Baixe Química Orgânica - Barbosa e outras Notas de estudo em PDF para Engenharia Agronômica, somente na Docsity! Mem a
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Luiz CLÁUDIO DE ALMEIDA BARBOSA
INTRODUÇÃO À
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RGÂNICA
Orenomado professor Luiz Cláudio de Almeida Barbosa presenteia o
público com mais uma minuciosa aula: esta nova edição de
Introdução à química orgânica.
Com linguagem simples e primorosa didática, este livro apresenta os
conceitos fundamentais de um dos assuntos que mais aproximam o
conteúdo acadêmico da vida de quem o estuda ao tratar de tópicos
como alcanos, álcoois, éteres, aldeídos e cetonas.
Seguindo com rigor todas as normas e indicações da IUPAC,
Introdução à química orgânica é referência para estudantes de
agronomia, enfermagem, farmácia, biologia, engenharia de
alimentos e de outras áreas afins que desejam estudar química com
a mais alta qualidade.
EN
NANA TRA Re TETE O
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para estudantes, respostas dos exercícios.
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ER er] ISBN a78 cas fi
www.pearson.com.br | |
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vi Introdução à química orgânica
que ao longo desses anos têm dividido comigo a tarefa de lecionar a discipli-
na Fundamentos de Química Orgânica contribuindo diariamente para que
essa nova edição se tornasse uma realidade. Também à professora Vander-
lúcia Fonseca de Paula (UESB) por rever o livro integralmente,
Finalmente, agradeço a minha filha Victória por emprestar suas mãos
que aparecem na figura 6.2 e à minha filha Carolina que foi fonte de inspi-
ração para nomear as Carolignanas descritas no Capitulo 10,
Como sempre, todo e qualquer erro que porventura ainda tenha ficado
no texto é de minha única responsabilidade.
Disponível em: www.quimicanaveiauesb.blobspot.com
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“Não é, com efeito, empresa fácil transmitir
e explicar o que pretendemos, porque as coisas
novas são sempre compreendidas por analogia
com as antigas”.
Francis Bacon (1561-1626)
Aos meus pais, Célia e Paulo;
às minhas filhas, Victória e Carolina *
Capítulo 1 Estrutura e propriedades de
moléculas orgânicas
Orbitais atômicos
Ligações químicas
Ligação iônica
Ligação covalente
ww MN Na
Hibridação dos orbitais e forma tridimensional das
moléculas 6
Orbitais híbridos spº 6
Orbitais híbridos sp? A, 01 8
Orbitais híbridos sp Agua ND 9
Fórmulas estruturais dos compostos orgânicos e
isomeria constitucional 10
Fórmulas estruturais 10
Isomeria constitucional 12
Estruturas de ressonância 13
Polaridade das ligações covalentes e das moléculas 14
Propriedades físicas e forças intermoleculares 16
Interação fon-dipolo 16
Interação dipolo-dipolo 17
Interação dipolo instantâneo-dipolo induzido 18
Ligação de hidrogênio 19
Solubilidade 22
Ácidos e bases 24
Ácidos e bases de Brônsted-Lowry 25
A força dos ácidos e das bases 27
Ácidos e bases de Lewis 30
xii
introdução à química orgânica
Capítulo 6 Introdução à estereoquímica
O polarímetro e a luz polarizada
A descoberta de quiralidade em moléculas
A história da talidomida
Estereoisômeros com um carbono assimétrico
Representação de enantiômeros
Especificação da configuração absoluta
Estereoisômeros com mais de um carbono
assimétrico
Convenção de Fischer-Rosanoff
Capítulo 7 Haletos orgânicos: propriedades e
reações
Ocorrência
Nomenclatura
Propriedades físicas e estrutura
Reações dos haletos orgânicos
Substituição
Substituição nucleofílica bimolecular (A,D,)
Substituição nucleofílica unimolecular (D,, + A,)
Eliminação
Oxidorredução
Clorofluorocarbonos e a camada de ozônio
Capítulo 8 Álcoois
Nomenclatura
Nomenclatura substitutiva
Nomenclatura radicofuncional
Tióis
Sais
Propriedades físicas
Preparo
Reações
Reações que envolvem a quebra da ligação
oxigênio-hidrogênio
Reações que envolvem a quebra da ligação
carbono-oxigênio
144
145
147
149
149
150
151
155
158
163
164
165
165
166
167
168
171
172
175
176
180
181
181
183
183
184
184
186
187
187
190
Capítulo 9 Fenóis
Nomenclatura
Acidez de fenóis
Reações dos fenóis
Acilação e alquilação
Substituição eletrofílica aromática
Oxidação
Capítulo 10 Éteres
Nomenclatura
Nomenclatura substitutiva
Nomenclatura radicofuncional
Éteres cíclicos
Sulfetos
Éteres coroa
Propriedades físicas
Reações
Reações de epóxidos
Capítulo 11 Aminas
Nomenclatura
Aminas primárias
Aminas secundárias e terciárias
Sais de amônio
Aminas heterocíclicas
Estrutura e propriedades físicas
Basicidade
Reações
Reação ácido-base
Substituição nucleofílica
Formação de amidas e sulfonamidas
Reação com ácido nitroso
Oxidação
Reações de outros compostos nitrogenados
Capítulo 12 Aldeídos e cetonas
Nomenclatura
Aldeídos
Cetonas
Propriedades físicas
Reações
Reações de oxidação
Reações de redução
198
201
202
203
204
205
207
212
214
214
215
215
216
217
217
218
220
225
228
228
230
231
231
232
234
236
236
237
238
241
244
244
248
249
249
251
252
253
253
254
Reações de adição 256
Reação de Wittig 262
Reações envolvendo o carbono a em relação à carbonila 264
Carboidratos 268
Classificação dos carboidratos 268
Estruturas cíclicas dos carboidratos 269
Dissacarídeos e polissacarídeos 27
Capítulo 13 Ácidos Carboxílicos e Derivados 277
Nomenclatura 281
Ácidos carboxílicos 281
Sais e ésteres 284
Haletos de acila 284
Anidridos de ácido 285
Amidas 286
Nitrilas 287
Propriedades físicas 288
Reações 290
Preparo e reações de cloretos de acila 291
Síntese e reações de anidridos 293
Reações e preparo de ésteres 293
Síntese e reações de amidas 296
Sabões e detergentes 297
Aminoácidos e proteínas 299
Apêndice 306
Respostas dos testes 308
Referências 326
Índice remissivo 328
Tabela periódica 333
Caliia a cedbam as
devem estar claros quando concluir o estudo daquele capítulo. Outra novida-
de são os testes no final de cada seção, que propiciam ao aluno a oportunida-
de de testar o seu desempenho na aprendizagem de cada tópico, e assim ter
uma boa noção dos conteúdos assimilados. Ainda são apresentadas no final
do livro as respostas de todos os testes, e, desta forma, o estudante poderá se
autoavaliar e confirmar o nível de aprendizado referente aos tópicos estu-
dados. Além dos testes, o autor acrescenta novos exercícios ao final de cada
capítulo fornecendo material para que o aluno exercite o aprendizado em
conceitos que são fundamentais para cada tópico.
Outra modificação interessante com relação à edição anterior está no
uso de cores diferentes para destacar grupos substituintes em cada fórmula
química e também nos nomes, ficando simplificada a tarefa do aluno em
relacionar as fórmulas com os nomes das substâncias. Esta nova forma de
representação foi também utilizada para destacar os grupos funcionais nas
representações dos mecanismos de reações, mais uma vez facilitando a tare-
fa do estudante em reconhecer cada um dos átomos envolvidos na quebra e
formação de novas ligações.
Interessante mencionar que as respostas de todos os exercícios estarão
disponíveis no site do livro, juntamente a apresentações em PowerPoint para
os professores, os quais terão a tarefa de preparação de aulas muito facilitada.
Finalmente, sobre o texto, é ainda importante salientar o fato de que muitas
explicações foram melhoradas e atualizadas com relação à edição anterior,
assim como títulos de capítulos alterados, nesta edição, refletem melhor os
seus conteúdos. De forma geral, o autor mantém a estrutura da primei-
ra edição, com melhoras sensíveis, o que certamente vem atender à gran-
de demanda por textos de boa qualidade nesta área. Ainda é interessante
mencionar que o autor apresenta com muito cuidado as nomenclaturas dos
compostos orgânicos, com base nas regras mais atuais da TUPAC (Interna-
tional Union for Pure and Applied Chemistry).
Assim, pelas características mencionadas para esta obra, não tenho dú-
vidas em recomendá-la tanto para alunos como professores de cursos de
química orgânica, pois está bem escrita, bem apresentada e com conteúdos
básicos bem explorados, respeitados os graus de profundidade de discussões
que cada tópico requer. Este livro vem ajudar a preencher uma das lacunas
existentes em cursos de química, que é exatamente a oferta de textos boa
qualidade, e em língua portuguesa.
Dr. Paulo Cezar Vieira
Professor Associado 3
Universidade Federal de São Carlos
Fx. Presidente da Sociedade Brasileira de Química (SBO)
Introdução
pós doze anos desde a publicação da primeira edição deste livro, que
vem sendo amplamente utilizado por instituições de ensino superior
para o ensino de química orgânica, vimos a necessidade de empreender
uma revisão de modo a atender às várias sugestões recebidas de professores
de todo o pais.
Nesse sentido, procuramos manter a estrutura do livro de modo que
não se descaracterizasse o estilo de apresentação do conteúdo. Como nas
edições anteriores, sempre tivemos a dificil tarefa de selecionar os tópicos
a serem incluídos, deixando de fora muitas reações e informações. Assim,
procuramos manter apenas reações características de cada um dos grupos
funcionais apresentados, a fim de atender às necessidades de conhecimento
de estudantes de cursos de agronomia, bioquímica, ciências biológicas, en-
fermagem, farmácia, engenharia de alimentos, engenharia ambiental, en-
genharia florestal, engenharia química, nutrição, química e outros de áreas
afins.
antendo a linha das edições anteriores, procuramos ser rigorosos
com o uso das regras mais atuais de nomenclatura de compostos orgânicos
da TUPAC. Também chamamos a atenção para o uso de símbolos e termos
diversos como cis, trans, R, S, E, Z, DH e K, que estão mostradas em itálico
conforme recomendado pela IUPAC.
O texto foi todo revisado de acordo com as novas regras gramaticais, e
nesse sentido, os nomes de alguns compostos aparecem um pouco diferentes
do observado na edição anterior.
De acordo com as novas regras gramaticais instituídas no país, os no-
mes de alguns compostos poderiam ser hifenizados como, por exemplo,
ciclo-hexano. Entretanto, assim como na edição anterior, a hifenização não
foi adotada, uma vez esse procedimento é contrário às normas da IUPAC,
prevalecendo, portanto, a citação cicloexano, que também atende as regras
gramaticais da lingua portuguesa.
Buscando-se melhoria e atualizações no texto.
Bannfias Paes tia ses macli
várias inclusões e modi-
ua Alas se dice us! astasn ias & Ílicio us aio MT: -
No início de cada capítulo foi incluído um pequeno resumo, cujo obje-
tivo é apresentar uma visão geral sobre o conteúdo a ser estudado.
Objetivos instrucionais (objetivos de aprendizagem) estão apresentados
de modo a orientar o estudante sobre pontos importantes a serem conside-
rados durante o estudo de cada capítulo.
Testes foram inseridos ao final de algumas seções para auxiliar na ava-
liação sequencial de aprendizagem do conteúdo. As respostas de todos os
testes foram incluídas ao final do livro.
Foram incluídos diversos exercícios novos ao final de cada capítulo,
cujas respostas estão disponíveis no site de apoio da editora. Isso possibilita
ao estudante avaliar seu desempenho durante o estudo da matéria.
Para professores, foi preparado um material didático em Power Point
que está disponível no site de apoio do livro (www.prenhall. com/barbosa. br).
A editoração gráfica do texto foi feita utilizando-se a cor azul para des-
taques pontuais. Por exemplo, as fórmulas estruturais apresentam destaque
azul para substituintes e grupos funcionais considerados. Esse procedimento
facilita a correlação entre as fórmulas estruturais e os nomes dos compostos.
A representação dos mecanismos de reação também apresenta destaque
azul enfatizando as modificações ocorridas nos grupos funcionais.
Alguns capítulos tiveram os títulos alterados, tornando-os mais apro-
priados à descrição do conteúdo.
Aspectos históricos, de grande relevância para o desenvolvimento da
química, são frequentemente abordados ao longo do texto.
A aplicação comercial ou caseira de diversas substâncias é discutida em
todos os capítulos, de modo a mostrar ao estudante a utilidade prática da
química orgânica.
Essa nova edição é o resultado de nosso esforço contínuo para ofere-
cer aos leitores diversos um material atraente e útil. Assim como ocorreu
nas edições anteriores, esperamos poder contar com sugestões e críticas de
nossos colegas e estudantes de todo o Brasil para que possamos continuar
adequando o texto às reais necessidades de todos.
Luiz C. A. Barbosa
içosa - MG
2 Introdução à química orgânica
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Figura 1.1 Representação dos
orbitais s (A) e p (B).
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Figura 1,2 Diagrama para a
determinação da ordem aproximada de
preenchimento dos orbitais.
e Orbitais atômicos
O orbital atômico é a região do espaço onde é mais provável encontrar
o elétron. Ele representa, portanto, a distância em que há maior probabi-
lidade de se encontrar o elétron a partir do núcleo, bem como a forma e a
orientação geométrica do espaço ocupado por ele, e também seu spin.
Os orbitais atômicos são designados pelas letras s, p, d ef. Os orbitais
s são esféricos e os p têm a forma de halteres, conforme representados na
Figura 1.1.
Os orbitais atômicos localizam-se em vários níveis de energia ou cama-
das, que são designadas pelos números 1, 2, 3, 4,5,6 e 7. À medida que o
número da camada aumenta, cresce a distância em que há maior probabi-
lidade de se encontrar o elétron a partir do núcleo.
A primeira camada tem um orbital s denominado 1s; a segunda,
um orbital s (25) e três orbitais p (2.
orbi
p, e 2h); e à terceira, um orbital s (35), três
s / (3p., 3h, é 3h) e cinco orbitais d. Cada orbital pode comportar no máxi-
mo dois elétrons, que possuem spins opostos (+1/2 e —1/2).
No preenchimento dos orbitais atômicos, os elétrons ocupam sempre
os níveis de menor energia possível. Esse procedimento é conhecido como
princípio de Aufbau," /
A ordem aproximada de preenchimento dos orbitais
atômicos pode ser obtida por meio do diagrama apresentado na Figura 1.2,
bastando seguir a direção das setas.
Exemplos da configuração eletrônica de alguns elementos são apresen-
tados no Quadro 1.1.
Quadro 1.1 Configuração eletrônica de alguns elementos químicos
RARA:
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9
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Nº Configuração eletrônica
18!
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cia D der liam pias pt TA
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Ligações químicas
Os átomos, apesar da neutralidade elétrica, são, em sua maioria, es-
pé
es instáveis € red
as. Eles tendem a se combinar, formando os mais
diversos tipos de compostos. Nestes, os átomos são mantidos unidos por
meio de ligações químicas. Essas
sua camada de valência (a mais externa). Uma lig
ligações envolvem sempre os elétrons de
ão química entre dois
átomos será formada sc houver redução na energia do sistema resultante,
Capítulo 1 Estrutura e propriedades de moléculas orgânicas 3
em comparação ao conteúdo de energia dos átomos separados. Em outras
palavras, toda vez que uma ligação química é formada ocorre liberação de
energia. Quanto maior for a quantidade de energia liberada, mais forte será
a ligação. Como consequência, para quebrar uma ligação química, é neces-
sária uma quantidade de energia igual à liberada na ocasião de sua forma-
ção. A maneira como um átomo se ligará a outro dependerá da natureza
de ambos e de suas distribuições eletrônicas. A seguir será feita uma breve
discussão sobre os dois tipos de ligações químicas comumente encontradas
em compostos inorgânicos e orgânicos.
Ligação iônica
A ligação iônica resulta da atração eletrostática de íons de cargas opos-
tas. Geralmente ela é formada entre dois átomos cujos valores de eletrone-
gatividade são bastante distintos. O átomo menos eletronegativo perde um
elétron (ou mais de um). tornando-se um íon positivo (cátion). Já o átomo
mais eletronegativo recebe um ou mais elétrons, tornando-se um íon carre-
gado negativamente (ânion). A atração eletrostática entre os íons resulta na
liberação de energia, com a consequente estabilização do sistema.
Quando os elementos ganham ou perdem elétrons, a configuração ele-
trônica de sua camada de valência tende a ficar com oito elétrons, como a
maioria dos gases nobres.
Por exemplo, o sódio possui configuração eletrônica 152252935! e, ao
perder um elétron, transforma-se em um cátion com oito elétrons na cama-
do
neônio (Quadro 1.1). O cloro, por sua vez, possui configuração eletrônica
15º25º26º38:3pº e, ao receber um elétron, transforma-se no íon com configu-
ração 15º25º2p"35º3pº, correspondente à configuração do gás nobre argônio.
Esses dois ions se atraem formando o cloreto de sódio (NaC!)
Alguns exemplos de compostos inorgânicos iônicos e as respectivas dis-
tribuições eletrônicas dos íons envolvidos são:
Na* CH (5252632309)
Mg" (152262969), CI (15:25995362369)
Cat (18909323) FP (15:95:29
da de valência e configuração 15º25º2pº correspondente à configura
Note que nos compostos iônicos deve haver um balanço de cargas
negativas e positivas. Por exemplo, como o íon cálcio tem carga 2+ e o
ion fluoreto possui carga 1—, a proporção entre eles é de um cálcio para dois
Iluoretos.
A ligação iônica pode também ocorrer no caso de sais orgânicos, con-
forme será ilustrado nos próximos capítulos.
Teste 1.1
Escreva as fórmulas dos seguintes compostos iônicos: brometo de
potássio, sulfeto de sódio, fluoreto de césio.
Ligação covalente
Uma ligação é denominada covalente quando os átomos envolvidos
compartilham um ou mais pares de elétrons. Normalmente, a diferença de
eletronegatividade entre os átomos que formam uma ligação covalente é
4 Introdução à química orgânica
Gilbert Newton Lewis (1875-1946),
químico norte-americano, Ph.D. pela
Universidade de Harvard (1899), foi
professor no Massachusetts Institute of
Technology (MIT) e na Universidade da
Califórnia em Berkeley.
Considere, por exemplo, a molécula do hidrogênio (H,). A ligação co-
valente H-H resulta do compartilhamento de elétrons dos dois átomos de
hidrogênio, elétrons estes que são representados por pontos.
H + HH —s HH + 435 kJ mol"
A formação da ligação H-H ocorre com liberação de 435 kJ mol".
Portanto, para quebrar essa ligação é necessário fornecer a mesma quanti-
dade de energia.
A seguir são mostrados exemplos de compostos formados por ligações
covalentes. Na primeira linha, foram representados todos os pares de elé-
trons das estruturas. Entretanto, a forma mais comum de representar um
par de elétrons envolvido em uma ligação covalente é por meio de um traço
(—), conforme ilustrado pela segunda sequência de estruturas mostradas a
seguir. As estruturas em que os pontos são utilizados para representar os
elétrons são denominadas estruturas de Lewis, em homenagem ao químico
norte-americano Gilbert N. Lewis. O uso de traços para representar uma
ligação covalente foi primeiro proposto por August Kekulé, e como conse-
quência às vezes as estruturas em que os traços são utilizados são também
chamadas de estruturas de Kekulé. Observe nos exemplos que nem todos
os elétrons de valência estão envolvidos nas ligações covalentes. Aqueles
elétrons que não têm participação na formação das ligações químicas são
denominados não ligantes.
7
H=6=H H=N-H
H H
Ao se escreverem as fórmulas estruturais, os pares de elétrons não
ligantes podem ou não ser representados, dependendo do que se dese-
ja enfatizar. A estrutura de Lewis de uma molécula ou íon, entretanto,
mostra, além dos simbolos dos elementos, unidos por pontos ou linhas
para representar as ligações covalentes, pares de pontos representando os
elétrons não ligantes.
Nesses exemplos, vê-se que o número total de elétrons na camada mais
externa do H é dois e nas de C, N, O e E oito. Logo, a maioria dos elemen-
tos forma ligações covalentes, de modo que se alcance o octeto, ou seja, oito
elétrons no último nível ocupado.
O átomo de flúor contém sete elétrons de valência e precisa compar-
tilhar apenas um elétron (com um hidrogênio, um carbono ou com outro
flúor) para alcançar o octeto. Dessa forma, cle é capaz de fazer apenas uma
ligação. Por sua vez, o oxigênio contém seis elétrons de valência, comparti-
lhando, portanto, dois desses elétrons mediante a formação de duas ligações
covalentes. Já o carbono, que possui quatro elétrons de valência, deve com-
partilhar todos eles, fazendo quatro ligações.
Os elementos mais comumente encontrados em compostos orgâni-
cos e o número de ligações que eles normalmente fazem são: C (4), N (3),
0e8(2,H,E CI Brel (1). Deve ficar claro nesse ponto que o oxigênio
pode participar de três ligações, e o nitrogênio, de quatro, conforme vere-
mos posteriormente. Nesses casos os elementos suportarão uma carga posi-
tiva. O enxofre poderá realizar mais de duas ligações, tendo até mesmo mais
que oito elétrons na camada de valência.
Capítulo 1
Estrutura e propriedades de moléculas orgânicas 7
Energia
Orbitais atômicos originais
Orbitais hibridos 259?
Figura 1.3 Representação dos níveis de energia dos orbitais originais e dos
orbitais híbridos sp? do átomo de carbono.
hibridação y
———» o O-—
Figura 1.4 Combinação de três orbitais p e um orbital s, para formar quatro
orbitais hibridos sp', e representação da interpenetração do orbital 1s de quatro
átomos de hidrogênio com os orbitais sp? do carbono, para formar o metano
z
dos orbitais s e p do carbono para formar os orbitais híbridos, e a combinação
destes com quatro átomos de hidrogênio, resultando na formação do CH.
Como os orbitais híbridos são formados a partir de orbitais s e p, sua
forma é mais bem representada pela Figura 1.5. Nota-se que eles se pare-
cem com os orbitais p, sendo um dos lóbulos maior que o outro. Para não
tornar a Figura 1.4 muito complicada, foi representado apenas o lóbulo
maior de cada orbital sp".
A geometria da molécula de metano é dependente da geometria dos or-
bitais sp”, sendo, portanto, representada conforme ilustrações na Pigura 1.6.
O átomo de carbono ocupa o centro de um tetraedro, e os átomos de hi-
drogênio ocupam seus vértices. O ângulo entre as ligações H-C-H é de
109,47º, sendo denominado tetraédrico. Esse é o arranjo espacial em que
a distância entre os átomos de hidrogênio é máxima e, consequentemen-
te, à repulsão entre os elétrons das ligações C-H é minimizada. Assim, as
ligações sigma entre o carbono e os átomos de hidrogênio na molécula do
metano são formadas pela superposição dos orbitais 25º do carbono com os
orbitais |s de cada hidrogênio.
Como na molécula de metano, todo carbono que se encontrar ligado
a quatro outros átomos ou grupo de átomos, apenas por meio de ligações s.
terá hibridação sp”, ou seja, geometria tetraédrica. O tetracloreto de carbo-
no, por exemplo, tem a mesma geometria do metano, veja:
al
|sjosar
0]
e N
Cc
Figura 1.5 Representação de um
orbital sp”.
(8)
109,47º
[o] '
—— Ligação no plano do papel
musa Ligação atrás do plano
—- Ligação na frente do plano
Figura 1.6 Representações da
estrutura tridimensional do CH,. Na
Figura A é ilustrado o modelo de bolas
e varetas, e nas figuras Be C observa-
-se como os átomos de hidrogênio
ocupam os vértices de um tetraecro, e
w w w .q u im ic a n a v e ia u e s b .b lo b sp o t. co m Capítulo 1 Estrutura e propriedades de moléculas orgânicas
9
O ângulo entre uma e outra ligação é de aproximadamente 120º. Para
explicar a geometria dessa molécula e a existência de uma ligação dupla entre
os átomos de carbono, outro tipo de hibridação deve ser considerado. Nesse
caso, o orbital 2s e dois orbitais 2p de carbono são combinados para formar
três orbitais híbridos sp?. Esses orbitais são direcionados para os vértices de
um triângulo equilátero (Figura 1.8) e, consequentemente, a repulsão entre os
elétrons que os ocuparem será a mínima possível. Evidentemente, o ângulo
entre esses orbitais é de 120º, e o orbital 2p que não participou da hibridação
permanece perpendicular ao plano ocupado pelos orbitais híbridos.
A aproximação entre dois átomos de carbono hibridados sf? leva à for-
mação da ligação o (spº— sp?) por meio da superposição frontal entre um orbi-
tal sp? de cada átomo, enquanto a interpenetração lateral entre os orbitais 2p
resulta na formação da ligação 7. Os orbitais 25h? restantes combinam-se com
os orbitais 1s dos átomos de hidrogênio (quatro no total), completando, dessa
forma, as valências dos átomos de carbono na molécula do eteno (Figura 1.9).
;
Figura 1.9 Combinação dos orbitais sp? e p de dois átomos de carbono e
quatro átomos de hidrogênio (orbital s) para formar o eteno.
Em resumo, todo átomo de carbono que formar uma ligação dupla
apresentará hibridação sp?, e o ângulo formado com quaisquer dois átomos
ou grupos ligados a um deles será de aproximadamente 120º.
O oxigênio e o nitrogênio, que também participam de uma ligação
dupla, apresentam hibridação sp?, conforme exemplificado a seguir:
H H H
Jo=0: “O=Nf
/ /
H'sp* sp H'so” sp'
Teste 1.3
Esquematize os orbitais das espécies CH *, CHy, BF, indicando a
geometria de cada uma delas.
Orbitais híbridos sp
O átomo de carbono que se liga a outros átomos por meio de duas liga-
ções o e duas 7 apresenta hibridação sp. Nesse caso, um orbital 2s combina-
-se com um orbital 2p para formar dois orbitais híbridos sp, sendo o ângulo
entre eles de 180º. Os outros dois orbitais 24 que não participaram da hibri-
dação encontram-se perpendiculares ao plano dos orbitais sp (Figura 1.10).
O hidrocarboneto mais simples em que o carbono apresenta hibridação
sp é o acetileno (HC=CH). A ligação o (C-C) é formada pela superposi-
ção frontal dos orbitais híbridos 25p de cada um dos átomos de carbono,
enquanto as duas ligações 7 (C-C) são formadas pela superposição lateral
entre os orbitais 2p paralelos de cada carbono. Já as ligações o (C-H) são
formadas pela combinação dos orbitais 1s dos hidrogênios com os orbitais
hibridação
Figura 1.8 Representação da
combinação de dois orbitais p e um
orbital s para formar três orbitais
híbridos sp?.
12
Introdução à química orgânica
Teste 1.5
Desenhe as fórmulas de linhas e de traços (Kekulé) para os seguintes
compostos:
a) CH,CH,CHCICH,
b) CH,=CHC(CH),CH,CH,OH
c) (CH, CCH,CCCH Br
Isomeria constitucional?
Conforme foi dito, a fórmula molecular de um composto representa ape-
nas os tipos e a quantidade de átomos que entram em sua constituição. Já a
fórmula estrutural mostra, além disso, o arranjo dos átomos e a sequência
de ligações entre eles, ou seja, ela informa exatamente como os átomos estão
ligados entre si. Considere, por exemplo, o composto de fórmula molecular
CH, Nesse caso, é possível representar as seguintes fórmulas estruturais:
pa
CHCHCHOH, o CH,CHOH,
Esses compostos têm a mesma fórmula molecular, mas, por suas fór-
mulas estruturais, fica evidente que as sequências em que os átomos estão
ligados entre si são diferentes. Eles são, portanto, denominados isômeros
constitucionais. Por exemplo, a fórmula molecular C,H O pode apresentar
as seguintes fórmulas estruturais:
CH.CH,OH e CH-O-CH,
O primeiro composto pertence à classe dos álcoois e o segundo, à dos
éteres. Eles são também isômeros constitucionais.
Outros exemplos de isômeros constitucionais são dados a seguir. Obser-
ve que todos estes cinco compostos apresentam fórmula molecular C,H, O,
pertencendo os três primeiros à função álcool, e os dois últimos, à função éter.
pr ASA —ron ES o ip A =»
OH o
Conforme veremos posteriormente, existem ainda os estereoisômeros,
compostos que diferem entre si, exclusivamente, pela disposição dos átomos
no espaço. Nos estereoisômeros a conectividade entre os átomos é a mesma,
de forma que eles não são considerados isômeros constitucionais.
A classificação de isômeros como de posição, de cadeia e de função,
conforme aparece em alguns textos, não é recomendada pela TUPAC, não
devendo, portanto, ser utilizada.
Teste 1.6
Desenhe as fórmulas de linhas para três álcoois e três éteres acíchcos
que sejam isômeros constitucionais e apresentem fórmula molecular C,H,O.
Teste 1.7
Desenhe as fórmulas de linhas para todos os éteres cíclicos que se-
jam isômeros constitucionais com fórmula molecular C HO.
2 OQ termo isomerismo estrutural foi abandonado pela International Union of Pure and
Capítulo 1 Estrutura e propriedades de moléculas orgânicas
13
Estruturas de ressonância
Em alguns casos, não é possivel escrever adequadamente a estrutura
eletrônica das espécies químicas (moléculas ou íons) por meio de uma única
estrutura de Lewis. Considere, por exemplo, o caso do íon acetato:
Se considerarmos a estrutura A de Lewis, uma das ligações entre o
carbono e o oxigênio é simples e a outra, dupla. O mesmo acontece com a
estrutura B. As duas estruturas diferem apenas na distribuição dos elétrons.
A ligação C—O, que é dupla em A, é simples em B, e vice-versa. De acordo
com essas representações, tais ligações deveriam ter comprimentos diferen-
tes. Na realidade, medições por raios X mostram que as duas ligações C-O
possuem exatamente o mesmo comprimento. Portanto, as fórmulas A e B
não são totalmente adequadas para representar o íon acetato. À estrutura
desse íon seria mais bem representada pela fórmula C, também conhecida
como híbrido de ressonância. De acordo com essa representação, as duas liga-
ções C—O devem ser iguais, de comprimento intermediário entre uma ligação
simples e uma dupla. A ordem dessas ligações é 1,5. Isso pode parecer estra-
nho, pois estamos acostumados a falar de ligações simples, duplas e tríplices.
Na figura anterior utilizamos uma seta de ponta dupla entre as estru-
turas A e B. Essa seta não representa equilíbrio químico. Ou seja, deve ficar
claro que não existem duas estruturas para o íon acetato, em que uma se
converte na outra, e sim uma única. Dependendo do contexto, os químicos
utilizam representações do tipo A e B, também conhecidas como estruturas de
ressonância, mesmo sendo elas aproximações. Em alguns casos, as estruturas
do tipo C serão utilizadas.
Observe ainda na figura anterior que o movimento dos elétrons é re-
presentado por setas curvas. Essas setas começam na posição inicial em que
se encontram os elétrons e são direcionadas para a posição em que eles se
localizarão na outra estrutura. Nesses casos em que os elétrons não se en-
contram fixos entre dois átomos, diz-se que eles estão deslocalizados.
Apenas para ilustrar esse conceito, observe as várias estruturas de
Lewis que podem ser escritas para o íon carbonato (CO ?).
Como no caso do íon acetato, no híbrido de ressonância, as ligações
são simbolizadas por uma linha simples e outra tracejada. Normalmente
utilizamos o símbolo ô para representar carga parcial, ou seja, menor que a
unidade. Como no íon carbonato a carga 2” está distribuída uniformemen-
te enhra ne rrãe áramas de avioênio em cada nm colncamas esse símholo.
14
Introdução à química orgânica
No caso dos íons acetato e carbonato todas as estruturas de ressonância
representadas anteriormente são equivalentes e contribuem de forma igual
para os híbridos de ressonância. Todavia isso nem sempre ocorre, como no
caso do formaldeído ilustrado a seguir:
O) 0) im
Observe que a estrutura 1 possui os átomos de carbono e oxigênio com
oito elétrons de valência cada. A estrutura II, por outro lado, apresenta o
átomo de carbono com apenas seis elétrons de valência, o que torna sua con-
tribuição para o híbrido de ressonância menor. Já a estrutura III foi formada
pelo deslocamento do par de elétrons pi (7) na direção do átomo de carbono,
que é menos eletronegativo que o átomo de oxigênio. Essa situação é muito
pouco provável, de modo que a contribuição dessa estrutura para o híbrido
de ressonância é desprezível e esse tipo de estrutura nunca é representada.
De um modo geral, quando várias estruturas de ressonância podem ser
escritas, os seguintes pontos devem ser observados:
a) As estruturas que possuem o maior número de átomos com o octeto
completo contribuem mais para o híbrido de ressonância.
b) Os pares de elétrons são sempre deslocados preferencialmente na
direção dos átomos mais eletronegativos.
c) Nocaso de estruturas que possuem cargas opostas separadas, a con-
tribuição mais importante é dada pelas fórmulas em que a distância
entre essas cargas €
a menor possível.
E
No caso de alguns elementos, como enxofre e fósforo, estruturas de
ressonância em que esses átomos apresentam mais de oito elétrons
na camada de valência podem ser escritas.
e) No caso de íons e radicais, quanto maior o número de estruturas de
ressonâncias, mais estáveis cles serão.
Considerando a grande importância das estruturas de ressonância em
diversos aspectos da química orgânica, esse assunto será apresentado nova-
mente em várias partes deste livro.
Teste 1.8
Represente as estruturas de ressonância para diazometano (CH,
importante.
e indique qual deve ser a mai
Polaridade das ligações covalentes e
das moléculas
Em moléculas como hidrogênio (H,) ou cloro (CL), formadas por áto-
mos de um mesmo elemento, o compartilhamento pelo par de elétrons da
ligação covalente ocorre de modo igual, visto que não há diferença de ele-
tronegatividade entre as espécies envolvidas. Nesse caso, a ligação é deno-
minada covalente apolar.
No caso de ligações formadas por átomos que possuem eletronega-
Capítulo 1 | Estrutura e propriedades de moléculas orgânicas
17
Quadro 1.2 Forças intermoleculares e espécies envolvidas
“lon-dipolo Forte fons e moléculas polares
Dipolodipolo py
H Muito fraca Molécula polar e outra apolar
Moléculas que possuem
Ligação de Pa hidrogênio ligado a elemento
hidrogênio bastante eletronegativo como
E. Domin ENO.
* Em geral essas forças são fracas, mas, uma vez que aumentam com a superfície de contato
entre as moléculas, podem se tornar intensas.
álcool. Ela é devida à atração eletrostática entre os íons positivos (cátions)
e a parte negativa da molécula do solvente, e entre os íons negativos e a
parte positiva da molécula do solvente, conforme ilustrado a seguir, para as
interações envolvendo os íons sódio e cloreto com moléculas de água. Essa
representação é simplificada, uma vez que o número de moléculas que inte-
ragem com cada íon dependerá da natureza do solvente e dos ions. Quando
o solvente utilizado é a água, diz-se que os íons estão hidratados e, quando
é diferente da água, diz-se que eles estão solvatados.
HM
Õ
5 ” o 4
Ah jo: Nat O
st Hg! a H
A
HOH
Em alguns casos, quando os sais cristalizam-se a partir de uma solução
aquosa, os íons podem reter certa quantidade de água formando os compos-
tos denominados hidratos, como é o caso do MgSO -7H,0 e CuSO -5H,0.
Tanto a carga do íon quanto seu tamanho influenciam na extensão do grau
de hidratação do composto.
Interação dipolo-dipolo
Conforme visto anteriormente, diversas moléculas orgânicas apresen-
tam dipolos permanentes. Na fase condensada, essas moléculas interagem
entre si, como resultado da atração da extremidade positiva de uma molécu-
la pela extremidade negativa de outra. Dois tipos de arranjos possíveis para
essa interação são ilustrados a seguir:
o ED
Orientações possíveis para moléculas polares
A energia envolvida na interação dipolo-dipolo pode ser expressa pela
18 | Introdução à química orgânica
Forças de Van der Waals: denominação
dada em homenagem Johanes D. van
cer Waals (1837-1923), professor da
Universidade de Amsterdan, laureado
cam o prêmio Nobel de Física em 1910.
Forças de London: em homenagem ao
físico Fritz Wolfgang London (1900-1954),
nascido na Alemanha e naturalizado
americano. Foi professor da Universidade
de Duke nos Estados Unidos.
de dipolos das moléculas que estão interagindo e 7 é a distância entre elas.
Note por essa equação que, quanto mais polares forem as moléculas (o que
corresponde a maiores valores de momento de dipolo), mais forte será a
interação entre elas. Também pela equação nota-se que a interação diminui
sensivelmente com a distância entre as moléculas.
Um exemplo de como a intensidade da força de interação dipolo-dipo-
lo tem influência sobre a temperatura de ebulição dos compostos pode ser
o caso dos dois isômeros do 1,2-dicloroeteno”, cujas fórmulas são apresen-
tadas a seguir:
Cx ZA
B=éç lumo
Ho SH
cis-1,2-dicloroetano trans-1 2-dicloroetano
Para o isômero trans, o momento de dipolo resultante é igual a zero e.
para o cis, é maior que zero. Dessa forma, as interações intermoleculares são
mais intensas para o composto cis que para o trans, Sabendo-se que é neces-
sário fornecer energia para romper as interações intermoleculares durante
a mudança da fase liquida para a gasosa, será requerida maior quantidade
de energia no caso do isômero cis. Consequentemente, ele deverá apresen-
tar maior temperatura de ebulição. De fato, os valores das temperaturas de
ebulição obtidos experimentalmente para os isômeros cis e trans são, respec-
tivamente, 60 C e 48 ºC.
Interação dipolo instantâneo-dipoio induzido
Mesmo em moléculas ou átomos que não possuem dipolo permanente,
em um dado instante surgirão dipolos instantâneos, como resultado de um
desequilíbrio momentâneo na distribuição eletrônica. Considere, por exem-
plo, o átomo de hélio, É muito pouco provável que, a qualquer tempo, os
dois elétrons se encontrem no orbital 1s em posições diametralmente opos-
tas. Como consequência, uma molécula com um dipolo instantâneo, ao se
chocar com outra, induzirá nesta o aparecimento de um dipolo, denomina-
do dipolo induzido. O resultado é a existência de uma interação entre ambas
denominada dipolo instantâneo-dipolo induzido ou dipolo induzido-dipolo induzido,
conforme ilustrado a seguir:
choque
ED-—— CD —E DE D
Interação dipolo instantâneo-
dipolo induzido
Dipolo instantâneo
Essa interação é também denominada por alguns autores como forças
de dispersão de London ou forças de Van der Waals. O termo forças de Van der
Waals costuma ser considerado por alguns como sinônimo de forças de
London, enquanto outros o utilizam para descrever qualquer tipo de força
responsável pelo desvio dos gases do comportamento ideal. Isso incluiria
não apenas as forças de London, mas também interações dipolo-dipolo.
As forças de London entre moléculas e grupos apolares são extrema-
mente fracas, sendo dadas pela equação E = —3/a?/H”, onde Té a energia
de ionização da espécie e a é a polarizabilidude, ou seja, a facilidade com que
a nuvem eletrônica pode ser distorcida.
7” Anomenciatura dos alquencs será apresentada no Capítulo 3
Capítulo 1 — Estrutura e propriedades de moléculas orgânicas 19
As forças de London atuam apenas quando as moléculas se encon-
tram muito próximas. Uma análise da equação revela que essas forças
diminuem muito com a distância entre as moléculas (inversamente pro-
porcional a 7") e que aumentam rapidamente com a polarizabilidade «.
A polarizabilidade, por sua vez, aumenta com o volume molar. Isso ocor-
re porque, quanto maior a molécula, mais elétrons haverá e, consequen-
temente, menor será a influência dos núcleos sobre eles, tornando a nuvem
eletrônica mais polarizável. Uma vez que o número de elétrons aumenta
com o crescimento da massa molar, geralmente as forças de London au-
mentam com o crescimento desta; todavia, a massa não é diretamente a
origem de interações fortes.
Como as forças de London surgem da atração entre dipolos elétricos
instantâneos de moléculas vizinhas, elas atuam entre quaisquer tipos de mo-
léculas, mesmo nos casos em que ocorre interação dipolo-dipolo.
Deve-se notar que uma molécula polar pode também atrair uma molé-
cula apolar, por meio da interação dipolo-dipolo induzido.
A intensidade das forças de London depende também das formas das
moléculas. Considere, por exemplo, os alcanos isoméricos de fórmula CH,
representados a seguir. Todos os três compostos possuem a mesma massa
molecular e, consequentemente, o mesmo número de elétrons; no entanto,
a temperatura de ebulição varia de 36 “Ca 9,5ºC.
CH,
HC-CH,-CH,-CH CH, HC-CH-CH,-CH, He-e-ca,
I I
CH, CH,
Pentano 2-metilbutano 2,2-dimetilpropano
T.=86€ T,=28C 1,=9,5%€
A explicação para esse fato está na intensidade das forças intermole-
culares. Em todos os três casos, como a natureza da força intermolecular
é a mesma, ou seja, forças de London, a diminuição da temperatura de
ebulição se deve à diminuição da intensidade dessas forças. Isso acontece
porque, na medida em que o composto fica mais ramificado, ele se torna
mais esférico, e, consequentemente, a área de contato entre as moléculas
diminui, resultando em um decréscimo na intensidade das interações inter-
moleculares. Isso pode ser claramente observado na Figura 1.11, na qual a
redução na área de contato entre as moléculas fica evidente, à medida que
o composto se torna mais ramificado.
Ligação de hidrogênio
Do início do século XX até o final da década de 1930, apareceram
na literatura muitas descrições de interações entre átomos de hidrogênio e
átomos muito eletronegativos, que não se encontravam ligados por meio de
ligação covalente. Em 1920, Latimer e Rodebush, estudando a estrutura e
as propriedades da água sob o ponto de vista da teoria de valência de Lewis,
propuseram em um artigo que o par de elétrons não ligantes de uma mo-
lécula de água devia ser capaz de exercer força suficiente sobre um átomo
de hidrogênio de outra molécula de água, de modo que essas moléculas se
encontrassem unidas umas às outras. Segundo esses pesquisadores, “tal ex-
plicação corresponde a dizer que um núcleo de hidrogênio, mantido entre
dois oetetos, constitui uma ligação fraca”.”
2,2-dimetilpropano Pentano
Figura 1.11 Modelos das estruturas
do 2,2-dimetilpropano e do pentano,
em que as esferas cinzas representam
os átomos de hidrogênio e as azuis, os
de carbono. Os raios das esferas são
proporcionais aos raios atômicos.
22
Introdução à química orgânica
ligações de hidrogênio entre suas moléculas; logo, ele apresenta maior tem-
peratura de ebulição que o composto IV. Na ilustração a seguir é mostrada
a estrutura polar do éter 2, a interação dipolo-dipolo entre as moléculas do
composto II e as ligações de hidrogênio entre as moléculas do composto V.
Med é a
- = &: cu pp eeei—DE
Bo ne sa He-6 Poem,
[A Be E Sem OH een)
Teste 1.10
| Dentre os pares de compostos listados a seguir, indique qual deve
apresentar maior temperatura de ebulição e justifique sua resposta com
base nas interações intermoleculares:
] a) CH,CH,CH,CH,CH, e (CH),CHCH,CH,
b) CH,CH,CH,CH,CH,OH e CH CH,CH,CH,CH CH,
) (CH), CHCH,CH,OH e CH,CH,OCH,CH.,CH,
1 CH,OH e CH
tecno
c)
c
H,CH,CH,CH,CH,CH,CH.CH,CH,CH.CH,
Teste 1.11
Considerando a fórmula molecular €,H,,O, represente as fórmu-
las estruturais de linhas para isômeros constitucionais que atendam os
seguintes critérios:
a) E capaz de realizar ligação de hidrogênio intramolecular,
b) Somente realiza ligações de hidrogênio intermoleculares com mo-
léculas da mesma espécie.
c) Não realiza ligações de hidrogênio intermoleculares com molé-
culas da mesma espécie, mas forma ligações de hidrogênio com
a água.
Solubilidade
A natureza das forças intermoleculares existentes entre os compostos
tem grande influência sobre a solubilidade destes em determinado solvente.
Todos nós sabemos, por experiência diária, que, se quisermos remover uma
mancha causada por gordura em uma peça de roupa, somente a lavagem
com água não resolverá o problema. Por que isso acontece?
Conforme vimos, tanto no estado sólido quanto no estado líquido, as
moléculas (ou íons) são mantidas unidas umas às outras por meio de vá-
rios tipos de forças intermoleculares. Durante o processo de dissolução de
um composto (sólido ou líquido), denominado soluto, em um líquido, de-
nominado solvente, as interações soluto-soluto são substituidas por interações
soluto-solvente. Como regra prática geral, os compostos se dissolverão bem
em solventes com polaridades semelhantes. Ou seja, os compostos iônicos e
os polares tendem a se dissolver bem em solventes polares, e compostos pouco
polares tendem a se dissolver bem em solventes pouco polares.
O etanol e a água, por exemplo, misturam-se em qualquer proporção.
Isso ocorre porque os dois compostos são bastante polares. Além disso, o eta-
nol node interagir fortemente com a água por meio de ligação de hidrogênio.
Capítulo 1 | Estrutura e propriedades de moléculas orgânicas 23
Representação das interações entre moléculas de água e etanol
A polaridade de uma molécula dependerá, além da geometria, confor-
me já discutimos, do balanço entre a parte polar e a parte pouco polar (ou
apolar). No caso do etanol, o grupo polar é constituído pela hidroxila (OH),
ea parte pouco polar, pelo grupo CH,CH,. Como o grupo pouco polar é
relativamente pequeno, o etanol, em termos de polaridade, assemelha-se
mais à água que a hidrocarbonetos (compostos que possuem apenas carbo-
no e hidrogênio, como os constituintes da gasolina, conforme será visto no
próximo capítulo).
Se considerarmos agora a dissolução, em água, dos álcoois lineares
com 4, 5e 11 átomos de carbono, cujas estruturas são apresentadas ao lado,
veremos que as solubilidades deles são, respectivamente, 7,9 g/100 mL de
água, 2,3 g/100 mL e praticamente zero.
Observe que, à medida que a cadeia carbônica aumenta, a solubilidade
diminui. Isso ocorre, pois, nos três casos, o grupo polar, também denomi-
nado lidrofilico (do grego Hydor, água, e philos, amado), é o mesmo. Entre-
tanto, a parte apolar constituída pela cadeia carbônica aumenta. Com isso,
à medida que a cadeia aumenta, a molécula fica mais parecida com um
hidrocarboneto em termos de polaridade. Embora as três moléculas sejam
capazes de realizar ligações de hidrogênio com a água, a interação molecu-
lar predominante entre as moléculas do álcool com 11 átomos de carbono é
do tipo forças de London ou Van der Waals, Por ser muito polar, a água não
interage bem com a cadeia, que é denominada hidrofúbica (do grego Hydor,
água, e phobos, temor).
Conforme mostramos, a solubilidade do butan-1-ol é 7,9 g/100 mL de
água. Quando um novo grupo OH é acrescentado a essa molécula, forma-
-se 0 butano-1,4-diol, que é totalmente miscível em água.
nun HH HH
H— -6- é G-6- OH H-o-6-6-é-6-0-H
Edo Ava
Butan-1-ol Butano-1,4-diol
Observe nas estruturas anteriores que ambas possuem cadeia carbô-
nica, que corresponde à parte pouco polar, do mesmo tamanho. Como o
segundo composto possui maior número de grupos OH (grupo hidrofílico),
sua polaridade é maior que a do primeiro, tornando-o assim mais solúvel
em água.
De modo geral, compostos e grupos que possuem apenas carbono,
hidrogênio e halogênios são pouco polares. Grupos como OH, =NH,
=NH,, —-COOH e —COO”, quando presentes nas moléculas, conferem-
lhes características polares.
Normalmente, para efeitos práticos, os químicos consideram que um
composto é solúvel em água quando pelo menos três gramas dele se dissol-
vem em 100 mL de água, à temperatura ambiente. Verifica-se que com-
postos que possuem um grupo capaz de realizar ligação de hidrogênio (por
exemplo: OH, NH) e com até três átomos de carbono são solúveis em água.
CH,CH,CH,CH,OH
CH,CH,CH,CH,CH,OH
Cadeia hidrotóbica Grupo hidrofílico
CH,CH,,CH,OH
24 — Introdução à química orgânica
Note que, mesmo se o composto possuir seis ou mais átomos de carbo-
no, mas tiver muitos grupos polares, ele poderá se solubilizar em água. Esst
é o caso da molécula de sacarose (C,,H,,O |), o açúcar de uso caseiro, ob-
tido da cana-de-açúcar. Essa molécula possui em sua estrutura oito grupo:
OH, conforme a Figura 1.12.
Outro fator importante na solubilidade dos compostos é a tempera:
Figura 1.12 Fórmula estrutural da tura. Para os líquidos e sólidos, a solubilidade geralmente aumenta com «
sacarose aumento da temperatura.
Alguns solventes utilizados comumente em laboratórios de química or.
gânica, em ordem decrescente de polaridade, são: água, metanol, etanol
acetato de etila, diclorometano, clorofórmio, éter dietílico e hexano. As fór.
mulas desses compostos são apresentadas nos capítulos seguintes.
Pela discussão apresentada, fica evidente que os compostos pouco po:
lares e insolúveis em água são solúveis em hexano e outros solventes poucc
polares. Nesse caso, os compostos são denominados lipofílicos. Esse termc
quer dizer que o composto é solúvel em óleos e gorduras, que são, por na-
tureza, pouco polares e denominados genericamente lipídios. As fórmulas de
óleos e gorduras serão apresentadas posteriormente.
Voltando à pergunta feita no início deste tópico, a remoção da man:
cha de gordura da peça de roupa é feita com o uso de sabões e detergentes
A maneira como esses produtos atuam é discutida no Capítulo 13. Entretanto
podemos agora chamar a atenção para o processo denominado lavagem a seco
Muitas peças de roupa não podem ser lavadas com água e sabão e, nesse:
casos, para a remoção de manchas de gorduras, utilizam-se solventes orgânico:
pouco polares como o tetracloroetileno (CL C=CCL). Observe que a lavagem
a seco não significa que não se utilizam líquidos, e sim que não se utiliza água.
Antes de 1925 era utilizada gasolina nos processos de lavagem a seco
entretanto, em razão de sua alta inflamabilidade, ela foi substituída por sol.
ventes clorados que não são inflamáveis. Normalmente o cheiro de roupas
que foram submetidas a esse processo de lavagem é devido a resíduos de
solventes deixados nas fibras após a evaporação.
Algumas peças de roupa possuem uma etiqueta avisando que não de-
vem ser lavadas a seco. Isso ocorre, por exemplo, no caso de peças que pos
suem enchimento de penas de aves. Essas penas contêm óleos naturais, que
são, em parte, responsáveis por suas propriedades como isolante térmico
Os solventes usados no processo de lavagem a seco são capazes de remover
esses óleos, alterando a capacidade isolante da peça.
Teste 1.12
Dentre os pares de compostos listados a seguir, indique qual deve
ser mais solúvel em água. Justifique sua resposta com base nas forças de
interações intermoleculares:
a) CH,CH,CH,CH,CH, e (CH, CCH,
b) CH,CH,0H e CH,OH
c) HOCH,CH(OH)CH,OH e CH,CH,OCH,CH,CH,
d) CH,CO Na e CH,CH,CH,CH,CH,CH,CH,0H
o Ácidos e bases
As palavras ácido e base são de uso comum, não fazendo parte apenas do
vocabulário dos químicos. Nós às vezes nos referimos a uma fruta como áci-
das mtilizamns nrndntos hácione enma enda nánetica nara dacantunir nine:
Capítulo? — Estrutura e propriedades de moléculas orgânicas
27
MgCO, + 2HCI | > Mg€l, + HO + Co,
ANOH), + 3HCI | — AMI, + 3H0
2NH, + HSO, — (NH)SO,
Exemplo desse tipo de reação é a neutralização parcial do excesso
de ácido clorídrico presente no estômago por meio do uso de antiácidos à
base de NaHCO,, Mg(OH),, CaCO,, MgCO, e AVOH), conforme ilustra-
do nas equações anteriores. A produção do fertilizante sulfato de amônio
NH,SO ,] também envolve uma reação de neutralização.
Muitos compostos orgânicos também apresentam características áci-
das ou básicas e reagem da mesma forma que os compostos inorgânicos.
Vários exemplos de reações ácido-base envolvendo compostos orgânicos serão
apresentados nos próximos capítulos.
A força dos ácidos e das bases
Até aqui foi visto que os ácidos podem ser fortes ou fracos. Os primei-
ros se ionizam totalmente quando dissolvidos em água, e os últimos se ioni-
zam apenas parcialmente. Essa definição de forte e fraco é bastante limitada.
Uma maneira mais objetiva de avaliar a força de um ácido é considerar a
constante de equilíbrio para a equação:
HOM + Has, >
ea) K [HO JA]
á H.OJ[HA
Basa Ácido Áoido Base HOIHAI
conjugado conjugada
Em solução aquosa, o ácido transfere um próton para a molécula de
água, que se comporta como uma base, Para uma solução aquosa diluída,
a constante de equilíbrio K para o processo é dada pela equação anterior.
Sendo a solução diluída, pode-se considerar a concentração da água cons-
tante (igual a aproximadamente 55,56 mol dm ?), de modo que uma nova
constante K,, denominada constante de acidez, pode ser definida pela equação:
[HO IA)
K,=KIHO]= EA
PK, = log K,
Como os valores de K, geralmente variam em uma faixa muito grande,
é comum convertê-los em pK , pela equação anterior. Deve ficar claro que os
valores de K, e de pK,, conforme já definidos, são apenas aproximados, uma
vez que se utilizaram valores de concentração em vez de atividade. Essa supo-
sição é razoável, desde que as medidas sejam feitas em soluções bem diluídas.
Como um ácido é considerado mais forte quanto mais ionizado esti-
ver, pela equação anterior fica evidente que, quanto maior o valor de K,
(e, consequentemente, menor o de pK), mais forte será o ácido. A água,
por exemplo, possui K = 1,8 x 10 ""(pK, = 15,7), e a amônia, K = 10º
(PK, = 36). Esses dois compostos são ácidos muito fracos, embora a água
seja um ácido muito mais forte que a amônia.
No Quadro 1.4 são apresentados valores aproximados de pK,
de alguns compostos inorgânicos e orgânicos. Existem tabelas exten-
sas de valores de pK, para compostos orgânicos; entretanto, nesse qua-
dro são apresentados valores médios para muitos grupos funcionais.
O objetivo é mostrar a acidez relativa dos diversos grupos de compostos
orgânicos. Considere, por exemplo, o último composto apresentado, que
corresnonde ao etano (CH .nK = 421 Fle é anenas nm exemplo repre-
28
Introdução à química orgânica
muitíssimo fracos. Os outros alcanos terão valores de pK, da mesma or-
dem de grandeza que o etano. O penúltimo composto da tabela é o eteno
(CH,=CH,), exemplo representativo da classe de hidrocarbonetos denomi-
nados alquenos. Seu valor de pK, é 36,5, bem menor que o do etano. Com
esse exemplo, estamos querendo apenas ilustrar que os alcanos são ácidos
mais fracos que os alquenos.
De modo geral, alguns fatores que influenciam a acidez de um com-
posto orgânico HA são:
* a força da ligação H-A;
* a eletronegatividade de A;
* fatores eletrônicos (efeito indutivo e ressonância) que estabilizam a
base conjugada A" em relação a HA;
* a natureza do solvente.
Será discutida nos capítulos subsequentes a influência desses fatores
sobre a acidez de várias classes de grupos funcionais como fenóis, aminas e
ácidos carboxílicos. No momento, basta dizer que, de modo geral, os áto-
mos de hidrogênio mais ácidos de uma molécula orgânica estarão ligados a
átomos de oxigênio e nitrogênio, conforme ilustrado, em azul, nos exemplos
apresentados a seguir:
4 o
HC—-C Ho-6-N-n
H
Ácido carboxílico Amida
HO-B-H HC-N=H ( >H
H
Álcool Amina Fenol
De modo geral, a acidez dos grupos de compostos apresentados nes-
ses exemplos decresce na seguinte ordem: ácido carboxílico, fenol, amida
álcool, amina.
Um aspecto importante do conceito de ácido e base de Brônsted-Lo-
wry é a força relativa do ácido e da base conjugada. Assim, quanto mai:
forte for o ácido, mais fraca será sua base conjugada, e quanto mais fraco c
ácido, mais forte sua base conjugada. A amônia (NH.), por exemplo, é um
ácido muito mais fraco (pK = 36) que a água (pK = 15,74), portanto, suz
base conjugada (NH,) é muito mais forte que a da água (OH).
Como os ácidos halogenídricos (HCI, HBr e HT) são muito fortes, sua:
bases conjugadas (CI, Br e T') são bastante fracas. Alguns exemplos de base:
orgânicas são dados a seguir:
J “
H l
HC-C— HO-c:9
I
H
lon carboxilato Carbânion derivado Alcóxido
de alcano
mofo Er Ho=e
H
[on amideto Fenóxido fon acetileto
A força relativa das classes de bases que acabamos de ilustrar vari
A dai a iisalico Td
Capítulo 1 Estrutura e propriedades de moléculas orgânicas
29
Quadro 1.4 Valores aproximados de pk, de alguns tipos de ácidos a 25 “C*
INktgs sema ab 1028 io rr
* Neste quadro foram apresentados os valores de pK, de alguns compostos individuais, mas ne maioria dos casos foram apresentados
os valores médios para determinados grupos funcionais. Nesses exemplos, R e Ar correspondem a grupos alquil e aril, respectivamente.
Ph representa o grupo fenil (C,Hç)
Deve ficar claro que, pela definição de base de Brônsted-Lowry, não é
necessário que o composto tenha carga negativa para se comportar como
base, Moléculas que possuem oxigênio e nitrogênio com pares de elétrons
não ligantes poderão reagir como base, como nos seguintes exemplos:
%
HC-O-H + HO DD Ho-d-H + e
H
H
Ho-te + H0 22
H
Para qualquer reação envolvendo transferência de prótons, a posição
do equilíbrio é sempre deslocada no sentido da formação de ácidos e bases
mais fracos, conforme exemplificado a seguir:
Ho + CH,C00- == CH,COOH + cr
Ácido Base Ácido Base
forte forte fraco fraco
Utilizando o Quadro 1.4, é possível determinar se um ácido reagirá
com certa base. Como os compostos foram listados em ordem decrescente
de acidez, qualquer ácido reagirá com uma base que se encontre em posi-
ção abaixo da sua no quadro.
Como visto até aqui, um composto pode atuar como ácido ou como
+ 1 ' o Ao qto Ao
32 | Introdução à química orgânica
8. Quais das seguintes moléculas são capazes de formar
ligações de hidrogênio com outras da mesma espécie?
a) CHOH h) HOCH,CH,0H
b) CH,OCH, >
o) CH CH, Los
f
8
Ho” cn,
d) CH,OCH,CH, w o
e) CHNH, h n
9 (CH), NH
8 (CHJN
CJ
9. Indique a hibridação (sp, sp”, sp*) de cada carbono e oxi-
gênio das seguintes moléculas:
a) Ss
BN a
10. Organize cada grupo de compostos em ordem crescente
de temperatura de ebulição, Explique sua resposta.
a SA Psp ss,
n ) Ko
«um
dp on o A
0) «mm )
0H F NH,
9) A. A A
(0) ) )
d) A a
(1
(1
ação
«um
o 0 OH
e) PA (0H) A a
0) ()
) um
1
- Coloque cada grupo de substâncias em ordem crescente
de solubilidade em água. Explique sua resposta.
a) CHCHOH 1
CH,CH,OCH,CH, (1)
CH.ICH.CH. TM
b) CHCH,0H
CH,CH.CH,G1 (MM)
q CHCH,OH 1)
HOCH,CHOHCH 0H (M)
HOCH,CH,OH (M)
CHNH, (1)
CH,CH,
CH,CH),CH,NH, (TM)
e) PhCOOH
PhCOONa (11)
PhCH, IM)
12. Coloque os seguintes ânions em ordem decrescente de
basicidade. Consulte o Quadro 1.4.
d
a) CH,NO, d) NH, g Cr
b) HC=C e) CHCHCHCH h) Br
o) PO f CH,COO
13. Esquematize a reação de um ácido AH diante dos se-
guintes compostos que atuam como base;
a) (CH)N d) CHCOONa g) CH,CH,OH
b) CHJi e) NaCN h) HO
o CHCHO 19 (CHCH,,O
14.Comente a observação de que o éter dietlico
(CH,CH,OCH,CH,) é facilmente solúvel em áci-
do sulfúrico concentrado a frio, enquanto o pentano
(CH,CH,CH,CH,CH,) é praticamente insolúvel nas
mesmas condições.
15. Indique, em cada par, o ácido mais forte. Qual a relação
entre a carga e a acidez?
a) HO'ouH,0
b) NH; ou NH,
o HSouHS
d) HO ou 0H
16. Explique por que a temperatura de ebulição da 2-metil-
pirrolidina (A) é maior (100 ºC) que a da N-metilpirro-
lidina (B) (79 ºC).
' id
Ns cH, N
(a) B)
17.0 álcool etílico (CH,CH,OH) e o éter dimetílico
(CH,OCH,) são isômeros constitucionais, com proprie-
dades fisicas e químicas bem distintas. Observe, a seguir,
a variação da temperatura de ebulição: CH,CH,OH:
78,3 º€; CH,OCH,;-24,8 ºC. Explique a diferença ve-
rificada.
18. As estruturas a seguir representam a vitamina C e o
B-caroteno. A vitamina C está presente em grande quan-
tidade em fentas cítricas nimentãa é outras vemaráie an
Capítulo 1
Estrutura e propriedades de moléculas orgânicas 33
quanto o B-caroteno, que possui coloração alaranjada,
pode ser encontrado na cenoura, Esse composto, ao ser
metabolizado em nosso organismo, produz a vitamina A,
Qual dessas substâncias é hidrossolúvel? Justifique.
OH
0x EN ToH
Ho OH
Vitamina C
B-caroteno
19,0 coumatetralil é um rodenticida (composto utilizado
para matar roedores, como ratos) que atua inibindo a
formação de protombina no figado, resultando na inibi-
ção da coagulação do sangue. Sua solubilidade em água,
em pH 4,2 (meio ácido) e a 20 “C, é de apenas 0,02 g
1, Na mesma temperatura, porém em pH 9 (meio bá-
sico), sua solubilidade é de aproximadamente 200 g L'!.
Explique a diferença de solubilidade do composto em
função do pH do meio.
Coumatetratil
20.0 diclorano, fungicida comercial que atua sobre as hi-
fas, mas que causa pequeno efeito sobre os esporos dos
fungos, quando dissolvido em água pura a 20 ºC, apre-
senta solubilidade de 0,0063 g L'!, Como a solubilidade
desse composto, em meio aquoso, varia com o pH da
solução? Para explicar sua resposta, escreva a equação
da reação entre o diclorano e o HCI.
a
NH,
ON a
Diclorano
21.A histrionicotoxina é uma toxina isolada de peque-
nos sapos coloridos encontrados na América do Sul. Esses
sapos foram usados durante muito tempo pelos nati-
vos da região para envenenar suas flechas usadas em
caças. Os sapos mais venenosos poderiam ser usados
para envenenar até 50 flechas. O hidrato de saxitoxi-
na é outra toxina, isolada de algumas algas.
np q
A H
EN Hi]
N
H
Dm
ZON Ay
0H
Histrionicatoxina Pa
Hidrato de saxitoxina
a) Qual a fórmula molecular da histrionicotoxina?
b) Qual a hibridação dos átomos de carbono, nitrogé-
nio e oxigênio indicados na estrutura da histrionico-
toxina?
c) Circule na estrutura da histrionicotoxina as regiões
mais polares,
d) Dentre as duas toxinas apresentadas, qual você espe-
raria ser mais solúvel] em água? Justifique sua resposta.
22. A bifenila é um composto com ação fungistática, que
inibe a esporulação de fungos, A I-metilpropilamina é
um fungicida descoberto na década de 1960. Seu uso
envolve o controle de Boirytis em crisântemos e outros
fungos em batatas, bem como em diversas espécies de
frutas cítricas. O ácido cloroacético e seu sal de sódio
são comercializados como herbicidas. O decan-1-ol foi
introduzido no mercado como regulador do crescimen-
to de plantas.
Bifenila (|) Ácido cloroacético (ll)
NH,
TATA a
1-metilpropritamina (1) Decan-1-ol (IM)
a) Quais tipos de forças intermoleculares predominantes
você espera que atuem entre as moléculas de cada unf
desses compostos? Nos casos em que houver forma-
ção de ligações de hidrogênio, represente-as.
b) Entre a bifenila e o ácido cloroacético, qual você es-
pera ser mais solúvel em água? Explique,
c) Escreva as equações para a reação entre Il e HBr; entre
HI e KOH; entre IT e HI; entre IV e NaNH,.
23. Para cada uma das espécies a seguir, represente o núme-
ro indicado de estruturas de ressonância.
a) O ion sulfato, SO ” (3)
b) O nitrometano, CH,NO, (2)
e) O ácido hidrazoico, HN, (
d) O cátion NA. (3)
). A molécula é acíclica.
34 Introdução à quimica orgânica
24. Calcule as cargas formais para os átomos em destaque
nos compostos apresentados a seguir:
Hoy
1
a) c)
25. Para a determinação do teor de proteína colagenosa e
dos elementos Ca, P e Mg em ossos de aves é necessário
inicialmente remover a gordura destes. Para a remoção
da gordura é feita a extração dos ossos com solventes
orgânicos. A seguir são apresentadas as fórmulas estru-
turais de alguns compostos que são utilizados como sol-
ventes em laboratório de química orgânica.
1) CHCH,OH (IV) CHCOH
o
MM VOA
3 Hs
Ho
(mM) o (VT) Doo
Ho
a) Dentre os compostos apresentados acima, cite
dois que seriam mais eficientes na remoção de
maior quantidade de gordura dos ossos. Justifique
sua resposta.
b
Represente a formação de ligação de hidrogênio en-
tre as moléculas de Te II.
c) Qual dos compostos é capaz de realizar ligação de
hidrogênio intramolecular? Justifique sua resposta e
represente essa ligação.
d) Represente três estruturas de ressonância para o
composto IV. Quando for 6 caso, indique as cargas
formais dos átomos carregados. Qual das estruturas
é a principal? Justifique.
26. A deficiência de vitamina B, pode causar, além de der-
matites, a quilose, que é uma lesão caracterizada por
fissuras e descamação nos lábios. Já a deficiência de vi-
tamina D pode ocasionar raquitismo em criança e fragi-
lidade óssea em adultos. A seguir estão representadas as
fórmulas estruturais dessas duas vitaminas. Qual delas
se apresentará mais lipossolúvel? Justifique sua resposta.
o
OH
Ho.
oH
Vitamina B2
OH
E,
Ho
Vitamina D
27. Quais dos compostos listados a seguir são ácidos de
Lewis e quais são bases de Lewis?
iú
a) Po 4 4) 8)
HO “CeH 44
Capítulo 2
Alcanos: propriedades e aplicações
37
desse gás encontra-se aprisionada sob as geleiras do polo Norte. Com o de-
gelo crescente das calotas polares, parte desse gás está sendo liberada para
a atmosfera. Estimativas recentes indicam um aumento de 0,6% de meta-
no na atmosfera em 2008, de acordo com dados preliminares da Estação
Zepelin, localizada em uma ilha no oceano Ártico, próxima à Noruega.
O aumento em 2007 foi superior à média global de 0,34%. Esses dados
são preocupantes, uma vez que nas últimas décadas os níveis de metano na
atmosfera encontravam-se estáveis.
Origem e uso do petróleo
O petróleo é um óleo escuro formado por uma mistura complexa de
centenas de hidrocarbonetos, ou seja, compostos formados por carbono e
hidrogênio. Entre os hidrocarbonetos, encontram-se não apenas os alcanos,
mas também alquenos e compostos aromáticos, Entram também em sua
composição alguns compostos que possuem nitrogênio e enxofre. Existem
relatos de que o petróleo já era utilizado há muitos séculos na Mesopotâmia,
no Egito, na Pérsia (atual Irã) e em outros locais para aquecimento, ilumina-
ção, construção de estradas e construção civil. Algumas passagens na Bíblia
registram o uso de um material, provavelmente betume natural, na cons-
trução da torre de Babel e na arca de Noé. O betume também foi usado na
Pérsia há seis mil anos e ainda é encontrado em monumentos da Babilônia,
Na Itália, na cidade de Salsomaggiore, já era conhecida uma emissão
de gás natural no ano de 1226. Em 1498, um pequeno acúmulo de óleo
foi encontrado na Alsácia. Existem registros de que Marco Polo encontrou
fontes de óleo* em Baku, no mar Cáspio, no final do século XII.
Apesar desses usos antigos do petróleo, seu consumo começou mesmo
a aumentar com a perfuração do primeiro poço em 1855, no estado da
Pensilvânia, nos Estados Unidos, por Edwin Drake.
Os cientistas aceitam hoje a teoria de que o petróleo tenha sido for-
mado pela decomposição de animais e vegetais aquáticos, principalmente
marinhos, que foram soterrados por sucessivas camadas de lama e silte, pro-
vavelmente entre 400 e 500 milhões de anos atrás. Com o tempo, o peso
dessas camadas fez com que a pressão e a temperatura aumentassem sobre
o material orgânico. Sob essas condições, a centenas de metros de profun-
didade, provavelmente sem a ação de bactérias e na presença de pequena
quantidade de oxigênio, os organismos foram transformados em óleo e gás.
Nas refinarias de petróleo, os componentes do óleo bruto são separados
em frações, pelo processo denominado destilação fracionada. Os componentes
de mais baixa temperatura de ebulição (menor massa molar) são coletados
no topo da coluna de destilação, e os componentes de maior temperatura
de cbulição (maior massa molar) são separados e coletados em vários pontos
mais baixos na coluna.
A porcentagem de cada uma das frações listadas no Quadro 2.1 varia
em função da origem do petróleo. O petróleo de algumas regiões possui pre-
dominantemente alcanos normais e ramificados; em outros casos, os com-
ponentes principais são alcanos cíclicos. Compostos derivados do benzeno!
são também abundantes no petróleo.
Cada uma das frações obtidas da destilação fracionada do petróleo é ainda
uma mistura complexa de hidrocarbonetos. A gasolina, por exemplo, chega a
apresentar em sua constituição dezenas de componentes, na maioria hidrocarbo-
netos, mas possui também compostos sulfurados que causam poluição ambiental
em razão da transformação em SO, durante a combustão por automóveis.
38 | Introdução à química orgânica
Quadro 2.1 Frações constituintes do petróleo
o TC NodeátomosdeC
<20 cc,
C/C, e alcanos cíclicos
275-400
Asfalto Sólidos Compostos policíclicos
Além de utilizados como fonte de energia para aquecimento de casas
e para mover automóveis, caminhões, aviões etc., muitos compostos obtidos
dessas frações são transformados em milhares de produtos usados diariamen-
te pelo homem, como medicamentos. pesticidas, plásticos, fibras sintéticas etc.
o Nomenclatura
Até o século XIX os compostos orgânicos eram nomeados de uma ma-
neira não tão sistemática como a de hoje; naquela época, prefixos latinos e
gregos eram utilizados na nomenclatura. Com a descoberta crescente de
novos compostos isoméricos, o uso apenas de tais prefixos sc tornou inade-
quado para nomeá-los. Somente para ilustrar, existem cinco isômeros com a
fórmula molecular CH; para a fórmula CH, são 75 alcanos isoméricos,
e para €, H,, podem existir 366.319 compostos diferentes.
Em função dessa dificuldade, em 1882 ocorreu em Genebra, na Suiça,
uma convenção de químicos de diversas partes do mundo para estabelecer
regras de nomenclatura de compostos orgânicos, a serem utilizadas por toda
a comunidade científica, a fim de facilitar a comunicação. O conjunto de
regras resultantes dessa reunião passou a ser conhecido como Sistema de
Nomenclatura IUPAC, sendo utilizado por químicos de todos os países (PA-
NICO etal., 1993; RIGAUDY e KLESNEY, 1979).
Desde a reunião em Genebra, milhões de novos compostos foram des-
cobertos e preparados. Assim, para possibilitar que esse conjunto de regras
continue sendo útil para nomear todos os compostos orgânicos, ele vem sen-
do periodicamente modificado e ampliado ao longo dos anos. Esse trabalho
é feito por uma comissão da qual participam químicos de vários países,
tendo o Brasil um representante.
Como são muitas as regras, nosso objetivo aqui é apresentar apenas
algumas delas e, assim, permitir ao leitor nomear uma ampla variedade de
compostos orgânicos estruturalmente mais simples. É evidente que, quanto
mais complexa for a molécula, mais difícil será nomeá-la, pois scrá preciso
utilizar um maior número de regras.
Os alcanos não ramificados
Os nomes dos quatro primeiros alcanos não ramificados ou normais
são: metano, etano, propano e butano.? Os nomes dos outros alcanos, com
maior número de átomos de carbono, são formados por um prefixo numé-
rico grego seguido da terminação ano (Quadro 2.2).
? — Algunsautores utilizam a palavranormaloua letra n para designar os alcanos não ramificados,
Capitulo 2
Alcanos: propriedades e aplicações
39
Quadro 2.2 Nomes de alcanos normais
* Nas representações das fórmulas devem-se utilizar colchetes para inserir unidades que se
repetem e parênteses para as ramificações.
** Nona é prefixo latino.
Os alcanos ramificados
Alcanos ramificados são aqueles que apresentam grupos (ramificações)
ligados a uma cadeia maior. Os compostos ilustrados a seguir apresentam
nomes não sistemáticos, ainda aceitos pela IUPAC.
e
CH; A, CH-0-0H, [ea
CH,-CH-CH, CH,-CH-CH,-CH, CH, CH;=CH-CH,-CH, —CH,
Isobutano. Isopentano Neopentano Isoexano
Observando as estruturas do isobutano c do neopentano, nota-se que
eles são formados, respectivamente, pela substituição de um e dois átomos
de hidrogênio do propano pelo grupo -CH,. O isopentano e o isoexano têm
esse grupo substituindo hidrogênios do segundo átomo de carbono do buta-
no e do pentano, respectivamente. Por sua vez, o grupo “CH, é considerado
derivado do metano pela remoção de um hidrogênio.
HH ————» HO
O grupo CH, é chamado metil ou metila. Os nomes dos outros gru-
pos substituintes, resultantes da remoção de um hidrogênio de um carbono
terminal de um alcano não ramificado (ou lincar) qualquer, são obtidos do
nome do alcano de origem pela substituição da terminação ano por il ou ila.
FO prefixo iso, do grego, sianifica “igual”. O prefixo neo significa 'novo”.
42
Introdução à química orgânica
&-tert-butil-2-metilnonano (correto)
34% g q 2 2-metil-6-tert-butiinonano (incorreto)
Grupos ramificados univalentes, derivados de alcanos, são nomeados
considerando-se como cadeia principal a que possuir o maior número de
átomos de carbono e iniciando sua numeração a partir do carbono que
apresentar a valência livre.
CHCH, A,
CH,—CH,-CH,-CH-—CH,—CH,-CH—CH,—CH,—CH,—
11 9 8 7 686 5 4 3 2/41
7-etil-4-metildecila)
Para fins de ordenação alfabética, o nome inicia-se com a primeira
letra do nome completo das ramificações. Observe que no exemplo a seguir
o nome do grupo complexo inicia-se com a letra d, e não m.
5-(2,2-dimetilpropil)-6-etilundecano
Havendo grupos diferentes em posições equivalentes da cadeia, o me-
nor número será atribuído ao grupo primeiramente citado no nome, de
acordo com a ordem alfabética.
3-etil-8-metildecano
Os nomes dos alcanos monocíclicos (genericamente conhecidos como
cicloalcanos) são formados acrescendo-se o prefixo ciclo ao nome do aleano
não ramificado de mesmo número de átomos de carbono.
A O OO
Ciclopropano Ciclobutano Ciclopentano Cicloexano Cicloeptano
Os nomes dos alcanos cíclicos ramificados são formados obedecendo-
-se às mesmas regras (menores números e ordem alfabética para os grupos
substituintes) utilizadas para a citação das ramificações em alcanos.
4
30H;
CH, ch, S
6 2
CH, 1
CH,OH,
Metilciclobutano 1,2-dimetilciciopentano 1-eti-3-metilcicloexano
Teste 2.1
Represente as fórmulas estruturais e os nomes sistemáticos de qua-
tro radicais que apresentem a fórmula CH,.
Capítulo 2
Alcanos: propriedades e aplicações
43
Teste 2.2
Represente as fórmulas estruturais para os seguintes compostos:
a) 2,3-dimetilbutano
b) 1-etil-3-metilcicloexano
c) isopropilciclopentano
d) 5-sec-butil-3-eul-4,5-dimetilnonano
Teste 2.3
Apresente os nomes sistemáticos para os seguintes compostos:
a) CH,CH,CH(CH)CH,CHICH)CH,CH,
Os haletos de alguila
Conforme será discutido ainda neste capítulo, a substituição.de um ou
mais átomos de hidrogênio dos alcanos por halogênios resulta na formação
de compostos denominados haletos de alquila. Para facilitar a comunicação,
considerou-se adequada a apresentação das regras de nomenclatura dessa
classe de compostos neste momento.
Os compostos halogenados podem ser nomeados de acordo com dois
sistemas de nomenclatura: a substitutiva e a radicofuncional.
Na nomenclatura substitutiva, os nomes dos compostos halogenados são
formados citando-se os prefixos fiuoro, cloro, hromo e iodo, seguidos do nome do
composto principal. À citação dos halogênios é feita em ordem alfabética, sendo
cada prefixo antecedido de um número indicativo de sua posição.
CH, Fluorometano CH,CH,CH, 1Hiodopropano
CHI Clorometano CH,CHBrCH,CH,CI 8-bromo-1-clorobutano
Para compostos em que todos os átomos de hidrogênio forem substituídos
por um único tipo de halogênio, os nomes serão formados pelo prefixo per, se-
guido do nome do halogênio e do composto não halogenado correspondente.
FroFe a a
Introdução à química orgânica
Na nomenclatura radicofuncional, os nomes dos compostos haloge-
nados são formados pelos prefixos fluoreto, cloreto, brometo e iodeto, seguidos da
preposição de e do nome do grupo orgânico.
CH,CI Cloreto de metila (CH).CBr Brometo de tert-butila
Os seguintes compostos apresentam nomes não sistemáticos, aceitos
pela IUPAC:
CHF, Fluorofórmio CHEr, Bromofórmio
CHCI, Clorofórmio CHI, lodofórmio
Teste 2.4
Represente as fórmulas estruturais para os seguintes compostos:
a) 2,3-diclorabutano
b) I-bromo-3-cloro-4,4-dimetiloctano
c) fluoreto de sec-butila
Teste 2.5
Apresente os nomes sistemáticos para os seguintes compostos:
a) CH/CHCICHBrCH,CH,
» NA
Br Br
Ar
e)
cl
e Classificação dos átomos de carbono
É prática comum no estudo de química orgânica classificar os átomos
de carbono de uma cadeia da seguinte forma:
* Primário: encontra-se ligado apenas a um outro átomo de carbono.
* Secundário: encontra-se ligado a outros dois átomos de carbono.
*— Terciário: encontra-se ligado a outros três átomos de carbono.
* Quaternário: encontra-se ligado a outros quatro átomos de carbono.
* | Embora ambos os sistemas sejam aceitos pela IUPAC, a nomenclatura substitutiva é a
Capítulo 2
Alcanos: propriedades e aplicações
47
A solubilidade dos alcanos em diversos solventes está diretamente rela-
£ionada à sua-baixa-polaridade. Desse modo, os alcanos são totalmente in-
solúveis em água e solúveis em solventes pouco polares, como éter dietílico,
“dlorofórmio, benzeno e tolueno.
As propriedades fisiológicas exibidas pelos alcanos variam de acor-
do com a extensão da cadeia carbônica. O metano é aparentemente
inerte do ponto de vista fisiológico. Já outros alcanos gasosos ou vapores
de alcanos líquidos podem atuar como anestésicos e causar problemas
cardíacos, como fibrilação ventricular. Em altas concentrações, vapores
desses compostos podem também causar deficiência respiratória pela
depressão do sistema nervoso central. Os alcanos, quando manuseados
com segurança, são relativamente pouco tóxicos se comparados a ou-
tras classes de compostos orgânicos. Entretanto, o hexano, componente
comum na gasolina e muito-utilizado em laboratórios e indústrias, é ex-
tremamente tóxico. A elevada toxicidade do hexano foi observada pela
primeira vez no Japão, no início da década de 1970, quando 93 traba-
lhadores de uma fábrica de sandálias morreram envenenados por uma
cola contendo esse solvente.
Posteriormente se verificou que a toxicidade do hexano se deve
à sua oxidação no organismo humano, resultando na formação de
hexan-2-ona [1] e hexano-2,5-diona [2], Existem evidências de que a
dicetona [2] se condensa com o grupo e-amino de um resíduo do ami-
noácido lisina, encontrado em proteínas de fibras do sistema nervoso,
produzindo o aduto [3]º, o que acarreta uma desorganização mecânica
das células.
eds qa Den uia
[1] Hexan-2-ona [2] Hexano-2,5-diona [8] Aduto do composto [2]
com resíduo de lisina
Além de efeitos fisiológicos sistêmicos, os alcanos exibem ação fisiológi-
ca local. Alcanos líquidos, como os que constituem a gasolina e o querosene,
quando em contato com a pele, provocam a destruição da camada lipopro-
teica produzida pela epiderme, podendo o contato prolongado resultar em
dermatite.
Por outro lado, os alcanos de massa molecular mais elevada são am-
plamente utilizados na indústria de cosméticos como excipientes de diversas
formulações em virtude de sua ação emoliente para a pele. A vaselina, por
exemplo, é uma mistura semissólida de hidrocarbonetos, largamente utiliza-
da na preparação de produtos para proteção da pele.
* O aduto [3] representa apenas um fragmento de uma molécula. As ligações dos grupos
amino e acil com o restante da molécula foram interrompidas, o que é representado pela
linha ondulada sobre elas.
48 | Introdução à química orgânica
Estrutura e isomeria em
= alcanos cíclicos
Dos alcanos-cíclicos, o-ciclopropano.e o ciclobutano.são os mais instáveis,
Essa instabilidade é, em parte, devida à tensão no anel, pois, como todos os
carbonos possuem hibridação sp”, os ângulos entre as ligações C-C-C deveriam
ser de 109,47º. Pela geometria do ciclopropano, tal ângulo é de 60º. Esse desvio
do ângulo tetraédrico acarreta um decréscimo da superposição dos orbitais atô-
micos spº-sp”, além de resultar na criação de tensão no anel.
“O ciclobutano não é totalmente plano. Os ângulos de suas ligações
carbono-carbono são de 88º. Essa redução do ângulo resulta num aumento
da estabilidade do ciclobutano em relação à estrutura plana (neste caso, o
H ângulo deveria ser de 90º), pois permite uma redução na tensão torcional.
8 MA H H Esse assunto, entretanto, e está além do objetivo deste trabalho, devendo-se,
H para mais detalhes, consultar as referências.
H H Em todos os outros cicloalcanos, os átomos se dispõem no espaço afas-
tando-se da forma plana e adotando conformações diversas, de modo que
os ângulos das ligações carbono-carbono se aproximem o máximo possível
do ângulo tetraédrico (109,47º).
nasça Isomeria conformacional
No Capítulo 1 tratamos dos isômeros constitucionais. Vamos agora
discutir um pouco sobre isâmeros conformacionais ou confórmeros." Observe na
Figura 2.1 a representação (la) do etano. Em razão da simetria cilíndrica
do orbital molecular sigma (s) que une os dois átomos de carbono, ocorre
rotação em torno da ligação simples C-C do etano resultando em estruturas
em que a disposição espacial relativa dos átomos de hidrogênio muda, Com
H H isso a molécula do etano pode existir em diferentes formas espaciais. Vamos
(lay HH (lb) H concentrar nossa atenção em apenas duas delas. Considere, por exemplo,
a rotação de 60º em torno da ligação C-C, fixando-se o carbono 2. Nesse
caso, obtém-se a estrutura Ia. Note que as estruturas Ta e Ia são diferentes,
sendo a primeira denominada conformação estrelada, e a segunda conformação
Rotação eclipsada. A diferença de energia entre elas é de 12 kJ mol”, sendo a estrutura
de 60º (Ia) a mais estável. Como essa diferença de energia é muito pequena, mesmo
à temperatura ambiente, uma forma se converte na outra muito rapidamen-
te, não sendo possível separá-las, diferentemente do que acorre no caso dos
isômeros constitucionais. Como essa interconversão ocorre rapidamente à
HoH ú da
sã H temperatura ambiente, diz-se que ocorre rotação livre em torno da ligação
H Ef I a “ carbono-carbono do etano. Um novo giro de 60º a partir da estrutura Ia re-
E “ H H sultano confórmero IlIa, que é semelhante a Ia em termos de energia. Para
iay HD (lb) H melhor observar a mudança relativa das posições dos átomos de hidrogênio
do carbono 2, destacamos um deles em azul. As formas Ta, Ia e Ia são
conformações estreladas la e Illa e denominadas isômeros conformacionais ou confórmeros, que podem ser definidos
eclipsada lla para o etano e respectivas como formas espaciais diferentes de uma mesma molécula, resultantes da
projeções de Newman (lb, Ilb e IIIb). rotação em torno de ligações simples €-C.
Figura 2.1 Representação das
É importante observar que os termos confórmero e conformação não são sinônimos,
embora em alguma literatura esse uso incorreto seja observado. Deve ficar claro que existe
um número infinito de conformações para O etano em uma superfície de energia potencial
rotacional, mas somente aquelas que se encontram em um mínimo de energia nesse
gráfico é que são denominadas confórmeros.
Capítulo 2
Alcanos: propriedades e aplicações 49
Ainda na Figura 2.1 mostramos a representação conhecida como proje-
(ão de Newman. Para fazer essa representação, a molécula é projetada no pla-
no do papel considerado sob o ângulo de visão de um observador colocado
na frente do carbono 1, ficando o carbono 2 localizado atrás do carbono
1. Note que na representação, as ligações C-H correspondentes ao
carbono 1 se ligam no centro do círculo, e as referentes às ligações C-H
do carbono 2 são representadas por linhas que saem do circulo. Esse tipo de
representação é muito comum e útil em química orgânica, tendo sido desen-
volvida pelo químico Melvin S. Newman.
A rotação livre em torno da ligação C-C ocorre para qualquer ligação
de um alcano de cadeia aberta. No caso do ciclopropano a molécula é rí-
gida, não se observando qualquer rotação em torno das ligações C-C. No
caso de moléculas que possuam átomos como oxigênio, nitrogênio e outros,
pode também haver rotação em torno de ligações simples envolvendo-os, o
que também pode resultar em diferentes isômeros conformacionais.
A origem da maior estabilidade da conformação estrelada ou alter-
nada em relação à eclipsada no caso do etano tem sido objeto de alguma
controvérsia. Em muitos textos a origem dessa maior estabilidade tem sido
atribuída à repulsão dos elétrons das ligações C-H na conformação eclip-
sada. Todavia em trabalhos envolvendo cálculos computacionais alguns au-
tores mostraram que essa contribuição é pequena no caso do etano, mas a
contribuição desse tipo de repulsão é importante no caso de conformações
do butano e de outros alcanos maiores. Nesse caso do etano, entretanto, a
maior estabilidade da forma estrelada é atribuída ao efeito de hiperconjuga-
ção, que surge da transferência parcial de elétrons do orbital ligante sC-H
para o orbital antiligante s*C-H do carbono adjacente.
No caso de compostos cíclicos, exceto os com anel de três membros e
estruturas policíclicas rígidas, pode haver rotação parcial em torno das liga-
ções simples, resultando também em diferentes confórmeros.
O cicloexano e seus derivados, por exemplo, podem adotar duas confor-
mações preferenciais distintas, denominadas cadeira e bote, nas quais, em ambos
os casos, os ângulos entre as ligações carbono-carbono são de aproximadamen-
te 109,47º. Mesmo à temperatura ambiente, a conformação em cadeira 1 se
converte na conformação em bote II, e esta, na conformação III (Figura 2.2).
Conforme se observa pelas projeções de Newman na Figura 2.2, na
conformação em cadeira não existem ligações eclipsadas, ao passo que
na conformação em bote várias ligações C-H e C-C são eclipsadas, Disso
resulta que a conformação em cadeira é mais estável que a em bote.
Observe ainda que na conformação em cadeira 1 existem dois “tipos” de
hidrogênio. Os seis hidrogênios (em azul) que se encontram na posição vertical
são denominados axiais, e os que se encontram na horizontal, equatoriais. Pela Fi-
gura 2.2 vê-se que, com a conversão da conformação 1 em IL e sua subsequente
conversão na conformação HI, os hidrogênios que ocupavam as posições axiais
passaram a ocupar posições equatoriais, e vice-versa. Isso pode ser mais bem
visualizado e entendido com o uso de modelos moleculares.
Quando o cicloexano apresenta um grupo substituinte, podem existir
duas conformações em cadeira. Em uma o grupo se encontra na posição
axial e na outra ele se encontra na posição equatorial, conforme ilustrado a
seguir para os casos dos grupos metila e tert-butila.
Melvin S. Newman, químico norte-
americano (1908-1993), nasceu em
Nova York. Obteve o Ph.D. pela
Universidade de Yale (1932), tendo sido
professor da Universidade do estado de
Ohio (1936-1993). Em 1952, propôs a
utilização das projeções que levam seu
nome e que são amplamente utilizadas
pelos químicos orgânicos desde então.
Conformação
em cadeira (1)
H H
H Í H
H H
H H
Conformação
em bote (!)
HH
Conformação
em cadeira (Ill)
Figura 2.2 Representação das
conformações em cadeira e bote para
o cicloexano e respectivas projeções
52 Introdução à química orgânica
Radicais
qosseltais
As transformações orgânicas envolvem cisão e formação de ligações
químicas. Durante essas transformações, diversas espécies reativas (inter-
mediários reativos) são formadas. Antes de se apresentarem algumas das
reações dos alcanos, será feita uma breve explanação sobre as espécies de-
nominadas radicais.
A cisão homolítica ou homólise de uma ligação covalente é um pro-
cesso que resulta na formação de duas espécies que possuem um elétron
desemparelhado e são denominadas radicais.
A equação a seguir representa a homólise da ligação C-X, que resulta
na formação dos radicais R,C e X:
no-x —iie , ao , x
Diferentemente dos intermediários iônicos (carbocátions e carbânions),
os radicais reagem entre si, formando novas ligações. As reações envolvendo
radicais podem ocorrer tanto em fase gasosa quanto em solução, especial-
mente em solventes pouco polares.
Existem muitas maneiras de se formarem radicais a partir de moléculas
orgânicas, sendo as mais importantes a fotólise, a termólise e a eletrólise de
ligações covalentes, Alguns exemplos de reações envolvendo radicais serão
apresentados ao longo deste livro.
Os radicais são classificados em primário, secundário e terciário quan-
do o elétron desemparelhado se encontra em carbono primário, secundário
ou terciário, respectivamente,
A estabilidade relativa dos radicais alquila simples decresce na seguinte
sequência: radical terciário > secundário > primário > radical metila.
AN A
R-G > Ao > R=o > H=
R H H H
Essa ordem de estabilidade é um reflexo da facilidade relativa com que
a ligação C-H do alcano precursor sofre uma cisão homolítica.
Considere, por exemplo, a cisão homolítica das ligações C-H do isobu-
tano. Conforme se observa pela Figura 2.3, a formação do radical isobutil
(primário) envolve um gasto de 410 kJ mol", e para formar o radical tert-
-butil (terciário) são necessários apenas 389 kJ mol". A diferença de ener-
gia gasta entre esses dois processos é uma medida da estabilidade do radi-
e cal tert-butil em relação ao isobutil. Nesse caso, dizemos que o primeiro é
AM =410kImor” HC-C-CH, 21 kJ mol”! mais estável que o último. Sendo mais estável, ele será formado
preferencialmente.
A ordem de estabilidade dos radicais alquila é em parte explicada con-
siderando-se o efeito indutivo doador de elétrons dos grupos alquila ligados ao
carbono que contém o elétron desemparelhado. Dessa forma, a deficiência
de elétrons desse carbono é minimizada, tornando-o mais estável. Deve-se
notar que no chamado efeito indutivo não há transferência de elétrons de uma
posição para outra. O efeito é parecido com a polarização de ligações, con-
forme vimos no Capítulo 1.
Uma consequência importante da ordem de estabilidade dos radicais
é que, durante uma reação química, os mais estáveis (que possuem menor
Coordenada da reação conteúdo energético) tendem a ser formados em maior quantidade, confor-
Figura2:3 Energia de dissociação me já mencionado para o caso do isobutano. Esse ponto será ilustrado na
De EPI Aa tonta seção seguinte.
Energia
54
Introdução à química orgânica
única molécula de CI, seria suficiente para converter totalmente uma mistu-
ra contendo quantidades equimolares de cloro e metano em clorometano.
Todavia, a situação na prática não é tão simples, pois existe a possibilidade
de dois radicais quaisquer se chocarem, levando à formação de novas mo-
léculas. Essas reações são denominadas etapas de término das cadeias de reação,
uma vez que consomem os radicais presentes sem, contudo, formar novos
radicais. Existe também a possibilidade de radicais serem aniquilados por
meio de choques com as paredes do vaso de reação. A formação de CH, CI,
CHCI, e CCI, se dá pelo mesmo mecanismo representado anteriormen-
te, pois, uma vez que a concentração do clorometano começa a aumentar,
torna-se maior a probabilidade de esta molécula se chocar com um átomo
de cloro, formando outra cadeia reacional semelhante à representada no
caso do metano.
O metano reage com o bromo de forma análoga à sua reação com o
cloro. Já o iodo é muito menos reativo que o cloro e o bromo.
“Todos os outros alcanos reagem com os halogênios da mesma maneira
que o metano. A diferença fundamental é que, quanto maior o número de
carbonos, maior será o número de possíveis compostos mono e polialogena-
dos a serem formados.
Por exemplo, a monobromação do metilpropano pode levar à forma-
ção de dois compostos.
A, SH, GM,
CH-C-CH, ——> CH-G-cH CcH—C-CH
GC rag OCH + CH GC
H Er H
> 99% Traços
Nesse caso, observa-se que o 2-bromo-2-metilpropano é formado
em quantidade muito maior que o |-bromo-2-metilpropano. Uma expli-
cação para esse resultado é o fato de a formação do primeiro composto
envolver, como intermediário, um radical terciário, que é muito mais es-
tável (e, portanto, formado mais facilmente) que o radical primário for-
mado como intermediário para a obtenção do I-bromo-2-metilpropano.
Existem outros fatores que influenciam nas proporções dos produtos ha-
logenados formados (a natureza do halogênio, por exemplo); todavia,
uma discussão mais detalhada desse assunto está fora dos propósitos do
presente trabalho.
Só como exemplo da importância industrial dessa reação, todo o di-
clorometano (CH CL), todo o clorofórmio (CHCI,) e 15% do tetracloreto
de carbono (CCI) produzidos pela indústria quimica norte-americana são
obtidos pela cloração do metano em altas temperaturas. A maior parte
do tetracloreto de carbono produzido (84%) era utilizada na fabricação
de clorofluorocarbonos (CCI, F,), sendo o restante empregado-como fumi-
gante para grãos e como solvente e intermediário em reações químicas.
O diclorometano é usado principalmente como removedor de tintas (23%),
para limpeza de peças na indústria eletrônica (7%) e como solvente e rea-
gente em laboratórios químicos. O clorometano (CH, CI) é produzido a
partir do metanol (65% da produção) e também pela cloração do meta-
no (35%). Do total produzido anualmente, 82% é utilizado na síntese de
clorosilanos, que são necessários para o preparo de silicones; o restante é
utilizado na síntese de metilcelulose, agroquímicos, sais de amônio qua-
ternário etc.
Capítulo 2
Aleanos: propriedades e aplicações
55
Teste 2.11
A reação de cloração de alcanos tem aplicação industrial limitada
uma vez que resulta na formação de mistura de produtos. Represente as
fórmulas estruturais e dê os nomes de todos os isômeros constitucionais
obtidos pela monocloração dos seguintes compostos:
a) Butano
b) 2-metilbutano
e) metilciclobutano
Teste 2.12
Você considera que a cloração do cicloexano pode ser um método
eficiente para se preparar o clorocicloexano? Justifique.
Oxidação
Os alcanos e outros hidrocarbonetos se queimam na presença de oxigê-
nio, sendo convertidos em dióxido de carbono, água e energia. Essa reação
de oxidação é denominada combustão, sendo a energia liberada na forma de
calor ou de luz.
A equação a seguir representa a reação de combustão completa de um
alcano qualquer. Do ponto de vista químico, tal reação apresenta pouca
importância, uma vez que a molécula do hidrocarboneto é totalmente des-
truída; do ponto de vista prático, é extremamente importante, pois é a base
da utilização dos hidrocarbonetos como fonte de energia.
CHao + PEL o — ncO, + n+)HO + -5Skg'de
2 hidrocarboneto
As equações das reações de combustão do metano, principal constituinte
do gás natural, e do butano, que, juntamente ao propano, constitui o chamado
gás liquefeito de petróleo (GLP),!º ou gás de cozinha, encontram-se a seguir:
CH + 20 co,
dg + 2H0, AH=-8912kJ]mor
“a
CHoay + 130, —— 800, + 10H0, AH=-2878,6kJ]mor
Note que em ambos os exemplos o valor da entalpia (AH") da reação
é negativo, indicando que ocorre liberação de energia. Apesar de a reação de
combustão ser exotérmica, ou seja, ocorrer com liberação de calor, ela so-
mente se inicia na presença de uma faísca ou chama. Uma vez iniciada a
reação, havendo quantidade suficiente de oxigênio, ela continua até o con-
sumo de todo o hidrocarboncto.
Se a quantidade de oxigênio disponível for menor que a mostrada nas
equações balanceadas anteriormente, a combustão não será completa, e ha-
verá a formação de outros compostos, como o monóxido de carbono (CO),
que é extremamente tóxico, assim como o carbono, que no caso dos auto-
móveis sai na forma de fuligem pelos canos de descarga. No caso da queima
incompleta da gasolina, pequenas quantidades de hidrocarbonetos e outros
2 O cheiro do gás de cozinha deve-se aos compostos CH,SH e CH.CH,SH, adicionados a
ele para servir de alerta no caso de vazamentos. À sensibilidade olfativa humana é capaz
de detectar menos de uma parte de CH,CH,SH em 10º partes de ar.
ww w. qu im ica na ve iau es b. blo bs po t.c om Capítulo 2
Alcanos: propriedades e aplicações 59
isas têm sido feitas para desenvolver novos catalisadores mais eficien-
Recentemente,!* a pesquisadora Judith Corker, da Universidade de
outhampton (Inglaterra), e seus colegas do Instituto de Pesquisa de Ca-
em Villeurbenne (França) desenvolveram um catalisador à base de hi-
reto de zircônio e sílica, capaz de quebrar as ligações carbono-carbono de
anos, como o propano, o butano e o pentano, à temperatura ambiente.
Como exemplo, eles conseguiram, em poucas horas e a 25 ºC, converter o
neopentano, na presença de hidrogênio, em isobutano e metano. Pesquisas
como essa são de extrema importância econômica.
qualidade das gasolinas
— Para que se possa obter o máximo de energia durante a combustão da
“gasolina, o motor deve ser projetado de modo que a taxa de compressão seja
alta. A taxa de compressão nada mais é que o volume máximo (Va) da mis-
tura gasolina-ar no início do ciclo de compressão dividido pelo volume da
mistura totalmente comprimida (Vb), imediatamente antes do início da com-
bustão. Em outras palavras, quanto maior for a taxa de compressão, maior
será a compressão da mistura gasolina-ar durante a ignição e, consequente-
mente, maior será o impulso transmitido ao pistão durante a expansão.
Os automóveis produzidos na década de 1920 possuíam uma taxa de
compressão em torno de 4,4. Nos dias atuais esse valor é aproximadamente
10, mostrando que os carros são muito mais possantes.
Mas existe um limite para o aumento da taxa de compressão, conhecido
como batimento. O batimento ocorre quando o motor é forçado a produzir muita
potência rapidamente. Isso acontece, por exemplo, quando o carro é acelera-
do ladeira acima. O batimento é de fato o som das explosões nos cilindros e,
algumas vezes, resulta da pré-ignição da mistura gasolina-ar, antes que o pistão
tenha atingido o ponto máximo de compressão, no qual a fagulha normalmente
acende. Pode ainda resultar de uma combustão espontânea em vários pontos
do cilindro. Em qualquer caso, o batimento resulta em perda de potência, com
consequente perda na eficiência do uso do combustível, podendo em algumas
ocasiões resultar em danos para o automóvel,
O batimento é minimizado com o uso de gasolinas de alta qualidade.
Essa alta qualidade está relacionada à composição da gasolina: seus consti-
tuintes têm de ser suficientemente voláteis para serem vaporizados no car-
burador, mas não tão voláteis a ponto de entrar em ebulição no tanque de
combustível. Portanto, os rocarbonetos com cinco a dez átomos de car-
bono satisfazem os requerimentos de volatilidade para uma boa gasolina,
mas, em termos de qualidade de combustão, ocorre uma variação muito
grande entre eles. Diversos estudos mostraram que hidrocarbonetos rami-
ficados, alcanos cíclicos e compostos aromáticos entram em combustão de
forma mais eficiente e suave que os alcanos lineares. Assim, para avaliar a
eficiência das gasolinas, foi definido o índice de octano, que exprime a tendên-
cia de detonação de determinada gasolina.
O índice de octano foi adotado em 1927, quando se observou que o
composto 2,2 4-trimetilpentano (conhecido pelo nome não sistemático isooctano)
detonava apenas a altas compressões e era um combustível de qualidade
superior a qualquer gasolina conhecida. A esse composto foi atribuído o
indice 100. Ao heptano, que é particularmente suscetível de detonar, foi
atribuído o índice O. Dessa forma, o índice de octano de um combustível é
a porcentagem de 2,2,4-trimetilpentano presente em uma mistura padroni-
zada de 2,2,4-trimetilpentano e heptano que possua as mesmas característi-
(O
Figura 2.8 Reações de ciclização de
alcanos, seguida de aromatização.
60 | Introdução à química orgânica
CH,=0H
Metanol (105)
CH,-CH,—0H
Etanol (105)
Fã
CH,-C-0H
1
CH
E
Álcool tert-bullico (108)
CH,
!
CH-0-0-CH,
I
CH,
3
tert-Butil metil éter (115)
CH,
GH,-6-0-CH,CH,
cm
tert-Butil etil éter (118)
3
Figura 2.9 Fórmulas de alguns
aditivos oxigenados utilizados na
gasolina e respectivos índices de
octano (entre parênteses).
cas de detonação do combustível em questão. Por exemplo, se determinada
gasolina possui características de batimento idênticas às de uma mistura
de 85% de 2,2.4-trimetilpentano e 15% de heptano, atribui-se a ela o índice de
octano igual a 85.
Normalmente alcanos não ramificados possuem maior tendência a
causar batimento, ou seja, possuem menor índice de octano, e os alcanos
ramificados, os hidrocarbonetos aromáticos, como benzeno e tolueno, e os
alquenos possuem maior indice de octano.
Os aditivos para a gasolina
Já na década de 1920, para acompanhar o avanço no desenvolvimento
de motores mais possantes, com maiores taxas de compressão, tornou-se
necessário desenvolver combustíveis de melhor qualidade. Os automóveis
modernos requerem gasolina com índice de octano de no mínimo 87, para
funcionar de forma eficiente e adequada. Conforme vimos, os alcanos rami-
ficados possuem maior índice de octano, assim, converter os alcanos lineares
em ramificados seria uma solução para o problema. Na seção anterior vi-
mos como isso pode ser feito. Agora vamos mostrar alguns dos aditivos que
foram desenvolvidos para melhorar as propriedades da gasolina.
Tetraetilchumbo: em 1922, o químico norte-americano Thomas Midgley,
trabalhando na companhia General Motors, descobriu que a adição de me-
nos de 0,1% de tetraetilchumbo na gasolina aumenta o índice de octano de
10 a 15 unidades. Como esse composto era barato, foi largamente emprega-
do como aditivo na gasolina em vários países, durante muitos anos.
ger,
CH.CH,—Pb-CH,CH, Tetrastilchumbo
!
CHCH,
O tetraetilchumbo era produzido pela reação entre uma liga de Na-Pb
e cloroetano:
aPoNa + 4CHCI ——s PoCH), + 4Nacl+3Pb
O composto organometálico de chumbo é então obtido por destilação,
e o resíduo sólido, fundido para recuperar o chumbo.
O aditivo possuía apenas 63% de tetraetilchumbo, sendo o restante de
sua composição formado por 26% de 1,2-dibromoetano, 9% de 1,2-diclo-
roetano e 2% de corante. O dibromoetano era um constituinte importante
do aditivo, pois reagia com o óxido de chumbo (PbO,) produzido durante
a combustão, levando à formação de PbBr,, que é volátil, sendo arrastado
com os outros gases durante a etapa de exaustão.
Em virtude da alta toxicidade do chumbo, o uso desse aditivo foi proi-
bido, tendo ele sido substituído por outros compostos.
Aditivos oxigenados: denominamos compostas oxigenados aqueles que possuem
em sua estrutura um ou mais átomos de oxigênio. Entre os aditivos oxigena-
dos mais utilizados encontram-se os seguintes compostos: tert-butil metil éter,
conhecido pela sigla MTBE; teri-butil etil éter; etanol; e uma mistura contendo
metanol e álcool tert-butílico na proporção de 50:50 (Figura 2.9).
Observando as fórmulas estruturais desses aditivos, verifica-se que os
três primeiros compostos (metanol, etanol e álcool tert-butílico) possuem em
comum o grupo hidroxila (OH). Esses compostos pertencem à classe quími-
ca dos álcnois. Conforme veremos mais adiante, os álcoois podem ser repre-
sentados genericamente pela fórmula ROH, onde R representa um grupo
alquil qualquer.
Sa Esqualamina
Considerando a estrutura da esqualamina apresentada,
resolva o que se pede:
a) Na fórmula da esqualamina represente os átomos de
hidrogênios que ocupam posições equatoriais (He) e
posições axiais (Ha) nos anéis de seis membros.
REA
Represente a fórmula estrutural do produto da es-
qualamina com solução diluída de ácido clorídrico
em excesso.
Capítulo2 | Alcanos: propriedades e aplicações 63
c) Represente a fórmula estrutural do produto resultante da
reação da esqualamina com um equivalente de NaOH.
d) Faça uma previsão da solubilidade da esqualamina
em água. Justifique sua resposta.
e) Indique as posições (equatorial ou axial) ocupadas
pelos grupos metila, hidroxila e a cadeia nitrogenada.
25. Desafio para pesquisar e discutir em grupo: o trans-1,2-
-dibromocicloexano existe nas conformações com os
átomos de bromo nas posições diaxial e diequatorial
em proporções aproximadamente iguais quando dis-
solvido em um solvente pouco polar. Em solvente mais
polar a proporção do confórmero diequatorial aumen-
ta. Por outro lado, o trans-1,2-dimetilcicloexano existe
aproximadamente em 99% na conformação diequa-
torial, independentemente do solvente. Explique essas
observações.
Capítulo
a» 8
Alquenos: estrutura do
e reatividade
Objetivos de ETA
Após o estudo deste capítulo
você deverá ser capaz de:
e Listar alguns alquenos naturais e
suas fontes.
* Aplicar as regras da IUPAC para
nomear alquenos.
* Especificar a geometria cisftranse
E/Z de alquenos polissubstituídos.
e Explicar o mecanismo geral para
reações de clivagem e de adição
à ligação dupla carbono-carbono.
e Representar as etapas do meca-
nismo de substituição em carbo-
no alílico.
* Apresentar os diversos mecanis-
mos para reações de polimeriza-
ção de alguenes e discutir sobre
a importância de polímeros.
e Distinguir os diversos tipos de
terpenos.
Resumo |
|
Ex capítulo trata do estudo de hidrocarbonetos e outros compostos
que apresentam uma ou mais ligações duplas carbono-carbono. As
regras de nomenclatura da IUPAC para nomear alquenos são discutidas, in-
cluindo os sistemas de nomenclatura cis/trans e E/Z. Exemplos típicos de
reações de adição à ligação dupla C=C são apresentados, com ênfase nos |
mecanismos desses processos. O mecanismo da reação de hidrogenação |
de alquenos é também discutido em virtude de sua importância industrial
no processo de fabricação de margarina. Outro tipo de reação apresentado
é a clivagem oxidativa de alquenos envolvendo alguns oxidantes como
permanganato de potássio e ozônio. A reação de substituição em carbono
alílico, cujo mecanismo envolve a participação de radicais, é apresentada.
Para ilustrar o processo de oxidação alílica, discutimos a rancificação de
gorduras. Em razão da importância industrial dos polímeros, exemplos de
| reações de polimerização de alquenos e os respectivos mecanismos são
mostrados. Concluímos o capítulo com uma breve apresentação da classi-
ficação, das estruturas e propriedades de alguns terpenos. J
Iquenos são hidrocarbonetos que apresentam uma ou mais ligações
duplas. São, vezes, denominados olefinas, termo comum na litera-
tura antiga que é derivado do latim oleum facere, que significa fazer ou pro-
duzir óleo. Foi utilizado inicialmente para descrever compostos como o
CH,=CH,, que, sendo gasosos, ao serem tratados com cloro, resultavam na
formação de produtos líquidos, de aspecto oleoso. Os alquenos são larga-
mente encontrados em diversos organismos animais e vegetais, ressaltando-
Capítulo 3
Alquenos: estrutura e reatividade
65
no, por exemplo, é um hormônio de plantas que induz o amadurecimento
de frutos; o esqualeno é o precursor dos hormônios esteroidais e se encon-
tra em grande quantidade no óleo de fígado de bacalhau; o B-caroteno é
um dos compostos responsáveis pela cor alaranjada das cenouras, sendo o
precursor da vitamina A; o B-pineno é um dos constituintes da essência de
terebentina, proveniente do pinheiro; e o limoneno é um dos constituintes
da essência do limão.
Muitos compostos, além da ligação dupla, apresentam outros grupos
funcionais. Exemplos dessa natureza surgirão ao longo deste livro; entretan-
to, no presente capítulo concentraremos nosso estudo nos aspectos relacio-
nados à química da ligação C=C.
Embora a palavra algueno seja utilizada para nomear a classe de
hidrocarbonetos com ligações duplas carbono-carbono, ela também é co-
mumente utilizada para designar a presença da ligação dupla C=C em
qualquer molécula. Em outras palavras, conforme veremos no decorrer
deste e dos demais capítulos, em um grande número de moléculas coexistem
vários grupos funcionais. Por exemplo, o hormônio juvenil, substância que
controla a metamorfose de larvas de insetos, não é um hidrocarboneto, uma
vez que apresenta as funções epóxido e éster que são oxigenadas. Todavia
essa substância não deixa de ser um alqueno uma vez que apresenta em sua
estrutura duas ligações duplas C=C.
H NH
“c=
Do=0l
H H
AM
Etileno B-pineno Limoneno
Hormônio juvenil
Assim, neste capítulo estudaremos um pouco da nomenclatura e da
reatividade das ligações C=C. Ilustraremos a maior parte dos exemplos com
hidrocarbonetos, mas devemos deixar claro que uma ligação dupla apresenta
o mesmo tipo de comportamento químico se presente em um hidrocarbone-
to ou em um composto polifuncional. É claro que se outra função química
além da ligação C=C estiver presente na molécula, pode haver um problema
de seletividade quando o composto for tratado com determinado reagente.
68 Introdução à química orgânica
» Isomeria em alquenos
Considere inicialmente o eteno:
Ham H
x /
nes Ce-c:
7 NOT,
H H 07,8 pm
133 em
Para que as ligações entre os diversos átomos se encontrem o mais dis-
tante possível umas das outras é necessário que a molécula seja plana e o
ângulo entre duas ligações quaisquer seja igual a 120º, Os carbonos das
ligações duplas apresentam hibridação sp?, todavia os ângulos HCH e HCC
diferem ligeiramente de 120º, conforme pode ser visto na fórmula citada
anteriormente.
As ligações entre os átomos € e H envolvem um orbital spº do carbono
e um orbital 5 do hidrogênio. Como o orbital sp? apresenta maior caráter s
que um sf”, a ligação C—H no eteno (107,6 pm) é mais curta que a C-H
no etano (108,5 pm).
A ligação dupla C=C não corresponde exatamente a duas ligações
simples. Ela é mais forte que uma ligação simples (D = 610 kJ mol) e,
no entanto, mais fraca que duas ligações simples (2D .=2 x 350 kJ = 700
kJ mol") A ligação dupla C=€ (-133 pm) é consequentemente mais curta
que a simples C—C (-154 pm).
Como consequência dessa maior força de ligação, a rotação em torno
da ligação dupla C=C requer muito mais energia (=260 kJ mol!) que a
necessária para promover a rotação em torno de uma ligação simples CC.
(10 a 20 kJ mol !). Como essa quantidade de energia não está disponível
para a molécula à temperatura ambiente, a rotação em torno da ligação
dupla não ocorre a essa temperatura. Como resultado da não ocorrência
de rotação em torno da ligação C=C, há a possibilidade da existência de
estereoisômeros.* Por exemplo, tanto o but-2-eno quanto o pent-2-eno podem
existir em duas formas diferentes:
HO, cH H cH, HCHC CH, HOHC H
H Ho Ho H H H H CH,
cis-but-2-eno trans-but-2-eno cis-pent-2-eno trans-pent-2-eno
Uma das estruturas em cada par de isômeros apresenta os 2 átomos de
hidrogênio no mesmo lado de um plano que passa pelos carbonos sp?, e, no
outro caso, esses grupos encontram-se em lados opostos. Para designar alque-
nos dissubstituídos estereoisoméricos, como nesses exemplos, utilizam-se os
prefixos cis e trans. Assim, utiliza-se o prefixo cis quando os grupos ligados aos
carbonos da dupla encontram-se de um mesmo lado de um plano que passa
pelos carbonos. O prefixo trans é utilizado quando tais grupos encontram-se
em lados opostos do referido plano, conforme ilustrado nos exemplos que
acabamos de apresentar.
Esse sistema de nomenclatura (cis-trans) é antigo, devendo ser usado
apenas no caso de alquenos dissubstituídos.
* Estes números representam valores médios de energia requerida para quebrar uma
ligação C=C e C-C, respectivamente.
O uso do termo isomerismo geométrico é fortemente cesencorajado pela IUPAC (MOSS,
Capítulo 3
Alquenos: estrutura e reatividade
69
No caso dos alquenos tri e tetrassubstituídos, a utilização desses termos
pode ser ambígua.
Observe o seguinte exemplo, que corresponde a um alqueno trissubsti-
tuído. Nesse caso, a nomenclatura cis-trans não se aplica.
cl ,Br
x,
e - E
F H
Visando contornar essa situação, outro sistema (denominado E-Z) para
a designação de alquenos diasteroisoméricos foi proposto, com base na uti-
lização das regras de Cahn-Prelog-Ingold, para a ordenação de grupos no
sistema de nomenclatura R-S (Capítulo 6).
Para os propósitos deste trabalho, serão apresentadas apenas algumas
dessas regras, suficientes para nomear a maioria dos compostos. São elas:
i) Os átomos de maior número atômico têm maior prioridade. Assim,
para os elementos mais comumente encontrados em compostos
orgânicos, a ordem decrescente de prioridade é a seguinte:
I>Br>Cl>S>F>0>N>C>H
ii) No caso dos átomos de mesmo número atômico, o isótopo de maior
número de massa tem maior prioridade.
T>D>H so >5C>"C
Dessa forma, no sistema E-Z, examinam-se os dois átomos ou grupos
ligados em cada um dos carbonos da ligação dupla e determina-se a ordem
de prioridade de cada um deles. Se os grupos de maior prioridade em cada
carbono estiverem no mesmo lado de um plano imaginário passando por
esses carbonos, a geometria dessa ligação dupla será designada pela letra
Z (do alemão Zusammen, “juntos”. Se os dois grupos de maior prioridade
estiverem em lados opostos da ligação dupla, a geometria da ligação será
designada pela letra E (do alemão Entgegen, “opostos”.
Considere o exemplo apresentado anteriormente:
Da BO
“E=6,
Aos
OF HO
Nesse caso, os átomos ligados ao carbono 1 são CI (prioridade 1) e F (prio-
ridade 9), e os ligados ao carbono 2, Br (prioridade 1) e H (prioridade 2). Como
os grupos de maior prioridade ligados ao carbono 1 (Cl) e 2 (Br) se en-
contram no mesmo lado de um plano que passa por esses carbonos, esse
isômero recebe a denominação Z, e seu nome completo é (Z)-2-bromo-1-
-cloro-1-fluoroeteno.
Outros exemplos da aplicação dessas regras são:
ou MOS 7 one MO
See E prioridade o =C
DOHC HO OH HO
Nesses casos, os átomos ligados aos carbonos sp? são hidrogênio ou car-
bono (do grupo CH,). Como o carbono possui maior número atômico, a
prioridade maior (1) é dada ao grupo CH,
Pe dentária São isátonos do hidrogênio.
70
Introdução à química orgânica
Quando os átomos ligados aos carbonos da ligação dupla forem iguais,
os números e as massas atômicas dos elementos ligados a esses átomos são
utilizados para realizar o desempate.
Considere o seguinte exemplo:
HO
x
x
Ho
Nesse caso, os grupos ligados ao carbono a são “CH, e -CH,CH,. Em
ambos, o elemento ligado diretamente ao carbono a é um átomo de car-
bono. Portanto, devem-se comparar as prioridades dos elementos ligados a
cada um desses carbonos.
No grupo -CH,, esses elementos são H, H, H e, no grupo -“CH,CH,,
€. H, H. Como o carbono tem prioridade maior que o hidrogênio, o grupo
etil terá prioridade sobre o metil. Dessa forma, o isômero apresentado é o
(E)-3-metilpent-2-eno.
Em compostos com mais de uma ligação dupla devem-se utilizar tantas
letras E e Z quantas forem as duplas. As letras E e Z sempre são coloca-
das entre parênteses, antes do nome do alqueno, conforme ilustrado para o
composto denominado farneseno, um dos constituintes do óleo essencial de
erva-cidreira.
(6E)-7.11-dimetil-3-metilenododeca-1,6,10-trieno (P-farneseno)
Observe que o sistema E-Z é mais abrangente, podendo ser utilizado
para qualquer tipo de alqueno, até mesmo os dissubstituídos. O sistema cis-
-trans tem seu uso limitado a alquenos dissubstituídos.
Teste 3.3
Dê os nomes sistemáticos para os alquenos listados a seguir, incluin-
do as designações cis/trans ou E/Z conforme o caso.
PA
DAMA
ai
* Note que a prioridade não está relacionada com a massa do grupo, como aparece em
alguns textos.
w w w .q u im ic a n a v e ia u e s b .b lo b sp o t. co m 74 — Introdução à química orgânica
Murray Raney: engenheiro mecânico
norte-americano (1885-1966). Bacharel
em engenharia mecânica pela
Universidade de Kentucky (1909),
foi professor por um curto perícdo
de tempo. Em sua longa carreira na
indústria desenvolveu o catalisador que
leva seu nome.
sição, sendo os derivados de platina, níquel, paládio, ródio, rutênio e irídio
os mais comuns.
Para a catálise heterogênea os catalisadores devem ser preparados na
forma de partículas finamente divididas, de modo que aumente a área su-
perficial, uma vez que a reação envolve a adsorção do hidrogênio e do com-
posto insaturado em sua superficie.
No caso do catalisador à base de níquel, o engenheiro americano M.
Raney desenvolveu em 1927 um processo de preparo a partir do tratamento
de uma liga de alumínio e níquel com hidróxido de sódio. O catalisador
abtido por esse processo, conhecido como níquel de Raney, é capaz de pro-
mover as reduções mesmo à temperatura ambiente e a baixas pressões, sendo
ainda hoje amplamente utilizado.
O paládio é disponível no comércio na forma de um pó finamente
dividido, normalmente adsorvido na superficie de um suporte inerte como
carvão, CaCO, e BaSO,. O suporte, em parte, dilui o catalisador, per-
mitindo melhor controle da quantidade usada; ele também pode reduzir
a atividade do catalisador, o que muitas vezes é desejado, como no caso da
redução de alquinos a alquenos (Capítulo 4). Muitas vezes, para reduzir a
atividade do catalisador, é adicionado algum composto como aminas, fosfi-
nas, compostos sulfurados etc. Esse processo é denominado envenenamento do
catalisador.
A hidrogenação de alquenos é realizada, de modo geral, em solven-
tes como metanol, etanol, acetato de etila e mesmo hexano. No caso da
catálise heterogênea, os catalisadores mais utilizados são Pd-C, Pt e Ni.
O mecanismo dessa redução é complexo, tendo sido a primeira proposta
apresentada em 1934 por Horiuti e Polanyi. Uma representação esquemáti-
ca simplificada do mecanismo proposto é mostrada a seguir:
H H H H
EE H5—Lm
H n H H a HOP H H
—— —— ——— —— ——
Superfície do
catalisador
O catalisador tem a função de adsorver moléculas de hidrogênio em sua
superfície, promovendo a quebra das ligações H-H. Durante o processo de
hidrogenação, a molécula do alqueno é também adsorvida na superficie
do catalisador, sendo os 2 átomos de hidrogênio adicionados na mesma face do
alqueno. Esse tipo de processo é chamado adição sin.”
5
HE |
HG
com by
A p
Ho / H,. 10% PE-C a com
etanal
com
HC” “com (98%)
No exemplo anterior, os átomos de hidrogênio podiam ser adicionados
em qualquer uma das faces da molécula, pois ela era plana. Neste caso em
particular o produto formado será o mesmo, seja qual for a face da molécula
em que o hidrogênio for adicionado. Entretanto, quando as duas faces da
Capítulo 3
Alquenos: estrutura e reatividade
ligação dupla não forem equivalentes, a adição ocorrerá preferencialmente
(ou mesmo exclusivamente) na face menos impedida espacialmente. Ob-
serve o exemplo a seguir:”
Face a Edo o
impedida H
mê Mlam 1oHPAO | |
Fexano, E horas, 25"6 | H
o
HO
%
Face mais (98%)
impedida
O produto foi obtido com 98% de rendimento, tendo sido os áto-
mos de hidrogênio, em destaque azul, adicionados exclusivamente em
uma das faces da ligação dupla, ou seja, naquela em que o acesso à
superfície do catalisador é mais fácil. Se a adição tivesse ocorrido na
outra face, a mais impedida espacialmente, o produto resultante seria
um esterevisômero do composto obtido. Discutiremos esse tipo de este-
reoisômeros no Capítulo 6.
Embora não seja objeto de discussão neste livro, devemos chamar
a atenção para o fato de que os químicos possuem meios não apenas de
saber que os átomos de hidrogênio foram adicionados à molécula, mas até
mesmo de determinar em qual das faces da molécula eles foram inseridos.
São muitas as técnicas utilizadas, entre as mais comuns podemos citar: es-
pectroscopia no infravermelho,” espectrometria de massas e ressonância
magnética nuclear.
Teste 3.5
Represente as fórmulas estruturais para os compostos resultan-
tes da hidrogenação catalítica do a-pineno e do I-isopropil-2-me-
tilcicloexeno. Em cada caso justifique a estereoquímica do produto
formado (cis/trans). Para o produto obtido a partir do 1-isopropil-2-
-metilcicloexeno, faça a representação da conformação em cadeira
mais estável. Justifique sua resposta.
CH
CH EM,
a-pinero Ch,
Margarina
Uma aplicação industrial da hidrogenação catalítica é na fabricação de
margarina a partir de óleos vegetais, que são misturas complexas de ésteres
* Esses compostos foram preparados no Departamento de Química ds Universidade
Federal de Viçosa (UFV), dentro do programa, visando à descoberta de novos herbicidas
75
78 | Introdução à química orgânica
tion secundário é mais estável que o primário, a energia de ativação ne-
cessária para sua formação é menor; consequentemente, ele é formado em
maior quantidade. Dessa forma, os produtos de adição obtidos a partir de
reações que envolvem a formação de carbocátions terciários são predomi-
nantes em relação aos que envolvem carbocátions secundários e primários.!
Alguns outros exemplos de reações de adição de HX a alquenos são
dados a seguir, sendo mostrado apenas o produto principal em cada caso.
HO H e
De=eí + Hs HO-C—G—e,
He CH, CH, H
eH,
CH, o
+ HH ——» E
H
H
Embora a adição de HX a alquenos possa ser utilizada para obter ha-
letos de alquilas, existem outras reações para a produção desses compostos
a partir de álcoois, conforme veremos mais adiante.
Um ponto a ser destacado é que a adição de HX a alquenos é uma
reação irreve árias para que a adição ocorra. To-
davia é possível promover a eliminação de HX a partir de haletos de alquila
utilizando-se bases, e dessa forma convertê-los em alquenos. Essa reação
será discutida em detalhes no Capítulo 7.
Um aspecto importante da reação de adição que acabamos de discutir
é o que ela revela sobre a reatividade da ligação dupla diante de eletrófilos.
Em resumo, o mecanismo apresentado envolve duas etapas gerais: adição
do eletrófilo à ligação dupla C=C, resultando na formação do carbocátion,
seguido da adição de um nucleófilo. No caso da adição de HX o nuclcófilo é
o X:. Conforme veremos a seguir, reações semelhantes podem ocorrer com
alquenos, variando-se o nucleófilo.
sível nas condições m
Teste 3.6
Represente as fórmulas estruturais dos produtos principais formados
pela adição de HBr aos alquenos listados e justifique sua resposta.
a) 2-metilbut-1l-eno
b) Hex-3
c) 3-meti
eno
iclopenteno
4.» Adição de água
A hidratação de alquenos é um processo industrial importante para
o preparo de álcoois como etanol, propan-2-ol e álcool tert-butílico. En-
tretanto, a simples mistura de um alqueno com água não resulta em adição,
uma vez que a água não é um eletrófilo forte o suficiente para reagir com
ele. Todavia, na presença de ácido, como H,SO, ou H,PQ,, a reação se
processa com facilidade, particularmente no caso da formação de álcoois
secundários e terciários.
= A adição de HX a alquenos, quando realizada na presença de peróxidos, ocorre de modo
Capítulo 3
Alquenos: estrutura e reatividade
79
A reação ocorre em etapas, de maneira semelhante à adição de HX,
e também segue a regra de Markovnikov. A primeira etapa é a mais lenta e
envolve a protonação da ligação dupla com formação preferencial do car-
bocátion mais estável. Em seguida ocorre o ataque nucleofíilico da água ao
carbocátion. Finalmente tem-se a etapa de desprotonação do álcool, con-
forme ilustrado pelo mecanismo apresentado a seguir, para o caso da forma-
ção do propan-2-ol, produto principal dessa reação.
H-CH,
o i
Etapa: CHCHSGA, + “HLDH & Ho-6o +
i i
H H
H-0H, H-CH,
Etapa 2: H-B4 ec-ca, = H-vic-e,
[1
H H HH
. H—0H,
Etapa 3: H=0-H + O é- cH,
i
H “A
Observe pelo mecanismo mostrado que o ácido atua como catalisador,
sendo consumido na primeira etapa e regenerado na última. Ainda mais:
em todas as etapas foram utilizadas setas duplas para representar que as
transformações envolvem equilíbrio. Portanto, a transformação global, que
é a adição de água ao alqueno, também envolve um equilíbrio, conforme
representado a seguir:
H—CH,
Ho a
CHCH=CH, + :10-H & 60H,
I
H HH
Assim, fica claro que a reação de hidratação de um alqueno é o reverso
da reação de desidratação de um álcool. O equilíbrio pode ser deslocado
para um lado ou outro, ajustando as condições experimentais. Ou seja, se
um alqueno for tratado com água em meio ácido, ocorrerá sua hidratação
com formação de um ou mais álcoois. Por outro lado, se um álcool for tra-
tado com um ácido, ocorrerá a protonação do grupo OH (reverso da etapa
3 do mecanismo apresentado anteriormente), seguida de perda de água e
formação do carbocátion (reverso da etapa 2 no mecanismo apresentado).
Se a água for removida do meio reacional, o carbocátion então perde um
próton formando alqueno (reverso da etapa | do mecanismo já apresen-
tado) e regenerando o ácido que funciona como catalisador para a desid-
ratação. Em resumo, um dos métodos utilizados para preparar alquenos
consiste na desidratação de álcoois, conforme será discutido no Capítulo 8.
Muitas vezes, para transformações que envolvem alquenos que apre-
sentam outros grupos funcionais, o uso de ácidos fortes como catalisadores
pode não ser adequado. Para contornar esse tipo de problema, os químicos
desenvolveram outros processos. Dentre eles, destaca-se o uso de acetato
ou perclorato de mercúrio como eletrófilo. O processo é geralmente bas-
tante eficiente, mas envolve uma etapa adicional que consiste em remover
o átomo de mercúrio que se liga a um dos átomos de Extbnds da dupla na
to 4 o tona gr
8o Introdução à química orgânica
Teste 3.7
Represente as fórmulas estruturais dos produtos principais formados
pela adição de água catalisada por ácido aos alquenos listados. No caso
do «-pineno indique a estereoquímica esperada para o produto principal
c apresente uma explicação para sua resposta.
a) «-pineno
b) ciclobuteno
c) I-metilcicloexeno
4» Adição de halogênio (Cl, Br,, |,)
o ] >
o
K Bº
Sólido cristalino
Figura 3.3 Formação de um íon
halônio cíclico e estrutura de um íon
hramânia estável
A adição de halogênios (X,) à ligação dupla de alquenos é um processo
muito utilizado em química orgânica. A reação é geralmente rápida, sendo
o halogênio inicialmente dissolvido em um solvente inerte, como o CCI,. Ao
adicionar, por exemplo, solução de bromo (marrom) ao alqueno, verifica-
-se que a adição está ocorrendo, uma vez que a solução do halogênio se
descolora ao entrar em contato com o alqueno.
Os 2 átomos do halogênio não são adicionados à ligação dupla car-
bono-carbono simultaneamente. O mecanismo dessa reação envolve ini-
cialmente a polarização da ligação X-X pela ligação 7 do alqueno, com
a formação subsequente de um intermediário denominado ion halônio e
de um íon haleto. Em uma segunda etapa, o íon haleto é adicionado ao
íon halônio.
lôn halônio
A formação do intermediário cíclico é entendida considerando-se que
um dos pares de elétrons não ligantes do halogênio sobrepõe-se ao orbital p
do carbono sf?. A vantagem em termos energéticos é que todos os átomos,
dessa forma, ficam com o octeto completo. A desvantagem é que parte da
carga positiva fica sobre o halogênio, que é mais eletronegativo, além da
tensão existente na estrutura cíclica. A confirmação definitiva da existên-
cia de íons halônios ocorreu com o preparo e o isolamento do composto
mostrado na Figura 3.3, o qual é um sólido cristalino estável cuja estru-
tura foi comprovada por cristalografia de raios X. Nesse caso, por causa
do grande impedimento espacial, o íon brometo não consegue acessar O
carbono e realizar a adição nucleofilica.
A formação desse intermediário cíclico tem um importante efeito so-
bre a estercoquímica do produto final de adição, uma vez que o ataque do
nucleófilo (X”) ocorre pela face oposta à do grupo X, resultando na adição
anti. Isso é mais facilmente evidenciado no caso de alquenos cíclicos, com a
formacão do produto trans.