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Drogas vasoativas, Notas de estudo de Cultura

Drogas vasoativas utilizadas em uti. Sua maneira de atuação. Pós e contras

Tipologia: Notas de estudo

Antes de 2010

Compartilhado em 19/04/2009

gledinho-mesquita-12
gledinho-mesquita-12 🇧🇷

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Baixe Drogas vasoativas e outras Notas de estudo em PDF para Cultura, somente na Docsity! 400 1. INTRODUÇÃO Comumente empregadas nos pacientes graves, as drogas vasoativas são de uso corriqueiro nas uni- dades de terapia intensiva e o conhecimento exato da sua farmacocinética e farmacodinâmica é de vital im- portância para o intensivista, pois daí decorre o su- cesso ou mesmo o insucesso de sua utilização. O termo droga vasoativa é atribuído às subs- tâncias que apresentam efeitos vasculares periféri- cos, pulmonares ou cardíacos, sejam eles diretos ou indiretos, atuando em pequenas doses e com res- postas dose dependente de efeito rápido e curto, atra- vés de receptores situados no endotélio vascular(1). Então, na maioria das vezes, é necessário o uso da monitorização hemodinâmica, invasiva, quando da utilização dessas substâncias, pois suas potentes ações determinam mudanças drásticas tanto em pa- râmetros circulatórios como respiratórios, poden- do, do seu uso inadequado, advirem efeitos colate- rais indesejáveis, graves e deletérios, que obrigam sua suspensão. 2. DETERMINANTES DA OFERTA DE OXIGÊ- NIO (DO2) AOS TECIDOS E DO DÉBITO CAR- DÍACO (DC) A perfusão tecidual e a oxigenação celular re- presentam o mais importante objetivo da circulação, que é o suprimento do metabolismo corporal mesmo em condições não ideais. A oferta de oxigênio (DO2) é a medida mais direta da função circulatória e o con- sumo de O2 (VO2) é a medida mais direta da ativida- de metabólica(2). Imagina-se, então, que a distribui- ção inadequada de O2 , em face da demanda metabó- lica, aumentada devido a fatores como trauma, perda de sangue e infecção, produzam hipoxemia tecidual, disfunção orgânica e morte. As drogas vasoativas têm ação, principalmen- te, sobre os parâmetros que regulam o DC. Este é de- terminado pelo produto do volume sistólico (VS) e freqüência cardíaca (FC). O VS depende das pressões e dos volumes de enchimento ventricular (pré-carga), da contratilidade do miocárdio e da resistência ao es- vaziamento ventricular (pós-carga), como pode ser visto na Figura 1. O USO DE DROGAS VASOATIVAS EM TERAPIA INTENSIVA THE USE OF VASOACTIVES DRUGS IN THE INTENSIVE CARE UNIT Fátima Magro Ostini1; Paulo Antoniazzi1; Antonio Pazin Filho1; Reinaldo Bestetti1; Maria Camila M. Cardoso2 & Anibal Basile-Filho3 1Médicos Intensivistas da Unidade de Terapia Intensiva da Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas; 2Médica Residente; 3Professor Assistente, Doutor e Chefe – Disciplina de Terapia Intensiva do Departamento de Cirurgia, Ortopedia e Traumatologia3 da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. CORRESPONDÊNCIA: Prof.Dr. Anibal Basile-Filho – Disciplina de Terapia Intensiva, Departamento de Cirurgia, Ortopedia e Traumatologia da FMRPUSP – Hospital das Clínicas - 9o Andar- Campus Universitário - CEP: 14048-900 - Ribeirão Preto - SP. Fone: (016) 633-0836 ou 602-2593 – Email: abasile@.fmrp.usp.br. OSTINI FM et al. O uso de drogas vasoativas em terapia intensiva. Medicina, Ribeirão Preto, 31: 400-411, jul./set. 1998. RESUMO: Os autores apresentam uma revisão sucinta e objetiva dos principais agentes va- soativos, disponíveis atualmente para uso em terapia intensiva. Suas indicações, doses mais co- mumente utilizadas, efeitos adversos e cuidados com sua administração são abordados, obje- tivando-se o uso racional e criterioso desses preciosos auxiliares no tratamento de pacientes graves. UNITERMOS: Catecolaminas. Vasodilatadores. Vasoconstritores. Unidade de Terapia Intensiva. Medicina, Ribeirão Preto, Simpósio: MEDICINA INTENSIVA: I. INFECÇÃO E CHOQUE 31: 400-411, jul./set. 1998 Capítulo VI 401 O uso de drogas vasoativas em terapia intensiva benzênico e uma cadeia lateral etila- mina(3). Ocorre, no organismo, uma síntese natural e endógena de três ca- tecolaminas: dopamina, adrenalina e noradrenalina. As catecolaminas en- dógenas originam-se da tirosina que se transforma sucessivamente em dopa, dopamina, noradrenalina e adre- nalina por ação enzimática, em todos esses passos(4). Sinteticamente são produzidas, além da adrenalina, no- radrenalina e dopamina, três outras catecolaminas: dobutamina, isoprote- renol e dopexamina. Todas essas aminas possuem indicações terapêu- ticas específicas, diferindo entre si pela seletividade e potência de ações sobre os diferentes receptores. Existem ainda outras aminas simpatomiméticas (fenilefrina, metoxamina, anfetamina e efedrina), sem o núcleo “catecol”, que agem através da liberação indireta de noradrenalina, desencadeando efeitos imprevisíveis, o que limita sua utilização. As ações das catecolaminas são determinadas pelas suas ligações às três classes principais de re- ceptores: alfa, beta e dopa. Os receptores (conceito puramente funcional) são glicoproteínas que se loca- lizam na superfície da célula efetora e possuem estru- tura molecular específica com a qual as moléculas de uma determinada substância, o mediador, reagem para causar uma resposta característica ou específica so- bre a célula. Esses receptores, que são sensibilizados ou estimulados pelas catecolaminas, são denomina- dos adrenérgicos por ter sido a adrenalina a primeira substância a ser evidenciada neste tipo de atividade. Atualmente, há conhecimento de dois subtipos para cada receptor estudado, possuindo estes distribuição, sensibilidade à substâncias farmacológicas e efeitos diferentes. Esses efeitos, exercidos pelas catecolami- nas sobre os diversos receptores, podem ser visto na Tabela I. 4. FATORES QUE REGULAM A DENSIDADE DE RECEPTORES NA MEMBRANA CELULAR Conforme pode ser visto na Tabela II, a densi- dade dos receptores adrenérgicos, na superfície celu- lar, é dinâmica, podendo ser modulada por um gran- de número de doenças ou condições(5). As mudanças na densidade dos receptores alteram significativamente DC = VS x FC Pré-carga Contratilidade Pós-carga - Dopamina - Dobutamina - Dopexamina - Isoprenalina - Norepinefrina - Epinefrina - Dopamina - Volume circulante ! - Isoprenalina Figura 1 - Efeitos dos principais agentes simpatomiméticos sobre os parâ- metros que regulam o débito cardíaco. A FC é determinada pela capacidade de reação cronotrópica do coração à estimulação simpática, du- rante a reação de estresse. A DO2 aos tecidos depende diretamente do DC e do conteúdo arterial de O2 (CaO2). Por outro lado, o VO2 varia de acordo com necessida- des metabólicas, sendo estas extremamente mutáveis e dependentes dos mecanismos envolvidos na agres- são e integridade teciduais. O valor medido do VO2 pode ser obtido, à beira do leito, através da calorimetria indireta. Assim, o objetivo principal da utilização de drogas vasoativas é otimizar a relação DO2/VO2 , dis- tribuindo-se adequadamente o suprimento de O2 em face da demanda metabólica alterada dos diferentes órgãos e tecidos, na tentativa de se preservar a função bioquímica celular. As drogas vasoativas mais empregadas são as catecolaminas, também denominadas aminas vasoati- vas ou drogas simpatomiméticas. Dentre elas, desta- cam-se a noradrenalina (NA), a adrenalina, a dopami- na, a dopexamina, a dobutamina e o isoproterenol. Dis- pomos, também, da amrinone e dos vasodilatadores (nitroprussiato de sódio, nitratos, clorpromazina, pra- zozin, captopril, enalapril e bloqueadores de cálcio). 3. AGENTES SIMPATOMIMÉTICOS As catecolaminas (adrenalina, noradrenalina, dopexamina, dopamina, isoproterenol e dobutamina) e drogas não catecolaminas (metaraminol, fenilefrina e metoxamina) são os agentes simpatomiméticos mais utilizados em terapia intensiva. A substância básica da qual derivam as cateco- laminas é a betafeniletilamina, que consiste num anel 404 FM Ostini et al. Tabela IV - Principais efeitos da dopamina, em função da dose administrada Ação Doses baixas < 5 µg/kg/min Efeito dopaminérgico predominante Doses médias 5-15 µg/kg/min Efeito β (beta) predominante Doses altas > 15 µg/kg/min Efeito α (alfa) predominante Freqüência Cardíaca Pouco modificada Leve aumento inicial Leve aumento inicial Débito Cardíaco Aumento a) retorno venoso b) resistências periféricas c) efeito inotrópico + Aumento evidente c) efeito inotrópico +++ b) estabilizada c) diminuído às vezes (vasoconstricção marcada) Resistência Vascular, Sistêmica Diminuição (vasodilatação renal e mesentérica) Pouco modificada Aumento Pressão Arterial Geralmente inalterada Aumento Aumento evidente Pressão telediastólica do VE (PTDVE) Pouco modificada ou levemente diminuída Pouco modificada Aumento Fluxo Sangüíneo Renal Aumento Pouco modificado Diminuição Diurese Aumento Aumento Nenhum aumento ou diminuição Risco de Arritmia Escasso Raro Se PTDVE e PA aumentadas Tabela V - Esquema de administração de dopamina, utilizada pela Disciplina de Terapia Intensiva do Depar- tamento de Cirurgia, Ortopedia e Tramautologia da FMRPUSP DOPAMINA* SG 5% - 200 ml (Retirar 50 dos 250 ml do SG 5%) + DOPAMINA - cinco (5) ampolas (50 ml = 50 mg) Diluição Final = 1ml/1mg PESO (kg) mcgotas/min (a ser infundido) mcg/kg/min desejado 3 5 7,5 10 12,5 40 7,2 12,0 18,0 24,0 30,0 45 8,1 13,5 20,3 27,0 33,8 50 9,0 15,0 22,5 30,0 37,5 55 9,9 16,5 24,8 33,0 41,3 60 10,8 18,0 27,0 36,0 45,0 65 11,7 19,5 29,3 39,0 48,8 70 12,6 21,0 31,5 42,0 52,5 75 13,5 22,5 33,8 45,0 56,3 80 14, 4 24,0 36,0 48,0 60,0 85 15,3 25,5 38,3 51,0 63,8 90 16,2 27,0 40,5 54,0 67,5 95 17,1 28,5 42,8 57,0 71,3 100 18,0 30,0 45,0 60,0 75,0 * Obs: No caso de haver restrição hídrica, a diluição final será de 1ml/2mg (utilizar dez (10) ampolas de DOPA (100 mg). Dividir o volume em mcg/min da tabela por 2. 405 O uso de drogas vasoativas em terapia intensiva letiva, com pequeno efeito vascular periférico. Esta droga vasoativa possui baixa afinidade por recepto- res beta 2 e é quase desprovida de efeitos alfa adre- nérgicos. Ao contrário da dopamina, a ação farmaco- lógica da dobutamina não depende das reservas libe- ráveis de noradrenalina(8). A dobutamina perde seu efeito hemodinâmico durante infusão prolongada, presumivelmente por causa da diminuição da ativi- dade dos receptores adrenérgicos (“down regulation”), mas mantém o seu efeito hemodinâmico melhor que a dopamina, uma vez que esta depleta as reservas de noradrenalina do miocárdio(9, 10). A dobutamina pos- sui vida média de dois (2) minutos, seu início de ação é rápido, não havendo, então, necessidade de dose de ataque. A sua excreção é renal(11). Além disso, a do- butamina apresenta poucos efeitos sobre a FC, au- menta a contratilidade miocárdica e o índice cardía- co, não agindo sobre a resistência vascular, periféri- ca, em doses médias. 5.2.1. Indicações A droga é utilizada para melhorar a função ven- tricular e o desempenho cardíaco, em pacientes nos quais a disfunção ventricular acarreta diminuição no volume sistólico e no DC como, por exemplo, choque cardiogênico e insuficiência cardíaca, congestiva(7). O VO2 do miocárdio, sob o uso da dobutamina, é menor do que sob a ação de outras catecolaminas(12). A estimulação dos betarreceptores provoca leve que- da da pressão arterial (PA) por vasodilatação periféri- ca. Há também aumento da velocidade de condução atrioventricular, o que limita seu uso na vigência de fluter ou fibrilação atrial(13). 5.2.2. Doses A dobutamina é disponível na forma de hidro- cloridrato de dobutamina, em ampolas de 20 ml, com 250 mg da droga. Dilui-se uma (1) ampola (250 mg) em 230 ml de solução (exceto soluções alcalinas). A concentração final será de 1mg/ml. Sua utilização é sempre diluída, endovenosamente, em infusão contí- nua, em doses de 3 a 15 µg/kg/min, que deverá ser individualizada para cada paciente de acordo com o efeito hemodinâmico que se espera obter. O início da ação ocorre em dois (2) minutos, com efeito máximo em dez (10) minutos. 5.2.3. Efeitos colaterais Os efeitos colaterais da dobutamina incluem: arritmias, dores de cabeça, ansiedade, tremores, au- mentos ou reduções excessivas da PA. 5.3. Noradrenalina (NA) A noradrenalina (NA) é o neurotransmissor do sistema nervoso simpático e precursor da adrenalina. A NA possui atividade tanto no receptor alfa, como beta 1 adrenérgico, com pouca ação sobre receptores beta 2(11). Dependendo da dose utilizada, obtém-se aumento do volume sistólico, diminuição reflexa da FC e importante vasoconstrição periférica, com au- mento da PA. A contratilidade e o trabalho cardíaco também aumentam se o aumento da pós-carga for to- lerado pelo ventrículo. A noradrenalina é também um potente vasoconstritor visceral e renal, o que limita sua utilização clínica(14). É também vasoconstritora sobre a rede vascular, sistêmica e pulmonar, e deve ser usada com prudência, em pacientes com hiperten- são pulmonar. 5.3.1. Indicações A noradrenalina é uma droga de eleição no cho- que séptico, cuja finalidade é elevar a PA em pacien- tes hipotensos, que não responderam à ressuscitação por volume e a outros inotrópicos menos potentes. Além disso, essa potente droga vasoativa é quase sempre utilizada durante as manobras da ressuscita- ção cardiopulmonar (RCP), como droga vasoconstri- tora. A droga é rapidamente eliminada do plasma após a sua administração intravenosa, com vida média de dois (2) a dois e meio (2,5) minutos, embora haja gran- de variação individual. A sua degradação é hepática e a eliminação renal. 5.3.2. Doses Utilizam-se, normalmente, cinco (5) ampolas (2 mg) diluídas em 250 ml de qualquer solução roti- neira (exceto em soluções alcalinas), cuja concentra- ção final será de 0,04 mg/ml. A droga é disponível sob a forma de bitartarato de noradrenalina, sendo que a infusão endovenosa, contínua é, geralmente, inicia- da em doses de 0,05 a 0,1 µg/kg/min, até que o efeito hemodinâmico desejado seja alcançado e não haja efeitos colaterais importantes. As doses administra- das podem atingir um máximo de 1,5 a 2 µg/kg/min. Durante as manobras de RCP, podem-se usar doses de 0,1 a 0,2 mg/kg, endovenosas ou intratraqueais, diluídas em 10 ml de água destilada. 5.3.3. Cuidados As infusões de NA devem ser administradas preferivelmente através de uma veia central, a PA 406 FM Ostini et al. deve ser monitorizada a cada quinze (15) minutos, principalmente durante o ajuste da dose. A função re- nal também deve ser monitorizada através de dosa- gens de uréia, creatinina e volume de diurese. Cuida- dos com necrose e escaras, no local da injeção intra- venosa, devem ser prevenidos, evitando-se o extrava- samento da droga. A infusão deve ser efetuada em veia de grosso calibre e a localização desta deve ser alterada, no mínimo, a cada doze (12) horas. A droga deve ser evitada em grávidas pelo seu efeito contrátil sobre o útero gravídico. A administração de altas con- centrações também pode precipitar hipotensão acen- tuada, infarto do miocárdio ou hemorragia cerebral(11). O uso da noradrenalina, em altas doses e por tempo prolongado, pode provocar graves lesões renais, cu- tâneas e mesmo cardíacas devido à vasoconstrição excessiva. No choque cardiogênico, o seu uso é limi- tado devido ao aumento do VO2 e aumento do traba- lho cardíaco, provocado pelo incremento da pós-car- ga no miocárdio isquêmico(15). 5.4. Adrenalina A adrenalina é um hormônio endógeno, larga- mente produzido pela supra-renal e liberado em res- posta ao estresse. Essa droga vasoativa é um potente estimulador alfa e beta adrenérgico, com notáveis ações sobre o miocárdio, músculos vasculares e ou- tros músculos lisos, cujo efeito vasopressor é muito conhecido. O mecanismo da elevação da PA, causado pela adrenalina, é devido a uma ação direta no mio- cárdio, com aumento da contração ventricular (inotropismo positivo), um aumento da freqüência cardíaca (cronotropismo positivo) e uma vasoconstri- ção em muitos leitos vasculares (arteríolas da pele, rins e vênulas). Seus efeitos são diferentes, quando a droga é administrada por infusão intravenosa ou inje- ção subcutânea, sendo que a absorção por esta via é mais lenta devido à ação vasoconstritora, local, cau- sada pela adrenalina(11). No miocárdio, a adrenalina exerce uma ação direta sobre receptores beta 1 do músculo, células do marcapasso e tecido condutor. A FC e o ritmo quase sempre são alterados. A sístole torna-se mais curta e potente. Aumentam o débito e o trabalho cardíacos, bem como o VO2 do miocárdio. O período refratário do músculo ventricular, por sua vez, diminui, predis- pondo-o ao aparecimento de arritmias. Na muscula- tura lisa, sua ação predominante é de relaxamento através da ativação de receptores alfa e beta adrenér- gicos. A droga exerce, também, importantes efeitos na musculatura brônquica (broncodilatação) pela interação com receptores beta 2 do músculo liso, bron- quial, combinada à inibição da degranulação de mastócitos. Esse efeito é determinado largamente pela quantidade de adrenalina circulante, visto que a inervação simpática do músculo liso, brônquico é es- cassa. A droga também eleva as concentrações de glicose (aumento da neoglicogênese e inibição da se- creção de insulina) e do lactato sérico. Pode, também, provocar hipopotassemia e aumento dos níveis de ácidos graxos livres. A absorção da adrenalina, quando administra- da por via subcutânea, é lenta. Todavia, é mais rápi- da, quando usada por via intravenosa ou intramuscular. As ações se restringem ao trato respiratório, quando a droga é nebulizada, podendo, entretanto, ocorrerem reações sistêmicas, acompanhadas de arritmias. A sua metabolização é hepática, sendo que sua vida média é de, aproximadamente, três (3) minutos. 5.4.1. Indicações As principais indicações da adrenalina incluem estados de choque circulatório que não respondem às outras catecolaminas menos potentes, em particular no choque cardiogênico, quando de uso combinado com agentes redutores da pós-carga. Recomenda-se esta droga no tratamento de brocoespamos severos, na dose de 0,01 mg/kg até 0,3 mg, a cada vinte (20) minutos. Endovenosamente, é indicada no tratamen- to da anafilaxia e, durante as manobras de ressuscita- ção cardiopulmonar, é o agente farmacológico de efei- to vasoconstritor mais eficaz. 5.4.2. Doses A adrenalina é disponível numa variedade de formulações para as diferentes indicações clínicas e vias de administração. A droga é instável, em solução alcalina, e é oxidada, quando exposta ao ar ou à luz. A sua apresentação mais comumente encontrada são ampolas de 1 ml, com 1 mg da droga (1:1000). Em infusão contínua, costuma-se diluir a droga em SF 0,9% ou SG 5%. Utilizam-se cinco (5) ampolas (5 mg) em 250 ml de solução, cuja concentração será de 20 µg/ml. O início da administração é efetuado com doses de 0,05 a 0,1 µg/kg/min, que podem ser aumenta- das, progressivamente, até que se obtenha o efeito he- modinâmico desejado. Doses maiores que 2 µg/kg/min devem ser evitadas. Durante as manobras de RCP, as doses padronizadas são de 0,5 a 1 mg (endovenoso ou endotraqueal, diluídas em 10-20 ml de água destilada) repetidas a cada cinco a dez (5-10) minutos. 409 O uso de drogas vasoativas em terapia intensiva da tiocianatoxidase. O tiocianato é eliminado exclu- sivamente pelos rins, em média, após três (3) a quatro (4) dias. Outro metabólito ativo da droga é o óxido nítrico, que parece ser o responsável pela ação vaso- dilatadora, através da ativação da guanilato ciclase, levando à formação de GMPc e à vasodilatação(20). O nitroprussiato de sódio é uma molécula instável, que sofre decomposição em condições alcalinas e quando exposto à luz. Sua ação ocorre segundos após a infu- são ser iniciada, sendo seu efeito máximo alcançado em dois (2) minutos e, quando interrompida, seus efei- tos são rapidamente revertidos à medida em que a substância vai sendo metabolizada. 6.1.1. Indicações Indicado no tratamento das emergências hiper- tensivas e como droga auxiliar nos estados de choque circulatório, com pressões de enchimento ventricular e resistência periférica aumentadas (situações em que se desejam reduções a curto prazo da pré-carga e/ou pós-carga cardíacas). 6.1.2. Doses O nitroprussiato de sódio é utilizado em infu- são endovenosa, contínua e, exclusivamente, em doses que variam de 1 a 5 µg/kg/min. As doses necessárias para se obter uma resposta adequada devem ser titu- ladas e são variáveis, dependentes da idade do paci- ente e do grau de hipotensão desejado(21). A duração da terapêutica não deve exceder três (3) a quatro (4) dias. Dispõe-se, para utilização, de ampolas com 50 mg da droga, normalmente diluídas em 2 ml de solvente e adicionadas a 250 ml de SG 5%, com con- centração final de 200 mg/ml. Como existe uma sen- sibilidade da substância à luz, apenas soluções recen- tes (no máximo seis (6) horas após o preparo) devem ser utilizadas, e o frasco, assim como o equipo, de- vem ser envoltos com material opaco. 6.1.3. Efeitos colaterais As intoxicações pelo cianeto e tiocianato podem ocorrer, quando se usam doses superiores a 5 µg/kg/min, por tempo prolongado. Parece que a toxicidade des- ses metabólitos é proporcional à velocidade de infu- são e não à quantidade total de nitroprussiato de sódio, administrada. A intoxicação pelo cianeto leva ao blo- queio da respiração aeróbica, celular, promovendo acidose metabólica, sendo, no entanto, um evento de ocorrência rara. Constituem-se sinais de intoxicação aumento na resistência periférica, total, cujo resulta- do será o aumento da pressão arterial e a redução do DC. O VO2 do miocárdio aumenta proporcionalmen- te à tensão na parede ventricular. A pressão de enchi- mento ventricular, aumentada, predispõe à hiperten- são pulmonar com grande risco de desenvolvimento de edema agudo de pulmão. Dessa forma, com a di- minuição simultânea da pressão de enchimento ven- tricular esquerdo, da resistência periférica total (com redistribuição do fluxo sangüíneo de áreas não essen- ciais para áreas nobres) e da impedância ao esvazia- mento ventricular esquerdo, o uso de vasodilatadores está indicado, ocasionando uma melhor performance cardíaca, com incremento no débito. Conseqüente- mente, a pressão capilar, pulmonar seria reduzida com benefícios imediatos. O uso de vasodilatadores não altera significa- tivamente a freqüência cardíaca, visto que há um au- mento do volume sistólico, em resposta à queda da resistência vascular, sistêmica, induzida por essas dro- gas(3). Os vasodilatadores podem ser classificados, genericamente, de acordo com seu sítio de ação em venodilatadores (nitratos e nitroglicerina), arteriolo- dilatadores (hidralazina) e de ação mista (nitroprus- siato de sódio, prazozin, inibidores da ECA e clorpro- mazina). Particularmente, o vasodilatador mais utili- zado em terapia intensiva é o nitroprussiato de sódio. 6.1. Nitroprussiato de sódio O nitroprussiato de sódio é um vasodilatador misto, com efeitos sobre os territórios arterial e veno- so. Age diretamente na musculatura lisa, vascular, através da interação com grupos intracelulares de sulfidrila, inibição do transporte de cálcio e alteração dos nucleotídeos cíclicos, intracelulares. Não apre- senta efeito direto sobre as fibras musculares cardía- cas, sendo seu incremento no DC devido à ação vaso- dilatadora. O nitroprussiato de sódio promove uma redução no VO2 do miocárdio. O fluxo sangüíneo re- nal e a taxa de filtração glomerular são mantidos e a secreção de renina, pelo organismo, é aumentada(7). A droga promove, então, diminuição da resistência periférica, total, diminuição da PA, pouca alteração da FC e diminuição da resistência vascular, pulmo- nar, sendo rapidamente metabolizada e convertida em tiocianato através de reação catalisada pela rodonase no fígado. O tiocianato pode ser, de forma lenta e in- completa, oxidado a cianeto nos eritrócitos, pela ação 410 FM Ostini et al. 7. CONCLUSÃO Os estados de baixo débito, associados à dis- função celular, grave são de ocorrência relativamente comum nas unidades de terapia intensiva. O emprego das drogas vasoativas é de importância vital para a reversão desta situação, melhorando o prognóstico e a sobrevida dos pacientes. Essas drogas possuem, em geral, ação rápida e potente, porém seu índice terapêu- tico é baixo, devendo ser administradas mediante ade- quada monitorização hemodinâmica e laboratorial. pelo tiocianato: náuseas, fraqueza, espasmos muscu- lares, confusão mental, cefaléia, diarréia, e taquicar- dia. Esses efeitos são minimizados logo que a infusão da droga é interrompida ou sua velocidade de elimi- nação aumentada. A droga deve ser utilizada com pru- dência em pacientes com hepatopatias e nefropatias, e os níveis plasmáticos de tiocianato devem ser monitorizados, não excedendo 10 mg/dl. A meia-vida do tiocianato é de uma (1) semana e o tratamento da intoxicação consiste na administração de hidroxico- balamina e diálise. OSTINI FM et al. The use of vasoactives drugs in the intensive care unit. Medicina, Ribeirão Preto, 31: 400-411, july/sept. 1998. ABSTRACT: The authors present a reviewed and updated description of vasoactives agents available for use in the critically ill patient. Furthermore, this paper describes the hemodynamic effects of these drugs in order to understand the guidelines of its use in the intensive care unit. UNITERMS: Catecholamines. Vasodilator Agents. Vasoconstrictor Agents. Intensive Care Units. 9 - UNVERFERTH DV et al. 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