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Horacio Helman
Paulo Roberto Cetlin
FUNDAMENTOS DA CONFORMAÇÃO
MECÂNICA DOS METAIS
2º edição
liber]
1- TENSÕES E DEFORMAÇÕES
1.1 - Introdução: a colocação do problema
Define-se conformação mecânica como uma operação
onde se aplicam solicitações mecânicas em metais, que res-
pondem com uma mudança permanente de dimensões. A Fi-
gura 1.1 ilustra a situação para o caso de uma operação co-
nhecida como laminação: os cilindros giram, aplicando uma
solicitação ao metal, obtendo-se como resposta uma dimi-
nuição permanente de sua espessura.
Além da mudança de dimensões, outro resultado obti-
do comumente através da conformação mecânica é a altera-
ção das propriedades do metal em relação àquelas anteriores
ao processamento.
Solicitação
os - ] Resposta
Figura 1.1 - Solicitação c resposta do metal na laminação
16 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
O estudo que agora iniciamos visa compreender me-
lhor os fenômenos associados a alguns processos comuns de
conformação mecânica; procuraremos analisar de forma quan-
titativa as variáveis envolvidas nas diversas operações a se-
rem abordadas, visando estabelecer o controle ou mesmo in-
troduzir inovações nestes processos.
A conformação mecânica tem sido tradicionalmente
estudada de duas formas:
— Estudo do equipamento
— Estudo da deformação do metal
Neste texto a maior ênfase será colocada no segundo
aspecto, desde que os equipamentos são extremamente varia-
dos e podem ser mais bem abordados em visitas, estágios,
etc. Serão vistos somente alguns aspectos desta parte.
No tocante ao estudo da deformação do metal, obser-
va-se que metais deformam-se elástica e plasticamente. A
deformação elástica é pequena e reversível (desaparece quan-
do cessa a solicitação mecânica). Na conformação mecânica
interessa, obviamente, o estudo da deformação plástica de
metais; este estudo pode ser feito de dois modos:
1) Estudando o comportamento de estrutura cristalina
do metal durante a deformação plástica (abordagem
através da física dos sólidos e metalurgia física).
2) Supondo que o metal é contínuo, medindo proprieda-
des, sem investigar os mecanismos de deformação (abor-
dagem através da mecânica dos meios contínuos).
A primeira abordagem consegue explicar muitos fenô-
menos, mas é essencialmente qualitativa. A segunda aborda-
gem possibilita efetuar avaliações quantitativas das relações so-
licitação-resposta, e será extensamente utilizada neste livro.
Tensões e deformações 17
No entanto, quando necessário, deve-se utilizar armas
fornecidas por ambos os campos de conhecimento:
SOLICITAÇÃO + MECÂNICA DO CONTINUO |, preposTA
FÍSICA DOS SÓLIDOS
Durante o desenvolvimento do presente estudo,
comumente se consideram os corpos como isótropos, homo-
gêneos e contínuos.
1.2 - Conceito de tensão em um ponto
Dentro do binômio solicitação-resposta já colocado, será
analisada inicialmente a parte de solicitações, que normal-
mente são descritas através de forças. No entanto, esta forma
apresenta inconvenientes; considerando dois corpos idênti-
cos mas de seções transversais diferentes (Figura 1.2), sub-
metidos à mesma força de tração, intuitivamente nota-se que
o corpo mais fino (Figura 1.24) está mais solicitado que o
mais grosso.
Fm F A
F F
(a) (b)
Figura 1.2 - Corpos de diferentes seções transversais submetidos ao
mesmo esforço
Logo, para descrever o nível de solicitação de um cor-
po, é necessário considerar a força aplicada a este corpo e a
área sobre a qual ela age. Daí o conceito de tensão, dada pela
18 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
força divídida pela área onde ela atua. Para a Figura 1.2, de-
fine-se tensão média como:
m (1.1)
Im
No caso mais geral, tem-se um corpo genérico subme-
tido a várias forças (Figura 1.3), e deseja-se saber a qual grau
de solicitação ele está submetido. A situação é mais comple-
xa que a mostrada na Figura 1.2, e sua análise será feita pon-
to por ponto do corpo, cortando-se imaginariamente o corpo
da Figura 1.3 por um plano passando por um ponto genérico
P (Figura 1.49).
F2
Fa
Fe
Figura 1.3 - Corpo submetido a esforços. O ponto P pertence ao corpo
Se o corpo estava originalmente em equilíbrio, para se
isolar somente sua parte à esquerda do corte (Figura 1.4b),
mantendo ainda o equilíbrio desta parte, deve-se aplicar em
todos os pontos desta seção forças convenientes (representa-
das parcialmente pela região hachurada da seção, Figura 1.4).
Consideremos uma pequena área AA em torno de P e seja
AF a resultante das forças agindo em todos os pontos de
AA, Define-se a tensão média agindo em AA como:
AF
AE 1.2
A (1.2)
Tensões e deformações 19
Forças agindo em
F toda seção de corte
Fs
ra DE
(GE
A
; CHA ”
e
Figura 1.4 - Procedimento para determinação da tensão no ponto P
(a)
Na realidade, a tensão no ponto P (T, ) deveria considerar
uma área AA muito pequena, e seria dada por:
AF (1.3)
To =limaso AA
Deve-se observar que AF varia com a área em torno do
ponto, e que, se tivéssemos escolhido outra área AA em torno
deP, AF também poderia ser diferente, tanto em módulo como
em direção e sentido. No entanto, se a distribuição das forças
na seção de corte (representadas parcialmente pela região ha-
churada na Figura 1.4b) for uniforme, ou seja, as forças forem
vetorialmente iguais em todos os pontos os pontos, o valor de
T independerá da escolha de AA.
É bastante usual a decomposição de É segundo um
sistema de eixos cartesianos cuja origem está no ponto em es-
tudo e que tem um dos eixos (1), segundo a normal ao plano
de corte (Figura 1.5).
Define-se tensão normal 6 como a componente de T
agindo segundo o eixo h (Figura 1.5) e de módulo:
[sEcosa
(1.4)
24 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
1.4 - Tensões principais
Considerando o caso do ensaio de tração, notou-se que é
possível achar planos de corte do corpo de prova onde a tensão
de cisalhamento (7) é nula, e que nestes planos a tensão normal
(6) é máxima ou mínima. Estes planos são ortogonais entre si.
“Tomando agora uma situação como a da Figura 1.6, pode-
se mostrar matematicamente que é sempre possível encontrar
três planos passando por P, mutuamente ortogonais e onde T é
nulo. Nestes planos agem somente tensões normais (0); pode-se
mostrar que uma destas tensões é o maior valor de G agindo em
P, a outra é o menor valor, e a terceira é um valor intermediário.
A situação pode ser representada como na Figura 1.8,
onde o cubo em torno do ponto P representa fisicamente o
ponto P. Por convenção se indica:
9,20,29, (1.10)
Do ponto de vista da resposta do material, o que inte-
ressa de fato são estas tensões extremas. À variação comple-
tade Ge T com a posição do plano de corte poderá ser melhor
visualizada através de métodos gráficos, a serem apresenta-
dos nas seções seguintes.
Os planos de corte onde T = 0 recebem o nome de
“planos principais”, e as tensões G,, 6, e G, recebem o nome
de “tensões principais”.
Uma das maneiras de conhecer o nível de solicitação a
que está submetido um corpo, é fornecer para cada um de
seus pontos as tensões G,, 6, e G,. Este é um problema bas-
tante complexo e pode ser observado através de análise ex-
perimental de tensões; frequentemente, fazem-se suposições
razoáveis sobre a distribuição de tensões em um corpo carre-
gado. Modernamente, a determinação desses valores pode ser
abordada através de métodos numéricos.
Tensões e deformações 25
Planos de corte
Figura 1.8 - Planos passando pelo ponto P, onde t = 0
1.5 - Círculos de Mohr
Como já exposto, a representação matemática da varia-
ção da tensão com o plano de corte apresenta certa complexi-
dade. Uma maneira cômoda de representar esta variação, e que
será muito útil mais à frente, é através dos círculos de Mohr.
A abordagem será feita para duas dimensões, simplifi-
cando as explicações, e, mais tarde, os resultados serão es-
tendidos até três dimensões, que é a situação mais geral.
Considerando um corpo de duas dimensões (uma cha-
pa fina, por exemplo), carregado somente em seu plano, de-
monstra-se que para cada ponto deste corpo, é sempre possí-
vel achar dois planos de corte, perpendiculares entre si, onde
age somente G. Estes são os planos principais. O terceiro pla-
no principal será o plano da chapa, onde 7 é nulo. À Figura
1.9 mostra um quadrado de metal, extraído de uma chapa de
tal forma que seus lados sejam os planos principais 1 e 2.
Deseja-se agora determinar as tensões O e T no plano genéri-
co À, fazendo ângulo Ot com o plano onde age O.
26 Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
Chapa carregada
£ “emseu plano
Plano
genérico A
Ms
Figura 1.9 - Análise de tensão em duas dimensões
Fazendo-se cálculos semelhantes aos da seção 1.3 para
o caso da tração pura, chega-se a (Exercício 1.6):
6 +, +0,)5 6, -0, )cos2a
1 =5(0/-0,)sen2a (111)
a
>
Es o va eogaana
E 72: "
5 É z
Patavtos) Potoronros?
E qr
máx
Q
Em
Figural.10 - Representação geométrica das equações (1.11)
Tensões e deformações 27
Considere agora dois eixos ortogonais G - T (Figura 1.10)
e um círculo passando pelos pontos 6, c 6,. À partir do centro
C do círculo, traça-se um raio CA fazendo um ângulo 20t com
Cs, (à é o mesmo ângulo da Figura 1.9). É claro que
oB-0C+CB=+(6) +o2)riloi -c9)cos2a
142
AB=+(01-02)sen Za (12)
Comparando-se as equações (1.11) e (1.12), conclui-se que:
OB=o
AB=T
Em outras palavras, o ponto À do círculo corresponde
ao plano genérico A da Figura 1.9. No caso do plano 1, da
Figura 1.9, à é nulo. Logo, traça-se uma reta CO, encontran-
do-se o ponto 6, que corresponde ao plano 1. Observe-se
que, neste caso T é nulo. Para o plano 2, O. vale 90º e 20 =
180º. Traça-se CG,, e o ponto 6, da Figura 1.10 corresponde
ao plano 2; novamente T = 0.
Na Figura 1.10, o ponto D corresponde a um plano
onde age 7. Pata este plano, 20. = 90º e at = 45º, na Figura
1.9. Isto está de acordo com os resultados obtidos para o
caso de tração puta (seção 1.3).
O círculo acima é uma maneira cômoda de acompanhar
a variação da tensão com Gt; recebe o nome de círculo Mohr, e
já foi brevemente apresentado (seção 1.3, exercício 1.5).
Para estabelecer a correspondência entre planos na Fi-
gura 1.9 e pontos da Figura 1.10, deve-se lembrar:
— Os ângulos O e 20 são contados no mesmo sentido.
— Se T é positivo, provoca “giro” do plano À em torno
de O (Figura 1.9) no sentido horário.
À luz do que foi dito acima, observe-se que planos que
BIBLIOTECAS - UNA |
28 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
fazem 90º entre si na Figura 1.9 apresentam tensões de cisalha-
mento iguais e de sinais opostos. Isso pode ser facilmente prova-
do observando-se os pontos A e E na Figura 1.10. Os exercícios
1.7 e 1.8 ilustram o uso de círculos Mohr em duas dimensões.
Uma vez analisado o problema de círculos de Mohr em
duas dimensões, pode-se generalizar a situação para três di-
mensões. Considerando que na Figura 1.114, os planos 1, 2 e
3 são os planos principais passando pelo ponto P. Tendo em
mente que a tensão em qualquer plano perpendicular ao pla-
no 3 não é afetada por 6, (lembrar o curso de tração pura,
onde se demonstrou que, para O. = 90º, 6 = T = 0), conclui-se
que, nestes planos, a tensão depende somente 6,€0,,c tudo
se passará como discutido nas Figuras 1.9 e 1.10. Assim, os
pontos do círculo que passam por G,, G, (Figura 1.11b)
correspondem a planos perpendiculares ao plano 3 e com
qualquer inclinação em torno da normal a este plano.
a Círculo representando
planos de corte ortogonais
Plano 1 ao plano 2
E ã
Elng 2 | Etna 3 Circulo representando
f planos de corte ortogonais
Syao plano 3
%
P EA
2
Circulo representand
planos de corte
ortogonais
" ao plano 1 =
pá]
Figura 1.11 — Extensão de círculos de Mohr a três dimensões
De forma análoga, o círculo passando por 6, e O, repre-
sentará os planos perpendiculares ao plano 1 e o círculo pas-
sando por 6, e 6, , os planos perpendiculares ao plano 2. É
possível demonstrar que os valores de G e T para um plano de
inclinação qualquer passando por P corresponderão sempre a
pontos dentro da região hachurada na Figura 1.11b. A tensão
Tensões e deformações 29
máxima do cisalhamento (7) está mostrada na Figura 1.11b,
e seu valor é dado pela equação (1.14):
Thay = 2103 (114)
2
O plano onde age esta tensão faz 45º com os planos
onde agem G, e G,, de maneira similar aos casos de tração
pura (Seção 1.3) e para carregamento em duas dimensões.
Ilustram-se, a seguir, os planos onde age T |, considerando
uma superposição de estados de tração pura.
As Figuras 1.12a e 1.12b ilustram dois estados simples
de tração, mostrando ainda planos onde atua a máxima ten-
são de cisalhamento. Este problema foi discutido anterior-
mente, Se agora se superpõem os esforços dos dois casos aci-
ma, obtém-se a configuração da Figura 1.12c, Cumpre ressal-
tar que existem dois planos onde agem T., estando o segun-
do também indicado na Figura 1.12a.
Figura 1.12 - Tensão de cisalhamento agindo no ponto P
34 Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
PlanoA — Plano C
PlanoA 4
(a) imã)
[ Piano À Plano B
A aa SS a
(b)
Figura 1.16 - Análise das tensões no ensaio de torção
AS
NS
(a) (0)
Figura 1.17 - Fraturas na torção: frágil (a) e dáctil (5)
1.7 - A deformação linear
Até o momento lidou-se somente com a solicitação, den-
tro do binômio “solicitação-resposta” inicialmente proposto.
Da mesma forma como foi necessário certo cuidado para saber
descrever o grau de solicitação, aqui também será necessária
uma análise da forma de expressar a resposta. Considere-se, por
exemplo, um fio de comprimento inicial (, (Figura 1.184). Sob
a ação de uma tensão 6,, ele alongar-se-á Al(Figura 1.18b). Se
, é pequeno, Al pode representar um alongamento apreciável.
Porém, se (, é muito grande, o mesmo A! pode ter efeito des-
prezível sobre bos Conclui-se, então, que A! não é uma medida
conveniente para resposta do fio ao esforço O,. Uma medida
mais significativa desta resposta é a deformação convencional
linear e, dada por:
Tensões e deformações 35
pot (1.15)
Figura 1.18 - Extensão de um fio sob a ação de forças
A deformação é adimensional, e, frequentemente,
é expressa sob forma de porcentagem, utilizando-se a
equação abaixo:
(1.16)
Observe que a deformação convencional é sempre ligada
ao comprimento original /, da barra. Para o caso da Figura 1.18c,
onde o esforço é aumentado para G, e o alongamento é dado
por 2A/, a deformação convencional seria dada por
ema (1.17)
Às definições acima são largamente utilizadas, mas for-
necem valores de deformação que não representam fielmente
o processo de deformação sofrido pelo cilindro. Considere-se, por
exemplo, a situação final do fio na Vigura 1.18. Seria mais correto
dizer que a sua deformação total é dada por
AM Al
Ep DO 118
to Lo +AL (48)
36 Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
e não pela equação (1.17). Indo mais longe, poder-se-ia con-
siderar que o mesmo A( é o fruto da soma de incrementos
infinitesimais de comprimento d(, e que a deformação seria
dada por
dr, df de
+ + +
Lodo 0, +20
4
o
onde ! é o comprimento instantâneo do corpo de pro-
va. Tomando o limite da somatória acima para infinitas cta-
pas de alongamento, viria:
q do
e=[ 4 (1.19)
Considerando a equação 1.15, conclui-se que:
e=In(l+e) (1.20)
A grandeza € é denominada deformação verdadeira ou
logarítmica, e seu valor é sempre menor que o de e, mas, para
pequenas deformações, a diferença é pequena. Uma grande
vantagem da deformação verdadeira é que se podem somar
os incrementos de deformação sofridos pelo corpo, obtendo-
se no final a deformação total, o que não é verdade no caso
de deformação convencional.
De fato, considere-se a situação da Figura 1.18. No
ponto b, tem-se:
Tensões e deformações 37
No ponto c, tem-se:
AL 2Mt+tg
bc Sp.ç in] ——£
e tota mo M+tg
AL AM 2Al
Logo, “a-bt*b-c Tp "posa 7, Sa-e
*o tg tda “o
A+ [248+€ 2At+4
capta et 7 o 0 )enffneto =ta-c
o +tg E)
O exercício 1.11 ilustra o problema discutido.
1.8 - A deformação por cisalhamento
Além da deformação anteriormente vista, é possível
se ter a deformação por cisalhamento. Inicialmente o pro-
blema será considerado em duas dimensões. Observando-
se a Vigura 1.19, que representa um pequeno quadrado em
torno de um ponto 0, não há extensão ou contração das
arestas DA e DC, mas uma mudança de ângulo ADC para
ADC. Define-se a deformação por cisalhamento Y como a
variação angular:
Figura 1.19 - Deformação sob a ação de tensões de cisalhamento
38 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
y=0,+0, (1.21)
Os ângulos 6, e 0, são positivos nas direções indicadas
acima. Quando estes ângulos são pequenos, pode-se escrever:
= t+, (1.22)
A deformação, como mostrada acima, inclui também
uma rotação rígida quando 01 = 62. Esta rotação não está
associada a uma deformação do corpo. Pode-se mostrar que,
para excluir o efeito acima da medida de deformação angu-
lar, deve-se tomar:
(1.23)
e considerar o ângulo ADA e C'DC iguais a Y/2.
1.9 - A variação da deformação com a direção
Considere-se uma folha de borracha não carregada, onde
se desenha o mesmo quadrado com diferentes inclinações (Fi-
gura 1.20, quadrados desenhados com linha cheia). A seguir
carrega-se a folha à tração pura e observa-se a posição dos
quadrados após a deformação (Figura 1.20, quadrados com
linha tracejada). Observe-se que, na Figura 1.20a, não ocorre
deformação por cisalhamento, mas somente deformação li-
near de extensão no sentido vertical e de contração no sentido
horizontal. À medida que o quadrado vai se inclinando, vai
variando o grau de deformação linear e de cisalhamento.
No caso de tensões, quando se varia o plano de corte, vari-
avam O e T. Aqui, se consideram os lados dos quadrados como
planos de corte, também variam £ e y com a posição do corte.
A análise vista acima é intuitiva e para duas dimensões.
É possível fazer uma análise matemática rigorosa do proble-
Tensões e deformações 39
ma em três dimensões, mas, para alcançar nossos objetivos,
bastarão os resultados obtidos acima; o exercício 1.12 ilustra
casos de deformação angular.
LtiItittAMIA LAS
Quadrado não deformado Folha de
Po borracha
[quadrado após deforma:
(a) (b)
TITITITITITITTT
Figura 1.20 - Variação da deformação linear e de cisalhamento com a inclina:
do quadrado base
1.10 - Deformações principais
Considerando-se o exposto na seção anterior, observou-
se que foi possível encontrar duas direções onde não ocor-
riam deformações por cisalhamento, mas somente deforma-
ções lineares. Existe uma semelhança formal com o caso de
tensões (seção 1.4), e aqui também se pode mostrar, através
de uma análise rigorosa do problema, que é sempre possível
encontrar, para cada ponto do corpo carregado, três direções
mutuamente perpendiculares, nas quais as deformações an-
gulares são nulas. Ainda em analogia ao caso de tensões, pode-
se mostrar que as deformações lineares que ocorrem normal-
mente nos planos em questão correspondem a extremos, ou
seja, uma delas (e,) é a maior de todas as deformações linca-
res, outra (e,) é a menor, c a terceira representa um valor
intermediário.
Ainda aqui podem ser construídos círculos de Mohr para
deformações;
locam-se na abscissa as deformações lineares (e)
e, na ordenada, a deformação por cisalhamento (y/2). Assim,
conhecidos os valores de e, e, e, é possível conhecer Y/2, e
44 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
1.11 - Um arame de comprimento inicial 200 mm é esti-
tado de 20 mm; após esta operação sofre um estiramento adi-
cional de 50 mm, obtendo-se um valor total de 70 mm. Calcu-
lar e e £ para cada etapa de deformação, sua soma, e comparar
esta soma com valores obtidos para a deformação total.
1.12 - Considerando um quadrado em torno do pon-
to P, desenhar sua forma final após as seguintes deforma-
ções angulares:
)8,=0,1:0,=041
b8,=02:8,=0
98,=01;0,=-0,1
d) 8,=-0,1;8,= 0,1
Calcular y em cada caso, comparando seu valor com as
formas finais encontradas.
1.13 - Quando o volume de um corpo não é alterado
pela deformação plástica, tem-se A = 0; para este caso, já se
demonstrou que e, + e, + e, = O (seção 1.12). Provar que,
neste caso, £, + E, + €, é exatamente nulo.
2 - ELASTICIDADE E
PLASTICIDADE
2.1 - Introdução
Retornando ao binômio solicitação / resposta, já foi rea-
lizado no Capítulo 1 o estudo da solicitação e da resposta, res-
pectivamente, através da abordagem de tensões e deforma-
ções. Analisaremos agora a relação existente entre tensões e
deformações, inicialmente no campo elástico (seção 2.2), para
a transição entre o regime elástico e o plástico (seção 2.3) e,
finalmente, para o campo plástico (seção 2.4).
Em conformação mecânica há grande interesse no es-
tudo da deformação plástica. Assim sendo, abordaremos so-
mente os aspectos relevantes da deformação elástica para os
resultados desejados.
2.2 - Relação tensão-deformação no regime elástico
Quando se carrega um corpo no regime elástico, ele so-
fre deformações, que desaparecem após a retirada da carga.
O desaparecimento dessas deformações pode não ser imedia-
to, havendo uma dependência com o tempo após a descarga;
neste caso o material é dito viscoelástico(*). Neste estudo,
+ Viscoelástico: termo usualmente empregado pelos profissionais da área
para descrever fenômenos ligados ao comportamento de materiais onde as
deformações elásticas dependem do tempo de aplicação do carregamento.
46 Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
supomos que os efeitos de tempo acima citados são desprezí-
veis. Além disso, consideramos que os materiais têm as mesmas
propriedades mecânicas em todas as suas direções, ou seja, são
isótropos, e que a temperatura será mantida constante.
2.2.1 - Elasticidade linear — lei de Hooke
Considere-se uma barra prismática, de seção transver-
sal pequena em relação ao seu comprimento, e onde está apli-
cada uma tensão de tração pura. Esta tensão será G,, e a de-
formação linear correspondente será e,. De acordo com a lei
de Hooke, tem-se que a deformação e, é proporcional à ten-
são aplicada O, ou seja:
(2.1)
A relação matemática entre G, e e, é linear (daí clastici-
dade linear) e E é uma constante do material, a qual recebe o
nome de módulo de elasticidade ou módulo de Young. O exer-
cício 2.1 ilustra a aplicação da lei de Hooke.
Verifica-se experimentalmente que, além da deforma-
ção à tração e, acima, produzem-se duas deformações nega-
tivas (contrações) e,, e, nas duas outras direções (Figura 2.1),
que se relacionam com e, através da express
(2.2)
Onde v é o coeficiente de Poisson (cujo valor é da-or-
dem de 0,3 para os metais). Observe-se que existem e, c e,
mesmo quando 6, = 6, = 0.
Se o corpo está submetido às tensões G,, 6, e 6, pode-
se considerar que os efeitos destas tensões se superpõem, den-
tro da hipótese de lincaridade acima. O quadro a seguir mos-
tra as deformações causadas pelas tensões O,, O, e O,.
Elasticidade e plasticidade 47
| - - -
| Tensão Deformação provocada pela tensão nas direções
aplicada 1 2 o 3 |
| +
9, 5, o
| 9, E =" E = ”
E E
o
o, yo v E &
E E
ki e, de tração
. IA
ezeesde
contração
A
.
Í
|
i
|
1
|
|
|
1
gol
ob
Figura 2.1 - Deformação de uma barra prismática sob tração no regime elástico
A deformação na direção 1 será a soma de todas as defor-
mações nesta direção, condição que também vale para as direções
2e 3. Dessa forma, chega-se às seguintes equações:
egbi-vo,+05)]
eslavo, tos) (2.3)
esp; vê, to]
Caso se desejar obter valores de 6,, 6, e 9, a partir de
48 Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
e, eee, basta inverter as equações (2.3) de forma a explicitar
6, 0,€0, (exercício 2.2).
O desenvolvimento acima foi realizado para tensões e
deformações principais. No entanto, considerando-se que ten-
sões de cisalhamento não causam deformações lineares em
corpos isótropos, pode-se mostrar que as equações semelhan-
tes às (2.3) também são válidas para tensões normais e defor-
mações lineares não principais. Existe também uma relação
linear entre as tensões tangenciais e as deformações angulares.
2.2.2 - Deformação volumétrica no regime elástico
Somando membro a membro as equações 2.3, chega-se a:
o, 10, te,-Hrnio.te.te,) (2.4)
Considerando que o termo à esquerda da equação (2.4)
é a deformação volumétrica A e chamando:
(2.5)
tem-se:
p= 2, (2.6)
E 4
Observe-se que 6, é a média aritmética das tensões
6,0,€ 6, e que esta média está matematicamente associa-
da à mudança de volume do prisma limitado pelos planos
principais. Quando se considera um cubo formado por pla-
nos não principais, onde atuam 6,0, €6,, pode-se mostrar
que a expressão (2.6) também é válida, sendo 6, a média
aritmética destas tensões.
Para que A seja nulo (admitindo que y > 2), deve-se ter:
s,=0 (27)
Elasticidade e plasticidade 49
Se 6, 6,eG, forem positivos, 6, também o será. A de-
formação volumétrica neste caso será positiva, uma vez que
vz 0,3, como já mencionado.
2.2.3 - Mudança de forma e de volume na deformação
elástica
Considere-se um cubo submetido às tensões 6,0, e O,
e seja O, a média aritmética destas tensões. Analisar-se-á ago-
ta a decomposição do estado de tensões dado, de acordo com
a Figura 2.2 (vide o problema 2.3).
Considerando a Figura 2.2c, a mudança de volume
provocada pelo estado de tensões mostrado é nula, pois:
6,-6,+0,-6,+0,-6,=0,+0,+0,-30,=0 (28)
No caso da Figura 2.2b, não agem tensões de cisalha-
mento no material. Assim, caso for suposto, como indicado
por experiências, que a deformação plástica é causada por
este tipo de tensões, esta componente em nada contribui pra
a ocorrência da deformação plástica. Por outro lado, conside-
rando as equações (2.3), as deformações geradas serão idên-
ticas (e, = e, = e). Haverá somente mudança de volume,
mas não de forma. Resumindo, o estado de tensões da Figura
2.2b só provoca mudança de volume e não contribui para a
deformação plástica, recebendo o nome de Componente
Hidrostática do estado de tensões. No caso da Figura 2.2c,
não há variações de volume, mas só de forma, sendo este
estado de tensões responsável pela ocorrência da deforma-
ção plástica e denominando-se Componente Desviadora do es-
tado de tensões.
54 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
(a) (b)
Figura 2.3 - Comportamento de um material à tração pura
Levando-se em um gráfico 6, x e, os valores obtidos
resultam normalmente em curvas com o aspecto mostrado
na Figura 2.3b. Verifica-se experimentalmente que até o pon-
to À (6, < Y) a deformação é elástica. Após o ponto A, ocor-
re deformação plástica simultaneamente com a elástica. As-
sim, ao se descarregar o corpo a partir do ponto F, ele segue a
reta FD, paralela a AO. À deformação OD é permanente, e
DE é a deformação elástica. OF é a deformação elastoplás-
tica (*) total. Vale ressaltar que usualmente DE é muito me-
nor que OD e, desta forma, a figura 2.3b é meramente
esquemática. No ponto B ocorre um afinamento localizado
no corpo de prova, denominado estricção, e a partir daí o
ensaio não mais corresponde à tração pura. No ponto €, o
corpo rompe-se no local onde se iniciou o afinamento.
* Elastoplástico: termo usualmente empregado pelos profissionais da área
para designar o regime de carregamento de um material onde ocorrem
simultaneamente deformações elásticas e plásticas.
Elasticidade e plasticidade 55
Lembrando a condição de conservação de volume duran-
te a deformação plástica (e, + e, + e,= 0), e supondo desprezível
a contribuição da deformação elástica, tem-se, por simetria.
(217)
Assim, a área A, deve diminuir quando o corpo é alon-
gado. Mesmo assim, G, cresce até B, mostrando claramente o
aumento da resistência do material associado à deformação
plástica. O ponto A frequentemente é de difícil determina-
ção, e comumente se lança mão de critérios arbitrários para
sua definição. Um destes critérios toma Y como a tensão ne-
cessária para conferir ao material 0,2% de deformação plásti-
ca. Denomina-se Y a tensão de escoamento e G, o limite de
resistência à tração do material.
Quando se considera o trabalho necessário para defor-
mar o material à tração até uma deformação plástica e”, , des-
de um estado inicial não-deformado, não mais é possível usar
a expressão (2.12), que pressupõe a existência de uma rela-
ção linear entre G, e e. Aqui a expressão a ser adotada para o
trabalho por unidade de volume será
U, E o,de, (2.18)
A expressão (2.18) corresponde à área sob a curva 6, x
e, desde a origem até a abscissa e;. Caso o material já tivesse
uma deformação inicial e), o trabalho seria dado pela expres-
são abaixo:
(219)
56 Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
e que cortesponde à área sob a curva G, x e,, desde a
abscissa e, até e,.
2.3.2 - Critérios de escoamento
No caso do ensaio de tração, é possível determinar uma
tensão Y à qual o material passa do regime elástico para o
plástico (seção 2.3.1). A determinação exata desta tensão é
experimentalmente complexa, e, frequentemente, lança-se
mão de artifícios como o mencionado na seção anterior (ten-
são necessária para causar 0,2% de deformação permanen-
te). O critério de início de deformação plástica, ou critério de
escoamento, será dado por:
G,=Y (2.20)
No entanto, a situação acima se aplica à tração pura, e é
necessário um critério que possa ser aplicado a qualquer esta-
do de tensões. Além disso, sabe-se que a componente
hidrostática de um estado de tensões não provoca deformação
plástica. Os critérios adotados devem levar em conta este fato.
Dois critérios de escoamento serão apresentados a seguir:
Critério de Tresca
De acordo com este critério, a deformação plástica se
iniciará quando a máxima tensão de cisalhamento, associada
ao estado de tensões causado pelo carregamento externo (T, ),
atingir um valor crítico T,, característico de cada material.
Este critério pode ser expresso matematicamente, em função
das tensões principais, como:
Tmáxe ESG (2.21)
Elasticidade e plasticidade 57
O critério de aplicação geral deve ser válido para a tra-
ção, onde, no momento do escoamento, tem-se:
=0 (2.22)
levando as condições acima na equação (2.21), virá:
=, (2.23)
Obtém-se assim o valor de T, para o material em análi-
se, já que Y pode ser obtido a partir de um ensaio de tração.
A expressão usual para o critério será, então:
6,-6,=Y (2.24)
Pode-se demonstrar que o critério não é afetado pela
superposição de estados hidrostáticos de tensão.
Critério de Von Mises
Este critério foi originalmente elaborado como uma
mera relação matemática entre O, 6, e O,. No entanto, se ado-
tará aqui uma explanação de acordo com uma de suas inter-
pretações físicas, para melhor compreensão do leitor. De acor-
do com a interpretação física, a deformação plástica começa-
rá quando a energia elástica de distorção por unidade de vo-
lume (U2) (seção 2.2.4), armazenada no material devido a
um carregamento externo, atingir um certo valor crítico ca-
racterístico do material U7”. Matematicamente, o critério afir-
ma que a deformação plástica começará quando:
á (+ o -0,) +(0,-0)+6.-0)) ur (2.25)
58 Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
Para o caso de tração pura, no momento de escoamento
valem as equações (2.22), que levadas em (2.25), conduzem a:
uv” = q ui v)
6v
É 2 (2.26)
O valor de Y pode ser obtido em um ensaio de tração,
sendo possível obter Up” para cada material. A expressão
para o critério será, então:
le. -e)+6-0) 6-6 )P=r (227)
Os exercícios 2.5 e 2.6 ilustram o uso dos dois critérios
apresentados. Novamente, pode-se demonstrar que a superpo-
sição de estados hidrostáticos de tensões à situação não altera
a vigência da equação (2.27) (vide exercício 2.7). Tanto o crité-
rio de Tresca quanto o de von Mises têm sido testados experi-
mentalmente, Os valores para escoamento previstos pelos dois
critérios diferem no máximo em 15%, e ambos prevêem resul-
tados próximos aos experimentais, com maior exatidão para as
previsões do critério de von Mises.
2.4 - Relações tensão-deformação no regime plástico
Enquanto no regime elástico a deformação final de-
pende somente do estado final de tensões (equações 2.3), o
mesmo não ocorre na deformação plástica, onde o estado
final de deformações depende de:
— estado final de tensões,
— sequência de estados de tensões seguida para
chegar ao estado final de tensões,
— história do material até o início da sequência acima.
A situação ficará mais clara quando se considerar a Figu-
ta 2.4, onde se tem uma chapa metálica fina, quadrada, e
Elasticidade e plasticidade 59
que atingirá o mesmo estado final de tensões (tração biaxial
com 6, = G,), pot três programas diferentes de carga.
No primeiro caso, aplica-se ao quadrado uma tensão
uniaxial crescente até atingir O, (Figura 2.43). O corpo se alon-
ga e aumenta a resistência (como discutido na seção 2.3.1).
A seguir, aplica-se O, até atingir 0, = O, (Figura 2.4b).
Quadrado descarregado
p=====—
f
0
[=== ==
Ep
a
Figura 2.4 - Deformações finais de quadrados submetidos ao mesmo
carregamento inicial e final, mas sob diferentes “caminhos”
Não ocorre deformação, pois a resistência do material
já foi aumentada. O caso das Figuras 2.4e e 2.4f é inteira-
mente análogo ao anterior, só que se aplica primeiro 6,.
Um outro programa de carregamento é aquele em que
se aplicam O, e O, simultaneamente (Figura 2.4c), que cres-
cem até o valor final dos casos anteriores. Neste caso haverá
64 Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
Como se pode observar (Figura 2.54), léa cotangente
da inclinação inicial da curva O x e, que coincide com a
curva de tração. Já de /G, é a cotangente da inclinação da
reta AB da Figura 2.5b, dependendo fundamentalmente da
forma da curva 6 xe. Observe que na Figura 2.5b, supõe-se
que o material sofre somente deformações plásticas, ou seja,
é considerado rígido (E = es). É muito comum em plasticidade
adotar para a curva da Figura 2.5b formas especiais.
(8) (o)
Figura 2.5 - Comparação dos coeficientes 1/F (regime elástico) e de, /, (regime
plástico)
Uma dessas formas obedece à equação
o. =Ae! (2.35)
onde À se chama coeficiente de resistência e n coefi-
ciente de encruamento. À Tabela 2.1 mostra valores típicos
destas constantes.
Por vezes, toma-se um aumento de resistência linear (Fi-
gura 2.6a), ou mesmo uma resistência constante (encruamen-
to nulo, Figura 2.6b), o que é bastante razoável para materiais
muito encruados ou para deformação a quente.
Elasticidade e plasticidade 65
Se
say
e
Se
Vigura 2.6 - Curvas O, x, para materiais rígidos (deformação elástica nula)
com encruamento linear (a) e rígido sem encruamento (b).
2.4.3 - Aplicações das leis tensão-deformação no regime
plástico
Material A (kg/mm?) n |
Aço (0,05%C) 54 0,26
Aço 1010 recozido 70 0,2
Aço 4135 recozido 103 0,17
A1 6061 recozido 21 0,2
A1 6061 envelhecido 42 0,05
Cobre recozido 32 0,54
Latão 70/30 recozido 91 0,49 |
Ensaio de Tração
Sabe-se que, em qualquer instante, 6, £ 0,0,
Das equações 2.34 virá
As relações acima são aquelas discutidas anteriormente
equações 2.17).
quaç
Ensaio de torção
66 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais Elasticidade e plasticidade 67
As relações acima são aquelas discutidas anteriormen-
te (equações 2.17).
Ensaio de torçã
e torção 3
<=
VA 1
Na superfície da peça, tem-se, O, = -6,;0, = 0 Tordo t
Das equações 2.34,
Vigura 2.7 - Forjamento em estado plano de deformação
Neste caso,
| Observe-se que de, = -de,
| e,=0 ou seja de, = O (2.36)
| Processamento em estado plano de deformação
. conclui-se imediatamente da constância de volume, que:
| O estado plano de deformação é caracterizado pelo fato
| de que a deformação ocorre paralelamente a um plano dado. “=-e, (2.37)
Na Figura 2.7 este plano seria o plano 1-3, não ocorrendo,
consegientemente, deformação na direção 2.
Este tipo de deformação é observado na laminação de
chapas largas (largura maior que cerca de 6 vezes a espessu-
ra), e também no forjamento de chapas largas (VPiguta 2.7).
como 6, é de compressão e G, não pode ser de tração,
conclui-se que aparece uma tensão de compressão, ao longo
de 2, que evita a ocorrência de e, Se o atrito entre a ferra-
menta e peça for nulo,
68 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
1
e 6,=50, (2.39)
A tensão 6, otigina-se pelo fato de que, ao se comprimir
o metal, este tende a aumentar sua largura W. No entanto, o
material que não está sendo comprimido fora da ação das ma-
trizes, não apresenta esta tendência e se opõe 20 alargamento
discutido, aplicando tensões 0,, como mostrado na Figura 2.7,
na interface ABCD de um lado, eNB C D' de outro.
O estado de tensões e de deformações vigente no caso
da Figura 2.7 é muito semelhante ao encontrado na laminação
| de chapas largas. Utiliza-se um arranjo semelhante ao mos-
| trado para a tcalização de um ensaio que permite o levanta-
mento da resistência básica de um metal a ser laminado, cujo
nome é “ensaio Ford”.
Considerando o critério de von Mises (equação 2.27) e
as equações (2.39), chega-se a:
[-45.) «59,) +(c6,) | =Y
o Cable
Finalmente obtém-se:
6,=2y=115Y (2.40)
7H
Conclui-se que a tensão necessária para deformar um
material no estado plano de deformações é 15% maior que
na compressão pura. À Figura 2.8 mostra resultados obtidos
para a deformação de aço doce, cobre e alumínio, à tempera-
Elasticidade e plasticidade 69
tura ambiente, no estado plano de deformações. O exercício
50: q =
2.9 ilustra o efeito de tensões externas sobre a tensão neces-
sária para executar a compressão em estado plano.
100] T T
Aço
1,15 xo MPa
75 A
so A
Cobre
25)
e Alumínio
1 1 4 1
0 25 50 75 100 125
cem te)
hf
Vigura 2.8 - Curvas O x E para o estado plano de deformação
Hixercícios
2.1 - As duas barras abaixo são submetidas a F =
00.000 N, sofrendo o mesmo alongamento. As áreas de suas
seções transversais são iguais. Qual parte da carga é suporta-
da pelo Cu e qual pelo AR
E, = 110000 MPa
E,= 70000 MPa Cu a
be
2.2 - Inverter as equações (2.3), expressando 9,0,0,
em função de e, e, e,. (Os cálculos deste exercício são bas-
tante trabalhosos, e o leitor poderá saltá-lo, se desejar.)
74 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
nocivo. Entre os aspectos relevantes da conformação mecã-
nica mais diretamente ligada ao atrito, pode-se assinalar:
— alteração, geralmente desfavorável, dos estados de
tensão necessários para a deformação;
— produção de fluxos irregulares de metal durante o
processo de conformação; aparecimento de tensões
residuais no produto;
— influência sobre a qualidade superficial dos produtos;
— elevação da temperatura do material a níveis capa-
zes de comprometer-lhe as propriedades mecânicas;
— aumento do desgaste de ferramentas;
— aumento do consumo de energia necessária à de-
formação.
Apesar destes aspectos desfavoráveis, processos como o
de laminação dependem da existência do atrito, pois, como será
visto no Capítulo 8, são estas forças que produzem a mordida e
o arrastamento do material através dos cilindros de laminação.
3.2 - Característica da força de atrito
3.2.1 - Atrito seco .
As caractetísticas fundamentais das forças de atrito se
evidenciam através de uma experiência simples, ilustrada na
Figura 3.1, Um bloco de certo material B está apoiado sobre
o material A. Por simplicidade, a superfície de contato é apre-
sentada plana. Obviamente, o peso W do corpo B c sua rea-
ção R são forças iguais e de sentidos opostos.
(8)
E JR
a ;
Figura 3.1 - Forças presentes no deslizamento de um corpo
Atrito e lubrificação 75
Se, ao aplicar-se uma pequena força H, paralela ao pla-
no de contato, sobre o corpo B, este não se move, admite-se
a existência de uma força F atuando sobre o corpo, chamada
força de atrito, que se desenvolve no plano de contato entre
os corpos. Elevando-se o valor de H, o deslizamento do cor-
po B sobre o corpo À poderá iniciar-se.
À experiência mostra que, no instante inicial do
deslizamento, o valor de F tem sempre uma relação fixa com
a força de contato, normal ao plano R, e que esta relação
depende dos materiais e da aspereza das superfícies em con-
tato. Essa relação pode ser expressa da forma:
F
Ro!
sendo qu denominado “coeficiente de atrito estático”. Evi-
clentemente, o coeficiente de atrito é um número adimensional.
O processo descrito corresponde ao chamado “atrito
seco?, para diferenciá-lo do “atrito fluido”, que ocorre quan-
do se interpõe entre os corpos fina capa de fluidos (por exem-
plo, óleos).
O primeiro estudo sistemático do atrito seco foi reali-
zado por Charles A. Coulomb, em 1781. Suas conclusões prin-
cipais foram:
1) a força de atrito desenvolvida na superfície de contato
entre dois corpos é proporcional à força normal atuante
sobre ela, e é independente da área desta superfície;
uma vez iniciado o deslizamento, a força H necessária
pata manter o corpo em movimento uniforme é menor
que a força necessária para iniciar este movimento. Em
consequência, a força de atrito Fº será:
F=uR<F
&
Pelo fato de a força Fº se desenvolver durante o movi-
mento dos corpos, ela é denominada “força de atrito dinâmi-
76 Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
co” e |, “coeficiente de atrito dinâmico”. É evidente que u
< q. Para velocidades baixas, admite-se que p” seja indepen-
dente da velocidade de deslizamento. Para velocidades ele-
vadas, observa-se uma nítida diminuição em pº.
O atrito seco é geralmente denominado atrito coulom-
biano e, devido à sua simplicidade conceitual, é frequente-
mente utilizado nos cálculos de processos de conformação
mecânica. Experiências posteriores mostram que, para pres-
sões de contato muito elevadas, as superfícies de contato
podem ser alteradas e dar lugar a valores do coeficiente de
atrito totalmente imprevisíveis.
Estudos mais recentes, desenvolvidos por Bowden e
Tabor (1950) e por outros pesquisadores, conduziram a uma
interpretação elastoplástica do mecanismo de atrito seco. À
teoria supõe que, como resultado de um contato a nível mi-
croscópico dos metais, são produzidas soldas microscópicas
nas irregularidades superficiais, como se mostra na Figura 3.2.
Uma pequena força, P, de compressão, é suficiente para
produzir deformação plástica nestas irregularidades microscópi-
cas e gerar uma solda na fase sólida. A força de atrito será, então,
o resultado da resistência ao cisalhamento destas uniões.
O deslocamento de um corpo em relação a outro exi-
girá um esforço de cisalhamento suficiente para romper es-
tas uniões, aplicado sobre os planos contendo as áreas de
contato A ; entretanto, é mais provável que o cisalhamento
ocorra em “Planos um pouco mais profundos, sobre uma área
A. Isso porque o metal nos pontos de contato se encontra
altamente deformado e, em consequência, as soldas endu-
recidas apresentariam uma resistência maior do que em seus
arredores. Deve-se destacar que para pressões normais mo-
deradas, as áreas de contato À. (aproximadamente iguais às
áreas de cisalhamento A ) são muito menores que as áreas
de contato nominais A .
Atrito e lubrificação 77
As
Pp
Pp
Ag
Uniões soldadas
E
Vigura 3.2- Representação a nível microscópico do contato entre duas superfícies
A força de atrito F será então representada por:
F=kA, (3.1)
sendo k a r
unidas.
tência ao cisalhamento das superfícies
À medida que a força de compressão P aumenta, a área
de contato A (e, consequentemente, a área de cisalhamento
A) também cresce, tendendo à área nominal A , como se vê
x nº
na Figura 3.3a, que representa qualitativamente o comporta-
mento observado experimentalmente.
Na região 1 da Figura 3.3a, o aumento da área de cisa-
lhamento A, é, aproximadamente, proporcional a P. Esta pro-
porcionalidade desaparece nas proximidades do ponto A de-
vido ao encruamento do metal. A partir do ponto A, a área
«de cisalhamento tende à área nominal A .
E E
Na Figura 3.3b descreve-se o comportamento da força
de atrito F em função de P. Ela cresce linearmente na zona 1,
78 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
e, a partir do ponto À (quando A = A), a força de atrito
tende a tornar-se constante e independente da carga P.
(a)
(b)
o
Figura 3.3 - Relação qualitativa da variação da área de cisalhamento e da
força de atrito com a força normal
Para a tegião 1 da Figura 3.3a, a expressão seguinte é válida
A =P (3.2)
Substituindo esta expressão na equação (3.1):
F=k.Ptga
Para esta região, é possível admitir que
Ktg 0 =| = constante e, então:
Atrito e lubrificação 79
F=pP (3.3)
expressão conhecida como lei de Coulomb. Dividindo
os membros desta equação pela área nominal A , chega-se a
T=up (3.4)
onde p é a pressão aplicada, e que constitui a lei de Amontons.
Analisando o comportamento observado para a força
de atrito na Figura 3.3b, concluiu-se que ela cresce lincar-
mente até as proximidades de A (zona onde pu é constante). A
partir de À a inclinação da curva decresce continuamente,
significando uma diminuição no coeficiente de atrito. Foi pro-
posto, por alguns pesquisadores, uma função da forma u =
€/p para descrever a variação do coeficiente de atrito na zona
IL, que é onde geralmente são realizados os processos de con-
formação mecânica. C depende da situação existente.
Para valores elevados de p, a inclinação da curva tende
a anular-se, e a tensão de atrito, T, tende para a tensão de
escoamento por cisalhamento das ligações na interface k, si-
tuação denominada atrito com agarramento (sticking friction.
“Torna-se claro, pela análise realizada, que o comportamento
da força de atrito está associado ao comportamento tensão-
deformação dos metais em contato.
Frequentemente, as superfícies dos metais em contato
não estão constituídas por metais limpos, pois podem conter
imputezas de vários tipos: gases adsorvidos, óxidos, graxas,
etc. Em virtude disso, as ligações entre os metais que podem
ser geradas durante o processo de atrito apresentam uma re-
sistência média ao cisalhamento menor que a esperada em
condições de limpeza total, designada por k. Nestes casos,
representativos da maioria dos processos de conformação
mecânica, pode-se expressar a tensão de atrito sob a forma
84 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
2) ter grande estabilidade química em alta temperatura;
3) possuir baixa reatividade e não interagir com outros lu-
brificantes ou aditivos.
3.3.3 - Tipos de lubrificantes mais comuns
Os elementos comumente encontrados atuando como
lubrificantes no processamento mecânico são:
1) água — apresenta alto calor específico e é o principal
constituinte quando se deseja refrigerar e remover
contaminadores simultancamente. Com a finalidade de
evitar efeitos químicos secundários, ela deve ser pura
(destilada) ou pelo menos tratada;
2) óleos minerais puros — geralmente pouco usados. São
extensamente utilizados quando agregados a óleos e áci-
dos graxos. Por exemplo, emprega-se óleo mineral com
2 a 3% de óleo graxo para laminar pequenas seçõe:
óleo mineral sulfurado com óleos graxos para estampa-
gem profunda ou extrusão;
3) óleos e ácidos graxos — os ácidos graxos são os mais
usados, formando sabões metálicos devido à ação quí-
mica sobre o metal. Os óleos graxos são saponificados e
combinados com óleos minerais, formando graxas utili-
zadas na trefilação de arames. Estas graxas se misturam
geralmente com cal, pata proporcionar capas com pe-
queno atrito antes de se passar o arame pela matriz;
4) ceras — as ceras são lubrificantes razoavelmente bons,
conseguindo suportar altas pressões, principalmente
quando combinadas com ácidos graxos e sabões. Suas
propriedades são boas enquanto seu ponto de fusão não
é excedido. São formas mais comumente empregadas:
ceras parafínicas, ceras amaciadoras, ceras naturais, etc.
São frequentemente empregadas na estampagem pro-
funda, na extrusão e na laminação.
Atrito e lubrificação 85
5) sabão — sabão metálico em pó é frequentemente em-
pregado na estampagem profunda e trefilação de ara-
mes. Exemplo: oleato de cálcio, estearato de cálcio, etc.
6) sólidos minerais — podem ser constituídos de compo-
nentes ativos e passivos. Os ativos são usados sob a
forma de suspensão coloidal, para melhorar as proprie-
dades lubrificantes sob alta pressão e/ou alta tempcra-
tura, que se encontram além do intervalo de utilização
dos aditivos orgânicos. A grafita e o bissulfeto de
molibdênio são exemplos comuns. Os passivos são mi-
nerais inertes agregados a outros lubrificantes, que me-
lhoram a adesão ao metal e seu comportamento em
condições críticas de trabalho. São geralmente usados:
cal, talco, caulim, carbonatos, mica, etc.
7) sólidos metálicos — metais duros podem ser cobertos
por metais macios, tais como o chumbo, cádmio, co-
bre, índio, etc., para facilitar os processos de trefilação
de barras e tubos, etc.
8) vidros — são usados como capas de baixo atrito em
operações que alcançam temperaturas suficientemen-
te altas para que o vidro se torne plástico. Pode ser
mencionada a extrusão a quente de aços, trefilação
de tubos, etc
9) materiais sintéticos — formam uma proporção cres-
cente de lubrificantes para serem empregados na con-
formação mecânica de metais. Incluem materiais tais
como o polietilenoglicol e o silicone; ambos possuem
grande intervalo de temperaturas de trabalho e a van-
tagem de se queimar sem deixar resíduos;
10) plásticos — materiais como o polietileno, o náilon e o
teflon são frequentemente empregados sob a forma de
lâminas de alguns micra de espessura, em operações de
embutimento profundo e estampagem.
86 Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
É também frequente o uso de aditivos E.P. (extreme
pressure): compostos de enxofre e fósforo, incorporado a
óleos minerais ou ácidos graxos, formando óleos ou
emulsões compostas. Empregam-se também aditivos
clorados; no entanto, existe o risco de ocorrer a formação
de ácido clorídrico (corrosivo).
3.4 - Valores indicativos do coeficiente de atrito
Devido à extrema complexidade dos processos físico-
químicos envolvidos no fenômeno denominado atrito, é pra-
ticamente impossível a determinação, a priori, de valores do
coeficiente de atrito, para um processo específico de confor-
mação mecânica, considerados certo material e condições de
trabalho. Estes coeficientes serão determinados em ensaios
que reproduzam, tão fielmente quanto possível, as condições
reais de trabalho. A dificuldade permanece ainda em consta-
tar se um determinado lubrificante é adequado para certo pro-
cesso e condições de operação.
Na tabela a seguir são apresentados alguns valores do
coeficiente de atrito mais comumente encontrados nos res-
pectivos processos, nas condições normais de operação. Des-
taca-se, no entanto, que eles são meramente indicativos, e
não representam, de modo algum, valores definitivos para os
respectivos processos e condições de trabalho.
Atrito e lubrificação 87
Valores de u para diferentes processos L
A — Laminação a fiio
Aço ao C — cilindro de aço polido — lubrificada 0,04-0,05
Aço ao C — cilindro de aço polido — imersão —
boa lubrificação 0,05-0,10
Aço ao € — cilindro rugoso (sand blast) 0,30
Al, Cu e Pb - cilindro de aço polido 0,10
Al, Cu e Pb — cilindro rugoso 0,40
N— Laminação a quente
Aço ao C — cilindro de aço — 400 - 900ºC 0,40
Aço ao C - cilindro de aço — 1 000ºC 0,30
Aço ao C — cilindro de aço — 1 100º€ 0,20
Aço ao C — cilindro fundido (aproximadamente 50% maior)
Abamínio — cilindro de aço — 375ºC 0,54
Cobre — cilindro de aço — 750ºC 0,35
Níquel e chumbo — cilindro de aço — 900 e 180ºC€ 0,32
Bismuto e cádmio — cilindro de aço — 150 e 180ºC 0,25
Estanho e zinco — cilindro de aço — 100 e 110ºC 0,17
B— Trefilação
Aço ao C — matriz WC — diferentes lubrificantes 0,03-0,06
Cobre — matriz WC — lubrificação forçada de óleo 0,06
Latão — matriz de aço — lubrificação forçada de óleo 0,10
Cobre e inox — matriz WC — cera 0,07
Cobre e inox — matriz WC — óleos minerais 0,30
C— Estampagem profunda
Alumínio — lubrificado com sebo 0,10
Cobre — lubrificado com óleo sob pressão 0,15
Tatão — lubrificado com óleo sob pressão 0,08-0,12
Bronze — lubrificado com óleo sob pressão 0,14
4 - FATORES METALÚRGICOS
NA CONFORMAÇÃO MECÂNICA
DOS METAIS
4.1 - Introdução
O presente capítulo trata de alguns problemas metalúr-
gicos comuns a vários processos de conformação mecânica,
tais como:
— Temperatura de trabalho (seção 4.2)
— Velocidade de deformação (seção 4.3)
— Estrutura metalúrgica (seção 4.4)
— Formabilidade (seção 4.5)
Os problemas acima mencionados constituem cada
um, por si só, grandes campos de estudo e como tais fo-
gem ao objetivo do presente texto. Assim é que se apre-
sentam aqui somente alguns aspectos mais importantes
das áreas em pauta.
4.2 - Influência da temperatura em processos de con-
formação mecânica de metais
Metais e suas ligas são comumente conformados em
temperaturas que variam desde a ambiente até próximas ao
início de sua fusão. Como elas variam muito para diferentes
materiais, é comum, em conformação mecânica, tomar a tem-
peratura de processamento de um dado metal em relação à
sua temperatura de início de fusão, ambas em grau Kelvin
94 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais Fatores metalúrgicos na conformação mecânica dos metais 95
denominada plastômetro de camo. Os valores das tabelas já A Figura 4.2 mostra a variação de m com a variação em
consideram o aquecimento provocado pela deformação e ex- Ty os dados foram retirados da Tabela 4.1. Observa-se que m
posto no primeiro parágrafo desta seção. cresce com a temperatura; assim, a tensão de escoamento dos
metais analisados é mais sensível à velocidade de deformação
Tabela 4.1 - Valores do coeficiente m da equação Y =Y,ê” à medida que a temperatura cresce. Esta conclusão é válida
para os metais em geral, e a avaliação da resistência à deforma-
ção de um metal a altas temperaturas a partir de ensaios lentos
Valores dem para compressão de as os ' a - -
Températitra p A (típicos de máquinas universais de ensaio) pode, então, levar a
Metal
ES 10% | 20% 30% 40% | 50% . as '
erros grosseiros se os resultados forem utilizados para situa-
18 0,013 | 0,018 0,018 0,018 | 0,02 ções onde o metal será deformado rapidamente. Os resultados
150 0,022 | 0,022 0,021 0,021 | 0,026 numéricos obtidos no exercício 4.2 são significativos.
Al 250 0,026 | 0,031 0,035 0,041 | 0,041
| 350 0,055 | 0,061 0,073 0,084 | 0,088 “Tabela 4.2 - Valores do coeficiente Y, na equação Y = Y,ê”
| 450 0,1 |0,098 0,1 0,116 | 0,13 o
550 0,13 | 0,13 041 0,156 | 0,155 |
Metal | Temperatura Valores de Yy para compressão de
ee "6 10% | 20% | 30% | 40% | 50%
18 146 [ 171 | 189 | 206 | 220
18 0,01 | 0,001 0,002 0,006 | 0,01 150 114 | 135 15 16,1 | 170
150 0,014 | 0,016 0,02 0,023 | 0,026 AL 250 91 | 105 | 114 | 19 | 123
300 0.016 | 0,018 0,017 0,025 | 0,024 350 63 | 69 | 72 | 73 | 74
Cu 450 0.01 | 0,004 0,008 0,014 | 0,031 450 39 [43 | 45 | 44 | 43
600 0,05 | 0,043 0,041 0,056 | 0,078 S 22 | 24 | 25 | 24 | 24
750 0.096 | 0.097 0,128 0,186 | 0,182 E a a a o Fi a
900 0,134] 0,11 0,154 0,195 | 0,19 300 »2 | 265 | 302 | 322 | 344
cu 450 170 | 225 | 251 | 266 | 268
930 0,088 | 0,084 0,094 0,099 | 0,105 600 127 ma 18,9 19,4 19,0
1000 0,108] 0,1 0,09 0,093 | 0,122 Is = o sá 82
Fe 1060 0,112 | 0,107 0117 0,127 | 0,15 : di ni ” a
1135 0,123 | 0,129 0,138 0,159 | 0,198
1200 0,116 | 0,122 0,141 0,173 | 0,196 930 16,3 19,4 20,4 20,9 20,9
1000 130 | 156 | 173 | 180 | 169
Te 1060 109 | 129 | 140 | 144 | 136
1135 91 | 105 | 12 | 110 | 99
1200 716 | 86 | 88 | 83 | 76
96 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
m
0,2 T T T STA
A
A x
X Alumínio A
e Cobre x
1 A Aço (0,17% C) a q
º
x x
. º
0 2 *, º 1
o 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Temperatura homóloga, T,,
Figura 4.2 - Variação do parâmetro m com a temperatura homóloga T,
Finalmente, deve-se observar que, à medida que a ve-
locidade de deformação cresce, também aumenta a tempera-
tura T, que deve ser alcançada para se trabalhar no regime de
deformação a quente. Os processos de amaciamento do me-
tal durante sua conformação são basicamente termicamente
ativados. A maior velocidade de deformação exige que eles
se passem em menor tempo, o que somente se dará se a tem-
peratura de processamento T, for aumentada.
4.4 - Influência das variáveis metalúrgicas em
processos de conformação mecânica de metais ]
As propriedades dos metais estão estreitamente ligadas
à sua composição e microestrutura. Para metais puros, seu
ponto de fusão dá uma indicação da intensidade da ligação
entre os átomos; assim, quanto mais alta a temperatura de
fusão de um metal puro, maior resistência terá o metal a uma
determinada temperatura.
A adição de elementos de liga a um metal altera a situ-
ação acima, já que o início de fusão de uma liga se dá nor-
Fatores metalúrgicos na conformação mecânica dos metais 97
malmente a temperaturas mais baixas que no material puro,
mas sua resistência é aumentada. Do ponto de vista da resis-
tência mecânica, ligas são mais difíceis de deformar a quente
que os cortespondentes metais puros, pois a temperatura
máxima a que podem ser trabalhadas é mais baixa. Quando a
adição de um elemento de liga a um metal ultrapassa certos
limites, pode ocorrer a formação de uma segunda fase. O
material passa, então, a ser constituído por uma íntima mis-
tura destas duas fases. Um material desse tipo, de uso extre-
mamente difundido, é o aço carbono. Para conteúdos de car-
bono de até 0,8% (aços hipocutectóides), o aço é constituí-
do, à temperatura ambiente, por uma mistura de ferro ptati-
camente puro (ferrita) e de carboneto de ferro (cementita). A
ferrita é macia e a cementita muito dura.
As propriedades destas misturas dependem fundamen-
talmente da natureza das fases presentes. Consideraremos
como matriz o material que está presente em maior quantida-
de e, como segunda fase, o material restante. Quando a se-
gunda fase é mais dura que a matriz, a mistura será mais re-
sistente que a matriz. Quando for mais macia, poderá haver
um amaciamento da mistura com relação à matriz.
Chama-se microestrutura de um material a disposição
espacial das diversas fases desse matcrial. As propriedades
das misturas acima são fundamentalmente afetadas por esta
microestrutura, que depende inicialmente de quais fases es-
tão presentes e de sua quantidade. Em princípio, quanto
maior a quantidade da segunda fase, maior será seu cfeito,
tanto no sentido de aumentar quanto de diminuir a resistên-
cia da mistura. Para uma dada quantidade de segunda fase, é
de grande importância sua distribuição espacial. No caso de
aumento de resistência, esse efeito será tanto mais pronuncia-
do quanto mais finamente dispersa estiver a segunda fase. A
cementita está mais finamente dispersa em aços-carbono
98 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
hipocutectóides normalizados (resfriados ao ar) que em
tecozidos (resfriados em fornos). A resistência mecânica de
aços normalizados é maior que de recozidos.
Interessa também a forma da segunda fase, que tem in-
fluência sobre a área de interface matriz /segunda fase. Para a
mesma quantidade de segunda fase, com a mesma distribuição
espacial, quanto mais ampla a área da interface maior o efeito
da segunda fase. Por exemplo, aços carbono hipocutectóides
recozidos (cementita em forma de lamelas) têm resistência
maior que esferoidizados (cementita em forma de esferas, com
menor área da interface matriz /segunda fasc).
O raciocínio acima vale também para a influência do
tamanho de grão, mesmo em metais puros ou ligas: quanto
menor o grão, maior é a área da superfície dos contornos de
grão e mais resistência terá o material.
Quando a segunda fase tem ponto de fusão mais baixo
que a matriz, e a temperatura de processamento for suficien-
te para fundir esta fase, podem ocorrer rupturas durante a
deformação, num fenômeno conhecido como fragilidade a
quente (hot shoriness). O fenômeno é bastante comum em aços
ressulfurados, onde se adiciona enxofre ao aço para melhorar
sua usinabilidade. Se não houver suficiente manganês no aço,
haverá a formação de uma estrutura eutética Fe/Fes, que se
funde em torno de 900ºC.
Após a conformação de um metal, as partículas de se-
gunda fase presentes frequentemente não mais estão distri-
buídas aleatoriamente na peça, pois clas tendem a alinhar-se
ao longo das diteções onde ocorreram as maiores deforma-
ções. Barras laminadas a partir de tarugos sofrem grande alon-
gamento, e as partículas de segunda fase tendem a se alinhar
20 longo de seu comprimento. Quando se pule e se examina
uma seção da peça, frequentemente pode-se observar esta
orientação preferencial da segunda fase, com a aparência de
Fatores metalúrgicos na conformação mecânica dos metais 99
“fibras” no material. Esta “fibragem” introduz anisotropia nas
propriedades mecânicas dos metais, que apresentam,
comumente, maior resistência à fadiga e ductilidade em dire-
ção paralela às “fibras” do que em direções normais a estas.
— “Formabilidade”(*) dos metais
Os metais, via de regra, possuem grande capacidade de
sofrer mudança de forma, fornecendo peças em condições
satisfatórias de uso. No entanto, há limites, e analisaremos
aqui três aspectos do problema: a formação de estricções, a
flambagem e a fratura. [
Quando se submete um metal à tração pura, ele se defor-
ma inicialmente de forma uniforme, aparecendo depois uma
«deformação localizada na peça, como analisado na seção 2.3.1.
Devido a esse fato é que a conformação dos metais se dá nor-
malmente em condições envolvendo tensões de compressão,
como já discutido para a trefilação (seção 1.7.2). Mesmo no
caso da trefilação, tensões de tração excessivas aplicadas ao
arame após sua saída da fieira podem causar sua deformação
plástica e levar a consequente formação de estricções e ruptu-
ra do material. Neste caso, o processo será inviável.
O problema de flambagem é importante em operações
envolvendo a compressão de peças delgadas, como é o caso
do recalcamento de barras no forjamento (Figura 7.12). É
um problema puramente geométrico e que pode ser resolvido
diminuindo-se o comprimento sob compressão ou aumenta-
do-se a área da seção transversal da peça.
* Formabilidade: termo usualmente empregado pelos profissionais da área
para designar a capacidade de um material deformar-se plasticamente sem
apresentar trincas ou fraturas.
104 Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
forma de sua utilização (sequência de passes, operações comple-
mentares, etc), para se obter, por exemplo, produtividade máxima.
O conhecimento das tensões que atuam no material
durante a conformação, da geometria do fluxo, do grau de
deformação, ctc., constitui valiosa ajuda na análise de poss
veis causas de defeitos, fraturas, etc., e permite prescrever
formas de evitar tais inconvenientes.
O problema de relacionar tensões e deformações em
um corpo real é complexo e, frequentemente, de difícil re-
solução. Sua definição matemática envolve vários níveis de
abstrações científicas e aproximações da realidade. Geral-
mente, o problema se resume na solução de sistemas de
equações diferenciais (ordinárias, parciais, lineares, não-li-
neares), independentemente da natureza física do problema
ou de sua característica mecânica dominante (elasticidade,
plasticidade, etc.). Na maioria dos casos, a resolução destas
equações apresenta grande dificuldade matemática e,
frequentemente, é quase impossível obter a solução exata
(que não significa determinação exata das tensões c defor-
mações em um problema real). Este fato está relacionado
com as características matemáticas (não-linearidade) de al-
gumas equações constitutivas e com a dificuldade de satis-
fazer certas condições de contorno.
Neste capítulo serão estudadas distintas maneiras de
abordar o estudo dos processos de conformação mecânica
com os recursos fornecidos pela mecânica do contínuo. De-
pendendo do caso, os problemas em conformação mecânica
são definidos em termos de cargas, forças de volume (peso,
inércia, etc.), propriedades físicas do material, distribuição
inicial de tensões e deformações, temperaturas, pressões, etc.
Essas variáveis são relacionadas num determinado modelo
matemático, obtido segundo diversos procedimentos que se-
tão descritos a seguir. Foram selecionados os métodos de apli-
Métodos analíticos para a solução de problemas 105
cação mais direta ou cujo emprego não necessita de recursos
avançados de computação e análise numérica.
A prática da conformação mecânica baseou-se princi-
palmente no método empírico e o knon-how tem sido tradicio-
nalmente o método para resolver problemas. Essa forma de
trabalho é satisfatória, desde que os problemas a resolver es-
tejam compreendidos dentro da experiência do pesquisador.
No entanto, os resultados empíricos, apesar de úteis na ope-
tação, não levam necessariamente a respostas para novos pro-
blemas. Esta situação pode ser melhorada pela aplicação da
mecânica do contínuo à conformação mecânica, constituin-
do assim uma disciplina de interesse na indústria moderna.
5.2 - Método de deformação homogênea
Um método simples de deformar um metal é a tração
pura. À totalidade do corpo de prova neste processo (despre-
«ando os extremos) está livre para se deformar, sem que ne-
nhuma restrição lhe seja imposta externamente. Desse modo,
HC O instante em que começa a estricção, a barra sofre defor-
mação uniforme ou homogênea. É comum considerar que este
modo de deformação requer menos energia (e, consequente-
mente, cargas menores) que qualquer outro tipo de deforma-
ção. Esta energia pode ser calculada através do conhecimento
da curva tensão-deformação, como será visto a seguir.
Nos itens 2.2.4 e 2.3.1 foi demonstrado que a energia
por unidade de volume necessária para a deformação uniaxial
por tração de uma barra de um metal sem deformação inicial
( expressa por:
U, = | ode
Através de um raciocínio análogo ao utilizado no item
1.2.4, pode-se obter uma equação similar à anterior em fun-
ção da deformação logarítmica €. Admitindo-se que a tensão
106 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
aplicada coincida instante a instante com a tensão de escoa-
mento Y, a energia despendida por unidade de volume será:
U, =[5 vde (5.1)
Conclui-se que a área do diagrama Y - £, compreendida
entre 0 e £, (Figura 5.1), mede o trabalho por unidade de
volume necessário para a deformação homogênea da barra
até £ Timbora o raciocínio tenha sido feito com base no pro-
cesso de tração, ele é válido para o processo de compressão,
desde que seja aceita a ausência de atrito entre as matrizes de
compressão e a barra.
A cutva Y - £ é obtida como discutido no Capítulo 2
(Comportamento sob tração) e 4 (Influência da temperatura
e velocidade de deformação).
o & £
Figura 5.1 - Relação tensão-deformação logarítmica
Se o material for “não-encruável” (Y = cte), ou no caso
de operar-se com um valor médio Y da tensão de escoamen-
to, a expressão (5.1) pode ser escrita como:
U,=Yf/de=Ye,=Yint (5.2)
onde 1, e 1, e são os comprimentos final c inicial, res-
pectivamente, da barra sob tração. Conseqientemente, o tra-
Métodos analíticos para a solução de problemas 107
balho despendido para deformar homogencamente um vo-
lume V será:
u=vf vl)de=vY ni (5.3)
A tensão de escoamento média Y é definida como:
Toe )-L[! vas (5.4)
eço!
e seu significado geométrico pode ser deduzido da Figura
5.1: altura do retângulo de base £, e de área igual à encerrada
pela curva Y - E entre 0 eg, ;
Como uma aplicação, este método será empregado para
calcular a tensão 6, a ser aplicada na extremidade de uma tira
submetida a trefilação, desde um comprimento e área iniciais
lc A, respectivamente, até um comprimento e área finais le
A, (Figura 5.29).
Aplicando a equação (5.3) a este caso, considerando um
material que não endureça (ou operando com um valor médio
da tensão de escoamento) e condições de deformação homo-
gênea em todo o volume V, obtém-se:
U=o(AI)=VYJ, de
Como o volume da tira permanece constante durante o
processo de deformação, obtém-se:
(65)
Na análise que conduz à equação (5.5), além da hipótese
de deformação homogênea, foram desprezados os efeitos da
fricção (analisados no Capítulo 3).
Este método pode ser aplicado a outros processos como
forjamento, extrusão e laminação. É necessário destacar que,
em processos reais, onde não ocorre deformação homogê-
108 Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
nea, os valores calculados desta forma constituem mera pri-
meira aproximação. A discrepância com os valores medidos
aumentam com a incidência de fatores que afastam o processo
das condições ideais de deformação homogênea. É fregúente
tentar corrigir estas discrepâncias por meio de coeficientes
que consideram a incidência destes fatores, mas, neste caso, o
método passa a ser de natureza semi-empírica.
5.3 - Método dos blocos
O método dos blocos (s/ab method) é um sistema teórico
pata análise de processos de conformação mecânica, baseado
em certas hipóteses simplificadoras que permitem uma descri-
ção simples destes processos. Para sua utilização, será suposto
que as direções principais das tensões, em todos os pontos
do corpo que está sendo deformado, podem ser consideradas
como um sistema coordenado de referência. Dessa forma, o
estado de tensão atuante no corpo é tal que as tensões variam
predominantemente em uma direção, e podem ser considera-
das uniformes nas outras. Além disso, admite-se que o efeito
do atrito está confinado a uma pequena zona na interface de
contato com a matriz. Então, o estado de tensões tangenciais
produzidos pode ser superposto ao interior, sem alterar as
direções principais, que permanecem basicamente as mesmas.
O atrito é levado em conta como exposto no Capítulo 3.
A aplicação das equações de equilíbrio em um bloco
nas condições assinaladas conduz, geralmente, a uma equação
diferencial da forma:
(5.6)
onde x, é a coordenada correspondente à direção na qual
as tensões variam predominantemente, enquanto (O Ss)
Métodos analíticos para a solução de problemas 109
“ão as tensões principais correspondentes às direções x, e x A
função Fox, 19x) é linear em (ox, Ox, ) e inclui o efeito do
atrito e a incidência dos parâmetros geométricos do processo.
(O efeito do encruamento pode ser levado em consideração na
integração da equação diferencial, a qual pode eventualmente
não admitir uma solução analítica, devendo então ser resolvi-
da numericamente.
É importante observar que, apesar de a equação (5.6)
ser obtida a partir de hipóteses de equilíbrio, na zona de de-
formação não existem tais condições. Entretanto, pata a maio-
ria dos processos industriais, pode-se aceitar esta hipótese
como válida, sem introduzir grandes erros no modelo.
Equações da forma indicada apresentam-se em proces-
sos de deformação plana (por exemplo, laminação de chapas)
e em processos com simetria axial, tais como a trefilação e
extrusão, entre outros.
Apesar de o método basear-se num estado de tensões
fictício, os resultados obtidos com sua aplicação constituem
frequentemente uma aproximação razoável para a solução de
uma ampla gama de problemas.
Como exemplo de utilização deste método, será anali-
sado um processo de trefilação plana de tiras através de uma
matriz sem atrito. O ângulo total da matriz é 20 e as outras
dimensões encontram-se na Figura 5.2a. Supõe-se que a es-
pessura inicial da tira h, é muito menor que sua largura w,
situação esta que assegura condições de deformação plana,
ou seja, não ocorrerá deformação no sentido da largura.
Para aplicar o método, isola-se um bloco do metal que
se encontra passando pela matriz, indicando as tensões que
atuam sobre ele, como está detalhado na Figura 5.2b, junto
com as suas dimensões. Tais tensões são:
1) a tensão longitudinal O,, que será considerada do-
114 Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
extrusão plana sem atrito, com uma redução de 50% na área
transversal, como representado esquematicamente na Figura
5.3. Desde que o estado de deformação seja plano, se analisa-
rá somente o que ocorre no plano de deformação, pois esta
situação é uniforme no sentido da largura w. À análise a scr
efetuada cm seguida está idealizada, e o problema será estudado
posteriormente em condições mais realistas.
Supõe-se que a geometria final será alcançada da seguinte
forma: a zona na qual a deformação ocorre está limitada pelos
triângulos AOB e A"O'B (Figura 5.42) e o material só se defor-
ma quando atravessa os lados dos triângulos, comportando-se
como rígido durante o movimento entre eles. Observar que a
geometria de fluxo escolhida prevê a existência de regiões com
velocidade absoluta nula denominada “zonas mortas”. O metal
a scr deformado é empurrado para dentro da máquina de ex-
trusão por um pistão (Figura 5.3), aplicando-se uma pressão p,
que se deseja calcular. Um elemento do metal movendo-se para
a matriz traslada-se com uma trajetória (velocidade) paralela
ao eixo (linha 1). Na Figura 5.4b serão analisadas as sucessivas
alterações em sua velocidade, através de um diagrama vetorial
denominado hodógrafa.
Antes de alcançar a linha AB (ou A'B), sua velocidade Vi
será considerada unitária (ramo Oa da hodógrafa). Ao cruzar a
linha AB, o elemento experimenta uma descontinuidade em sua
velocidade, paralela a AB (ramo ab na hodógrafa). A velocidade
resultante dentro do triângulo AOB deverá ser paralela à borda
da zona morta ÃO. Isso porque a componente normal da velo-
cidade não pode variar e ela é nula na zona morta. Assim a reta
Obé traçada a partir de O e paralela a OA; cla intercepta em b
a reta paralela a AB que passa pot a. Dessa forma, encontra-se
graficamente o valor da descontinuidade na velocidade existente
em AB, dada pelo segmento ab.
Métodos analíticos para a solução de problemas 115
Finalmente, o elemento sofre nova alteração em sua
velocidade ao atravessar o lado OB , paralela à direção de OB.
Assim, por b traça-se uma reta paralela a OB, e, como a velo-
cidade final deverá ser paralela ao eixo, tem-se em Oc o valor
da velocidade resultante. É fácil verificar que Yf =2Y;, como
impõe a equação de continuidade.
“|
sos Nois q
I
I
|
1
Vigura 5.3 - Esquema de extrusão plana
A Zona morta
(b)
/ Zona morta
K
(a)
Vigura 5.4 - Campo de velocidades de diagrama de velocidades
(hodógrafa) na extrusão plana
116 Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
Será analisada agora a potência consumida durante este
processo. Sobre a linha onde existe uma descontinuidade na velo-
cidade, a tensão de cisalhamento produzida, supondo um material
que não se encrua, é k (tensão de escoamento por cisalhamento
do material). Correspondentemente, se o comprimento da linha
és ea largura da tira w, a força que atua nesse plano é:
E =ks,w
Se a descontinuidade na velocidade neste plano é Vad
potência despendida por esta força é:
N,=E,v;=ks,v,w
Se existem várias regiões com descontinuidades na ve-
locidade, a potência total interna despendida será:
Nu =LN,=wkD sv; (5.12)
; i
Se não existem outras fontes de dissipação, esta potência
será igual à aplicada externamente:
Nha T Na
A expressão (5.12) será aplicada ao problema de extrusão
anterior, cuja hodógrafa já foi obtida. Desta forma resulta, ana-
lisando apenas a metade superior por razões de simetria:
Na =kw[ABv,,+0Bvo, +ÃOv,o] (5.13)
Estes valores podem ser obtidos analiticamente ou me-
didos no gráfico. Eles são:
va=l AB=20
vo=d2 AO=42
va=l2 0B=/2
Substituindo em (5.13), obtém-se:
Nmetw[1.20+024240242] =6kw (5.14)
Se a pressão de extrusão é p e a área do pistão ABw ,a
força aplicada externamente é:
Métodos analíticos para a solução de problemas 117
EF, =pABw
e:
Se a velocidade de deslocamento do pistão é unitária, a
potência fornecida externamente será:
Na =Ful=pABw.l
Como AB = 2,0 resulta
Nou —2pW (5.15)
Tgualando (5.14) e (5.15), obtém-se:
2pw =6.wk
ou seja: p = 3k ,
ou ainda: P-=1,5
2k
As soluções calculadas através do teorema do limite su-
perior estão sempre acima dos valores reais. Estes valores se
aproximam dos reais à medida que o campo escolhido se apro-
xima do verdadeiro. Posteriormente serão indicadas soluções
de limite superior para outros processos de conformação.
5.5 - Outros métodos
Outros métodos têm sido empregados, com resultados
satisfatórios, no cálculo de esforços e na obtenção de linhas de
fluxo. Entre eles serão mencionados o campo de linhas de es-
corregamento (5/jp lines field), a visioplasticidade(*), os elementos
finitos e os resíduos ponderados. O emprego destes métodos
requer uma elaboração matemática prévia, cujo alcance escapa
ao objetivo deste trabalho.
! Visioplasticidade: termo usualmente empregado pelos profissionais da
irca para designar a técnica experimental que mede a deformação plástica
efetiva nos diversos pontos de uma peça deformada, através da inscrição
de uma grade na seção longitudinal da peça e da medida dos deslocamentos
dos pontos desta grade provocados pela deformação plástica.
6 - TREFILAÇÃO E EXTRUSÃO
6.1 - O processo de trefilação
O processo de trefilação consiste em forçar a passagem
de uma barta através de uma fieita mediante a aplicação de
uma força de tração à saída desta fieira. Na Figura 6.1, pode
ser observado um esquema de um banco de trefilação retilíneo
c um detalhe da fieira empregada.
A barra deve ser apontada e inserida através da fieira,
sendo, em seguida, presa por garras de tração usualmente
impulsionadas através de corrente sem-fim. Existem bancos
capazes de desenvolver até 100 t de tração e velocidades da
ordem de 100 m/min, percorrendo distâncias de até 18 m.
As fieiras de trefilação são geralmente construídas de
carboneto de tungstênio devido à sua grande durabilidade.
[las são caracterizadas por seu diâmetro de entrada, diâme-
tro de saída e o ângulo do cone (ângulo de trefilação). A zona
de entrada é construída com um ângulo maior que o de
trefilação, para facilitar o processo de lubrificação. Na saída,
é necessária uma zona cilíndrica por razões de fabricação e
manutenção da matriz, e para diminuir a velocidade de des-
gaste do diâmetro de saída da fieira.
Na produção de pequenos diâmetros (arames, etc.),
pode-se empregar o tipo de máquina rotativa ilustrada na Fi-
124 Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
obtém-se a equação diferencial
do, aD
Bo,-Y(+4B) D (6.5)
Admitindo-se Y = Y = constante e | constante em
toda a região de contato, a equação (6-5) pode ser integrada,
obtendo-se:
2B
z D
mgsED [2
Empregou-se a condição de contorno: para D = D,
tem-se 6, = 0, o que significa que não há aplicação de tensões
externas no arame entrando na ficira. Finalmente, a tensão de
trefilação será:
2B
mB (Dr
=. 3] (6.9)
Integrando a equação diferencial com a condição de
contorno correspondente à aplicação de tensões a ré:
paraD=D,o =, tesulta:
2B
D
f 1+B|
cul!) +Fatt
i
É interessante destacar que o aumento da tensão de
trefilação (6) causado pela aplicação de 6,, implica numa di-
minuição da pressão média atuante sobre a matriz, visto que:
P=Y-o,
Isto resulta em um menor desgaste das matrizes, mas,
por outro lado, aumenta o risco de ruptura do arame após a
saída da fieira. Pode ser demonstrado que a equação (6.1) é um
caso particular da (6.6) para qu = 0.
Trefilação e extrusão 125
Frequentemente, a equação (6.6) é utilizada em função
da redução de área r:
(6.7)
Substituindo em (6.6), obtém-se:
sf --n?] (6.8)
Pode ser de interesse integrar a equação (6.5) para mate-
riais que endurecem segundo uma relação “tensão-deformação”
Y =Y (8). Utiliza-se, então, a relação:
de =-24D
D
expressão esta que sutge da constância de volume d(A.!)
O. Assim, resulta
“do, =-de
Bo,-Y (€) (1+B)
ou, em outra forma:
Es =Bo+Y E) (+B)
Esta última expressão é facilmente integrável nume-
ricamente, dada a função Y = Y (£) em forma de tabela ou
analiticamente.
Outra forma de escrever a equação (6-6) é em função da
deformação logarítmica. Lembrando que:
2
D
es (der. an=m(5e]
e
126 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
ou
2
D
exp(e)=| —
p(g;) D,
Elevando à potência B e invertendo, resulta:
D 2B
exp(-Be,)= D,
Com o qual a expressão (6-6) resulta
(1
= (1 -exp(Be))]
B
Caso seja de interesse utilizar para a função Y = Y (8)
uma expressão da forma Y = A + C £”, seu valor médio é:
y=a+ er
l+n
Assim, obtém-se finalmente:
Con /1+B
o,= (seções [-es (-Be, 3]
6.2.3 - Trabalho redundante
A equação (6.8) e seguintes permitem um cálculo da
tensão de trefilação levando em consideração a influência do
atrito e do encruamento do material,
Existe um outro aspecto não considerado na análise
anterior, presente na maioria dos processos de conformação
mecânica, que será ilustrado com a ajuda da Figura 6.4. Será
acompanhada a trajetória de um elemento de metal próximo
à superfície. Hste se aproxima da matriz com um movimento
adicio-
patalelo ao eixo. Ao entrar em contato com a matri;
na à sua velocidade inicial uma componente perpendicular
Trefilação e extrusão 127
ao eixo (radial). Ao abandonar a matriz, segue, novamente,
seu movimento paralelo ao eixo. Como se deduz da Figura
0.4, o material sofre um processo interno de deformações
cisalhantes (ou distorção), além daquele necessário para sua
deformação homogênea, e que não contribui para as mudan-
ças dimensionais da barra trefilada.
1 6.4 - Esquematização da deformação redundante
Essa deformação extra é chamada de “deformação re-
dundante” ou, também, desde que envolva um trabalho de de-
formação plástica, “trabalho redundante”. É fácil compreen-
der que o trabalho redundante (ou distorção) será maior quan-
to maior for o ângulo da matriz. Como o atrito influi na geome-
tria de fluxo, o trabalho redundante não seria totalmente inde-
pendente de pu. No entanto, foi experimentalmente demonstra-
do que, para uma ampla faixa de materiais c lubrificantes, esta
dependência, quando existente, não afeta de forma sensível o
trabalho redundante, o qual dependeria somente da geometria
do processo. Assim, o trabalho redundante torna-se mais notá-
vel quanto maior for o ângulo da fieira. Demonstra-se, ainda,
«que este trabalho cresce ao diminuir a redução imposta ao metal.
Como o trabalho redundante envolve deformação
plástica, também contribui para o processo de endureci-
mento do material. Dessa forma, encontra-se que, comu-
128 Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
mente, para um só passe de trefilação, a tensão de escoamento
do material trefilado é superior à tensão de escoamento de um
material com a mesma quantidade de deformação homogênea.
Usualmente, o efeito do trabalho redundante será maior
nas camadas superficiais do que naquelas próximas ao eixo da
barra. Em consequência, o processo de trefilação com ângulos
grandes conduzirá a uma maior heterogeneidade das proprie-
dades mecânicas na seção transversal, e as camadas externas
estarão mais encruadas.
Como na prática industrial empregam-se pequenos ângu-
los e grandes reduções, é em geral possível desprezar o efeito do
trabalho redundante na avaliação das tensões de trefilação.
Não existe uma teoria rigorosa para avaliar o trabalho
redundante em trefilação de barras de seção circular, e é fre-
quente considerar sua influência sobre a tensão de trefilação
através de um fator multiplicativo semi-empírico q, a ser apli-
cado na tensão calculada pela equação (6.8).
Ainda que existam diversas maneiras de avaliar o tra-
balho redundante, agora será mencionado somente o traba-
lho desenvolvido por G.W. Rowe, no qual
q =088+078 05 (6.9)
sendo As/ M um parâmetro geométrico dado por:
As. Di+Dr (e E)
M D;-D,l 2sena
onde:
= área de uma superfície esférica centrada no ápice do
“cone e limitada por ele, cujo raio é a média dos raios
correspondentes dos pontos de entrada e saída do ma-
terial e M = área de contato entre a matriz e a barra.
Levando em consideração o trabalho redundante, a ex-
pressão (6.8) seria corrigida sob a forma:
Trefilação e extrusão 129
=(1=1] (6.10)
0.2.4 - Solução através do limite superior
Como desenvolvido no Capítulo 5, para se obter uma
solução através do limite superior para um certo processo,
deve-se primeiramente obter uma descrição da geometria de
deformação deste processo através de um campo de veloci-
dades cinematicamente admissível. Uma vez selecionado este
campo, é possível calcular a força necessária pára que o ma-
terial siga tal esquema de deformações. Esta força será dife-
rente para as diferentes concepções do processo. Na realida-
de, o material segue o esquema de deformação que necessita
da mínima energia para que seja implantado.
Existem diferentes soluções propostas por diversos
autores para a trefilação de barras de seção circular. No pre-
sente parágrafo, será analisada a solução proposta por B.
Avitzur, baseada no campo de velocidades ilustrado na Figu-
ta 0.5, cuja expressão analítica é a seguinte:
> cos6
V=—var E (6.11)
Tal campo de velocidades consiste em um campo es-
fórico radial, sendo a zona de deformação limitada pelos
setores esféricos, concêntricos Ter, cujos centros coinci-
dem com o vértice O do cone da matriz, como mostrado na
Vigura 6.6.
Dado o campo de velocidades, a determinação do cam-
po de velocidades de deformação, é agora um problema ma-
temático. À partir do campo de velocidades de deformação, é
possível calcular a energia necessária para deformar a barra
de um certo raio inicial R, até o raio final R. Admite-se que,
neste modelo, as alterações geométricas ocorram exclusi-
134 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
Observa-se a existência de um acordo razoável entre
os valores teóricos e experimentais.
Ângulo ótimo
Resumindo em um gráfico as contribuições para a ten-
são total de trefilação consideradas pelas expressões (6.14),
(6.15) e (6.16), junto à tensão total relativa de trefilação, ob-
tém-se a Figura 6.8.
08
08
07
06
05
0,4
03
9
E
E
z
o
a
e
5
e
Deformação interna
0,2 Trabalho redundante
01
(d)
o) [Ur Perdas por atrito
024 6 8 1012
Semi-ângulo de fieira
Figura 6.8 - Representação gráfica das energias dissipadas em função do
semi-ângulo da fieita (segundo Avitzus)
Para ângulos pequenos da matriz, predomina o efeito
do atrito, acarretando um elevado valor para à tensão total. À
medida que o ângulo da matriz aumenta, o efeito do atrito
diminui drasticamente, de modo que, apesar do aumento do
trabalho redundante, existe uma diminuição na tensão total.
A curva da tensão total (a) apresenta um mínimo em um cer-
to ângulo em que ocorre um comptomisso entre as perdas
por atrito (decrescentes para ângulos de matriz crescentes —
curva c) e o trabalho redundante (crescente com O ângulo —
curva d). O trabalho interno de deformação, por ser prati-
Trefilação e extrusão 135
timente independente do ângulo (curva b), não influi na po-
ção do mínimo. Naturalmente que este ângulo dependerá
«la redução em que se opera e das condições de atrito (de m).
Liste ângulo, que para cada caso minimiza a tensão de trefila-
10, denomina-se “ângulo ótimo”. O ângulo ótimo pode ser
calculado através da expressão (6-12), efetuando:
do,
do
2senat E TsenZa- (eos art)
mi Ecos) E vio Je (617)
Introduzindo-se algumas simplificações, que surgem
do fato de trabalhar com ângulos pequenos, obtém-se para o
ingulo ótimo a seguinte expressão aproximada:
(6.18)
Observa-se que o ângulo ótimo cresce com a redução
e com o atrito.
Redução máxima
A tensão de trefilação máxima, que pode ser aplicada ao
imaterial em processo, não deve exceder a tensão de escoamento
do produto, isto é:
G,<Y
Resolvendo-sea equação (6-12) paraa relação (R /R) e empre-
gando-se a condição enunciada, obtém-se (supondo L = 0):
136 Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
(6.19)
Em condições de atrito nulo (m = 0) e distorção nula
(a = 0), observa-se que a redução máxima possível por de-
formação homogênea é:
Ri =exp? (6.20)
que equivale a 1 = 63%.
6.2.5 - Outros esquemas de deformação
Nos itens anteriores, descreveu-se o fluxo de material se-
gundo um determinado modelo (campo radial de velocidades),
que será denominado “fluxo normal”. Como foi mencionado, este
modelo permite fazer estimativas da tensão de trefilação e do àn-
gulo ótimo, em razoável acordo com os resultados experimentais.
Não obstante, opeta-se em condições de fluxo normal apenas dentro
de uma vatiação limitada das possíveis combinações de redução,
ângulo de matriz e valores de atrito. Existem dois outros modelos
de deformação, que conduzem à formação de “zonas mortas”
(modo b) e de descascamento (modo q), cujas características geo-
métricas são ilustradas na parte superior da Figura 6.9.
A formação de zonas mortas-ocorre quando o material
é trefilado através de ângulos muito grandes, circunstância
na qual o material sofre um processo interno de cisalhamen-
to, separando-se uma zona do metal que adere à matriz e que
não continua com o fluxo normal do metal. Este material
forma, assim, uma falsa matriz através da qual continua o
processo de trefilação.
Trefilação e extrusão 137
mo | emo o —Sa.
+
= >>
DD—5 DD >——&
() Fluxo normal () Formação de zona (e) Descascamento
morta
(d) Formaçãd de rupturas
centrais
x
o x,
fopt Se Sora
Semi-ângulo da fisira
Figura 6.9 - Correlação da geometria de fluxo com o semi-ângulo da fieira
(segundo Avitzar)
O descascamento se produz quando, em consequência
do grande ângulo de trefilação utilizado, a zona morta já não
consegue aderir à matriz e começa a deslizar para trás. Este
processo é, em essência, uma operação de corte de metal du-
inte a qual o núcleo da barra não se deforma, movendo-se
altavés da matriz com velocidade de entrada igual à de saída.
A deformação do material segundo estes diferentes
modos pode ser acompanhada na Figura 6.9 (parte inferior),
atraves da evolução da tensão de trefilação e com a ajuda do
conceito de energia mínima.
138 Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
Zona morta
Para ângulos pequenos tem-se fluxo normal e uma alta
tensão total influenciada principalmente pelo atrito. À medi-
da que o ângulo aumenta, a tensão de trefilação diminui até
que se alcance o ângulo ótimo €, . A partir desse valor, a
tensão volta a crescer em virtude do acentuado aumento da
distorção (trabalho redundante). Esse aumento gradual con-
tinua até que se alcance um primeiro ângulo crítico (O),
para o qual o modo de deformação normal é substituído pelo
modo de deformação com zona morta, energeticamente mais
favorável. Deve-se destacar que o campo de velocidades é
análogo ao de fluxo normal apenas com um ângulo de matriz
definido pelo material que constitui a zona motta. À mudan-
ca de modo de deformação é provocada por uma redução na
energia necessária para deformar, correspondendo o ângulo
desta falsa matriz a um valor tal que minimiza essa encrgia.
Uma vez formada a zona morta, um aumento do ângu-
lo de matriz, acima de Cc, não provocará alterações na ten-
são de trefilação, que permanecerá constante enquanto exis-
tir a zona motta.
Pode demonstrar-se que o semi-ângulo da falsa matriz
é dado aproximadamente pot:
(6.21)
válida para ângulos pequenos. O ângulo crítico Cy
pode ser obtido por aproximações sucessivas da equação:
Aa) -lan( pe Jo 7 [te co dou)
a,
(e 1 ctg a lies Gm Ctg a, md
(6.22)
sen*a,
cuja solução se apresenta graficamente na Figura 6.10.
Trefilação e extrusão 139
1%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Redução
Figura 6.10 - Relação do ângulo crítico com a redução (segundo Avitzur)
Des
scamento (Shaving)
À medida em que se aumenta o ângulo da matriz, even-
tunlmente se atingirá um segundo ângulo crítico Oro à partir
do qual o modo de deformação que minimiza a energia já não
“ode zona morta, porém o de descascamento. Como já men-
clonado, este modo dedeformação é nitidamente um proces-
o de corte de metais.
A análise de um modelo teórico deste modo de defor-
mição conduz à solução apresentada graficamente na Figura
, que ilustra a variação do ângulo crítico O .., em função
Hupturas centrais (Central burst)
Um modo de deformação que às vezes ocorre na práti-
vu de trefilação, é o denominado de “rupturas centrais”. Seu
aparecimento é motivo de preocupação devido ao fato de
aque resulta na formação de pequenos buracos no interior do
144 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
bloco de metal através do orifício de uma matriz mediante a
aplicação de pressões elevadas (mecânicas ou hidráulicas).
Geralmente a extrusão é empregada para obter barras
ou tubos, mas também é utilizada na produção de seções de
formas complexas, especialmente em materiais de fácil
processamento, como o alumínio, por exemplo. Nestes mate-
riais obtém-se formas finais com excelentes tolerâncias
dimensionais e qualidade superficial. O método tem sido par-
ticularmente útil com os metais difíceis de deformar por ou-
tros meios (ligas refratárias, aços inoxidáveis, etc.) pelo fato
de apresentar uma tensão média de compressão. Fista circuns-
tância é também apropriada para quebrar a estrutura primá-
ria de fundição de um certo metal, deformando-o em geome-
trias intermediárias, com estruturas metalúrgicas mais favo-
ráveis para seu processamento posterior.
Existem dois tipos fundamentais de extrusão
direta e a extrusão inversa, cujos processos são esquematizados
na Figura 6.15. Na extrusão direta, o metal a ser processado
é colocado em um cilindro e empurrado contra a matriz atra-
vés de um pistão acionado por uma haste. Na extrusão inver-
a extrusão
sa, emprega-se uma haste oca que empurra a mattiz contra O
metal a extrudar, o qual sai da matriz em sentido contrário ao
movimento da haste. O outro extremo do cilindro encontra-
se fechado por uma placa. Não existindo movimento relativo
entre o material a extrudar e o cilindro, as forças de atrito são
consideravelmente menotes que na extrusão direta, necessi-
tando, assim, menores potências de operação. Em sua maio-
tia, os processos de extrusão são realizados em equipamen-
tos hidráulicos, empregando-se prensas de até 5 000 t.
Segundo o tipo de metal e seção a ser obtida, o processo
de extrusão é realizado a quente ou a frio. Os materiais empre-
gados neste processo devem suportar rigorosas condições de
atrito e temperatura. Para a extrusão de barras, podem empre-
gar-se matrizes cônicas com ângulos menores que 90º, depen-
Trefilação e extrusão 145
Cilindro
mr
Produto H Força
axtrudado E Hasto À
Porta matriz | Embolo
Extrusão direta
Cilindro
Força
pa Placa de
— fechamento
oxtrudado
a
Extrusão inversa
Vigura 6.15 - Esquematização do processo de extrusão direta e inversa
dendo do material e das condições de atrito existentes, ainda
«que se possa operar com ângulos próximos a 180º em gran-
(les reduções. Metais duros estão geralmente limitados a re-
«luções de área da ordem de 1:20, enquanto com metais mais
Incilmente deformáveis, como o alumínio, podem-se obter
reduções em área de 1:100.
O estado atual da teoria de conformação mecânica permite
analisar somente os processos de extrusão mais simples. A previ-
mão de cargas de extrusão através de métodos elementares é de
pouca utilidade devido ao fato de que grandes ângulos de matriz
acarretam uma elevada não-homogencidade na deformação.
146 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
Extrusão direta
Na Figura 6.16 mostra-se um detalhe do cilindro num
processo de extrusão direta. Em contato direto com o pistão
existe um bloco de aço (falso pistão), cuja finalidade é proteger
o pistão da temperatura e da abrasão existente no cilindro. Entre
este bloco e o metal a ser extrudado, comumente se interpõe
um pedaço de material suplementar (geralmente grafite) pata
forçar a passagem de todo o tarugo através da matriz.
Idealmente, o processo de deformação ocorre na matriz
enquanto o resto do material é suportado pelas paredes do ci-
lindro. É esta condição que permite alcançar elevadas redu-
ções no processo de extrusão, já que não se produzem instabi-
lidades de qualquer tipo no material. Ainda que na trefilação
podem ser alcançadas reduções máximas de área da ordem de
40 a 50%, em extrusão são frequentes reduções de 99%.
Haste (pistão)
Matorial suplementar
Falso pistão [grafo Tarugo
| Matriz
HZ
y ,
Cilindro de extrusão Suporto da matriz
Figura 6.16 - Detalhes do processo de extrusão direta
6.3.1 - Análise do processo de extrusão
Define-se pressão de extrusão (p,) como a força necessária
para executar a operação (Figura 6.15) dividida pela área da seção
transversal do cilindro.
Trefilação e extrusão 147
Método da deformação homogênea
Através de uma análise semelhante à efetuada para a
trefilação, obtém-se a pressão de extrusão p,
p=YInR. (6.24)
sendo R, = A/A, (relação de extrusão).
Como anteriormente, esta expressão não considera a exis-
tencia do atrito e supõe deformação homogênea (distorção nula).
Método dos blocos '
Utilizando a mesma descrição de processo empregada
para a trefilação, obtém-se a pressão de extrusão:
Pe= (Ses -1) (6.25)
fazendo 6, = - p na expressão (6.6).
Deve-se destacar que, embora as hipóteses simplifica-
«oras empregadas na dedução de (6.6) baseadas no uso de ma-
trizes de ângulo pequeno eram aceitáveis na maioria dos pro-
cessos de trefilação, esta circunstância não é frequente nos pro-
cessos de extrusão.
Novamente, é fácil demonstrar que a equação (6.24) é
um caso particular da (6.25) para u= 0.
Solução através do limite superior
O método do limite superior de B, Avitzur apresentado no
tem 6.2.4 pode ser aplicado diretamente ao processo de extrusão.
A equação que calcula a pressão de extrusão pode ser
obtida a partir da equação (6.12) fazendo 6, = - p.
Novamente deve ser observado que, devido à eleva-
da distorção introduzida neste processo, as expressões ana-
líticas correspondentes levam a melhor aproximação para
ingulos menores.
148 Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
Os diferentes modos de deformação analisados para o
processo de trefilação com a ajuda do critério de energia mí-
nima operam também neste processo, assim como os diver-
sos critérios acerca das condições favoráveis para a aparição
de tais modos.
Modelos estudados por outros autores, baseados no
teorema do limite superior, assim como em outros métodos de
cálculo (alguns semi-empíricos), têm mostrado que a pressão
de extrusão pode ser expressa através de equações de forma.
p=A+BlaR, (6.26)
onde as constantes A e B dependem do material a ser
extrudado assim como das condições de extrusão (atrito, ân-
gulo da matriz, etc). Essas constantes podem ser obtidas na
literatura especializada.
Por exemplo, para alumínio extrudado à temperatura
ambiente, baixa velocidade (-10 cm/min) e uma relação de
extrusão de até 150, vale a seguinte relação:
p.= (1,015InR + 483) kgf/cm?.
Para o cobre, nas mesmas condições de operação, tem-se:
p.= (8,283 In R, + 364) kgf/cm?.
Em ambos os casos, foram usados como lubrificante
graxa sulfonada.
6.3.2 - Defeito da extrusão
Existe um defeito característico do processo de
extrusão que será agora descrito. Como o núcleo do material
a ser extrudado se move através da matriz mais rapidamen-
te que a periferia, quando o processo de extrusão atinge a
Trefilação e extrusão 149
ctapa final começa a se formar uma cavidade no centro da
superfície do material em contato com o pistão. Esta cavi-
dade cresce gradualmente em diâmetro e profundidade,
transformando a barra emergente em tubo, e, então, esta
porção final deverá ser descartada. O aspecto deste efeito é
semelhante a um rechupe interno e pode representar uma
perda importante de material.
6.3.3 - Extrusão hidrostática
Um processo interessante é a extrusão hidrostática, que
é caracterizado por empregar um fluido sob pressão para
empurrar o material através da matriz, como esquematica-
mente mostrado na Figura 6.17.
— Jpistão
Eluido a
Cilindro alia pressão
cilindro
7 7
Vigura 6.17 - Esquematização do processo de extrusão hidrostática
154 Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
No forjamento em matrizes fechadas, o metal deve ado-
tar a forma esculpida previamente nas duas matrizes, haven-
do fortes restrições ao livre espalhamento do material. A Pi-
gura 7.2 mostra uma operação deste tipo.
O forjamento em matrizes abert:
usado normalmente
quando o número de peças a produzir é relativamente peque-
no c o tamanho delas é grande (eixos de turbinas e de navios,
grandes virabrequins e anéis, etc.) A Figura 7.3 ilustra o for-
jamento de anéis: a peça é aquecida e colocada em um man-
dsil, como mostrado; em seguida, a matriz superior compri-
me uma parte do anel, ocorrendo uma diminuição de espes-
sura e consequente aumento do comprimento desta parte, o
que causa um acréscimo no diâmetro do anel. Após esta com-
pressão, a matriz superior é levantada e a peça girada um pou-
co, forjando-se uma região adjacente à já processada. Esta
operação é repetida até que todo o anel tenha sido forjado.
Ve
Es
Tarugo Posição ink Posição final
recalado das matizes casmatrzes
o
Peça foiada
Figura 7.2 - Forjamento de uma peça em uma matriz fechada
Matriz
superior
Giro E |
intemitente ES Anei
do anel
Mandril
Figura 7.3 - Forjamento de um anel em matriz aberta
Forjamento 155
A Figura 7.4 ilustra o estiramento de uma parte de uma
barra, que é uma operação comumente realizada com matrizes
abertas. A primeira etapa do processo fornece a peça mostrada
na Figura 7.4b. À operação é realizada com matrizes de largura
b não muito grande e através de sucessivas compressões c avan-
cos da barra (Figura 7.4c, d, e). As ondulações na superfície da
peça ocorrem devido à pequena largura b. A Figura 7.4f mos-
tra o aspecto da peça quando se repetem as operações já discu-
tidas após um giro de 90º da barra. Finalmente, alisam-se as
faces forjadas, trocando-se as matrizes por outras de maior lar-
gura b. A peça obtida está mostrada na Figura '7.4g.
“DB o
a o
a
AA
65 sto o
a
(d) (e)
> TRY
(1 (9)
Vigura7.4-1
tiramento da ponta de uma barra por forjamento em
matriz:
s abertas
O forjamento em matrizes fechadas não é feito de uma
só vez: usinam-se diversas cavidades em matrizes, c a peça
vai sendo sucessivamente forjada nessas cavidades, chegan-
do gradualmente até sua forma final. A Figura 7.5 ilustra um
156 Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
exemplo deste caso. A Figura 7.6 mostra dois exemplos de
matrizes para forjamento em matrizes fechadas. Usualmente,
usinam-se várias cavidades na mesma matriz, que recebem o
nome de impressões. Aquelas utilizadas nas etapas iniciais
do forjamento são as impressõ:
preparadoras, e as que for-
necem a forma final da peça são as acabadoras. Estas opera-
ções de usinagem são difíceis e caras e, por isso, só se justifi-
cam na fabricação de um grande número de peças.
ASÍ US
! — 886 dim =
IS
Peça acabada 2488 | [perfifnal usado
Figura 7.5 - Sequência de fabricação no forjamento em matrizes fechadas
Impressões acabadoras,
Figura 7.6 - Exemplos de matrizes para forjamento em matrizes fechadas
Um problema a ser considerado no processo de forja-
mento em matrizes fechadas é a formação de rebarba, consti-
tuída pelo excesso de material que penetra entre as matrizes
durante a operação, como mostrado na Figura 7.7. Uma vez
Forjamento 157
pronta a peça, é necessária uma operação de rebarbação para
a retirada deste excesso de metal. As matrizes podem ser do-
tadas de “calhas”, como ilustrado na Figura 7.8, para evitar
que a rebarba seja muito extensa.
Adr do
Rebarba
Figura 7.7 - Formação de rebarbas durante o forjamento em matrizes fechadas
Matriz superior
:=h Peça sendo
forjada
Rebarba
A
Matriz inferior
Figura 7.8 - Calha para evitar a extensão exagerada da rebarba
158 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
Deve-se notar a extrema importância da boa seleção e
tratamento térmico do material a ser usado nas matrizes de
forjamento. O assunto, no entanto, foge ao escopo do pre-
sente texto e não será aqui abordado.
O estudo de forjamento em matrizes fechadas é comple-
xo e eminentemente empírico, como ocorre no projeto das
matrizes. Este livro restringe-se ao estudo de alguns tópicos do
forjamento em matrizes abertas, particularmente no tocante
aos aspectos desta operação que se assemelham à laminação.
Os equipamentos universalmente usados no forjamen-
to são o martelo c a prensa. Nos martelos, a energia necessá-
ria pata executar uma operação é fornecida por uma massa
que cai livremente ou impulsionada de uma certa altura. Esta
massa está na faixa de 200 a 3 500 kg, caindo de alturas de 1 m
a 35 m. Os métodos mais comuns de levantamento dessas
massas ocorrem através de fricção em tábuas (Figura 7.9) ou
por meio de ar comprimido. Fabricam-se peças de até 50 kg
nesse tipo de máquina. Nos martelos pncumáticos (power
1-Tábuas
(A) 2-Massa presa à matriz superior
3- Rolos de fricção
4 - Sistema de disparo do martelo
Figura 7.9 - Funcionamento esquemático de um martelo de tábuas.
Posição abaixada (a) e levantada (b)
Forjamento 159
hammers), a massa que cai é impulsionada por ar comprimido.
A capacidade de forjamento deste equipamento é muito su-
perior ao dos martelos de queda livre, além de ter controle
mais fácil, mas exige uma bigorna com uma grande massa, À
Figura 7.10 mostra um martelo a ar comprimido.
Cilindro de
acionamento
Controles
Matriz inferior
Figura 7.10 - Esquema de um martelo de forja é ar comprimido
164 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
Tensões de atrito agindo
na superfície do material
sendo deformado
<— ——» h
» «los t
«2
> — Face 1
É Movimento do material
sendo forjado
«ds
Figura 7.15 - Forças de atrito geradas na superfície da peça sendo forjada
Verifica-se experimentalmente e prevê-se teoricamen-
te (como será visto neste capítulo) que as pressões verticais
agindo sobre a peça sendo forjada crescem das bordas para o
centro da matriz, tanto ao longo de sua largura b como ao
longo da largura w da peça em processamento. Considerando
o modelo coulombiano (vide Capítulo 3) para as tensões de
atrito, conclui-se que estas também terão comportamento aná-
logo ao desctito acima para as pressões verticais. Assim, a
restrição ao movimento relativo metal/matriz deverá ser
maior no centro das larguras b e w, e a tensão de atrito será
nula nas bordas da matriz. Além disso, quanto maiores forem
as dimensões b e w, maiores serão as tensões de atrito no
centro destas dimensões. Estas tensões dependem também
da fricção e lubrificação na interface em estudo.
No caso de fluidos ideais, a pressão aplicada em um
ponto do fluido se transmite integralmente a todos os pontos
da massa fluida. Fste não é o caso dos sólidos, onde o efeito
Forjamento 165
de uma pressão aplicada em um ponto não se propaga por
todo o corpo. Assim, o efeito da tensão de fricção agindo por
exemplo nos pontos A e B da Figura 7.16 não se transmite ao
longo de toda a altura da peça, mas vai desaparecendo à me-
dida que se consideram maiores profundidades desde a su-
perfície do metal em contato com a matriz. Quanto maior o
valor das tensões aplicadas, mais profundo o seu cfeito, o
qual, no entanto, não penetra indefinidamente no metal. No
caso do atrito, ocorre também uma limitação ao valor máxi-
mo desta tensão, que corresponde à tensão de escoamento
por cisalhamento puro (vide Capítulo 3). Assim, deve-se es-
perar que no ponto B, a ação da tensão de atrito seja mais
profunda que no ponto A, como ilustrado na Figura 7.17.
Criam-se, desse modo, regiões abaixo das matrizes onde o
fluxo do metal fica restringido pela ação do atrito. A existên-
cia destas regiões é comprovada experimentalmente. Como
era de se esperar, a deformação do metal dentro delas é me-
nor que em suas vizinhanças.
Tensões de atrito
crescentes da borda
para o centro da matriz
Vigura 7.16 - Variação da tensão de fricção ao longo das dimensões da
matriz superior
166 Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
Considerando o exposto até o momento no tocante à
face 1 (Figura 7.17), a fração do volume sendo deformado
que é afetada pelo atrito dependerá da largura b das matrizes
c da altura h. Para matrizes estreitas (b pequeno), o tamanho
das regiões de fluxo restringido é menor, e a fração citada,
ocupada por elas será menor à medida que h cresce. Uma
indicação da influência do atrito seria então dada por b/h.
Quanto menor esta relação, menor o efeito causado pelas re-
giões de fluxo restringido. | É
Do ponto de vista do atrito, o mesmo poderia ser dito
pata os fenômenos ocorrendo ao longo de w, e a influência da
região de fluxo restringido seria comandada por w/h nó to-
cante à face 2. No caso de altas relações wi/hi, porém, inter-
vém um estado plano de deformações, e o papel do atrito ao
longo de w fica restrito mais às bordas da peça.
Região de fluxo
restringido
Região de fluxo
restringido
Figura 7.17 - Penetração do efeito do atrito em uma peça sendo estirada por
forjamento
Forjamento 167
Região de fluxo restringido no metal sobre a matriz
Superfície plana da matriz inferior
Vigura 7.18 - Esquema de uma possível forma p
considerada a fricção ao longo de b e w na matriz
À região de fluxo restringido
Quando se considera o efeito conjunto da restrição ao
fluxo ao longo das faces 1 e 2, conclui-se que a região de fluxo
restringido seria como mostrado esquematicamente na Figura
7.18, para a região do metal próxima à matriz inferior de forja-
mento, O aspecto apresentado é característico para razões w/
b > 1. Para relações w/b = 1, a região seria semelhante a uma
pirâmide de base quadrada, e, se w/b < 1, o aspecto seria o
mesmo daquele apontado na Figura 7.18, só que girado de 90º.
No caso de forjamento de discos, a tensão de atrito estaria
dirigida radialmente em direção ao eixo do disco, e a região em
pauta teria a forma de um cone cuja gerattiz não seria necessa-
riamente teta. A fr.
ção do volume deformado, ocupado pelas
regiões de fluxo restringido, seria avaliada neste caso através
da razão D/h, onde D é o diâmetro do cilindro e h a sua altura.
Na ausência de atrito não ocorreria a formação das regiões
discutidas,e verifica-se experimentalmente que, para cilindros
com relação D/h acima de 0,65, a forma externa da peça não é
alterada pela compressão: um cilindro comprimido ainda teria
a forma cilíndrica ao final da operação. A presença do atrito e
de consequentes regiões de fluxo restringido altera radicalmente
168 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
o panorama, pois estas regiões são mais difíceis de deformar
que o material à sua volta, agindo assim como “falsas matti-
zes”. Considerando a compressão de um disco, na parte próxi-
ma de uma região de fluxo restringido a deformação seria como
mostrado na Figura 7.19, ocorrendo a formação de “bojos”
perto da região em contato com a matriz.
Matriz
Região de fluxo
restringido
Forma da superfície externa
| . do cilindro após deformação!
Figura 7.19 - Efeito da região de fluxo restringido sobre a forma externa de
um cilindro sendo comprimido
O efeito da pressão vertical agindo sobre um cilindro
alto (D/h menor que 0,65) não penetra indefinidamente ao
longo da altura da peça. Consequentemente, a deformação
obtida estaria restrita basicamente à região próxima da ma-
triz. Quando se considera agora a ação simultânea da pressão
vertical e das zonas de fluxo restringido, que atuam aproxi- .
madamente como matriz
D/h baixos, o cilindro adotaria a forma mostrada na Figura
7.20a. À medida que D/h cresce, a fração de material ocupa-
s, observa-se que, pata valores de
da pelas regiões de fluxo restringido cresce, e a altura efetiva
do material comprimido entre as matrizes (aí consideradas as
“falsas matrizes”) cai; como consequência, os bojos nas ex-
tremidades do cilindro aproximam-se, e o cilindro passa a ter
o aspecto mostrado na Figura 7.20b. Então, à medida que D/h
Forjamento 169
cresce, a superfície lateral do cilindro passa de côncava a con-
vexa, De acordo com a literatura, para aços deformados a
quente o valor de D/h, que demarca a transição acima está
em torno da faixa 0,6 - 0,7.
Considerando a Figura 7.20b durante a compressão, o
material do plano À espalha-se mais que aquele no plano B. Essa
diferença no espalhamento faz com que a região nas extremida-
des do cilindro tente limitar a deformação em A, aplicando ali
uma tensão de compressão (Figura 7.214). Obviamente que a
região A tende a arrastar consigo a região B, que fica então
tracionada (Figura 7.219). O raciocínio é também válido para os
bojos nas extremidades do cilindro da Figura 7.204, induzindo
um sistema de tensões ilustrado na Figura 7.21b.
Jó
DA
to
l
(a) - Superfície côncava do cilindro (b) - Superfície convexa do cilindro
I igura 7.20 - Aspectos da superfície lateral de cilindros de diferentes relações
D/h, após compressão
Às tensões ilustradas na Figura 7.21, devem superpor-
se as tensões de compressão externas e aquelas geradas pelo
atrito e já discutidas (Figura 7.17). Como analisado no Capítu-
lo 4, a componente hidrostática do estado de tensões é de gran-
174 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
zes”. Logo, verifica-se experimentalmente que, para relações D/
h altas (acima de 1,2), a forma de cilindros recalcados é relativa-
mente pouco bojada, predominando no volume da peça as regi-
ões de fluxo restringido. O recalcamento obriga o material a fluir
radialmente, e, quanto mais alta a relação D/h e o coeficiente de
atrito ui, mais difícil é o fluxo radial e maior será a pressão neces-
sária ao forjamento. Comumente, denomina-se este aumento apa-
rente de resistência de “endurecimento geométrico”.
À medida que D/h cai abaixo de 1,2, as peças cilíndricas
podem assumir formas convexas (Figura 7.20b) ou mesmo côn-
cavas (Figura 7.202). A forma adotada pelos cilindros corresponde
a uma minimização do esforço externo, ou seja, caso não ocor-
o de forjamento
ressem as formas acima mencionadas, a pre:
seria maior. Assim sendo, à medida que D/h diminui, além da
queda do efeito da frieção, deve-se considerar uma diminuição
de pressão devido à deformação heterogênea dos cilindros.
A Figura 7.24 mostra a variação experimental da carga
para deformar cilindros de razão D/h variável. No caso da
Figura 7.24a, varia-se D e no caso da Figura 7.24b, varia-se
h. As previsões no parágrafo anterior são plenamente confir-
madas: para a mesma redução percentual de altura, quanto
menor a razão D/h, menos esforço exigirá a compressão.
pressão erescont
Cargas
010 2030 40 50 60 7080 010 2030 40 50 60 70 80
Redução de atua, % Redução de altura, %
(8 em
Figura 7.24- Influência da selação D/h sobre o esforço necessário para executar
a operação
Forjamento 175
No tocante ao papel do atrito, a Figura 7.25 também
confirma as previsões realizadas (no caso tem-se D/h cons-
tante c maior do que 1,2). Finalmente a Figura 7.26 demons-
tra que, quando q cai, os efeitos do “endurecimento geomé-
trico” tendem a desaparecer.
Faces
torneada:
I
Faces
retificadas
Faces |
polidas
crescente
Cargas crescentes
o 10 20 3040 50 60 70 80
Redução de altura, %
Vigura 7.25 - Efeito do atrito sobre o esforço necessário à compressão de um
cilindro. A variação do efeito do atrito é obtida através de diferentes condições
uperficiais das faces dos corpos de prova em contato com a matriz
Experiências semelhantes às discutidas acima para ci-
lindros também são realizadas para o estiramento por forja-
mento, e as conclusões são inteiramente análogas. Os resul-
tados são também válidos para o estiramento em estado pla-
no de deformações (Figura 2.7). Neste caso, o parâmetro geo-
métrico de importância será a razão da largura da matriz para
v altura da peça (b/h), já que w/h não deverá influir.
No caso de formação de rebarbas durante o forjamento
em matrizes fechadas, é interessante manter um valor de b/h
176 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
(Figura 7.8) suficientemente alto entre as matrizes, para que
a pressão no seu interior seja suficiente para forçar o preen-
chimento da cavidade entre as matrizes.
Faces torneadas | Decrescente
Dh Faces retificadas
£ deciescente
sl H Hom
8 Faces polidas
3 Dh
decrescente
o 20 4 6 O 20 4 66 o 20 40 6 80
Redução de altura, %
Figura 7.26 - Diminuição do efeito do “endurccimento geométrico” à
medida que o atrito diminui
7.3.2 - Cálculo do esforço necessário para estirar por
forjamento no estado plano de deformações
De acordo com o método dos blocos (Capítulo 5), será
isolado um bloco de material como ilustrado na Figura 7.27.
A sua distância ao eixo de simetria da matriz será x, positiva
em direção à borda da matriz. A espessura do elemento é dx,
e a largura na direção perpendicular ao plano da folha de pa-
pel é w Aplicam-se agora ao elemento as tensões agindo so-
bre ele: a pressão vertical p, a tensão de atrito Te a tensão O,
que pode variar ao longo de x. Não se sabe a priori se do, será
negativo ou positivo.
Tomando o equilíbrio das forças na direção de G,, virá:
(0,+ do)hw+2twds-0, hw=o (7.1)
equação esta válida somente pata x > o, já que, para x < 0,4
direção de T inverte-se e o termo 2 T wdx deveria ser negativo.
Forjamento 177
Aceitando o modelo coulombiano para o atrito metal/
ferramenta, vale
T=up (1.2)
onde p é a pressão agindo no bloco.
Levando a equação (7.2) em (7.1) e dividindo por w, virá:
oSh+doh+2updx-ch=0
Dividindo membro a membro por h, virá
2updx
dot -=0 (7.3)
Figura 7.27 - Bloco isolado no forjamento no estado plano
Para o caso do estado plano de deformação, o critério
de escoamento de von Mises leva à seguinte expressão, como
visto no Capítulo 2:
Pp-9,=LI5SY=S 0.4)
Admitindo S constante, chega-se a
7
i
178 | Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais ]
do, =dp
2) 2
dp Ma, (1.5)
Pp
que, integrada, fornece
2u
7.6)
Inp=->>x+C (
np x
sendo C uma constante de integração, a ser determina-
da por alguma condição de contorno. Por exemplo, na borda
da matriz (x = b/2), a tensão O, será nula, e, de acordo com a
equação (7.4), a pressão p deverá ser igual a S. Levando estas
condições de contorno em (7.6), virá
2;
ins=-2 D +C,ouseja,
h 2
c=tns+ Eb
h
A expressão (7.6) pode ser escrita como
Inp= = x Ins td
h h
ou seja
ou, finalmente,
pljese 2) (1.7)
que fornece a variação da pressão p com a distância x,
desde x = o até x = b/2. Esta equação não vale para x < 0,
pois baseia-se na equação (7.1), válida somente para x > 0.
Forjamento 179
Conclui-se, a partir da equação (7.7), que a pressão p
presenta um máximo no centro da matriz (x = 0), dado por
1b
Pa =ple=0)=se!o (7.8)
e um mínimo na borda (x = b/2), dado por
Pan = p(x=b/2)=S (7.9)
Da equação (7.4), conclui-se que:
5, ()=p()-s
No centro da matriz (x = 0), tem-se que
nb
oufe=o-nf=0-seset seg et] (7.10)
Enquanto, na borda (x = b/2),
afs=Eerfa=3-s=s-s-o (711)
A Figura 7.28 ilustra os resultados obtidos: para cada pon-
to de coordenada x (por exemplo, o ponto A), vale a relação
pG)=S+o, (x)
derivada da equação (7.4).
Mostra-se, ainda, a situação para o centro da matriz
(x = 0) e para a borda (x = b/2). Caso se tivesse tomado
como positiva a direção x” na Figura 7.27, seriam obtidos os
mesmos resultados, o que explica a simetria da curva de
p(x) em torno do eixo AA, na Figura 7.28.
184 Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
Wa =p'b-w=p-b
onde p é a pressão aplicada pela matriz.
A
(718)
Figura 7.31 - Hodógrafa para a situação da Figura 7.30
Forjamento 185
A potência dissipada em todas as linhas onde existem
descontinuidades de velocidade será dada por (aceitando atrito
nulo na interface metal /matriz):
E 2 EDCV., +KCBV, +K ABV, ]
onde o fator 2 está ligado à consideração dos trechos HA
e HI (Figura 7.30), já que as descontinuidades de velocidades
ocorrem de ambos os lados do eixo AA. Nesta equação, k é a
tensão de escoamento do material sob cisalhamento puro.
Considerando-se as equações (7.16) e (7.17), tem-se que
GEF b
=k—— =k—— 19
m cosôsenB — cosê send (7.19)
Igualando-se as expressões (7.18) e (7.19):
- k is 2k
cosô send senZ0
ou
1
Pp. Gi
2k sen20
Esta solução foi encontrada para o caso da Figura 7.30,
onde se consideram um campo de velocidades com três
regiões do tipo ACFG (com linhas de descontinuidade de
velocidade formando um “X”). O problema poderia ser abor-
dado com qualquer número inteiro (1, 2, 3, ...) dessas regiões,
encontrando-se sempre a equação 7.20 como solução.
Para o caso da Figura 7.30, a razão p/2k será mínima
quando 8 = 45º, ou seja, quando b/h = 3. Se b é diminuído,
com h constante, o ângulo O aumentará, e a relação p/2k
subirá (Figura 7.32). Quando se adotam duas regiões ACGF,
a razão p/2k será mínima quando 6 = 45º, ou seja, b/h = 2.
Quando se aumenta b, a pressão subirá, até encontrar o valor
da pressão para três regiões ACGF (ponto B, Figura 7.32);
daí por diante, é mais fácil a deformação com três regiões,
186 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
pois, quando b cresce, há uma queda em p/2k, até b/h =
subindo novamente até o ponto C.
Quando b/h cai abaixo de 2, a pressão também aumenta
até atingir a curva para uma só região do tipo ACGF (ponto À,
Vigura 7.32). À partir daí, predomina a nova curva, que cai até
um mínimo em b/h = 1. À diminuição de b/h provoca aumen-
tos em p/2k até que a deformação não penetre ao longo de
toda a altura h, assemelhando-se a um ensaio de dureza. Isso
ocorre para b/h em torno de 0,125, e, abaixo deste valor, a
pressão fica constante (vide detalhe na Figura 7.32).
fo
13
bh
5
Figura 7.32 - Variação da relação p/2k com b/h, no forjamento em estado
plano de formação, com atrito nulo
Forjamento 187
Para b/h menor que 1, o atrito tem pouca influência
sobre as cargas necessárias à execução da operação, e a pres-
são para forjar seria calculada pela curva ascendente a partir
de b/h = 1, e que é aproximadamente dada por
p=5[08+020) (7.21)
Para b/h menor que 0,11, a pressão torna-se aproxima-
damente constante. É igual a cerca de 2,6 , de acordo com
previsões da teoria do campo de linhas de deslizamento.
O valor de 2,83, fornecido na Figura 7.32, é obtido a
partir de um campo de velocidades formado pot linhas retas,
o que não mais é suficientemente correto para b/h < 0,125.
Para b/h maior que 1, a influência da maneira como o
material se deforma é relativamente pouco importante (os
picos À, B, €, D, da Figura 7.32 são bastante baixos), e ocot-
re o predomínio do atrito. Nessa região, deve-se adotar o
método dos blocos, já exposto (seção 7.3.2).
Lembramos que o modelo é aplicado para materiais sem
encruamento (k constante), imaginando-se que a deformação
só ocorre ao longo das linhas limite do campo de velocidade,
se considerando o material como rígido nas regiões entre elas.
7.3.4 - Cálculo do esforço necessário para forjar um disco
Utilizando novamente o método dos blocos para o caso
em pauta, e levando em conta um critério de escoamento
(Tresca, por exemplo), chega-se à seguinte equação:
plrj=Y E 2) (7.22)
onde D — diâmetro do cilindro
h — altura do cilindro
4 — coeficiente de atrito na interface metal /matriz
Y — limite de escoamento do metal sob compressão simples
188 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
t — distância de um ponto do cilindro até seu eixo
p(t) — pressão na interface metal/matriz, à distância r
do eixo do cilindro
Distribuição de P
sobre o cilindro
Cilindro sob
forjamento
Matriz
inferior |,
Figura 7.33 - Distribuição de pressões sobre um cilindro sob forjamento
digna de nota a semelhança entre as equações (7.22)
e (7.7). À distribuição de pressão sobre o cilindro está mostra-
da na Figura 7.33. A parte cilíndrica dessa distribuição repre-
senta o esforço para deformar o cilindro sob atrito nulo, en-
quanto a cônica está ligada ao esforço para vencer o atrito
existente matriz /metal.
A catga total necessária para deformar a peça será dada por:
p=[Pp(Jomrdr= [1º ver
ella om
ou
Forjamento 189
Define-se aqui, também, a pressão média (P) como a
carga total (P) para executar o forjamento dividido pela área
de contato metal /matriz.
Tem-se, assim que
ro (1.24)
É Seco lubrificado
Chumbo .
> aum, 4
º 10 20 30 E] 50 80 70 80
Dih
Figura 7.34 - Verificação experimental das previsões do esforço necessário
para forjar discos
Desenvolvendo em série de potência a função exponen-
cial até o termo de terceiro grau c substituindo na equação
(7.24), chega-se à equação aproximada:
(25)
194 Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
Uma outra solução para o problema seria a colocação
de laminadores que trabalhem o material sucessiva e simulta-
neamente. Esse tipo de equipamento chama-se laminador ou
trem contínuo (tandem mil) c está ilustrado na Figura 8.2. O
emprego desse tipo de equipamento justifica-se somente para
altas produções.
Utilizam-se variadas disposições de cilindros na lami-
nação. O mais simples é constituído por dois cilindros de ei-
xos horizontais, colocados verticalmente um sobre outro. Este
tipo de equipamento é chamando de Jaminador duo, e pode
ser reversível ou não, Nos duos não reversíveis, o sentido de
giro dos cilindros não pode ser invertido, e o material só pode
er laminado em um sentido.
aa
Figura 8.1 - Cilindros de um laminador fixo durante a operaç
abertura variável ao longo de seu comprimento.
DD
OT
Figura 8.2 - Trem contínuo de laminação
Nos reversíveis, a inversão de rotação dos cilindros per-
mite que a laminação ocorra nos dois sentidos de passagem
entre os cilindros, aumentando a produtividade da máquina.
No laminador trio (Figura 8.3a), os cilindros sempre giram no
mesmo sentido. Porém, o material pode ser laminado nos dois
Laminação 195
sentidos, passando-o alternadamente entre o cilindro superior
e o intermediário e entre o intermediário e o inferior. À medi-
da que se laminam materiais cada vez mais finos, há interesse
em utilizar cilindros de trabalho de pequeno diâmetro, como
será discutido mais tarde.
Cilindros de
encosto
Cilindros de
trabalho,
Cilindros Cilindros
horizontais
Viguta 8.3 - Tipos de disposição de tolos laminadores
Esses cilindros podem fletir, e devem ser apoiados por
cilindros mais pesados de encosto, como ilustrado na Vigura
8.3b. Esse tipo de laminador denomina-se quádruo, podendo
ser reversível ou não. Quando os cilindros de trabalho são
muito finos, podem fletir tanto na direção vertical quanto na
horizontal, e, por isso, devem ser apoiados em ambas dire-
ções. Um laminador que permite esses apoios é o Sendzimir,
ilustrado na Figura 8.3c. Um outro tipo de laminador é o uni-
versal, que dispõe de dois pares de cilindros de trabalho, com
eixos horizontais e verticais, de acordo com a Figura 8.3d.
196 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
ixistem ainda laminadores mais especializados, como o pla-
netário, “passo peregrino”, Mannesmann, de bolas, etc.
Classificam-se os produtos obtidos por laminação em
planos (chapas, tiras, etc.) e não-planos (barras, cantonceiras,
trilhos, etc.). Os cilindros dos laminadores de planos são
lisos, e normalmente o cilindro inferior não tem movimen-
tos verticais; o mesmo não ocorre com o superior, que deve
ser regulado verticalmente para o ajuste das condições de
laminação. No caso de laminação de não-planos, os cilin-
dros são dotados de canais (Figura 8.1), e, geralmente, tan-
to o cilindro inferior quanto o superior são fixos dutante a
operação. A laminação é normalmente executada a quente;
a fabricação de chapas finas usualmente envolve uma etapa
de laminação a frio.
A Figura 8.4 mostra uma vista lateral de um típico
laminador duo, constituído por quadros, dois cilindros de traba-
lho e os mancais nos quais giram os cilindros. No laminador
mostrado, o cilindro inferior é fixo e o cilindro superior pode
mover-se durante a operação, através de um sistema de parafu-
sos. Este movimento também pode ter acionamento hidráulico.
Os quadros são construídos de aço ou ferro fundido, e
podem ser abertos ou fechados. O quadro fechado é consti-
tuído por uma peça inteiriça e os cilindros devem ser coloca-
dos ou retirados por movimento paralelo ao seu eixo. A parte
superior do quadro aberto é removível e denomina-se cha-
péu. Neste caso, os cilindros dos equipamentos são retirados
por um movimento vertical após a remoção do chapéu.
Laminação 197
Quadro
Cilindros
Vigura 8.4 - Típico laminador duo com cilindro regulável durante a operação
Os dois tipos de quadros estão ilustrados na Figura 8.5:
o fechado é mais resistente que o aberto, mas apresenta maio-
res problemas para a troca de cilindros.
Os cilindros de laminação são de aço fundido ou forja-
do, ou ferro fundido, coquilhado ou não. Fles são compostos
de três partes (Figura 8.6): a mesa, onde se realiza a lamina-
ção, e que pode ser lisa ou com canais; os pescoços, onde se
encaixam os mancais; os trevos ou garfos de acionamento.
Os cilindros são aquecidos pelo material sendo laminado à
quente, e é de grande importância que tenham um resfria-
mento adequado, usualmente através de jatos de água.
Os mancais servem de apoio aos cilindros; eventuais
deformações destas peças provocariam variações dimensionai:
nos produtos, o que é altamente indesejável. Três tipos de
mancais são usados em laminadores: mancais de fricção, onde
9 pescoço gira sobre casquilhos de bronze, madeira, etc., de-
vidamente lubrificados; mancais de rolamento; e mancais a
filme de óleo sob pressão (tipo Morgoil).
198 — Fundamentos da Conformação Mecânica dos Metais
Chapéu,
e gy
Parafusos
“de fixação do chapéu
Quadro fechado — (vistalateral) — Quadro aberto (vista lateral)
Figura 8.5 - Vista lateral de quadros fechados e abertos
P
Figura 8.6 - Partes de um cilindro de laminação
Quando o aço é lingotado convencionalmente, a pri-
meira operação de laminação se dá em um laminador
desbastador (blooming, slabbing mil, que é usualmente um
duo reversível cuja distância entre os rolos pode ser variada
durante a operação. Os produtos desta etapa são os blocos
(blooms) ou placas (slabs). Blocos são semiprodutos de se-
ção quadrada, normalmente de 15 x 15 cm a 30 x 30 em. As
placas têm seção retangular, com espessura de5a 25 cm e
lasgura de 60 a 150 cm. Os blocos normalmente destinam-se
à laminação de tarugos (billets), que têm seção quadrada, de
5x5cma 15x 15 cm. Essa operação se dá comumente em
Laminação 199
laminadores duo reversível ou trio. Os tarugos são, então,
laminados até barras, em laminadores não-reguláveis durante
| operação, arranjados em trens contínuos ou não. As placas
ão laminadas até chapas, comumente passando inicialmente
por algumas cadeiras preparadoras, duo ou quádruo reversí-
veis, ou mesmo universais, e, a seguir, por um trem contínuo
de laminadores quádruo(*). O material é, então, bobinado a
«quente, decapado e oleado, e submetido à laminação a frio
em um trem contínuo de cadeiras quádruo ou em uma cadei-
ra reversível quádruo ou mesmo Sendzimir. O material é,
então, recozido e submetido a um passe final de encruamento,
em um laminador duo ou quádruo. Chapas grossas têm es-
pessura acima de cerca de 6 mm e são laminadas normalmen-
te em laminadores quádruo diretamente a partir de placas.
É de grande importância o condicionamento superfi-
cial de semi-acabados, onde ocorre a retirada de defeitos
superficiais de placas, tarugos e blocos. Comumente, utiliza-
e a cscarfagem(**), o esmerilhamento e a usinagem para a
retirada de defeitos.
Finalmente, deve-se observar que, com o advento do
lingotamento contínuo, produzem-se placas e tarugos direta-
mente na máquina de lingotar, evitando-se uma série de ope-
rações de laminação.
8.2 - Relações geométricas na laminação de planos
As relações que serão apresentadas a seguir referem-se
a notação da Figura 8.7.
* Quádm
ermo usualmente empregado pelos profissionais da área para
designar laminadores com quatro cilindros, onde dois deles estão em conta-
to com o material e os outros dois servem de apoio a estes.
* Escarfagem: termo usualmente empregado pelos profissionais da área
para designar a retirada do óxido superficial de aços atrav
com tochas oxiacetilênicas.
s de sua queima