Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Silveira e Gerhardt-2008, Manuais, Projetos, Pesquisas de Administração Empresarial

metodologia

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2017
Em oferta
30 Pontos
Discount

Oferta por tempo limitado


Compartilhado em 05/04/2017

Bruno-Noleto
Bruno-Noleto 🇧🇷

5

(1)

1 documento

1 / 121

Documentos relacionados


Pré-visualização parcial do texto

Baixe Silveira e Gerhardt-2008 e outras Manuais, Projetos, Pesquisas em PDF para Administração Empresarial, somente na Docsity! UFRGS  2008 MÉTODOS DE PESQUISA Disciplina DERAD 05 Dra. Tatiana Engel Gerhardt Dra. Denise Tolfo Silveira [ Curso de Graduação Tecnológica PLANEJAMENTO E GESTÃO PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL] Curso de Graduação Tecnológica a Distância PLANEJAMENTO E GESTÃO PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL Financiamento: Edital nº 01/2005-SEED/MEC Modalidade: Educação a Distância (EAD) Tipo: Graduação Tecnológica com duração de 3 anos Instituição Coordenadora e Executora: Universidade Federal do Rio Grande do Sul através da SEAD, vinculado ao Sistema de Universidade Aberta do Brasil (UAB) Coordenação Geral: Prof. Dr. Lovois de Andrade Miguel Disciplina: Métodos de Pesquisa – DERAD05 Carga Horária: 60 hs (04 créditos) Professores: Tatiana Engel Gerhardt / Denise Tolfo Silveira Colaboradores/Tutores: Aline Corrêa de Souza, André Luis Machado Bueno, Daniel Labernarde dos Santos, Deise Lisboa Riquinho, Fernanda Peixoto Córdova, Ieda Cristina Alves Ramos. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 2 Módulo I Conceitos Base DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 5 Módulo I – CONCEITOS BASE 1. Conceitos base A Metodologia Científica trata de método e ciência. Método é o caminho em direção a um objetivo; metodologia, o estudo do método. Científica, deriva de Ciência, a qual compreende o conjunto de conhecimentos precisos e metodicamente ordenados em relação a determinado domínio do saber. A atividade preponderante da metodologia é a pesquisa. O conhecimento humano caracteriza-se pela relação estabelecida entre o sujeito e o objeto, podendo-se dizer que esta é uma relação de apropriação. Dessa maneira, metodologia é igual a um conjunto de procedimentos a serem utilizados pelo indivíduo na obtenção do conhecimento. É a aplicação do método, por intermédio de processos e técnicas, que garantem a legitimidade do saber obtido. A complexidade do objeto a ser conhecido determina o nível de abrangência da apropriação. Assim, a apreensão simples da realidade cotidiana é um conhecimento popular ou empírico, enquanto o estudo aprofundado e metódico da realidade enquadra-se no conhecimento científico. O questionamento do mundo e do homem quanto à origem, liberdade ou destino, remete ao conhecimento filosófico. O que é PESQUISA? Pesquisa é definida como o procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos1. A pesquisa desenvolve-se por um processo constituído de várias fases, desde a formulação do problema até a apresentação e discussão dos resultados. Mas não se esqueça! Só se inicia uma pesquisa se existir uma pergunta, uma dúvida que se quer buscar a resposta! As razões que levam à realização de uma pesquisa científica podem ser agrupadas em razões intelectuais (desejo de conhecer pela própria satisfação de conhecer) e razões práticas (desejo de conhecer com vistas a fazer algo de maneira mais eficaz). 1 Gil, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4a ed. São Paulo: Atlas; 2007. 175p. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 6 Para se fazer uma pesquisa científica, não basta o desejo do pesquisador em realizá-la; é fundamental ter o conhecimento do assunto a ser pesquisado além de recursos humanos, materiais e financeiros. É irreal a visão romântica de que o pesquisador é aquele que inventa e promove descobertas por ser genial. Claro que se há de considerar as qualidades pessoais do pesquisador, pois ele não se atreveria a iniciar uma pesquisa se seus dados teóricos estão escritos numa língua que desconhece. Mas, por outro lado, ninguém duvida que a probabilidade de ser bem sucedida uma pesquisa quando existem amplos recursos materiais e financeiros (para pagar um tradutor, por exemplo), é muito maior do que outra com recursos deficientes. Assim, quando formos elaborar um projeto de pesquisa devemos levar em consideração, inicialmente, os nossos próprios limites. Nisso, não se inclui o fato de não sabermos ler numa determinada língua, pois se o trabalho for importante e estiver escrito em russo, devemos encaminhá-lo para tradução a pessoa habilitada. O planejamento, passo a passo de todos os processos que serão utilizados, faz parte da primeira fase da pesquisa científica, que envolve ainda a escolha do tema, formulação do problema, especificação dos objetivos, construção das hipóteses e operacionalização dos métodos. O que é METODOLOGIA2? Méthodos = organização e lógos = estudo sistemático, pesquisa, investigação, ou seja, é o estudo da organização, dos caminhos a serem percorridos, para se realizar uma pesquisa ou estudo ou para fazer ciência. É um ramo da pedagogia que se ocupa do estudo dos métodos adequados à transmissão do conhecimento. Portanto, é um conjunto de procedimentos que servem como instrumento para alcançar os fins de uma investigação. Não é possível chegarmos a um lugar se não soubermos para onde queremos ir. Além disso, avaliando-se os métodos que um autor utilizou para a realização de uma pesquisa científica, podemos estabelecer um estudo analítico e crítico da sua investigação. Assim, a metodologia não é condição suficiente para o êxito de uma pesquisa, mas é uma condição necessária, 2 FONSECA, J.J.S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 7 facilite a interação com o mundo, possibilitando previsões confiáveis sobre acontecimentos futuros e indicar mecanismos de controle que possibilitem uma intervenção sobre eles. O sociólogo português Boaventura de Souza Santos no livro “Um discurso sobre as ciências” (1987), enquadra a natureza da ciência em 3 momentos: • Paradigma da modernidade • Crise do paradigma dominante • Paradigma emergente O paradigma da modernidade é o dominante hoje em dia. Substancia-se nas idéias de Copérnico, Kepler, Galileu, Newton, Bacon e Descartes. Construído com base no modelo das ciências naturais, o paradigma da modernidade apresenta uma e só uma forma de conhecimento verdadeiro e uma racionalidade experimental, quantitativa e neutra. De acordo com o autor, essa racionalidade é mecanicista, pois considera o homem e o universo como máquinas; é reducionista, pois reduz o todo às partes e é cartesiano, pois separa o mundo natural - empírico dos outros mundos não verificáveis, como o espiritual - simbólico. O autor apresenta outros pormenores do paradigma: a) a distinção entre conhecimento científico e conhecimento do senso comum, entre natureza e pessoa humana, corpo e mente, corpo e espírito; b) a certeza da experiência ordenada; c) a linguagem matemática como o modelo de representação; d) a medição dos dados coletados; e) a análise que decompõe o todo em partes; f) a busca de causas que aspira a formulação de leis, à luz de regularidades observadas, com vista a prever o comportamento futuro dos fenômenos; g) a expulsão da intenção; h) a idéia do mundo máquina; i) a possibilidade de descobrir as leis da sociedade. Santos afirma ainda, que a crise do paradigma dominante tem como referências as idéias de Einsten e os conceitos de relatividade e simultaneidade, que colocaram o tempo e o espaço absolutos de Newton em debate; Heisenberg e Bohr, cujos conceitos de incerteza e continuum, abalaram o rigor da medição; Gödel que provou a impossibilidade da completa medição e defendeu que o rigor da matemática carece ele próprio de fundamento; Ilya Prigogine, que propôs uma nova visão de matéria e natureza. O homem encontra-se num momento de revisão sobre o rigor DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 10 científico pautado no rigor matemático e de construção de novos paradigmas: em vez de eternidade, a história; em vez do determinismo, a impossibilidade; em vez do mecanicismo, a espontaneidade e a auto-organização; em vez da reversibilidade, a irreversibilidade e a evolução; em vez da ordem, a desordem; em vez da necessidade, a criatividade e o acidente. O paradigma emergente deve se alicerçar nas premissas de que todo o conhecimento científico-natural é científico-social, todo conhecimento é local e total (o conhecimento pode ser utilizado fora do seu contexto de origem), todo o conhecimento é autoconhecimento (o conhecimento analisado sob uma prisma mais contemplativo que ativo), todo o conhecimento científico visa constituir-se em senso comum (o conhecimento científico dialoga com outras formas de conhecimento deixando-se penetrar por elas). Para Santos, a ciência encontra-se num movimento de transição de uma racionalidade ordenada, previsível, quantificável e testável, para uma outra que enquadra o acaso, a desordem, o imprevisível, o interpenetrável e o interpretável. Um novo paradigma que se aproxima do senso comum e do local, sem perder de vista o discurso científico e o global. Sugestão de leitura: SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências na transição para uma ciência pós-moderna. Estud. av., São Paulo, v. 2, n. 2, 1988. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141988000200007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 08 July 2007. Pré-publicação. Também pode ser consultado no link a seguir: Um discurso sobre as ciências.pdf. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 11 1.1 Construção do conhecimento7 O conhecimento pode ser definido como sendo a manifestação da consciência de conhecer, é a consciência do conhecer. Ao viver, o ser humano tem experiências progressivas, da dor e do prazer, da fome e saciedade, do quente e do frio, entre muitas outras. É o conhecimento que se dá pela vivência circunstancial e estrutural das propriedades necessárias à adaptação, interpretação e assimilação do meio interior e exterior do ser. Dessa maneira, ocorrem, então, as relações entre sensação, percepção e conhecimento, sendo que a percepção tem uma função mediadora entre o mundo caótico dos sentidos e o mundo mais ou menos organizado da atividade cognitiva. É importante frisar que o conhecimento, como também o ato de conhecer, existe como forma de solução de problemas próprios e comuns à vida. O conhecimento como forma de solução problemática, mais ou menos complexa, ocorre em torno do fluxo e refluxo em que se dá a base da idealização, pensamento, memorização, reflexão e criação, os quais acontecem com maior ou menor intensidade, acompanhando parâmetros cronológicos e de consciência do refletido e do irrefletido. O conhecimento é um processo dinâmico e inacabado, serve como referencial para a pesquisa tanto qualitativa como quantitativa das relações sociais, como forma de busca de conhecimentos próprios das ciências exatas e experimentais. Portanto, o conhecimento e o saber são essenciais e existenciais no homem, ocorre entre todos os povos, independentemente de raça, crença, porquanto no homem o desejo de saber é inato. As diversificações na busca do saber e do conhecimento, segundo caracteres e potenciais humanos, originaram contingentes teóricos e práticos diferentes a serem destacados em níveis e espécies. O homem, em seu ato de conhecer, conhece a realidade vivencial, porque se os fenômenos agem sobre os seus sentidos, ele também pode agir sobre os fatos, adquirindo uma experiência pluridimensional do universo. 7 TARTUCE, T. J. A. Métodos de Pesquisa. Fortaleza: UNICE – Ensino Superior. 2006. Apostila DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 12 se de uma reflexão eminentemente moral, defendendo a democracia vivida na dimensão da liberdade e da igualdade. • Locke – empirista inglês, defende a tese de que o homem ao nascer é uma tábua rasa sobre a qual a experiência é gravada. A gênese do conhecimento, que é a experiência, é a sensação e reflexão, as quais geram idéias. • Kant – admite que, se o conhecimento se inicia com a experiência, este não resulta só da experiência. • Hegel – desenvolve uma filosofia cujo ponto de partida são as idéias, inicialmente heterogêneas, e por isso confusas. Para torná-las claras, deve-se considerar o vir a ser; ou seja, o objeto feito. “Todo dado racional é real e todo dado real é racional”. • Marx – constrói o materialismo dialético e materialismo histórico, que defende a tese de que as contradições existem na Natureza. Portanto, dispõe-se a interpretar essas realidades que, se são contraditórias, são concretas. A sua metodologia considera os seguintes itens, próprios ao sistema: a matéria, o trabalho e a estrutura econômica. Observa-se que não há unanimidade de pensamento e de forma de reflexão entre alguns dos grandes expoentes da Filosofia aqui citados, isso porque a Filosofia repousa na reflexão que se faz sobre a experiência vital e esta propicia derivações interpretativas diferentes sobre as impressões, imagens e opiniões concluídas. O Conhecimento Filosófico procura conhecer as causas reais dos fenômenos, não as causas próximas como as ciências particulares. Procura conhecer, também, as causas profundas e remotas de todas as coisas e, para elas, respostas. Dentre suas características destacamos: • É valorativo, pois seu ponto de partida consiste em hipóteses, que não poderão ser submetidas à observação. • Não é verificável. • Tem a característica de sistemático. • É infalível e exato. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 15 Portanto, o conhecimento filosófico é caracterizado pelo esforço da razão para questionar os problemas humanos e poder discernir entre o certo e o errado, unicamente recorrendo às luzes da própria razão humana. 1.1.3. Conhecimento teológico Conhecimento revelado pela fé divina ou crença religiosa. Não pode, por sua origem, ser confirmado ou negado. Depende da formação moral e das crenças de cada indivíduo. Exemplo: Acreditar que alguém foi curado por um milagre; ou acreditar em Duende; acreditar em reencarnação; acreditar em espírito etc. O conhecimento teológico ou místico é abalizado exclusivamente na fé humana e desprovido de método. É alcançado através da crença na existência de entes divinos e superiores que controlam a Vida e o Universo. Resulta do acúmulo de revelações transmitidas oralmente ou por inscrições imutáveis e procura dar respostas às questões que não sejam inteligíveis às outras esferas conhecimento. Exemplos são os textos sagrados, tais a Bíblia, o Alcorão, as Escrituras de Nitiren Daishonin, entre outros. Conhecimento adquirido a partir da aceitação de axiomas da fé teológica, é fruto da revelação da divindade, por meio de indivíduos inspirados que apresentam respostas aos mistérios que permeiam a mente humana, “pode ser dados da vida futura, da natureza e da existência do absoluto”. A incumbência do Teólogo é provar a existência de Deus e que os textos Bíblicos foram escritos mediante inspiração Divina, devendo por isso ser realmente aceitos como verdades absolutas e incontestáveis. “Hoje diferentemente do passado histórico, a ciência não se permite ser subjugada à influências de doutrinas da fé: e quem está procurando rever seus dogmas e reformulá-los para não se opor a mentalidade científica do homem contemporâneo é a Teologia”( João Ruiz). Isso, porém é discutível, pois não há nada mais perfeito que a harmonia e o equilíbrio do UNIVERSO, que de qualquer modo está no conhecimento da humanidade, embora esta não tenha mãos que possa apalpá-lo ou olhos que possam divisar seu horizonte infinito... A fé não é cega baseia-se em experiências espirituais, históricas, arqueológicas e coletivas que lhes dá sustentação. O conhecimento pode ter função de libertação ou de opressão. O DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 16 conhecimento pode ser libertador não só de indivíduos como de grupos humanos. Nos dias atuais, a detenção do conhecimento é um tipo de poder disputado entre as nações. Contudo o conhecimento pode ser usado como mecanismo de opressão. Quantas pessoas e nações se utilizam do conhecimento que detêm para oprimir? Para discutir estas questões recém citadas, vê-se a necessidade de instituirmos um novo paradigma para discussão do conhecimento, o conhecimento moderno, entende-se por conhecimento moderno, a discussão em torno do conhecimento. É a capacidade de questionar, avaliar parâmetros de toda a história e reconstruir, inovar e intervir. É válido, que além de discutir os paradigmas do conhecimento, é necessário avaliar o problema específico do questionamento científico, fonte imorredoura da inovação, tornada hoje obsessiva. No entanto, a competência inovadora sem precedentes, pode estar muito mais a serviço da exclusão, do que da cidadania solidária e da emancipação humana. O fato de o mercado neoliberal estar se dando muito bem com o conhecimento, tem afastado a escola e a universidade das coisas concretas da vida. O questionamento sempre foi a alavanca crucial do conhecimento, sendo que para mudar alguma coisa é imprescindível desfazê-la em parte ou, com parâmetros, desfazê- la totalmente. A lógica do questionar leva a uma coerência temerária de a tudo desfazer para inovar. Como exemplo a informática, onde cada computador novo é feito para ser jogado fora, literalmente morre de véspera e não sendo possível imaginar um computador final, eterno. E é neste foco que se nos apegarmos à estagnação, também iremos para o lixo. Podemos então afirmar a reconstrução provisória dentro do ponto de vista desconstrutivo, pois tudo que existe hoje será objeto de questionamento, e quem sabe mudanças. O questionamento é assim passível de ser questionado, quando cria um ambiente desfavorável ao homem e à natureza. É importante conciliarmos o conhecimento com outras virtudes essenciais para o saber humano, como a sensibilidade popular, bom senso, sabedoria, experiência de vida, ética etc. Conhecer é comunicar-se, interagir com diferentes perspectivas e modos de compreensão, inovando e modificando a realidade. A relação entre conhecimento e democracia, modernamente, caracteriza-se como uma relação intrínseca, o poder do conhecimento se impõe através de varias formas de dominação: econômica, política, social etc. A diferença entre pobres e ricos, é DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 17 • É sistemático. • Possui características de verificabilidade. • É falível, em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final e, por este motivo, é aproximadamente exato. Vemos que o conhecimento científico se dá à medida que se investiga o que se fazer sobre a formulação de problemas, que exigem estudos minuciosos para seu equacionamento. Utiliza-se o conhecimento científico para se conseguir, por intermédio da pesquisa, constatar variáveis. As variáveis são a presença e/ou ausência de um determinado fenômeno inserido em dada realidade. Essa constatação se dá para que o estudioso possa dissertar ou agir adequadamente sobre as características do fenômeno que o fato apresenta. Representativamente, o estudioso pode estar interessado em investigar a situação do menor abandonado e delinqüente, com o objetivo de descrever as suas características, como também, procurar conhecer os fenômenos que encerram este fato para sobre eles (fenômenos) agir. Quer aconteça o procedimento mantido para um ou outro objetivo, conclui-se que o procedimento estará presente, desde que obedeça a um PROJETO determinado, cuja preocupação se estende às generalizações que possam até atender casos particulares. A atividade desempenhada pelo cientista tem em vista definir as situações fenomenais, pois somente definindo-as ele é capaz de tornar conhecidos os conceitos elaborados. Dessa maneira, o estudioso consegue atingir em termos de conhecimento as qualidades e quantidades próprias e próximas à verdade ou, às vezes, quase próximas, como também, a certeza que o fato encerra. Pretende-se, assim, atingir o melhor índice de validade e fidelidade do conhecimento de um fenômeno. Para atingir tal resultado, é necessário que a busca do conhecimento de um fenômeno seja guiada por perguntas básicas que encaminharão o encontro de respostas concernentes e, portanto, coerentes entre si. Essas perguntas podem ser sintetizadas em: DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 20 • O que conhecer? • Por que conhecer? • Para que conhecer? • Como conhecer? • Com que conhecer? • Em que local conhecer? Observa-se que tais procedimentos acabam por caracterizar uma ação metodológica que direciona o conhecimento do pesquisador, que se dirige a qualquer uma das propostas de formação profissional, seja ela própria ao advogado, ao psicólogo, ao contador, ao administrador, entre outros. Assim sendo, a realidade científica é uma realidade construída e que tem significado à medida que oferece características objetivas, quantativamente mensuráveis e/ou qualitativamente observáveis e controladas. Concluindo, é possível destacar que: • O conhecimento científico surgiu a partir das preocupações humanas cotidianas e esse procedimento é conseqüente do bom senso organizado e sistemático. • O conhecimento científico, considerado como um conhecimento superior exige a utilização de métodos, processos, técnicas especiais para análise, compreensão e intervenção na realidade. • A abstração e a prática terão que ser dominadas por quem pretende trabalhar cientificamente. 1.1.4.1. Método científico Considerando o que já foi estudado, reforça-se a concepção de que a Ciência é um procedimento metódico cujo objetivo é conhecer, interpretar e intervir na realidade, tendo como diretriz problemas formulados que sustentam regras e ações adequadas à constituição do conhecimento. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 21 Os métodos científicos são as formas mais seguras inventadas pelos homens para controlar o movimento das coisas que cerceiam um fato e, montar formas de compreensão adequada dos fenômenos. Fatos – acontecem na realidade, independentemente de haver ou não quem os conheça. Fenômeno – é a percepção que o observador tem do fato. Pessoas diversas podem observar no mesmo fato fenômenos diferentes, dependendo de seu paradigma. Paradigmas – constituem-se em referenciais teóricos que servirão de orientação para a opção metodológica de investigação. Mesmo que os paradigmas sejam constituídos por construções teóricas, não há cisão entre a teoria e a prática, ou entre a teoria e a lei científica. Portanto, um e outro coexistem gerando o que se pode denominar praxiologia. Método Científico – é a expressão lógica do raciocínio associada à formulação de argumentos convincentes. Esses argumentos, uma vez apresentados, têm por finalidade informar, descrever ou persuadir um fato. Para isso o estudioso vai utilizar- se de: Termos – são palavras, declarações, significações convencionais que se referem a um objeto. Conceito – é a representação, expressão e interiorização daquilo que a coisa é (compreensão da coisa). É a idealização do objeto. O conceito é uma atividade mental que conduz um conhecimento, tornando não apenas compreensível essa pessoa ou essa coisa, mas todas as pessoas e coisas da mesma época. Definição – é a manifestação e apreensão dos elementos contidos no conceito, tratando de decidir em torno do que se duvida ou do que é ambivalente. Saber utilizar adequadamente termos, conceitos e definições significa metodologicamente expressar na Ciência aquilo que o indivíduo sabe e quer transmitir. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 22 Quando não se consegue derrubar a hipótese, tem-se a corroboração, para Popper a hipótese mostra válida, pois superou todos os testes, porém ela não é definitivamente confirmada, pois a qualquer momento poderá surgir um fato que a invalide. Neste modulo introdutório, não se pretende fazer uma revisão de correntes filosóficas (em cursos mais extensos, como os de mestrado e doutorado, essas correntes são normalmente apresentadas em disciplinas específicas sobre metodologia científica, que abordam a filosofia e epistemologia da ciência9). Entendemos que o aluno que pretende desenvolver um projeto de pesquisa, uma monografia ou artigo científico terá que buscar muitos subsídios para essa tarefa. Essa preparação envolve leitura tanto sobre o tema a ser investigado quanto sobre a metodologia de pesquisa a ser utilizada. Para uma leitura mais aprofundada em métodos de pesquisa, consulte a bibliografia que se encontra ao final deste módulo e alguns sites na Internet apresentados a seguir. Fontes para leitura sobre Métodos de pesquisa em desenvolvimento rural: http://www.iea.sp.gov.br/out/publicacoes/asp-2-01.htm http://gipaf.cnptia.embrapa.br/bibliografia/selecao-por-temas/metodologia/ http://www.agriculturaurbana.org.br/RAU/AU5/AU5.html http://www.iica.org.br/Docs/Publicacoes/PublicacoesIICA/SergioBuarque.pdf http://www.iica.org.br/Docs/Publicacoes/PublicacoesIICA/INPA.zip http://www6.ufrgs.br/pgdr/textos/10ousodometodo.pdf 9 Ver GLOSSÁRIO se precisar refrescar a definição de epistemologia. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 25 DICA! Ao longo dos módulos, o aluno pode ir organizando suas idéias sobre possíveis temas de interesse para a monografia ou o artigo. A Internet é um recurso incrível para explorar suas idéias. Torna-se pesquisador quem começa investigar e registrar essas idéias. Torna-se cientista quem sistematiza sua investigação e comunica seus resultados no formato padronizado da ciência. EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO PARA COMPLETAR A COMPREENSÃO DO QUE FOI ESTUDADO10 1) O conhecimento científico foi desenvolvendo-se aos poucos, apropriando-se da realidade da natureza. Você crê que ele já atingiu a verdade em alguma área do universo real? Por quê? 2) O que é mais verdadeiro: o objeto real ou o conhecimento que temos dele? 3) Por que motivo o conhecimento científico depende de investigação metódica? 4) Por que o conhecimento científico esforça-se para ser exato e claro? Isso tem a ver com a busca da verdade? 5) O método científico é infalível? Por quê? 6) O que aconteceria se a Ciência aceitasse a concepção de verdade eterna para o conhecimento que tem da realidade? Bibliografia FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila. GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2007. TARTUCE, T. J. A. Métodos de Pesquisa. Fortaleza: UNICE – Ensino Superior. 2006. Apostila. 10 TARTUCE, T. J. A. Métodos de Pesquisa. Fortaleza: UNICE – Ensino Superior. 2006. Apostila. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 26 Módulo II A Pesquisa Científica DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 27 2.1.2 A pesquisa quantitativa Diferentemente da pesquisa qualitativa, os resultados da pesquisa quantitativa podem ser quantificados. Como as amostras geralmente são grandes e consideradas representativas da população, os resultados são tomados como se constituíssem um retrato real de toda a população alvo da pesquisa. A pesquisa quantitativa se centra na objetividade. Influenciada pelo positivismo, considera que a realidade só pode ser compreendida com base na análise de dados brutos, recolhidos com o auxílio de instrumentos padronizados e neutros. A pesquisa quantitativa recorre à linguagem matemática para descrever as causas de um fenômeno, as relações entre variáveis, etc. A utilização conjunta da pesquisa qualitativa e quantitativa permite recolher mais informações do que se poderia conseguir isoladamente (FONSECA, 2002). Quadro 1. Comparação dos aspectos entre pesquisa qualitativa e quantitativa. Aspecto Pesquisa Quantitativa Pesquisa Qualitativa Enfoque na interpretação do objeto Menor Maior Importância do contexto do objeto pesquisado Menor Maior Proximidade do pesquisador em relação aos fenômenos estudados Menor Maior Alcance do estudo no tempo Instantâneo Intervalo maior Quantidade de fontes de dados Uma Várias Ponto de vista do pesquisador externo à organização interno à organização Quadro teórico e hipóteses definidas rigorosamente menos estruturadas Fonte: FONSECA, J.J.S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UECE, 2002. Apostila. A pesquisa quantitativa tem suas raízes no pensamento positivista lógico, tende a enfatizar o raciocínio dedutivo, as regras da lógica e os atributos mensuráveis da experiência humana. Por outro lado, a pesquisa qualitativa, tende a salientar os aspectos dinâmicos, holísticos e individuais da experiência humana, para apreender a DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 30 totalidade no contexto daqueles que estão vivenciando o fenômeno (POLIT, BECKER E HUNGLER, 2004). Quadro 2. Comparação entre o método quantitativo e método qualitativo. Pesquisa Quantitativa Pesquisa Qualitativa Focaliza uma quantidade pequena de conceitos Tenta compreender a totalidade do fenômeno, mais do que focalizar conceitos específicos Inicia com idéias pré-concebidas do modo pelo qual os conceitos estão relacionados Possui poucas idéias pré-concebidas e salienta a importância das interpretações dos eventos mais do que a interpretação do pesquisador Utiliza procedimentos estruturados e instrumentos formais para coleta de dados Coleta dados sem instrumentos formais e estruturados Coleta os dados mediante condições de controle Não tenta controlar o contexto da pesquisa e sim captar o contexto na totalidade Enfatiza a objetividade, na coleta e análise dos dados O subjetivo como meio de compreender e interpretar as experiências Analisa os dados numéricos através de procedimentos estatísticos Analisa as informações narradas de uma forma organizada, mas intuitiva Fonte: POLIT, D. F.; BECK, C. T.; HUNGLER, B. P. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: métodos, avaliação e utilização. Trad. Ana Thorell. 5 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2004. Assim, como visto até aqui tanto a pesquisa quantitativa quanto a pesquisa qualitativa apresentam suas diferenças com pontos fracos e fortes. Contudo, os elementos fortes de um complementam as fraquezas do outro, fundamentais ao maior desenvolvimento da ciência. SAIBA MAIS: Ver capítulo 7: O planejamento de pesquisas qualitativas. Em ALVES-MAZZOTTI, A.J.; GEWANDSZNAJDER, F. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pioneira, 1998. 2.2 Quanto à natureza 2.2.1 Pesquisa Básica Objetiva gerar conhecimentos novos, úteis para o avanço da ciência, sem aplicação prática prevista. Envolve verdades e interesses universais. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 31 2.2.2 Pesquisa Aplicada Objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática dirigidos à solução de problemas específicos. Envolve verdades e interesses locais. 2.3 Quanto aos objetivos Para Gil (2007), com base nos objetivos é possível classificar as pesquisas em três grupos: 2.3.1 Pesquisa Exploratória Este tipo de pesquisa tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses. A grande maioria destas pesquisas envolve: (a) levantamento bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e (c) análise de exemplos que ‘estimulem a compreensão’ (Gil, 2007). Exemplos destas pesquisas podem ser classificados como bibliográfica e estudo de caso (Gil, 2007). 2.3.2 Pesquisa Descritiva A pesquisa descritiva exige do investigador uma série de informações sobre o que deseja pesquisar. Este tipo de estudo pretende descrever os fatos e fenômenos de determinada realidade (TRIVINOS, 1987). São exemplos de pesquisa descritiva: estudos de caso, análise documental, pesquisa ex-post-facto. Para Trivinos (1987, p. 112), os estudos descritivos podem ser criticados porque pode existir uma exata descrição dos fenômenos e dos fatos. Estes fogem da possibilidade de verificação através da observação. Ainda para o autor, as vezes não existe por parte do investigador um exame crítico das informações e os resultados DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 32 início da pesquisa, ao se produzir um estímulo no grupo experimental, a diferença apresentada nos dois grupos no final da pesquisa constitui a medida da influência do estímulo introduzido. 2.4.2 Pesquisa Bibliográfica A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, página de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem porém pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta (FONSECA, 2002). Para Gil (2007, p.44), os exemplos mais característicos deste tipo de pesquisa são sobre ideologias ou aquelas que se propõem à análise das diversas posições acerca de um problema. 2.4.3 Pesquisa Documental A pesquisa documental trilha os mesmos caminhos da pesquisa bibliográfica, não sendo fácil por vezes distingui-las. A pesquisa bibliográfica utiliza fontes constituídas por material já elaborado, constituído basicamente por livros e artigos científicos localizados em bibliotecas. A pesquisa documental recorre a fontes mais diversificadas e dispersas, sem tratamento analítico tais como: tabelas estatísticas, jornais, revistas, relatórios, documentos oficiais, cartas, filmes, fotografias, pinturas, tapeçarias, relatórios de empresas, vídeos de programas de televisão, etc. (FONSECA,2002). 2.4.4 Pesquisa de Campo A Pesquisa de Campo caracteriza-se pelas investigações em que além da pesquisa bibliográfica e/ou documental, se coletam dados junto à pessoas utilizando diversos tipos de pesquisa (pesquisa ex-post-facto, pesquisa ação, pesquisa participante, etc.) (FONSECA, 2002). DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 35 2.4.5 Pesquisa Ex-post-facto A Pesquisa Ex-post-facto tem por objetivo investigar possíveis relações de causa e efeito entre um determinado fato identificado pelo pesquisador e um fenômeno que ocorre posteriormente. A principal característica deste tipo de pesquisa é o fato de os dados serem coletados após a ocorrência dos eventos. A pesquisa ex-post-facto é utilizada quando há impossibilidade de aplicação da pesquisa experimental, pelo fato de nem sempre ser possível manipular as variáveis necessárias para o estudo da causa e do seu efeito (FONSECA, 2002). Como exemplo deste tipo de pesquisa, pode-se citar um estudo sobre a evasão escolar, quando se tenta analisar suas causas. Num estudo experimental, seria o inverso, tomando-se primeiramente um grupo de alunos a quem seria dado um determinado tratamento e observar-se-ia depois o índice de evasão. 2.4.6 Pesquisa de Levantamento A realização de levantamentos possibilita o acompanhamento conjuntural da economia. Particularmente, utilizado em estudos exploratórios e descritivos, o levantamento pode ser de dois tipos: levantamento de uma amostra ou levantamento de uma população (também designado de Censo). O Censo populacional constituía única fonte de informação sobre a situação de vida da população nos municípios e localidades. Os censos produzem informações imprescindíveis para a definição de políticas públicas estaduais e municipais e para a tomada de decisões de investimentos, sejam eles provenientes da iniciativa privada ou de qualquer nível de governo. Foram recenseados todos os moradores em domicílios particulares (permanentes e improvisados) e coletivos, na data de referência. Através de pesquisas mensais do comércio, da indústria e da agricultura. É possível recolher informações sobre o seu desempenho. A coleta de dados realiza-se em ambos os casos através de questionários ou entrevistas (FONSECA, 2002). 2.4.7 Pesquisa Survey A pesquisa com survey pode ser referida como sendo a obtenção de dados ou DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 36 informações sobre as características ou as opiniões de determinado grupo de pessoas, indicado como representante de uma população-alvo, utilizando um questionário como instrumento de pesquisa (FONSECA, 2002). Neste tipo de pesquisa o respondente não é identificável, portanto o sigilo é garantido. São exemplos deste tipo de estudo: as pesquisas de opinião sobre determinado atributo, a realização de um mapeamento geológico ou botânico. É a pesquisa que busca informação diretamente com um grupo de interesse a respeito dos dados que se deseja obter. Trata-se de um procedimento útil, especialmente em pesquisas exploratórias e descritivas (SANTOS, 1999). 2.4.8 Pesquisa Estudo de Caso Um estudo de caso pode ser caracterizado como um estudo de uma entidade bem definida como um programa, uma instituição, um sistema educativo, uma pessoa, ou uma unidade social. Visa conhecer em profundidade o como e o porquê de uma determinada situação que se supõe ser única em muitos aspectos, procurando descobrir o que há nela de mais essencial e característico. O pesquisador não pretende intervir sobre o objeto a ser estudado, mas revelá-lo tal como ele o percebe. (FONSECA, 2002). O estudo de caso pode decorrer de acordo com uma perspectiva interpretativa, que procura compreender como é o mundo do ponto de vista dos participantes, ou uma perspectiva pragmática, que visa simplesmente apresentar uma perspectiva global, tanto quanto possível completa e coerente, do objeto de estudo do ponto de vista do investigador (FONSECA, 2002). 2.4.9 Pesquisa Participante Este tipo de pesquisa caracteriza-se pelo envolvimento e identificação do pesquisador com as pessoas investigadas. A pesquisa participante teve a sua origem em Bronislaw Malinowski, o qual para conhecer os nativos das ilhas Trobriand foi se tornar um deles. Rompendo com a sociedade ocidental, montava a sua tenda nas aldeias que desejava estudar, aprendia as suas línguas e observava a sua vida quotidiana (FONSECA, 2002). DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 37 Ver capítulo 4: Alguns temas no desenvolvimento de uma pesquisa, p.109-115. Em TRIVINOS, A.N.S. Introdução a pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. Referências Bibliográficas ALVES-MAZZOTTI, A. J.; GEWANDSZNAJDER, F. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pioneira, 1998. FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila. GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2007. POLIT, D. F.; BECK, C. T.; HUNGLER, B. P. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: métodos, avaliação e utilização. Trad. Ana Thorell. 5 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2004. SANTOS, A. R. Metodologia científica: a construção do conhecimento. Rio de Janeiro: DP&A, 1999. THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez & Autores Associados, 1988. TRIVINOS, A. N. S. Introdução a pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 40 Módulo III A construção da Pesquisa DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 41 Módulo III – A CONSTRUÇÃO DA PESQUISA11 3. Problemas de método: “do caos original... ou três maneiras de começar mal” No início de uma pesquisa ou de um trabalho, o cenário é praticamente o mesmo: sabemos vagamente que queremos estudar tal ou tal problema, por exemplo, o desenvolvimento de uma região, o funcionamento de uma instituição, a introdução de novas tecnologias ou as atividades de uma associação, mas não sabemos muito bem como abordar a questão. Desejamos que o trabalho seja útil e que possamos chegar ao fim, mas temos o sentimento de se perder antes mesmo de termos começado. Vejamos então o que fazer. O caos original não deve ser fonte de preocupação; ao contrário, ele é a marca de um espírito inquieto, que não alimenta de simplismos e de certezas já prontas. O problema é como sair disso. Para tanto, vejamos primeiramente, sobretudo, o que não devemos fazer... mas que normalmente fazemos: a fuga antecipada. Ela pode tomar diferentes formas dentre as quais nós abordaremos aqui apenas as mais correntes: a “gulodice livresca ou estatística”, o “impasse das hipóteses” e a “ênfase obscura”. “A gulodice livresca ou estatística” Como o seu nome indica, a “a gulodice livresca ou estatística” consiste em encher a cabeça com uma grande quantidade de livros, de artigos ou de dados numéricos esperando encontrar em um parágrafo ou um gráfico, a luz que permitirá enfim de precisar corretamente e de maneira satisfatória o objetivo e o tema de trabalho que 11 Traduzido e adaptado de: QUIVY, R. CAMPENHOUDT, L. V. Manuel de recherche en sciences sociales. Paris: DUNOD, 1995. 287p. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 42 pelos dogmas, mas aquela que se permite questionar e que se aprofunda incessantemente pelo desejo de compreender de forma mais justa a realidade na qual vivemos e construímos. Após ter examinado algumas formas de se começar mal uma pesquisa, vejamos como é possível proceder validamente uma pesquisa e de lhe assegurar um bom começo. Com a ajuda de esquemas didáticos falaremos primeiramente dos princípios da pesquisa científica e apresentaremos a seguir as etapas para colocá-la em prática. 3.1. Processo de elaboração da pesquisa científica 3.1.1 Os 3 grandes eixos da pesquisa Para compreender a articulação das etapas de uma pesquisa é preciso falar rapidamente sobre os princípios contidos nos três eixos de uma pesquisa e da lógica que os une. 1. A ruptura: O primeiro eixo necessário para se fazer pesquisa é a ruptura. Nossa bagagem “teórica” possui várias armadilhas, pois uma grande parte das nossas idéias se inspira em aparências imediatas ou em partidarismos. Elas são seguidamente ilusórias e preconceituosas. Construir uma pesquisa nessas bases é construí-la sobre um terreno arenoso. Daí a importância da ruptura que consiste em romper com as idéias pré-concebidas e com as falsas evidências que nos fornecem somente a ilusão de compreender as coisas. A ruptura é, portanto, o primeiro eixo constitutivo das etapas metodológicas da pesquisa. 2. A construção: Esta ruptura só se efetua ao nos referirmos a um sistema conceitual organizado, suscetível de expressar a lógica que o pesquisador supõe ser a base do objeto em estudo. É graças a esta teoria que se pode construir as propostas explicativas do objeto em estudo e que se pode elaborar o plano de pesquisa a ser realizado, as operações necessárias a serem colocadas em prática e os resultados esperados ao final da pesquisa. Sem esta construção teórica, não DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 45 há pesquisa válida, pois não podemos submeter à prova qualquer proposta. As propostas explicativas devem ser o produto de um trabalho racional fundamentado sobre uma lógica e sobre um sistema conceitual validamente constituído. 3. A constatação: uma proposta de pesquisa tem direito ao status científico quando ela é suscetível de ser verificada por informações da realidade concreta. Esta colocação em prova dos fatos é chamada constatação ou experimentação. Ela corresponde ao terceiro eixo das etapas da pesquisa. 3.1.2. As sete etapas da pesquisa Os três eixos da pesquisa científica não são independentes uns dos outros. Assim, por exemplo, a ruptura não é realizada unicamente no início da pesquisa, ela é realizada também na construção da pesquisa. E a construção não pode acontecer sem a ruptura necessária, nem a constatação, pois a qualidade desta está intimamente ligada à qualidade da construção da pesquisa. No desenvolvimento concreto de uma pesquisa, os 3 eixos metodológicos são realizados ao longo de uma sucessão de operações que podem ser agrupadas em 7 etapas. Por razões didáticas a figura 1 distingue de forma precisa as 7 diferentes etapas. Entretanto, as flechas de retroação nos lembram que estas diferentes etapas estão em interação constante. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 46 Figura 1. Etapas da pesquisa científica. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 47 Critérios de escolha: partir da questão inicial; evitar um grande número de textos; escolher textos de síntese num primeiro momento para em seguida procurar textos que não apresentam somente dados, mas que tenham análise e interpretações; escolher textos que apresentam abordagens e enfoques diferenciados sobre o tema; escolher os locais de busca de informações e de textos sobre o tema (bibliotecas, internet...). Exercício de aplicação: escolha das primeiras leituras Escolha dois ou três textos sobre o tema de pesquisa: - Parta de sua questão inicial - Relembre os critérios de escolha das leituras que foram mencionados acima - Identifique os temas de leitura que lhe parecem mais próximos de sua questão inicial - Consulte uma ou outra pessoa informada sobre o tema - Proceda a pesquisa de documentos e textos através da técnica de pesquisa bibliográfica. 1.2 Como ler: Fazer resumos: colocar em evidência as idéias principais e suas articulações de forma a tornar claro a unidade de pensamento do autor. A qualidade de um resumo está diretamente ligada à qualidade da leitura realizada. Exercício de aplicação: fazer um resumo das primeiras leituras É um trabalho longo. Ao longo desse trabalho não se esqueça de sua questão inicial e seja particularmente preciso as idéias que estão diretamente ligadas a ela. Você DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 50 não lerá os textos gratuitamente, mas sim para progredir em sua pesquisa. Tenha sempre em mente seus objetivos. Após ter terminado esse exercício faça o próximo exercício que completa o primeiro: Comparação dos textos a fim de buscar elementos de reflexão e pistas de trabalho mais interessantes. Primeiro compare os textos, a partir dos pontos de vista adotados pelos diferentes autores (convergências, divergências e complementaridades), e dos conteúdos (convergências, divergências e complementaridades). Após evidencie pistas de pesquisa interessantes para o seu estudo (quais são os textos mais próximos de sua questão inicial, quais pistas sugerem). Feito este trabalho, pare para refletir sobre sua questão inicial. 2. A coleta de informações exploratórias A questão inicial tendo sido formulada provisoriamente necessita ter certa qualidade de informações sobre o objeto em estudo e de encontrar a melhor forma de abordá-lo. Esta é a função do trabalho exploratório. Este se compõe de duas partes que podem ser realizadas paralelamente: a leitura, como vimos acima, e a coleta de informações através de entrevistas, documentos, observações. As leituras servem primeiramente para nos informarmos das pesquisas já realizadas sobre o tema e de obter contribuições para o projeto de pesquisa. Graças a essas leituras o pesquisador poderá evidenciar a perspectiva que lhe parece mais pertinente para abordar seu objeto de estudo. A escolha das leituras demanda ser feita em função de critérios precisos: ligações com a questão inicial, dimensão razoável de leituras, elementos de análise e interpretação, abordagens diversificadas, tempo consagrado a reflexão pessoal e as trocas de pontos de vista. Enfim, os resumos corretamente estruturados permitirão tirar idéias essenciais dos textos estudados e de compará-los. As entrevistas, observações completam as leituras. Elas permitem ao pesquisador tomar consciência dos aspectos da questão a qual sua própria experiência e suas leituras não puderam evidenciar. As entrevistas ou observações exploratórias podem DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 51 preencher essa função quando não são muito diretivas, pois o objetivo não consiste em validar as idéias preconcebidas do pesquisador, mas a encontrar outras idéias. Três tipos de interlocutores são interessantes para desenvolver essas técnicas: especialistas científicos sobre o tema em estudo, os informantes privilegiados e as pessoas diretamente envolvidas. Ao final desta etapa, o pesquisador poderá ser levado a reformular sua questão inicial de forma que ela leve em conta o trabalho exploratório. Terceira etapa: a problemática A problemática é a aproximação ou a perspectiva teórica que decidimos adotar para tratar o problema colocado pela questão inicial. Ela é uma forma de interrogar os objetos estudados. Construir uma problemática significa responder a questão: como vou abordar tal objeto? A concepção de uma problemática pode ser feita em dois momentos: • Num primeiro momento, fazemos um levantamento das problemáticas possíveis, evidenciamos suas características e as comparamos. Para isso, utilizamos os resultados do trabalho exploratório. Com ajuda de referenciais (esquemas inteligíveis, modelos explicativos) fornecidos pelas aulas teóricas ou pelos livros de referência sobre o tema, tentamos elucidar as perspectivas teóricas que estão por detrás das diferentes abordagens encontradas. • Num segundo momento, escolhemos e explicitamos nossa própria problemática com conhecimento de causa. Escolher é adotar um quadro teórico que convém e se adapta ao problema e que temos a capacidade de dominá-lo o suficiente. Para explicitar sua problemática, redefine-se o melhor possível o objeto de sua pesquisa precisando qual o ângulo que decidimos aborda-lo e reformulando a questão inicial de forma que ela torne-se a questão central da pesquisa. Paralelamente, expõe-se a orientação teórica escolhida e ajusta-se em função do objeto de pesquisa de forma a obter um “sistema conceitual organizado” apropriado ao que se está procurando pesquisar. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 52 Quarta etapa: a construção do modelo de análise O modelo de análise constitui o prolongamento natural da problemática articulando sob uma forma operacional os referenciais e as pistas que serão finalmente escolhidas para guiar o trabalho de coleta de dados e a análise. Ele é composto de conceitos e hipóteses que estão interligados para formar conjuntamente um quadro de análise coerente. A conceitualização, ou a construção de conceitos constitui uma construção abstrata que tenta dar conta do real. Nesse sentido, ela não dá conta de todas as dimensões e aspectos do real, mas somente o que expressa o essencial segundo o ponto de vista do pesquisador. Trata-se, portanto, de uma construção-seleção. A construção de um conceito consiste em designar dimensões que o constituem e a precisar os indicadores graças aos quais estas dimensões poderão ser mensuradas. Distinguem-se os conceitos operacionais isolados que são construídos empiricamente a partir das observações diretas ou das informações coletadas e os conceitos sistêmicos que são construídos pelo raciocínio abstrato e se caracterizam, em princípio, por um grau de ruptura mais alto com as idéias preconcebidas e com a ilusão da transparência. Duas formas de construção das hipóteses (Quadro 1 e figura 3): Quadro 3. Métodos hipotético-indutivo e hipotético-dedutivo. Método hipotético-indutivo Método hipotético-dedutivo A construção parte da observação O indicador é de natureza empírica A partir dele, constrói-se novos conceitos, novas hipóteses e, o modelo que será submetido a prova dos fatos A construção parte de um postulado ou conceito como modelo de interpretação do objeto estudado Este modelo gera, através de um trabalho lógico, as hipóteses, os conceitos e os indicadores aos quais será necessário buscar correspondentes no real. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 55 Fonte: QUIVY, R. CAMPENHOUDT, L. V. Manuel de recherche en sciences sociales. Paris: DUNOD, 1995. 287p. Componentes Dimensões Conceitos Hipóteses Modelo Indicadores Método hipotético-dedutivo Método hipotético-indutivo Figura 3. Métodos hipotético-indutivo e hipotético-dedutivo. Fonte: QUIVY, R. CAMPENHOUDT, L. V. Manuel de recherche en sciences sociales. Paris: DUNOD, 1995. 287p. Uma hipótese é uma proposta que antecipa uma relação entre dois termos que, de acordo com o caso, podem ser de conceitos ou de fenômenos. Ela é, portanto, uma proposta provisória, uma presunção, que demanda ser verificada. A hipótese será confrontada, numa etapa posterior da pesquisa, aos dados coletados. Para ser objeto desta verificação empírica, uma hipótese deve ser falsa. Isso significa primeiramente que ela deve poder ser testada indefinidamente e deve, portanto, ter um caráter de generalidade, e em seguida, ela deve aceitar enunciados contrários que são teoricamente suscetíveis de serem verificados. Somente o respeito a estas exigências metodológicas permite de se colocar em prática o espírito da pesquisa que se caracteriza, sobretudo, pelo questionamento constante dos resultados provisórios da produção do conhecimento. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 56 Exercício de aplicação: definição de conceitos de base e formulação das hipóteses principais da pesquisa Para efetuar este exercício com sucesso, eis algumas sugestões: • Parta de uma questão precisa, revista e corrigida pelo trabalho exploratório e pela problemática. • Não queime etapas. Este exercício constitui o final natural de um trabalho exploratório corretamente realizado e de uma reflexão sobre sua problemática. • Consulte autores reconhecidos. Não hesite em utilizar seus conceitos e a se inspirar em suas hipóteses. Neste caso, preocupe-se em indicar claramente as referências utilizadas. Trata-se de uma questão de honestidade intelectual e também de validade externa de seu trabalho. • Cuide da coerência de seu modelo de análise: coloque claramente em evidência as relações que você pensa entre os conceitos e as hipóteses. • Procure sempre ser claro e objetivo. Lembre-se que a qualidade é mais importante que a quantidade: um ou dois conceitos centrais e uma ou duas hipóteses principais são na maior parte dos casos suficientes. Não se preocupe com conceitos e hipóteses secundários que após ter adquirido certeza dos conceitos e hipóteses centrais serão melhor escolhidos. Exercício de aplicação: explicitar o modelo de análise Este exercício consiste em detalhar e a tornar operacional as hipóteses e os conceitos principais definidos no exercício precedente. Portanto: DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 57 - Qual o período de tempo a ser levado em conta? Em função destas delimitações, é melhor coletar os dados sobre a totalidade da população, sobre uma amostra representativa (método quantitativo) ou somente sobre uma amostra ilustrativa de certas características desta população (método qualitativo)? Para delimitar o campo de análise, leve em conta igualmente seus prazos de execução, de seus recursos e do método de coleta de dados que você pensa utilizar (antecipação!). • Como coletar? A escolha do método de coleta de dados mais adequado. Qual método de coleta é o mais apropriado? Para responder a essa questão, leve em conta as hipóteses de trabalho e a definição de dados pertinentes, do tipo de análise que será feito posteriormente (trata-se também de antecipar a etapa seguinte) e de sua própria formação metodológica. Sexta etapa: a análise das informações A análise das informações é a etapa que faz o tratamento das informações obtidas pela coleta de dados para apresentá-la de forma a poder comparar os resultados esperados pelas hipóteses. No cenário de uma análise de dados quantitativos, esta etapa compreende três operações. Entretanto, os princípios deste método podem ser transpostos, em grande parte, a outros tipos de métodos. • A primeira operação consiste em descrever os dados. Isso remete, por um lado, a lhes apresentar (agregados ou não) sob a forma requerida pelas variáveis implicadas nas hipóteses e, por outro lado, de lhes apresentar de forma que as características destas variáveis sejam colocadas em evidência pela descrição. • A segunda operação consiste em mensurar as relações entre as variáveis, de acordo com a forma como estas relações foram previstas pelas hipóteses. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 60 • A terceira operação consiste em comparar as relações observadas com as relações teoricamente esperadas pela hipótese e de mensurar o distanciamento entre elas. Se o distanciamento é nulo ou muito pequeno, pode-se concluir que a hipótese está confirmada; caso contrário, será preciso examinar de onde provém este distanciamento e tirar as conclusões apropriadas. Os principais métodos de análise das informações são a análise estatística dos dados (método quantitativo) e a análise de conteúdo (método qualitativo). Cada hipótese elaborada na fase de construção expressa as relações que pensamos ser corretas e que devem ser confirmadas pela coleta de dados. Os resultados encontrados são os que resultam das operações precedentes. É comparando os resultados encontrados com os resultados esperados pela hipótese que poderemos tirar as conclusões. Se houver divergência entre os resultados observados e os resultados esperados, será necessário examinar de onde provém este distanciamento e em que a realidade é diferente do que se presumia no início, seja elaborando novas hipóteses, e a partir de uma nova análise dos dados disponíveis, examinar em que medida elas se confirmam. Nesse caso será necessário completar a coleta de dados. Esta interação entre a análise, as hipóteses e a coleta de dados está representada pelas duas flechas de retroação (figura 4): Figura 4. Interação entre as etapas 4 e 7 da pesquisa. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 61 Fonte: QUIVY, R. CAMPENHOUDT, L. V. Manuel de recherche en sciences sociales. Paris: DUNOD, 1995. 287p. Exercício de aplicação: análise das informações Nesta etapa, é ainda mais difícil dar referenciais precisos para um trabalho pessoal, tamanha a diversidade de problemas e técnicas de análise. As cinco questões abaixo podem, entretanto, ajudar a evoluir na maioria dos trabalhos. 1. Quais são as variáveis implicadas nas hipóteses? 2. Quais são as informações que correspondem as variáveis ou que devem ser agregadas para serem descritas? 3. A distribuição das variáveis é normal, conforme as hipóteses? 4. Como expressar os dados para evidenciar suas principais características? 5. Com qual tipo de variável é preciso trabalhar (nominal, ordinal ou contínua) e quais são as técnicas de análise compatíveis com estes dados? Sétima etapa: as conclusões A conclusão de um trabalho de pesquisa comportará três partes: 1. Relembrar as grandes linhas da pesquisa - Apresentação da questão de pesquisa, ou seja, a questão inicial na sua formulação final; - Apresentação das principais características do modelo de análise, particularmente as hipóteses; - Apresentação do campo de coleta de dados, dos métodos escolhidos e da coleta de informações realizada; - Comparação dos resultados esperados pela hipótese com os resultados obtidos, assim como uma breve descrição das principais distâncias encontradas entre ambos. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 62 Formular a questão inicial respeitando: - Qualidades de clareza - Qualidades de exeqüibilidade - Qualidades de pertinência A questão inicial As leituras • Selecionar os textos • Ler com método • Resumir • Comparar: - Os textos entre eles - Os textos e a coleta de informações A coleta de informações • Prepara a coleta através de entrevistas ou observação • Encontrar os especialistas, informantes chaves e pessoas envolvidas • Adotar uma atitude de escuta e de abertura • Decodificar os discursos A exploração • Fazer uma revisão bibliográfica sobre as problemáticas possíveis • Construir sua própria problemática A problemática • Construir as hipóteses e o modelo precisando: - as relações entre os conceitos - as relações entre as hipóteses • Construir os conceitos precisando: - as dimensões - os indicadores A construção do modelo de análise Recapitulativo das Etapas da Pesquisa Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 65 • Delimitar o campo de coleta • Elaborar o instrumento de coleta • Testar o instrumento de coleta • Proceder a coleta das informações A coleta de dados • Descrever e preparar os dados para a análise • Mensurar as relações entre as variáveis • Comparar os resultados esperados com os resultados encontrados • Buscar o significado do distanciamento entre eles A análise das informações • Retomar a caminho metodológico • Apresentar os resultados colocando em evidência: - os conhecimentos novos - as perspectivas práticas As conclusões Etapa 5 Etapa 6 Etapa 7 Figura 5. Recapitulativo das etapas de pesquisa. Fonte: QUIVY, R. CAMPENHOUDT, L. V. Manuel de recherche en sciences sociales. Paris: DUNOD, 1995. 287p. SAIBA MAIS: Consulte os links abaixo para aprofundar a leitura sobre as etapas da pesquisa. http://www.unb.br/irel/NewFiles/Como_elaborar.pdf http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/met05.htm DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 66 3.2. Estrutura do projeto de pesquisa Após termos abordado as etapas de uma pesquisa falaremos do texto que estrutura uma pesquisa, ou seja, do texto que rege e sintetiza o momento analítico do processo de investigação: o projeto de pesquisa. A formulação de um projeto de pesquisa normalmente ocorre não no início do processo, mas, sim, uma vez delimitado o tema (e o problema correspondente) da pesquisa e, com base na escolha de um quadro teórico, elaboradas as hipóteses e, em função destas, selecionados tanto a documentação pertinente quanto os métodos e técnicas que serão empregados. A estrutura de um projeto completo de pesquisa é a seguinte: 3.2.1. Título da pesquisa: simplifique usando conceitos e expressões claras. Sempre pode ser mudado ao longo do trabalho. Um bom título é sempre conciso; não entra em detalhes; provoca e atrai, por meio da síntese de idéias. Sub-título: Utilize apenas para clarificar. Sub-título não é necessário. Títulos grandes podem gerar confusão. 3.2.2 Introdução: pode conter o tema, a justificativa, as questões ou hipóteses - formulação, delimitação, problema específico a resolver quanto ao tema no decorrer da pesquisa (o que será pesquisado; a “pergunta”); justificativa segundo os critérios habituais: relevância; originalidade: a demonstração de cumprir-se este item na pesquisa normalmente exigirá uma exposição do que já foi feito acerca do tema, ou de temas próximos, no contexto da disciplina em que a pesquisa se desenvolve, ou de disciplinas diferentes, mas pertinentes ao tema em questão; viabilidade; interesse pessoal (por que escolheu esse problema); e os objetivos (estes podem ser apresentados em item separado após a introdução ou no texto da introdução; redação extremamente breve do que se pretende obter, nos diversos níveis que forem pertinentes, da realização da pesquisa em questão, devendo tal exposição ser inteligível mesmo para pessoas não especializadas na disciplina em cujo contexto se formula e realiza a pesquisa). DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 67 Vejamos as características de cada uma delas. a) Pesquisas exploratórias: buscam uma aproximação com o fenômeno, pelo levantamento de informações que o poderão levar o pesquisador a conhecer mais a seu respeito. b) Pesquisas descritivas: realizadas com o intuito de descrever as características do fenômeno. c) Pesquisas explicativas: ao realizar um estudo dessa natureza, o pesquisador procura explicar causas e conseqüências da ocorrência do fenômeno. O caráter da pesquisa influencia todo o desenvolvimento da pesquisa, a começar pela maneira como o pesquisador determina os objetivos de sua investigação. ATENÇÃO! O pesquisador iniciante mais explora do que explica15 Pesquisadores iniciantes, como é o caso dos estudantes de graduação e de pós- graduação lato sensu, geralmente realizam pesquisas de caráter exploratório. Gil (1994) esclarece que a exploração do fenômeno tem como objetivos desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias. Esse tipo de pesquisa é realizado especialmente quando há poucas informações disponíveis sobre o tema ao qual se relaciona o objeto de estudo. Justamente pelo escasso conhecimento do assunto, o planejamento é flexível, de forma que os vários aspectos relativos ao fato possam ser considerados. A escassez de informações tornar difícil a formulação de hipóteses, como requerem as pesquisas descritivas e explicativas. Na verdade, é sobre as pesquisas científicas que descrevem e explicam os fenômenos que você mais ouve falar. Elas são executadas com muita freqüência por que pesquisadores da área de saúde. Eles realizam experimentos, acompanham pacientes por anos, medindo taxas para que, ao final do estudo, possam encontrar as respostas e relações que procuram. Bons trabalhos científicos muitas vezes são trabalhos simples. Pesquisadores iniciantes não precisam confeccionar projetos complicados ou ficar imobilizado pela 15 DOXSEY J. R., DE RIZ, J. Metodologia da pesquisa científica. ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. 2002-2003. Apostila. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 70 mistificação desnecessária da pesquisa. É importante ter foco no problema a ser estudado, traçar um plano executável com os recursos e tempo disponível e usar procedimentos adequados para a proposta. - População e amostra: definir o universo de estudo e a forma como será selecionada a amostra. DICA! A unidade de análise e os sujeitos da pesquisa16 Um detalhe muitas vezes omitido sobre metodologia de pesquisa é a lembrança sobre a delimitação do foco do estudo. Foco é uma questão de escolha e especificação de limites. É essencial determinar qual será a principal fonte das informações a serem coletadas. A unidade de análise pode ser uma pessoa, um grupo, uma empresa, uma sala de aula, um município. Pode ser configurado em outro âmbito, num âmbito mais macro: um setor econômico, uma divisão de uma instituição ou uma escola. Independentemente do âmbito da análise, precisamos saber quais os sujeitos da pesquisa. A escolha de quem vai ser estudado mantém uma relação estreita com dois aspectos principais: 1) até que ponto queremos generalizar ou concluir algo para um pequeno grupo ou para uma população maior; e 2) quantos casos, indivíduos, unidades de observação precisam ser estudados para que os resultados sejam considerados ‘científicos’. As técnicas de amostragem permitem reduzir o número de sujeitos numa pesquisa, sem risco de invalidar resultados ou de impossibilitar a generalização para a população como um todo. “Nos trabalhos quantitativos, a generalização está determinada pela amostragem aleatória e pela estatística inferencial, mas essas técnicas não são relevantes para a pesquisa qualitativa” (RICHARDSON, 1999, p. 101). 16 DOXSEY J. R., DE RIZ, J. Metodologia da pesquisa científica. ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. 2002-2003. Apostila. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 71 Mas se o seu estudo não utiliza técnicas de amostragem, uma abordagem quantitativa, quantos sujeitos ou unidades de observação são necessários? Infelizmente não existem ‘regras’ para responder a pergunta. Para a pesquisa qualitativa o pesquisador seleciona os sujeitos de acordo com o problema da pesquisa. Quem sabe mais sobre o problema? Quem pode validar tal informação com outro ponto de vista ou uma visão mais crítica dessa situação problemática? O iniciante em pesquisa científica muitas vezes pensa que a pesquisa qualitativa é o caminho mais indicado para se exercitar na pesquisa porque exige um número menor de entrevistas, questionários ou observações, etc. A pesquisa quantitativa é percebida como mais complicada e demorada com um maior número de observações necessárias. Vários fatores influenciam as decisões tomadas pelo pesquisador no planejamento de um projeto. O tamanho e a complexidade da população são os principais determinantes no tamanho e no tipo de amostra contemplado. As pesquisas qualitativas permitem maior liberdade na composição dos casos e/ou unidades a serem escolhidas. Ao mesmo tempo em que observamos questões pragmáticas no desenho do estudo, o pesquisador deve evitar que preferências, valores pessoais ou fatores de conveniência afetem suas decisões sobre a população a ser estudada. O bom senso não é suficiente para determinar o tamanho da amostra em pesquisas quantitativas. É necessário utilizar as fórmulas, evitando regras simplistas pelas quais o pesquisador aplica uma porcentagem X ao número total população (universo) para calcular a amostra. Via de regra, evita-se estudos quantitativos (exploratórios ou descritivos) com menos de 30 casos. Dependendo do estudo, muitas vezes, apenas um grupo será insuficiente para a pesquisa quantitativa ou qualitativa. Por outro lado, um bom estudo de caso pode envolver uma família, uma pequena escola ou instituição. No final das contas, você, pesquisador(a), é quem determina a abrangência e especificação de seu estudo. É de suma importância, portanto, um planejamento e justificativa adequados para as estratégias adotadas em sua proposta. - Técnicas de coleta de dados: descrever as técnicas utilizadas para a coleta de dados e os instrumentos utilizados (de acordo com o tipo de técnica escolhida) devem ser apresentados em anexo. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 72 respostas não serem identificadas; - há menos riscos de distorções, pela não influência do pesquisador; - há mais tempo para responder e em hora mais favorável; - há mais uniformidade na avaliação, em virtude da natureza impessoal do instrumento; - obtém respostas que materialmente seriam inacessíveis. respondê-las, pode uma questão influenciar a outra; - a devolução tardia prejudica o calendário ou sua utilização; - o desconhecimento das circunstâncias em que foram preenchidos torna difícil o controle e a verificação; - nem sempre é o escolhido quem responde ao questionário, invalindando, portanto, as respostas; - exige um universo mais homogêneo. Fonte: http://www.lcsantos.pro.br/arquivos/Tecnicas_de_Coleta_de_Dados22022007-104857.pdf. Acesso em 27/02/2008. Processo de elaboração do questionário Requer a observância de normas precisas, a fim de aumentar sua eficácia e validade. Em sua organização, devem-se levar em conta os tipos, a ordem, os grupos de perguntas, a formulação das mesmas e também tudo aquilo que se sabe sobre percepção, estereótipos, mecanismo de defesa, liderança etc. Existem três tipos de questões: fechadas, abertas e mistas. Pré-teste do questionário Depois de redigido, o questionário precisa ser testado antes de sua utilização definitiva, aplicando-se alguns exemplares em uma pequena população escolhida. 4 Formulário - É o nome geralmente usado para designar uma coleção de questões que são perguntadas e anotadas por um entrevistador, numa situação face a face com o entrevistado. As perguntas devem ser ordenadas, das mais simples às mais complexas; vale lembrar que as perguntas devem referir-se a uma idéia de cada vez e possibilitar uma única interpretação, sempre respeitada o nível de conhecimento do informante. Tanto o questionário quanto o formulário, por se constituírem de perguntas padronizadas, são instrumentos de pesquisa mais adequados à quantificação, porque são mais fáceis de codificar e tabular, propiciando comparações com outros dados relacionados ao tema pesquisado. O questionário e o formulário são instrumentos que DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 75 se diferenciam apenas no que se refere à forma de aplicação. O questionário é preenchido pelo próprio entrevistado, e o formulário é preenchido indiretamente, isto é, pelo entrevistador. Quadro 5. Vantagens e desvantagens do uso do formulário. VANTAGENS DESVANTAGENS - utilizado para quase todo o segmento da população: alfabetizados; analfabetos; populações heterogêneas; - presença do pesquisador, que pode explicitar os objetivos da pesquisa, orientar o preenchimento do formulário e elucidar significados de perguntas que não estejam muito claras; - flexibilidade, para adaptar-se às necessidades de cada situação, podendo o entrevistador reformular itens ou ajustar o formulário à compreensão de cada informante; - obtenção de dados mais complexos e úteis; - facilidade na aquisição de um número representativo de informantes, em determinado grupo; - uniformidade dos símbolos utilizados, pois é preenchido pelo próprio pesquisador. - menos liberdade nas respostas, em virtude da presença do entrevistador; - risco de distorções, pela influência do aplicador; - menos prazo para responder às perguntas; não havendo tempo para pensar, elas podem ser invalidadas; - mais demorado, por ser aplicado a uma pessoa de cada vez; - insegurança das respostas, por falta do anonimato; - pessoas possuidoras de informações necessárias podem estar em localidades muito distantes, tornando a resposta difícil, demorada e dispendiosa. Fonte: http://www.lcsantos.pro.br/arquivos/Tecnicas_de_Coleta_de_Dados22022007-104857.pdf. Acesso em 27/02/2008. Pré-teste do formulário De igual modo ao questionário, recomenda-se o pré-teste, visando evitar possíveis falhas na redação, complexidade das questões, imprecisão na redação, desnecessidade das questões, constrangimentos ao informante, exaustão etc. 4 Entrevista - A entrevista constitui uma técnica alternativa para se coletar dados não documentados, sobre um determinado tema. Uma técnica de interação social, uma DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 76 forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca obter dados e a outra se apresenta como fonte de informação. As entrevistas podem ter o caráter exploratório ou ser de coleta de informações. Se de caráter exploratório é relativamente estruturada, a de coleta de informações é altamente estruturada. Tipos Pessoal/formal/estruturada Esquema de entrevista estruturada (padronizada) quando o entrevistador usa um esquema de questões sobre um determinado tema, a partir de um roteiro (pauta), previamente preparado. Entrevista semi-estruturada O pesquisador organiza um conjunto de questões sobre o tema que está sendo estudado, mas permite, e às vezes até incentiva, que o entrevistado fale livremente sobre assuntos que vão surgindo como desdobramentos do tema principal. Entrevista livre-narrativa/focalizada Também denominada não-diretiva; o entrevistado é solicitado a falar livremente a respeito do tema pesquisado. Entrevista orientada O entrevistador focaliza sua atenção sobre uma experiência dada e os seus efeitos - isto quer dizer que sabe por antecipação os tópicos ou informações que deseja obter com a entrevista. Entrevista em grupo Pequenos grupos de entrevistados respondem simultaneamente as questões, de maneira informal. As respostas são organizadas posteriormente pelo entrevistador, numa avaliação global. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 77 Sistemática/não-participante Também conhecida como observação passiva. O pesquisador não se integra ao grupo observado, permanecendo de fora. Presencia o fato, mas não participa dele, não se deixa envolver pelas situações, faz mais o papel de espectador. O procedimento tem caráter sistemático. É usada em pesquisas que requerem a descrição mais detalhada e precisa dos fenômenos ou teste de hipóteses. Na técnica de coleta de dados, presume-se que o pesquisador saiba exatamente quais informações são relevantes para atingir os objetivos propostos. Nesse sentido, antes de executar a observação sistemática, há necessidade de se elaborar um plano para a mesma. Quadro 7. Vantagens e desvantagens da observação sistemática/não-participante. VANTAGENS DESVANTAGENS - Possibilita a obtenção de elementos para a definição de problema de pesquisa; - Favorece a construção de hipóteses acerca do problema pesquisado; - Facilita a obtenção de dados sem produzir querelas ou suspeitas nos membros das comunidades, grupos ou instituições que estão sendo estudadas. - É canalizada pelos gostos e afeições do pesquisador. Muitas vezes sua atenção é desviada para o lado pitoresco, exótico ou raro do fenômeno; - O registro das observações depende, freqüentemente, da memória do investigador; - Dá ampla margem a interpretação subjetiva ou parcial do fenômeno estudado. Fonte: Adaptado de GIL, Antônio C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 1999. Participante O investigador participa até certo ponto como membro da comunidade ou população pesquisada. A idéia de sua incursão na população é ganhar a confiança do grupo, ser influenciado pelas características dos elementos do grupo e, ao mesmo tempo, conscientizar da importância da investigação. Foi introduzida nas ciências sociais pelos antropólogos no estudo das chamadas “sociedades primitivas”. A técnica de observação participante ocorre pelo contato direto do pesquisador com o fenômeno DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 80 observado. Obtém informações sobre a realidade dos atores sociais em seus próprios contextos Importância da técnica Captar uma variedade de situações ou fenômenos que não são obtidos por meio de perguntas. Fenômenos são observados diretamente na própria realidade. Transmite o que há de mais imponderável e evasivo na vida real. Quadro 8. Vantagens e desvantagens da observação participante. VANTAGENS DESVANTAGENS - facilita o rápido acesso a dados sobre situações habituais em que os membros da comunidade se encontram envolvidos; - acesso a dados que a comunidade ou grupo considera de domínio privado; - captar palavras de esclarecimento que acompanham o comportamento dos observados. - restrição causada pelos papéis que o pesquisador assume no grupo e comunidade; - pode ter uma observação restrita a um retrato da população estudada; - em população com estratificação social, o pesquisador pode ter difícil acesso a estratos diferentes do qual está identificado; - desconfiança da população ou grupo estudado, limitando a qualidade da observação. Fonte: Adaptado de GIL, Antônio C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 1999. Os fatos são percebidos diretamente, sem qualquer intermediação. Técnica mais empregada na etnografia. 4 Diário de campo/Notas de campo É um “diário de bordo” onde se anotam, dia após dia, com estilo telegráfico, os eventos da observação e a progressão da pesquisa (BEAUD, WEBER, 1998). DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 81 Polit e Hungler (1995) incluem a dimensão de cunho mais interpretativo das anotações, considerando que durante a observação de um fato, o pesquisador já poderia registrar algumas análises sobre o acontecimento. É o relato escrito daquilo que o investigador ouve, vê, experiencia e pensa no decurso da coleta de dados (BOGDAN, BIKLEN, 1994). Instrumento complexo que permite o detalhamento das informações, observações e reflexões sugeridas no decorrer da investigação ou momento observado (LOPES, 1993). É um tipo de abordagem metodológica observacional, utilizando-se a observação como instrumento de coleta de dados e registro em diário de campo. “Fotografia instantânea”. Não é neutro - leva a campo seus pré-conceitos, idéias e posições na elaboração da realidade. Como construir um diário de campo Descritivo: preocupação em captar imagens por palavras do local, pessoas, ações e conversas observadas (BOGDAN, BIKLEN, 1994): • retrato dos sujeitos • reconstrução dos diálogos • descrição do espaço físico • relatos de acontecimentos particulares • descrição de atividade • comportamento do observador • Reflexivo: é a parte que apreende mais o ponto de vista do observador, as suas idéias e preocupações. É a fase do registro mais subjetiva BOGDAN, BIKLEN, 1994): • sobre análise • sobre o método DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 82 organizamos e sistematizamos a coleta de informações. Para ser considerado um mecanismo adequado, confiável, o formato do instrumento precisa facilitar o registro eficiente das informações procuradas. Na coleta de dados é também necessário garantir a uniformidade de aplicação do instrumento de unidade de análise para outra, ou seja, de uma pessoa, de um grupo, de uma situação para outra. (Ver Richardson, Capítulo 11 – Confiabilidade e validade, p.174.). Isso significa que o instrumento de coleta (questionário, ficha de observação, roteiro de entrevista etc.) deve ser organizado de tal maneira que a forma de sua aplicação não altere a natureza dos dados registrados. Os itens e perguntas são padronizados em termos de seu formato. É importante construir instrumentos que coletem informações que correspondam à realidade pesquisada, ou seja, que os instrumentos sejam válidos, que produzam informações verdadeiras e válidas para o objetivo do estudo. Para Richardson (1999), um instrumento é valido quando mede o que deseja. DECISÃO IMPORTANTE: Resumir o que já foi dito ou ir a campo?18 Ao preparar o projeto de pesquisa, um dos tópicos que devem ser incluídos é a especificação dos procedimentos metodológicos planejados para realizar o estudo. Dentre as informações que devem constar deste item está a classificação da pesquisa quanto à coleta de dados. A confusão mais freqüente entre os pesquisadores iniciantes está relacionada justamente a isso. A grande maioria informa que vai realizar uma pesquisa do tipo bibliográfica. Se este for o tipo de pesquisa a ser realizado, significa que você vai produzir um ensaio teórico; vai ler algumas obras e, a partir disso, fazer uma síntese do pensamento dos autores consultados. A pesquisa bibliográfica utiliza, exclusivamente, a coleta de informações, conceitos e dados em livros. 18 DOXSEY J. R., DE RIZ, J. Metodologia da pesquisa científica. ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. 2002-2003. Apostila. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 85 O que é preciso ter claro é o seguinte: não se deve confundir a construção do quadro teórico ou referencial teórico com a pesquisa bibliográfica. Toda pesquisa tem algum tipo de referencial, que é uma revisão sistemática da literatura existente (obras, textos, artigos, informação de sites da Internet, dissertações, teses, monografias, relatórios técnicos, revistas cientificas, resenhos, cartas, documentos escritos etc., publicados ou não). Todo pesquisador precisa consultar livros, mas essa consulta aos livros, apenas, não caracteriza a pesquisa como bibliográfica. Mais uma vez: uma pesquisa bibliográfica é aquela em que os dados apresentados provêm apenas de livros. No entanto, você pode escolher um outro caminho para coletar os dados: a pesquisa de campo. Nela, segundo a definição de Gil (2007), “(...) o pesquisador realiza a maior parte do trabalho pessoalmente, pois é enfatizada a importância de o pesquisador ter tido, ele mesmo, uma experiência direta com a situação de estudo” (p. 53). Este “outro caminho” se trata de um estudo empírico, no qual o pesquisador sai a campo para conhecer determinada realidade, no interior da qual, usando os instrumentos e técnicas já especificados, coleta dados para sua pesquisa. O quadro a seguir mostra a complexidade de métodos de coleta de dados. A escolha de um método específico depende principalmente do objeto do estudo, mas o fator tempo e a necessidade para usar um ou vários métodos em conjunto influenciam a seleção. Pesquisadores iniciantes não precisam ter domínio ou conhecimento de todos os métodos apresentados no quadro, mas é importante saber da abrangência de possibilidades disponíveis. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 86 Quadro 04. Método de coleta de dados' A Pessoais MM la Oficiais a Particulares EE VE , A EEB ————» | Experimental Semi-experimental Instrumento exploratório gueto — EEN — Ds Clínico Roteiro de Entrevista, o 4 Adaptação da figura 6.1 contandriopoulos (et. Ali), 1997, p.73 A análise implica processamento de dados, através da geração (normalmente mediante o emprego de técnicas de cálculo matemático), apresentação (os dados pode lgo que pode ser convertido em números, pode ser conseguido por m ou outros símbolos são usados para classificar objetos, pessoas ou características de ambos ou identificar os grupo ino), classe sócio-econômica (alta, média e baixa), partido políti rótulo ou nome a um indivíduo ou objeto, pode-se classificar os dados em categorias de um ordenamento prees rente, discordo, discordo plenamente. m ser organizados em gráficos ou tabelas) e interpretação. A descrição das variáveis é imprescindível como um passo para a adequada interpretação dos resultados de uma investigação. Dependendo do objeto a ser estudado e suas características, um tipo de dado, aqui entendido como a eio de um processo de mensuração característico ou tradicional. Silva (2003) cita três tipos básicos com relação à natureza do processo de mensuração: I) Escala Nominal ou Classificadora (de nomear) Mensuração em um nível mais básico, quando números s a que vários objetos pertencem. A primeira organização de dados constitui em colocar características de indivíduos (ou de objetos) em categorias e contar a freqüência que ocorrem. Alguns tipos de dados nominais mais comuns em pesquisas são, por exemplo: sexo (masculino e femin co de preferência, orientação no tempo (presente, passado e futuro) etc. II) Escala Ordinal ou Escala por Postos (de ordem) Quando se que ultrapassar a simples atribuição de um tabelecido, por exemplo: • Ordenação do grau de concordância com uma assertiva: concordo plenamente, concordo, indife • Avaliação de um produto ou serviço: Muito insatisfeito, Relativamente insatisfeito, neutro, Relativamente satisfeito e Muito satisfeito. • Classificação de alunos: 1º, 2º, 3º, ......30º. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 90 O e ordenação, mas não indica a magn I) Escala Intervalar (de intervalos) uando a escala tem todas as características de uma escala ordinal e, além disso, se c ma) Pod o lise dos dados em análise univariada, bivar er submetidos a testes estat ção de números sempre pode Quadro 10. Tipo de mensuração x possíveis testes apropriados. nív l ordinal fornece informações sobre a itude das diferenças entre os valores, por exemplo, quando classificamos alunos de uma turma, sabemos que o 1º apresentou melhor desempenho em um teste, por exemplo, mas não podemos inferir se ele sabe mais que o 2º, ou mais que o 3º etc. Só podemos falar que ele foi classificado em primeiro lugar. II Q onhecem as distâncias entre dois números quaisquer da escala (unidade de medida) e o zero da escala de medida existe por convenção, por exemplo: • Temperatura (Celsius, Fahrenheit) • Altura (metro, centímetro, pés) • Peso (tonelada, quilograma, gra em s, de forma simplificada, tratar a aná iada e multivariada. Utilizamos a análise univariada para estudarmos a distribuição de apenas uma variável, a análise bivariada quando trabalhamos com duas variáveis e a análise multivariada para os casos de mais de duas variáveis. Para que esses dados sejam considerados válidos, devem s ísticos, que não serão aqui abordados por se tratar de matéria complexa e bastante explorados nos manuais de estatística. No entanto, é importante frisar que, não podemos tratar qualquer tipo de mensuração com os mesmos testes ou métodos estatísticos, deve-se atentar que há metodologias específicas. É claro que o tratamento matemático de qualquer cole ser processado ou submetido a uma fórmula, mas se ela não tiver sentido de validade ou relação causal, não pode ser considerada, pois o resultado, apesar de existir, não tem qualquer relação com o objeto de conhecimento. O quadro10 apresenta uma síntese dos métodos e técnicas adequados para cada tipo de mensuração. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 91 Escala Re ados lações Definidoras Testes Estatísticos Adequ Nominal Equivalência Número ontingência (Qui-quadrado). xato de Fisher. an Q. ncia. de casos. Percentagens. Moda. Correlações de c Teste e Freqüência. Teste binomial. Mcnemar, Cochr Coeficiente de contingê Ordinal Equivalência Perce rtis. rtílico. ostos. mirnov. hitney. Maior do que Todos os anteriores e mais: rs de Spearmam. τ de Kendal. W de Kendall. Mediana. ntis. Decis, qua Desvio qua Correlação de p Teste de sinais. Teste de Kolmogorov-S Teste U, Mann-W Teste de Kruskal Wallis. Intervalar Equivalência ida de dois intervalos is: adrão. . amplitude média. Maior do que Razão conhec quaisquer Todos os anteriores e ma Média. Desvio-p Média aritmética Desvio padrão, variância. Desvio médio. Intervalo, Amplitude total, Correlação de produto-momento teste-t, teste-F, teste-Z. Fonte: Adaptado de SILVA, D. Tópicos avan na Pesquisa em Administração de Análise do material qualitativo Para analisar, compreender e interpretar um material qualitativo se faz necessário supe çados de estatística Empresas. Notas de aula, 2003. rar a tendência ingênua de que a interpretação dos dados será mostrada espontaneamente ao pesquisador; é preciso penetrar nos significados que os atores sociais compartilham na vivência de sua realidade. Dessa forma, serão apresentadas duas possibilidades teóricas e práticas de análise do material qualitativo, por meio da Análise de conteúdo e Análise de Discurso. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 92 menor algum grau de polissemia, discurso autoritário totalmente assimétrico e poucas interpretações polissêmicas. Caráter recalcado da matriz do sentido – adotando a linha da psicanálise, a fala é marcada por dois níveis: (1) designa o que não é conhecido do sujeito pesquisado, na zona do inconsciente; (2) ocultação parcial, pré- consciente/consciente em relação a sua fala. Os procedimentos de análise segundo Orlandi (1987) são divididos em quatro: (1) em primeiro lugar procede ao estudo das palavras do texto, separa-se os adjetivos, substantivos, verbos e advérbios; (2) realiza a construção das frases; (3) constrói uma rede semântica que evidência uma dinâmica intermediária entre o social e a gramática; (4) por fim elabora a análise, considerando a produção social do texto como constitutiva de seu próprio sentido. Quadro 11. Comparação entre o método análise de conteúdo e análise de discurso. ANÁLISE DE CONTEÚDO ANÁLISE DO DISCURSO A Interpretação da análise de conteúdo poderá ser tanto quantitativa quanto qualitativa. A interpretação poderá ser somente qualitativa. Trabalha com o conteúdo, espera compreender o pensamento do sujeito através do conteúdo expresso no texto. Trabalha com o sentido (que o sujeito manifesta no seu discurso) e não com o conteúdo. Transparência da linguagem Linguagem não é transparente, mas opaca. É visado no texto justamente uma série de significações que o codificador detecta por meio de indicadores que lhe estão ligados O analista fará uma leitura do texto enfocando a posição discursiva do sujeito, legitimada socialmente pela união social, da história e da ideologia, produzindo sentidos. Fonte: Adaptado de Caregnato e Mutti (2006). DICA! Como realizar descrição dos dados A descrição dos dados obtidos na pesquisa é feita geralmente para atender aos objetivos do estudo (GIL, 1999). DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 95 - Aspectos éticos: Segundo Goldim, 2001 (disponível em http://www.ufrgs.br/bioetica/projeto.htm), os aspectos éticos fundamentais neste item é a caracterização de que não haverá discriminação na seleção dos indivíduos nem a exposição a riscos desnecessários aos indivíduos. Quando forem pesquisados grupos de pessoas em estados ou condições especiais devem merecer cuidados diferenciados, tais como: gestantes, crianças e adolescentes, doentes mentais, prisioneiros, estudantes, militares, empregados de instituições de saúde, e membros de comunidades menos desenvolvidas. Segundo o autor, devem ser esclarecidos os aspectos éticos relativos ao projeto no item Método. Os essenciais são a adequada avaliação da relação risco-benefício, a obtenção do consentimento informado e a garantia da preservação da privacidade. A avaliação da relação risco-benefício deve ser feita utilizando dados internacionais e locais. Quando houver a utilização de grupos comparativos deve ser avaliada a existência de eqüipolência entre as diferentes intervenções. A forma de obtenção do Consentimento Informado deve ser descrita e o modelo do Termo de Consentimento que será utilizado deve ser anexado ao projeto. O autores também devem dar garantias de preservação dos dados, da confidencialidade e do anonimato dos indivíduos pesquisados. Quando o projeto utilizar dados secundários, como por exemplo, dados de prontuários de pacientes ou de bases de dados, os pesquisadores devem se comprometer formalmente com a garantia da privacidade destas informações. SAIBA MAIS: Consulte o documento do Ministério da Saúde sobre Normas para Pesquisa Envolvendo Seres Humanos no pdf a seguir (Ética em Pesquisa - Resol196.pdf). DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 96 3.2.5 Bibliografia: A bibliografia citada e/ou consultada deve ter suas referências ao final do projeto, de acordo com as normas oficiais (ABNT 2007 - Monografia.pdf). Mais detalhes sobre a bibliografia e a pesquisa bibliográfica serão abordados no Módulo IV. 3.2.6 Cronograma: exposição da distribuição, no tempo, normalmente considerado por meses, das etapas, na realização da pesquisa, que forem posteriores à redação do projeto; assume com freqüência a forma de um quadro ou tabela, por exemplo, pondo-se nas linhas as atividades que serão desempenhadas e nas colunas os meses em que serão levadas a cabo, podendo-se marcar com um X cada um dos meses pertinentes a cada atividade. SAIBA MAIS: Veja o capítulo 15 de GIL, A.C., 2007, para ter maiores detalhes sobre a elaboração de um cronograma do projeto de pesquisa. 3.2.7 Orçamento: estimativa dos gastos com a pesquisa, considerando os custos referentes a cada etapa da pesquisa, segundo itens de despesa (custos de pessoal, custos de material, etc.). SAIBA MAIS: Veja o capítulo 15 de GIL, A.C., 2007, para ter maiores detalhes sobre a elaboração de um orçamento do projeto de pesquisa. DERAD05 - Métodos de Pesquisa Página 97
Docsity logo



Copyright © 2024 Ladybird Srl - Via Leonardo da Vinci 16, 10126, Torino, Italy - VAT 10816460017 - All rights reserved