésio e do sulfato de bário. Depois de atingido o pon:o
final, o excesso de hidróxido de bário leva à solução íons de bário « íons de hidró-
xido, fazendo com que a condutância aumente novamente. O ponto final da
titulação é determinado facilmente, pois corresponde ao mínimo de condutância.
A Fig. 23 mostra as duas titulações descritas.
CAPÍTULO 6
APLICAÇÕES DE MEDIDAS DE FEM
DETERMINAÇÃO DE PRODUTOS DE SOLUBILIDADE
Considere uma célula na qual um eletrodo de pratu-cloreto de pratu se
encontre combinado com um eletrodo de referência de calomelano:
Hg'He,CI,s), KCI/ /KCI, AgCl(s)/Ag
eletrodo de referênci de calomelano
Medindo-se a fem dessa célula, é possível obter-se o potencial do eletrodo de
prata, desde que conhecido o potencial do eletrodo de calomeluno. Da Eq. (4-10),
E = Eng Ecair
Ex = Em + Ea
O potencial do cletrodo de prata é, de acordo com a Eq (4-12),
o RE T
E = Ex tp la Kyo IR dan,
ou
onde aç;- é à atividade dos ions de cloreto no eletrodo de prata-cloreto de prata,
e Kas O produto de solubilidade do cloreto de prata. À equação anterior pode
ser reescrita de outra forma:
E
In Ka = (E ER) pq + ID da
ou
ti to; (6-1)
2303RT + 108 da-
Para poder calcular K,,cy à partir da Eq. (6-1), seria preciso saber o potencial
de eletrodo-padrão da prata, e a atividade dos íons de cloreto no eletrodo prata-
-cloreto de prata deveria ter sido considerada igual à atividade iônica média do
cloreto de potássio, Nesse caso particular, uma ponte salina seria desnecessária,
pois u junção líquida se dá entre duas soluções de cloreto de potássio, junção cujo
potencial é desprezivel.
Apesar das aproximações que devem ser feitas, esse método encontra grande
aplicação, pois, para a maioria dos casos, é relativamente simples construir-se
um sistema de eletrodos adequado para a medição.
É possível construit-se outro tipo de célula, no qual não há a necessidade
de conhecer o potencial-padrão do cletrodo metálico. Por exemplo,
Ag/AgCI(s), KCI/ /AgNO,/ Ag
Se os potenciais dos eletrodos da esquerda e da direita forem E, e E,, respectiva-
mente, a fem da célula será dada por
log Kage = (Esg
Eu =E-E,.
plicações de medidas de fem 101
Os potenciais E, e E, são dados pelas Egs. (4-15) e (4-12),
RT
F tn (a.
E,= Ei +
RT RT
E =Es+ a in Kyo a (ad,
onde (a ,), é a atividade dos íons de prata no eletrodo da direita e (a. ), a atividade
dos íons de cloreto no eletrodo da esquerda. Portanto teremos
To (a. [Ex SRS Ku ta (a)
Redistribuindo os termos da equação,
F,
In Kyo = In (a,); + In (0.), -—50»
ou
log Kao = log (a.), + log (a), (6-2)
FER.
2303RT
Novamente, (a,), deve ser considerada a atividade iônica média do nitrato de
prata, e (a. ), é considerada igual à atividade iônica média do cloreto de potássio.
Um método mais exato de determinar o produto de solubilidade do cloreto
de prata consistiria em medir a fem de uma célula adequada sem junção líquida.
Uma célula desse tipo poderia ser
Agi AgCI(s), HCI/CI, ; Pt,
Vatm
Eu = Ea, Ex
Os potenciais dos eletrodos isolados são dados pelas Eqs. (4-7) e (4-12),
RR
E, = Esopo ln ao
cessar REA RT
Ess = Ele tp Io Kyapo Mt dan.
Portanto
RT
E = (Es Ex) 10 Kage
Redistribuindo os termos,
F
in Kaos = (Eca, — Eks Eee) pr?
ou
E, de (6-3)
“e 2,303RT
Verificar-se-á que devido a ausência de junção líquida, não há necessidade de
aproximações, e a Eq. (6-3) poderá ser usada sem outras modificações para se
calcular K,,cy- Apesar do fato de ser este último método mais exato que os dois
primeiros, ele não é usado tão largamente, pois é mais dificil construir células
adequadas.
log Kaçei = (Eca, — Eds —
106 Fundamentos de eletroquimica
que varia com o tempo. Colocando soluções e eletrodos idênticos dentro e fora
do eletrodo de vidro, formaremos a seguinte célula:
Ag/AgCI(s), HCI 0,1 mol dm” */vidro/HCI 0,1 mol dm”*, AgCIs)/Ag-
A fem dessa célula deveria ser nula, pois ela é perfeitamente simétrica. Mas, na
prática, detetamos uma fem no intervalo de O a 10mY. Essa fem se deve a dife-
rentes estímulos do pH sobre as superfícies interna e externa do eletrodo de vidro,
é é chamada de potencial assimétrico do eletrodo. Supõe-se que a origem dessa
esteja nas diferentes tensões nas superfícies interna e externa do vidro. Por isso,
o eletrodo de vidro deve ser padronizado com soluções-tampão de pH conhecido,
para se determinar o valor de k na Eq. (6-9). É de fundamental importância usar-se
pelo menos duas soluções, de preferência mais, para garantir que o valor de k
seja constante no intervalo de pH no qual queremos fazer determinações. O
potencial assimétrico varia com o tratamento dado ao eletrodo e, assim, altera-se
lentamente com o tempo. É aconselhável padronizar o eletrodo de vidro uma vez
por hora, durante uma séric longa de medidas de pH.
Há outra razão para a padronização. O gráfico de E, contra In ag. deve
ter inclinação RT/F, mas, na prática, observa-se a ocorrência de desvios em relação
a esse valor.
O eletrodo de vidro apresenta muitas vantagens. Ele pode ser usado em
soluções de agentes oxidantes e redutores, não contamina a solução em estudo
e não é afetado pelos “venenos” comuns dos eletrodos. Entretanto algumas pro-
teinas dão resultados totalmente errados, provavelmente porque ocorre coagulação
sobre a superfície de vidro.
O eletrodo comum de vidro dá bons resultados na faixa de pH de 1 a 9, a
temperaturas inferiores a 35 C. Acima de pH 9, o potencial do eletrodo é afetado
por outros cátions presentes na solução além dos ions de hidrogênio. Os erros
no pH medido se devem provavelmente à penetração desses cátions no retículo
do vidro. O efeito é particularmente acentuado no caso de elevadas concentrações
de íons de sódio. Existem eletrodos de vidros especiais para medir-se pH acima
de 9. Em soluções ácidas, com pH inferior a 1, o eletrodo de vidro também dá
erros. Parece que o erro nesses casos não é provocado por cátions ou ânions espe-
cificos, embora, em alguns, pareça haver absorção de ânions na superficie de vidro,
O eletrodo de entimônio. Outro eletrodo cujo potencial depende do pH de
uma solução é o cletrodo de antimônio. Este é construído fundindo-se um pedaço
de antimônio no ar, para que haja inclusão de algum óxido. O equilíbrio em
solução pode ser escrito
Sb,0, + 6H* + 6e=2Sb + 3H,0.
O potencial do eletrodo é dado por uma cquação do tipo
E=A+Blog ag,
onde 4 c B são constantes que dependem do método de preparação do eletrodo
e das condições de uso do mesmo, Ele nunca é usado em medições de laboratório,
pois ele é pouco exato e deve ser calibrado para cada tipo diferente de solução
em que é usado. As principais aplicações do eletrodo de antimônio s: encontram
no controle industrial de pH, quando queremos testar continuamente o pH de
uma determinada solução. Nessas condições, o eletrodo pode scr calibrado para
uma aplicação determinada; trata-se de um eletrodo resistente, adequado para
emprego em instalações industriais.
Aplicações de med
de fem 107
DEFINIÇÃO MODERNA DE pH
Embora o pH de uma solução seja definido formalmente como
PH = log q.
e embora os potenciais dos eletrodos indicadores de hidrogênio, quinidrona e
vidro dependam da atividade dos ions de hidrogênio na solução, a impossibilidade
de medir-se o potencial de um eletrodo isolado impede u determinação do valor
do pH de uma solução tal como definido. A definição moderna de pH parte do
método de medição do mesmo, no qual um eletrodo indicador adequado é com-
binado com um eletrodo de referência, medindo-se a fem da célula assim formada.
A escolha do eletrodo indicador é indiferente, pois todos são sensíveis ao pH do
mesmo modo, mas, por simplicidade, consideraremos o cletrodo de hidrogênio.
Vamos supor que queremos medir o pH de uma solução desconhecida, X,
mergulhando um eletrodo de hidrogênio na solução e combinando-o com um
eletrodo de referência de calomelano, A célula completa pode ser representada por
1
PI; Hy/solução X /KCI, Hg.CL.(s)/Hg,
onde a linha pontilhada representa a junção líquida entre a solução X e a solução
de cloreto de potássio do cletrodo de calomelano. A fem da célula completa, E”,
será igual à diferença entre os potenciais dos eletrodos mais algum potencial de
junção líquida, EF,
E = Eygcn” Em, + EM. : (6-10)
O potencial do eletrodo de calomelano será dado por
az RT
Eusea = Empcupo IM (Aci-Dp»
onde (am-)p é à atividade dos ions de cloreto no eletrodo de referência de calo-
melano. Supondo-se uma pressão parcial do hidrogênio de uma atmosíera, O
potencial do eletrodo de hidrogênio será dado por
RT
Es = 771 (ado
onde (ay. )y é a atividade dos ions de hidrogênio na solução X. Substituindo esses
valores na Eq. (6-10), teremos
= ART RT
EF = Efe” pintada po In (agedy + Er (6-1)
Como não é possível medir-se o potencial de junção liquida ou a atividade dos
íons de cloreto, é impossível obter-se o valor de (ay. )y a partir da Eq. (6-1 1).
Vamos supor agora que retiramos a solução desconhecida X e a substituímos
na célula por uma solução-padrão S, de pH conhecido. A nova célula será
Pt; H,isolução S| KCI, Hg,CL(s)/Hg
A fem dessa célula ES será dada por uma expressão semelhante à Eq. (6-11);
selvas o iRT RT
E = Era 19 ada lo (0ye)s + E, (6-123
108 Fundamentos de elesroquímica
onde (ay+)s é à atividade dos íons de hidrogênio na solução 5, e ES o potencial
de junção líquida. Subtraindo-se a Eq. (6-12) da equação (6-11) resulta
E RT 3
et m (anos 20 In (ape + (EF — EB (6:13)
Ignorando diferenças porventura existentes entre os potenciais de junção liquida
EX e ES, e considerando idênticas as temperaturas das duas células, a Eq. (6-13)
se simplifica:
RT
F Lln (ag +)s— In (gr )y)
= 2303RT
ENE;
23M3RT
F
ET-ES =
[log (ay-)s— 108 (ay +)x):
(PH Hg).
Rearranjando os termos dessa expressão,
x ES
pH, = pH; + PuiR E; (6-14)
Ss” 2303RT
A Eq. (6-1) é considerada a definição moderna de pH. Trata-se de uma definição
operacional, pois qualquer solução desconhecida pode ser colocada no tipo de
célula descrito, para medir-se a fem correspondente à essa célula. O procedimento
pode ser repetido com uma solução-padrão com um valor conhecido de pH, PHs.
Aplicando a Eq. (6-14) podemos obter um valor numérico para pHy. Esse número
pode ou não ter um significado teórico. Fle pode ter algum significado teórico
somente se for justificável igaorar a diferença entre os potenciais de junção liquida
na Eq. (6-13) Quando as duas soluções, X e 5, forem muitos semelhantes, a força
iônica de ambas for menor que 0,1 mol dm 2, e seus valores de pI se situarerm
entre 2 € 12, supõem-se aproximadamente iguais os potenciais de junção líquida
ES e EX. Nessas condições, o valor numérico do pH tem aproximadamente o
significado que cle tinha na definição formal,
pH = -log ay...
Mesmo assim, é duvidoso esse significado, pois o pH da solução-padrão é
convencional,
ELETRODOS ÍON-SELETIVOS
Mencionamos durante a descrição do eletrodo de vidro que, cm valores
elevados de pH, o potencial do eletrodo era afetado pela presença de outros cátions,
além dos ions de hidrogênio, sendo o efeito particularmente pronunciado no caso
de altas concentrações de ions de sódio. Esse é o caso de tons de sódio interferindo
num eletrodo de vidro sensivel a íons de hidrogênio. Esse fato nos sugere que, se
a influência do sódio sobre o eletrodo puder ser aumentada e a do hidrogênio
diminuída, teremos à disposição um eletrodo adequado para medir a concen-
tração de fons de sódio numa solução. Foram construídos até o momento eletrodos
de vidro capazes de medir as concentrações, não só de ions de hidrogênio e sódio,
mas também de íons de potássio, de amônio e de prata. Tais eletrodos são chamados
de eletrodos ton-seletivos. Esses eletrodos foram sendo melhorados e muitos se
baseiam cm membranas de outros materiais (substituindo o vidro) para separar
Aplicações de medidas de fem 109
a solução interna de referência da solução a testar. Os eletrodos podem ser
classificados em quatro grupos, de acordo com o tipo de membrana empregado,
1) Eletrodos de vidro. Já foram descritos, e são seletivos apenas em. relação
a cátions.
2) Eletrodos de estado sólido. Nesses cletrodos, a membrana é constituida por
um único cristal ou um disco compactado do material ativo. Por exemplo, um
eletrodo de estado sólido sensível aos íons de fluoreto emprega uma membrana
de fluoreto de lantânio (LaF,) Um outro, sensível a íons de sulfeto, apresenta
uma membrana de sulfeto de prata. Além desses cletrodos de estado sólido para
determinação de F- e S?-, existem outros para CIT, Br”, 17, Ag”, Cu?*,
Pb2*,.Cd:* e CN:
3) Eletrodos de membrana heterogênea. São semelhantes aos eletrodos de
estudo sólido, diferindo destes por terem o material ativo disperso sobre uma
matriz inerte. Existem nessa classe eletrodos para a medida de ions CI", Br”,
IN, Se Ag”.
4) Eletrodos de membrana liquida de troca iônica. Nesse tipo de eletrodo, a
solução interna de referência e a solução a testar estão separadas por um liquido
orgânico de baixa solubilidade em água Na fase orgânica, encontram-se dis-
solvidas grandes moléculas, nas quais se incorporam os ions de interesse em cada
caso. O mais importante desses eletrodos é o eletrodo de cálcio, no qual o
trocador iônico é o sal de cálcio do ácido dodecilfosfórico dissolvido em di-n-acetil-
fenilfostonato. Existem outros eletrodos dessa classe, próprios para a determinação
de ions como CI”, CIO;, NOj, Cu?*, Pb?* e BF;.
TITULAÇÕES POTENCIOMÉTRICAS
A medida do potencial de certos cletrodos oferece um método prático e
exato de determinar o ponto final de titulações.
Titulações ácido-base. A Fig. 12 mostra como o pH de uma solução varia no
decorrer de titulações ácido base. Mostra-se que o potencial de um cletrodo de
hidrogênio depende do pH de acordo com a relação dada pela Fq. (6-6), que
poderá ser escrita
2308RT
F
Vê-se que, à medida que o pH da solução sumenta, quando adicionamos
álcali a um ácido, o potencial de um eletrodo de hidrogênio diminui, Como o
pH da solução varia rapidamente nas proximidades do ponto final da titulação,
e potencial do eletrodo de hidrogênio apresenta o mesmo comportamento. O
potencial de um eletrodo isolado não pode ser medido, de modo que se torna
necessário combinar o eletrodo de hidrogênio com um eletrodo de referência
adequado, medindo-se a fem da célula completa. O potencial do eletrodo de
referência permanece constante e a variação da fem da célula deve-se exclusiva-
mente à variação do potencial do eletrodo de hidrogênio. Se usarmos como refe-
rência um eletrodo saturado de calomelano, a fem observada, E, será dada por
E= pH. (6-15)
E = Bunc” Em
Como o potencial do eletrodo de hidrogênio descresoe durante a titulação, a fem
observada aumentará. A Fig. 25 mostra um gráfico da fem de uma combinação
de eletrodos de hidrogênio calomelano contra o volume de álcali adicionado,
no Fundamentos de eletroquímica
o
0,8
07
Ely
0,6
0,5
04
2 23 24 25 26 27 28
Volume de base adicionado/cm* Volume de AgNO, adicionado
Figura 25. Titulação potenciométrica Figum 26. Titulação potenciométrica
ácido-hase de haletos
para uma titulação de ácido forte com base forte. O final da titulação é indicado
pelo segmento vertical no gráfico.
Os eletrodos de quinidrona e de vidro também respondem a variações de
pH, e eles também podem ser empregados como vletrodos indicadores, em lugar
do eletrodo de hidrogênio. Na prática, a combinação mais comum é u de um
eletrodo de vidro com um eletrodo de referência de calomelano saturado, ambos
imersos diretamente na mistura que está sendo titulada.
Titulações com precipitação. Considere a titulação de cloreto de potássio
com nitrato de prata. Com a adição da primeira gota de nitrato de prata, haverá
precipitação de cloreto de prata, estando a solução saturada com relação a esse
sal. A atividade dos ions de prata será muito pequena e pode ser indicada pelo
potem: de um eletrodo de prata imerso na solução. Com adição de maiores
quantidades de nitrato de prata, mais fons de cloreto precipitam na forma de
cloreto de prata. A solução permanece saturada com cloreto de prata, mas a
atividade dos ions de prata aumentará ligeiramente, devido à remoção de íons
de cloreto, já que o princípio do produto de solubilidade estabelece que
eae Egor
Atingido o ponto final, a atividade dos íons de prata na solução aumenta rapida-
mente, devido à presença de excesso de nitrato de prata, c o potencial do eletrodo
de prata mostra simultaneamente um aumento acentuado. À Fig. 26 ilustra esse
comportamento.
Também aqui o eletrodo de prata deve ser combinado a um eletrodo de
referência, medindo-sc 4 Jem da célula completa. O potencial do cletrodo de
referência permanece constante, e a fem da célula varia na mesma proporção
que o potencial do eletrodo de prata. O ponto final é indicado pela elevação rápida
da curva da fem num gráfico do potencial contra o volume de titulante adicionado.
Também misturas de haletos e de outros ânions que formam sais de prata
insolúveis podem ser rituladas potenciometricamente, com certas ressalvas. Con-
sidere uma solução contendo uma mistura de íons cloreto c ions iodeto. Com a
adição de nitrato de prata precipitará inicialmente o iodeto de prata, pois é o
Aplicações de medidas de fem nm
menos solúvel dos dois haletos de prata. Enquanto isso ocorre, o potencial do
eletrodo de prata aumentará ligeiramente com a remoção dos ions de iodeto da
solução. Depois de precipitado todo o iodeto, haverá formação do cloreto de
prata, c O potencial do eletrodo de prata se elevará repentinamente a um nível
mais elevado, que dependerá da solubilidade do cloreto de prata. Durante a pre-
cipitação do cloreto, o potencial aumentará ligeiramente, para mostrar um aumento
repentino no ponio final da titulação,
A Fig. 27 mostra o tipo de curva obtido numa titulação desse tipo, O primeiro
segmento vertical no gráfico indica o título do iodeto, e o intervalo entre o primeiro
e o segundo segmentos verticais indica o título do cloreto. É óbvio que à altura
do primeiro degrau é proporcional à diferença entre as solubilidades do iodeto
de prate e do clorcto de prata. É, portanto, possível titular misturas de ânions,
desde que exista uma diferença suficiente nas solubilidades de seus compostos
de prata para dar degraus observáveis nos gráficos.
Se usarmos como referência um cletrodo saturado de calomelano, este não
pode ser mergulhado diretamente na mistura à lilulur, pois os ions de cloreto
do eletrodo de calomelano sofreriam difusão para O centro da solução. O eletrodo
de calomelano deve ser mergulhado num béquer contendo solução saturada de
cloreto de potássio ou em uma solução saturada de nilrato de amônio, ligado
ao recipiente que contém a mistura a titular por meio de uma ponte salina de
nitrato de amônio.
Titulações redox. A variação de potencial que um eletrodo inerte, como
platina, apresentaria durante o decorrer de uma titulação redox encontra-se exem-
plificada na Fig. 19. Desse diagrama, dedus-se facilmente que uma medição do
potencial de um eletrodo inerte, em relação a um eletrodo de referência apropriado,
pode servir para indicar o final de uma titulação redox.
Trulações diferenciais. Examinando as curvas de E contra v das Figs. 19,
25 e 26, observamos que o ponto final de uma titulação ocorre no segmento ver-
tical da curva. Nesse ponto, a inclinação da curva no gráfico é máxima. Se cons-
:tuirmos um outro gráfico, o da inclinação da curva do gráfico E-r contra o volume
de titulante adicionado, obteremos um gráfico do tipo ilustrado na Fig. 25. O
ponto final da titulação corresponde agora ao máximo do gráfico diferencial.
Um gráfico diferencial poderá ser construído diretamente u purtir das obser-
vações experimentais, mediante o emprego de um aparelho relativamente simples.
cEldv
Volume de AgNO, adicionado 4
Figura 27, Titukição potenciométrica de Figura 28. Gráfico diferencial
mistura de heletos
6 Fundamentos de eletroquímica
em Eu + 0,188 log m 0,06 Mm = Exa = 0.118 Cm (6:29)
Colocando em um gráfico o membro esquerdo da Eq. (6-29) contra ma, teremos
uma linha reta de interseção Esc À extrapolação até ácido cloridrico de mola-
lidade zero nos dará o potencial-padrão do cletrodo prata-cloreto de prata.
A maioria dos potenciais-padrão dos eletrodos pode ser determinada por
essa técnica, mediante escolha de uma célula adequada ao caso.
DETERMINAÇÃO DE CONSTANTES DE DISSOCIAÇÃO
As constantes de dissociação de ácidos fracos podem ser determinadas de
modo aproximado por meio d: medidas do pH de uma solução que contém uma
mistura do ácido e de um de seus sais, formado pela reação com uma base forte.
Considere uma solução contendo inicialmente a moles de um ácido fraco mono-
básico MA ao qual se adicionaram b moles de uma base forte moncácida MOH,
com b menor que a. À reação entre o ácido e a base pods ser representada por
HA+M* + 0H >Mº +A" + H,0.
Parte do ácido remanescente estará dissociada,
HA + ,0=H,0* +A”,
e parte do sal sofrerá hidrólise,
A- + H,O=HA + 0H".
A solução conterá moléculas de HA não-dissocindas, tons H*, íons OI”, ions
A”, e ions M*. Como a solução deve ser eletricamente neutra, a soma de todas
as cargas positivas deve ser igual à soma de todas as cargas negativas; designando-se
a quantidade de cada fon presente na solução por n mais um indice apropriado,
Be Ego = 4-4 Mou
A quantidade de ions M” deve ser idêntica à quantidade de base adicionada e,
portanto,
bring == + how (6-30)
Os ions A” existentes na solução provêm do ácido inicialmente presente, de
modo que
a=ma + (6:31)
onde ny, é à quantidade de ácido não-dissociado existente na mistura. À constante
de dissociação do ácido é dada por
K mota
=,
ya
ao tos
Mga
Suponha agora que o peso do solvente na solução seja w kg: nessas condições,
na = Wm,- € My = WMyy- Multiplicando-se numerador € denominador da Eq.
(6-32) por w, teremos
(6-32)
= Ggo”
ma
K=ay:
(6323)
= ape
Aplicações de medidas de fem "7
Da Eq. (6-30), sabemos que
na- =D + mg —Non-
e da Eg. (6-31), que
Nya = 4-n,
=a-b-(ny. —Nog-).
Substituindo na Eq. (6-334,
b + mg
EE
Kms
ou
(6:34)
Lembrando que mg. = wMy, € QUE Noy- = WMoy-, * Eq. (6-34) pode ser escrita
de outra forma
(16-35)
Portanto, sendo my. *Mog- = 107!* o produto iônico da água, é fácil perceber
que, se O valor de my. se situar entre 107* c 107*º, 0 termo (My. — Mow -) torna-se
muito pequeno e pode ser desprezado. A Fq. (6-35) reduz-se a
Eggs
bo pa
dy =
ou considerando-se os logaritmos,
pH = pk, + logo log 22.
a-b Jus
Se a solução for suficientemente diluída, poderemos desprezar os termos dos
coeficientes de atividade
pH =pK, + log Er
a-b
A Eq. (6-36) é idêntica à forma simples da equação de Henderson [Fq. (3-27)],
que é aplicável a soluções com pH entre 4e 10. Se a quantidade de base adicionada
for igual à metade da quantidade de ácido inicialmente presente, isto é, se b = q/2,
a subsliluição desses valores na Eq. (6-36) dará
pH=pk,.
(6-36)
O pkK, de um ácido fraco é, portanto, aproximadamente igual ao pH de uma
solução do ácido à qual se adicionou metade da quantidade equivalente de uma
base forte,
Se um ácido fraco for titulado potenciometricamente com uma base forte,
usando-se, por exemplo, um eletrodo de vidro c um cletrodo de referência adequado
ao caso, é possível construir-se um gráfico de pH contra a quantidade de base
adicionada. O gráfico permite ler a quantidade de base necessária para a neutra-
lização do ácido, e o pH do sistema depois de adicionada metade da quantidade
da base. Se esse pH se situar entre 4 e 10, ele será aproximadamente igual ao
pk, do ácido.
118 Fundamentos de eletroquimica
As constantes de dissociação de ácidos podem ser medidas com precisão
a partir de medidas das fem de células sem junção liquida, tais como
Pi; Hy/HA(m,), NaA(m,), NaClfm,), AgCI(s)/Ag.
A fem da célula será dada por
E,
=E E,
Os potenciais dos eletrodos de prata-cloreto de prata c hidrogênio são dados
respectivamente por
asc Em,
= SRT.
Exa = Exp 9 da-
RT
FD Am
desde que à pressão parcial do gás hidrogênio seja 1 atm Portanto
[a
RT
Eca = Eça po 10 Anta,
FE Efçeo
ou
In ag-tc-- (6-37)
Da equação (6-32).
au = Krala Ha
E Pi
e, considerando a, = Ya e substituindo esses valores (6-37), teremos
FE a- ia) e
eet TARCU q ATA, MA
RT os sda oo
ou é
Mom Ethos (Di a
: RT ER x as
Cu aindo, pr DO mam
Dear) | o maMo - joglBsa ok. :
230587 "Em CB los K, (638)
A
A fem da célula é medida a vários valores para m,, m,, mt: à parte esquerda da
Eq. (6-38) é colocada num gráfico contra a força iônica da solução. Com força
iônica zero, os cocficientes de atividades são iguais a 1, c a parte direita da Eq.
(6-38) simplifica-se a —log K,. Assim, a interseção obtida (membro esquerdo da
equação contra força iônica) dará —log K,
As molalidades da Eq. (6-38) são calculadas como segue; o cloreto de sódio
é considerado completamente dissociado, dai,
Ma = ms.
O ácido HA estará parcialmente dissociado nos íons H” e A”, A molalidade dos
jons de hidrogênio assim produzidos é my., e à molalidade estequiométrica do
ácido é m,. A molalidade das moléculas não-dissociadas de ácido é, portanto,
Mas = MM.
Os fons A” em solução provêm, em parte, do sal NaA e, em parte, da dissociação
do ácido; portanto
me =m + ma
Aplicações de medidas de fem no
É necessário, ainda, conhecer-se m,, é se a constante de dissociação do ácido
não for maior do que 107*, será possivel calcular-se um valor razoável para my,
a partir de um valor aproximado de K,. Fazendo-se
K, xs Pueltar,
Pa
sendo m,- “mM, € My, XM,,
my. = K,
Na prática, a relação m, para m, é usualmente mantida constante, variando-se
a força iônica da solução, usando-se diferentes concentrações de cloreto de sódio.
O método, tal como descrito, é limitado a ácidos com K, de 10-* a 1075, Para
ácidos mais fortes, o cálculo de my. é mais complicado e. para ácidos mais fracos,
é necessário considerar-se o efeito da hidrólise sobre m, ,. O método dá resultados
bastante bons.
DETERMINAÇÃO DO PRODUTO IÔNICO DA ÁGUA
Células com junção líquida permitem determinar aproximadamente o produto
iônico da água, A célula
Pt; H,/KOH(0,01 mol dm” 3) /HCH0,01 mol dm"*YH,: Pt
é uma célula de concentração cuja fem depende da diferença entre as atividades
dos íons de hidrogênio nas soluções em torno dos eletrodos, issó se a pressão
parcial do gás hidrogênio for a mesma nos dois eletrodos. Considerando-se com-
pletamente eliminado o potencial de junção liquida, a célula terá uma fem de
(6-39)
onde aj. e aj. São as atividades do íon de hidrogênio nas soluções de ácido cloridrico
e hidróxido de potássio, respectivamente. Com relação a esta última, o produto
iônico da água pode ser escrito:
K, = da X dog-»
onde aog- é à atividade do íon hidróxido na solução alcalina. Substituindo aj.
obtido dessa relação na Eq. (6-39),
E = RT my dicdon
Ci K,
Supondo as atividades iônicas iguais às atividades iônicas médias das soluções,
teremos
RT, las)(asy
Eus Te o,
expressão na qual (a,)' e (a,J representam as atividades iônicas médias das
soluções de ácido cloridrico e hidróxido de potássio, respectivamente, Uma medição
da fem da célula nos daria um valor aproximado de K,.
Medidas exatas de K, podem ser obtidas de células sem junção líquida. Um
exemplo de célula adequada para essa finalidade é
Pt; H,/KOH(m,), KCl(m,) AgCI(s)/Ag,
120 Fundamentos de eletroquímica
sendo de 1 atm a pressão parcial do gás hidrogênio. A fem da célula será dada por
Eca = Exa Em:
Os potenciais dos eletrodos isolados são dados por
; E RT
Exa E Exa Fo im Ger-
RT
Em = ap
tant
Portanto RT
Fa = Ega po IM Gy tda
Uma vez que
teremos Ryan! emos
RT Tio
E, = ços oba
RT RT mas RT: tvi
SS can oba PA a o
Ea + e E
Rearranjando os termos,
m
gl
Ea E
on:
7
- Exa + In
Supondo-se o hidróxido de potássio e o cloreto de potássio completamente
dissociados, rmog- pode ser considerado igual a m,, c mey- igual a m,. Com essas
substiluições e convertendo os logaritmos em decimais, teremos a expressão
FE. Exa) Mm, Vea
et Cao | jog O es log K,-log ==. 16-40)
2303RT * Em, RR (540)
À concentração zero, os coeficientes de atividade são iguais a um «, nessas con-
dições, o membro direito da Eg. (6-40) é igual a —log K,. Se colocarmos num
gráfico o membro esquerdo du Eq. (6-40) contra a força iônica, a interseção do
cixo das ordenadas dará -log K,
CAPÍTULO 7
ELETRÓLISE
PROCESSOS ELETRÓDICOS
Consideremos um eletrodo de um metal, M, parcialmente imerso numa
solução de ions do mesmo metal. M*. Explicamos no Cap. 4 que se estabelece
um equilibrio entre duas reações opostas:
=
MEM +e:
e que o eletrodo adquire um potencial que depende do equilíbrio. Quanto mais
o equilíbrio estiver deslocado para & direita, mais negativo será o potencial ele-
trodo, pois os elétrons se acumulam no metal. Como o sistema está em equilibrio,
o potencial em questão é chamado de potencial reversivel do eletrodo.
Se incluirmos o cletrodo num circuito e o ligarmos a uma fonte de potencial.
infinitesimalmente mais positiva que o potencial reversível do eletrodo, então
elétrons deixarão o cletrodo para ingressarem no circuito. Essa perde de elétrons
perturba o equilíbrio acima, e ocorre uma reação que tenta restaurar o equilíbrio,
fornecendo mais clétrons. Essa reação é, obviamente,
MSM! +e
O cletrodo metálico se dissolve, para formar cátions metálicos, que se alustam
do cletrodo, dirigindo-se para a solução. O eletrodo funciona, portanto, como
um ânodo. Se e potencial externo aplicado ao eletrodo for apenas infinitesimal-
mente mais positivo que o potencial reversível do eletrodo, então será pequena
a velocidade de perda de elétrons pelo eletrodo, e a-reação eletródica facilmente
acerta O passo com a perda de elétrons. Nessas condições, o eletrodo manterá
seu potencial reversível, e diz-se que ele opera reversivelmente como ânodo.
Se, porém, o potencial aplicado for muito mais positivo que o potencial
reversível do eletrodo, os elétrons abandonarão o eletrodo com uma velocidade
muito maior do que na operação reversível Se houver uma etapa lenta na dis-
solução do metal, a velocidade de perda de elétrons será maior que a velocidade
de formação de elétrons pela reação eletródica. Nessas condições, o potencial do
eletrodo se torna mais e mais positivo, em relação ao potencial reversivel, e diz-se
que o eletrodo está polarizado. Qualquer eletrodo que opera em potencial diferente
de seu potencial reversível encontra-se polarizado, e está operando irreversivelmente.
Como foi mostrado, o potencial irreversível de um ânodo é mais positivo
que seu potencial reversível, relação que pode ser expressa
EA > E (1)
onde E; é o potencial de um ânodo operando irreversivelmente, e E, . seu potencial
reversível. j
Se o potencial aplicado for infinitesimalmente mais negativo que o potencial
reversível do eletrodo, os elétrons passarão da fonte externa para o eletrodo. Isso
126 Fundamentos de eletroquímica
ao
AG
Figura 21, Diagrama da coorde-
nada de reação
Coordenada de energia lie
Coordenada de reação
ativação da reação direta diminui em AGF, e que a energia de ativação da reação
inversa aumente segundo AGF. Essa situação se encontra representada na Fig. 32.
Como resultado das variações nas barreiras energéticas, devidas ao potencial E,
as velocidades das reações direta e inversa irão variar, Sejam cssas velocidades
», é ty, respectivamente, e k, e k, as correspondentes constantes de velocidade.
Teremos então
m = ko “= fre (7-6)
k (A =
kT ( AG$ sosor,
onde
h= emp E (77)
Suponha que uma fração x do potencial E leva a favorecer a reação direta, ao
passo que a fração restante do potencial (1 - a) leva a retardar a reação inversa.
Coordenada da energia livre
Cogrdenada de reação
Figura 32. Disgrama da coordenada de reação
Eletrólise 127
Temos então
AGE =
Substituindo na Eq. (7-5)
aFE e AGE =-(L-azFE)
kT AG$ + azFE
Ef
k a Ai «az >
BS CEA RT
os
patT AGY xp (EEE
LETRA AR CR TE)
AG: 1-2)zFE
(E) ao (Ee) ECS
Comparando esse resultado com u Eq. (7-5), podemos ver que
azFE
k, = ki exp (- RE +
k = ep (Eae) (7-9)
Essas equações relacionam a constante de velocidade de uma, reação eletródica,
na presença de um potencial E, à constante de velocidade na ausência de qualquer
potencial.
As velocidades reais das reações são dadas pelas Egs. (7-6) como sendo
azFE
v; = aok? exp (5).
n= x ( EE (710)
No equilíbrio, E será o potencial reversível do eletrodo « v, =
FE (ar
ah exp (=) = agk$ exp (a).
Escrevendo na forma logarítmica,
azFE (1-nEE
Inao + kr =Inay + Ink$ + RT
Rearranjando os termos,
zFE ag E
— =InL + In
mn RT In Be n 3
Pp a
5 SÉ jntoh qneo SO (1
As Egs. (7-5) dão k e k% em termos de energias livres de ativação. Empregando
essas expressões,
tata péro (SO CE cap (SCE
po CCR RT PART;
128 Fundamentos de elesroquímica
ou
tn — 67867,
E RT
Da Fig. 31 conclui-se que (AG$ - AGF) = - AG" e, portanto,
Ho se
ng=-Rr
Relembrando que — AG” =—zFE”, teremos
tn in 3FES
BRT
Substituindo na Eq. (7-1)
Eis E E tn a G-12)
que é a equação, deduzida termodinamicamente no Cap. 4, pars potenciais rever-
siveis de eletrodo.
Antes de deixar o caso da situação de equilibrio, devemos ainda mencionar
outro aspecto. As reações direta e inversa são reações heterogêneas. pois elas
ocorrem na superíícic de um eletrodo. As velocidades são, pois, expressas em
unidades de (quantidade de substância) (tempo)”" (superfície) '. À medida que
a carga está sendo transferida através de dupla camada, no decorrer dessas reações,
cada reação corresponde a uma corrente elétrica e as velocidades das reações
poderão ser expressas em (ermos de densidade de corrente, multiplicando-se à
velocidade por zF. Suponhamos, por exemplo, v, = 10"*molem"2s-!,cz=1,
zPr, = 1 x 96500C mol! x 10-8 mol cm-2s-!,
= 9,65 x 107*Cem"2s 1,
=9,65 x 10 !Acm 2.
Além disso, a reação direta é uma reação de redução e, portanto, uma reação
catódica, sendo a reação inversa uma reação de oxidação e, portanto, uma reação
anódica. À velocidade da reação direta pode, assim, ser expressa em termos de
uma densidade de corrente catódica j., e a da reação inversa cm termos de uma
densidade de corrente anódica , j,.
, azFE
je = =Façhki exp (- RT)
E 1l-ojzPE
j, = 2FagkS exp ( a + (713)
Como temos, no equilíbrio, v, = ,, então, no equilíbrio, j, deve ser igual a j,.
Esse valor comum para j, e j, é denominado j,, densidade de corrente de trocai?l,
Assim, “
. azFE 1-akFE
je = 2Fagk exp (- ==) = 2Fayk£ exp (Err, (7-14)
onde E é o potencial reversivel do eletrodo.
“Em inglês, exchange current density; algumas vezes citada como densidade de corrente
de equilíbrio. (N. do T)
Eletrólise 129
Um eletrodo em equilíbrio comporta-se, portanto, simultaneamente como
ânodo e como cátodo, mas a corrente unódica é exatamente igual à corrente
catódica, resultando uma corrente total nula.
Também devemos frisar que a densidade de corrente de troca, definida pela
Fq. (7-14) deveria ser chamada, com mais propriedade, de densidade aparente
de corrente de troca, pois ela depende até certo ponto da estrutura da dupla
camada, As mesmas considerações são válidas para o parâmetro a, chamado
coeficiente de transporte, Esses aspectos são importantes na elucidação dos moca-
nismos das reações eletródicas, mas um tratamento mais detalhado ultrapassa
os objetivos deste livro.
SOBRETENSÃO DE ATIVAÇÃO
A sobretensão de ativação surge quando o processo eletródico real é a etapa
determinante, e não o transporte do íon à superfície do eletrodo, frequentemente
chamado de efeito de transporte de massa. O lratamento cinético empregado no
ilem anterior pode scr empregado nas considerações sobre a sobretensão de
ativação e, por motivos de simplificação consideraremos um processo eletródico
independente de efeitos de transporte de massa. Estipulamos ainda que não há
qualquer adsorção específica de reagentes ou produtos no eletrodo.
Suponha um potencial K', diferente do potencial reversível E, proveniente
de uma fonte externa, aplicado a um eletrodo. Esse potenciul aplicado irá alterar
as velocidades das reações direta = inversa, provocando aceleração de uma c
retardamento de outra. Se E > E, a reação anódica será acelerada e a reação
catódica retardada. Isso significa que j, > j., e haverá passagem pelo cletrodo
de uma corrente anódica. Reciprocamente, sc E <F, a reação catódica se
processará mais rapidamente que a anódica, e a corrente final no eletrodo será
uma corrente catódica.
Suponha que, na presença do potencial E”, as velocidades dus reações catódica
e anódica sejam +, e º4, respectivamente, sendo as correspondentes constantes
de velocidade k, é kj. Então
vi=ka e ty = kia (15)
As constantes de velocidade k; e k4 se relacionam a k$ e kY através de equações
semelhantes à Eq. (7-9),
atra (E),
K=k eso ( E
% (1 -a)zFE' "
= exp (ae, 72-16)
onde a é a frução do potencial E' que favorece a reação catódica, e (1 —a) a Iração
que retarda a reação anódica. Da Eq. (7-3),
E =E+n (73)
tiramos o valor de E' e o substituímos na Eq. (7-16),
7 azF(b + q)
k =kjexp (- a)
À (I-a)zKE + 9)
k, =k4 exp (gt s
130 Fundamentos de eletroquímica.
ou
= 2) ei
kK=k es ( RT exp RT
é a ho exp (UDF E (= o)zEm)
ka eg esp ( RT JSPIRT O (+17)
Substituindo nas Eqs. (7-15) as expressões das constantes de velocidade das
equações (7-17), teremos, para as velocidades das reações, us expressões
FE Fi
ER RTR (- =) E (- =)
do o antg ep (O Ri) exp (e e,
Exprimindo essas velocidades em termos de densidades de corrente,
E ari azPn
je = zFaçk? exp (- =) exp (- qe)
Tenta Pa SAD at) exp (Equin) (as
Comparando com a Fq. (714), verificamos que a Eg. (7-18) pode ser escrita
Cs o (RED O o ro (ae,
je=io es ( a): d=d emp ( RT ) (07-19)
Concluímos, das Egs. (7-19), que, se n for negativo, j, > j, é O eletrodo se com-
portará como cátodo. Sc, por outro lado, m for positivo, j, < j,, € o comportamento
do eletrodo será de anodo. Fm qualquer eletrodo é possível considerar passagem
de correntes anódica e catódica; a corrente final dependerá simplesmente das
intensidades relativas dessas duas correntes.
É convenção escrever, para a densidade total de corrente,
ds derda: (720)
Assim sendo, se j > j,, j será positivo, de modo que as correntes catódicas são,
por uma convenção, consideradas positivas. Sc j, < j,, j será negativo, e us cor-
rentes anódicas são convencionalmente negativas.
A variação das densidades de corrente j. e j,, isoladamente, com a sobre-
tensão, pode ser representada graficamente através de um gráfico das densidades
de corrente contra a sobretensão. Nesses gráficos, é comum representar-se j, como
uma quantidade negativa, e representarem-se valores negativos de m à direita
da origem, como ilustrado na Fig. 33. Considerando-se j. das Eqs. (7-19). quando
n=0, então j =j,. À medida que 7 = 00, j 0. Quando q += co, j, + 00.
Para j, da Eq. (37-19) quando q = 0, j, = j,. Quando m =» — 00, j, > 0; e, quando
n> 09, j, > 0, Uma representação gráfica das Egs. (7-19) está representada na
Fig. 33, na qual as densidades de corrente anódicas são negativas. A densidade
de corrente total j é a soma de j. e —j,, e corresponde, no gráfico, à curva que passa
pela origem. Dessa forma, quando » = 0, j = 0. Quando n é negativo, j é positivo,
indicando corrente total catódica; quando 1 é positivo, j é negativo, indicando
corrente total anódica.
Eletrótise 131
Figura 33. Curvas corrente-sobretensão
A equação pera o gráfico da densiduds de corrente total pode scr obtida
substituindo-se as Eqs. (7-19) na Eq. (7-20). Portanto
toi foo( mo( RD) em
Essa equação relaciona a densidade de corrente aum eletrodo com à sobretensão.
Em dois casos, extremos cla pode scr simplificada.
1) Sobretensão baixa
Termos exponenciais podem ser expressos como uma série.
DE
=mi+xtS + to
ESC Ea
Sc x for pequeno, é x 1 + x. Em casos de sobretensão baixa é possível fazer
essa aproximação para os termos exponenciais da Eq. (7-21) resultando
E azkn (L-o)zFy
repre +1ceet)
Rearranjando os termos,
ou
qse, (7:22)
O sinal negativo indica que, se 1 for positivo, deve ser negativo, mostrando que
a corrente total é anódica. No caso de sobretensões baixas, a Eq. (7-22) mostra
que j é diretamente proporcional a 1%, e podemos ver, na Fig 33, que, nas
proximidades da origem, a curva da densidade total de corrente é linear.
136 Fundamentos de eletroquímica.
Assim sendo, todos os cletrodos operam irreversivelmente, e deveriam ser clas-
sificados em mais irreversíveis ou menos irreversíveis, embora seja bastante comum
o emprego dos termos irreversível e reversivel para essas duas siluações. As
densidades de corrente de troca caem geralmente na faixa de valores de 172 à
105 A cm? de modo que, em um eletrodo com 1072 A cm”?, haverá
corrente intensa com valores baixos de sobretensão,
Outro aspecto importante da densidade de corrente de troca é sua relação
com a facilidade com que o potencial de equilíbrio pode ser estabelecido num
eletrodo. Para o estabelecimento do equilíbrio, deve haver um transporte de carga
através da dupla camada, por meio das reações anúdica e catódice. Se j, < 1077 A
em”?, é pouco provável que o cletrodo possa atingir seu potencial de equilíbrio,
mesma em sistemas convencionalmente puros, onde, provavelmente, existirão
impurezas suficientes para manter uma densidade de corrente maior que 1077 A
em”?, Nesse caso, o potencial do cletrodo se deve mais às impurezas que ao sis-
tema propriamente dito. A Eq. (7-14) mostra que o valor de j, depende das ativi-
dades das formas oxidada e reduzida do sistema cletródivo «, portanto, em soluções
diluídas j, terá um valor pequeno. Esse é um dos motivos pelos quais é dificil
conseguirem-se valores precisos de fem cm soluções diluídas, a não ser que sejam
tomadas precauções muito rigorosas para eliminar impurezas. Esse aspecto já
foi mencionado em relação à determinação de potenciais-padrão de eletrodos,
no Cap. 6.
SOBRETENSÃO DE CONCENTRAÇÃO
A origem da sobretensão de concentração é provavelmente ilustrada da
maneira mais compreensível considerando-se à eletrólise de um sal de um metal
entre eletrodos do mesmo metal, por exemplo, a cletrólise de nitrato de prata
entre eletrodos de prata. 8
Antes de iniciar-se a eletrólise, os eletrodos de prata entrarão em equilibrio
com a solução, atingindo o potencial reversível aproprindo, dependendo da ativi-
dade dos íons prata na solução. Como ambos os eletrodos estão mergulhados
na mesma solução, eles terão o mesmo potencial cletródico reversivel e, portanto,
não haverá diferença de potencial entre eles. Aplicando aos eletrodos uma pequena
fem externa, o cletrodo de prata ligado ao pólo negativo se comportará como
cátodo, e o cletrodo ligado ao pólo positivo funcionará como ânodo. No cátodo,
íons de prata serão retirados da solução à medida que forem sendo neutralizados,
depositando-se como prata metálica. No ânodo, a concentração dos íons de prata
aumentará com a dissolução do eletrodo. As soluções nas vizinhanças imediatas
dos eletrodos diferem em concentração do resto du solução: a do anólito terá
concentração maior e a do católito concentração menor. A maior concentração
de íons de prata em torno do ânado é parcialmente reduzida pela migração dos
íons de prata em direção ao cátodo e pela difusão através do restante da solução.
Analogamente, a concentração mais baixa de íons de prata em torno do cátodo
é parcialmente aumentada pela migração dos fons de prata provenientes do ânodo
e pela difusão de ions provenientes do resto da solução. Se, contudo, esses fenô-
menos de transporte forem lentos, resultará uma diferença finita na concentração
dos íons de prata em torno do ânodo e do cátodo. Isso dará origem a uma célula
de concentração, com uma fem que se opõe à fem aplicada. A diferença entre o
potencial real de funcionamento de qualquer um dos eletrodos, e o potencial que
eles apresentam quando em equilíbrio com íons de prata de atividade igual à da
Eletrólise 137
maior parte da solução, é a sobretensão de concentração do eletrodo. A fem da
célula de concentração produzida pela eletrólise é, assim, a soma das sobretensões
anódica e catódica, e a fem aplicada deverá ter um valor tal que compense essa
força contra-eletromotriz (fcem) da célula de concentração para que a eletrólise
prossiga
Voltaremos agora nossa atenção à situação criada em um dos eletrodos.
Antes de se aplicar qualquer potencial externo aos eletrodos, 4 concentração de
ions de prata será uniforme através de toda a solução, estando ambos os eletrodos
em equilíbrio a um potencial dado pela Eq. (4-5). Sz a concentração uniforme dos
ions de praia for c, e usar-se, na Eq. (4-5) concentração em vez de atividade, esta
assume a forma
Em E'+ ç ne, (71-32)
Suponha agora que consideramos um eletrodo ao qual aplicamos um potencial
E, menos que E. Esse eletrodo se comportará como um cátodo, c ions de prata
provenientes da solução serão aí depositados. Por simplicidade, consideremos
essa deposição tão rápida que é atingido um equilíbrio na superfície do eletrodo.
Em outras palavras, consideramos que a concentração de íons de prata na super-
fício do cletrodo será rapidamente corrigida pela reação de deposição, até que
ela corresponda a E'; também essa correspondência é dada pela Eq. (4-5) Se a
concentração dos ions na superfície do eletrodo for c,, a relação adequada será
RT
R=E+ ne » (7:33)
Como E' < E, c, < c,, estabelecer-se-á, na solução, um gradiente de concentrações,
que provocar a difusão de ions de prata da solução para o eletrodo. Os ions de
prata que migram para o cétodo encontrarão o gradiente de concentração e serão
acelerados; u velocidade de cada ion terá um componente de difusão, que se somará
ao componente de migração. A velocidade de chegada dos íons de prata no ele-
trodo será governada pela velocidade de migração e pela intensidade do gradiente
de concentração. Logo que os íons de prata atinjam o cletrodo, cles se depositarão
por ação da reação eletródica, rápida, de modo que a concentração na superficie
do eletrodo será mantida em c,, valor correspondente ao potencial E' aplicado,
A ctapa determinante no processo global é, assim, 0 processo de transporte de
massa, que faz os ions atingirem o eletrodo. Numa solução não-agitada, a con-
centração dos íons de prata será função da distância x uo eletrodo e do tempo t,
Quando + =0, a concentração é uniforme em toda a solução, com o valor c,.
Aplicando-se o potencial, a concentração na superfície do eletrodo decresos rapida-
mente a c,, e à solução nas vizinhanças do eletrodo se torna sucessivamente mais
pobre em íons de prata. Essa situação vem representada na Fig. 38, onde se mostra
a concentração dos íons de prata como função da distância ao eletrodo, em inter-
valos de tempo crescentes. Vê-se, na Fig, 38 que, numa solução não-submetida
a agitação, o gradiente de concentração diminui com o tempo, e que o processo
de difusão se tornará progressivamente mais lento,
Em soluções agitadas « situação é um pouco mais simples. Podemos consi-
derar a existência de uma camada estagnada de solução próxima ao eletrodo,
na qual não há movimento. No resto da solução, a concentração dos íons é man-
tida uniforme, de modo que o gradiente de concentração se restringe à camada
estagnada de solução, que é chamada camada de difusão. Nessas condições, a
138 Fundamentos de eletroquíínica
Figura 38. Variação do gradiente de
t crescente concentração em solução não-agitadas
Ce
x
concentração dos ions atinge rapidamente um cstado estacionário, como ilustrado
pela Fig 39. Um eletrodo de prata situado no grosso da solução adquirirá um
potencial E, dado pela Eq. (7-2); o potencial de operação do cátodo, E", será
dado pela Eq. (7-33) A diferença entre esses dois potenciais é a sobretensão de
concentração, dada pela Fa. (7-3) como sendo igual a
di n=E-E.
rt
ortanto . RT E e
ER
ou, de um modo genérico,
Sra (71-34)
Usp
'
No caso particular considerado, c, < c, € 1 será, destarte, negativo, mostrando
que o eletrodo funciona como cátodo,
Antes de considerar mais detalhadamente a Eq. (7-24), devemos analisar
melhor o problema do transporte de massa.
TRANSPORTE NA ELETRÓLISE
Na eletrólise, é importante estabelecer-se uma distinção entre os ions que
mantêm a corrente e os que são neutralizados nos eletrodos. Na parte maior da
solução, todos os íons presentes participam da condução da corrente elétrica, de
acordo com os seus números de transporte. Nos eletrodos, o potencial do eletrodo
determina os íons a serem neutralizados.
Er-——————
Figura 39. Gradiente de concentração esta-
cionária em solução sob agitação
* Concentração
uniforme
mantida
poragitação
Elecrólise 139
Considere a eletrólise de AgNO, de concentração 0,1 mol dm>*, numa
solução neutra, entre cletrodos de prata. Aplicando-se, através dos eletrodos,
uma fem pequena, o eletrodo ligado ao pólo negativo da fonte se comportará
como cátodo, e o outro como ânodo. No cátodo, serão neutralizados os ions de
prata, que se depositarão como prata metálica. O ânodo se dissolverá, para dar
origem a íons de prata em solução, Também estarão presentes íons de hidrogênio
e hidróxido provenientes da água, em concentrações de 107? mol dm”*.
No interior da solução, a corrente será conduzida principalmente pelos íons
de prata e de nitrato. A participação dos íons de hidrogênio e hidróxido no trans-
porte da corrente será desprezível, dada sua concentração extremamente baixa.
Na solução, o número de transporte dos fons de prata é 0,47, e o dos íons de
nitrato é 0,53. Assim, para cada 96487C de eletricidade conduzidos, 0,47 mol
de Ag' migram em direção ao cátodo, e 0,53 mol de NO, migram em direção
ao ânodo. No cátodo, | mol de Ag” é removido da solução, na forma de prata
metálica, mas somente 0,47 mol ai chegou por efeito de migração. A concentração
de ions de prata na superfície do cátodo será, portanto, menor que no resto da
solução e, numa solução em agitação, formar-se-á numa delgada camada próximo
uo cátodo um gradiente de concentração. Eventualmente se atinge um estado
estacionário no qual a velocidade de neutralização dos íons será igual à velocidade
de chegads dos mesmos «o cátodo por migração z difusão. A situação existente
durante a eletrólise está ilustrada pelo diagrama da 40.
Como, para cada 96487C de cletricidade, há neutralização de um mol de
Ag” e somente 0,47 mol chegam por migração, os 0,53 mol restantes devem chegar
ao cátodo por difusão. No ânodo, a situação é exatamente inversa. Um mol de
Ag* é formado pela dissolução de prata, 0,47 mol migra cm direção ao cátodo,
e o 0,53 mol restante afasta-se por difusão,
Considere agora os íons de nitrato. Para cada 96487, 0,53 mol de NOS
migra, afastando-se do cátodo. A concentração de ions de nitrato junto ao cátodo
diminui, deficiência que só pode ser suprida por difusão de 0,53 mol de ions pro-
venientes do restante da solução. No outro eletrodo, vale o contrário: 0,53 mol
de NO; chega ao ânodo, onde, não podendo ser neutralizado, estabeleoe um
gradiente de concentração, que provoca difusão dos íons para a solução.
Suponha que a corrente que passa através da solução tenha um valor I de
intensidade. As correntes conduzidas pela migração dos íons de prata e nitrato
são de 0,471 e 0,53], respectivamente. São as correntes de migração dos ions, sendo
essas as únicas correntes que operam no grosso da solução. Nas camadas de difusão,
entretanto, há alguma condução de corrente pela difusão dos ions. Essas correntes
são chamadas correntes difusão. Considere a camada de difusão catódica da Fig, 40.
-— Migração +
053 NO
0,47 hq?
Figura 40, Eletrólise de AgNO, 0,1
mol dm”? Difusão Difusão
. E Ageigre
agremag | ES AO 0.53 49
0,53NO5 0,53NOj
140 Fundamentos de eletroquímica
A corrente de migração do nitrato, afastando-se do cátodo, é de 0,531. A corrente
de difusão do nitrato em direção ao cátodo é também de 0,531, A corrente total
transportada pelos ions de nitrato na camada de difusão deve, pois, ser nula. A
corrente de migração dos íons de prata em direção ao cátodo é 0,471, e a corrente
de difusão, também em direção ao cátodo, é 0,531. Vê-se que são os ions de prata
os responsáveis pela condução de toda a corrente através da camada de difusão.
Um raciocínio semelhante mostra que são os ions de prata que conduzem
toda a corrente também através da camada de difusão anódica. Ao passo que,
no interior da maior parte da solução, todos os íons participam da condução da
corrente, nas camadas de difusão só conduzem os íons que são neutralizados.
É preciso, contudo, assinalar que essas camadas de difusão são muito delgadas,
com espessura de apenas uma fração de milímetro.
No exemplo anterior, o ion de prata conduz toda a corrente através das
camadas de difusão. Cerca de metade é uma corrente de migração, e cerca de
metade é uma corrente de difusão. Mas, na presença de um excesso de um eletrólito
indiferente, é possivel mostrar que a maior parte da corrente transportada através
da camada de difusão pelos ions de prata é uma corrente de difusão. Para exem-
plificar, considere uma solução 0,1 mol dm”* com relação a AgNO, e 1,0 mol
dm” * com relação a KNO,. Como » íon de prata está presente cm pequena con-
centração, comparada à concentração dos outros íons, seu número de transporte
será pequeno. Para a solução, os números de transporte para os íons de prata,
potássio e nitrato são, respectivamente, 0,04, 0,46 e (1,5. A eletrólise da solução,
entre eletrodos de prata encontra-se representada na Fig. 41. Como os ions potássio
e nitrato não são neutralizados, suas correntes de difusão são iguais e opostas a
suas correntes de migração. O ion de prata deve conduzir toda a corrente através
das camadas de difusão, « como somente 0,04 da corrente é conduzida por migração,
0,96 deve ser conduzida por difusão. Isso ocorre na presença de uma concentração
dez vezes maior de nitrato de potássio. Com concentrações ainda maiores de nitrato
de potássio, ou com conceniruções menores de nitrato de praia u proporção de
corrente conduzida por difusão se aproxima bastante de 100%.
Vimos que somente o íon que participa da reação cletródica (o ion eletroativo),
conduz toda a corrente através das camadas de difusão. Essa corrente total pode
ser considerada como consistindo em uma corrente de difusão 1, v uma corrente
de migração 17. A corrente total 1 é dada por
Loma + le (735)
A corrente de migração é a fração da corrente total que é conduzida por um ion
em migração e, portanto, igual ao produto da corrente total pelo múmero de
da Migração E
0,04 Agt
0,46 K*
HE 0,50 NOy
Figura 41. Eleteólise de AgNO, 0,1 mol
Difusão Difusão dm" = KNO, 10 mol dm"*
45 K* 0,45 K*
0.59 NOj
0,96 Ag*
Eletrólie 141
transporte do ion em questão, t,,
Im lt. (7-36)
A corrente de difusão pode ser deduzida da primeira li de Fick para a
difusão, que diz que
de Di (537)
onde dn/dt é a quantidade de substância que difunde por unidade de tempo,
através de uma área A, devido a um gradiente de concentração Qc/êx. D é uma
constante de proporcionalidade chamada coeficiente de difusão. O sinal negativo
na Eq. (7-37) indica que à difusão ocorre em sentido oposto ao do gradiente de
concentração crescente; empregam-se diferenciais parciais para o gradiente de
concentração porque, na realidade, ele é lunção tanto do tempo como da distância.
Contudo consideraremos o gradiente de concentração apenas no instante em
que cle atingiu um estado estacionário numa solução agitada, representada na
Fig. 39. Podemos ver, na Fig. 39, que o gradiente de concentração varia com a
distância e, para podermos usar à Eq. (7-37) para o cálculo da corrente de difusão,
fazemos uma aproximação (introduzida por Nernst): numa certa distância con-
sideramos o gradiente de concentração como sendo linear, tal como mostrado
na Fig. 42. Portanto
õ «,
Ox ô
Substituindo na Eq. (7-37) mas desprezando o sinal negativo, pois não estamos
interessados no sentido em que se transmite a corrente,
qe Dasçã ã
Para exprimir a velocidade de difusão como uma corrente, devemos multiplicar
dn/dr por zF, onde =, é o número de cargas do ion:
1,= aFDA (7:38)
õ
Substituindo as Eqs. (7-36) e (7-38) na Eq. (7-35), teremos
I= + 2FDA E
Figura 42. A aproximação de Nernst
146 Fundamentos de eletroquímica
graças a uma fem resultante que à favorece. Isso ocorre no segmento ma da Fig.
45; 0 gráfico passa a ter a forma da curva da Fig. 44. O segmento ma é geralmente
extrapolado até corrente nula para determinar o valor da fem aplicada, D, na
qual ocorrem correntes apreciáveis que favorecem a eletrólise. A fem aplicada em
D é conhecida como voltagem de decomposição, mas não tem significado teórico.
Esse conceito tem alguma utilidade prática em eletrólise, e o valor D pode ser
chamado de voltagem de decomposição prática.
Pela Fig. 44 podemos verificar que basta exceder-se, por um valor infini-
tésimo, o potencial reversivel de uma célula para que ocorra a eletrólise, Portanto
o valor minimo para a fem aplicada necessário para uma eletrólise é igual à fem
reversível da célula, e pode ser chamado de voltagem de decomposição reversivei.
Mas, nessas condições, qualquer cletrólise terá proporções insignificantes. Se
quisermos uma eletrólise em grau acentuado, a fem aplicada deve compensar
qualquer sobretensão associada a processos eletródicos, e deve, também, levar
em conta a queda de tensão IR através do eletrólito. Esse último termo obviamente
dependerá da disposição geométrica dos eletrodos na célula, o que mostra a limi-
tação do conceito de voltagem de decomposição.
Embora no exemplo anterior tenha sido considerado o desprendimento de
hidrogênio no cátodo, existe uma situação análoga na deposição de um metal.
Enquanto o metal depositado não cobrir inteiramente a superfície do eletrodo,
sua atividade irá variur, sendo possível surgir uma fem oposta à aplicada. Logo
que o eletrodo estiver inteiramente coberto pelo metal, ele se comportará como
metal puro, com atividade igual a um. A fcem não pode mais aumentar, e um
novo aumento na fem aplicada leva à ocorrência da eletrólise.
Como a fem total aplicada a uma célula eletrolítica inclui a queda de potencial
IR através do eletrólito, queda essa que depende da geometria da célula, é mais
significativo considerar os potenciais dos eletrodos individualmente. Os potenciais
de funcionamento dos cletrodos serão iguais a seus potenciais reversíveis mais
qualquer sobretensão existente, c esses potenciais são chamados de potenciais
de neutralização. Quando o processo é a deposição ou a dissolução de um metal,
os potenciuis são, por vezes, chamados de potenciais de deposição ou de dissolução,
É evidente que o potencial de neutralização mínimo é o potencial reversível dos
eletrodos, mas, para haver passagem de correntes apreciáveis, torna-se necessária
uma sobretensão apropriada.
No estudo de processos cletródicos, é mais comum, por isso, construirem-se
os gráficos corrente contra potencial do eletrodo em questão, c não um gráfico
corrente contra a voltagem total aplicada, como na Fig 45. Essa prática é adotada
na polarografia, uma técnica analítica já mencionada anteriormente, por ocasião
da discussão da sobretensão de concentração.
POLAROGRAFIA
Na polarografia, a eletrólise é realizada usualmente entre eletrodos de mer-
cúrio, quando os processos que nos interessam são catódicos. O ânodo é um
reservatório de mercúrio de grande superfície, de modo que a densidade de corrente
anódica seja baixa, evitando-se assim a polarização do ânodo. O cátodo é uma
pequena gota de mercúrio que pende da extremidade de um capilar ligado a um
reservatório de mercúrio, Ajustando o fluxo de mercúrio desse reservatório a um
valor adequado, podemos aumentar o tamanho da gota lentamente, até que ela
caia, iniciando-se então a formação de nova gota no término do tubo capilar.
trólise 147
Dessa forma, à superfície do cátodo é continuamente renovada, formando-se uma
nova gota a cada três ou cinco segundos. O cátodo é, assim, mantido limpo e livre
de qualquer contaminação por produtos formados na eletrólise. O aparelho é
disposto de tal maneira que as gotas que constituíram o cátodo caiam para dentro
do reservatório de mercúrio que constitui o ânodo, que está localizado no fundo
da célula eletrolítica. Um eletrodo de referência pode ser colocado na solução,
para podermos determinar o potencial de funcionamento do cátodo.
A técnica polarográfica se bascia na polarização de concentração, associada
ao fato de a corrente de difusão-limite ser proporcional à concentração da espécie
eletroativa na solução. Suponha a análise polarográfica de uma solução de íons
de metais. Os íons se neutralizarão no cátodo de mercúrio, formando um amálgama
no momento do potencial de neutralização apropriado. Para que a corrente con-
duzida através da camada de difusão pelos ions a neutralizar seja principalmente
corrente de difusão, adiciona-se um excesso de um eletrólito indiferente (Iregiente-
mente cloreto de potássio) à solução, e aplica-se um potencial negativo crescente
ao cátodo.
Com um potencial aplicado baixo, observa-se uma corrente residual, mas,
quando o potencial do cátodo se tornar suficientemente negativo, haverá neutra-
lização dos ions metálicos e formação do amálgama do metal no cátedo de mer-
eúrio. As gotas de amálgama provenientes do cátodo caem no reservatório que
forma o ânodo, e podemos encarar como reação anódica a dissolução do metal
do amálgama formar novamente ions metálicos em solução. Tornando o
potencial do cátodo progressivamente mais negativo, u corrente aumenta, até
que a corrente de difusão dos íons metálicos atinja o valor-limite adequado para
essa concentração particular de ions metálicos na solução. Se a corrente total
através da célula fosse devida inteiramente à corrente de difusão dos ions metálicos.
a corrente na célula permaneceria constante nesse momento, apesar de potenciul
aplicado tornar-se mais e mais negativo. Na prática, « corrente da célula continua
a variar com a variação do potencial aplicado, devido à existência de outras
correntes, como a corrente residual. Essa variação é, contudo, pequena, e está
ilustrada na Fig 46, onde se mostra um gráfico da variação da corrente através
da célula com o potencial negativo crescente do cátodo. Um diagrama desse tipo
é chamado de polarograma: este é, obviamente, semelhante à curva da Fig 43,
que mostra a variação da corrente de difusão com a sobretensão catód!
Figura 46. Um polarograma
148 Fundamentos de eletroquimica
Como a corrente de difusão-limite de um ion é proporcional à concentração
do mesmo na solução, o intervalo 1, do polarograma é uma medida da concen-
tração dos tons do metal na solução. Para determinar-se a concentração real dos
ions, o aparelho deve inicialmente ser calibrado com soluções de concentração
conhecida. A polarografia constitui assim um método de análise quantitativa.
Para se chegar à equação da onda polarográfica mostrada na Fig. 46, será
útil considerar um caso genérico de redução ocorrendo num cátode, no qual a
forma oxidada do sistema difunde-se em direção ao cátodo para aí ser reduzida
em consequência da reação eletródica,
ox + ze = red.
Mostramos antes que, numa redução, num cátodo, na qual a etapa determinante
da velocidade é o processo de transporte de massa, a corrente é proporcional
à velocidade de difusão da forma oxidada em direção ao eletrodo. Esta, por sua.
vez, depende da diferença entre as concentrações da forma oxidada na superficie
do eletrodo e no restante da solução. Portanto
1 = kollox],-[ox]u (744)
onde [0x], e [0x]. são as concentrações da forma oxidada na solução e na super-
ficie do eletrodo, respectivamente; kg é uma constante de proporcionalidade que
envolve o coeficiente de difusão da forma oxidada. A corrente de difusão limite,
1, é obtida quando [ox], = 0; portanto,
1 = holox). (48)
Substituindo u Eq. (7-45) na equação (7-44),
x = i-ko[on],,
[ox], = =—- (17-46)
Se a forma reduzida do sistema for solúvel em mercúrio ou água, cla sofrerá
difusão, afastando-se da superficie do eletrodo logo que formada. Haverá uma
concentração estacionária da forma reduzida na superficie do cletrodo, concen-
tração essa controlada por sua velocidade de tormação e por sua velocidade de
desaparecimento por difusão. Se a reação eletródica for ela própria rápida, a
velocidade de formação da forma reduzida é determinada pela velocidade de
chegada da forma oxidada que determina a corrente. A velocidade de difusão,
para longe da superficie do eletrodo, da forma reduzida dependerá somente da
concentração desta na superficie do eletrodo, pois sua concentração em pontos
afastados do eletrodo será praticamente nula. Eguacionando « velocidade de
formação e a velocidade de desaparecimento, na superficie do eletrodo, da forma
reduzida, teremos
1 = kalredJ,, (71-47)
onde [red], é a concentração da forma reduzida na superfície do eletrodo e ky
é uma constante que incluirá o coeficiente de difusão da forma reduzida. Redis-
pondo os termos da Eq. (7-47),
[red], = 1/kp. (7-48)
Se a reação eletródica for rápida, hipótese estabelecida, não haverá polari-
zação de ativação, e o potencial do eletrodo será função das atividades das formas
Eletrólise E 149
oxidada e reduzida na superfície do eletrodo de acordo com a Eq. (4-1):
pm RO ge, (4-1)
SF tds
que pode ser reescrita sob a forma
(7-49)
onde y,, € Y,ey SãO OS coeficientes de atividade das formas oxidada e reduzida,
respectivamente.
Substituindo os valores dados pelas Egs. (7-46) e (7-48) na Eq. (7-49),
Rr got,
zF I
Os valores das constantes ko é ky da E fito: dependem do número de elétrons
envolvidos na reação cletródica, da massa das gotas de mercúrio, do tempo de
vida das gotas de mercúrio e do coeficiente de difusão das espécies envolvidas.
Todos esses fatores, exceto o último, são comuns a ambas us formas, a oxidada
e a reduzida, e a equação que relaciona corrente e concentração para um eletrodo
de mercúrio gotejante foi deduzida originalmente por Ilkovic, que mostrou que
as constantes k eram função da raiz quadrada dos coeficientes de difusão. Assim,
kalko = DIEIDE2,
onde Da e Do são os coeficientes de difusão das formas reduzida e oxidada. A
Eu. (7-50) pode, portanto, ser escrita na forma
Di? RT, h-I
4 In te a ei. (-51
E= Ernie DiE * TF : (51)
Os coeficientes de atividade p,. < Yo podem ser encarados como independentes
das concentrações das formas oxidada e reduzida, uma vez que haverá na solução
presença de grande excesso de cletrólito indiferente. O segundo termo do membro
direito da Eq. (7-51) pode ser considerado então como constante. Quando 1 = 1/2 1,,
O terceiro termo se anula c, denotando o potencial nesse ponto como E, ,,. teremos
Ripa DU?
RR:
E + =F a DES
Como o membro direito da Eq. (7-52) é <A exclusivamente por constantes,
a uma temperatura constante e para um processo cletródico particular, E,,, deve
também ser constante nessas condições. Como E,, é o potencial do eletrodo
quando 1 = 1/21, ele é chamado de potencial de meia-onda e a Eq. (7-51) fica
RT, h-I
E =E Ae ln
Essa é a equação para a onda polarográfica da Fig. 46, e E,,; é o potencial
do eletrodo no ponto de inflexão da curva.
O potencial no qual a velocidade da reação catódica se torna apreciável (o
potencial de neutralização) varia com a concentração da espécie eletroativa exis-
(7-50)
E=Eº Rr Sa
E ZE
(7-52)
(7-53)
150 Fundamentos de eletroquímis
tente na solução, e não pode ser considerado caracteristico de uma determinada
espécie. Deduz-se, da Fq. (7-52) contudo, que os potenciais de meia-onda são
independentes da concentração e que são característicos da espécie particular
envolvida na reação eletródica. A polarografia é, assim, um método de análises
qualitativa e quantitativa. É preciso notar, porém, que, embora os potenciais de
meia-onda sejam independentes da concentração do ion ao qual se referem, eles
dependem da concentração c da natureza do eletrólito-suporte, Quando se faz
uso de tabelas de potenciais de meia-onda, para identificar uma espécie em análise,
devem ser usados os potenciais apropriados para o cletrólito-suporte na experiência.
A discussão precedente limitou-se ao caso em que o transporte de massa
era a ctapa determinante da velocidade; o processo eletrolítico propriamente
dito era muito mais rápido, de modo gue podemos considerar o eletrodo como
estando em equilibrio com as formas oxidada e reduzida do sistema na superficie
do eletrodo. Ondas polarográficas obtidas dessa forma são conhecidas como
ondas reversíveis. Se não houver grande diferença entre as velocidades do processo
de transporte de massa e O processo eletródico, o que faz com que nenhum deles
seja inequivocamente a etapa determinante da velocidade, pode ocorrer, no cle-
trodo, polarização de ativação, e a discussão se torna um pouco mais complicada.
Nessas condições, as ondas polarográficas são conhecidas como ondas irreversíveis.
Existe ainda um potencial de meia-onda característico, para um sistema irrever-
sível, mas, além de depender dos coeficientes de difusão, o potencial depende,
ainda, do tempo de vida da gota de mercúrio, do coeliciente de transporte a, para
o processo cletródico, e da constante de velocidade, k?, para O processo catódico,
na uusência de qualquer polencial Esses dois últimos fatores já apareceram na
discussão da sobretensão de ativação, neste mesmo capítulo.
Parz uma onda polarográfica reversível, a Eq. (7-53) mostra que um gráfico
de E contra In [(J,- 1):1] deve dar uma linha reta, de inclinação R
na interseção da reta com o cixo das ordenadas. Podemos determinar, dessa
mancira, o potencial E,, e o número de elétrons envolvidos na reação eletródica.”
A análise polarográfica pode ser aplicada a soluções contendo mais de um
componente. Suponha a análise polarográfica de uma solução contendo íons de
zinco e íons de cádmio. Esses íons se neutralizarão num cátodo de mercúrio, onde
formam amálgamas, nos pontos dos potenciais de neutralização correspondentes,
Para que esses ions atinjam o eletrodo apenas por difusão, adiciona-se à solução
um excesso de um eletrólito indiferente, e aplica-se ao cátodo um potencial
negativo crescente.
Com um potencial aplicado baixo obscrva-se uma corrente residual, mas,
quando o potencial do cátodo se torna suficientemente negativo, um dos cátions
será neutralizado. No exemplo em discussão, os ions de cádmio tem um potencial
de neutralização menos negativo que os íons de zinco e o primeiro processo cató-
dico a ocorrer será a neutralização dos íons de cúdmio, com formação de amálgama
de cádmio no eletrodo de mercúrio. Quando o potencial do cátodo se tornar mais
negativo que o potencial de neutralização dos íons de cádmio, a corrente aumentará
rapidamente com o aumento da fem aplicada, até que a corrente de difusão dos
ions cádmio atinja o valor-limite correspondente à concentração dos ions de
cádmio na solução. Depois desse ponto, a corrente aumenta apenas lentamente,
sendo esse aumento devido exclusivamente ao aumento na corrente residual.
A corrente continuará a aumentar muito lentamente, até que o potencial
do cátodo se torne mais negativo que o potencial de neutralização dos íons de
zine
: nesse ponto, a corrente aumentará rapidamente, devido à neutralização
Eletrólise 151
dos íons de zinco. O rápido aumento da corrente continuará até que a corrente
de difusão dos íons de zinco alcance seu valor-limite, ponto em que a velocidade
de aumento da corrente com o potencial descresce. Nesse ponto, a corrente total
é a soma das correntes de difusão dos dois tons, de zinco e de cádmio, mais a cor-
rente residual e outras correntes. O polarograma resultante está representado na
Fig 47, que mostra os potenciais de meia-onda, e us correntes de difusão-]
dos dois componentes. Essas últimas são medidas usualmente como as distâncias
perpendiculares ao gráfico nos pontos de inflexão; no gráfico da Fig. 47, essas
distâncias foram deslocadas para outra posição, por motivo de clareza.
O intervalo de potenciais nos quais um eletrodo gotejante de mercúrio pode
ser usado está limitado, na extremidade negativa, pela neutralização catódica do
hidrogênio proveniente da água presente na solução e, no lado positivo, pela
dissolução anódica do próprio eletrodo de mercúrio. Esse intervalo de potenciais
vai de +0,25 V (dissolução do mercúrio) até -1,6 V (neutralização do fon de hidro-
gênio em soluções ácidas) ou -20V (neutralização do hidrogênio em soluções
alcalinas). Se os polarogramas forem levados até esses valores negativos de potencial
catódico, observaremos neles a curva correspondente à neutralização do hidrogênio.
É possível efetuar análises polarográficas com amostras muito diminutas
(por exemplo, 2cm?) e com concentrações bem baixas, de até 10º moldm *
ou 107º moldm?. Qualquer espécie iônica ou molecular suscetível a redução
no cátodo pode ser analisada por polarografia com um cátodo gotejante de mer-
cúrio. Assim, é possível analisar com essa técnica muitos sistemas orgânicos.
Na prática, é aconselhável remover-se da solução o oxigênio dissolvido,
borbulhando-se nitrogênio através da solução, antes c durante à eletrólise, A
presença de oxigênio pode gerar ondas polarográficas intensas, correspondentes
a sua redução a peróxido de hidrogênio ou água, que, muitas vezes, muscaram
as curvas correspondentes a outras substâncias presentes.
“Também é possível a polarografis anódica, mas, nesse caso, eletrodos de
mercúrio não são convenientes, pois eles tendem a se dissolver em potenciais
upenas ligeiramente positivos Na polarografia anódica, o eletrodo polarizado
é geralmente um eletrodo de platina giratório. Essa técnica permite analisar
sistemas suscetíveis a oxidação num ánodo.
E Ew Zu) E
Figura 47. Polarograma com dois componentes
ÍNDICE
Acidez e alcalinidade, 41-42
Ácido, 32
Ácido-base,
indicadores, 51-56
titulações, 50-52
Amálgamas, eletrodos, 83
Amptre, 3
Amperométricas, titulações, 152-154
dois eletrodos polarizados, 153-154
um eletrodo polarizado, 152-153
Anfipróticos, solventes, 33
Ânions, 1
Anódicas, reações, 123
Ânodo, 1, 78, 121, 122
Anólito, 1
Aprólicos, solventes, 33
Arrhenius, teoria de
ácidos e bases, 32
ionização, 14-15
Atividade
coeficientes de, 35
iônica, 35
médio, 113-114
por fem, 114.115
conceito de, 34-37
de moléculas neutras, 37
estequiométrico, 113
iônica média, 75-76
Atividade relativa, 35, 60
Atividades
de gases, 60-61
de sólidos, 56
de solutos, 35-37
de solventes, 37
Assimetria
efeito de, 16, 20
potencial, 105
Autogênica, fronteira, 27, 28
Auto-ionização de solventes, 40
Autoprotólise, 40
Base, 32
Calomelano, eletrodo, 71, 72
Cátion,
Catódicas, reações, 123
Cátodo, 1, 78, 122
Cstólito, 1
Célula
constante da, Lt ;
diagrama, 68
reações, 62-64, 68
implícitas, 75
Células eletroquímicas, 62-64
Cobre, coulômetro de, 7
Complexos, fans, 30-31, 57 a
Concentração
células de, 76.84 +
com transporte, $1 £
sem transporte, 81
sobretensão de, 122, 136-133 A
Condutância, 9
célula de, 10 ,
medida da, 10-11
razão da, 17
Condutimétricas, titulações, 96-99
ácido-base, 96-98
precipitação, 98-99
Condutividade, 9, 10, 22
equivalente, 19
iônica, 18-19 E
molar, 12-14, 17-22, 23, 91,92
Conjugados, ácidos e bases, 32, 33, 40-41
Convenção internacional de sinais, 68
Corrente
curvas sobretensão, 131, 135
curvas voltagem, 143, 144
densidade, 10, 128
difusão, 139, 140
farádica, 14$
migração, 139, 140
não-farádica, 145
Coulomb, 3
Coulômetro
de cobre, 7
gás, 7
iodo, 7 é
prata, 8
Debye-Hiúckel
equação-limite, 35
teoria, 16-17
158
Decomposição, voltagem de, 143-146
Definição moderna de pH, 107-108
Difusa, camada, 123
Difusão,
camada, 147
cueliciente, 141, 149
corrente, 139, 140
limite, 142-143, 147
Jei de Fick, 141
potenciais, 65
Dissociação, constantes de
por condutância, 92-95
por fem, 116-119
Dissociação, constantes de, ácidos bases,
27-39
Dupla camada, 123125, 136
Dupia célula, 81
Elétrica, dupla camada, 123125
Elétrico, intensidade de campo, 10, 20
Eletrodo
potenciais, 59, 61
escala de hidrogênio, 68-69
estudo cinético do, 128-129
padrão, 61, 69, 85-86
variação com a atividade, 61-62
ne
processos no, 121-123
reações durante a eletrólise, 121
Eletrodos
amálgama, 83
antimônio, 106
auxiliares, 133
calomelano, 71
estado sólido, 109
gás. 59
hidrogênio, 69, 102-103
ion-seletivos, 108, 109
membrana liquida de troca iônica, 109
membrana heterogênea, 109
platina platinizada, 11
prata-cloreto de prata, 70
quinidrona, 103
referência, 69-70
redox, 60
vidro, 104-106, 109
Eletroforético, efeito, 16, 20
Eletrólise, leis da, 6 K
Eletrólitos
fortes, 14,91
fracos, 14,91
intermediários, 14
Eletroquímicas, células, 62-64
Energia livre, variação da, 74
Entalpia, variação da, 74
Fundamentos de eletroquímica
Entropia, variação da, 74
Equação de Debye-Húckel, 35
Equação de Henderson, 49, 117
Equação do indicador, S1, 52
Equação de Kohlrausch, 13, 17
Equação de Nest, 62
Equação de Onsager, 17
Equação de Tafel, 132, 133
Faraday, constante de, é
Faraday, leis da eletrólise de, 6
Força de ácidos e bases, 33-34
Força eletromotriz, medidas, 66-67
Fronteira móvel, métodos, 27-29
Galvânicas, células, 62
Gás, coulômetro, 7
Gotejante, eletrodo de mercúrio, 146, 151
Helmholtz camada, 123, 124
Helmholtz, plano
externo, 124
interno, 124
Henderson, equação de, 49, 117
Hidratação de jons, 29-30
Hidrogênio
eletrodo, 68-69, 72, 103
escala de potenciais, 68-69
Hidrólise, 42-48
constante, 43, 45, 47
por meio de condutância, 95-96
Hittorf, método de, 24-27
Independente, migração dos ions, 18
Indicador
constante do, 51, 52
equação do, SI, 52
faixa de viragem, 52-53
Indicadores
ácido-buse, 50-56
redos, 89-90
Influência do solvente da força de ácidos
e bases, 33.34
Internacional, convenção de sinais, 68
lodo, coulômetro, 7
Íon-seletivos, eletrodos, 108-109
fons, associação de, 17
lônico(a)
condutância, 20-22
limite, 17-20
força, 35
mobilidade, 20-22
produto, 40
da água por fem, 119-120
Índice
lonização
grau de, 14,15
teorias sobre, 14-17
Irreversiveis
ondas, 150
processos cletródicos, 121
Toule, 3
Junção liquida, potencial de, 64-66
Kelvin, é
Kobirausch,
equação de, 13, 17
lei de, 18, 19,91
Lei da diluição de Ostwald, 15, 38
Lei da migração independente, 18
Leis da eletrólise, 6
Limite, correntes de difusão, 142-143
Liquida, junção, 64-66
Lowry-Brjnsted, teoria de, 32-33
Luggin, capilar de, 133, 134
Massa atômica relativa, 6
Massa molecular relativa, 5, 6
Massk, transporte de, 142, 148
Médis, atividade iônica, 75-76
coeficiente, 113-114
determinação por fem, 114-115
Médis, molalidade iônica, 114
Medidas de
condutância, 10-11
fem, 66-67
PH, 102-106
potencial de eletrodo, 133-134
Meia-onda, potencial de, 149
Método de Hittorf, 24-27
Métudos de fronteira móvel, 27-29
Migração, corrente, 139, 140
Mobilidade de ions, 21-22, 23
Mol, 4
Molalidade
estequiométrica, 113
iônica média, [14
Molar, cond idade, 17
límite, 13-14, 17-20, 24, 91
de eletrólitos, 13-14
de ions, 18, 24
Nernst,
aproximação de, 141
equações de, 62
Neusralização, 32,42
curvas de, 54, 55
potenciais de, 143-146, 149
na
Newton, 3
Número de transferência, 22:23
Números de transporte, 22-24
Ohm, 4
Onsager, equação di
Ostwald, lei da di
Padrão
célula, 66
estado, 60, 61
potenciais eletródicos, 61
determinação, 115-116
potenciais e constantes de equilíbrio,
8s-86
Permitividade, 16
pH, 41
definição moderna, 107-108
medida, 102-106
pK,42
pOH.42
Pistina platinizada, eletrodo, 11
Polarografia, 142, 146-151
anódica, 151
Polarográfica, unda, 148
Polarograma, 147, 148, 151
Polarização, 121
Potencial,
meia-onda, 149
variação com a atividade, 61-62, 71-73
Potencial, gradiente de, 10
Potenciométricas, titulações, 109-112
ácido-base, 109
diferenciais, 111-112
precipitação, 10-11
redosx, HH
Potenciômetro, circuito do, 66, 67
Prata. coulômetro, 8
Prata-cloreto de prata, eletrodo, 70
Primários, eletrodos de referência, 69
Produto de solubilidade, 56-58
Protogênicos e protofílicos, solventes, 33
Quinidrona, eletrodo, 103
Redox
eletrodos, 60
indicadores, 89-90
potencial, 60, 84, 85
sistemas, 84, 85
titulações, 86-89, 111
Referência, eletrodos de, 69, 70
Relativa, massa atômica, 6
Relativa, massa molecular, 5, 6
Relaxação, efeito de, 16
alta, 3
ção 122, 129-133
efeitos de complexação, 57
* efeitos de eletrólitos adicionados, 57, 58
“por meio de condutância, 91,92
“produto de solubilidade, 56, 57
, produto de solubilidade e sotubili-
O dades, 56:58
determinação por fem, 100-101
tes, auto-jonização, 40
es, influência de úcidos « bases,
33
protofílicos e protogênicos, 33
3
de relaxação, 16
«dos indicadores ácido-base, 5052”
à ionização, 14-17 -
constante de dissociação, 38
funções termodinâmicas, determinação
por fem, 102
Titulações amperométricas, 152-154
Titulações condutimétricas, 96-99
Titulações potenciométricas, 109-112
“Transferência, número, 22-23
Transporte de massa, 142, 148
Transporte
na eletrólise, 138-142
números de, 22-24
determinação por fem, 112-113
7
determinação por métodos de frontei-
ra móvel, 27-29
determinação pelo método de Hit-
torf, 24-27
verdadeiros e aparentes, 30
“Troca, densidade de corrente de, 128, 133
significado, 134
Unidades, 2-6
c6s,2
MKS, 2,3
MKSA, 3
SI 2
Uso de indicadores ácido-base, 53-56
Vidro, eletrodo de, 104-106, 109
Viragem de indicadores, 52-53
Vol, 4
Watt, 2
Weston, célula de, 66
Wiheatstonc, circuito da ponte de, 10,11
Este trabalho foi elaborado pelo processo de Fo
Monophoto - no epartamento de Composi
Edgard Bliicher Ltda. - São Paulo - Brasil
ditora