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Investimentos em Exploração Mineral no Brasil: Análise da Abrangência e Importância, Notas de estudo de Geologia

Uma análise detalhada dos investimentos em exploração mineral no brasil durante os últimos 20 anos, incluindo as principais razões por trás dessas investimentos, as organizações responsáveis pela obtenção de informações geológicas básicas e a importância dessas informações para o desenvolvimento sustentável do setor mineral. O texto também compara os investimentos brasileiros com os do mundo e analisa a importância dos serviços geológicos na exploração mineral.

Tipologia: Notas de estudo

2010

Compartilhado em 24/07/2010

Jacirema68
Jacirema68 🇧🇷

4.4

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Baixe Investimentos em Exploração Mineral no Brasil: Análise da Abrangência e Importância e outras Notas de estudo em PDF para Geologia, somente na Docsity! Investimentos em Pesquisa Geológica 327 CAPÍTULO 5 INVESTIMENTOS EM PESQUISA GEOLÓGICA José Guedes de Andrade∗ 1. INTRODUÇÃO A pesquisa geológica, base para o desenvolvimento do setor mineral, compreende os levantamentos geológicos básicos, a prospecção e a exploração mineral1. É também fun- damental às diversas áreas da engenharia e ao planejamento para a gestão do meio fí- sico. Os levantamentos geológicos básicos envolvem as atividades de mapeamento geológico e de levantamentos geofísicos e geoquímicos, executados em escala regional, semideta- lhe e detalhe. São atividades desenvolvidas pelos governos, principalmente federal e es- tadual, tendo como objetivo atender as necessidades de planejamento e tomada de de- cisões por parte dos órgãos governamentais e, em especial, por investidores do setor mineral. A aplicação de recursos financeiros nesses levantamentos acarreta investimen- tos subseqüentes em prospecção e produção mineral, daí resultando benefícios para vá- rios níveis da economia, com melhor aproveitamento dos recursos naturais, fortaleci- mento das economias local e regional, desenvolvimento tecnológico, atração de investimentos para a indústria de transformação e, conseqüentemente, geração de em- prego e renda. As atividades de prospecção e exploração mineral também são desenvolvidas por ór- gãos de governo, mas, principalmente, pela iniciativa privada. A prospecção visa identi- ficar os ambientes geológicos favoráveis à descoberta de depósitos minerais, enquanto a exploração mineral objetiva a definição e quantificação de jazidas minerais. 2. IMPORTÂNCIA DOS INVESTIMENTOS EM PESQUISA GEOLÓGICA Os investimentos em pesquisa geológica, tanto básica como exploratória, são de grande importância para o desenvolvimento de um país ou de uma região. No caso da pesquisa básica, os levantamentos sistemáticos da cartografia geológica do país são voltados para a elaboração de mapas geológicos com diversas configurações temáticas, tendo como principal objetivo reconstruir parte da história geológica da ∗ Formado em Geologia pela UFPE, Mestre pela Colorado School of Mines e Doutor em Engenharia Mineral pela USP. 1 A exploração mineral corresponde à expressão “pesquisa mineral”, freqüentemente usada no Brasil, inclusive no Código de Mineração. A prospecção é considerada a etapa preliminar da exploração mineral. José Guedes de Andrade 328 Terra, representada em determinada área. Intimamente relacionada às várias etapas de desenvolvimento dessa história, está a origem dos mais diversos depósitos minerais. Assim, o mapeamento geológico possibilita uma melhor compreensão do processo ge- rador de concentrações de bens minerais, permitindo definir, com relativa precisão, o seu potencial e, em alguns casos, prever a sua existência. Por outro lado, os mapas geológicos temáticos são utilizados nas diferentes áreas do co- nhecimento humano, tais como: engenharia civil (traçado de túneis e estradas, locação de portos, aeroportos, oleodutos, gasodutos, loteamentos etc.); engenharia elétrica (lo- cação de usinas hidrelétricas, nucleares e térmicas); engenharia agrícola e florestal (su- porte na definição de tipos e fertilidade dos solos); engenharia ambiental (prevenção, impactos e recuperação de áreas degradadas); defesa civil (análises de riscos e preven- ção de catástrofes naturais – enchentes, escorregamentos de morros, terremotos etc.); saúde pública (qualidade das águas); geologia médica (influência de fatores geológicos ambientais sobre a saúde humana e dos animais). Os mapas geológicos são também de suma importância no apoio à elaboração de pla- nos diretores de instituições públicas, comitês de bacias hidrográficas, empresas priva- das e organizações da sociedade civil, objetivando o ordenamento territorial e a gestão ambiental de regiões geográficas (bacias hidrográficas, unidades de conservação, áreas municipais, regiões metropolitanas, áreas costeiras e zonas de fronteiras). São impres- cindíveis na indicação de áreas propícias para: urbanismo (limitação ou expansão de moradia, locação de aterros sanitários e cemitérios, zonas industriais); mineração (recur- sos minerais, inclusive para materiais de construção); preservação de mananciais (loca- ção, avaliação e captação de recursos hídricos); turismo (áreas de beleza cênica e seu grau de estabilidade). A pesquisa exploratória compreende a prospecção e a exploração mineral propriamente dita. A primeira é normalmente empreendida pelos órgãos de governo, mas também pe- las empresas de mineração, principalmente na preparação de mapas com escala maior que 1:50.000. Essas atividades englobam os mapas geológicos, geofísicos e geoquími- cos, muito úteis para a fase de exploração, desenvolvida principalmente sobre a égide das empresas de mineração. A exploração mineral corresponde ao primeiro elo da ca- deia de suprimentos minerais. É por meio dela que as empresas iniciam a busca por de- pósitos minerais de valor comercial. 2.1 Benefícios para a sociedade Além dos benefícios proporcionados pela utilização dos mapas geológicos em suas di- versas escalas e temáticas, outros benefícios são esperados da pesquisa geológica, prin- cipalmente da exploração mineral. O resultado mais relevante da fase de exploração mineral é a descoberta de depósitos que podem gerar minas, transformando em riqueza um recurso até então desconhecido, Investimentos em Pesquisa Geológica 331 ciedade em geral e, dessa forma, não estaria disposto a investir o montante ótimo – na visão da sociedade – em atividades com longa duração e retorno incerto, tais como a coleta de informações geológicas básicas para uso em exploração regional; em segundo lugar porque as empresas privadas dificilmente se beneficiariam de todos os dados por elas coletados durante o levantamento das informações geológicas regionais e, portanto, estariam investindo na obtenção de dados que seriam utilizados por toda a sociedade sem a obtenção de qualquer retorno pelo correspondente dispêndio. Logo, o conheci- mento geológico regional (ou básico) é uma atribuição dos governos, os quais possuem um importante papel ao prover as informações básicas sobre as quais os geólogos explo- racionistas baseiam suas percepções do potencial mineral, além da utilização pelos de- mais setores da economia, como mencionado anteriormente. Naturalmente, a política mineral de um governo, no que se refere ao levantamento de informações geológicas básicas, dependerá de suas condições financeiras e dos interes- ses da sociedade. Assim, faz-se necessário um cuidadoso planejamento a fim de sele- cionar os dados mais urgentes para a exploração e para os demais usos das informações geológicas; deve-se proceder a uma quantificação dos custos e benefícios dos vários ti- pos de informações geológicas, antes de se decidir que dados serão coletados. Por se tratar de investimentos de grande vulto, geralmente sua aplicação nos países em desen- volvimento tem sido aquém de suas necessidades. Ao comentar a importância dos serviços geológicos na exploração mineral, Johnson (1990) observa que, quando se compara a política da Austrália, Canadá e Estados Uni- dos àquela dos países em desenvolvimento, é impressionante o montante relativamente grande de informações geológicas básicas supridas por aqueles países, através de seus serviços geológicos. E complementa: “Os governos da maioria dos países em desenvolvimento são ineficientes na compilação e distribuição das informações geológicas para os potenciais investi- dores. É raro encontrar uma lista completa de mapas, publicações e relatórios atualizados que possam ser prontamente obtidos ou examinados por potenciais investidores.” No Brasil, não tem sido diferente; a falta de investimentos em pesquisa geológica básica tem sido crônica. Desde 1934, quando foi criado o Departamento Nacional da Produ- ção Mineral (DNPM) até o final da década de 1950, o órgão passou por longos períodos de escassez de recursos, tanto financeiros como humanos e materiais. Somente a partir da década de 1960, o Brasil presenciou um período áureo para o co- nhecimento geológico do país, devido à realização de uma série de eventos voltados para esse fim. Em 1960, foi criado o Ministério das Minas e Energia (MME), ao qual pas- sou a ser vinculado o DNPM, até então subordinado ao Ministério da Agricultura (MA). Mesmo assim, continuavam escassos os recursos financeiros destinados ao DNPM, que José Guedes de Andrade 332 só foram reforçados após a criação do Fundo Nacional de Mineração (FNM)3, em 1964; no mesmo ano, foi elaborado o I Plano Mestre Decenal para a Avaliação de Recursos Minerais do Brasil 1965-1974 (I PMD), que estabelecia um programa sistemático de le- vantamentos geológicos e avaliação dos recursos minerais brasileiros. Ao mesmo tempo, a Petrobras passou a desenvolver o mapeamento das áreas sedimentares visando à pros- pecção de petróleo, e a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) iniciou trabalhos de mapeamento geológico sistemático, em escala de semidetalhe, no Nordeste. Data dessa mesma época a formação das primeiras turmas de geólogos no Brasil, bem como a reforma do Código de Mineração (1967), que se encontra vigente até os dias atuais (2006), embora tenha sofrido algumas modificações nesse período. No primeiro ano da década de 1970, entrou em operação a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM)4, facilitando a atuação do DNPM – fortalecido pelos incenti- vos do FNM5 – na execução de suas atribuições, principalmente daquelas decorrentes do I PMD. Além de atender ao DNPM, também se constituíram objetivos da CPRM: a exploração mineral (objetivando desenvolver a mineração brasileira) e a prestação de serviços a outros órgãos responsáveis pelo estudo dos recursos naturais do país, dentre eles o Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE) e a SUDENE. Vários órgãos estaduais de geologia e mineração foram criados na década de 19706,, al- guns deles realizando atividades de mapeamento geológico e/ou de exploração mineral. No âmbito federal também foram criadas algumas empresas7, além da implantação do Projeto Radar da Amazônia (RADAM), pelo DNPM, e do Projeto Reconhecimento da Margem Continental (REMAC) – convênio entre o Ministério da Marinha, DNPM e CPRM. Todas as iniciativas citadas contribuíram para que os investimentos em geologia básica e geofísica alcançassem, na década de 1970, cifras nunca antes verificadas, segundo es- tudo elaborado pela Sociedade Brasileira de Geologia (1985). De fato, conforme se veri- fica na Figura 1, o investimento médio, no período 1970-79, foi de US$41,5 mi- 3 O Fundo Nacional de Mineração, instituído pela Lei nº 4425/64, foi vinculado ao MME/DNPM, com o objetivo de prover e financiar a busca, descoberta e avaliação de recursos minerais em todo o território nacional, assim como os estudos complementares relacionados com as atividades de produção de bens primários. 4 A CPRM foi criada pelo Decreto-Lei nº 764, de 15 de agosto de 1969. 5 Em 1969, pelo Decreto-Lei 1038 o FNM passou a ser constituído da cota-parte da União (10%) no Imposto Único sobre Minerais (IUM); 2,4% do valor do óleo ou gás extraídos da plataforma continental; 20% dos divi- dendos pagos à União pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD); alíquota de 0,3% (alocados ao DNPM) do Imposto Único sobre Combustíveis e Lubrificantes Líquidos; e 0,5% do preço de realização dos combustíveis au- tomotivos, do querosene iluminante e do gás liquefeito de petróleo (Alínea J, Art.13 do Decreto-Lei nº 1387/75). 6 Dentre os órgãos criados, destacam-se: Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), Minérios de Pernambuco S.A., Metais de Minas Gerais S.A. (METAMIG) – sucedida pela atual Companhia de Desenvolvi- mento Econômico de Minas Gerais (CODEMIG),Metais de Goiás S.A. (METAGO) e Minérios do Paraná S.A. (MINEROPAR). 7 Na área federal, citam-se dentre outras: a Rio Doce Geologia (DOCEGEO) – subsidiária da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), para cuidar da exploração mineral da Empresa – e a NUCLEBRÁS, braço executivo da Comis- são Nacional de Energia Nuclear (CNEN), na exploração dos minerais nucleares. Investimentos em Pesquisa Geológica 333 lhões/ano (em valores de 2005)8. A partir de então, caiu abruptamente até 1981, quando foi extinto o FND9. Os anos seguintes foram de penúria, com investimentos diretos na faixa média de US$6,5 milhões/ano, variando entre o mínimo de US$0,4 milhão (1985) e o máximo de US$12,7 milhões (1996). Somente em 2005 verificou-se uma recupera- ção desses investimentos, que alcançaram a cifra de US$13,2 milhões, graças a uma melhoria no orçamento da CPRM, principalmente no que se refere aos levantamentos geofísicos. Apenas com esse incremento já foi possível a retomada dos levantamentos geológicos em diferentes partes do território nacional (CPRM, 2006). No ano de 2005, foram de- senvolvidas, pela CPRM, atividades de mapeamento (nas escalas 1:100.000 e 1:250.000) em 17 estados da Federação, abrangendo um total de mais de 400.000 km² (4,7% do território). Também foram iniciadas parcerias com universidades públicas de 14 estados, que estão participando do mapeamento, na escala 1:100.000, perfazendo um total de 150.000 km² (1,75% do território). No que se refere aos levantamentos aerogeofísicos, a CPRM deflagrou 10 projetos, dos quais um foi concluído em 2005 e o restante o será em 2006, compreendendo cerca de 1.170.000 km de perfis, ou cerca de 5,3% do território nacional, em áreas prioritárias do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. 8 Todos os dados de investimentos citados neste capítulo se referem a dólares americanos, com valores constantes a preços de 2005, atualizados pelo U.S Consumer Price Index. 9 Em 1974, o FNM sofreu o primeiro impacto, com a transferência de 50% do IUM (cota parte da União) para o Fundo Nacional de Desenvolvimento (FND). Em 1981, o FND foi extinto pelo Decreto-Lei nº 1859 (Machado, 1989). José Guedes de Andrade 336 A partir da publicação do Anuário Mineral Brasileiro (1972), as estatísticas do setor mineral brasileiro passaram a ser divulgadas de forma sistemática. No entanto, as informações sobre a exploração mineral só eram coletadas para as atividades desenvolvidas na área da mina, em função da obrigatoriedade, por parte dos concessionários de lavra, de apresentação do relatório anual de lavra contendo, entre outras, as informações sobre “investimentos feitos na mina e nos trabalhos de pesquisa” – Art. 50, Inciso V do Código de Mineração (Brasil, 1981). Somente em 1983 foi iniciado o levantamento periódico dos investimentos em exploração mineral, através do Sistema de Investimentos em Pesquisa Mineral (SIPEM)13, no qual são agrupados os dados de investimentos em áreas com alvará de pesquisa, detalhados por: substância mineral, local do projeto, empresa e valor do investimento alocado. Esses dados estão disponíveis para o período 1982-1999. A partir de 1999, o DNPM implantou uma mudança metodológica na obtenção dos dados, que passaram a ser coletados por Alvará de Pesquisa, ao invés de serem computados por empresa ou pessoa física detentora de Autorização para Pesquisa, como ocorria até então. Em face da mudança metodológica, deixaram de ser coletadas as informações referentes ao período 2000-2002. Essa mudança e a interrupção na série (1982-1999 / 2003-2005) dos dados analisados, provavelmente acarretaram distorções entre os dois períodos contemplados. 4.1 Representatividade dos investimentos Os investimentos em exploração mineral no Brasil14, a partir de 1982, mostram um comportamento irregular, com tendência nitidamente decrescente durante a década de 1980 (Figura 2). Os dados registrados no início do período apontam para investimentos superiores a US$ 320 milhões (a preços de 2005)15, declinando para algo em torno de US$ 74 milhões em 199016, o que representa apenas 23% do primeiro valor. Observe-se que a queda mais abrupta se deu a partir de 1988, tendo alcançado o seu ponto mínimo em 1991; uma pequena reação aconteceu nos anos de 1996-97, o que voltou a ocorrer em 2005. Em ambos os casos, acompanhando o comportamento internacional, como pode ser visualizado mais adiante. 13 Projeto desenvolvido pela CPRM, para o DNPM (CPRM, 1984). 14 Os investimentos, objeto da presente análise, estão restritos aos realizados nas áreas com Alvará de Pesquisa autorizadas pelo DNPM. Não incluem, portanto, os valores investidos nas áreas com concessão de lavra (área da mina). Esses dados foram descartados por incorporarem os trabalhos desenvolvidos no corpo do minério sendo lavrado, os quais não são considerados como atividade de exploração. 15 As análises, com base em valores monetários, apresentam, nesta seção, preferencialmente, valores constantes de 2005, exceto quando explicitamente indicado. 16 Deixaram de ser considerados na análise, os dados referentes a 1999 (US$ 38 milhões), em virtude de os mesmos não terem sido depurados pelo DNPM. Investimentos em Pesquisa Geológica 337 - 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 300.000 350.000 Em U S$ m il 19 82 19 84 19 86 19 88 19 90 19 92 19 94 19 96 19 98 20 00 20 02 20 04Ano Investimento em Exploração Mineral no Brasil - 1982-2005 Gemas e Diamantes Energéticos Não Metálicos Metálicos Fonte: DNPM, 2006 (Base de Dados do SIPEM – 1982-1998). Notas: Os dados para o período 2000-02 não foram computados pelo DNPM. Os dados de 1999 não foram depurados pelo DNPM. Os energéticos não incluem petróleo e gás natural. Figura 2 - Investimentos em Exploração Mineral no Brasil – 1982-2005 (por Classes Minerais) Nos últimos três anos, os investimentos têm sido bastante irregulares: de US$ 94 milhões em 2003, regrediram para US$ 71 milhões em 2004 e chegaram a US$ 174 milhões em 2005, com incremento de 144% em relação ao ano anterior, caracterizando o maior valor alcançado desde 1989. O comportamento brasileiro é explicado, em parte, pelo clima de instabilidade econômica e política, ao qual esteve submetido o País, durante toda a década de 1980 e a primeira metade da década de 1990. Nesse ínterim, foi promulgada a Constituição de 1988, a qual exerceu um papel inibidor ao desenvolvimento do setor mineral brasileiro, ao restringir o capital estrangeiro a um máximo de 49% do capital votante das empresas (Barboza; Gurmendi, 1995). Outro aspecto relevante foi a expansão da atividade garimpeira, durante a década de 1980, a qual foi fortalecida pela política oficial do governo (Miranda et al., 1997). Surgiu naquela ocasião a figura do empresário de garimpo, que mais tarde se oficializou com a aprovação da Lei nº 7.805, que, por sua vez, alterou o Código de Mineração de 1967, criando o regime de Permissão de Lavra Garimpeira. José Guedes de Andrade 338 Dentre os vários fatores inibidores às atividades de mineração, o baixo nível de conhe- cimento geológico e os entraves burocráticos associados às legislações mineral e ambi- ental foram muitos importantes. No período analisado (20 anos), foram investidos em exploração mineral no Brasil cerca de US$ 2.858 milhões, quantia aparentemente alta, porém relativamente modesta quando comparada aos valores registrados para a exploração mineral no mundo, da or- dem de US$ 56,3 bilhões, apenas no período 1991-2005, como indicado na Tabela 2. Em termos relativos, os investimentos no Brasil representaram algo em torno de 2,3% do montante mundial, nesse período17. O comportamento dos investimentos em exploração mineral no Brasil mostra certa se- melhança com o observado no mundo, durante a década de 1990, embora tal fato não justifique a sua pequena representatividade. Considerando-se que a extensão territorial seja uma proxi razoável para efeito de comparação dos investimentos em exploração mineral, em nações distintas, verifica-se que o território brasileiro tem uma área corres- pondente a 6% da superfície sólida do globo terrestre, enquanto os investimentos em exploração mineral representam pouco mais de um terço desse valor, o que caracteriza o baixo nível de investimentos realizados no país. 17 Essa comparação é aproximada, pois os valores para o Brasil são referentes a todos os bens minerais (exclusive petróleo e gás natural), mas não consideram as atividades de exploração na área da mina; os valores mundiais, por sua vez, são baseados nos orçamentos das grandes e médias empresas de exploração e mineração, mas só incluem os investimentos em exploração de metais não-ferrosos e preciosos e os minerais não-metálicos. Investimentos em Pesquisa Geológica 341 As razões que justificam as similaridades ou diferenças entre os comportamentos descri- tos para o Brasil, a AL e o mundo estão relacionadas, principalmente, aos preços dos minerais e às potencialidades minerais e questões políticas dos respectivos países. Sem- pre que os preços estão em alta, verifica-se um reflexo imediato no nível de investimen- tos na exploração mineral em todo o mundo. Os distúrbios de ordem política e econô- mica, por sua vez, são os principais motivos que afastam os investidores desses investimentos. Fonte: MEG (1991-2005) Figura 3 - Investimentos em Exploração Mineral no Mundo – 1991-2005 (Em %) 4.2 Direcionamento e localização dos investimentos À semelhança da distribuição dos recursos destinados à exploração mineral no mundo, os investimentos no Brasil também estão concentrados nos metais e, em particular, no ouro. Nos últimos três anos, os primeiros responderam por 57,7%. O ouro, sozinho, ab- sorveu 25,4%; os metais básicos, 17,8%; os metais ferrosos, 3,9%; e os demais metais, 10,3% (Tabela 4). Investimentos em Exploração Mineral no Mundo - 1991-2005 0% 20% 40% 60% 80% 100% 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005Ano Em% América Latina Austrália Canadá Estados Unidos África Região do Pacífico Resto do Mundo José Guedes de Andrade 342 Tabela 4 - Investimentos em Exploração Mineral no Brasil – 2003-2005 Valores em US$1.000 de 2005 Ano 2003 2004 2005 2003-2005 % Total 94.251 71.163 173.958 339.373 100,00 Metálicos 49.253 41.307 105.340 195.899 57,72 Metais Ferrosos 2.984 2.205 7.965 13.154 3,88 Cromo (Cromita) 133 84 88 305 Ferro 732 770 3.200 4.703 Manganês 1.778 1.156 3.370 6.304 Nióbio 144 10 58 211 Titânio 197 97 1.113 1.407 Tungstênio - 88 136 224 Metais Básicos 15.803 8.597 36.065 60.466 17,82 Chumbo 51 279 41 370 Cobre 9.094 5.180 9.905 24.179 Estanho (Cassiterita) 292 223 305 821 Níquel 3.950 1.743 18.326 24.019 Zinco 2.417 1.173 7.487 11.077 Metais Preciosos 20.291 19.379 47.689 87.359 25,74 Ouro 19.575 18.936 47.645 86.156 Platina 309 268 41 619 Prata 406 175 3 584 Outros Metálicos 10.175 11.125 13.621 34.921 10,29 Não-Metálicos 30.653 21.342 58.237 110.231 32,48 Mat. Ind. Construção 15768 10434 44811 71.014 20,92 Areia 2406 1441 2584 6.431 Argila 2592 2474 4831 9.896 P. Brit.E Orn. (Granito) 8840 5389 35346 49.576 P. Brit.E Orn. (Mármore) 299 325 916 1.540 P. Brit.E Orn. (Gnaisse E Outros) 1631 806 1134 3.571 Minerais Industriais 7385 7700 11743 26.828 7,91 Investimentos em Pesquisa Geológica 343 Tabela 4 - Investimentos em Exploração Mineral no Brasil – 2003-2005 (continuação) Valores em US$1.000 de 2005 Ano 2003 2004 2005 2003-2005 % Calcário 2875 88 2886 5.849 Caulim 576 486 610 1.673 Feldspato 152 275 204 631 Fert. Fosf. Naturais 496 1424 2665 4.584 Fluorita 11 16 79 106 Grafita 193 126 13 332 Quartzito 1029 759 1488 3.276 Quartzo 474 290 578 1.342 Outros Não-Metálicos 1578 4235 3223 9.036 Água Mineral 7499 3208 1682 12.389 3,65 Gemas/Diamantes 13740 8155 10062 31.957 9,42 Diamante 13432 7985 9144 30.561 Gemas 307 171 917 1.395 Energéticos 606 359 320 1.286 0,38 Carvão 70 3 40 113 Turfa 455 286 246 988 Outros Energéticos 81 70 34 185 Fonte: DNPM, 2006 (Base de dados do SIPEM). Os minerais não-metálicos representaram 32,5% dos investimentos, destacando-se as pedras britadas e ornamentais (16,1%), água mineral (3,7%), calcário (1,7%) e fertilizan- tes fosfáticos (1,3%). As gemas, responderam por 9,4% (principalmente diamantes) e os energéticos por 0,4% (principalmente turfa). Verifica-se que houve um aumento generalizado nos investimentos em exploração mi- neral no ano de 2005. Merecem destaque o ouro, o níquel e o diamante (acompa- nhando a tendência internacional) e as pedras britadas e ornamentais, tendo em vista o constante aumento nas exportações brasileiras de rochas ornamentais. A Figura 4 mostra a participação dos investimentos em exploração por classes de mine- rais, divididos em qüinqüênios para o período 1984-1998, durante o qual o comporta- mento foi muito semelhante. Para o triênio 2003-2005 houve um aumento dos investi- mentos nas classes dos minerais não-metálicos, gemas e diamantes. Essas variações devem ser vistas com cautela, pois ainda não houve a depuração completa desses dados por parte do DNPM. José Guedes de Andrade 346 Tabela 6 - Investimentos em Exploração Mineral no Brasil - 2003-05 Estados Selecionados - Principais Substâncias Principais Ufs 2003 % 2004 % 2005 % Média 2003-05 % Pará 30.217 100,0 24.397 100,0 47.067 100,0 33.893 100,0 Alumínio/bauxita 9.217 30,5 7.357 30,2 11.866 25,2 9.480 28,0 Cobre 6.274 20,8 3.904 16,0 6.614 14,1 5.597 16,5 Ouro 12.811 42,4 9.186 37,7 19.445 41,3 13.814 40,8 Níquel - 0,0 87 0,4 8.561 18,2 2.883 8,5 Outros 1.915 6,3 3.862 15,8 581 1,2 2.120 6,3 Bahia 7.862 100,0 9.485 100,0 33.971 100,0 17.106 100,0 Argila 198 2,5 110 1,2 525 1,5 278 1,6 Diamante 2.747 34,9 509 5,4 1.334 3,9 1.530 8,9 Granito 1.663 21,1 1.599 16,9 9.840 29,0 4.367 25,5 Mármore 191 2,4 251 2,6 871 2,6 438 2,6 Ouro 1.104 14,0 4.644 49,0 14.094 41,5 6.614 38,7 Fosfato 160 2,0 541 5,7 539 1,6 413 2,4 Manganês 512 6,5 529 5,6 2.628 7,7 1.223 7,1 Quartizito 477 6,1 550 5,8 994 2,9 674 3,9 Outros 810 10,3 752 7,9 3.146 9,3 1.569 9,2 Minas Gerais 15.560 100,0 13.186 100,0 35.759 100,0 21.501 100,0 Alumínio/Bauxita 333 2,1 179 1,4 291 0,8 268 1,2 Argila 56 0,4 73 0,6 204 0,6 111 0,5 Calcário 518 3,3 217 1,6 382 1,1 372 1,7 Caulim 241 1,5 75 0,6 355 1,0 223 1,0 Diamante 6.845 44,0 5.640 42,8 3.414 9,5 5.300 24,6 Ferro 440 2,8 332 2,5 2.360 6,6 1.044 4,9 Fosfato 160 1,0 541 4,1 627 1,8 443 2,1 Granito 2.193 14,1 1.607 12,2 17.100 47,8 6.967 32,4 Manganês 87 0,6 88 0,7 282 0,8 152 0,7 Níquel 11 0,1 418 3,2 1.758 4,9 729 3,4 Ouro 469 3,0 991 7,5 4.618 12,9 2.026 9,4 Quartizito 294 1,9 94 0,7 204 0,6 197 0,9 Quartzo 363 2,3 168 1,3 429 1,2 320 1,5 Zinco 975 6,3 766 5,8 929 2,6 890 4,1 Outros 2.575 16,6 1.997 15,1 2.806 7,8 2.459 11,4 Goiás 5.923 100,0 4.559 100,0 17.156 100,0 9.213 100,0 Alumínio/bauxita - 0,0 - 0,0 561 3,3 187 2,0 Cobre 112 1,9 6 0,1 1.549 9,0 556 6,0 Fosfato 234 3,9 731 16,0 1.338 7,8 768 8,3 Ouro 1.078 18,2 2.470 54,2 3.438 20,0 2.329 25,3 Níquel 1.342 22,7 360 7,9 5.585 32,6 2.429 26,4 Zinco 1.343 22,7 180 4,0 3.480 20,3 1.668 18,1 Outros 1.814 30,6 811 17,8 1.204 7,0 1.277 13,9 Fonte: DNPM, 2006 (Base de Dados do SIPEM). Investimentos em Pesquisa Geológica 347 5. CONCLUSÕES Da análise procedida, ficam evidentes a importância e os benefícios que a pesquisa geo- lógica proporciona ao governo e à sociedade, por meio de cartas temáticas utilizadas nas diferentes áreas do conhecimento humano, tais como: engenharia civil, elétrica, agrícola, florestal e ambiental; defesa civil, saúde pública e suprimento de recursos mi- nerais e hídricos. No entanto, verifica-se que o investimento em geologia ainda é muito pequeno, quando se comparam essas necessidades, às dimensões do Brasil e ao seu po- tencial para identificação de novos depósitos minerais e aqüíferos subterrâneos. Em termos de levantamentos geológicos básicos e geofísicos, os investimentos diretos se situaram em torno de US$6,5 milhões/ano, nos últimos 25 anos (1981-2005), após te- rem alcançado uma média de US$41,5 milhões/ano na década de 1970 (em valores constantes de 2005). Em 2005, quando os investimentos alcançaram US$13,2 milhões, houve uma pequena recuperação. Como conseqüência, o Brasil apresenta um baixo nível de conhecimento geológico: apenas 46% do seu território estão satisfatoriamente mapeados na escala 1:250.000 e 10% na escala 1:100.000. Esses resultados inibem os investimentos em exploração mineral, que se situaram em torno de US$88 milhões na década de 1990, representando 2,2% dos investimentos mundiais. No triênio 2003-05 houve uma razoável recuperação, com investimento mé- dio na faixa de US$113 milhões/ano, acompanhando a tendência internacional. O significativo aumento dos investimentos em exploração mineral no mundo, alcan- çando US$3,9 bilhões em 2004 e US$5,1 bilhões em 2005, refletiram a alta nos preços das commodities minerais, de uma maneira geral. Por outro lado, os investimentos em exploração mineral no Brasil ainda apresentam valores pouco significativos, principal- mente quando se considera que sua extensão territorial representa 6% da mundial. Em 2004, os investimentos foram da ordem de US$8/km², colocando o país na 11a posição do ranking mundial. Os países com maior nível de investimento foram África do Sul (US$160/km²), Peru (US$152/km²) e Chile (US$143/km²). Acompanhando a tendência mundial, as substâncias que receberam os maiores investi- mentos no Brasil, no triênio 2003-05, foram: ouro (25,4%), metais básicos (17,8%) e diamantes (9%); as rochas ornamentais também tiveram uma alta representatividade (16,1%), justificada pelo desempenho das exportações brasileiras para o mercado internacional. A distribuição geográfica desses investimentos tem se concentrado em quatro Unidades da Federação, as quais responderam por mais de 70% dos investimentos no triênio 2003-05: Pará (30%), Minas Gerais (19%), Bahia (15%) e Goiás (8%). Em termos prospectivos, espera-se que haja um substancial incremento dos investimen- tos nos levantamentos geológicos básicos, nos próximos anos, por parte do governo fe- José Guedes de Andrade 348 deral, tendo em vista os recursos advindos da exploração do petróleo e do gás natural, com base na Lei nº 10.848/04. Esta lei prevê a aplicação de 15% da cota parte do Ministério de Minas e Energia, em projetos e estudos destinados a promover o conhe- cimento geológico do território brasileiro. Caso essa expectativa se concretize, o Brasil poderá voltar a ter investimentos semelhan- tes aos alcançados na década de 1970 e, com isso, poderá melhorar o nível de conhe- cimento geológico, o que resultará em benefícios para a sociedade, na utilização dos mapas necessários ao seu desenvolvimento econômico e social. Como conseqüência da ampliação do conhecimento da potencialidade mineral do Brasil, serão significativa- mente ampliadas as condições de atratividade para os investimentos em exploração mi- neral,. No entanto, essa é uma condição necessária, mas não suficiente para que sejam alcan- çados os níveis desejáveis e compatíveis com a potencialidade geológica do País. Em paralelo, é necessário que haja estabilidade política, econômica e social; regras claras e duradouras nas legislações mineral, ambiental e tributária; facilidades de infra-estrutura básica; processos burocráticos ágeis para acesso às áreas potenciais, com transparência e segurança. Essas são políticas governamentais imprescindíveis para o desenvolvimento da exploração mineral, que resultarão em empreendimentos de lavra e mineração, ge- rando riqueza e bem estar social. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abreu, S.F. (1973), Recursos minerais do Brasil, 2.ed, São Paulo, Edgard Blücher/ Rio de Janeiro, Instituto Nacional de Tecnologia, 2 v. Andrade, J.G. (2001), Competitividade na exploração mineral: um modelo de avaliação, São Paulo, Tese (Doutorado), Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 167p. 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