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Guias e Dicas
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resumos rea, Resumos de Enfermagem

rea , resumo

Tipologia: Resumos

2017

Compartilhado em 19/05/2017

bruna-santos-1x9
bruna-santos-1x9 🇧🇷

4.4

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Baixe resumos rea e outras Resumos em PDF para Enfermagem, somente na Docsity! L I V R O D E R E S U M O S M E S A S R E D O N D A S 5 MESAS REDONDAS M E S A S R E D O N D A S 7 Esta mesa redonda pretende desenvolver questões relacionadas aos paradigmas natureza e cultura enfatizando o discurso político das comuni- dades étnicas. Pretende prioritariamente discutir a relação que envolve as diversas concepções de natureza e suas dimensões na produção da cultura com p recorte da etnicidade. O entendimento sobre as questões dos recur- sos ambientais, notadamente relacionados aos aspectos da natureza orien- ta o caminho das expectativas das comunidades étnicas com relação ao seu desenvolvimento social e econômico. A “mãe natureza”, a “mãe ter- ra” torna-se o eixo norteador nas principais reivindicações dessas comuni- dades. As diversas dimensões da terra e a transformação de um território buscam a uma análise mais ampla sobre a relação com a natureza e os processo de identidade étnica nos diversos momentos históricos. Uma análise da relação natureza e cultura entre os índios possibilitam hoje ter uma visão das possibilidades de futuro nas relações interétnicas que se formam a partir de processos de territorialização. Como as dimensões da natureza são construídas no discurso políticos das comunidades étnicas e sua relação com o estado e nos processo de busca de autonomia de políti- cas locais de desenvolvimento. As interfaces das intervenções: Renato Athias (Coordenação) Na moderação do debate se procurará direcionar a uma discussão sobre as noções de cultura e Natureza que é parte importante do conflito político onde se situam e são elaboradas as identidades indígenas e negras no Nordeste. Em outras palavras, se trata situar as idéias de Cultura e Nature- za nos diversos contextos sociais e como estas relacionam e com os pro- cesso identitários. Vânia Fialho - Universidade de Pernambuco A apresentação será a partir das experiências de elaboração laudos antro- pológicos em áreas indígenas e quilombolas com a finalidade de regulari- zação fundiárias. Serão apresentados os modelos de produção de cultura e a discussão sobre a idéia de natureza e ambiente entre os índios e negros o nordeste. Coordenador: Renato Athias (NEPE/UFPE) renato.athias@gmail.com Participantes: Vânia Fialho - UPE Edmundo Pereira - UFRN Mércia Batista - UFCG MESA 1 NATUREZA, TERRITORIALIZAÇÃO E ETNICIDADE M E S A S R E D O N D A S 10 A mesa tem por objetivo reunir pesquisadores com estudos voltados aos fenômenos da política a partir de um ângulo próprio ao campo da Antropo- logia para discutir algumas das contribuições trazidas pela Antropologia da Política. A idéia central é estruturar os debates em torno de dois eixos: um deles mais centrado em discussões sobre as redefinições das próprias Ciên- cias Sociais em relação a seus objetos e, em especial, à renovação dos estu- dos da política proporcionada pela Antropologia e as novas e perspectivas de investigação abertas; e um segundo eixo, mais específico, dedicado às possibilidades de exploração dos recursos conceituais e metodológicos en- gendrados por essa área temática, a partir da apresentação de estudos empíricos recentes. Sobre vivos e mortos: estado e teoria antropológica na África do Sul contemporânea Antonádia Monteiro Borges A recusa de nossos anfitriões aos nossos enquadramentos é sempre um convite à transformação e expansão dos conceitos antropológicos. Na Áfri- ca do Sul contemporânea, a Antropologia da Política aprende com outras teorias que admitem a relação do Estado com vivos e com mortos, com espíritos e com coisas. O desafio teórico de pensarmos um Estado que go- verna e, por vezes, é também governado pelos mortos afasta-se sobremaneira das teorias que apregoavam ou (i) a inexistência do Estado nesses lugares, ou que (ii) interpretavam a atuação política desses grupos como formas transmutadas de outros tipos de socialidade - como parentesco, como magia ou como religião, por exemplo. Essa definição a priori de um Estado laico tornou-nos incapazes de enxergar os espíritos agindo, atuando sobre as pes- soas e sobre próprio Estado. Essa lição, que se aplica tanto no Brasil como fora daqui, servirá de ponto de partida para fazer desta comunicação uma reflexão sobre as relações entre trabalho de campo, comparação e produção de conhecimento antropológico a respeito da vida política daqueles que nos recebem em nossas pesquisas. Coordenador: Ernesto Seidl (UFS) eseidl@terra.com.br Participantes: Marcos O. Bezerra (UFF/CNPq) Antonádia M. Borges (UnB) Igor G. Grill (UFMA) MESA 3 ANTROPOLOGIA DA POLÍTICA: CAMPO EM EXPANSÃO M E S A S R E D O N D A S 11 Um olhar antropológico sobre a política e a corrupção. Marcos Otavio Bezerra As divulgações recentes de investigações sobre irregularidades na administração pública têm alimentado o sentimento de descrédito e desconfiança em relação à política e aos políticos. Tendo esta conjuntura como referência, proponho nesta intervenção retomar a perspectiva que considera o fenômeno da corrupção como porta de entrada para a análise de uma das dimensões efetivas do funcionamento do Estado e da política, isto é, aquela que se distancia das normas e formulações oficiais. A idéia é explorar como este fenômeno pode tornar- se terreno fértil de estudo, uma via para se pensar questões como a definição de moralidades públicas, as exigências próprias do exercício do poder e modalidades de interação com o poder público. Herança e memória na política: parentesco, redes e partidos. Igor Gastal Grill A exposição apresentará reflexões que resultam de pesquisas empíricas concernentes à seleção e ao recrutamen- to das elites políticas no Rio Grande do Sul e no Maranhão. Serão analisadas as bases sociais e as estratégias em pauta na ativação do passado como recurso de “luta política”, assim como as invenções de “genealogias” a cargo de “famílias de políticos” e de protagonistas ligados por laços pessoais. Relações pessoais e carreiras institucionais militares e rel igiosas. Ernesto Seidl A comunicação terá por base discussões oriundas de pesquisas dedicadas ao exame do recrutamento e seleção de elites da Igreja e do Exército. O foco central repousará nas condições de realização de carreiras institucionais bem sucedidas e o peso do uso de recursos sociais oriundo de relações pessoais, acumulados e mobilizados de diversos modos, pelo grupo familiar, através de relações de amizade, compadrio, patronagem, clientelismo, entre outros. As modalidades e estratégias de acionamento desses recursos são apreendidas através do exame de trajetórias sociais e profissionais de militares e religiosos consagrados em suas respectivas esferas de atuação. M E S A S R E D O N D A S 12 Essa mesa redonda tem como objetivo refletir sobre questões diretamente associadas à regularização de terras de quilombo. Mais particularmente, a atividade buscará tanto convergir como comparar idéias e posições de antropólogos e agentes institucionais envolvidos com as atuais políticas públicas de territorialização quilombola, ainda que resguardando, ao mes- mo tempo, seus diferentes pontos de vista e o alcance específico de suas práticas institucionais e profissionais. Considerando a posição já estabelecida, em termos normativos, do antropólogo nos processos de re- gularização das terras de quilombo, sua produção especializada baseia-se em critérios de autoridade intelectual, cujo alcance e autonomia estão referidos aos limites de suas atribuições, das expectativas que estão em jogo no processo de situação etnográfica bem como da configuração polí- tica que transcorre ao longo de todo processo de regularização. Deve-se considerar a heterogeneidade atual de posições e experiências de pesqui- sadores (antropólogos docentes de IES, antropólogos vinculados ao INCRA, pesquisadores autônomos, etc) no caso da grande variedade de demandas sociais de regularização das terras de quilombo, incluindo as que vêm sendo realizadas ultimamente em áreas urbanas brasileiras. Do mesmo modo, o tema da (re)construção identitária étnico-racial se impõe através dessas demandas sociais e consiste em um dos nódulos da política de identidades que se manifesta ao longo de todo o processo de regularização fundiária. Além disso, a necessidade de articulação do trabalho do antro- pólogo em equipes governamentais não impede a existência de tensões, descompassos e impasses entre todos os agentes envolvidos, o que enseja uma maior atenção acadêmica e institucional. “O INCRA e a polít ica de regularização de territórios quilombolas: desafios e perspectivas” Rui Leandro da Silva Santos (Coordenador Geral de Regularização de Territórios Quilombolas, INCRA; Mes- tre em Antropologia Social, UFRGS). Apresentação das linhas gerais da política pública de regularização de terra de quilombo, considerando a atuação da agência governamental e do profissional em Antropologia na execução dessa política. Coordenador: Carlos Guilherme Octaviano do Valle (UFRN) cgvalle@gmail.com. MESA 4 REGULARIZANDO TERRAS DE QUILOMBO: CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES, CONHECIMENTOS AUTORIZADOS E POLÍTICAS PÚBLICAS M E S A S R E D O N D A S 15 to oficial de uma série de povos. Neste contexto, determinados grupos indígenas do sertão pernambucano investiram na retomada de práticas culturais tidas como “tradicionais”, como as danças e o artesanato. Esta produção cultural contemporânea, expressa por meio das indumentárias e dos objetos rituais concorreu para a configuração de uma ‘imagem índia’ a ser apresentada para a sociedade nacional. Neste mesmo movimento, se constituiu um extenso repertório de itens materiais e de práticas que se consagraram como elementos atestatórios da indianidade e contribuiu grandemente para o estabelecimento de um patrimônio cultural nativo. Este proces- so ensejou ainda a construção, afirmação e difusão de um sistema de objetos que tem colocado em xeque alguns pressupostos museológicos tradicionais e as formas mais usuais de se conceber as exposições e os museus etnográficos. Antiquidades, segredos e bandeiras: Dilemas atuais para os museus e os movimentos étnicos João Pacheco de Oliveira (Museu Nacional/UFRJ e DIPES/FUNDAJ) Os museus tem tido um papel importante nos processos de formação nacional e de construção de identidades étnicas, re-elaborando imagens e representações com ampla repercussão social, em geral revestidas de uma elevada aceitação e legitimidade. Para as coletividades portadoras de culturas que não apresentam fortes e conhecidos sinais diacríticos, os museus revestem-se igualmente de enorme interesse, ao mesmo tempo que trazem muito medo e desconfiança. As formas de vida e pensamento de cada uma dessas coletividades implica em viva e intensa troca com outras tradições culturais (indígenas, européias, afro-brasileiras, etc), não vindo a configurar estruturas rígidas, homogê- neas, excludentes e auto-reprodutivas. Os ideais culturais, embora remetidos ao passado, não são unicamente consubstanciados no cotidiano atual das aldeias, nem resultam de exercícios mecânicos. A comunicação irá basear-se no processo de pesquisa e formação de coleções sobre os índios do nordeste destinada à exposição Os Primeiros Brasileiros (Recife, 2006), procurando apresentar as imagens e concepções pelas quais uma extensa rede de atores sociais (museólogos, historiadores, antropólogos, indigenistas e líderes indígenas) engendra dou- trinas distintas (em certos aspectos antagônicas) para explicar o processo de criação de culturas por essas coleti- vidades. Tradições de arte em mudança em exposição Nelson Graburn Universidade da Califórnia em Berkeley (UCB) P. A. Hearst Museum of Anthropology Não se pode esperar que tradições de artes de povos étnicos minoritários tenham permanecido imutáveis através dos séculos. De fato, muitos povos perderam ou mudaram suas tradições materiais e recentemente muitos têm renovado seu patrimônio cultural através de revitalização étnica e do estímulo de demandas turísticas. Exposi- ções devem, portanto, traçar e contextualizar as mudanças na cultura material, enfatizando agência e criatividade local. Velhos objetos podem ser mostrados (com exemplos materiais ou imagens) ao lado de modernos, ilustran- do continuidades ou mudanças. Se possível, a lembrança das populações sobre essas mudanças deveria ser incluída no texto e na exposição narrativa. Exemplos serão esboçados a partir de uma exibição proposta das coleções do Alaska do Phoebe Hearst Museum of Anthropology in Berkeley. M E S A S R E D O N D A S 16 Campos emergentes de estudo revelam deslocamentos produzidos nos substratos de sua própria formação. Em estudos de performance desenvol- vidos nas ciências sociais, as categorias do drama e ritual surgem em tais substratos. Nesta proposta de MR pretende-se discutir o campo da performance nas ciências sociais tendo-se em vista as relações entre performance, drama e ritual. Duas questões e suas respectivas premissas merecem destaque. Em primei- ro lugar, chama atenção o descentramento desse universo de estudos. O conceito de performance adquire formas variadas, cambiantes e híbridas. Há algo de não resolvido neste conceito que resiste às tentativas de defini- ções conclusivas ou delimitações disciplinares. O que dizer da variedade de abordagens, recortes e composições conceituais do campo? A segunda questão surge como um desdobramento da primeira. Em se tratando de uma espécie de campo liminar – inter(e anti)-disciplinar – estudos de performance espelham a própria experiência do mundo con- temporâneo. A fragmentação das relações. O ‘inacabamento’ das coisas. A dificuldade de significar o mundo. Seria o campo da performance, onde se espelha a fragmentação do mundo contemporâneo, também uma expres- são da busca de significado? O que dizer desse empreendimento? O objetivo desta proposta de mesa redonda é propiciar uma oportunidade para reflexão sobre um campo (ainda) emergente nas ciências sociais, com destaque às relações entre performance, drama e ritual. Propõe-se um diálogo entre pesquisadores que se inspiram nos trabalhos de Victor Turner, Richard Schechner, Erving Goffman, Dell Hymes, Richard Bauman, e Judith Butler, entre outros, para fins de explorar o caráter descentrado do campo e o modo como nele se espelha a experiência contemporânea. Dessa forma, procura-se dar continuidade às discussões que vem ganhan- do destaque no cenário brasileiro desde os anos de 1990 e, mais recente- mente, em uma série de GTs e Mesas Redondas nos principais fóruns do país: ABANNE, 2003; ABRACE 2003 e 2005, ABA, 2004, 2006; e ANPOCS, 2005, 2006. Relevância da proposta. “Performance” entrou como um campo importante no cenário internaci- onal há várias décadas (Bateson, Bauman, Geertz, Goffman, Schnecher, Singer, Tambiah, Turner, etc). No Brasil, os estudos de performance na antropologia cresceram significativamente a partir do início da década de 90, impulsionados em grande parte pelo retorno de pesquisadores de seus Coordenador Rubens Alves da Silva (UNIP/Brasíl ia) rrubensil@hotmail.com Participantes Esther Jean Matteson Langdon (UFSC) João Gabriel Lima Cruz Teixeira (UnB) John Cowart Dawsey (USP) MESA 6 PERFORMANCE, DRAMA E RITUAL – A FORMAÇÃO DE UM CAMPO E A EXPERIÊNCIA CONTEMPORÂNEA. M E S A S R E D O N D A S 17 estágios de formação no exterior. Um reflexo deste crescimento está no surgimento de núcleos de pesquisa em universidades e na freqüência com que grupos de trabalho voltados para a discussão da relação entre rito, performance, arte, identidade, política e sociedade têm se formado em congressos, tendo todos como caracterís- tica a interdisciplinaridade . Apesar de recorrente, entretanto, a noção de performance tem sido usada com diferentes significados. Para que seja possível um avanço epistemológico e a conseqüente consolidação dos estudos nesta área, observou-se a necessidade de implementação de uma discussão que considere os distintos marcos teórico-metodológicos que estão orientando suas respectivas pesquisas, no sentido de estabelecer uma maior clareza na conceituação da performance. A importância do tema atual é verificada pelo número crescente de núcleos de pesquisa formados no campo. Só na antropologia, há núcleos consolidados na Universidade de Brasília, Unversidade Federal de Rio de Janeiro, Universidade Federal da Bahia, UNICAMP, e Universidade de São Paulo. Em outras universidades, pesquisado- res vêm pesquisando sobre o tema, consolidando seus grupos. Outra indicador da importância do campo é o número de GT’s realizados em conferências nacionais e regionais nos últimos cinco anos. Podemos citar a realização dos GT’s na últimas Reuniões da ABANNE, RBA, RAM e ANPOCS. Um dos componentes da Mesa está realizando uma pesquisa com apoio de CNPq para investigar as diferentes abordagens teórico-metodológicas da noção de performance nos estudos antropológicos brasileiros. Além de apontar a variedade de conceitos sendo utilizados neste campo interdisciplinar, a pesquisa indica que há ainda uma necessidade de um dialogo teórico e analítico. Em geral os Grupos de Trabalho tem sido mais caracteriza- dos por apresentações de estudos de caso sem maiores discussões sobre os conceitos e métodos de análise. Assim, os conceitos de “performativo” e “performance” têm especificidades variadas, dependendo do pesquisa- dor e como os emprega. A proposta da mesa visa, sobretudo, dar continuidade e aprofundar o debate já iniciado sobre as perspectivas teórico-metodológicas que embasam as pesquisas brasileiras sobre performance. Para tanto, foram convidados para esta MR três pesquisadores, dois pioneiros na introdução da perspectiva da performance nas ciências sociais brasileira, e um terceiro que mais recentemente se destaca como referência importante da teoria da performance no Brasil. Algumas das principais abordagens na área são: performance ritual, festas, danças, música e arte indígena (Amaral, 1998; Müller, 2000; Calvacante 1999; Silva, 2005); performance e oralidade (Langdon, 1996; 1999; Lima, 2003; Hartmann, 2000); performance e teatro (Dawsey, 1997; Teixeira, 1996; Bião, 1996); performance, política e identidade étnica (Peraino, 2001). M E S A S R E D O N D A S 20 Nesta mesa discute as experiências de inserção do ensino de antropologia em quatro contextos estaduais diferentes no Norte e no Nordeste com o objetivo de subsidiar uma discussão sobre as perspectivas atuais deste ensi- no. Na atualidade o emprego de conhecimento antropológico continua em expansão e diversificação e encontra novas perspectivas para os con- textos em que é ensinada. De acordo com a diversidade de experiências locais , ressaltam-se questões envolvendo as transformações históricas da inserção do ensino da antropologia nos cenários estaduais, o ensino de antropologia nos contextos acadêmicos, o ensino e capacitação antropoló- gicos em contextos extra-acadêmicos, emprego da antropologia em movi- mentos e programas governamentais e não governamentais, a antropolo- gia no ensino médio, a antropologia no ensino público e privado, e a importância de intercambios e vínculos extra-regionais na qualidade e abrangência do ensino. A discussão centra nas perspectivas que estas condições traçam para a promoção atual do ensino de antropologia no Norte e no Nordeste. Coordenação: Parry Scott (UFPE) scott@hotlink.com.br Apresentações: Carlos Caroso (UFBA) Luciana Chianca (UFRN) Heraldo Maués (UFPA) Parry Scott (UFPE) Debate: Lea Freitas Perez, Coordenação da Comissão de Ensino da ABA e UFMG MESA 8 ENSINO DE ANTROPOLOGIA NO NORTE E NO NORDESTE: RAÍZES, CONTEXTOS E PERSPECTIVAS. M E S A S R E D O N D A S 21 Antropólogos e sociólogos atentos às dimensões simbólicas e míticas da vida social, têm elaborado teorias e métodos capazes de identificar dinâ- micas subjacentes à vivência cotidiana. È o caso, por exemplo, de Gilbert Durand que vai propor a noção de “Trajeto antropológico”, ou de Michel Maffesoli que vai elaborar a de “centralidade subterrânea”. Esta Mesa pro- põe elaborar um painel destas dinâmicas levando em consideração: os diálogos estabelecidos entre diversas entidades míticas, a criação artísti- ca, as diversas formas de espiritualidade em ação no Norte/Nordeste do Brasil. O “Projeto Cultura em Movimento - Secult Itinerante (2005- 2006): 1001 histórias recolhidas no Ceará adentro e afora, pela Secretaria da Cultura do Ceará. Cláudia Leitão Centro de Estudos Sociais Aplicados da Universidade Estadual do Ceará Todos nós ouvimos histórias, todos nós teríamos histórias para contar. A narrativa constitui vocação primordial do homem, simbolizando sua astú- cia de redesenhar o mundo, refazendo-o ao sabor dos seus sonhos e dese- jos mais recônditos. Ao descrevermos fatos ou episódios, iluminamos o vivido com as cores da imaginação. Quando definimos os caminhos de nossas narrativas nós o fazemos a partir das estruturas do imaginário. Através do “Projeto Cultura em Movimento: Secult Itinerante”, a Secreta- ria da Cultura do Ceará, durante dois anos, atravessou sertões, serras e praias, ouvindo e registrando relatos maravilhosos, capazes de nos fazer mergulhar em nossas origens, de nos fazer beber em nossas fontes primor- diais, revisitando nossas ancestralidades. No chão batido dos terreiros, nas calçadas das pequenas cidades, nas feiras, bodegas, das selas dos cava- los, o tempo foi “paralisado” a serviço dos contadores de histórias. Todo povo tem suas “Mil e uma Noites”, afirma a escritora Ana Miranda. Tal qual as noites de Sheerazade com o rei Shahryar, nossas 1001 histórias recompõem mitos, reinventam e reencantam o mundo, ora com argúcia, ora com crueldade, ora com doçura os grandes traços de nossa humanida- de. Essa artesania da comunicação, segundo Walter Benjamin, é marca maior do narrador, que dá sua forma à dor, à morte, aos medos e anseios, à vontade de Deus, à eternidade. Coordenação: Danielle Perin Rocha Pitta (UFPE) Participantes: Arneide Cemin (UNIR) Rosalira Oliveira (FUNDAJ) Cláudia Leitão (CE) Ruy Póvoas (UESC – BA) MESA 9 PROCESSOS QUE DINAMIZAM O MUNDO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE O BRASIL PÓS- MODERNO E SUAS DINÂMICAS M E S A S R E D O N D A S 22 Ouvindo uma Terra que fala: dimensões espirituais da ecologia ou dimensões ecológicas da espiritualidade. Rosalira dos Santos Drª em Antropologia. Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco A crise ambiental é também uma crise espiritual e de valores que desafia nosso modelo de civilização. O debate ecológico coloca em discussão nossa concepção do mundo, de nós mesmos, e, sobretudo, nossa relação com a natureza. Para responder criativamente a essas questões, é necessária a reconstrução de um pensamento ético que não separe o ser humano dos outros seres e que incorpore a dimensão de uma Ordem superior ao homem, de acordo com a qual todos os seres vivos devam ser respeitados. Essa ética vem sendo delineada, através das reflexões de alguns intelectuais e também da atuação de determinados movimentos sociais. Dentre estes destaca- mos o Neopaganismo, um movimento religioso no qual a vinculação espiritual com a Terra constitui o cerne da vivencia espiritual. Essa ressacralização da Terra constitui, a meu ver, um elemento central de enfrentamento da crise ecológica. Afinal, a repressão ocidental aos pensamentos religiosos que consideram a natureza como sagrada foi um passo fundamental para o desenvolvimento da sociedade urbano-industrial. É exatamente esse modelo de sociedade que começa a ser posto em evidência e questionado por diferentes atores sociais, dentre os quais as diferentes tradições religiosas que se agrupam sob o termo Neopaganismo. Do Engenho de Santana ao Ilê Axé Ijexá:trajeto de um terreiro Ruy do Carmo Póvoas A cidade de Ilhéus, na Bahia, tem quase a idade do Brasil. Ali se localizou um dos mais antigos engenhos de açúcar que se tem notícia, o Engenho de Santana, que se tornou conhecido de um restrito público especializado em História. Uma negra escrava que viveu naquele engenho passou sem ser notada pelos historiadores. Trata-se de Mejigã, que no Brasil foi batizada com o nome de Inês Maria. Oriunda da cidade de Ilexá, onde tinha sido sacerdotisa de Oxum, Mejigã iniciou uma luta subterrânea para que a religião de seu povo sobrevivesse em Ilhéus. Muitas décadas depois, em Itabuna, seus descendentes fundaram um terreiro de nação ijexá. Disso resultou um novo olhar na Região Sul da Bahia sobre a religião do candomblé e as relações de seus adeptos com a sociedade mais ampla. Sexo, poder e violência homicida contra a mulher na Amazônia: práticas, imaginários e políticas públicas de Desenvolvimento e Direitos Humanos. Arneide Bandeira Cemin Departamento de Sociologia e Filosofia, curso de Ciências Sociais e do Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) Pesquisadora do Centro de Estudos do Imaginário Social (CEI/UNIR) Relações sociais violentas e redes de dominação. Enfocando a violência como questão social mundial, Tavares dos Santos (2002), esclarece que ela diz respeito aos aspectos macros e externos, mas também aos micro-proces- sos internos que reorganizam a vida cotidiana. Argumenta que o fundamento da violência encontra-se inscrita em nossas formas de racionalidade e define a violência como procedimento racional arbitrário, exercício de relações sociais de violência, configurando redes de dominação que fundamentam relações baseadas no uso de força e coerção que causam dano ao outro. Sexo e família em contextos de “cidadania dilacerada”. Propõe a noção de cidadania dilacerada como modo de evocação das rupturas provocadas pelos diversos dispositivos produtores de violência e que se considere a violência como fenômeno cultural e histórico que se exerce física e simbolicamente, requerendo conhecimento sobre o imaginário social: conteúdo simbólico que fundamenta e sustenta as relações sociais (Maffesoli:1987). Entre estas relações queremos destacar as relações de contrato sexual e conjugal cujo desfecho é o homicídio, procurando perceber os padrões e as dinâmicas cotidianas da violência visando subsídios para políticas públicas de Desenvolvimento e Direitos Humanos. M E S A S R E D O N D A S 25 Pretende-se trazer ao debate acadêmico a realidade das duas últimas décadas de relações entre povos Indígenas e Estado e sociedade civil no Brasil: as autonomias Indígenas e seus protagonistas, os povos e organizações Indígenas brasileiros. Se para o órgão indigenista federal ‘autonomia Indígena’ é um estado de coisas que não existe (e que talvez exista no futuro, por graciosa concessão do Estado), para os povos Indígenas brasileiros as autonomias Indí- genas – entendidas como as formas contemporâneas de relacionamento com estado e sociedade civil, pautadas pelo protagonismo Indígena por meio da utilização de uma ‘linguagem de direitos’ como meio por excelência de interlocução com a sociedade englobante - são uma realidade presente em seu cotidiano nas duas últimas décadas. O debate centra - se nas formas de medi- ação do estado em vários diferentes países, contanto com profissinais Indíge- nas e acadêmicos, em busca de uma reflexão crítica centrada na prática Indí- gena contemporânea. Autonomias Indígenas contemporâneas e estados nacionais: ações e reações Prof. Dr. Luis Eugenio Campos Muñoz Busca-se discutir, a partir de diferentes exemplos (Mixtecos do México; Mapuche do Chile) as formas contemporâneas de relacionamento entre povos Indígenas e estados nacionais na América Latina, com particular atenção para aspectos relativos à formação de consciências étnicas e sua relação com as respectivas formas de representação das consciências nacio- nais, bem como para com o caráter da reação do estado frente às autonomi- as Indígenas. Busca ainda analisar aspectos distintivos das distintas Indianidades do continente, em particular seu caráter estético e sua eficácia simbólica e política. Mediação jurídica e autonomias indígenas na América do Norte Patricia Christine Aqiimuk Paul , J.D A partir da experiência de advogada e juíza indígena no estado de Wa- shington, e de uma identidade esquimó de Alaska por parte da mãe a partir de uma longa experiência como advogada indígena e juiza indígena, examina-se as formas de mediação jurídica em relações intercomunitárias, intracomunitárias e com instâncias do Estado nos EUA. O trabalho com- Coordenador: Dr. Adolfo de Oliveira (Grupo de Pesquisa ‘Questão Social e Assistência Social no Amazonas’, UFAM) - joaodasilva99@gmail.com MESA 11 AUTONOMIAS INDÍGENAS CONTEMPORÂNEAS: DEBATES INTERCULTURAIS M E S A S R E D O N D A S 26 para situações indígenas na América do Norte e América do Sul. Autonomias indígenas no Alto Rio Negro e a mediação do PDPI: Estado e povos Indígenas na Amazônia Gersem Baniwa (doutorando do PPGAS, DAN, UnB) Apresenta o papel das autonomias indígenas a partir da experiência de secretário de educação de São Gabriel da Cachoeira e coordenador do PDPI, examinando como a autonomia indígena se configura em níveis diferentes, desde a representação no MMA em nível nacional, na Secretaria de Educação em nível minicipal, e em nível de comunidade local, e como as conquistas frente ao Estado se traduzem a partir de um filtro cultural indígena, neste caso os povos indígenas do Alto Rio Negro e em nível de comunidade, na identidade baniwa. PAINÉIS [a] LI pa q o 27 P A IN É IS 30 mesmo lança mão deste recurso teórico e metodológico em diversos textos publicados. Segundo Clifford Geertz (2002), os trabalhos de antropologia deveriam ser examinados tal como os livros de literatura, posto que, o leitor, deve considerar o “momento vivenciado pelo autor durante a escrita da obra”. Os “momentos” sugeridos por Geertz (2002) aplicam-se as obras de antropólogos, no entanto, a partir desta idéia, buscamos identificar “as teorias” que Mário Ypiranga Monteiro se apropriou para escrever sobre a cultura amazonense. Vilhena (1997) afirmou que os autores que tiveram vinculação ao movimento folclorista brasileiro assumiam a identidade de “antropólogo”. As referências à antropologia americana e ao funcionalismo inglês contemplam de modo “implí- cito” as idéias do autor, tal como propôs Durham (2004) em seu estudo da obra de Malionowski, no que convencionou chamar de uma “teoria implícita” da cultura. A produção de Mário Ypiranga Monteiro inicia-se na década de 30 do século passado, segundo Oliveira (1995), nesse contexto existia “uma consciência de país novo”, onde “a ausência de uma elite educada e conhecedora da realidade do país impedia o desenvolvimento sócio-político adequado”. No mesmo contexto, Costa (1997) reconhece que as “influências da produção das grandes metrópoles mundiais que chegavam ao Brasil”, foram “ajustadas e adaptadas” no âmbito regional com “novos estilos, novas linguagens”. Palavras – Chaves: Mário Ypiranga Monteiro, antropologia, cultura amazonense P03 A MENTIRA E A HIPOCRISIA COTIDIANA. Michel Ribeiro de Melo e Silva. Universidade Federal do Pará. O foco central deste trabalho, é através da leitura de Erving Goffman em “A Representação do Eu na Vida Cotidiana”, demonstrar como a mentira é um mecanismo cultural de inserção do indivíduo dentro de um ambiente social coercitivo e excludente, e como consequência desse ambiente social hostil à autenticidade do Eu cria-se uma necessidade de este se afirmar para si e para os que o cercam. E com o base no que é dito em “O Jeitinho Brasileiro” por Lívia Barbosa, e apresentado por Roberto DaMatta em grande parte da sua produção teórica demonstra como a mentira usada no cotidiano do brasileiro torna-se um mecanismo de defesa, expressa através do discurso e gerando uma incompatibilidade com este, por causa da sua variação de potencialidade e prática. Através dessa análise é possível de se obter uma percepção aproximada de como se dão as micro-relações entre os indivíduos e os grupos sociais definidos por estereótipos e fachadas. P04 A PEREGRINAÇÃO DE NAZARÉ NO BAIRRO DO UMARIZAL EM BELÉM Mariana Pamplona Ximenes Ponte (UFPa- marianapxp@yahoo.com.br) A peregrinação de Nossa Senhora de Nazaré ocorre todos os anos antes do Círio da mesma santa em Belém. A ida nas casas, tanto do centro como de bairros periféricos, é realizada por pessoas com vínculos estreitos com a igreja católica. As paróquias dividem a cidade em áreas e determinam quais comunidades ficam responsáveis por quais ruas/ bairros. O objetivo foi analisar as visitas feitas num bairro da cidade a fim de observar o fenômeno e sua relação com as famílias que participam da peregrinação. A pesquisa foi realizada através de revisão biblio- gráfica — incluindo o conteúdo dos livretos impressos exclusivamente para esta ocasião—, observação participan- te e entrevistas no bairro do Umarizal que por vários fatores, como a localização, vive intensamente o círio de Nazaré, portanto participa de forma importante da peregrinação há vários anos. As casas que recebem a santa têm como padrão familiar a família nuclear, recebem convidados que fazem parte da parentela, a refeição servida ao fim da reza é recorrente mesmo que a igreja não incentive, a casa bem como o “altar” da santa são organizados de forma especial. Mesmo o evento ocorrendo dentro das casas não são todos os membros que participam, sendo freqüente a ausência dos homens. Relatos de anos anteriores relacionados aos participantes, às peregrinações e ao círio como um todo é recorrente durante a depois da reza. Para a igreja é um importante meio de evangelização, e para as famílias um importante veículo de adentrar no círio, como num rito de passagem, de iniciar a vivência da festa, e garantir a sociabilidade, a tradição, bem como sua identificação de família tradicional. Palavras-chaves: círio, peregrinação, família. P A IN É IS 31 P05 A RELAÇÃO ENTRE O ARRASTÃO JUNINO DO ARRAIAL DO PAVULAGEM E O SEU PÚBLICO. Gabriela da Costa Araújo Universidade Federal do Pará Durante o mês de junho de 2007 em Belém/PA acontencem costumeiramente, aos domingos, os Arrastões Juninos do Grupo Musical Arraial do Pavulagem, que consistem em grandes cortejos com o objetivo de resgatar ritmos e costumes tradicionais da cultura paraense (em que entenda-se cultura como é definido por Roque Laraia em Cultura: Um Conceito Antropológico) e festejar o período da quadra junina. No decorrer destes acontecimentos, foi elaborada a pesquisa de campo através de questionários aplicados ao público frequentador dos Arrastões, e da observação das relações entre o público e o evento em si, e com base nos fatos que puderam ser apercebidos, foi perceptível a falta de interesse do público pelo resgate cultural e pelo conteúdo folclórico em si da manifestação que se dá como produto de um processo de pesquisa realizado pelo instituto ligado ao grupo, com o objetivo de “reavivar” tradições culturais e simbolos folclóricos (de acordo com o que define como folclore Carlos R. Brandão em O que é Folclore?) da região amazônica. É neste ponto que se concentra a problemática central do trabalho. O público que frequenta o evento é formado por indivíduos que podem ser facilmente associados à diversos estereótipos, não demonstrou que vai pelo interesse a sua cultura e sim pura e exclusivamente pela diversão e pela repercussão do acontecimento. Conclui-se então que o contingente de pessoas de fato interessadas no conteúdo cultural e folclórico é muito pequeno em relação ao número total de frequentadores do Arrastão, que chegou a mobilizar no seu primeiro dia algo próximo de 10 mil pessoas pela Av. Presidente Vargas na capital do Pará. P06 AMOR MATERNO: REFLEXÕES SOBRE AS REPRESENTAÇÕES E AS EXPERIÊNCIAS DA MATERNIDADE ENTRE MULHERES DE CAMADAS MÉDIAS EM RECIFE Érica Cristina de Sá - Universidade Federal de Pernambuco Michele Bezerra Couto de Lima - Universidade Federal de Pernambuco Este trabalho procurou realizar um estudo acerca das representações e das experiências da maternidade. As representa- ções maternas dão sustentação ao surgimento de manifestações afetivas (sentimentos e emoções), levando-nos a consi- derar uma relação de interdependência dos domínios afetivo e cognitivo.Tendo em vista ser as experiências da gravidez, do parto, da amamentação e do puerpério elementos fundamentais para a construção do amor materno e de uma identidade feminina, visou-se aqui investigar os conflitos existentes nessas experiências, como também as ideologias e as representações que explicam as construções identitárias adquiridas pelas mulheres a partir da maternidade. A partir da aplicação de métodos de pesquisa bibliográfica e pesquisa qualitativa, buscou-se alcançar o objetivo de analisar como se dá na atualidade a compreensão do corpo, das emoções e os elementos sociais e culturais que possam contribuir com a construção do ideal do amor materno. Como todas as representações sociais, as representações da maternidade foram criadas com determinado fim, onde a maternação, vista como agente essencial para construção da psique feminina, faz com que as mulheres adequem seus sentimentos e emoções, acerca da maternidade, à sua subjetividade feminina. Na sociedade ocidental moderna, que passou por muitas transformações tecnológicas e comportamentais, poderia se pensar que as representações tradicionais de mãe pareceriam ultrapassadas, no entanto a pesquisa de campo feita entre mulheres de camadas médias na Cidade de Recife nos mostrou que as mulheres continuam buscando reprodu- zir modelos ideais de mãe. Isso nos permitiu visualizar entre estas mães um dos grandes conflitos vividos pela mulher contemporânea. Ao possuir diversos papéis dentro da sociedade moderna (mulher, esposa, mãe) a mulher procura conciliar alguns valores modernos, tais como autonomia e individualismo, com alguns valores tradicionais, princi- palmente os que se refere à divisão de tarefas domésticas, remetendo-lhes a uma vida com muitos dilemas e conflitos. Diante de tais questões, compreende-se que os sentimentos que surgem nas experiências da gravidez e da amamentação são elementos fundamentais para a construção do vínculo mãe-filho (a) e levam a uma representação naturalizante da maternagem. Entretanto, o vínculo mãe/filho é simbolicamente criado a partir da amamentação, ao menos sob forma lúdica, já de amor ou algo que é dito por ele. Contudo, essas emoções são vistas como partes constituintes da maternidade e são essenciais para que se possa compreender como se dá a construção do self materno e a significação da maternidade para as mulheres como meio de construção de uma identidade feminina. BADINTER, Elizabeth P A IN É IS 32 (1985); BEAUVOIR, Simone de (1955); BOURDIEU, Pierre (2003); CADERNOS CEPIA (1999); COSTA, Albertina de Oliveira; AMADO, Tina (1994); CHODOROW, Nancy (2002); DEL PRIORE, Mary (1995); DUMONT, Louis(2000); GIDDENS, Anthony (1991/1993). P07 APRECIAÇÕES E DEPRECIAÇÕES NA MÚSICA BREGA. Vinícius Rodrigues Alves de Souza; José Rodorval Ramalho (orientador DCS/UFS ) A variedade de gêneros da música brasileira já se tornou uma de suas principais características. Cada gênero com a sua história mais ou menos misturada pela força e criatividade da nossa antropofagia sonora. A música brega não foge à regra e envolve várias misturas, tais como: o bolero, o samba, a jovem guarda, a música sertaneja e outros. Nosso estudo tem como objetivo discutir o gênero brega e o porquê da simplificação da música brega nos discussões teóricas. Para isso analisaremos algumas características da crítica da música brega e seu estilo frag- mentário e disperso; sua metodologia superficial e preconceituosa, entendendo a classe média intelectualizada como protagonista da nomeação e da estigmatização do gênero musical estudado. Demonstraremos a inconsis- tência do estigma simplista e imposto à música brega como gênero da “dor de cotovelo” e do alheamento dos problemas sociais fazendo uma análise nos discursos do gênero, tendo como referência a obra de Odair José e Fernando Mendes. E por fim, apresentaremos dois processos de recepção da música brega, tentando demonstrar como um gênero musical repercute diferentemente em grupos sociais distintos. O método o qual nos utilizare- mos é o método da análise de conteúdo, uma vez que o que objetivamos é apreender os significados dos discursos dos indivíduos em questão pois nesse método a fala dos atores sociais é situada em seu contexto. Foram utiliza- dos os seguintes recursos metodológicos: entrevistas semi-estruturadas com a classe média intelectualizada e a classe popular. P08 ARTESANATO E TRANSFORMAÇÕES: IDENTIDADE DO ARTESANATO INDÍGENA NA CIDADE DE MANAUS Rosseline da Silva Tavares - Universidade Federal do Amazonas; (Orientador: Raimundo Nonato Pereira da Silva) A cidade Manaus possui uma população de aproximadamente 1.405.835 habitantes sendo que 952 indivíduos, cons- tituem-se de indígenas. Assim, a cidade torna-se uma referência de populações indígenas do Brasil. Além das informa- ções do IBGE, outras instituições levantaram e mapearam o contingente indígena urbano. De acordo com o CIMI, a partir de um levantamento realizado em 1996 pela Pastoral Indigenista (2000) a população indígena em Manaus seria de 8.500 indivíduos. A sobrevivência dessas populações em Manaus possui sérios desafios, pois a interação dos recursos naturais, provenientes do meio urbano, e os indígenas, já não suprem mais suas necessidades básicas, neces- sitando de outras fontes para obtenção de recursos. O número de pessoas que trabalham fora, geralmente é limitado. Em grande parte das famílias, o chefe da casa é assalariado mas ainda sim, sua renda é irregular e por conta dessas situações, mais da metade desse contingente, volta para sua comunidade de origem. A tentativa de estabilidade econômica, através do vínculo empregatício tipicamente urbano tenderia a afastar os índios dessa prática tradicional, mesmo que não exclusivamente indígena. O artesanato configura-se como uma fonte de renda importante para a sobrevivência dessas populações no perímetro urbano. A matéria-prima utilizada e alguns artesanatos já prontos vêm principalmente do Alto Rio Negro, Região do Baixo Amazonas e Região do Alto Solimões4. Muitas das peças, reconhecidas tradicionalmente, por suas características específicas de determi- nada etnia, vem se transformando ao longo do tempo. Algumas peças vêm recebendo outro tipo de matéria- prima, adquirindo novos significados, ao entrarem nas relações comerciais na cidade. Grande parte dos vende- dores são os próprios artesãos, logo, nos leva a chegar a um denominador comum: a matéria prima pode até vir de longe, mas as peças são produzidas aqui. A partir da compreensão do discurso de alguns indígenas, há dois tipos de artesanatos confeccionados por eles: um indígena e o não indígena. O artesanato dito como indígena, segundo o próprio artesão, é aquele que se aproxima do que seja o tradicional (com a matéria-prima específica da região étnica) e o não indígena, seriam as peças do cotidiano urbano, ainda que as mesmas (peças) sejam confeccionadas com a matéria-prima do lugar de origem. Outros discursos contrariam a opinião de que exista um artesanato “que P A IN É IS 35 P13 CIDADANIA E COMUNIDADE: PRÁTICAS COLETIVAS DA ASSOCIAÇÃO FEMININA DO BAIRRO GUARANI NA CIDADE DE UBERLÂNDIA – MG Maria Carolina Rodrigues Boaventura e Profa. Dra. Alessandra Siqueira Barreto Universidade Federal de Uberlând ia – UFU/MG A ênfase deste trabalho está nas práticas coletivas da Associação Feminina do Bairro Guarani – AFEGU (associação totalmente apartidária, sem fins lucrativos que visa o bem da comunidade e ainda, que se afirma como uma associação majoritária e legalmente feminina) e, conseqüentemente, no bairro Guarani, situado no setor oeste da cidade de Uberlândia - MG. Nessa perspectiva, portanto, almeja-se dar visibilidade, primeiramente a um bairro periférico da cidade que abriga uma associação que visa antes de tudo o “bem familiar”( Expressão cunhada pela presidente da AFEGU (Cláudia Andréa Santana) ao referir-se à função da associação). Entenden- do-se que este “bem familiar” se aplica não só à necessidade de famílias específicas, mas sim a uma família chamada: comunidade do bairro Guarani. Pretende-se ainda, observar como questões referentes à cidadania e, por conseguinte à comunidade, são vivenciadas na prática, ou seja, perceber como certos atores sociais através de uma coalizão institucional definem e classificam problemas de ordem prática, além de analisar os princípios e necessidades que norteiam estes atores ao engajamento nestas práticas coletivas, bem como verificar a lógica do discurso que dispõem. Para isso parte-se de autores clássicos da Antropologia Urbana internacional (George Simmel, Robert Park, Louis Wirth) e brasileira (Gilberto Velho), utiliza-se expressões como rede de resolução de problemas práticos do historiador Linderval Monteiro (historiador), contextualiza-se movimentos sociais (Ruth Cardoso), associações de moradores (Sérgio Pechman) e também se trabalha com noções de comunidade, cida- dania, coletividade, discurso moral, implícitas nestes e em outros autores. A investigação propõe num primeiro momento, pesquisa e revisão bibliográfica acerca de teóricos da Antropologia Urbana, combinadas a um estudo sobre o processo de urbanização e desenvolvimento da cidade de Uberlândia e do conjunto habitacional em questão. Em seguida, procede-se com o trabalho de campo, o qual, inicialmente se dividirá em duas fases; em meio aos moradores do bairro Guarani e a AFEGU, mediante a elaboração e aplicação de questionários fecha- dos, entrevistas abertas, captação de histórias de vida e memória oral, registros fotográficos e em vídeos enfim, um processo de inserção através da observação participante. O trabalho se realizará ainda, através de uma pesquisa sobre o tema em jornais, revistas e circulares. Desta forma, cumpre dizer, que este estudo possibilitará não só uma investigação das práticas coletivas de uma associação específica, mas também, perceber como estas práticas são recebidas pela comunidade, quem as legitima ou repudia; delineando-se assim uma nova perspectiva para a concepção de cidadania e comunidade. Concluindo desta forma, ser inquestionável uma investigação em torno de discussões tão atuais, as quais devem ser esmiuçadas a fim de se tornarem visíveis e representativas. P14 CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS E CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS: UMA UNIÃO QUE GEROU FRUTOS. CRIAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA FÍSICA. Fernanda Maria Vieira Ribeiro (Universidade Estadual Vale do Acaraú – fernanda_ueva@hotmail.com) Objeto e objetivos: Proponho neste trabalho analisar o funcionamento e a organização estrutural, política e pedagógica do Centro de Ciências Humanas (CCH) da Universidade Estadual Vale do Acaraú – Sobral/CE, fazendo uma análise histórica do CCH; e do projeto de criação do Curso de Graduação em Ciências Sociais, como se deu o seu desenvolvimento dentro dos parâmetros do projeto, e as mudanças na prática de ensino e pesquisa. Além disso, tratei de aspectos como: a interação entre os cursos existentes no Centro de Ciências Humanas; as dificuldades sofridas dentro da problemática do ensino superior; uma abordagem analítica sobre a direção do centro, suas perspectivas e seus projetos; dentre outros. Essa pesquisa encontra-se em andamento, pretendendo analisar o novo projeto do curso, que está em fase de conclusão, e acompanhar o desenvolvimento deste em pratica. Metodologia: Estudo de documentos como regimento do centro e projeto do curso; pesquisa teórica sobre uma abordagem geral das universidades (organização e relações políticas); pesquisa metodológica com autores como Florestan Fernandes e Roberto Cardozo de Oliveira; pesquisa de campo e entrevistas semi- estruturadas com professores, coordenadores e diretor; avaliação estrutural do centro através de observações. Resultados e conclusões: Através das analises pude perceber que o Centro de Ciências Humanas não possui o P A IN É IS 36 suporte necessário para os cursos existentes, possui um espaço físico bom, mas precisam ser investidos recursos para a construção de mais laboratórios e salas de aula, como também restauração e ampliação de espaços existentes. O curso de ciências sociais não ajusta a prática docente à proposta curricular definida no projeto, mas desde janeiro desse ano está sendo posto em pratica um novo projeto curricular, que tenta solucionar os proble- mas existentes no projeto de criação do curso. Palavras-chaves: infra-estrutura, organização, graduação em ciências sociais. P15 DIREITO AO DESLOCAMENTO E AO CONSUMO DE LUGARES NA CIDADE: RELAÇÕES DE SOCIABILIDADE E LAZER ENTRE SUJEITOS DE CULTURA POPULAR EM MANAUS Rodrigo Pollari Rodrigues A comunicação tem como propósito compatibilizar o estudo do transporte coletivo e de lugares voltados para o lazer na cidade de Manaus, Estado do Amazonas, Brasil. Lugares enquanto objeto de “consumo” para sujeitos de cultura popular que moram em diferentes bairros desta cidade. Para isso, considera-se relevante observar o deslocamento realizado por esses sujeitos aos finais de semana e os lugares apropriados para as suas práticas culturais de lazer. A ênfase teórica recai sobre o enfoque da antropologia urbana, utilizando diferentes autores, entre os quais, Magnani (1991), que utiliza a categoria “pedaço” enquanto espaço de sociabilidade e vivência da cultura popular no contexto urbano. São evidenciadas para investigação duas linhas de ônibus da cidade, que ligam bairros de Manaus a equipamentos ou logradouros públicos orientados para o lazer. No espaço interno do próprio ônibus e nos lugares destinados ao lazer, busca-se interpretar regras, aspectos formais e formas de sociabilidade estabelecidas pelos dos sujeitos de cultura popular nesses espaços. Para coleta e interpretação de dados, tomamos como referência o que Henry Lefebvre (1991) convencionou chamar de um direito à cidade (à circulação, liberdade, socialização, habitação, etc) e também a noção de um “desvio ao direito à cidade” (à festa, ao lazer, à natureza e diferentes formas de fruição dos sujeitos, enquanto desconto do cotidiano). P16 “ENTRE A FÉ E A FEBRE”: A FOTOGRAFIA RELIGIOSA COMO MEIO DE INTERATIVIDADE SOCIAL ENTRE OS FOTOGRAFADOS E O “OBSERVADOR PARTICIPANTE” GUY VELOSO Fabíola Corrêa da Costa Oliveira (Universidade Federal do Pará – UFPA; fabiolajornal ista@yahoo.com.br) O registro imagético da incondicional fé entre alguns grupos religiosos do Norte e Nordeste brasileiro, realizado pelo fotógrafo paraense Guy Veloso, tem como objetivo mostrar os limites febris da fé em imagens preto e branco com caráter de obras de arte. Ele estuda as manifestações por meio de referências bibliográficas e coleta de dados, para posteriormente dirigir-se às localidades em datas específicas – como a Quaresma - a fim de realizar um trabalho etnográfico com entrevistas, fotos e filmagem. Usa a máquina analógica modelo Leica M- 6 e lente Leica Summilux 35mm F1.4. Os filmes p&b são o T-Max 100 Professional Kodak e T-Max 400. Toda a documentação é catalogada junto com os objetos de demonstrações de fé que é presenteado, tal é a coroa de espinhos e a “disciplina”. A máquina fotográfica funciona como um contrato social entre fotógrafo (o observa- dor participante) e os fotografados, e as imagens são o que John Collier Jr (1973, p.18) chama de “can-opener”: literalmente um “abridor de lata” na relação entre os atores do processo. A pesquisa durou oito anos até se concretizar na exposição fotográfica “Entre a fé e a febre”, realizada entre dezembro de 2006 a janeiro de 2007, em Belém-PA. O presente trabalho foi realizado por meio de entrevista com o fotógrafo, observação das imagens e pesquisa a referências bibliográficas, e tem o objetivo de compreender a relação por meio da fé entre Guy e os atores. O resultado é uma percepção imagética relativizada mais apurada da autora. As imagens, silenciosas, plenas e poderosas, exploram um mundo além da percepção visual, numa tentativa de retratar a fé em seus limites. Elas remetem para um universo pouco conhecido: o mágico, o sagrado. A força imagética dos retratos que ao mesmo tempo revelam e ocultam, transportam o “leitor – observador” para além da sua dimensão. Palavras- chave: Fé; fotografia; observador participante. P A IN É IS 37 P17 FESTIVAIS E GRUPOS FOLCLÓRICOS NA CIDADE: DIVULGAÇÃO DE ÓRGÃOS OFICIAIS E DA IMPRENSA DA (DES) CONHECIDA CULTURA POPULAR DE MANAUS Antonio Felipe de Carvalho Limeira O projeto de pesquisa tem como propósito o estudo de manifestações da cultura popular em Manaus, focalizan- do festivais e grupos folclóricos da cidade. Trate-se de identificar as formas de divulgação promovidas por órgãos oficiais municipais e estaduais, além da imprensa de grande circulação, de diferentes “danças dramáticas”, envolvendo aspectos musicais, coreográficos, teatrais e dança propriamente dita, conforme expressão sugerida por Mário de Andrade (1982). Os grupos folclóricos que constituirão objeto de pesquisa envolvem os seguintes gêneros artístico-culturais: cirandas, quadrilhas, bois-bumbás, danças de cangaço, cacetinhos etc. Deve-se consi- derar as apresentações realizadas por esses grupos no âmbito do bairro e em “centros culturais” da cidade, com vistas a avaliar a expressão cultural dos mesmos e a divulgação promovida pelos meios de comunicação. Também constitui objetivo do projeto, identificar Mestres de cultura popular e outros produtores e divulgadores dessas manifestações, com vistas a reconhecer as dificuldades enfrentadas por esses sujeitos em dar visibilidade à sua produção popular, cujas informações poderão ser obtidas no contexto de produção cultural e nos mecanismos utilizados para evidenciarem os seus propósitos de divulgação e avaliar, em que medida, a divulgação de suas manifestações é importante para os grupos folclóricos pesquisados. O que se quer, em última instância, é reco- nhecer as formas de promoção e divulgação da cultura popular em Manaus, fazendo a crítica das fontes ou mecanismos de divulgação, posto que o tratamento dispensado a cultura popular, a título de hipótese, não tem levado em conta as formas de produção e vivência dos próprios sujeitos de cultura popular. P18 IMAGEM E SOCIEDADE: UMA FOTOETNOGRAFIA NUMA COMUNIDADE RURAL DA AMAZÔNIA. Haydeé Márcia de Souza Marinho - UFPA - Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Núcleo de Altos Estudos Amazônicos/UFPA. O que cada grupo social elege para fotografar é o que considera digno de ser solenizado. Refletindo sobre as questões de subjetividades e alteridade foi desenvolvida uma pesquisa utilizando a fotografia como um instru- mento de diálogo, na Comunidade do Cumarú – Ig-Açú, em 2004, nordeste paraense, da Amazônia. Que corroborou e dinamizou a pesquisa de campo etnográfica inscrita na técnica definida como fotoetnografia, que objetivava investigar o esfacelamento e a reprodutibilidade dos estabelecimentos familiares, o registro das técni- cas e tecnologias de produção da agricultura familiar na comunidade. A metodologia do trabalho é baseada na sistematização de informações, primeiramente, referente aos croquis dos estabelecimentos familiares do banco de dados do projeto Shift-sócio-economia/NAEA. No segundo momento, a ida, semanalmente, durante os meses de maio, junho e julho de 2004, para o campo da pesquisa é desenvolvida através da observação participante, valendo- nos de uma técnica da antropologia visual denominada de fotoetnografia. Assim, a estratégia da pesquisa foi dinamizada, seguramente, com entrevistas feitas com fotografias que funcionou como um instrumento dialógico, de registro da memória social, dinamizando a pesquisa de campo a partir de um princípio importante da técnica fotoetnográfica, a devolução do retrato fotográfico pelo pesquisador ainda em campo. O retrato fotográfico como um objeto de medição intercultural, troca simbólica e restituição possibilitou a circulação de imagens fotográfi- cas dentro da comunidade. Assim, as informações sobre a propriedade rural, estabelecimentos familiares, heran- ça e casamento eram trocadas, simbolicamente, na ocorrência da devolução do retrato fotográfico pelo pesquisa- dor. Podemos afirmar que a Comunidade Cumarú têm na patrifocalidade a reprodutibilidade técnica e social do estabelecimento familiar (de 25 hectares), que se esfacela com a reprodução rápida da unidade familiar que se fixa no mesmo estabelecimento do pai, ocasionando a pressão demográfica e o desgaste do solo, ou mesmo a desestruturação da unidade familiar. Um sistema social que envolve relações entre parentes e não parentes entre 3 troncos familiares, a Carneiro das Chagas, os Gomes da Silva e os Britos, constituindo-se a árvore genealógica desta comunidade amazônica.Trabalhar a imagem fotográfica num campo etnográfico é estabelecê-la como um objeto de mediação intercultural, que para o antropólogo é um olhar fotoetnográfico nas relações que se desen- P A IN É IS 40 cos e levantamento bibliográfico no Igha, Biblioteca Pública Estadual e acervos particulares, nos meses maio e junho. Oliveira (2003) sugere que “compreender o espaço urbano significa identificar não apenas os mecanis- mos que colocam em funcionamento o sistema social, mas também as várias dimensões por meio das quais o sistema social se espacializa na cidade”. Os locais de ensaios de grupos folclóricos, os diversos festivais folclóri- cos nos bairros e o próprio Festival Folclórico do Amazonas podem ser tratados como “mancha de lazer” conforme Magnani (2000), pois neles se concentram práticas de lazer e sociabilidade, uma vez que esses espaços oferecem parque de diversões, barracas de jogos, barracas de venda de bebidas e comidas, e palco para apresen- tações dos grupos. O Festival Folclórico do Amazonas é o ápice da inter-relação dos grupos folclóricos de Manaus, na medida em que o mesmo consegui envolver a maioria dos grupos folclóricos da cidade, reforçando a necessidade de revalorização do folclore que, segundo Maria Mira (2000) se torna cada vez mais uma instância turística, servindo de vitrine para culinária, para o artesanato e até mesmo para religiosidade local. P22 MEMÓRIA E IMAGINÁRIO NO MUNDO URBANO CONTEMPORÂNEO: DIÁLOGOS COM VELHOS TAXISTAS NA CIDADE DE BELÉM (PA) Pedro Paulo de Miranda Araújo Soares (Universidade Federal do Pará – pedropaulo.soares@yahoo.com.br); Dr. Flávio Leonel Abreu da Silveira – Orientador (Universidade Federal do Pará – flabreu@ufpa.br) A cidade de Belém vem passando por um complexo processo de modernização nos últimos 50 anos. Dessa forma, é importante considerar as representações e interpretações dos atores sociais os quais vivenciaram essas modificações e reconfigurações do espaço urbano belemense. O presente trabalho busca então coletar narrativas de velhos moradores da cidade a fim de compreender melhor a dinâmica das transformações das paisagens urbanas de Belém durante a última metade do século XX. Na realização da pesquisa, o trabalho volta-se para um profissional em especial: o antigo taxista. Acredita-se que tal personagem possa ser uma rica fonte de narrativas, na medida em que seu ofício implica o constante exercício do deslocamento pelo espaço urbano e um conheci- mento especial sobre o mesmo em função da constante interação com os passageiros e com as próprias vias da cidade. Para a realização do trabalho lançar-se-á mão da metodologia antropológica, ou seja, aposta-se no conví- vio prolongado com os sujeitos estudados, bem como a utilização de entrevistas abertas com o intuito de registrar narrativas sobre as modificações da paisagem, causos curiosos e, especialmente, visagens. De modo a realizar uma etnografia por imagens, também será utilizada a máquina fotográfica para registrar o cotidiano profissional dos taxistas. Palavras-chaves: memória, imaginário, espaço urbano. P23 MOBILIDADE AFRICANA NO VALE DO COTINGUIBA: DISCURSOS E ESTRATÉGIAS DE SOLIDARIEDADE E DIFERENÇA. Aline Ferreira da Silva, Universidade Federal de Sergipe Daniela Moura Bezerra, Universidade Federal de Sergipe Williams Souza Silva, Universidade Federal de Sergipe A história do Brasil é uma história eurocêntrica. Estudiosos, porém, têm questionado os fatos tidos como acabados e apresentado outras formas de se ver as questões sociais. Baseado nisto, desenvolvemos a pesquisa cujo tema é Mobilidade Africana no Vale do Cotinguiba: discursos e estratégias de solidariedade e diferença, cujo objetivo é, a partir da investigação de diversos tipos de documentos encontrarmos meios de chegarmos às vozes dos escravos africanos, denominados, muitas vezes, simplesmente como “de nação”, na documentação oficial, procurando reconstruir suas trajetórias, a partir de documentos ainda não explorados suficientemente e que nos permitam perceber seus discursos de identidade. Para que essa análise fosse possível, recorremos a jornais do século XIX, cartas de alforria, livros da Alfândega, documentos da Câmara Municipal, inventários e testamentos. Palavras-chave : Identidade, africanidades, etnicidade. P A IN É IS 41 P24 MODA E ETNICIDADE: DINÂMICA RELACIONAL NO PROCESSO DE VALORIZAÇÃO DO “ÉTNICO” Adla Viana Lima (UFBA – adlamil@hotmail.com) O painel pretende apresentar a discussão sobre a valorização dos elementos culturais étnicos no campo da moda, sobretudo do patrimônio imaterial e étnico de povos tradicionais, no caso aqui, dos índios Pataxó Meridionais. O campo da moda e estilismo baseia muitas de suas produções em pesquisas relacionadas às práticas artesanais tradicionais, e muitas vezes usando o termo “étnico”. Essa relação interétnica formulada no uso desse patrimônio em coleções de roupas e desfiles de moda constitui um dos aspectos de discussão da pesquisa, que surgiu a partir do trabalho desenvolvido no projeto “Tradições Étnicas entre os Pataxó no Monte Pascoal: subsídios para uma educa- ção diferenciada” (que visa preservar e difundir o patrimônio imaterial Pataxó, aprovado no programa Petrobrás Cultural) através do qual foi possível que eu fizesse levantamentos – em trabalho de campo recente, com visita, etnografia, e registro fílmico e fotográfico de 14 aldeias indígenas pataxó – e, posteriormente, já com intenção de levantar dados etnográficos para tal, a visita ao evento Fashion Rio. Neste último foi analisado o desfile da estilista Márcia Ganem, cuja grife leva o mesmo nome, escolhida pelo fato de ter apresentado na edição de 2000 o desfile da coleção “Juacema”, que apresentou forte influência de elementos indígenas Pataxó, e no qual foi declamado um poema sobre tal grupo étnico. Essas iniciativas trazem consigo a possibilidade de discussão sobre o capital simbó- lico, cultural e econômico, no sentido de entender a valorização do que é exótico aos olhos. O foco principal da discussão parte da noção de patrimônio cultural, em termos gerais, considerando o ponto de vista nativo e, sobre- tudo, a construção identitária étnica e sua relação com o não étnico. Palavras-chaves: moda, etnicidade, relações interétnicas P25 MULHER TRABALHA OU AJUDA: RELAÇÕES DE GÊNERO NO SISTEMA PRODUÇÃO NA COMUNIDADE SÃO FRANCISCO DO PARAUÁ, NA COSTA DO CANABUOCA, MANACAPURU/AM. Dr. Iraides Caldas Torres-UFAM Orientador (a) Luana Mesquita Rodrigues-UFAM Bolsista Nas populações rurais da Amazônia as mulheres possuem um papel social importante na organização do trabalho e da economia doméstica. O homem é responsável pelas atividades de caca e pesca, enquanto que às mulheres cabem os encargos da casa, limpeza do roçado, a capinação e a feitura da farinha. A agricultura é uma atividade realizada por todos os membros da família, sendo em grande parte, exercida pela própria mulher. O trabalho das mulheres rurais é uma questão difusa no imaginário social, até mesmo no âmbito da sociologia do trabalho esta questão não está totalmente resolvida. É assim que a indagação central que presidiu esta pesquisa, consistiu em saber, se a mulher trabalha ou ajuda. O estudo buscou verificar as clivagens de gênero presentes nas relações sociais dos moradores da comunidade São Francisco do Parauá, colocando em visibilidade a divisão sexual do trabalho como um elemento central de exploração da mulher no sistema produtivo. A comunidade São Francisco do Parauá está localizada à margem do rio Solimões há 35 km da zona urbana de Manacapuru. Trata-se de uma comunidade de várzea com habilitações de estilo palafita dispostas linearmente ao longo da margem do rio. O trabalho de campo foi realizado utilizando a técnica de entrevista do tipo semi-estruturado dirigido a moradores homens e mulheres, lideranças locais, masculinas e femini- nas, além do professor e o agente de saúde da comunidade perfazendo um total de 14 pessoas. Utilizamos também a técnica da etnografia para descrever com precisão o cotidiano de uma unidade familiar. Constatou-se que as mulheres são os sujeitos centrais do sistema produtivo familiar, elas não só participam das atividades de agricultura, feitura de farinha, criação de pequenos animais domésticos, organização do puxirum, como também participam das reivindica- ções sociais organizadas pelas associações da comunidade.Concluiu-se que, apesar da sobrecarga do trabalho das mulheres, elas não se vêem exploradas. O trabalho fora de casa é visto como uma atividade subsidiária ao trabalho do homem, elas próprias admitem que somente ajudam o marido para contribuir com a economia familiar. Poder-se-ia dizer que as mulheres figuram como um elemento de apoio, mas extremamente necessário ao sistema produtivo, o que confirma a importância do seu trabalho e o sujeito central que são na economia doméstica. Palavras-Chave: Relações de gênero, Amazônia, Trabalho P A IN É IS 42 P26 MÚSICA POPULAR AMAZONENSE Mauro Augusto Dourado Menezes - Graduando de Ciências Sociais. Bolsista de Iniciação científica (CNPq) no projeto de pesquisa “Música popular amazonense”, com orientação do Prof. Dr. Sérgio Ivan Gil Braga. Prof. Dr. Sérgio Ivan Gil Braga - Professor do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Amazonas, do Programa de Pós-graduação Sociedade e Cultura e do Programa de Pós –Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Amazonas. Pesquisador da FAPEAM e do CNPq. A música popular amazonense (MPA), produzida em Manaus desde meados da década de sessenta do século passado, é caracterizada pela presença em suas letras de temas característicos da região amazônica, enfatizando o cotidiano do homem mestiço caboclo, indígena, o homem da cidade, os migrantes e outros motivos que inspiram músicos e compositores a produzirem música. Uma característica peculiar desta música é o uso de múltiplas expressões e termos regionais, presentes tanto no meio urbano como no interior, entre os quais: “banzeiro”, “curumim”, “leseira”, e etc. Observa-se também que a MPA se apropria de temas associados às manifestações folclóricas locais e regionais. Neste caso, não raro retoma antigos refrões de músicas folclóricas associados às letras das músicas, como também a outros gêneros musicais não folclóricos, como a bossa-nova, samba, xaxado, etc. A fim de fixar aspectos característicos dessas práticas folclóricas, muitas vezes vivenciadas pelos próprios compositores e músicos, mas também na exaltação das festas folclóricas correspondentes ao mês de junho, como bois-bumbás, entre outras, com propósitos de conferir a tais composições uma suposta “auten- ticidade” cultural amazônica. O que nos sugere um diálogo com os ideais modernistas da década de trinta, sem deixar de reconhecer influências de movimentos musicais nacionais como a Bossa Nova e a Tropicália na MPA, que se ocuparam dentre outras coisas, com a problematização da identidade nacional do Brasil. Dessa forma, identificando a música popular como expressão de cultura popular e, que a relação entre a arte e a cultura pode assinalar a incorporação de processos sócio-culturais locais e regionais, a “MPA” seria um “movimento” ou manifestação cultural que distingue a produção musical do Amazonas e por meio da qual afirmam-se valores e se coloca em debate, em poesia e em música, a vivência do homem amazônico. ]Palavras-chave: Cultura Popular, Música Popular, Antropologia Urbana P27 MÚSICOS “CAFONAS” DE TERESINA/PI E SUAS REPRESENTAÇÕES SOBRE O MOMENTO DITATORIAL BRASILEIRO Fernando Muratori Costa (UESPI – Universidade Estadual do Piauí – nando_muratori@hotmail.com) O problema que este estudo se propõe a desvendar é como era a percepção relativa ao momento ditatorial vivido nesse período dos músicos do estilo “cafona” em Teresina, entre 1968 e 1978 que, segundo Paulo César de Araújo, foi o período em que este estilo fez mais sucesso, com as mais altas vendagens do mercado fonográfico, tentando sempre desmistificar a visão que ainda hoje é forte na sociedade brasileira de que a música “cafona” é uma música feita por artistas “alienados”, que não estão preocupados com a realidade brasileira. Muitos traba- lhos foram escritos sobre a música na ditadura militar, inclusive sobre a produção musical piauiense, contudo, não tenho notícia de nenhum trabalho que fale sobre o estilo “cafona” ou “brega” em Teresina, sobretudo com a proposta adotada, que é trabalhar o estilo em sua concepção de relação com o sistema político. Para alcançar o objetivo de identificar as percepções dos artistas do estilo “cafona” em Teresina no final da década de 1960 e início da década de 1970 acerca do momento ditatorial vivido no país, já foi feito um levantamento da bibliogra- fia. Contudo, com o início da pesquisa propriamente dita este levantamento deve ser ampliado, seguido da leitura e fichamento das obras selecionadas com o critério de afinidade com o tema Músicos “cafonas” de Teresina e suas percepções sobre o momento ditatorial brasileiro (1968-1978). A pesquisa bibliográfica será mais intensa na primeira fase do trabalho, entretanto, ela continuará até o encerramento do trabalho, dada a possibilidade de surgir alguma obra do interesse deste estudo em desenvolvimento. No momento da coleta de dados, será neces- sário o uso de algumas ferramentas e noções da pesquisa histórica. Será feita, a princípio, uma pesquisa exploratória para localizar as fontes. Em seguida, para o êxito na pesquisa trabalharei com a oralidade, a memória e a análise do discurso. No entanto, este não é um trabalho específico de História Oral. Também serão analisadas letras de composições do período de autoria de músicos teresinenses, de acordo com a atual perspectiva historiográfica, que P A IN É IS 45 P32 “PAIS” OU “PATRÕES”? UM ESTUDO SOBRE “CRIAS DE FAMÍLIA” NA AMAZÔNIA Luísa Maria Silva Dantas Este trabalho surge para a compreensão de um arranjo familiar historicamente corrente na cidade de Belém-PA e as possíveis desigualdades sociais nele encontradas, dentro do quadro mais amplo das formas de família entre nós. Para evidenciar, ainda, a presença dessas mulheres que não possuem uma nomeação especifica no interior das famílias, relacionando com sexo, origem e classe social. Trata-se de um trabalho antropológico que busca aplicar a alteridade, tornando interessante e surpreendente uma prática tão familiar na sociedade paraense, mas não necessariamente conhecida sociologicamente. O estudo é centrado nas “crias de família”- que é um rótulo designativo de referência de terceiros, uma categoria encoberta – personagens muito freqüentes nos arranjos familiares paraenses, em sua maioria mulheres, negras ou não-brancas, advindas de pequenas cidades do interior do Estado, que vêm para a casa de uma família em Belém em busca de melhores condições de vida. Caracteriza- das por uma posição ambígua na família, já que, ora são tratadas como “parentes” e ora como agregadas ou domésticas, dependendo da situação. Ainda em andamento, o estudo pretende descobrir a história de vida de mulheres que se adequam à categoria “cria de família”; investigar como o fato de elas terem sido criadas longe dos pais biológicos é interpretado por elas com relação ao desenrolar de suas vidas; identificar como elas compreendem a família, a forma como foram criadas e tratadas e se elas continuam reproduzindo essa prática adotiva; se não, interpretar o porquê; analisar a origem dessas mulheres, de onde a maioria advém, fazendo relação com a classe social a que pertenciam e a classe social de sua “nova família”; perceber a relação – quando existe – da mãe genitora com a “mãe de criação”; notar a relevância do fator cor da pele e a predominância do gênero feminino em todo o processo. Para a apresentação do painel no congresso pretende-se divulgar os casos preliminares da pesquisa. A pesquisa bibliográfica sobre a temática contemplada no projeto permeará todas as etapas do trabalho até a construção do relatório final. As pessoas que participarão deste estudo serão mulheres que apresentem os pré-requisitos condizentes com a pesquisa. Embora não se esteja descartando a participação de homens. P33 PAISAGENS LIMÍTROFES: RELAÇÕES SOCIAIS NO ESPAÇO URBANO EM DOIS MOMENTOS DO BAIRRO CENTRO EM BELÉM. Ionaldo Rodrigues/UFPA – ionaldofilho@ig.com.br. Objeto e Objetivos: É possível visualizar o centro histórico e comercial da cidade de Belém como um espaço de forte contraste entre diferentes tipos de sociabilidade e de fluxos de ocupação em suas ruas e casarios antigos. Toda a lógica de mercado presente durante o horário comercial imprime no espaço uma ocupação voltada para uma negociação tensa do ambiente urbano, então disputado por consumidores, vendedores ambulantes, comerciantes e demais atores sociais. Fora do horário comercial as ruas ficam esvaziadas e outras formas de convívio são tramadas entre os atores que permanecem mantendo relações de trabalho e de vizinhança. Nos dois momentos a dinâmica social impõe diferentes “paisagens” a um observador que percorra esse espaço durante as duas temporalidades aqui citadas. O trabalho objetiva uma interpretação sociológica das “paisagens” citadas anteriormente a partir da analise do perfil dos diferentes tipos de ocupação do bairro da Campina no que toca a produção da sociabilidade e do imaginário nas duas temporalidades (horário comercial e noturno), buscando compreender as implicações políticas que a predominância do atual tipo de ocupação comercial produz na fisiognomia (Bolle, 2000: 40 & Chaves, 2003: 179) do Bairro. Metodologia: O projeto contou em seu desenvolvimento com pesquisa bibliográfica e de campo. Desdobramos as idas a campo na produção de material imagético, fotografias artesanais produzidas no espaço da pesquisa (de 2004 a 2007). Realiza- mos a pós-produção e a análise das fotografias do lócus da pesquisa, assim como entrevistas com moradores, trabalhadores, consumidores e demais ocupantes das ruas do centro comercial. Através do índice fotográfico propomos o diálogo com a reflexão de Georg Simmel sobre o caráter blasé enquanto estratégia de adaptação da subjetividade do individuo frente ao domínio do entendimento e da economia monetária na trama social da cidade. Simmel nos indica que “A essência do caráter blasé é o embotamento frente a distinção das coisas” (2005: 581), esse movimento nos parece essencial para o contraste que a fisiognomia do horário comercial e noturno revelam. Resul- tados e Conclusões: O marcante processo de degradação física e simbólica em que o centro histórico e comercial da P A IN É IS 46 cidade de Belém está inserido possui em nosso ver um significativo correspondente na unilateralidade da ocupação comercial frente a outras potencialidades adormecidas na temporalidade noturna. Período em que a iluminação artificial dos postes revela a um flâneur desavisado os rastros da cena do local de um crime (Benjamin, 1991:240). A esse flâneur, aqui sujeito e objeto da presente pesquisa, não restam dúvidas da pertinência das palavras de Walter Benjamin sobre as ruas de comércio do seu tempo: “O comércio e o tráfego são os dois componentes da rua. Ora, nas passagens, o segundo está praticamente extinto; o trafego aí é rudimentar. A passagem é apenas rua lasciva do comércio, só afeita a despertar os desejos. Mas como nesta rua os humores deixam de fluir, a mercadoria viceja em suas bordas entremeando relações fantásticas como um tecido ulcerado – O flâneur sabota o tráfego. Ele também não é comprador. É mercadoria.” (2006: 85) P34 PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO E A COMUNIDADE DE SANTA CRUZ DOS MARTÍRIOS – PA. Liliane Carrera Barbosa (Universidade Federal do Pará-UFPA-l il ianecarrera@yahoo.com.br) A comunidade de Santa Cruz dos Martírios, localizada próxima ao parque Estadual Serra dos Martírios /Ando- rinhas, no sudeste do Estado do Pará é o destaque abordado, pois este parque apresenta um rico patrimônio arqueológico, porém não se sabe que tipo de relação à comunidade estabelece com esses sítios arqueológicos, necessitando assim identificá-la, para realizar uma estruturação de educação patrimonial e ambiental voltada para área. Essa comunidade, por ser formada fundamentalmente por imigrantes, denota uma região marcada pela pluralização das culturas e pela formação da identidade, já que está é vista sempre como algo que vai se moldando através do contato com o outro. Logo, é importante levar em conhecimento dessa comunidade local, que será exercido um conjunto de ações de educação, principalmente patrimonial, permitindo que as pessoas deste local possam ser sensibilizadas sobre a importância histórica do passado e a necessidade de preservar o patrimônio arqueológico, ou seja, os sítios de cerâmicos e de arte rupestre. Contudo, é necessário compreender que a educação também é um processo cultural e que qualquer ação nesse sentido, junto ás populações circunvizinhas aos sítios arqueoló- gicos, são intervenções em sua realidade sociocultural, portanto, requerem um processo de percepção cultural. Por isso, esse processo foi realizado com a comunidade de Santa Cruz dos Martírios, por meio da aplicabilidade de um roteiro sistemático de entrevista de percepção socioeconômica e cultural. Além, de entrevistas abertas para o registro de depoimentos e narrações; observação do comportamento dos moradores e a relação que eles exprimem com os sítios arqueológicos. Participaram destas entrevistas as mais diversas pessoas, para uma eficaz análise dessas informações. Depois de um estudo etnográfico realizado com essa comunidade local, e com a metodologia da pesquisa-ação, resultados completos servirão para subsidiar a elaboração de um programa de educação para o patrimônio arqueológico e ambiental. Palavras-chaves: patrimônio arqueológico, comunidade local, educação. P35 POVO GUERREIRO: A LUTA COTIDIANA NAS NARRATIVAS DE HISTÓRIA DE VIDA DE TEFÉ - AM Prof. Msc. Guilherme Gitahy de Figueiredo (gfigueiredo@uea.edu.br). Centro de Estudos Superioes de Tefé da Universidade do Estado do Amazonas – CEST/UEA Objeto e objetivos: O objetivo é levar Tefé (AM), cidade do Médio Solimões com 70 mil habitantes, a estudar sua cultura popular através de entrevistas de histórias de vida, propondo-se a análise de como a população constrói suas próprias histórias e, nessas narrativas, o que são “problemas”, e como são enfrentados. O conceito de “cultura popular” inspira-se na formulação de Michel de Certeau, para quem ela não se define pelo consumo, mas pela produção constituída pelos usos que o povo dá aos bens e símbolos da cultura dominante, apropriando- se e recriando-se a partir de seus próprios valores e interesses. Espera-se produzir documentos históricos, forta- lecer a auto-estima e o pensamento reflexivo da população, iniciar estudantes na pesquisa, e buscar o conheci- mento tradicional sobre o que são problemas sociais e como a população os enfrenta. Metodologia: Cerca de 300 alunos de história, geografia e normal superior, divididos em grupos de 2 ou 3, já entrevistaram mais de 100 P A IN É IS 47 pessoas de variadas idades, gêneros e camadas sociais. As equipes foram convidadas a colher inicialmente o relato mais espontâneo possível, e em seguida direcionar perguntas para a temática dos “problemas” e como o entrevistado lida com eles. Realizaram observações, colheram fotos e documentos. Resultados e conclusões: Já foram apresentados mais de 100 seminários e relatórios de pesquisa com os registros, reflexões metodológicas e análises das equipes. Estão surgindo, assim, 3 camadas de interpretação: a construção narrativa dos entrevistados da cidade, a construção da pesquisa pelas equipes de estudantes, via de regra também tefeenses, e as interpreta- ções do pesquisador coordenador. A produção dos entrevistados e equipes, na forma de relatórios, estão sendo armazenados e espera-se montar um arquivo e um site onde possam ser disponibilizados a pesquisadores e ao grande público. O coordenador já apresentou resultados da pesquisa no Seminário Internacional Cidades da Floresta, realizado pela UFPA em Belém entre novembro e dezembro de 2006, e na reunião nacional da SBPC em julho de 2007. O trabalho tem propiciado o fortalecimento da reflexão e da auto-estima: as situações de emoção e debate que geram mostra que os tefeeses não estavam acostumados a produzir suas histórias de vida. Os traços mais marcantes são a construção das trajetórias por entrevistados e equipes enquanto modelos de comportamento, nos quais se valoriza as contribuições para a comunidade e a perseverança no enfrentamento dos problemas individuais. A pesquisa está ajudando a renovar a ética do povo “guerreiro”. Estão emergindo também novos problemas teóricos: se o trabalho de pesquisa não pode ser dissociado da produção de valores sociais e, na medida em que a população é capacitada em técnicas de pesquisa, que impacto isso pode ter na renovação de seus valores? P36 POVOS DO CERRADO E PESCADORES: AS LIÇÕES DA TRADIÇÃO Lidiane Maria Maciel, graduanda de Ciências Sociais Universidade Federal de São Carlos/ anemaciel@hotmail.com Maria Inês Rauter Mancuso, Universidade Federal de São Carlos, SP, Brasil/npd@ufscar.br. Arlete ( Graal-MG) Ana Paula Glinfskoi Thé, Universidade de Montes Claros MG Brasil. Alison Macnautgton, Word Fisheries Trust, Victoria BC, Canada Sarah Bryce, Word Fisheries Trust, Victoria BC, Canada Este estudo tem como objetivo geral, analisar a visão de mundo de uma líder de um movimento ligado aos povos do cerrado, visão contextualizada pelas relações estabelecidas entre pescadores e coletores de frutos do cerrado e entre dois municípios do Médio Rio São Francisco. O depoimento foi obtido no início de 2007, por ocasião da pesquisa de avaliação do projeto Pesca Continental no Brasil: modo de vida e conservação sustentável, financiado pela CIDA – Agência de Desenvolvimento Internacional do Canadá, o qual fundamentou um acordo bilateral Brasil - Canadá. A área de abrangência projeto foi o Alto e Médio Rio São Francisco. Trabalhou-se com a população ribeirinha em especial pescadores artesanais de rio residentes nos municípios de Três Marias, São Gonçalo do Abaeté (Bairro Beira Rio), Buritizeiro, Várzea da Palma (distrito de Barra do Guaicuí), Pirapora e Ibiaí. Pelo depoimento percebe-se uma visão de mundo centrada em relações intermediadas pela troca de produ- tos - peixes e frutos - e pela “mesa” (o padrão de alimentação) que vão se alterando conforme o peixe se torna raro e se encarece e as relações, pari passu, vão deixando de ser altruístas e se tornam cada vez mais individualis- tas. O depoimento destaca formas de se perceber o cerrado, como um ambiente cujos frutos devem ser compar- tilhados entre o homem, os animais e as espécies vegetais e, nessa comunhão, o aproveitamento dos frutos do cerrado como alternativas econômicas de sobrevivência. Demonstra também a dimensão educativa de um proje- to de pesquisa-ação, na medida em que foi, no contexto dessa pesquisa, que a depoente foi percebendo o complexo das múltiplas relações no qual se insere seu trabalho e também foi ressignificando, pela memória, as lições da tradição. Palavras - chave: desenvolvimento comunitário, memória, tradição. P A IN É IS 50 de uma Pátria higienizada e o tutelamento do corpo feminino pelo Estado. Este corpo feminino passou a ser “tecido” a partir de discursos plurais que visam disciplinar e torná-lo útil para servir a Pátria, zelando pela honra brasileira e familiar (dela). Este trabalho tem como objetivo mapear os discursos que emergiram no Seridó Potiguar, entre 1900 e 1945 sobre honra feminina e familiar. Portanto, pretendemos entender as diversas cons- truções discursivas jurídicas acerca da família e honra seridoense, tendo em vista que cada discurso está enraiza- do em condições sócio-culturais. Dessa forma, esta pesquisa é uma forma de entender a heterogeneidade discursiva e sobre o imaginário cultural que se formou em torno dos conceitos de honra, moralidade, “himenolatria”, dentre outras formas de preservar a honra e moralidade familiar, através da análise de processos–crime de defloramento e de sedução entre 1900 e 1930. Para costurar a malha discursiva sobre o feminino, utilizou-se os conceitos de Michel Foucault, com seus fios de poder, saber, disciplina, sexualidade e discursos, o qual arrema- tou as “pinces” historiográficas e sociológicas. Vários sujeitos (advogados, juizes, promotores, réus, vítimas, testemunhas e literatos) participaram desta trama discursiva, cercando o feminino de vários significados: ora valorizando e enaltecendo o corpo familiar, ora mostrando quebra de valores e costumes, o que enriquece, ainda mais, a análise desta documentação. Os resultados permitem visualizar dois estereótipos femininos distinto: a mulher seduzida, sedimentada pelos discursos como ingênua, facilmente enganável, o “ser invertebrado”, e a mulher Sedutora (que emerge a partir das seduções da modernidade, como seus cabelos a La Garçonne, transcen- dendo o espaço privado para o público) a qual é sedimentada discursivamente como frívola, desonesta, um perigo para ao bem-estar da sociedade. As referências teórico-bibliográficas respaldam-se nas obras de Michel Foucault, e em artigos e livros que remontam os olhares para a análise da honra, moralidade, códigos jurídicos e que discutam representações culturais e antropológicas do corpo feminino: Margareth Rago, Sueann Caulfield, J. G. Peristiany, entre outros. Reler a história da mulher seridoense na primeira metade do século XX é tentar compreender as várias práticas culturais que cercavam esta cartografia corporal, que a .fez construir identidades plurais e afirmá-las ao longo das décadas a posterior. Palavras-chave: Sexualidade, Mulher e Representações Culturais. P42 UMA ETNOGRAFIA DO TRÂNSITO DA CIDADE DE SÃO LUÍS/MA José Wel l ington de Ol iveira Silva - Universidade Federal do Maranhão E-mail: silvajosew_17@yahoo.com.br O presente trabalho é fruto de pesquisa de campo feita na vias de tráfego de São Luís-MA entre os meses de novembro de 2005 e fevereiro de 2006. Para a sua realização adotamos como metodologia as observações diretas e, como referencial teórico, nos baseamos nos pensamentos de autores como Guillermo Giucci, Georg Simmel, entre outros e o estudo do Código de Trânsito Brasileiro, Lei nº. 9.503, de 23/09/97. O nosso objetivo foi identificar as manifestações predominantes entre condutores de automóveis e pedestres no trânsito na área urbana da cidade mencionada anteriormente. Dessa forma selecionamos pontos de observações que atenderam aos seguintes requisitos: as vias com maior movimentação e as com o maior número de acidentes de trânsito. Sendo assim, pretendemos apresentar os resultados da pesquisa citada que, nos mostrou que o trânsito, nas vias de São Luís, é caracterizado por momentos de conflito físico e político que se expressam através de xingamentos, buzinadas e gestos obscenos. Verificamos também momentos de sociabilidade amigável, como nos casos de paqueras e cumprimentos entre os condutores e os pedestres. Palavras-chaves: sociabilidade, trânsito, conflito G R U P O S D E T R A B A L H O S 51 GRUPOS DE TRABALHOS G R U P O S D E T R A B A LH O S 55 GT 0 1 - P O P U L AÇ Õ E S T R A D I C I O N A I S N O N O R D E S T E E L E S T E : O R G A N I Z AÇ ÃO S O C I A L , E C O N O M I A , E C O LO G I A DE CANAVIEIROS A POVOS TRADICIONAIS: IDENTIDADES EM TRANSFORMAÇÃO NO LITORAL SUL PERNAMBUCANO. Thereza Cristina Cardoso Menezes - Professor Adjunto I do Departamento de Antropologia da UFAM e Pesquisador PPGAS-Museu Nacional Este trabalho visa reconstituir o processo que permitiu grupos sociais anteriormente identificados como traba- lhadores rurais passassem a se identificar como pescadores e, recentemente, serem considerados “povos tradici- onais”. Serão examinadas comparativamente as trajetórias de pescadores que residem à cerca de 40 anos no estuário de Rio Formoso e das ilhas estuarinas de Barra de Sirinhaem, áreas do litoral sul pernambucano, situadas nas fronteiras de grandes plantações canavieiras. A partir do esforço comparativo pretende-se inscrever a adoção da nova identidade social tanto no processo de transformações da gestão da mão de obra na agroindústria canavieira, quanto em sua dinâmica de ocupação territorial. Busca-se ainda abordar a mudança de olhar sobre grupos e territórios em posição marginal perante as atividades que formam a base das economias regionais e a recente valorização de espaços preservados e grupos sociais que vivem de atividades voltadas ao uso de recursos naturais. Palavras-chave: populações tradicionais, meio ambiente, agroindústria O PROCESSO DE ORGANIZAÇÃO XUKURU NUM CONTEXTO DE RELAÇÕES INTERÉTNICAS Hosana Celi Oliveira e Santos (Universidade Federal de Pernambuco - hosanacel i@yahoo.com.br) O objetivo deste trabalho é tratar os Xukuru no contexto de relações interétnicas, tecendo, inicialmente, um esboço de como a antropologia vem discutindo a temática destas relações, para, em seguida, fazer uma retrospec- tiva histórica da organização desse povo, a partir dos trabalhos acadêmicos sobre esta etnia e da etnografia obtida através da pesquisa de campo. Os Xukuru do Ororubá são índios que habitam o Agreste de Pernambuco, na Serra do Ororubá, Pesqueira-PE. Vivem em 23 aldeias e 02 bairros de Pesqueira: Bairro “Xukuru” e “Caixa D’água”, onde o urbano e o rural se constitui como área fronteiriça. Para estabelecer as fronteiras do espaço- território, a regularização fundiária foi fundamental no acionamento da etnicidade, determinam as clivagens existentes entre o ser e o não ser Xukuru. (Metodologia) Viagens periódicas a campo que possibilitaram uma observação participante direta, e o registro de entrevistas e História de Vida, alem de material fotográfico. (Resul- tados e conclusões) A invisibilidade dos índios, e especificamente das mulheres enquanto sujeitos históricos de processos sociais e políticos é ainda atrelada a estereótipos, sendo suas sociedades muitas vezes vistas como realida- des estáticas, onde tudo se mantém inalterado e estável. Nos últimos anos, os povos indígenas, em especial o Xukuru, vêm se organizando e lutando por seus direitos, sobretudo o reconhecimento étnico enquanto povos diferenciados, resistindo através de manifestações míticas e da dança do Toré, expressando sua identidade e ocu- pando lugar no cenário político, obrigando-nos a rever a História, superar equívocos e omissões e a idéia errônea de uma homogeneidade cultural no Brasil. Palvaras-chaves: Organização Social, Relações Interétnicas, Territorialidade POVO TRUKÁ, TERRITORIALIDADE E MOVIMENTO INDÍGENA: DISCUTINDO ALGUNS ASPECTOS DA ECOLOGIA E DO SISTEMA POLÍTICO TRUKÁ FRENTE A PLANOS DE INTERVENÇÕES DO GOVERNO COM “PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO” Eliana de Barros Monteiro Universidade Federal de Pernambuco – PPGAS (antropiic@gmail.com) Este trabalho compõe uma das reflexões trazidas com o percurso que venho estabelecendo na pesquisa de mestrado. Tentando contribuir com as discussões sobre a atualidade do movimento indígena em Pernambuco, este trabalho procura apresentar alguns aspectos atuais do sistema organizativo Truká, povo indígena situado no sertão pernambucano, tendo como foco de observação a sua relação com o meio-ambiente e as expressões de sua territorialidade. Diante da problemática atual de planos de intervenções do Estado com “projetos de desenvolvi- 56 G R U P O S D E T R A B A L H O S mento” na área indígena Truká e no entorno desta região do submédio do rio São Francisco, podemos apontar como relevante o acionamento de sua identidade étnica, presente neste contexto de atuação política, de diálogo com o Estado, com agências de assessoria, e com vários segmentos dos movimentos sociais ligados as comunida- des ribeirinhas. É á partir deste ponto do debate, que se pretende apontar sobre a possibilidade de existência (ou de idealização desta existência) do exercício de novas formas de cidadania. Palavras-chaves: Povo Truká, Territorialidade, Ecologia, Projetos de Desenvolvimento. RESERVA EXTRATIVISTA: UM ESPAÇO PARA A ATUAÇÃO POLÍTICA DE MARISQUEIRAS EM DEFESA DO MEIO AMBIENTE. Amanda Braga de Melo Fadigas (Mestranda do Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente-PRODEMA. Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa, PB, Brasil.-amanda01d ir@gmail.com) ; Loreley Gomes Garcia (Professora Titular do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Professora Titular e Coorde- nadora do Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente-PRODEMA, Universidade Federal da Paraíba - João Pessoa, PB, Brasil. - loreleygg@gmail.com) A atuação das populações tradicionais na consolidação do Sistema Nacional de Unidade de Conservação vem se confirmando como um direito à convivência pacífica com o ambiente. Nesse contexto de sociedade e natureza as mulheres, através de sua organização social, podem assumir um papel diferenciado direcionando suas práticas citadinas em defesa do meio ambiente. Para essas mulheres caracterizadas como ‘população tradicional’ o siste- ma jurídico que tutela o ambiente em que estão inseridas repercute de forma preponderante em seus aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos, como nos casos em que são criadas as reservas extrativistas. Dessa forma, esse trabalho objetiva analisar, mediante uma metodologia participativa, a organização social das marisqueiras do distrito de Acaú (PB) e do município de Goiana (PE) e o papel desses grupos sociais no processo de criação da Reserva Extrativista Federal do estuário rios Goiana e Megaó. Para tanto foram selecionados como método de execução do projeto a pesquisa de documentos técnicos do IBAMA e das associações comunitárias referentes ao processo da resex; a realização de entrevistas abertas e semi-estruturadas com as informantes-chave (marisqueiras) e servidores federais envolvidos na criação da resex; e o acompanhamento das reuniões convocadas pelas associações comunitárias e/ou pelo IBAMA. Podem ser observados como resultados parciais que a participação (ou falta de participação) das marisqueiras tem se dado de forma independente do seu associativismo e que as marisqueiras ainda não percebem a resex como um campo de intervenção política em prol da realização de suas atividades econômicas extrativas e da conservação ambiental. Pode ser concluído, preliminarmente, que apesar das marisqueiras estarem organizadas em associações apenas algumas líderes têm se envolvido com a criação da resex, sendo que as demais marisqueiras demonstram falta de conhecimento adequado para participar do proces- so de forma ativa e legítima. Palavras-chave: marisqueiras, reserva extrativista, ecologia política. SUSTENTABILIDADE RURAL: “NOVAS” E “VELHAS” PRÁTICAS NA AGRICULTURA Tânia Mara dos Santos Bernardelli (tmbernardell i@yahoo.com.br) – Universidade Federal da Paraíba Este trabalho é o resultado de dois anos de pesquisa acadêmica que envolveu a comunidade rural do assentamen- to Padre Gino localizado no município de Sapé a 55 km da capital paraibana. A história destes produtores rurais, assim percebida, pode ser dividida em três momentos distintos: enquanto trabalhadores assalariados da zona rural produzindo alimentos através de técnicas convencionais; como assentados rurais iniciando o processo de conversão para a agroecologia e o atual marcado por uma remodelagem na maneira de se perceberem enquanto responsáveis pela preservação ambiental e conseqüentemente a continuidade de suas práticas. O assentamento fundado em 10 de dezembro de 1996, foi fruto de uma longa caminhada de lutas entre sem-terras, organizados pela CPT (Comissão Pastoral da Terra) e latifundiários locais, além do poder judiciário. Atualmente 62 famílias residem e desenvolvem a agricultura familiar no local, sendo que há cinco anos um grupo de 23 agricultores fez G R U P O S D E T R A B A LH O S 57 GT 0 1 - P O P U L AÇ Õ E S T R A D I C I O N A I S N O N O R D E S T E E L E S T E : O R G A N I Z AÇ ÃO S O C I A L , E C O N O M I A , E C O LO G I A a conversão para a agroecologia. Se no primeiro momento, este processo se deu na tentativa de persistir na produção, ou seja, como estratégia de sobrevivência, enquanto muitos não resistiram, por falta de incentivos técnicos e financeiros para a pequena produção, ele contribuiu diretamente para as transformações socioculturais destes produtores. Com a adesão ao sistema agroecológico, houve alterações nas formas de organizações social e econômica do assentamento. Estas transformações encontram-se presentes em vários aspectos da vida dos agri- cultores que vai desde a busca por uma organização política mais sólida e autônoma até a melhoria na qualidade de vida passando por uma nova percepção ambiental e um novo relacionamento com a natureza, através de uma agricultura ecológica. Palavras-chaves: Agricultura Familiar; Agroecologia; Auto-Sustentabilidade. UM OLHAR ETNOECOLÓGICO SOBRE A SITUAÇÃO SOCIOAMBIENTAL NA BARRA DO RIO PARAGUAÇU (BA). Juliana Lima Spinola (jujuspp@yahoo.com.br; Instituto Mamíferos Aquáticos) O estudo versa sobre as percepções e interações ecológicas em duas comunidades ribeirinhas, Barra do Paraguaçu e Cairu, da região estuarina do Rio Paraguaçu (BA). Ambas as comunidades sobrevivem da extração de recursos pesqueiros, esta área têm sofrido diversas transformações socioambientais nos últimos anos, inclusive por inter- venções empresariais. Foram utilizadas as técnicas de observação participante e entrevistas semi-estruturadas, na elucidação de práticas e conhecimentos tradicionais no uso dos recursos pesqueiros bem como da percepção socioambiental dos informantes. Os resultados preliminares demonstram que, geralmente, os artefatos utiliza- dos para extrair os recursos são tradicionais e a produção é de pequena escala, os pescados incluem peixes, moluscos e crustáceos que são utilizados na alimentação ou vendidos para atravessadores. A maioria dos entre- vistados revela que a abundância e diversidade de pescados têm diminuído bastante, alguns já não são encontra- dos na área a exemplo do peixe mero, o sururu de velha e as lagostas, e que outros como cações e os siris diminuíram muito. Alguns relatam que o advento do “nylon” na confecção dos artefatos de pesca aumentou bastante o potencial de captura e que a chegada da energia elétrica e das estradas nas comunidades teria permi- tido o armazenamento e maior escoamento da produção, aumentando a pressão sobre os recursos. No entanto, muitos informantes relatam que o número de pescadores e mariscadeiras locais não aumentou, e sim o esforço de pesca destes. Muitos relatos também apontam as intervenções da empresa Petrobrás na área bem como a ativação da barragem de Pedra do Cavalo, localizada no Rio Paraguaçu a montante da área de estudo, como marcos históricos e responsáveis pelas grandes mudanças ambientais locais. Palavras Chave: percepção ecológica, transformações sociambientais, recursos pesqueiros. 60 G R U P O S D E T R A B A L H O S DAS BIOGRAFIAS ESTANDARDIZADAS ÀS BIOGRAFIAS DE ESCOLHA: DESENVOLVIMENTOS TEÓRICOS DA SOCIOLOGIA DA JUVENTUDE Nilda Stecanela – Universidade de Caxias do Sul – Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (nildastecanela@terra.com.br) Pedro de Moura Ferreira – Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (pmferreira@ics.ul.pt) Este texto pretende explorar os universos conceituais em que se tem movido a sociologia da juventude. O ponto de partida radica na proposição dominante segundo a qual se assiste hoje a uma mudança de paradigma. Sob a individualização, a modernidade e a desagregação das forças do mercado, a experiência juvenil deixa de ser vista como um destino de classe e passa a pautar-se por trajetórias individuais e incertas Às biografias estandardizadas sucedem-se as biografias de escolha. Esta mudança de paradigma é diferentemente captada pelas duas perspecti- vas teóricas que mais marcam a sociologia da juventude — a perspectiva da transição e a da cultura juvenil. A reflexão revê e problematiza de que forma essas duas perspectivas equacionam a mudança em curso a partir dos conceitos que propõem desenvolver. Interroga a sua adequação à diversidade das experiências juvenis na contemporaneidade, tanto em contextos locais como globais. Palavras-chave: biografias estandardizadas – biografias de escolha – transições incertas – subculturas juvenis DE MULEQUES E BACURIS: REFLEXÕES SOBRE SEXUALIDADE E JUVENTUDE ENTRE MENINOS E MENINAS EM SITUAÇÃO DE RUA. Priscila Pinto Calaf. Email: priscilacalaf@gmail.com. Universidade de Brasília, UnB. Discorrer sobre os papéis da sexualidade nas representações identitárias de um grupo específico de meninos e meninas em situação de rua de Brasília (pessoas entre 9 e 18 anos) é a proposta principal deste trabalho. Neste contexto, busco demonstrar como a disposição ativa para o sexo é fator fundamental na construção das identida- des masculinas deste grupo, enquanto a sexualidade feminina, não somente atrelada ao desejo e ao prestígio masculinos, é também responsável pelo respeito dentro do grupo, e para além dele quando a maternidade traz em seu bojo a entrada definitiva para o “mundo adulto”. Mais do que isto, proponho percorrer os caminhos pelos quais estes sujeitos (re)constróem-se identitariamente como não necessariamente tutelados, utilizando-se para tanto, e entre outras coisas, da sexualidade e do respeito. Assim, busco demonstrar como os conceitos de infância e adolescência são ressignificados por estes meninos e meninas, tendo como aporte tanto categorias jurídicas (ser “de menor” por não ir para a cadeia, e sim para o centro de atendimento juvenil) quanto proposi- ções concernentes à atividade sexual. Daí, procuro dar ênfase às categorias nativas muleque e bacuri, que se tornam mais elucidativas das relações geracionais e do que a antropologia chamaria infância e juventude. Novas maneiras de pensar a juventude são engendradas na e pela rua, e é delas que este artigo procura tratar. Palavras-chave: sexualidade, identidade, juventude. DELINQUÊNCIA JUVENIL: REINSERÇÃO SOCIAL OU INSTITUCIONALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA? Valmir Tibúrcio Cavalcante - UFPE - FCRC (vteburcio@hotmail.com, vteburcio@ig.com.br) Este trabalho tem como objetivo interpretar o cotidiano de uma instituição de controle social para adolescentes infratores a partir da relação entre as estratégias de controle institucional (controle formal) e suas práticas cotidianas (controle informal). Inspirado na teoria do cotidiano de Michel de Certeau pude constatar que as relações de poder no cotidiano da instituição de que falo são “fabricadas” a partir do uso de estratégicas e táticas por parte do grupo de controle – direção e instrutores educacionais, bem como por parte do grupo controlado – os adolescentes. Na coleta e análise dos dados, privilegiamos os pressupostos da pesquisa qualitativa, inspirado nos recursos da etnografia. A análise da realidade observada apontou para uma série de concessões recíprocas nas relações de poder institucional, fato que nos levou a observar uma discrepância entre o discurso oficial e o que efetivamente a instituição pratica em seu cotidiano. No cotidiano da instituição em questão, as relações de G R U P O S D E T R A B A LH O S 61 G T 0 2 - J U V E N T U D E , C O T I D I A N O E S U B J E T I V I D A D E poder são “inventadas”, fabricadas de diversas maneiras, operacionalizadas em ações que favorecem a institucionalização da violência nas instituições ditas ressocializadoras de adolescentes infratores. Palavras-chave: Controle social, resistência, delinqüência juvenil. ESTILO JUVENTUDE: O CASO DO TRABALHO VOLUNTÁRIO JOVEM Andréa Freitas da Silva – UERJ (andréa_freitas@yahoo.com.br ou andreafreitasilva@gmail.com) O artigo aborda a importância do conceito de solidariedade na construção da identidade de jovens voluntários. A pesquisa foi empreendida com jovens que optaram pelo engajamento em movimentos sociais e que se consi- deram parte da solução e não dos problemas da sociedade. A rotina no contexto de uma ONG, que conta com um grupo de voluntários com idades entre 15 e 24, anos permitiu que as especificidades do grupo fossem observadas mais amiúde. As categorias dádiva, cidadania e solidariedade são os eixos estruturantes do artigo, pois são consideradas pelo grupo como tal em sua relação com outros grupos de jovens. De que forma os jovens que buscam a instituição vivenciam o conceito de solidariedade? Quais são as suas propostas para intervir na sociedade? Enfim, porque alguns insistem em continuar a atuar como voluntários quando seus responsáveis prefeririam que não estivessem envolvidos com esta atividade? Partindo destes questionamentos, estabeleceu-se diálogo rico com os jovens voluntários da instituição acerca de seus objetivos, anseios e problemas para continu- ar com seus projetos. Palavras-chaves: voluntariado; juventude; movimentos sociais. FILHOS NO MUNDO: MOBILIDADE ESPACIAL E JUVENTUDE ENTRE PEQUENOS PRODUTORES RURAIS NO SUDESTE DO PARÁ Gil Almeida Felix Mestre em Antropologia (UFF); professor assistente no Instituto Superior Bilíngüe de Educação - Instituto Nacional de Educação de Surdos (ISBE/INES). (gilalmeidax@gmail.com Este trabalho é baseado numa pesquisa realizada em um Projeto de Assentamento no sudeste do estado do Pará, em 2005, e se insere numa análise que venho realizando acerca das condições para a constituição e para a reprodu- ção social de um conjunto de pequenos produtores e trabalhadores rurais cujo percurso dos chefes de família e de seus filhos e filhas se caracteriza pelo deslocamento de outros estados do país ou mesmo entre uma série de localidades circunvizinhas. Naquele momento, observei que certas experiências e constrições encontradas por esses trabalhadores contextualizaram a reprodução de ciclos de vida pautados por intensos deslocamentos espa- ciais intra e inter-regionais e por dinâmicos processos de constituição familiar e doméstica. Processos estes que estão relacionados a aspectos de idade, gênero, relações com os demais familiares, posição na família e situação econômica dos núcleos familiares, dentre outros fatores. Neste trabalho, entretanto, abordo as condições estabelecidas para tais deslocamentos tendo como referência a noção de “estar no mundo”, comumente utilizada no contexto em questão para designar os deslocamentos espaciais e sociais feitos por parcela considerável de filhos dos pequenos produtores rurais. Os filhos homens “no mundo” eram aqueles que deixaram a casa dos pais entre 13 e 25 anos e que, geralmente, tinham paradeiro incerto há anos. No caso das mulheres, cujos desloca- mentos não eram tidos pelos pais como previsíveis – ou até mesmo esperados – como os dos homens, tais deslocamentos relacionavam-se a concepções de desacordo e/ou de exceção e elas eram mencionadas, por exemplo, como filhas que “fugiram”. Neste sentido, analiso de que maneira estes fatos estão relacionados a uma determinada construção de pessoa, quer dizer, a uma referência de valor, associando, de um lado, casamento– terra–família e solteiridade–juventude–mundo–assalariamento–fazendas, de outro. Palavras-chave: Mobilidade Espacial, Juventude, Campesinato, Amazônia Oriental. 62 G R U P O S D E T R A B A L H O S FOUCAULT, A GENEALOGIA E O ADOLESCENTE SUJEITO DE PRÁTICAS DISCURSIVAS E INSTITUCIONAIS Marcelo da Silveira Campos - Mestrando em Ciência Política pela UNICAMP Este trabalho busca mostrar de que forma Foucault, através do ‘resgate’ do método genealógico nietzschiano, compreende o conhecimento, não mais como uma busca pela verdade dos fatos; nem o conhecimento possuin- do uma identidade homogênea com a realidade. Mas sim, como uma relação de saber-poder, que é constante- mente reinventado, conforme as articulações que assumem no interior das disposições históricas. É nesta rela- ção de saber-poder que circunda o adolescente como sujeito de práticas discursivas e institucionais, resultado de relações de força e estratégias de dominação, que procuraremos relacionar estes autores e a problemática do adolescente, analisando de que modo estes elementos emergem num tema tão debatido em nossa sociedade: a redução da maioridade penal e às propostas de emenda à constituição que tramitam na Câmara dos Deputados (PEC´S). Palavras Chaves: Foucault; Genealogia; Maioridade Penal FRONTEIRAS SIMBÓLICAS E FORMAS DE SOCIABILIDADE: SEMELHANÇAS E DESSEMELHANÇAS JUVENIS NO BAIRRO DE TAMBAÚ, JOÃO PESSOA – PB. Anne Gabriele Lima Sousa – (Doutoranda PPGS/UFPE - annejpa@hotmail.com) Este trabalho, que culminou na dissertação de mestrado “Olhares que se cruzam, fronteiras que se erguem. A sociabilidade em Tambaú – João Pessoa, PB”, lança o olhar para o comportamento social contemporâneo, através da percepção dos sistemas classificatórios responsáveis pela construção de fronteiras simbólicas no cotidiano de Tambaú, bairro nobre e de grande visibilidade, maior destino de lazer diurno e noturno dos jovens na cidade de João Pessoa, PB. As relações estabelecidas pelos diferentes grupos que participam do campo de sociabilidade plural do qual Tambaú é palco, são percebidas a partir dos processos de diferenciação social e da adoção de elementos simbólicos responsáveis pela inclusão ou exclusão dos jovens nos círculos sociais que permeiam seus espaços de pertencimento. A partir de observações sobre sua dinâmica social e das narrativas de seus freqüentadores, Tambaú é apresentado a partir dos diferentes estilos de vida que se revelam no seu interior, manifestando valores, reafirmando identidades e reforçando habitus inerentes a trajetórias culturais específicas. As escolhas e os diferentes papéis assumidos pelos jovens em seu interior levam à relativização de valores, realçados ou disfarçados de acordo com a posição ocupada pelo outro, o grupo em situação de concorrência ou ameaça simbólica à identificação dos freqüentadores em suas respectivas redes de sociabilidade. Palavras-chaves: Identidade, Sociabilidade, Fronteiras simbólicas. IMAGENS FOTOGRÁFICAS REVELANDO VIVÊNCIAS JUVENIS FEMININAS Sueli Salva – doutoranda no PPGEDU-UFRGS, em estagio no exterior, f inanciado pela CAPES. (susalva@cpovo.net) Nosso universo cultural é fortemente marcado pelas imagens, elas comunicam, de modo pouco inocente, senti- dos do mundo e, a partir desses sentidos, também inventam um mundo. De acordo com alguns teóricos, a imagem de si, produzida através da fotografia pode ser considerada uma forma de invenção de si. Esse principio está orientado com base, principalmente, em dois pressupostos: o de que a vida é inventada, e sem essa invenção ela não existiria (SOUZA, et. al. 2001); e o status de arte biográfica por excelência conferida a fotografia. (ARFUCH, 2002). Desse modo, este trabalho tem por objetivo refletir acerca da construção de identidades culturais produzidas através de fotografias, realizadas por jovens mulheres de periferia urbana de Porto Alegre. As imagens foram incluídas como forma de análise ao perceber que estas fazem parte da cultura, como diz Bourdieu (2003) é a arte mais acessível à classe popular e em especial para as jovens mulheres. Esta reflexão surge durante o desenvolvimento de estudos de doutorado, cuja temática são as vivências cotidianas de jovens mulheres de periferia urbana, a qual utiliza como um dos métodos de produção de dados, narrativas autobiográficas escritas em diários. De modo espontâneo, as jovens compõem narrativas entremeando texto, imagens, símbolos e códi- G R U P O S D E T R A B A LH O S 65 G T 0 2 - J U V E N T U D E , C O T I D I A N O E S U B J E T I V I D A D E “SOM DE MACHO”: UMA REFLEXÃO SOBRE IDENTIDADE, MASCULINIDADE E ALTERIDADE ENTRE OS “HEADBANGERS” Leonardo Turchi Pacheco - Universidade Federal de Minas Gerais (eonardoturchi@yahoo.com.br) “Os Headbangers”, “os metaleiros”, “os camisas pretas” são designações para um mesmo grupo urbano que é formado na sua maioria por jovens do sexo masculino e que se caracteriza por compartilhar a mesma estética musical – o Heavy Metal – e os mesmos códigos culturais relativos a essa forma de expressão. Partindo da análise das entrevistas, das reportagens e cartas de leitores contidas nas três maiores publicações nacionais do estilo – as revistas Rock Brigade, Road Crew e Valhalla –, esse trabalho tem como proposta fazer uma reflexão sobre os códigos culturais dos “Headbangers” enfocando as relações existentes entre a construção de identidade, a masculinidade e a percepção da alteridade. Palavras-Chave: Tribos Urbanas, Masculinidade, Identidade “UM JOVEM DIFERENTE”? ANOTAÇÕES SOBRE JUVENTUDE E VÍNCULO RELIGIOSO PENTECOSTAL, EM RECIFE - PE Maria de Fátima Paz Alves - Aluna do PPGA Antropologia/UFPE (fatimapalves@hotmail.com) Ser um/uma jovem pentecostal da Assembléia de Deus não é algo que pode ser apreendido de modo unívoco, observando-se diferenciações em função de diversas situações e contextos de vida. Num amplo sentido, podem ser concebidos/as enquanto pessoas e grupos que não obstante terem por base identitária uma distinção, vivem numa sociedade que, principalmente nos dias atuais, coloca em cheque esta distinção, podendo-se observar uma tensão entre “igreja e mundo” ao refletirmos sobre as vivências e representações destes/as jovens. No trabalho nos atemos ao que significa e em que implica ser um/uma jovem assembleiano/a - a partir de análise de dados provenientes de entrevistas e observação participante com jovens e adultos desta denominação, em Recife/PE – focalizando vários aspectos da vida deste/a, entre os quais: vivência familiar, sociabilidade, vida afetiva e sexual. Centramos a análise naquele/a jovem que em princípio segue os preceitos da denominação, estando atenta aos desvios e suas motivações assim como as estratégias utilizadas pelos/as jovens ao lidar com as normas, o contex- to em que estas se configuram e os capitais sociais em jogo neste contexto. A vivência da juventude e sua relação com o pertencimento a uma determinada denominação, o modo como se constrói e vivencia um determinado ethos, representam o fulcro central do trabalho. Palavras-chave: Jovem, pentecostal, distinção. 66 G R U P O S D E T R A B A L H O S GT 03 MEMÓRIA, PATRIMÔNIO, CULTURA E PODER, NA SOCIEDADE DO ESQUECIMENTO A ARQUITETURA DO SAGRADO REPRESENTADA NA IGREJA DE NOSSA SENHORA DO SOCORRO, EM TOMAR DO GERU-SE. Ane Luíse Silva Mecenas (UFS – anemecenas@yahoo.com.br); Magno Francisco de Jesus Santos (UFS - cajaibasergipe@yahoo.com.br) O período colonial brasileiro é marcado pelas concepções européias tanto no campo político, econômico e religi- oso. Após a conquista do Novo Mundo houve a necessidade de “construir” uma sociedade civilizada, pautada nos dogmas cristãos. Nessa nova empreitada de construção de uma civilização no “paraíso” mergulhado no pecado, os padres necessitam edificar sua moradia, bem como os templos. Como o ser humano produz o que está de acordo com seus interesses e suas concepções ideológicas, o objetivo desse estudo é identificar a mentalidade jesuítica através do legado arquitetônico. Dentre as construções jesuíticas edificadas na Capitania de Sergipe, foi utilizada como exemplo a Igreja de Nossa Senhora do Socorro, fruto da atuação dos padres na antiga aldeia do Geru. O templo responsável pela evocação da fé atendia de forma direta os objetivos da evangelização. A funcionalidade da Igreja como local de ligação dos fiéis aos céus ainda hoje é perceptível pelos seus elementos de decoração. Ao adentrar na capela-mor, a composição teatral dos objetos é capaz de confundir o real com a fantasia. É como se aquele local servisse de passagem e estivesse mais próximo do mundo habitado por anjos, arcanjos e santos. A igreja é um bem cultural inserida nos livros de Tombo Federal, no Livro Histórico e no Livro Belas Artes. Palavras-chave: arquitetura, jesuítas, Tomar do Geru. A PINTURA ESQUECIDA E AS SANDÁLIAS ROUBADAS: MEMÓRIA, PROPRIEDADE, E AS ANTINOMIAS DO PATRIMÔNIO IMATERIAL INDÍGENA Marcela Coelho de Souza - Departamento de Antropologia/UnB (macoelhosouza@terra.com.br) Esta comunicação pretende esboçar uma etnografia da experiência dos Kisêdjê (Parque Indígena do Xingu, MT) com a cessão contratual de padrões gráficos de pintura corporal para uso em uma conhecida linha de sandálias, em um acordo que envolveu também sua participação direta e proeminente no marketing do produto. Um discurso insistente de “perda” ou “esquecimento” da “cultura”, e de forte afirmação de “direitos” sobre aqueles aspectos que percebem capazes de suscitar o interesse alheio (grafismos e música, neste caso), forma o pano de fundo dessa experiência, bem como de um certo interesse, crescente, pelas formas de “proteção” e de “revitalização” da “cultura” oferecidas por políticas públicas (como a do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, entre outras) ou iniciativas privadas. Entretanto, como a etnografia da experiência com as sandálias roubadas e a pintura esquecida (e lembrada) pretende mostrar, os modos da memória e as formas de propriedade (de apropri- ação e circulação) constitutivos da experiência e ação indígena não se traduzem para os termos das noções de patrimônio cultural imaterial e de propriedade intelectual que pautam essas políticas e iniciativas senão com muitas dificuldades — e às custas de muitos mal-entendidos. Delinear os equívocos constitutivos dessas experiên- cias, e explorar suas potenciais implicações não só para o presente debate sobre patrimônios e diversidade culturais, como também para a própria imagem do conhecimento antropólogico sustentada por nossa disciplina (por meio de seu/s conceito/s de cultura), é um objetivo desta comunicação. Palavras-chave: patrimônio cultural; sociedades indígenas; propriedade intelectual G R U P O S D E T R A B A LH O S 67 GT 03 - M E M Ó R I A , PAT R I M Ô N I O, C U LT U R A E P O D E R , N A S O C I E D A D E D O E S Q U E C I M E N TO A PROPÓSITO DE PATRIMÔNIOS IMATERIAIS: CONSIDERAÇÕES ANTROPOLÓGICAS ACERCA DO RECONHECIMENTO DO JONGO COMO ‘PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO’ Wilson Rogério Penteado Júnior - UNICAMP (penteadowjr@yahoo.com.br) Nos últimos anos no Brasil, a discussão acerca de patrimônios imateriais tem obtido evidente atenção do Estado, de antropólogos e historiadores na condição de pesquisadores, bem como de Ongs e produtores de determina- das práticas sócio-culturais evidenciadas como dignas de se tornarem patrimônio nacional. Neste processo, como se sabe, tais práticas revestidas de um valor distintivo são colocadas como construtos a edificar a nação enquanto entidade total e coerente, configurando o que deveria ser a ‘cultura brasileira’ que, por sua vez, evoca uma série de outras ‘verdades transcendentes’ como a ‘tradição’, a ‘cultura popular’ e a ‘civilização’. Minha pesquisa de doutoramento parte desta discussão para analisar o reconhecimento do jongo – uma dança ritual que evoca a memória escrava no Brasil – pelo IPHAN, em 2005, como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Com base em dados colhidos em trabalho de campo com comunidades jongueiras do sudeste brasileiro (RJ e SP), com Ongs relacionadas a tais comunidades e com base numa leitura minuciosa do material produzido pelo IPHAN referente ao processo de reconhecimento do jongo como patrimônio imaterial, exporei aqui as questões que emergem do discurso de preservação do jongo e, especificamente, como as comunidades jongueiras orques- tram localmente tal discurso. A ênfase dada neste estudo, portanto, recai sobre os sujeitos produtores do jongo; entender suas concepções e propósitos de atuação neste contexto. Palavras-chaves: Patrimônio Imaterial; Narrativas Nacionais; Comunidades Jongueiras. ARTE CHOKWE: DE MEDIADOR NA TRANSMISSÃO DE CONHECIMENTO A MERCADORIA E SÍMBOLO ÉTNICO E NACIONAL Maria Paula Fernandes Adinolfi – Doutoranda Universidade Federal da Bahia (paulaad inolfi@yahoo.com) Este trabalho parte da reflexão sobre o papel mediador que assumem a produção, uso e circulação de objetos e símbolos (como esculturas, máscaras, desenhos na areia e pinturas murais) no processo de transmissão oral do conhecimento aos jovens do povo Chokwe, no nordeste de Angola, como parte importante de sua socialização e conformação de sua identidade étnica. A par de seus usos e sentidos originários, a estes objetos foram agrega- dos outros significados, desde sua incorporação ao acervo do Museu do Dundo, criado em 1936 pela Compa- nhia de Diamantes de Angola, que explorava as ricas jazidas da área. Sua proposta museológica, inserida na lógica colonial, pautou-se na “reconstrução” da vida nativa, empregando chefes locais como guias, patrocinando a produção de objetos “tradicionais” (contratando escultores e ferreiros como funcionários) e promovendo festivais folclóricos que buscavam domesticar práticas culturais e sociais vitais, transformando-as em entreteni- mento. A descontextualização e musealização de objetos africanos eficazes (produtores de sentidos e efeitos sociais) os convertem, via de regra, em objetos fossilizados, através de um processo que alguns autores têm descrito como “violência museal”, redundando na invenção ocidental da “arte primitiva” ou da “arte africana”. Pretende-se assim compreender a dinâmica destes objetos na atualidade, analisando as tensões resultantes da confrontação de seus usos e sentidos originários com aqueles que incorporaram enquanto “arte africana”, inseridos em um mercado internacional de arte e patrimonializados e exibidos como símbolos identitários pelo Estado nacional. Palavras-chave: arte africana; musealização; povo Chokwe (Angola) AS MARCAS DA ALMA REFLEXÕES ACERCA DE UM GRUPO DE PENITENTES DO CARIRI CEARENSE Otilia Aparecida Silva Souza - Mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará. Professora da Universidade Regional do Cariri – URCA (e-mail: otil iaa15@yahoo.com.br / otil iaa@urca.br A proposta deste trabalho é analisar as práticas de autoflagelação vivenciadas por um grupo de penitentes no município de Barbalha – CE. Essa abordagem compreende a penitência como uma herança cultural que resiste 70 G R U P O S D E T R A B A L H O S agregam o Patrimônio Cultural com a chamada Globalização Popular, acarretando influências que se retro- alimentam e agem na construção de múltiplas identidades e nas apropriações particulares feitas pelos consumi- dores em relação a estilos de vida, alimentação, vestuário e design de interiores. Nesse sentido, o “patrimônio” será refletido em termos etnográficos, a partir de elementos sócio-culturais que estão presentes nos discursos e ações dos interlocutores; estejam estes elementos “patrimonializados” ou apenas circulando no cotidiano do comércio informal ou em celebrações religiosas. Através de pesquisa de campo, observação direta, participação em eventos e rituais, entrevistas abertas e da coleta e análise de notícias e dados quantitativos, pretendo refletir acerca da memória social destes migrantes, que conseguem tornar visíveis determinados pleitos através de diferentes agenciamentos de suas heranças culturais e com isso adquirem distinções e acúmulo de capital político e simbólico dentro de um universo social onde são minoria étnica. Vale salientar que o governo não tem interesse em dar visibilidade a estes migrantes, visto que eles são protagonistas em redes de comércio informal que não se adaptam aos interesses burocráticos de um estado nacional neoliberal. Por fim, o estudo problematiza a necessidade de políticas públicas que considerem as interseções transnacionais e percebam cidadãos e patrimônios desterritorializados não como problemas, mas como fatores aliados no desafio de com- preender e cooperar em mundo no qual o diálogo entre as culturas pode se desdobrar em estratégias para o desenvolvimento. Palavras-chaves: Migrantes chineses, Patrimônio Cultural em Contextos Transnacionais, Memória Social PATRIMÔNIO IMATERIAL E ETNICIDADE: COMO PENSAR OS CIGANOS? Erisvelton Sávio Silva de Melo - Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Antropologia - PPGA/ Universidade Federal de Pernambuco - UFPE (E-mail: saviocigzap@hotmail.com) O texto versa sobre a construção da identidade cigana, a partir da auto-atribuição e atribuição pelos não-perten- centes, na cidade do Recife-PE, pesquisa motivada a partir de um questionamento duplo: “Há ciganos na região metropolitana do Recife? Como é perceptível dentro do quadro de patrimônio a sua presença?”. Essa indagação tornou-se pertinente, fomentando uma discussão teórico-metodológica sobre identidade étnica e etnicidade com as argumentações a respeito de quem são estes ciganos, e como são retratados, visto abargarem em si todo um legado constitutivo de patrimônio imaterial, enquanto grupo étnico “tradicional”. Portanto, é proposto debater aspectos de interface da identidade como resultado de um legado patrimonial advindo dos contatos interétnicos. A metodologia empregada se deu com observações diretas com grupos ciganos e em locais onde são realizadas festas, registros no diário de campo e entrevistas. Para tanto, a memória foi um fator determinante na composi- ção da identidade e, respectivamente, no constructo patrimonial, partindo sempre da teia de relações do imagi- nário sobre os ciganos e seu possível nomadismo. Palavras-Chaves: Grupo Étnico, Ciganos, Memória. PATRIMÔNIO IMATERIAL E MUDANÇA SOCIAL: AS PANELEIRAS E SUAS FORMAS Carla da Costa Dias (PUC-RIO; LACED/MN/UFRJ - cd ias@rdc.puc-rio.br; carcd ias@hotmail.com ) Pretendo neste trabalho, analisar as mudanças expressas em inovações no repertório das formas a partir da análise do sistema de circulação no qual os objetos produzidos pelas Paneleiras de Goiabeiras estão inseridos. Estamos falando de objetos materiais de cultura que chamamos de tradicionais; pois originalmente eram feitos para consumo local de um grupo restrito de pessoas, mas que no correr do tempo, foi dinamicamente sendo transformado num símbolo regional reconhecido, porque consumido, em várias partes do território nacional, principalmente pelo reconhecimento atribuído pelo registro no Livro dos Saberes/IPHAN, em 2002. O estudo destes objetos é fundamental que se pense como as questões se modificaram no tempo; como a panela que antes era produzida domesticamente para consumo “privado”, torna-se um objeto público, consumido como recipien- te onde é preparada e servida a “tradicional moqueca capixaba”, prato característico da região, e exposto como objeto de artesanato popular em feiras e museus nos grandes centros urbanos. Desta maneira, tentaremos mostrar, que o modo como lidam com a mudança tem sido incorporando novos significados à sua prática, à sua G R U P O S D E T R A B A LH O S 71 GT 03 - M E M Ó R I A , PAT R I M Ô N I O, C U LT U R A E P O D E R , N A S O C I E D A D E D O E S Q U E C I M E N TO organização e conseqüentemente ao objeto que simboliza seu pertencimento e articulação com os demais seg- mentos da sociedade. Portanto, o processo de mudança é bastante complexo, pela dinâmica que comporta múltiplas trajetórias, cada qual com respostas diferenciadas, na medida em que as mulheres dele participam como receptoras e emissoras de ações e representações. Estas questões serão exploradas no contexto da mudança que isto trouxe para as mulheres ou melhor na forma como elas operam as mudanças no contexto da produção e as conseqüências no ambiente doméstico. Como manipulam as novas regras do mercado e com presença institucional através de órgãos públicos e de organizações não-governamentais, onde estabelecem relações de reciprocidade. Palavras-chaves: cultura material, patrimônio imaterial; identidade SACO DO RIBEIRO POVOADO DE ITABAIANA: MEMÓRIA E PODER NA CRIAÇÃO DO DISTRITO DE PAZ (1927). Tatiane Oliveira da Cunha. Professora da Rede Estadual em Sergipe e da Rede Municipal em Ribeirópol is (SE). Graduada em História (UFS) e Pós-graduanda do curso de Especial ização em Ciências da Rel igião (UFS) (tatyocunha@ig.com.br.) Saco do Ribeiro até 18 de dezembro de 1933 pertencia ao municipio de Itabaiana-SE. Nosso objetivo nessa pesquisa é compreender o uso da memória e das relações de poder durante a instalação do Distrito de Paz. Priorizamos como principal documento de análise o discurso do Juiz de direito Gervásio de Carvalho Prata proferido por ocasião da solenidade de instalação do distrito de paz de “Saco do Ribeiro” da Comarca de Itabaiana em 1927. A partir desse discurso apreendemos como se processou a instalação desse distrito de paz, quais as pessoas que fizeram parte e, sobretudo, as opiniões a cerca dos motivos para tal acontecimento. O juiz Prata deixou-nos pistas a cerca do entendimento de que a ocasião dessa solenidade era momento de mencionar o desenvolvimento dessa localidade chamada “Saco do Ribeiro” e, sobretudo, de relembrar o nome do padre Vicente Francisco de Jesus, um ex-pároco de Itabaiana. Seu discurso enfatiza, assim, a existência de um “benfei- tor” esquecido por todos. Na reflexão do porquê dessa memória de um “esquecido” encontramos interesses de um grupo político e, sobretudo, a tentativa de superação de (res)sentimentos individuais, conforme as vicissitu- des dos acontecimentos ocorridos desde o ano de 1916, quando em Itabaiana o padre Vicente era perseguido pelo coronel José Sebrão de Carvalho. Palavras-chave: Memória, Poder, Distrito de Paz. SHAN-DANY: “ASSIM FAZEMOS CONHECER A NOSSA CULTURA” Carmen Lúcia Silva Lima (UFPE – carmensllucia@gmail.com) Através do Programa para el Desarrollo de la Función Educativa de los Museos (PRODEFEN), na década de 1980, o México tornou-se, mundialmente, uma das mais importantes sedes de produção da museologia comunitária. Localizado neste país, o Museu Shan-Dany é produto do esforço coletivo dos indígenas habitantes de Santa Ana del Valle, em Oaxaca. Contando com o apoio do Instituto Nacional de Antropologia e História - INAH, eles são os protagonistas deste museu. Empenhados na valorização e divulgação de sua cultura, atuaram no processo da idealização do projeto, na doação dos objetos, na coleta das informações, na montagem da exposição e na manutenção e administração do espaço físico. A partir do estudo deste caso, é possível constatar que os museus comunitários surgem fundamentados em ideais de afirmação da identidade, pautados no envolvimento social e em novas formas de interpretar o patrimônio e seu uso. Estamos, portanto, diante de uma nova configuração para a museologia. Palavras-chaves: Museu Comunitário, cultura e identidade indígena 72 G R U P O S D E T R A B A L H O S GT 04 SEXUALIDADES, CULTURA E IDENTIDADE A FIGURA DO ANORMAL NA MIRA DO SINÓPTICO: A CONSTITUIÇÃO DISCURSIVA DE SUBJETIVIDADES NA MÍDIA Marluce Pereira da Silva (PPGEL/UFRN)marlucepereira@uol.com.br Cássio Eduardo Serafim (UFRN/SEC)cassioserafim@ig.com.br Neste trabalho, problematiza-se a constituição de subjetividades veiculadas pela mídia, cujas imagens apresentam modelos para a construção de novos sujeitos. A partir da utilização de algumas ferramentas conceituais foucaultianas, como as noções de masturbação, anomalia e técnica da confissão, associadas a estudos voltados para sexualidade, erotismo e mídia, tenciona-se trazer algumas questões que conduzam a pensar como a cultura da confissão, tão fortemente acionada pela mídia, constitui tipos de identidades e a refletir sobre quais interditos discursivos recebem os confessados diante dos mecanismos de poder (FOUCAULT, 1979) exercidos pelos confessores, pelos que editam e pelos que traduzem os discursos que perpassam tais confissões. Toma-se um dos depoimentos apresentados ao final de cada capítulo da telenovela Páginas da Vida, exibida pela TV GLOBO em 2006. Os depoimentos eram de pessoas que procuravam, face a processos de vitimização de algum mal, apresentar soluções que foram encontradas no seu enfrentamento. Partindo da premissa de que a linguagem desempenha um papel social e constitutivo ao construir e refletir realidades sociais, examina-se a materialidade lingüístico-discursiva do depoimento selecionado, a fim de apreender os efeitos de sentido que poderiam construir um dos primeiros sinais de anormalidade. Palavras-chave: subjetividades, confissão, relações de poder. A (IN)EXISTÊNCIA DA DIVERSIDADE SEXUAL NAS ESCOLAS Zenilton Gondim Silva (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – zengsilva@hotmail.com) A sexualidade é palco de discussões nas escolas. Este tema torna-se oficial quando o ministério da Educação (MEC) o inclui nos seus Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) – Temas Transversais – sob o título de Orientação Sexual. Diante deste fato surgem indagações a respeito de como as escolas vêm abordando a diversi- dade sexual. Com a contribuição dos estudos foucaultianos aplicados às Ciências Sociais e Humanas (Antropo- logia, Sociologia, Pedagogia, etc) chega-se a compreensão que o discurso é socialmente construído. Portanto, através do discurso e das práticas se define o que é “normal” ou “anormal”. Com a teorização Queer, que contrapõe a idéia da sexualidade humana enquanto natural, já que ela se faz a partir de mecanismos discursivos sendo, portanto, uma construção social e que, enquanto queer (estranho, esquisito, excêntrico...) não se encai- xam no modelo padrão de sexualidade – a heteronormatividade – espera-se que as escolas possam contemplá-los em seus discursos, em suas práticas pedagógicas. No entanto, fazendo uma pesquisa em uma escola estadual de Vitória da Conquista constatei através da análise do Projeto Político Pedagógico (PPP) e de um questionário aplicado ao profissional da instituição, que a diversidade sexual nesta escola não é abordada na medida em que a própria se encarrega de discutir a sexualidade numa visão biológica que enfoca a Gravidez na Adolescência, Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), perdendo a dimensão da sexualidade enquanto histórica, social e cultural, bem como excluindo, através de seus mecanismos discursivos, os sujeitos da sexualidade configurados socialmente como “desviante” ( homossexuais, bissexuais, drags, travestis, transexuais, etc.). Palavras-chaves: Sexualidade, Teoria Queer, Discurso. G R U P O S D E T R A B A LH O S 75 GT 04 - S E X U A L I D A D E S , C U LT U R A E I D E N T I D A D E dores e prazeres, entre identificação e exclusão, demonstrando-se como um profícuo campo de investigação para esta temática, onde as narrativas da dor nos levam a pensar sobre as articulações entre ação e emoção, ao mesmo tempo em que esboça a dor como política, atuando com um elemento distintivo de suas trajetórias. A idéia da dor aparece aqui, como reflexividade e espaço de intervenção, onde se afirmará a dignidade e a condição de humanidade. (DES)HONRA E (DESAS)SOSSEGO: “DESLIZES NO MODELO HEGEMÔNICO DE MASCULINIDADE EM SOSSEGO-PB. Valdonilson Barbosa dos Santos - Faculdade do Vale do Ipojuca – FAVIP - Mestre em Antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE (E-mail: valdonilson@favip.edu.br) Os conceitos de honra e masculinidade funcionam neste trabalho como instrumentos através dos quais se podem obter uma leitura da realidade social e mais especificamente das relações sociais. Nesse sentido, nosso objetivo é discutir como honra e masculinidade se articulam na trama cotidiana. Sabemos que as práticas sociais são tecidas a partir de infinitos fios, concretizando-se nos espaços de sociabilidade. A partir, portanto, de alguns espaços de homossociabilidade (bares, calçadas, rua, etc.) na cidade de Sossego-PB, faremos uma leitura de como as relações de gênero e, em particular, da construção social da masculinidade, (re) configuração no universo das práticas sociais ordinárias. A apreensão dos elementos constituintes da masculinidade se deu através de observa- ções sistemáticas das falas e das práticas dos agentes sociais em questão: os homens. O mergulho nos sistemas de significação desses espaços de homossociabilidade nos fornece uma interpretação acerca das categorias de clas- sificação utilizadas cotidianamente para distinguir, diferenciar, e (des) igualar coisas e pessoas. Trata-se de espa- ços de demarcação de fronteiras entre atividades consideradas masculinas e femininas, ou seja, instrumentos de (re) significação das formas de conceber as diferenciações entre os gêneros. Palavras-chave: Honra; Masculinidade; Sociabilidade; Gênero DIÁLOGOS E QUESTÕES SOBRE TRANSEXUALIDADES: CORPO, NATUREZA, BIOMEDICINA E DIREITO Izis Morais Lopes dos Reis (PPGAS/Universidade de Brasíl ia – izislopes@hotmail.com) Os debates sobre direitos sexuais e intervenção médico-tecnológica na saúde têm gerado desafios para as ciênci- as sociais no sentido de compreender as nuances do controle do corpo, da constituição das identidades através da experiência corporal, das relações de poder e da normatização das pessoas por meio da biomedicina. O trabalho pretende fazer uma breve revisão das questões envolvendo transexualidades, a partir de textos sobre transexualidade escritos por juristas em defesa da cirurgia de trangenitalização, assim como resolução do Conse- lho Federal de Medicina pela legalização da cirurgia. O discurso hegemônico de juristas e médicos sobre transexuais, ao defenderem a legalidade das cirurgias de trangenitalização e direito à mudança de nome no registro civil, baseia-se na idéia de que a transexualidade é uma patologia. Transexuais “verdadeiros”, para estes profissionais, são indivíduos que negam o sexo biológico e exigem a operação de reajustamento sexual a fim de poder assumir a identidade de seu verdadeiro gênero, que não condiz com seu sexo anatômico. A ruptura entre o que se considera sexo, anatomia, com o que é classificado como do domínio da psiqué é o conflito instaurado entre as normas de gênero e as ficções sobre o corpo. As transexualidades, por serem classificadas como patologias são retiradas da esfera de comportamentos “moralmente corruptos”, podendo ser alvo de respostas políticas de proteção aos transexuais. A patologização retorna o que poderia ser considerado subversão das normas de gênero para a esfera da natureza, causada por anomalias no desenvolvimento embrionário, e, portanto, passível de conserto e solidariedade. A liberdade de expressar comportamentos diversos é podada pelo saber biomédico, já que a naturalização da transexualidade significa também a impossibilidade de se comportar diferente. Ao mesmo tempo em que o argumento da natureza propicia a proteção de transexuais, é criado um fosso entre o comporta- mento de transexuais e sua possibilidade de escolhas de vida e de itinerários terapêuticos. A idéia de doença gera novas formas de proteção às categorias de humanos vulneráveis na contemporaneidade. Novas estratégias de 76 G R U P O S D E T R A B A L H O S proteção são criadas, como a ética direito ao não sofrimento. Há consciência nas esferas jurídicas e médicas da necessidade de um olhar diferenciado sobre questões que desafiam a ordem moral hegemônica. É um desafio interessante pensar como os valores existentes estão sendo modificados pela sobreposição de várias lógicas, que podem gerar liberdades, de um lado, e novas formas de dominação, de outro. Palavras-chave: transexualidades, direito, medicina ENTIDADES ESPIRITUAIS HOMOSSEXUAIS NO UNIVERSO RELIGIOSO DA UMBANDA Sulivan Charles Barros (UnB/ UNIEURO, sulivan7@uol.com.br) O presente trabalho se propõe a considerar a importância da presença de entidades espirituais homossexuais no imaginário umbandista. Por se tratar de um estudo pioneiro no campo da sociologia da religião, este paper não visa um caráter conclusivo, mas exploratório e instigante, no sentido de levantar algumas questões sobre a inserção destas entidades nesta religião. Torna-se necessário ressaltar que a umbanda acolhe em seu panteão religioso todos aqueles elementos sociais que, postos em estratos inferiores da sociedade ou marginalizados pela mesma, passam à categoria de “deuses” poderosos e atuantes como é o caso de velhos escravos, índios, crianças, prostitutas, malandros, delinqüentes, além de homossexuais. Palavras-chave: Entidades espirituais; homossexuais; umbanda. HOMOSSEXUALIDADE E DIREITO: ALGUMAS REFLEXÕES Dayse Amâncio dos Santos (PPGA-UFPE / Doutoranda em Antropologia (dayse_amancio@hotmail.com) A proposta deste trabalho é refletir sobre as uniões homossexuais à luz do direito de família. Com esse intuito analisaremos a perspectiva antropológica da família da família e do parentesco na sociedade contemporânea discutindo o modo artificial como é legalmente delimitado o conceito de família. Este exame das uniões homos- sexuais e direito é parte de um projeto de doutorado que busca refletir sobre as redefinições de papéis de gênero e os novos arranjos familiares que trazem questões antes imagináveis para o direito. Diante das “lacunas” na lei, o argumento da afetividade é utilizado como legitimador das uniões. Palavras-chaves: Homossexualidade, direito, afetividade HOMOSSEXUALIDADE E O CISMA ANGLICANO DE RECIFE EM 2002. Aldenor Alves Soares (Universidade Federal da Bahia – Programa de Pós-graduação de Antropologia – aas1968@pop.com.br) O Jornal do Commercio (JC: um dos maiores em circulação de Pernambuco) de 2 de outubro e 10 de novembro de 2002, destacou a saída do pastor Paulo Garcia (juntamente com sua igreja, a Catedral Anglicana do Recife, à época maior congregação anglicana do país) da Igreja Anglicana. Em entrevista ao Jornal, o pastor alegou como motivo para deixar o anglicanismo, a abertura do mesmo em relação às ordenações e casamentos de homossexuais (prati- cantes e assumidos). O objetivo deste ensaio é descrever e analisar o discurso do religioso (nos dois artigos do JC) a respeito da relação do cisma com os homossexuais, apontando os interesses em jogo no contexto do conflito. Palavras-chaves: Homossexualidade, anglicanismo, Paulo Garcia. HOMOSSEXUALIDADES E NOVAS NORMATIVIDADES, OU SOBRE COMO SER GAY EM UMA IGREJA PENTECOSTAL INCLUSIVA. Marcelo Tavares Natividade (Doutorando em Antropologia – PPGSA/IFCS/UFRJ) – marcelonatividade@hotmail.com Paulo Victor Leite Lopes (Graduando em Ciências Sociais/Uerj) – pvleitelopes@gmail.com É expressiva a atuação de grupos religiosos no Brasil que oferecem aconselhamento e tratamentos espirituais a homossexuais, como o Movimento pela Sexualidade Sadia, o Ministério Êxodus Brasil, o Conselho de Psicólo- G R U P O S D E T R A B A LH O S 77 GT 04 - S E X U A L I D A D E S , C U LT U R A E I D E N T I D A D E gos e Psiquiatras cristãos. A noção de cura da homossexualidade aparece como um discurso hegemônico, defen- dido no âmbito de igrejas evangélicas de distintas vertentes e denominações. Em contrapartida, perspectivas minoritárias emergem nos anos 1990 no Brasil, a partir da atuação de líderes protestantes que reinterpretam dogmas religiosos sobre a propalada condenação da homossexualidade. Auto-proclamadas “igrejas inclusivas”, estes grupos não se diferenciam apenas pela aceitação e participação de homossexuais em suas atividades, mas também pela construção de um modelo de homossexualidade. A partir da realização de trabalho de campo e entrevistas, desejamos esboçar as construções sobre sexualidade elaboradas por uma igreja pentecostal “inclusi- va”, investigando os usos e expressões de gênero e sexualidade do grupo, com o propósito de compreender as representações da homossexualidade veiculadas e como estas se articulam ao surgimento de novas normatividades. Interessa-nos também, relacionar os discursos apresentados no interior do grupo com uma concepção hegemônica da homossexualidade em voga na “esfera pública”. Palavras-chave: Homossexualidades; culturas homossexuais; novas normatividades INQUIRINDO A SEXUALIDADE — DE KINSEY AOS BEHAVIORAL SURVEILLANCE SURVEYS Pedro Moura Ferreira – Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (pmferreira@ics.ul.pt ) Neste artigo pretende-se lançar um olhar sobre as formas de inquirir a sexualidade a partir dos inquéritos quantitativos. Esse olhar desdobra-se em dois planos. No primeiro plano, indagam-se as questões que são coloca- das, indo ao encontro da ideia de que as perguntas são por vezes mais interessantes do que as respostas. Que revelam as perguntas dos inquéritos sobre as formas de pensar a sexualidade? De que forma as perguntas que pressupõem uma resposta quantificável são medidas adequadas ao conhecimento da intimidade? Em que medida a mudança social, especialmente após a disseminação da epidemia da Sida, tem vindo a condicionar ou a suscitar novas questões? Há, portanto, o propósito de cobrir e inventariar as teorias, as metodologias e os problemas com que a pesquisa quantitativa se tem vindo a confrontar. No segundo plano, o eixo da reflexão desloca-se do campo da ciência para o da sociedade e procura equacionar e balizar as consequências que resul- tam dos dados quantitativos para a reflexividade social. Das múltiplas questões em jogo, duas são privilegiadas. Por um lado, o impacto que esses dados podem ter nas orientações normativas na medida em que a quantificação faz emergir as tendências de mudança que se observam no campo sexual; por outro, a relação que não poderá deixar de existir entre a pesquisa quantitativa e o confronto ideológico e político em torno da sexualidade, envolvendo temas sensíveis como a educação, as orientações e as identidades sexuais, que a tornam inevitavel- mente num elemento de disputa desse mesmo confronto. Palavras-chave: Sexualidade, metodologia, análise quantitativa. JEITO DE CORPO: PERFORMANCES E PERIGOS NAS SEXUALIDADES Flavia do Bonsucesso Teixeira - Universidade Federal de Uberlând ia/Universidade Estadual de Campinas - Mestre – Doutoranda em Ciências Sociais pela Unicamp (E-mail: fb-teixeira@uol.com.br) A fragilidade da tentativa de reunir as identidades trans numa categoria fixa foi um dos temas de discussão da pesquisa de doutoramento em conclusão. Observei que a preocupação em diferenciar travestis e transexuais é recorrente e integra os discursos oficiais e ressoa nos espaços de sociabilidades como, por exemplo, no cenário político. Ter jeito de travesti ou de transexual remete à discussão proposta por Leandro Oliveira em que este parte da categoria jeito para repertoriar as performances consideradas como definidoras de “bicha” e de “ho- mem” recobrindo estilos que supostamente expressariam atributos perduráveis da pessoa. Entendendo, a exem- plo do que coloca Leandro Oliveira, que “o jeito de uma pessoa é muito mais que a adesão a um estilo de vestuário, tem a ver com certa ‘atitude’ que seria perceptível em todos os gestos e atos da pessoa”. Ao performarem um corpo ambíguo as identidades em disputas acionam um jogo de diferenças com regras de difícil compreen- são. Os deslocamentos dos sujeitos entre uma multiplicidade de redes e fluxos de sinais que demarcam as identidades a partir do que Nestor Perlongher chamou de código e diferenciam o jeito acionado pelas mulheres 80 G R U P O S D E T R A B A L H O S vida. Esse comportamento embaralha os repertórios tradicionais de gênero. Contudo, essas identidades não são fixas, ratificando a idéia do indivíduo como fonte das diferenças, composto por diversas posições de sujeito, que variam de acordo com os discursos de gênero em que se encontram posicionados (MOORE, 2001). Esse fenôme- no praiano pode nos revelar as tensões existentes na relação entre os valores tradicionais e as experiências cotidianas, instigando-nos a pensar sobre as formas pelas quais as representações de gênero são postas em prática. Essa inversão é possível pois ocorre em uma “região moral”, onde as pessoas liberam todos os impulsos reprimidos pela civilização, inclusive os sexuais, assim, Pipa pode ser também vista como um “ponto de fuga libidinal” Perlongher (1987). O método utilizado é a observação participante, visando analisar as transforma- ções que vêm ocorrendo nas relações de gênero, influenciadas, principalmente, pela atividade turística, enfatizando as relações entre autóctone (homem) X turista (mulher). Palavras-chave: turismo sexual, gênero e práticas sociais. PROSTITUIÇÃO COMO DOENÇA E OUTRAS IMAGENS: PESQUISA SOBRE SAÚDE EM CONTEXTO DE PROSTITUIÇÃO EM BELÉM E LISBOA Luis Junior Costa Saraiva - Instituto de Ciências Sociais (ICS) Universidade Federal do Pará (UFPa) - Email: luisjsaraiva@yahoo.com.br As imagens das popularmente denominadas mulheres da vida (como são conhecidas até hoje em algumas cidades da região Norte do Brasil) esteve sempre associado às chamadas doenças do mundo, doenças que na metáfora bélica foram vencidas pelos antibióticos, mas até que ponto essa associação entre prostituição e doença ficou no passado ou volta novamente em tempos de Sida? E de que forma as religiosidades cotidianas surgem como elementos importantes nessa definição de pureza e impureza da sexualidade vivenciada no contexto de prostituição. A partir da pesquisa realizada na cidade de Belém-Pará-Brasil, nos anos de 2000 e 2001 e do trabalho de campo que se realiza no momento em Lisboa-Portugal, busca-se analisar como essas imagens presen- tes em diferentes discursos definem práticas sociais nesses contextos de trabalho sexual e em alguns casos definindo políticas de saúde publica, seja por parte do Estado ou de ONGs. Palavras-chave: saúde, sexualidade, prostituição RELAÇÕES DE CLASSE E GÊNERO, FRANÇA, SÉC. XIX. Letícia de Abreu Gomes, mestranda em Antropologia Social UFRGS Patrícia Melotto, mestranda em Antropologia Social UFRGS A partir de um diálogo entre a literatura e a antropologia, tenta-se compreender parte do comportamento da burguesia francesa do século XIX. Através das leituras dos romances A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho; Mulher de Trinta Anos, de Honoré de Balzac; e Madame Bovary, de Gustave Flaubert, busca-se ilustrar com as protagonistas dessas obras a construção social dos comportamentos femininos relacionando-a aos com- portamentos masculinos e os diferentes papéis executados por ambos no seio familiar. Numa perspectiva de gênero, podemos perceber que a aquisição de prestígio se dá de forma diversa para homens e mulheres. Enquan- to apara o sexo masculino o prestígio social estava relacionado a atividades “fora de casa”, como aquisição de dinheiro para garantir uma vida luxuosa, correspondendo às perspectivas de sua classe, bem como a manutenção da honra de seu nome, a partir da vigília do comportamento das mulheres em sua casa, o prestígio, ou a chamada virtuosidade feminina se dava a partir do seu comportamento “dentro de casa”, como a forma que administrava o dinheiro dentro de casa. Outro fator indicativo do prestígio feminino é o comportamento relacionado à sua sexualidade, nessa esfera são moldados inúmeros ‘preceitos’ das condutas femininas. Visa-se aqui uma breve análise de um comportamento de classe e de gênero, acreditando que a literatura, desenvolvida dentro de um contexto específico, pode revelar muito da sociedade na qual surgiu determinado gênero literário. Palavras-chave: gênero, literatura e relações de classe G R U P O S D E T R A B A LH O S 81 GT 04 - S E X U A L I D A D E S , C U LT U R A E I D E N T I D A D E “VOCÊ É ATIVO OU PASSIVO?”-”EU FAÇO DE TUDO! SOU LIBERAL”- NEGOCIANDO MASCULINIDADES NAS SAUNAS DE MICHÊ EM SÃO PAULO Elcio Nogueira dos Santos (PUC-SP; elcio_santos6@yahoo.com.br) Este texto é uma discussão aprofundada de um trabalho anterior, (Santos, 2007), sobre masculinidades, sexuali- dades e corporeidades. Os resultados aqui apresentados fazem parte de minha pesquisa de doutorado e são ainda parciais. Foram obtidos através de entrevistas semi-estruturadas com michês que exercem suas atividades profis- sionais em saunas de São Paulo e seus clientes. Perlongher(1987), Cáceres(1999) entre outros, em suas pesquisas com profissionais do sexo masculino que exercem sua atividade profissional nas ruas, observaram a existência de um sistema sexual pouco flexível, que é um forte mediador nas práticas sexuais entre eles e seus clientes, ou seja, o sistema “hierárquico” (Fry,1982). Em nossa pesquisa, nas chamadas saunas de michê em São Paulo, observamos que, tal sistema é flexibilizado, as posições durante o ato sexual são negociadas e que tal negociação é mediada por outros marcadores de diferença social tais como: geração, classe, raça. Palavras-chave: Masculinidades, prostituição masculina, negociação G R U P O S D E T R A B A L H O S 82 GT 05 ANTROPOLOGIA DA PESCA NO NORTE E NO NORDESTE: BALANÇOS E PERSPECTIVAS A PESCA ARTESANAL NAS PRAIAS URBANAS DE NATAL: TRABALHO, LAZER E PRÁTICAS CULTURAIS Sandoval Villaverde Monteiro (Doutor em Estudos do Lazer - Docente do CEFET-RN – sandoval@cefetrn.br) A realidade da pesca artesanal no litoral nordestino, sobretudo em áreas urbanas, encontra-se fortemente marcada pela intervenção de modos de produção capitalista que, cada vez mais, cerceiam as comunidades tradicionais de suas práticas sociais. Entre essas práticas, trabalho e lazer se apresentam como dimensões estreitamente relacio- nadas, evidenciando nuances peculiares na relação com essas duas esferas da vida cotidiana. Tais peculiaridades apontam para a manutenção e sustentabilidade de uma atividade econômica de subsistência em meio a um panorama social, político e cultural cada vez mais contrário a ela. O presente trabalho trata de um estudo etnográfico das práticas sociais de comunidades tradicionais que vivem da pesca artesanal no entorno de áreas urbanas, e tem como objetivo analisar as relações entre lazer, trabalho e sociabilidade nessas comunidades. A pesquisa, em fase inicial de coleta de dados, está sendo realizada com trabalhadores da pesca praticada na Redinha, praia urbana situada às margens do rio Potengi, em Natal-RN. A pesquisa de campo, em andamento, consiste no registro visual de tais atividades relacionadas com a pesca e no contato direto com os pescadores. A coleta de dados está sendo feita através de depoimentos, histórias de vida e relatos de trabalho. Além da praia da Redinha, pretende-se realizar a coleta de dados em outras duas praias urbanas de Natal: Forte e Ponta Negra. Espera-se, ao seu término, traçar, do ponto de vista sócio-cultural, o perfil do trabalhador da pesca artesanal em áreas de intensa concentração urbana, para investigar as relações estabelecidas entre suas práti- cas, seus conhecimentos tradicionais e modos de vida, em um espaço social pautado pelo entrecruzamento de culturas e modos de produção antagônicos entre si. Palavras-chave: pesca artesanal / lazer e trabalho / práticas culturais AS IDÉIAS DO PEIXE NA BACIA DO UAUPÉS. Pedro Rocha de Almeida e Castro (Doutorando do Programa de Pós-Graduação do Museu Nacional, UFRJ. E-mail: pedrorocha13@gmail.com) Os habitantes da Bacia do Uaupés integram dezessete etnias, falantes de línguas da família Tukano Oriental (ISA, 2007). O principal item da dieta destes povos é o peixe, que constitui o grosso da quantidade diária de proteínas (Chernela, 1981). Os povos tukano desenvolveram uma complexa ciência de sua relação com os peixes. O mundo subaquático é habitado pelos os Wai Mahsã (Waí, “peixe”, e Mahsã, “gente”, em Tukano), seres mitológicos explicitamente relacionados aos os peixes atuais. Neste trabalho procuro relacionar algumas idéias tukano a partir dos peixes, considerando que para estes povos este animal funcione como uma espécie de operador lógico (sensu Lévi-Strauss, 1962), uma ferramenta mental que articula fenômenos de diferentes ordens e escalas. Nas práticas cotidianas os peixes figuram como veículos ou mediadores (sensu Latour), que conectam diferentes coletivos, podendo constituir formações mais ou menos estáveis. Vamos analisar o papel dos peixes nos rituais de troca de alimentos entre grupos afins, oportunidade ideal de jovens conhecerem e cortejarem possíveis futuras esposas. Através do peixe circula a aliança entre grupos aparen- tados, e também é por meio dele que o grupo de irmãos (sib) reforça (ou desgasta) o vínculo que os une em um G R U P O S D E T R A B A LH O S 85 GT 0 5 - A N T R O P O LO G I A D A P E S C A N O N O R T E E N O N O R D E S T E : B A L A N Ç O S E P E R S P E C T I VA S Estado de São Paulo, produzidos entre 1944 e 1961 e fruto de intensas e numerosas pesquisas de campo. O objetivo da análise é mostrar como o conjunto das atitudes metodológicas que se revelam na formulação dos textos remete para uma superação crítica dos “estudos de comunidade”, no contexto dos quais Gioconda havia se formado, tanto como aluna da USP e da Escola Livre de Sociologia e Política, quanto como colega e colabora- dora de representantes dessa vertente (Donald Pierson, Emílio Willems e Egon Schaden, entre outros); e que, nesse sentido, ela se aproxima mais das perspectivas de outros colegas seus, como Antonio Candido e Florestan Fernandes. Finalmente, aponto os primeiros elementos que permitem ligar a sua produção aos rumos sucessivos do campo da etno-antropologia da pesca no Brasil. Palavras-chave: Gioconda Mussolini, Trajetória intelectual, Litoral de São Paulo HISTÓRIAS DE PESCADOR: AS CULTURAS POPULARES NAS REDES DAS NARRATIVAS Ana Claudia Mafra da Fonseca (Doutora em Letras - Docente do CEFET-RN - anamafra@cefetrn.br) O presente trabalho se propõe a apresentar e discutir, de forma sucinta, os resultados da tese de doutoramento intitulada Histórias de pescador: as culturas populares nas redes das narrativas, defendida em 2005 pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPB. A mesma resulta de uma pesquisa etnográfica realizada no município de Nísia Floresta, litoral sul do Estado do Rio Grande do Norte, com pescadores e moradores de comunidades existentes no entorno da lagoa de Papary, local onde, nos dias de hoje, a pesca artesanal do camarão, trabalho de muitos pescadores, tem perdido espaço para a indústria da carcinicultura. Situada em uma linha de estudos voltados para a análise das culturas populares tendo em vista seus elementos e sua contextualização social, a pesquisa priorizou a coleta e análise das narrativas populares, atentando para as relações entre os elementos culturais presentes nas narrativas com os modos de vida de seus portadores. Sabendo-se que pelo menos dois fatores importantes surgiam como divisores de águas – o turismo e a carcinicultura –, a pesquisa propôs dar conta dessas influências como elementos modificadores das condições de vida destas comunidades, na medida em que as narrativas refletem as estratégias de produção e reprodução social em um contexto de transformações sociais. Palavras-chave: memória e produção cultural / pesca artesanal / narrativas populares LAGUISTAS E PESCADORES: HABILIDADE TÉCNICA E CONSTRUÇÃO DA PESSOA NO ESTUÁRIO DO AMAZONAS (VILA SUCURIJU – AP) Carlos Emanuel Sautchuk (Doutorando em Antropologia Social – UnB - e-mail: carlos.sautchuk@gmail.com) São abordadas as formas de engajamento humano nas técnicas de pesca empregadas por uma população do litoral do Amapá. Situada ao norte da foz do Amazonas, a Vila de Sucuriju conta com dois grupos de pescadores. Um deles especializado no ambiente costeiro, onde a pesca visa sobretudo a gurijuba (Arius parkeri) e se desenvol- ve em embarcações motorizadas, com tripulações de três a seis pescadores, empregando espinhel de fundo com centenas de anzóis. O outro atua na região de lagos, deslocando-se em canoas a remo para duas pessoas e usando arpões para capturar o pirarucu (Arapaima gigas). As habilidades (skills, Ingold) dos pescadores em cada atividade são particulares e correspondem a diferentes interações: enquanto os laguistas têm no arpão uma extensão do próprio corpo e estabelecem uma relação dialógica com o pirarucu, os pescadores de fora integram-se ao barco ao coordenar suas ações com os ritmos de diversos objetos (âncoras, bóias, anzóis), derivados da relação entre o motor e a maré; no mar é o anzol que captura o peixe, mas ele pode também fisgar o próprio pescador. Efetuar cada umas dessas pescas é uma forma de ser macho, mas enquanto o laguista configura sua masculinidade no contexto da predação, numa relação intersubjetiva com animais e outros seres, o pescador costeiro se afirma através da disposição para conectar-se à dinâmica a bordo, tido como um processo de árdua transformação corporal. Palavras-chave: antropologia da técnica, pesca, caboclo. G R U P O S D E T R A B A L H O S 86 LEVANTAMENTO SÓCIO-ECONÔMICO E AMBIENTAL DE BARRA DO CAMARATUBA/PB Edith Carmem de Azevedo Bacalháo Este trabalho de campo teve como objetivo principal fazer o levantamento Sócio-econômico e Ambiental da comunidade tradicional, Barra do Camaratuba, nos dias: 26 e 27 de maio de 2007. Foram realizados dois tipos de levantamentos: O Primário, através de entrevistas e aplicação de questionário com os moradores nativos, con- tendo os seguintes dados: pessoais, infra-estrutura, saúde, moradia, meio ambiente e aspectos culturais. Como também, foi realizado o levantamento secundário, através de pesquisa bibliográfica. Constatou-se que Barra do Camaratuba, apesar dos impactos causados pelo turismo, nos últimos anos, ainda mantém características de comunidade tradicional, pois a maioria dos moradores vive da pesca artesanal, de pequenas culturas de subsis- tências e as relações pessoais são baseadas na solidariedade. “MAPAS DE PESCA: IDENTIDADE E PERTENÇA EM 7 COLÔNIAS DO LITORAL NORTE DE PERNAMBUCO” Luciana Campelo de Lira - Centro de Estudos e Pesquisas Josué de Castro (ll ira@hotmail.com) Co-autores (as): Jacirema Bernardo de Araújo (jaciba@gmail.com), Nathanael Maranhão Valle (natanvalle@hotmail.com) A Zona Costeira de modo geral e, especificamente, seus manguezais, são responsáveis por 55% do total da produção de pescado no Estado de Pernambuco, sendo 16% proveniente da pesca desembarcada. Considerando pescadores registrados, pescadores não registrados e suas famílias, estima-se que cerca de 48.000 pessoas, direta e indiretamente tiram seu sustento deste ambiente, o que equivale a aproximadamente 30% da população dos municípios de Goiana, Itapissuma, Itamaracá e Igarassu. As pressões provenientes da produção sucro-alcooleira, dos pólos industriais, do turismo e da carcinocultura, além de uma densidade de mais de 707 habitantes por km2 (GERCO, 1996), representam fortes ameaças a estes ambientes. O desequilíbrio desses ecossistemas, extrema- mente sensíveis à intervenção humana desordenada, tem como conseqüência o aumento do grau de vulnerabilidade das populações que ali vivem, gerando alterações nas condições de vidas, afora modificações nas referências sócio-culturais, por específico, nos valores dos grupos que tem inter-relações com esses ambientes. Diante dessa realidade, o projeto “Mapas de Pesca: Identidade e Pertença, uma Contribuição ao Ordenamento da Atividade Pesqueira do Estado de Pernambuco”, tem como um dos objetivos à construção de informações sobre a atividade pesqueira artesanal local com a participação efetiva de segmentos da população. Considerando que as 7 Colônias de pescadores dessa região apresentam grande diversidade em relação à tradição histórica de suas populações, aos modos de vida, valores, crenças e práticas que orientam as relações dessa população com o meio ambiente e com a atividade pesqueira em geral, dentro de uma investigação mais abrangente, encontra-se em curso um estudo etnográfico desses grupos. Palavras chave: Pesca Artesanal, Identidade, Meio ambiente O VELHO E O NOVO NAS PRÁTICAS SOCIAIS DE PESCADORES EM PITANGUI/RN Winifred Knox (UFRN) Mestra em sociologia e antropologia pelo IFCS/UFRJ e doutoranda no PPGCS/UFRN. winknox@hotmail.com Trata-se da apresentação do estado atual da pesquisa de doutoramento que busca explicitar a relação natureza e sociedade sob o prisma das transformações socioculturais que envolvem a atividade pesqueira no litoral do Rio Grande do Norte. Dentre os diversos fatores que contribuem para as mudanças significativas que vêm acontecendo neste setor, destacam-se as pressões do mercado capitalista mundial no mercado local, a intensa valorização das terras nas áreas costeiras e as intensas trocas simbólicas produzidas através das novas tecnologias informacionais. Neste sentido, foi possível registrar a transformação da dinâmica interna de uma comunidade pesqueira que no passado estava embasada na tradição oral para uma nova dinâmica de trabalho acrescida de novas tecnologias informacionais que promovem o sensoriamento remoto, entre outras metodologias. Do ponto de vista dos sujeitos pesquisados paradoxalmente registrou-se sensíveis perdas e, ao mesmo tempo, paupaveis ganhos. G R U P O S D E T R A B A LH O S 87 GT 0 5 - A N T R O P O LO G I A D A P E S C A N O N O R T E E N O N O R D E S T E : B A L A N Ç O S E P E R S P E C T I VA S O IMPACTO DO TURISMO NA VIDA COSTEIRA E RIBEIRINHA DA AMAZÕNIA. Denize Genuína da Silva Adrião (deadriao@ig.com.br - MPEG/UFPA) Atividades humanas desordenadas decorrentes de pressões demográficas, econômicas e políticas, têm provocado drásticos danos ao meio ambiente contribuindo para o desaparecimento de nichos ecológicos fundamentais para a preservação da vida. Neste cenário está incluída a destruição dos mangues que são verdadeiros berçários naturais, a poluição dos rios e águas interiores, afastamento e diminuição de cardumes, desmatamento desregra- do, extinção de espécies vegetais e animais, contribuindo para o empobrecimento da qualidade de vida na região. Nesta perspectiva, constata-se que a presença do “turismo” provoca mudanças nos sistemas locais: na organização social, nas relações dos homens entre si e nas relações que envolvem o homem e a Natureza, através das relações de trabalho e serviços que passam a ser requeridas, atualizando, reafirmando ou reconstruindo uma nova identidade social diante de transformações produzidas pela presença freqüente de turistas. Diante deste fato, é necessário fomentar o diálogo a respeito dos impactos negativos e positivos do turismo nas comunidades locais e atentar, igualmente, para as políticas de implantação e restrição. É crescente o interesse que as operações de turismo realizadas na natureza sigam adotando alguns princípios (sustentabilidade) de forma a garantir que as áreas sensíveis sejam conservadas e as comunidades locais respeitadas. É difícil imaginar uma análise efetiva de custo/benefício sem mecanismos de pesquisa e a troca de informações entre pares. Este artigo faz reflexão dos impactos causados pelo turismo na vida das famílias de pequenos agricultores, coletores e pescadores artesanais residentes em Salinópolis e na ilha do Combu , respectivamente região costeira e ribeirinha no Estado do Pará que, tradicionalmente, vivia mais dependente dos recursos da natureza e que gradativamente substitui e/ou incorpora às suas atividades tradicionais, trabalhos voltados ao turismo. Palavras-chave: Impacto Sociocultural, Turismo, Amazônia. PESCADORES ARTESANAIS DA PRAIA DA PENHA – PB: QUANDO O TRADICIONAL E O NOVO SE ENCONTRAM. LIMA-SILVA, L & ANDRADE, M. O (Msc PRODEMA/UFPB – Profa.Dra.DCS/PRODEMA/UFPB) Comunidades pesqueiras artesanais tem sido alvo de estudo em virtude da adoção de práticas que conciliam a extração do recurso natural com a preservação, exercendo menor impacto sobre o Meio Ambiente. Com a redução do pescado pela pesca predatória a piscicultura tem crescido significativamente. Objetivando-se reduzir a pesca predatória do peixe e proporcionar uma melhoria na qualidade de vida destes pescadores, o presente estudo derivou da proposta de transmissão das técnicas de cultivo do peixe marinho Lutjanus synagris popular- mente denominado Ariacó, junto aos pescadores artesanais da Praia da Penha-PB, Para avaliar a aceitação de tal prática e sua viabilidade foi feita uma pesquisa junto a comunidade com a finalidade de conhecer o perfil sócio- econômico e sua percepção ambiental. Tal investigação se deu através da aplicação de questionários e observa- ções participativas em que tomou-se como referência a separação entre o espaço masculino e o feminino em suas atividades cotidianas para caracterizar traços tradicionais, assim como, mudanças sócio-comportamentais. Diver- sos são os estudos que apontam o caráter tradicional patriarcal das comunidades pesqueiras, em que os papéis sociais são bastante marcados e distintos entre homens e mulheres, cabendo a eles prover e a elas cuidar. Contudo, foi constatado que este quadro vem paulatinamente se modificando já que as mulheres cada vez mais estão se inserindo como pescadoras registradas. Apesar disso, a pescaria, para a maioria, ainda é um misto de lazer e oferta de melhor alimentação para os filhos, predominantemente não revendem o que pescam, com exceção de ostras e mariscos. Verificou-se que as transformações ocorridas no universo feminino, podem ser detectadas através de um nível escolar superior aos de seus companheiros, entre o ensino fundamental completo e médio incompleto. Uma incongruência significativa entre os pesquisados foi detectada no que diz respeito ao estado civil, enquanto os homens consideravam-se casados a maioria das mulheres se apresentou como solteira, mesmo quando viviam com um companheiro e tinham filhos, elas alegavam que assim era mais fácil para levar a vida. Com relação às expectativas quanto ao futuro, ambos demonstraram a busca por melhores condições de vida, tanto dentro como fora da comunidade, o que denota a possibilidade de abandono do modo de vida pesqueiro, uma vez que as mulheres, em particular, não desejam para seus filhos, a vida sacrificada da pesca, nem G R U P O S D E T R A B A L H O S 90 ARTE E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: UMA PROPOSTA PARADIDÁTICA Sarah Karenine Paes Ribeiro. (Universidade Federal de Sergipe- Sarah_karenine@hotmail.com) Esse trabalho versa sobre a trajetória do estilo barroco, presente no patrimônio arquitetônico e religioso do complexo franciscano da cidade de São Cristóvão, Sergipe, Brasil. O complexo é formado pela Igreja e o Con- vento de Santa Cruz, conhecido pela população local como São Francisco, e é considerado um dos mais belos monumentos em estilo barroco do estado de Sergipe. Tombado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 1945, hoje é reconhecido como patrimônio nacional. Essa edificação foi escolhida para análise por deter em seu interior diversos elementos da arte religiosa barroca, oferecendo um grande leque de representações do estilo em Sergipe. Através de um estudo sobre esse complexo, deu-se a confecção de um texto que foi adaptado a uma linguagem para o público Infanto-Juvenil e transformado em livro paradidático, intitulado “Conhecendo a Arte Sacra Barroca: Igreja e Convento de São Francisco”. O livro busca contribuir para ensino de Artes e para os processos de educação patrimonial, onde através de imagens e ilustrações, oferece um recurso visual para atividades pedagógicas. Além de informações sobre o estilo barroco, o livro contém uma personagem, diversas fotografias e vale-se da aplicação de técnicas artísticas, como o desenho em grafite e a pintura em aquarela. Resultante de pesquisa bibliográfica e de campo, o livro produzido, mais do que uma fonte de informa- ções sobre a arte sacra barroca, é um livro artístico que deve ser apreciado em sua totalidade, objetivando que seus leitores sejam sensibilizadas sobre a importância da história e memória identitária do Barroco em Sergipe. Palavras-chave: Barroco, Patrimônio Histórico, Paradidático CULTURA MATERIAL É PATRIMÔNIO MATERIAL: UM ESTUDO DE CASO DA CERÂMICA DE ICOARACI – BELÉM – PA Leandro Pinto Xavier (Universidade Federal do Piauí – leandropxavier@hotmail.com) O trabalho discute como a cerâmica do Distrito de Icoaraci, tem sido considerada patrimônio material. A análise tem como ponto de partida as ações do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Pará (SEBRAE/PA), do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e dos próprios artesãos, que aplicam os conhecimentos adquiridos em cursos e eventos realizados pelas instituições. Constatou-se o surgimento de novos tipos cerâmicos, que se estabeleceram como tradicionais. Vale ressaltar também a temática do patrimônio utilizada como um recurso, nos eventos, com a finalida- de de revelar para os artesãos a potencialidade do estado. A partir dos dados coletados, buscou-se contribuir para o entendimento do processo de modificação das criações populares da cultura material de um determinado grupo, salientando ações específicas em que os objetos cerâmicos são vendidos como um patrimônio da cultura paraense. Pretende-se, analisar como as instituições planejam suas ações e como os artesãos absorvem esse discurso. Desta maneira, através do estudo foi possível perceber que as ações das instituições, sobretudo o SEBRAE/PA, estão relaci- onadas com a identidade enquanto produto que atende a um plano de desenvolvimento regional. Palavras-chave: patrimônio, cerâmica e identidade. DO CANTO AO GRITO - “A NOVA NAÇÃO” SOB O DISCURSO DO PATRIMÔNIO IMATERIAL. Msc.Cristian Pio Ávila (Gerência de Patrimônio Imaterial – SEC – Amazonas- Brasil - Uninorte – Amazonas - Brasil ) O trabalho pretende apresentar um panorama da constituição de um discurso do patrimônio imaterial através de uma breve análise das ações empreendidas por agentes públicos do governo federal e estaduais. Dessa forma, se infere que a constituição de um discurso de patrimônio (atrelado ao da construção de nação) obedece a campos profissionais específicos de interesses e ao que poderíamos chamar de “afinidades eletivas” com determinadas expressões. Tenta se discutir também um processo de “tutelamento” estatal de expressões localizadas, que apesar dos diversos riscos que correm (transfiguração, espetacularização) beneficiam-se das vantagens mercadológicas pelo lado dos produtores e dos diversos aportes aos Estados e Municípios. Os dados são resultado da experiência profissional junto a órgãos estatais responsáveis pela gestão de ações de registro e salvaguarda do patrimônio imaterial. Palavras-chaves: Patrimônio Imaterial; Culturas Populares; Nação, Amazonas. G R U P O S D E T R A B A LH O S 91 G T 0 6 - PAT R I M Ô N I O C U LT U R A L , I D E N T I D A D E E D E S E N VO LV I M E N TO R E G I O N A L IDENTIFICAÇÃO E REGISTRO DO PATRIMÔNIO CULTURAL DA REGIÃO DE BLUMENAU E SUA CONSERVAÇÃO ATRAVÉS DO TURISMO Regina Ballmann (mestranda Universidade Regional de Blumenau - Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional) E-mail: regina@bnu.sdr.sc.gov.br; reballmann@hotmail.com; rballmann@brturbo.com.br O presente trabalho propõe uma reflexão referente à importância do turismo para conservação dos patrimônios culturais existentes nos municípios de abrangência do médio Vale do Itajaí (Blumenau, Gaspar, Indaial, Pomerode, Timbó, Rodeio, Benedito Novo, Doutor Pedrinho e Rio dos Cedros) situada no Estado de Santa Catarina. Embora o fenômeno turístico seja estudado há dezenas de anos e seja muitas vezes definido grosso modo como transição, deslocamento de pessoas de um lugar ao outro, recentemente esse conceito tem recebido múltiplas significações e desdobramentos, chegando em alguns paises a alçar posição de fator principal de sustentação econômica local. Turismo virou sinônimo de renda, aliado a cultura é considerado em vários países, como um setor estratégico e condutor do desenvolvimento. As atividades de conservação, criação, produção, difusão e consumo de bens e serviços culturais representam hoje o setor mais dinâmico da economia mundial e tem registrado crescimento médio de 6,3% ao ano, enquanto o conjunto da economia cresce 5,7%. Estimativas do Banco Mundial apontam a cadeia produtiva da cultura como responsável por 7% do PIB (Produto Interno Bruto) do planeta. Pensando nisso cada vez mais o Estado tem difundido as belezas e atrativos culturais de cada nação ou região angariando com isso centenas, milhares de turistas, deixando em troca farta receita. Apesar de existir o temor de que o turismo possa prejudicar o patrimônio local, chamamos atenção para o fato de que este mesmo fenômeno pode gerar maior preocupação da população e órgãos governamentais na conservação desse patrimônio, já que esta modalidade de turista somente existirá se a cultura for preservada, caso contrário, o turismo cultural deixará de existir. Embasados nesse pressuposto e na constatação de uma economia cada vez mais globalizada, surge a necessidade de pensar a relação entre turismo, cultura e desenvolvimento regional, identificando e analisando de que forma os patrimônios culturais podem ser favorecidos em sua conservação. Esta pesquisa visa também preencher uma lacuna no planejamento turístico e cultural da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Regional de Blumenau. A metodologia é etnográfica e bibliográfica e os procedimentos empregados envolvem a utilização de dados secundários e primários que sugerem a utilização de técnicas de análise bibliográfica, análise documental, entrevista estruturada direta e indireta e fontes de dados não escritos (depoimentos orais). Palavras-chave: Conservaçao; Cultura; Turismo. INSTITUIÇÕES, CULTURA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: O PROJETO DA BACIA CULTURAL DO ARARIPE Freederico Lustosa da Costa (Fundação Getul io Vargas – frederico.lustosa@fgv.br) O trabalho discute as relações entre instituições, cultura e desenvolvimento sustentável, a partir da análise de uma experiência de planejamento que toma a cultura regional como referência. Trata-se de analisar um projeto de desenvolvimento regional, cuja mola propulsora é a promoção da cultura em todas as suas dimensões, para discutir as condicionantes culturais e os limites normativos do institucionalismo na promoção do desenvolvi- mento. A região escolhida para esse exercício é o Araripe, território que fica na confluência das fronteiras dos Estados do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Piauí, no Nordeste do Brasil. Palavras-chave: Cultura, Desenvolvimento, Instituições LIÊDO MARANHÃO: RESGATANDO EMBLEMAS DA CULTURA POPULAR NORDESTINA Simone Rosa de Oliveira (Universidade Federal de Pernambuco, e-mail: sro@hotmail.com) A discussão sobre a questão nacional, de identidade no Brasil só iniciou no século XIX, onde o nacional-popular se tornou o fio condutor, peça fundamental para o entendimento da cultura genuinamente brasileira. Na cultura popular estão algumas das vertentes da expressão da identidade nacional, em Olinda, por ex., o pesquisador G R U P O S D E T R A B A L H O S 92 Liêdo Maranhão, reuniu ao longo dos anos, os mais diversificados artefatos do universo popular de um patrimô- nio vivo: o Mercado de São José. Folhetos, cordéis, postais, livros de medicina popular, entre outros, fazem parte do acervo deste pesquisador, na tentativa de construir a memória nacional de um grupo. Longe da idéia de apenas fixar-se às imagens do passado, mas de dar vazão às discussões futuras a respeito das relações conflituosas que constituíram o universo dos diversos freqüentadores do Mercado de São José, Liêdo reúne também imagens que fazem parte das crenças, da maneira de ser e ver das pessoas; elementos dos quais revelam a ponte para a compreensão dessa multiplicidade e da dinâmica da história social e cultural da sociedade. E diante desta preocupação com a preservação da memória nacional, foi idealizado um projeto para criar instrumentos de pesquisa e acesso público num trabalho de recuperação, organização e valorização dessa história viva da cultura popular. Até porque, em oportunidades futuras, o resultado deste trabalho servirá como motivação para outros estudos, cada vez mais aprofundados sobre identidade nacional-popular brasileira, traduzindo-o em novos aspectos de valores culturais e sociais. Palavras-chaves: memória nacional, cultura popular, Liêdo. O JEITO CARIOCA DE SER / UM PATRIMÔNIO CULTURAL INTANGÍVEL? CRIAÇÃO DO LIVRO DE REGISTRO DOS COMPORTAMENTOS Phrygia Arruda (IP/UFRJ Memória Social / UNIRIO phryarruda@superig.com.br ) Pesquisa de estágio de pós-doutorado cujo enfoque é o de uma psicóloga interessada no estudo da memória e do patrimônio. Docente e pesquisadora recente no campo do Patrimônio Imaterial, se qualificando como antiga observadora do cotidiano das pessoas cujas lembranças de tempos passados são temas igualmente afeitos às áreas das ciências humanas. As cidades contemporâneas como local de preservação de uma subjetividade construída no passado. A concepção dinâmica de patrimônio cultural imaterial com significados justapostos, onde no contemporâneo o cotidiano deve ser olhado como expressivo capital de memória. A conformidade dos instru- mentos metodológicos desenvolvidos (questionário e esquema de entrevistas) com a hipótese do “jeito carioca” ser considerado patrimônio imaterial. Os resultados obtidos poderão ser usados num protocolo de criação de novo Livro de Registro dos Comportamentos. A tese doutorado começo da atual pesquisa que examinou uma subjetividade particular singularizada numa população, cultura e mentalidade que fabricaram um imaginário “jeito carioca de ser”. Cuja discussão se baseou num recorte da cidade dentro do espaço e tempo subordinado à seqüência Colônia, Segundo Império e República. Mas, foi a Copacabana dos anos 50, mistura de novos com- portamentos a discursos da tradição brasileira, inspirados no “way of life” americano que acabou “inventando” o jeito carioca de ser. Falar do jeito carioca é ter como objeto de análise em particular a cidade do Rio de Janeiro. A questão proposta para este GT 06 é a de discutir se o instrumento metodológico desenvolvido (questionário) é relevante como referência a continuidade histórica do bem imaterial, sua relevância nacional para a memória e a identidade brasileira, e critério no protocolo de criação de novo Livro de Registro dos Comportamentos? Palavras-chave: Carioca – patrimônio – memória PATRIMÔNIO CULTURAL E ARTE BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA. O ARTISTA PLÁSTICO ALUÍSIO DA ROCHA LEÃO. Arlete Assumpção Monteiro (Universidade Presbiteriana Mackenzie, docente no Centro de Comunicações e Letras. Centro de Memória Unicamp, pesquisador associado e CERU/USP.) Email: arlete.as@gmail.com [Introdução] Pesquisa iniciada em 2006. Investiga a arte brasileira na atualidade. [Objetivos] Analisar expressões significativas da arte brasileira contemporânea. Registrar a formação acadêmica e a trajetória de vida de artistas brasileiros contemporâneos com destaque internacional. [Metodologia] História Oral através de entrevistas formais e informais, gravadas e ou filmadas em vídeo. [Desenvolvimento] Selecionou-se o artista plástico paulista Aluísio da Rocha Leão, arquiteto de formação, desenhista do carro Itamarati - utilizado por vários presidentes do Brasil – e projetista de mais de 40 unidades escolares no município de São Paulo. Nos últimos anos dedica-se a pintura, experimentando diferentes técnicas. Participou de várias exposições no Brasil e no exterior. Possui obra G R U P O S D E T R A B A LH O S 95 GT 07 - PELA LENTE DO INFORMAL: ABORDAGENS ETNOGRÁFICAS DE MERCADOS, PRÁTICAS COMERCIAIS E TRANSFORMAÇÕES URBANAS poder, pelo menos no que diz respeito a este objeto de estudo. Neste sentido, a noção de “ilegalismo”, tal como foi proposta por Michel Foucault, se mostra indispensável para pensar esse campo de problemas, uma vez que permite ultrapassar o par dicotômico lei/ilegalidade, assim como outros que lhe são derivados (formal/ informalidade; informalidade/ilegalidade). Palavras-chave: Informalidade; tráfico de drogas; ilegalismos ARTESÃOS, CAMELÔS: FORMAS DE CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES NA CIDADE DE NITERÓI Marisa Dreys da Silva Xavier (Mestranda em Antropologia PPGA/UFF) e-mail: marisa@wnetrj.com.br Sabrina Souza da Silva (Mestra em Antropologia PPGA/UFF) e-mail: ssouzadasilva@gmail.com Este trabalho tem por objetivo descrever processos de interação que contribuem para a construção de identidades diferenciadas entre comerciantes do chamado mercado informal. Focalizaremos dois atores que atuam no centro da cidade de Niterói: “camelôs” e “artesãos”. Direcionaremos a atenção aos valores diferenciados destes dois atores e a influência destes valores nos produtos comercializados. Esta é uma pesquisa que está vinculada ao projeto “Entre o legal e o ilegal: Lógicas Igualitárias e Hierárquicas na Administração de Conflito no Espaço Público”, financiado pelo CNPq e executado pelo Núcleo Fluminense de Estudos e Pesquisas -NUFEP/UFF, que vem sendo realizada desde janeiro de 2007. A metodologia utilizada caracterizou-se pela observação direta e realização de entrevistas semi-estruturadas com os comerciantes do chamado mercado informal. Comerciantes informais ven- dem suas mercadorias nas ruas e parques da cidade, porém acionando identidades e valores diferentes. Seus estilos de vida, o processo de fabricação de mercadorias, compra de matérias primas - no caso dos artesãos – e o processo de obtenção dos produtos vendidos - para os camelôs -, colaboram para a expressão do conjunto de valores que orienta cada atividade. Além disso, as relações sociais e familiares também exercem influencia em todo este modo de viver que, por vários motivos, não podem ser analisados separadamente. Ser artesão ou camelô pode ou não ser uma escolha nos grandes urbanos. CARRINHOS, BALANÇAS E PAPEL: RELAÇÕES ENTRE “PAPELEIROS” E COMPRADORES DE MATERIAL RECICLÁVEL EM PORTO ALEGRE/RS Indira Nahomi Viana Caballero (PPGAS Museu Nacional UFRJ - ind iranahomi@yahoo.com.br) A coleta de resíduos sólidos na cidade de Porto Alegre/RS foi implantada no início dos anos 90 pela prefeitura municipal e, desde então, um processo de coleta informal desse tipo de material não apenas aumentou como ganhou mais visibilidade. Durante a realização de pesquisa etnográfica no loteamento popular Santa Terezinha (entre fevereiro e junho de 2007) localizado no centro de Porto Alegre, onde a maioria dos moradores trabalha com coleta e/ou triagem de material reciclável, o que fez com que o local fosse conhecido antigamente por “Vila dos Papeleiros”, uma dimensão que envolve relações entre papeleiros e compradores de resíduos sólidos foi sendo revelada. A partir dos dados etnográficos, o objetivo desse trabalho é focar na forma como é realizada a coleta informal de material reciclável pelos próprios papeleiros e na relação desses com compradores do mate- rial. Palavras-chave: resíduos sólidos, coleta, relações. “COMERCIO INFORMAL – AMBULANTES DENTRO DO CAMPUS CIDADE UNIVERSITÁRIA DA UFRJ” Maria de Fátima Farias (UFRJ - mffarias@cl ick21.com.br); Eduardo Lacerda Mourão (UFRJ - dudulacerda@ig.com.br); Viviane de Oliveria Mello (vivisocial@cl ick21.com.br) Nesta comunicação focalizaremos os relacionamentos que se viabilizam em torno do pequeno comércio de cachorro-quente em uma cidade universitária de uma universidade federal no Rio de Janeiro. Buscaremos de- monstrar como se articulam estas atividades comerciais e os representantes de redes familiares que vivem em G R U P O S D E T R A B A L H O S 96 uma vila residencial localizada nos fundos do campus universitário. Discutiremos as estratégias de viabilização dos empreendimentos comerciais, nos quais se pode perceber, de forma adjacente, os interesses em torno do reconhecimento da pertinência dos serviços, mas também da ocupação da referida vila por parte de pessoas que não são servidoras públicas federais. Nosso foco estará centrado nas formas de crédito que envolve funcionário e professores da universidade e os valores contidos nestas redes de confiança. Este trabalho se vincula a um Projeto de Extensão e faz parte de uma linha de pesquisa desenvolvida pelo LeMetro, (Laboratório de Etnografia Metropo- litana/DAC-IFCS-UFRJ). Palavras-chave: Comércio, Informalidade, Relações Sociais. ECONOMIA SOLIDÁRIA: AUTOGESTÃO E PODER SIMBÓLICO NA GERAÇÃO DE TRABALHO E RENDA Rafaelle Monteiro de Castro (Universidade Federal do Rio de Janeiro – IPPUR/UFRJ – faelleuff@hotmail.com); Consta neste trabalho um relato etnográfico sobre a constituição de uma cooperativa comunitária na área de construção civil. Esta cooperativa foi fundada sob os princípios da Economia Solidária, é uma tentativa de geração de trabalho e renda através da autogestão e da propriedade coletiva, representando uma alternativa a reprodução do trabalho assalariado e desemprego. Devido ao tempo destinado a esta pesquisa permitiu-se a produção de um histórico sobre o surgimento do grupo, bem como a apreciação da trajetória de vida de 3 dos 32 sócios. A partir do momento de constituição da cooperativa, observa-se o impacto do novo modelo de gestão democrática aos traba- lhadores acostumados, anteriormente, com o trabalho assalariado e hierarquizado da construção civil. O principal objetivo deste trabalho é a observação e investigação dos fundamentos das relações de poder e conflito engendrados nessa nova concepção de trabalho autogestionário, com base nos laços de sociabilidade desenvolvidos dentro da cooperativa. Palavras-chaves: Economia Solidária; Autogestão; relações de poder. ESTADO MÍNIMO: DITOS E FEITOS DO TRABALHO POR CONTA PRÓPRIA Diana Lima, Nucec/MN, UFRJ O cenário é conhecido. Crise de endividamento, descontrole inflacionário e diversas tentativas de estabilização monetária são os traços da fisionomia sócio-econômica do “continente da esperança”, na década de 1980. No mundo do trabalho, no Brasil, a acentuação dos processos de exclusão do mercado formal de ocupação provocada pela crise do modelo fordista-taylorista de produção vem acompanhada de uma depressão do sistema público e uma decorrente deterioração dos mecanismos de proteção social contra o desemprego e a miséria, provocando um agravamento das já historicamente precárias condições de existência da pobreza urbana. Em um ambiente de 80% de inflação mensal e longa estagnação econômica, portanto, em março de 1990 é empossado no Brasil o primeiro presidente eleito pelo voto direto após 29 que, endossando as recomendações aos países periféricos para a retomada do crescimento econômico, para o desenvolvimento e para o alcance da igualdade social que tiveram “Consenso [em] Washington”, tratou imediatamente de cumprir sua promessa eleitoral de ruptura com o “atraso”. Assim, Collor de Mello pôs-se a diminuir a presença do Estado da arena econômica, tomou suas medidas para a estabilização da moeda e implementou, no país, a “abertura comercial” e a “privatização”. Nesse momento, ao mesmo tempo em que o vocabulário econômico local e internacional passou a empregar a categoria “emergente” para classificar o Brasil no teatro da economia mundial, a rede social “Nova Sociedade Emergente” surgiu como uma boa notícia na coluna social. Com base em material de impren- sa sobre essa rede de relações e em observação direta de seu estilo de vida, o objetivo da minha comunicação é refletir sobre o fenômeno que venho chamando de ethos emergente. Trata-se de um conjunto de atitudes e de uma mentalidade que articula positivamente trabalho empreendedor/comercial/autônomo árduo, acúmulo fi- nanceiro e consumo conspícuo. Tal articulação ganhou ampla legitimidade e passou a informar a conduta em alguns meios sociais na época em que a economia brasileira endossou as diretrizes e princípios do “mercado livre”. G R U P O S D E T R A B A LH O S 97 GT 07 - PELA LENTE DO INFORMAL: ABORDAGENS ETNOGRÁFICAS DE MERCADOS, PRÁTICAS COMERCIAIS E TRANSFORMAÇÕES URBANAS EU QUERO É PEGAR NAS CARNES! SÁUDE, DIREITO, CONSUMO E TRADIÇÃO NA VITRINE. Mário Miranda Neto (NUFEP-UFF / SEE-RJ / HCTE-UFRJ mirandanetoms@yahoo.com.br) O trabalho procura explicitar as práticas comercias em torno do consumo da carne bovina e suína, mais específicamente no que tange aos hábitos profiláticos garantidores da qualidade da carne. Sustento que tais hábitos marcam diferenças entre alguns grupos sociais e procuro mostrar o esbarrar destes hábitos com o sistema de vigilância sanitária brasileira e suas diversas instâncias, levando em conta as práticas dos comerciantes para leva- rem a cabo sua atividade. O trabalho parte de notas etnográficas efetuadas na feira de Campina Grande e em cidades circundantes do Brejo e do Cariri Paraibanos onde, em decorrência de campo na dita favela da Maré no Rio de Janeiro, fui trabalhar com outras questões. Após uma primeira sistematização de notas e diálogos com colegas, o problema do consumo de carne ganhou corpo havendo mais uma viagem para a região aludida e um novo inves- timento etnográfico no Rio de Janeiro tanto em feiras livres como na Feira de São Cristovão, inclusive quando da transferência desta ultima para dentro do pavilhão de mesmo nome, oportunidade para a instalação de box e balcões frigoríficos para os açougues buscando deixar de lado a venda nas “tarimbas”. Palavras-chaves: consumo, carne, legislação sanitária ILEGAL, E DAÍ? CONFLITOS SOBRE OS USOS DOS ESPAÇOS PÚBLICOS DA CIDADE VISTO POR UM JORNAL DE GRANDE CIRCULAÇÃO Pedro Paulo Thiago de Mello Há cerca de três anos, o jornal O Globo lançou a campanha “Ilegal, e daí?” Para denunciar a omissão do poder publico em relação aos usos dos espaços públicos por grupos comerciais e moradores. Inicialmente, a campanha, composta de uma série de reportagens-denúncia e também de pareceres de especialistas (autoridades públicas, guarda civil, engenheiros, planejadores urbanos e acadêmicos), abrangeu o problema dos veículos transgressores das leis de trânsito, especialmente no que se refere a avanço de sinais, condução em alta velocidade e estacionamentos irregulares. Nesta primeira fase, também foram denunciados bares que ocupam as calçadas com mesas e cadeiras bloqueando o passeio público, e até mesmo alguns que construíram “puxadinhos” sobre áreas públicas. Nesta primeira etapa, o alvo principal das reportagens eram atores de classe média. Numa segunda etapa, a campanha “Ilegal, E daí?”, focou o crescimento das favelas e atuação de camelôs em áreas proibidas. O presente trabalho parte de uma etnografia na redação do jornal O Globo sobre os preparativos das reportagens e uma análise das matérias em si, em relação sobretudo ao impacto na opinião pública. INFORMALIDADE E ESPAÇO PÚBLICO: SOCIABILIDADES E ESPACIALIZAÇÃO DE ATIVIDADES Alysson Cristian Rocha Souza (alyssoncristian79@cl ick21.com.br - Universidade Federal de Sergipe – UFS;) A diminuição dos empregos com carteira assinada é uma realidade crescente no Brasil, uma vez que o desenvolvimento de outras atividades fora do âmbito da formalidade empregatícia passou a ser uma realidade a algum tempo. Neste sentido, as atividades de cunho informal passaram a ser uma alternativa para a complementaridade de renda, ainda que em muitos casos sirva como fonte principal de renda. Assim sendo, os informais organizam suas atividades de diversas maneiras, sejam em barracas improvisadas, carros móveis, ou vendendo produtos alimentícios, adornos populares, ou prestando serviços de transporte, essas são algumas formas de como este tipo de trabalho se distribui pela cidade. Sendo assim, este se torna um estudo relevante já que a sua disposição pelos espaços citadinos, bem como as suas sociabilidades de interação e de conflitos são influentes na busca por pontos de comercialização. Deste modo, a etnografia utilizada na apreensão das ações destes atores sociais se apresenta como instrumentos metodológicos para a verificação de compor- tamentos sociais. O objeto empírico aqui investigado corresponde aos informais localizados nas proximidades do shopping Jardins em Aracaju, estes utilizam a demanda, referente aos transeuntes que se dirigem ao shopping, uma vez que estabelecem relações com os moradores dos prédios. Portanto, sob as atividades econômicas e através da etnografia, pode-se apreender seus comportamentos sociais e suas redes de relação social no espaço, neste sentido, pode-se inferir sobre a espacialização de suas atividades e possíveis causas de escolha daquela localidade. Palavras-chave: informalidade, espaço público e sociabilidades
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