Baixe Complementos Resistencia dos Materiais Parte 1 e outras Notas de estudo em PDF para Engenharia Civil, somente na Docsity! UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS
COMPLEMENTOS DE
RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS
PRIMEIRA PARTE
e Tensões e Deformações
e Teoria da Elasticidade
JOSÉ ELIAS LAIER
JOÃO CARLOS BARREIRO
2", edição
São Carlos, Março de 2001
PREFÁCIO
O presente texto vem dar continuidade nas publicações referentes às disciplinas
de Resistência dos Materiais ministradas na Escola de Engenharia de São Carlos, da
Universidade de São Paulo. Constitui pretensão dos autores manter os assuntos aqui
abordados conforme os preceitos da escola posta em prática pelo nosso grande mestre
Prof. Dr. Frederico Schiel, autor dos textos dos cursos básicos.
A primeira parte da exposição é constituída de dois capítulos, e apresenta em
seguência o estudo das tensões e deformações, e uma introdução à Teoria da
Elasticidade. A Segunda parte, composta de três capítulos, sendo os dois primeiros
dedicados ao estudo introdutório dos clássicos métodos de integração numérica;
começando-se pelo método da energia, ou de Ritz-Rayleigh, e completando-se com o
pioneiro método das diferenças finitas na sua versão formulada mediante operadores
denominados centrais. O último capítulo é voltado para o estudo elementar do chamado
método plástico, ou método das rótulas plásticas, de análise de estruturas aporticadas.
Tendo-se em vista a pretensão colocada de início, os assuntos são tratados
conforme o grau de dificuldade, partindo-se de casos mais simples, para, no final,
apresentar os casos mais gerais, de natureza mais complicada.
Os autores expressam aqui os seus agradecimentos ao Sr. Rui Roberto Casale e
ao Sr. João Paulo Moretti pelo zeloso trabalho de datilografia e desenho,
respectivamente.
José Elias Laier
João Carlos Barreiro
São Carlos, Agosto de 1982
4,9 —
4,10-
4,11-
SEXTO EXEMPLO DE APLICAÇÃO ..
SÉTIMO EXEMPLO DE APLICAÇÃO .
COMENTÁRIOS FINAIS ,.ciiceeee
METODO PLÁSTICO
—EIODO PLÁSTICO
va gw a
cars wrnãam
1
am q
5.9 —
5.10-
5.l1-
5,12-
INTRODUÇÃO ..cccsccrrreerecra
MOMENTO DE PLASTIFICAÇÃO ....
PRIMEIRO EXEMPLO DE APLICAÇÃO
SEGUNDO EXEMPLO DE APLICAÇÃO
TERCEIRO EXEMPLO DE APLICAÇÃO
QUARTO EXEMPLO DE APLICAÇÃO .
QUINTO EXEMPLO DE APLICAÇÃO .
SEXTO EXEMPLO DE APLICAÇÃO ..
SÉTIMO EXEMPLO DE APLICAÇÃO .
CITAVO EXEMPLO DE APLICAÇÃO .
COMENTÁRIOS FINAIS ..,.cccsos
ANÁLISE PLÁSTICA DE UM CASO SIMPLES
162
167
176
177
180
185
189
190
195
197
199
200
202
205
208
CAPÍTULO I
TENSÃO E DEFORMAÇÃO
1.1 - INTRODUÇÃO
O estudo das tensões e deformações &, no presente
texto, apresentado por meio de formulação matricial, a qual
constitui um procedimento típico na analise tensorial. Uma
outra maneira mais requintada, porêm pouco comum no nosso
meio têcnico, consiste na formulação indicial, a qual apre-
senta grande flexibilidade (uma das razões de se abandonar
a notação indicial reside no fato de ser pouco familiar no
meio têcnico). A exposição dos assuntos atem-se apenas ao
lado prático da questão, e, por essa razão, negligenciam-se
pormenores da Teoria Matemática dos Tensores. Contudo, no
que interessa, tais omissões não prejudicam a compreensão,
principalmente, no que respeita aos alunos de cursos de gra
duação em Engenharia.
O tratamento das tensões isolado do das deforma-
ções & proposital, e tem em vista deixar evidente o caráter
tensorial dessas grandezas, independentemente da relação e-
xistente entre elas, expressa pela clássica lei de HOOKE (a
lei de HOOKE permite obter as deformações como causa das
tensões, e vice-versa, e com isso o carâter tensorial de u-
ma grandeza ê, por assim dizer, transferido para a outra),
A clássica lei de HOOKE, último assunto deste ca-
pítulo, É tambêm colocada segundo a formulação matricial.
Sem tecer maiores considerações, são discutidas algumas im-
plicações da lei de HOOKE no que diz respeito aos parâme-
tros do comportamento elástico linear dos materiais,
1,2 - TENSÃO
O conceito de tensão origina-se do conceito ele-
mentar de pressão, como, por exemplo, a hidrostãtica, que
consiste numa força normal por unidade de àrea. Por tensão
entende-se uma extensão dessa idéia para os casos onde a for
ça por unidade de área pode não ser normal. Como ilustração
do conceito de tensão, considere-se um corpo sólido, em e-
quilibrio, sujeito a um certo número de ações externas, con
forme exibe-se na figura I.la), Pois bem, isolando-se uma
parte desse sólido, conforme ilustra-se na figura I.lb),
sabe-se que o equilíbrio da mesma & garantido pelo princi-
pio da ação e reação, por tratar-se de uma parte de um soli
do em equilíbrio. De uma maneira geral, pode-se dizer que u
ma ârea AS é responsável por uma parcela AF daquelas forças
transmitidas (ação ou reação). Na figura I.lc) a parcela AF
é representada pelas suas componentes segundo os eixos coor
denados Oxyz, com origem no "centro" da área elementar Às,
sendo o eixo Oz normal à área AS no ponto O. Dividindo-se
as componentes da força pela área AS definem-se as seguin-
tes grandezas
(1.1)
As tensões como indicadas na figura 1,2 são consi
deradas positivas. A convenção É muito simples. A tensão nor
mal de tração & considerada positiva, e a tensão de cisalha
mento tem o sinal dado de acordo com a seguinte regra mnemo
nica: se na face em que atua, a tensão normal de tração tem
o sentido do eixo coordenado correspondente, a tensão cisa-
lhante positiva tem o sentido do seu correspondente eixo.Em
outras palavras, o sentido positivo & dado pelo sentido do
sistema de referência dextrorso levado na face corresponden
te, fazendo coincidir o sentido de um dos eixos com a da ten
são normal de tração.
O número de parâmetros ou componentes necessários
para caracterizar o estado de tensão num ponto pode ser re-
duzido de nove para seis, porquanto o equilíbrio de momento
segundo os eixos coordenados permite estabelecer três rela-
ções entre as seis componentes cisalhantes, ou seja, o equi
librio do momento segundo os eixos Oz, Ox e Oy, respectiva-
mente, permite exprimir-se!
Caytydz)dx = CG ygdxdz)dy
(rypdzda)dy Coyiyda)da (1.2)
(Cydxdy)dz Tapdydz)dx
ou ainda, cancelando os termos comuns:
T =
xy yxX
t =T (1.3)
yz Zzy
T =
zx xz
Essa igualdade entre tensões de cisalhamento atuantes em
Planos perpendiculares, expressa nas equações (1.3), cons-
titui a afirmativa do clássico teorema de CAUCHY, É oportu
no assinalar que a consideração de eventuais forças volumê
tricas não altera o resultado expresso em (1.3), pois even
tuais contribuições sao infinitêsimos de ordem superior;to
davia a consideração de binários por unidade de volume modi
fica o resultado expresso (1.3). Cabe adiantar que a consi
deração de binários por unidade de volume não serã, no pre
sente texto, objeto de maiores comentários, mesmo porque
trata-se de um caso incomum.
1.4 - ESTADO PLANO DE TENSÃO
Um estado de tensão E considerado plano quando
numa das faces do volume elementar dxdydz as componentes
de tensão correspondentes são nulas; por via de conseguên-
cia o mesmo acontece na face oposta. No que se segue, as
componentes de tensão não nulas são tomadas como sendo Ss
v etT .
y xy
1.4.1 - Transformação de Coordenadas
Admitindo-se que o estado de tensão num determi-
nado ponto "p' de um corpo sôlido apresenta componentes Se
4 e Tay? segundo o sistema de referência Oxy, é de grande
interesse saber as relações existentes entre essas compo-
nentes e aquelas referidas a um outro sistema de referên-
cia 0xY, ou seja, 073 g e Thy? conforme ilustra-se na fi-
gura 1.3, Vale dizer-se que Sp, g e Tay sao componentes do
mesmo estado de tensão dado pelas componentes Ss Ss e Tey?
sendo que a única diferença diz respeito ao sistema de re-
ferência adotado,
a) Componentes de tensão b) Componentes de tensão segundo eixos
segundo eixos coordenados coordenados 0X%.
oxy
FIG. 1.3 - COMPONENTES DE UM MESMO ESTADO DE TENSÃO
SEGUNDO DOIS SISTEMA DE COORDENADAS.
Pois bem, as coordenadas do ponto “"p! no sistema
de referência dextrorso Oxy, *p e Jp? estão relacionadas com
as coordenadas desse mesmo ponto no sistema de referência
dextrorso O0xy, x, e 7p> por meio da seguinte expressão ma-
tricial (vide fig. I.4a)):
Pp 1 2 ?
- - (1.4)
'p my To 'p
onde
Y = cosa
mn, = sen
(1.5)
1, = cos(5 + 0) = -
2 3 +04) = sena
mo º sen(Z + 0) = cosa
-10-
Sr Ty 4 my x Tay ”» 1
mm - : . + (1.11)
Ts g t To Tay 4 mom
e, com isso, tem-se, na expressão (1.11), a lei de transfor
mação de componentes do estado plano de tensão,
Algumas constatações de grande interesse prático
são examinadas no que segue. Em primeiro lugar, é fácil per
ceber-se que existe um sistema de referência, no qual as
componentes de tensão tangenciais se anulam,. Com efeito,nes
sa circunstância tem-se, por exemplo, de (1.9) a seguinte
relação:
= . (1.12)
ou seja(premultiplicando pela inversa da matriz dos cose-
nos diretores ambos os menbros e arranjando os termos)!
“x Txy “ 0
= (1.13)
Tay yo m 0
cuja solução não trivial implica em
xy
det =0 (1.14)
T
xy
ou seja:
(1,15)
-11-
Pois bem, a expressão (1.15) aponta dois valores, ou auto-
-valores da equação (1.13), que, em verdade, são as compo-
nentes nao nulas do estado de tensão segundo um sistema de
referência, cujos eixos são ditos principais. Com efeito
de (1.13) tem-se (vide exp. (1,5)):
nm
Te te(a) = (1.16)
1
Por outro lado, chamado de 9 e0,08 valores dados em
(1.15), de tal sorte que 0, > 09, tem-se, então:
teta) = (1.17)
- X
tela) = os (1.18)
2 sy
onde, &| e à, são os ângulos correspondentes às tensões
Principais 9, € 84. Cabe assinalar, finalmente, que os ân-
gulos 4 ed, são defasados de 1/2, De fato, das proprieda
des da trigonometria tem-se:
S/07
te(ap+n/2) = - —— (1,19)
xy
e, por sua vez
o “4 Tay
+ = te(u,) = (1.20)
xy 2 y
conforme verifica-se, facilmente, com a expressão (1,15),
A ortogonalidade constatada corrobora, no fundo, o clássi-
co teorema de CAUCHY, objeto de comentários anteriores,
-12-
Uma outra constatação de interesse diz respeito
ao fato de que a tensao normal atinge valores extremos nas
direções principais (máximo valendo 5 mínimo valendo
S9)5 todavia omite-se, aqui, a comprovação; lembrando, em
tempo, que essa constatação E imediata, recorrendo-se à re
presentação gráfica (paramétrica em q) do círculo de MOBR.
1.5 - ESTADO TRIDIMENSIONAL DE TENSÃO
O estado tridimensional de tensão & o caso ge-
ral, onde eventualmente algumas das seis componentes podem
ser nulas. Seguem-se, aqui, a exemplo do caso anterior, as
convenções já estabelecidas no item 1,3 (vide fig. 1.2).
1,5,1 - Transformação de Coordenadas
De modo anãlogo ao que se fez no caso do estado
plano de tensão, sendo dado um estado tridimensional de ten
são, mediante as componentes segundo um sistema de referên-
cia Oxyz, procura-se a relação existente entre tais compo-
nentes e aquelas desse mesmo estado de tensão, dadas segun
do um outro sistema de referência Oxyz.
De início tem-se o seguinte. As coordenadas de
um certo ponto "P”, onde o estado de tensão & considerado,
no sistema de referência O0xyz estão relacionadas com as co
ordenadas desse mesmo ponto no sistema de referência Oxyz
por meio da seguinte expressão matricial (vide fig. 1.5a)):
*p + E 13 E
- y 1.21
'p mo Mm mM Yp ( )
Z n n n z
“o
5
-15-
No sistema de referência Oxyz as componentes da
força atuante na área elementar dS são, conforme mostra-se
na figura I.6b), o-dS, T--dS e t--dS, e estão assim rela-
x xy xz
cionadas com as componentes dessa mesma força t,d5, tds e
tds:
z
Na
t ds M nm, Ry 0çds
tds = to no Ro Taçós (1.23)
t,ds 3 ny n5 Tazds
As equações (1.22) e (1.23) permitem, finalmente, escrever-
-se:
S% “o mM a Cx Try Tyz &
Ty a E mo Do) xy Sy Tyal tim (1.24)
[ZZ ta man [Txe Tyz Oz R
Cabe assinalar que,
de
onde o termo dS, comum, foi suprimido,
nas expressões (1,22) e (1,23) o termo dS foi mantido
sorte a deixar evidente o fato de tais equações exprimirem
relações entre componentes de forças.
Procedendo-se de maneira análoga na procura das
tensões atuantes nos planos normais aos eixos Oy e OZ en-
contram-se expressões similares à (1.24). Reunindo-se tais
expressões numa só expressão matricial, tem-se:
- = -=— n
nd Ts “kz “4 Pa 1 x Tay xz ty 22 ts
—— - -= = L n . T nm mo m
ey 's Tz 2 Po 2 xy %y yzj.|1 203
= -— — n, n
Taz Tr % ta ma na Taz Tye Po nm Do 83
-16-
que constitui, por assim dizer, a lei de transformação de
coordenadas das componentes do estado de tensão tridimensio
nal, Em verdade, trata-se de uma extensão do expresso em
Gil).
Verifica-se, facilmente, de (1.24) que existem di
reções, onde as componentes cisalhantes anulam-se, De fato,
nessa circunstância tem-se, por exemplo, de (1.24):
e “& Ph “ x xy Tyz “4
o = ts no nal. xy 4 Tya my (1.25)
0 ts ng By Taz Tya S, ny
ou seja (prenultinlicando ambos os membros pela inversa da
matriz dos cosenos diretores e arrumando es termos todos no
primeiro membro):
G.-0- T T 8 o
x x xy xz 1
xy Tye mb = 0 (1.27)
T T 0,-07 n o
xz yz z x 1
cuja solução não trivial ímplica em:
q.-0- T T
x x xy x2
det T 0,-0- T = 0 (1.28)
xy y x yz
Tyz Tyz Ig” x
Pois bem, a expressão (1.28) conduz a uma equação do tercei
ro grau em 07, cujas raizes são reais, em face da simetria
da matriz em pauta. Todavia, tal fato pode ser facilmente
entendido, sabendo-se que pelo menos uma das raizes E real.
Assim, tomando-se por base um sistema de referência com um
-17-
dos eixos segundo a direção Cj me ny) relativa a essa
raiz real, a procura das outras raizes implica em:
S. mos 0 0
x x
det 0 9,10ç Tt! =0 (1.29)
0 Tuta! 104
onde o sistema de referência Ox'y'z' tem o eixo coordenado
0x" segundo a direção relativa à raiz real Se Assim, da ex
pressão (1,29) verifica-se que as outras raizes são também
reais (vide (1.14) e (1,15)).
Resta verificar, agora, a ortogonalidade entre as
direções correspondentes as raizes de (1.28), De fato, cha-
mando-se de e “3 duas das raizes, de (1.26) tem-se:
2 o T 1 -1/4
x xy xz
m = 0 T g T m
1 xy y yZz
n T T o n
i Ez yz z í
(1.30)
2 9 T T E)
x xy xz
1
= 0 — 9
m q. Tay y “ya m
J
n 5 xz Tyz z pe 3
ou, ainda, em face da simetria da matriz, a transposição da
primeira das (1.30) implica em:
-20-
gar um novo estado denominado estado de deformação, cujas
Componentes quantificam a nova configuração, Vale lembrar-
-se que, em virtude do estado de deslocamento descrever os
movimentos dos pontos, não é dificil atentar-se para o fa-
to de haver uma relação entre as componentes do estado de
deslocamento e as componentes do estado de deformação, que
quantificam a mudança relativa de forma (movimentos relati
vos).
Antes, porém, de se abordarem as relações exis-
tentes entre as componentes do estado de deslocamentos e
do estado de deformação, & oportuno acrescentar algumas
considerações a respeito da magnitude das grandezas, ago-
ra, em jogo. Em primeiro lugar, nos casos da prática, as
estruturas experimentam deslocamentos muito pequenos,ou se
ja, bem menores, em valor, que as dimensões característi-
cas da estrutura. Alias, esta & uma das características bã
sicas que se exige de uma estrutura, não só por razões de
conforto dos usuários, mas, sobretudo, por razões de ordem
psicológicas (pouquíssimas pessoas se sentem a vontade nu-
ma corda bamba). Alêm disso, estruturas muito flexíveis,
ou seja, passíveis de grandes movimentos, são muito sensi-
veis aos efeitos dinâmicos. Em segundo lugar, por via de
consequência, dos deslocamentos pequenos decorrem tambêm
deformações pequenas. Cabe ressaltar, a propósito, que,nas
estruturas de cabos, as deformações pequenas não implicam
em deslocamentos pequenos, pois os movimentos, nesse caso,
se devem às configurações diferentes de equilíbrio para di
ferentes carregamentos. Deformações pequenas & também uma
condição decorrente dos casos prâticos, conquanto os mate-
riais geralmente empregados, nas condições de utilização
normais, trabalham em regime de pequenas deformações; mais
que isso, entram em'“ruptura”ainda com pequenas deformações.
Em face das considerações levantadas, enormes sim
plificações podem ser introduzidas na anãlise das relações
entre as componentes do estado de deslocamento e as do es-
tado de deformação, em decorrência da consideração de pe-
-21-
quenos deslocamentos. A primeira delas reside na considera-
ção da geometria original como válida para a posição defor-
mada, e uma segunda, sem contar as outras, consiste na con-
Sideração das variações de deformação como infinitésimos de
Segunda ordem, Uma outra simplificação de grande importãn-
cia, que consiste na base da chamada teoria de primeira or-
dem, E a consideração de que o estado de deslocamentos não
altera o estado de carregamento, ou seja, a configuração de
equilíbrio não sofre alteração na mudança de forma da estru
tura.
1,7 - Relações entre as Componentes do Estado de Deslocamen
to e as do Estado de Deformação - Caso Plano.
A figura 1.8 exibe três pontos vizinhos, P, QeR,
onde os pontos Q e R estão contidos em retas ortogonais con
correntes no ponto P, e afastados de P, respectivamente,por
distâncias elementares dx e dy. Os pontos PI, Q' e R! indi-
cam, de maneira genérica, as novas posições ocupadas pelos
pontos P, Q e R na situação deformada, Posto isso, e admi-
tindo-se tratar de deslocamentos e deformações pequenos,com
base na geometria dos pequenos deslocamentos tem-se as se-
guintes relações
3u
Adx Cut 3x dx)-u au
dx dx 3%
[ea
p
“
a
e
a
(1.34)
eu
“s
Pu
tá
a
dy 3x dx 3
-22-
EM
dx
H—— es
t u+
dx
ôx
FIG. 1.8 - POSIÇÃO INICIAL E DESLOCADA DE TRES PONTOS PRÓXIMOS
onde Adx e Ady são os alongamentos experimentados pelos com
primentos elentares dx e dy, respectivamente; as rotações ex
perimentadas são objeto da terceira das (1.34). É oportuno,
nesse ponto, levantar algumas considerações. Em primeiro lu
gar, a consideração
du
Adx = E dx (1.35)
só tem sentido para
dx >> E dx (1.36)
ox
ou seja
sz << 1 (1.37)
-25-
Lo =
1 cosa
m, > sena
(1.41)
4, =-senG
2
Mm, = cosQ
Em suma, a expressao (1,40) relaciona as componentes do ve
tor deslocamento no sistema Oxy com as componentes desse
mesmo vetor no sistema 0xy.
As componentes de deformação no sistema de refe-
rência 0%F, em face das condições aventadas em(1.39), por
força das relações (1.40), são dadas por (vide exps. (1.39):
. DU
“x dx
= 2 (1.42)
e- =
7 dy
- du, By
ey dy 9x
ou, ainda, tendo em vista (1.40):
el = & 2u + my By
x 3x 3x
=, 2U sm, 2 (1.43)
E- 24l 24T
y 3y dy
nenem le Dem
*y ay ay 3x 3x
Por outro lado, sabe-se, por exemplo, que:
-26-
a?
E
o»
E
a?
»
o»
E
az
|
|
|
'
+ (1.44)
o?
xa
od
De
1
as
sá
1
pois, dado um acréscimo dx, tudo se passa como se experi-
mentassem acréscimos dx e dy, conforme condição expressa
em (1.4); de onde se deduz:
o
x
os
ax |
(1,45)
3x
e ainda, 9x/dy = te dy/dy = mo* Assim, levando (1.45) na
(1.44), e o resultado na primeira das (1.43) tem-se
o
E
.. du 92,07 2, Bu, dv
€ “4 + mn + Gy + To tm (1.46)
x
os
x
o
“
ou seja, tendo em vista (1.39):
2 2
- + + A .
E em Yey 14 (1.47)
Finalmente, reunindo-se numa única expressão matricial o
resultado expresso em(1,47) juntamente com as expressões
similares para Er e y--, tem-se:
y xy
e- 1
x mM) [Ex Tay) fi to
- . . (1.48)
1 1 |
3 Vas Es 2 mn 3 Yxy E, mn mo
que ê, em tudo, similar a expressão (1.11), a excessão do
fator 1/2 aplicado na componente de deformação Yey* Perce-
be-se, pois, que a lei de transformação de coordenadas do
estado plano de deformação & a mesma dado estado plano de
-27-
tensao. Assim sendo, existe uma orientação de eixos coorde
nados dadas por (vide exp. 1.16).
1
m 5Y
1. .2'ay
T, tg (a) = Erê, (1.49)
onde a componente “gy se anula; e as outras componentes são
dadas por:
(1.50)
cujos valores, em conformidade com a notação €, > sao
1º 2»
as deformações principais; as quais constituem valores ex-
tremos, máximo e mínimo, da deformação normal £. Finalizam
do, & oportuno salientar que o sinal da componente de de-
formação normal & positivo no caso de slongamento, e, por
via de consequência, negativo no caso de encurtamento; a-
lêm disso a componente Yyy (distorção) ê considerada posi-
tiva no caso de decréscimo do ângulo reto, conforme apon-
ta-se na figura 1.8.
1.8 - Relação entre as Componentes do Estado de Deslocamen
to e as do Estado de Deformação - Caso Tridimensio-
nais
Considere-se o caso de um corpo sólido, devida-
mente vinculado, que experimenta um estado de deslocamen-
tos, cujas componentes u, v e w são funções contínuas que
descrevem os movimentos segundo, respectivamente, eixos co
ordenados 0x, Oy e Oz de um sistema de referência dextror-
so Oxyz. Tais funções, naturalmente, nas variáveis x, y €
z, estão relacionadas, por meio de derivações, com as com-
ponentes do estado de deformação da seguinte maneira:
-30-
Ex. eso q
dx y dy z dz
(1,54)
“ey 3y dx y2 3z 3y 2x 3x az
Por outro lado, a primeira, por exemplo, das (1,54), tendo
em vista a relação (1.52), permite escrever-se:
ELOS MD tm tm (1.55)
Ora, no caso em questão tratam-se de funções de três variã
veis; assim sendo tem-se, por exemplo
eu. da dx + au o, qu Ze (1.56)
ax 3x 7 ax 3x
Contudo, sabe-se de (1,21) que
3x PY .mn e ca (1.57)
Cu
xa
o
Xe
a
xe
e, com isso, de (1,56), juntamente com similares correspon-
dentes à dv/9x e dw/9x, tem-se para (1.55) uma nova redação,
ou seja:
= = dE Êo (ôt, dy
ctg nt! Gm +
(1.58)
av aw au aw
= = — q) 2
* Got + Gt mo
ou, ainda, tendo em vista (1.51)
ex =ec tt +E nº + E n? +Y Lm ty ma +Yy. nf
x x1 yl zl xy 11 yz 11 2x 11
(1.59)
-31-
Reunindo numa só expressao matricial a relação
(1.59), juntamente com as similares relativas às outras com
Ponentes do estado de deformação, tem-se:
- Li Lo 1 1
e 2 “ay 7 kz “mm Ex 2 “ay 2 Yaz Bots
1 1 . 1 1
3 YE z Ya = tomon, z Yay E, 3 Yya | mma
E e- 2 ,mon 1 1 [a n
7 kz 7a 30903 | 47 Ya 7 ya “sr PR28s
(1.60)
cuja semelhança com (1.25) E evidente, Dessa forma todas
as propriedades discutidas no final do parâgrafo 1.5.1 va-
lem tambêm no caso do estado de deformação tridimensional
(direções principais, deformações principais etc.),estando
a única diferença no fator 1/2 aplicado às componentes Y,
1.9 - RELAÇÕES ENTRE AS COMPONENTES DO ESTADO DE TENSÃO E
AS DO ESTADO DE DEFORMAÇÃO - LEI DE HOOKE
Segundo os historiadores, por volta do distante
ano de 1676, o grande pensador ROBERT HOOKE enunciou uma
clássica lei, que leva o seu nome, de acordo com a qual as
deformações acontecem na mesma proporção que as tensões,As
sim sendo, assume-se entre as componentes desses dois esta
dos uma relação linear do tipo:
[e ,
o
Ey y
E, I,
- le, * 1 (1.61)
Te vã | xy
Y com T
y2 i=1,2,3...6 | ye
Vox 3=1,2,3...6 | | Tex
-32-
onde os elementos da matriz let, de ordem 6x6, são constam
tes que dependem, naturalmente, do material em considera-
ção.
Uma primeira constatação muito importante diz
respeito à simetria da tel; e, com isso, o numero de ele-
mentos independentes cai de 36 para 21, Sucede que o prin-
cípio da Conservação da Energia, supondo-se que no proces-
so de deformação não interfere manifestações estranhas de
energia - sistema conservativo -, O trabalho, por exemplo,
de o, na deformação e, causada por 5, ê igual ao trabalho
de o, na deformação E, causada por O, (essa constatação &
conhecida como Teorema de MAXWELL). Por outro lado, parece
não fazer muito sentido a existência de materiais, nos
quais nenhuma simetria de comportamento se verifica, ou se
ja, em qualquer direção sempre tensão tangencial provoca
deformação normal (não existe nunca coincidência entre as
direções principais de deformação e tensão), Por via de
consequência, o material dito do tipo GREEN, cujas constan
tes elâsticas independentes são em número de 21, parece em
xistir, tudo indica, apenas en considerações teóricas.
Materiais ortôtropos E a denominação dada a cer-
tos materiais, cujo número de constantes elâsticas indepen
dentes são em número de 9, Nesse caso existe uma simetria
de comportamento segundo três planos ortogonais entre si,
A matriz de constantes elásticas assume, então, o seguin-
te aspecto
Sa 12 13 0 0 9 |
Ca Co3 o o o '
Ca 0 0 0
(1.62)
Cm o o
sim. Ess 9
c
66
-35-
Acrescentando, agora, termos nulos nas parcelas do segundo
membro da expressão (1.69), ou seja, Veytorvbyto na pri-
meira, Vmymo+Vmymo na segunda e nn,+Vn,n, na terceira,
tem-se
[em 0,
ey O 2| Ela vO,temmem np] é Flaevmm,-
o
Z
“Cytotmymp+nyaç)| + lata av t,emmpnn)])
(1.70)
onde os termos com v em evidência são nulos, pois tratam-
-se do produto escalar de versores ortogonais. Assim, tem-
-se então:
2 DV) 2(1+v) 2X+v)
Yzs = Tot = SgyMo+ o SoMyRo (1.71)
e, com isso, tendo-se em vista a segunda das (1.67) verifi
ca-se, facilmente, a razão da relação apontada em (1.66) e
tambêm, por analogia, a expressa em (1.64).
1.10 — EXEMPLOS DE APLICAÇÃO
Apresentam-se, no que segue, dois exemplos de a-
plicação, onde chama-se a atenção para aspectos ligados 3
utilização das expressões desenvolvidas.
Contudo, & oportuno apresentar, antes, as chama-
das fôrmulas de CARDAN, que consistem numa maneira exata e
expedita de se expressar as raizes de uma equação do ter-
ceiro grau. Como nos casos abordados as raizes são reais,
dada a natureza do problema, grandes simplificações podem
ser conseguidas,
Dada uma equação do terceiro grau do tipo canôni
co:
x + ax? + bx + c=0 (1.72)
-36-
as raizes são expressas por:
= )y,€ a/3
X9 * 90 a/3 (1.73)
X3= 737 a/3
Por outro lado, sabendo-se que as três raizes são reais,têm-
-se:
3
yj 5 2 cos(8/3)
3
y, = 2Vp cos((21-9)/3) (1.74)
3
y3 E 2Vp cos((27+0)/3)
onde:
A 2
p= + Q
(1.75)
8 = are.tg. (Q/R)
sendo:
3
= Loba 2a
Rest e- So
(1.76)
o-V ima?
273.
coma, be c tomados com sinal conforme (1.72) - & necessa-
rio tomar cuidado com os sinais desses coeficientes. Cabe
apontar, alêm disso, que o arco 8 pertence ao primeiro qua-
drante no caso de R positivo e no segundo em caso contrário
(essa observação diz respeito à posição do número complexo
no plano de GAUSS).
-37-
1,10,1 - PRIMEIRO EXEMPLO DE APLICAÇÃO
Num dado ponto de uma estrutura foram medidas as
deformações em três direções, conforme ilustra-se na figu-
ra I.ll, sendo encontrado tas 1072, e, 107? eEÇço -10"º,
Pede-se determinar as deformações principais e as direções
onde ocorrem, Trata-se, naturalmente, de um estado plano
de deformação,
FiG.1.11- DISPOSIÇÃO DE MEDIDAS DAS DEFORMAÇÕES
Ko sistema de referência adotado (vide fig.I.11),
das componentes do estado de deformação só se conhece uma,
ou seja:
desconhecem-se as componentes Ee Yay* Todavia, tendo-se
em vista a expressão (1.47), tem-se:
e =19"2-€ cos?n/6 + (-10")sen?n/6 + Y sent/6.cost/6
a x xy
-3 2 -3 2
“4 10 = ecos 57/6+(-10 “)sen 51/6+y, psen5r/6.cos51/6
ou seja
3
Hm
o
"
0,75€, — 0,25.10 * + 0,433Y ey
3
H
o
n
0,75, - 0,25.10? — 0,43%
-40-
3
- 0,227 - Au, = -0,0655
2 E
q =) ati - 0,56)? - (-0,0655)? = 0,0303
Com esses valores, de (1,75) tem-se
——
p = [(-0,0655)2+(0,0303)? = 0,0722
- 9,0303 . = o o
tgô = TO,0655 9 = 155,2 (-24,8)
= 1,0,56(-1,8)
R=q(s
Finalmente, de (1.74) têm-se:
3 +
yj "2 V0,0722 cos(155,2/3) = 0,516
3 o
y, = 2 V0,0722 cos(801552, . 9,308
2 3 »
3 —
y4=2 Vo,0722 cos (350+155,2, À 9,824
3
e de (1.73) têm-se as três raizes (-a/3 = +0,6):
a
1
1,116 tf/em?
1
09 = 0,908
93 = -0,224
que são, naturalmente, as componentes de tensão nas dire-
ções principais. Por sua vez, a direção correspondente à
- 2
tensao 0, = 1,116 tf/cm” pode ser dada, tomando-se n, = i
em(1.27), com os valores em questão, por:
-41-
0,3-1,116 -0,4 2 -0,5
-0,4 0,7-1,116| im -0,2
encontrando-se, pois:
e
"
0,713
B
"
-0,205
Todavia, em termos do versor dessa direção, tem-se
we 0,713/V0,7132+0,2052412
my > -0,205/ (0,7132+0,2052412
1/ V0,7132,0,2052412 = 0,803
0,573
-0,165
a
"
De maneira similar, para as tensões 9 = 0,908 e 03 -0,224
encontram-se, respectivamente, as seguintes direções:
&, = =0,271, m, = 0,885, n, = 0,378
2 2 2
43 = 0,773, m; = -0,435, n; = 0,462
Cabendo-se, todavia, comentar que os versores corresponden-
tes às direções principais resultam, em termos numéricos,
praticamente ortogonais. Chama-se a atenção para esse fato
no sentido de alertar para a "sensibilidade" numérica veri-
ficada na determinação dos auto-vetores (a precisão dispen-
sada na determinação dos auto-valores - So 4 e 54 - sofre
redução na determinação dos auto-vetores).
-42-
À segunda questão levantada tem resposta imedia-
ta, porquanto a lei de Hocke permite escrever-se:
4
e” : = [1,116-0,3(0,908-0,224) | = 4,55,107
, = [ 0.908-0,3(1,116-0,224) )
4
E)
"
3,20,107
ess 1 5 [-0,224-0,3(1,116+0,908) |
2.10
4
-4,16.107
lembrando-se, outrossim, que, no caso do material em apre-
ço, as direções principais de deformação são as mesmas de
tensão,
-45-
tinuidade antes e depois da deformação pode-se afirmar que
existem duas funções contínuas u(x,y) e v(x,y) que descre-
vem os movimentos dos pontos da estrutura no caso plano,
e u(x,y,2), v(x,y,z) e w(x,y,2) no caso tridimensional.
Taís funções, u e v no caso plano e u, ve wno caso tridi
mensional, são as componentes do denominado estado de des-
locamento.
= q
x .
s
N
al]
dx
y
L$ A
a) Estrutura em repouso b) Estrutura sob efeito de solicitações
FIG.II.1- ESTRUTURA ORIGINAL E DEFORMADA
+
Um outro acontecimento nesse fenomeno da deforma
ção que merece destaque diz respeito à medida da deforma-
ção. Nesse propósito, convêm analizar de perto o que suce
de com um retângulo elementar de lados dx e dy, Pois bem,
na situação deformada, conforme exagera-se na figura ILIb),
o retângulo elementar assume uma configuração de paralelo-
grama (dx e dy são comprimentos elementares e, por conse-
guinte (continuidade) dx+Adx e dy+Ady são tambêm elementa-
res; dai a consideração de lados retos eparalelos na situa
ção deformada), cujos lados são diferentes dos do retângu-
lo original, e os ângulos deixam de ser retos; isso num ca
so genérico. Assim sendo, para se definir a configuração
deformada torna-se necessário o conhecimento de três parar
metros, ou seja, Y,., Adx e Ady, no caso plano, e seis no
xy
caso tridimensional. Por comodidade, adota-se no lugar de
-46-
Adx e Ady os parâmetros adimensionais ço Adx/dx e [a
Ady/dy. Disso tudo percebe-se que entra em cena o denomina
do estado de deformação, cujas componentes E E, e Yxy
sao parametros que quantificam, de modo adimensional, a de
formação ocorrida em cada pento, ou seja, Ex E, e Yay sao
funções continuas das variáveis x e y no caso plano, con-
forme jã oportunamente mencionado no capítulo anterior.
Por último resta saber-se das interações, ações
a reações, que aparecem na estrutura quando da solicitação
Convêm relembrar-se das condições de equilíbrio, jã mencio
nadas no capítulo prescedente, onde se evidencia a necessi
dade de três parâmetros 1 Se Tay? no caso plano, para
caracterizar as condições, sob as quais um cubo elementar
fica em equilíbrio. Com isso verifica-se a existência de
um estado denominado de tensão, cujas componentes são aque
les parâmetros mencionados.
Pelo exposto verifica-se, facilmente, que o pro-
blema estrutural, ou estudo do comportamento da estrutura,
consiste na busca das componentes de três estados, quais
sejam, estado de deslocamento, deformação e tensão. Assim
sendo, mo caso plano tem-se um total oito funções incôgni-
tas, que são u, v £ Cs 0, e Toe No que se se
q o E Eso Yao Cs Pp E Tay q e
gue buscam-se as oito relações necessárias, de modo a se
ter um sistema de equações compatíveis com tal número de
incôgnitas.
2.3 - RELAÇÕES BÁSICAS DA ELASTICIDADE PLANA
Pelo exposto no capítulo anterior têm-se jã, de
início, seis relações entre as componentes dos estados en-
volvidos no problema estrutural, ou seja, três relações en
tre as componentes do estado de deslocamento e do de defor
mação:
o
E
a
«q
E
E
q
4
(2.1)
o
“
|
a
N
|
—
h
|
+
|
x
o
x»
4
o
“4
x
“a
o)
ca
-47-
e mais três relações entre as componentes do estado de de-
formação e do de tensão, expressas pela clâssica lei de Ho
oke, que, no caso plano de tensão (g = T = T = 0) são
z xz yz
dadas por:
E 1 =V 0 o
x x
E -l 1 o a (2.2)
y E y +
SIM
2(1+v T
Tay (av) y
e ques no caso plano de deformação E, = Yye = Yu = 0),
sao dadas por:
2
£ l-vo <lav)v O a
x x
1 2
€ =— l-v 0 o 2.3
y E ; (2.3)
SIM
Yey 2(l+v) Tyy
Assim, resta saber, agora, das duas relações que ainda fal
tam para completar as oito necessárias. Para tanto convém
ser observado a natureza das relações (2,1), onde as três
componentes do estado de deformação (parâmetros indepen-
dentes) são definidas em termos de apenas duas funções (com
ponentes do estado de deslocamento); por conseguinte deve-
-se esperar alguma relação ao nível de derivadas daquelas
componentes (esse aspecto & explorado mais adiante). Pois
bem, especulativamente deve-se esperar também relações des
sa natureza entre as componentes do estado de tensão. A
propósito, as condições de equilíbrio em forças não foram
ainda utilizadas,pois ao nível das tensões constituem ex-
pressões redundantes.
-50-
2
ô Ex . a? (EB) =. Ju
dy ay? 3x dy dx
32,3v aiy
(2.6)
'
o
ed
Mo
[E
«
“o
"
2
3
Tay 3 qu, dy; Blu, By
3xdy 3xdy dy Ox 32x 3x28y
e, por via de consequência, tem-se
32e 32 a2y
T+ ma (2.7)
dy 3x
que constitui a denominada equação de compatibilidade,pois
exprime uma condição que se origina na suposta continuida-
de dos deslocamentos (as derivadas mistas são idênticas in
dependente da ordem de derivação).
2.4 - ESTADO PLANO DE TENSÃO
Um grande número de peças estruturais, nas quais
uma das dimensões & bem menor que as demais e, por outro
lado, estas apresentam a mesma ordem de grandeza, possuem
a função estrutural de resistir esforços contidos no plano
das grandes dimensões. É o caso, por exemplo, das vigas pa
redes. Nessa situação, o tratamento plano justifica-se ten
do-se em vista que a dimensão menor pode ser considerada
como um diferencial em relação às demais (dimensão menor E
dz). Assim sendo, tudo se passa como se as componentes dos
estados de deslocamento, tensão e deformação não variassem
com a variável z. Todavia, cabe adiantar que tratamento pla
-51-
no conduz à discrepâncias nas regiões próximas do contorno,
porêm esse assunto & objeto de comentários mais adiante
(Princípio de Saint-Venant),
Na integração das oito equações nas componentes
dos três estados envolvidos no problema estrutural & clãs-
sica a variante onde se procura colocar as expressões em
deformação e deslocamentos em termos das componentes de
tensão (Métodos esforços ou da flexibilidade). Para tanto,
torna-se conveniente redigir a equação de compatibilidade
(2.7), tirando-se partido, no caso do estado plano de ten-
são, das relações (2,2), tendo-se em vista as (2.5), ou se
ja:
8?o, 320, 32o ao 3X ar
TIE E tm E UM Gt) (2.8)
3x dy dy dx y
ou, ainda, em termos simbólicos:
2 2 5
3 3 3X 3Y
ED O) O UGT (2,9)
Com isso, do conjunto de oito equações, destaca-se um con-
junto de apenas três equações nas componentes do estado de
tensão, ou seja, as equações (2.5) juntamente com (2.9).
2.5 - ESTADO PLANO DE DEFORMAÇÃO
O estado plano de deformação caracteriza-se pelo
fato de serem nulas três das componentes de deformação, ou
ja: = = = 0, Dentre as estruturas, esse É o
seja: E, Taz Yyz >
caso, por exemplo, de algumas estruturas de barragens de
gravidade e das estruturas de revestimento de túneis em ro
cha (para a estrutura se alongar segundo o seu eixo longi-
-52-
tudinal carece que os grandes maciços de suporte também se
alonguem; o que na prática não ocorre).
Pois bem, a variante do Método dos Esforços im-
plica, de mode analogo ao caso plano de tensão, na seguin-
te equação de compatibilidade; expressa, agora, em termos
das componentes de tensão:
a2 EM . L (90X, 9Y
a + 398 xt) 2-5 GG + Tp) (2.10)
lembrando-se, em tempo, que essa nova redação deriva da e-
quação (2.7), tendo-se em vista as relações (2,2) e (2.5).
2.6 - FUNÇÃO DE AIRY (FUNÇÃO DE TENSÃO)
Uma notâvel contribuição à Teoria da Elasticida-
de foi dada pelo inglês G.B. AIRY (1862) ao descobrir uma
engenhosa manobra algébrica, segundo a qual aquele conjun-
to de três equações nas componentes do estado de tensão po
de ser reduzido a tão somente uma equação a uma incôgnita,
às custas de um levantamento da ordem de derivação (na ma-
temática, como no mundo, tudo tem o seu preço, mesmo com
o concurso de procedimentos geniais).
Antes porêm, de se abordar esse assunto, carece
esclarecer certos pormenores referentes à natureza das for
ças volumétricas. De acordo com as conceitos da Física clãs
sica, as forças volumêtricas encontram razão de ser na e-
xistência de campos de força, como, por exemplo o gravita-
cional, que mais de perto interessa aos técnicos do ramo
civil. Pois bem, tais forças podem ser expressas por meio
da variação do potencial do campo correspondente, ou seja
(2.11)
-55-
(2.17)
Todavia, mesmo nos problemas onde o peso próprio & signifi
cativo, a integração pode ser alcançada lançando-se mão da
Propriedade da superposição de soluções, ou seja, nesse ca
so 4 é dada pela soma de duas funções, onde a primeira con
duz às tensões referentes & solicitação externa e a segun-
da às tensões referentes às forças volumêtricas, sendo que
essas duas funções devem obedecer as equações (2.16) e
(2.17) e as correspondentes condições de contorno (compa-
tível no contorno com as solicitações ai existentes).
Para finalizar, convêm esclarecer que, na Teoria
da Elasticidade, os problemas têm sido tratados com um pro
cedimento inverso, ou seja, dada uma solução da equação
(2.16), por exemplo, procura-se o problema estrutural re-
solvido com tal solução. Parece, a primeira vista, um pro-
cedimento muito estranho, pois o normal ê& o contrário, ou
seja, dado um problema procura-se a solução; e não dada u-
ma solução procura-se o problema. Todavia, achar o proble-
ma resolvido com uma dada solução constituí também um pro-
blema. O procedimento normal, que consiste na analise do
comportamento de uma estrutura dada, em geral só E viável
mediante integração numérica, pois o caminho analítico (so
luções de forma fechada) não parece, a não ser em casos
muito particulares, meio eficiente (em geral a solução não
ê nenhuma das funções conhecidas). A propósito dos métodos
de integração numérica, dois deles são objeto dos próximos
capítulos.
-56-
2.7 - FUNÇÕES DE AIRY POLINOMIAIS
Alguns problemas práticos podem ser resolvidos
Satisfatoriamente por meio de polinômios. É o caso, por e-
xemplo, da flexão de barras sob certas condições de carre
gamento, No que se segue são expostos alguns casos, onde
soluções polinomiais resolvem alguns problemas da prática.
2.7.1 - Casos Elementares
Considere-se, em primeiro lugar, a função de AI-
RYy (que obedece a relação (2.16)):
é = ape + Agey + asy? (2.18)
que consiste num polinômio, cujos termos são do segundo
grau. Naturalmente, em face das relações (2.17), verifica-
-se, facilmente, que a inclusão de termos de grau menor em
nada altera o campo de tensão, Pois bem, a função expressa
em (2.18) corresponde às seguintes componentes de tensão
(vide (2.17)):
x = 2h,
o =2A (2.19)
y 1
Tay) TA
ou seja, um estado de tensão uniforme. Essa resposta pare-
ce trivial, porêm deve-se atentar para o fato de que tal
solução garante a existência de estados uniformes de ten-
são mesmo em casos não a nível elementar, onde a uniformi-
dade & garantida pela continuidade das funções em jogo.
-57-
É interessante constatar que, no caso de se ter
44 = Ao = 0, o problema resolvido trata-se do conhecido
problema de solicitação de uma barra por força normal, com
Ag valendo, naturalmente, P/2S, sendo P a força normal e S
a ârea da seção transversal da barra. A figura IL.3 ilus-
tra o problema em questão.
p
o + x —» 0: 24,"
-— —
y
a) Configuração dao solicitação
x — o
——»
b) Barra vinculada
ESSES
FIG. 1-3 - BARRA SOB TRAÇÃO UNIFORME
Com relação ao estado de deformação tem-se,nesse
caso de força normal, o seguinte
eciit
x E ES
2A
-- 3. VE
EV -tE (2.20)
Yuyt 050
e, com relação ao estado de deslocamento, tem-se:
-60-
9 q
º
x ] x
M Do =—— = d ) 2 [
c
Y seção
to
ot
a) Configurações de solicitação b)Configuração de tensões nas bordos
--A
= 1
+
c) Configuração de des!ocamentos
FIG. I.4 - BARRA SOB FLEXÃO PURA
sendo A uma constante. Com efeito, o estado de tensão corres
Pondente (vide 2.17) E dado por
9, = 6Ay
0. =0 (2.29)
y
T.=0
xy
e, por outro lado, a constante A estã relacionada com a mag
nitude do momento fletor aplicado; porquanto, por conside-
rações estáticas, tem-se:
/ S,dSy = M (2.29)
ou seja
al y?as =M (2.30)
/s
-6l-
ou,ainda
(2.31)
als
sendo J o momento de inércia da seção transversal. Com isso
tem-se, finalmente
o =-É
x 7”
0, =0 2,32
y ( )
T.=0
xy
º que confirma os resultados jã preconizados pela Resistên-
cia dos Materiais, No que respeita às componentes do estado
de deformação, supondo-se material obediente ã lei de Hooke,
têm-se
Cx Mm
xD CE)
cs, e - nm y (2.33)
Yayo O
Finalmente, as componentes do estado de deslocamen
to podem ser encontradas mediante um procedimento análogo ao
jã utilizado no caso anterior. De início tem-se
1
EJ
uz
yx + E, 6) + .
(2.34)
2
"My
vem T+ f,0) +00,
Todavia, a terceira das (2,33) implica em:
df, (x) d£ Cy) .
Mx
'—— * dy -0 (2.35)
ou seja, com base nas mesmas considerações jã levantadas an-
teriormente, tem-se:
Mx dE o (x) -c
EI dx 3
(2.36)
dO
dy 3
ou, ainda, por integração de (2,36):
2
= Mx
Fo(8) = Cox = 7
(2.37)
40) - -C3y
e, com isso, a (2.34) fica, agora, com a seguinte redação:
M
UE yXo Cay + ct
(2.38)
=M yº x
v = FI 05 E + Cax + C,
onde as constantes de integração Cp te c4 dependem do ti-
po de vinculação. Por exemplo, no caso de viga em balanço,
conforme exibe-se na figura Il.í4c), tem-se
4
o
u(x=y=0)
(2.39)
u
So
víx=y=0)
dvlx=y=0). q
3x
-65-
iG ndo
He-y) (y+(c-)/2) (2.44)
M = -Px
Q=-p
sendo J o momento de inércia da seção transversal, K, o mo
mento estático da área correspondente ao nível onde se cal
cula o cisalhamento, M e Q, respectivamente, o momento fle
tor e a força cortante na seção em consideração. Exibem-se
na figuraII.6as tensões que ocorrem no contorno, para es-
sa solução apontada.
diagrama
de Os,
| T | E-
— e
3 PS | x = 3?
4 be a be
4
Ndlh É
diagrama de 4 * diagrama 3 P
To P— = = de Tyy 2 cê
FIG.II-6- TENSÕES NO CONTORNO DA VIGA EM BALANÇO
Cabe, nesse ponto, esclarecer um aspecto de gran
de interesse prático, Na solução apresentada o carregamen-
to externo & dado por uma distribuição parabôlica de cisa-
lhamento na face da extremidade livre, cuja resultante e
P; todavia outras maneiras de aplicação do carregamento co
mo, por exemplo, cisalhamento uniforme num certo trecho da
face da extremidade livre e de resultante P, Esse carregar
mento promove em regiões afastadas tensões praticamente i-
guais às do caso anterior. Tal constatação fundamenta-se no
-66-
Princípio de Saint-Venant, que garante a propagação limita-
da das perturbações locais do estado de tensão, De um modo
geral, sao duas as maneiras de se enunciar esse Princípio.
la. Maneira: As tensões criadas por forças em equilíbrio-
“resultante nula - aplicadas numa parte pequena de um corpo
elástico desaparecem, praticamente, numa extensão que tem
por ordem de grandeza a dimensão da zona de aplicação das
forças.
Como ilustração imediata dessa colocação tem-se
o caso das tensões criadas por uma ferramenta de corte, co-
mo mostra a figura I1I.7a). As tensões criadas por uma tur-
quesa ao se cortar um arame ficam restritas à região do cor
te (não faz muito sentido uma propagação ilimitada, pois,se
assim fosse, os danos causados pelo corte se estenderiam por
uma grande extensao). Cumpre, contudo, chamar a atenção par
ra a necessidade de se definir bem o que seja parte peque-
na, conforme colocado no Princípio. As tensões criadas por
momentos opostos aplicados nas mesas de um perfil I, confor
me ilustra-se na figura II.7b), propagam-se para dentro da
peça, pois o perfil,nesse caso de seção delgada, comporta-
-se como se fossem as mesas duas vigas independentes, e ca-
da uma, isoladamente, sujeita à flexão (a alma por ser tam-
bêm delgada apresenta pouca rigidez transversal), Assim sen
do, a altura do perfil “h" não seria, nesse caso, uma dimen
são pequena, todavia a espessura das mesas e a da alma "d"
sim.
2a. MANEIRA: Substituindo-se um grupo deforças por outro es
taticamente equivalente - de mesma resultante - as varia-
ções criadas no estado de tensão desaparecem, praticamente,
numa extensão, cuja ordem de grandeza & de ordem das da zo-
na na qual foram aplicadas as forças.
Exemplifica-se essa segunda maneira de enunciar o
Princípio com o caso do ensaio de peças à tração. As casta-
nhas da máquina de ensaio introduzem a tração mediante pres
sões locais e forças de atrito, criando localmente, nas re-
-67-
TORQUÊS.,
G REGIÃO TENSIONADA NO GORTE b) DEFINIÇÃO DE "PARTE PEQUENA”
FIG.IL- 7- ILUSTRAÇÃO DO PRINCIPIO DE SAINT- VENANT (1º Enunciado)
giões de engaste, tensões muito irregulares, conforme ilus-
tra-se na figura II.8a), Na figura II,8b),a mesma tração é
vista como uma solicitação aplicada segundo tensão uniforme;
e nesse caso a tensão & uniforme também no interior da peça,
conforme jã visto anteriormente. Assim sendo, o Princípio de
Saint-Venant garante que em ambos os casos a tensão no inte
rior da peça, conforme mostra a figura II.7c),& uniforme
(se isso não ocorresse, os resultados obtidos em ensaios de
tração não teriam nenhuma validade).
Como se nota, o Princípio de Saint-Venant não per
mite uma definição muito clara, e também não & possível pro
vã-lo na sua generalidade, contudo sua veracidade & consta-
tada em inúmeros casos especiais de cálculo mais requintado,
Tais defeitos conceituais nao diminuem em nada a utilidade
do princípio, pois o mesmo permite, por certas idealizações,
tornar acessíveis ao cálculo problemas estruturais bastante
complexos.
+70-
Cabe esclarecer que a primeira parcela da expres-
são de 9, corresponde à jã conhecida da Resistência dos Ma-
teriais. A segunda, conforme percebe-se facilmente » Corres
Ponde a um carregamento auto-equilibrado e, mais que isso,
nos casos onde &£ >> c a magnitude do valor correspondente
& muito menor que o da primeiras o que indica a validade prá
tica da teoria técnica da flexão, O mesmo fato ocorre com
“4 segunda das expressões (2.46). Finalizando, a expressão
de Tay coincide com a preconizada pela Resistência dos Mate
riais.
2.8 - TORÇÃO LIVRE
Para simplificar a exposição, considere-se, por
exemplo, uma barra de seção qualquer, porêm constante ao ln
go do comprimento, sujeita a uma solicitação por torção, con
forme ilustra-se na figura II.10, Nessa situação, tudo indi
ca ser plausível supor que, dentre as componentes do estado
de tensão, apenas as componentes Tay e Tez? conforme siste-
ma de referência apontado na figura, assumem valores; sendo
as demais nulas em qualquer ponto da barra, Tal consideração
faz sentido, pelo menos & primeira vista, pois o exame do e
quilibrio de uma parte da barra mostra que a resultante das
tensões atuantes na seção da barra consiste apenas num mo-
mento torçor, igual e de sentido contrário ao do aplicado
na extremidade,
Pois bem, em se tratando de material elastico, li
near, homogêneo e isôtropo, aquelas considerações implicam
em algumas restrições no estado de deslocamentos. Em primei
ro lugar, pelo fato de serem nulas as tensões normais S. =
9, = 0, = 0) tem-se
a
e
e =0= (2.47)
x
o
x
“71-
E =0= 3
y y (2.47)
continuação
e, =0= 84
z az
FIG.H-|0- BARRA DE SEÇÃO QUALQUER SUBMETIDA A TORÇÃO
Com isso se percebe que o movimento u não varia com x, vw
com y e w com z, ou seja:
u=u(y,z)
v = v(x,z) (2.48)
w = wlx,y)
Por outro lado, as componentes de distorção ficam:
. Iuly,z) 5 dv(x,z)
. 5y ox
xy
= duly,z) | dw(x,y)
Vw” z + ado (2.49)
= 3v(x,2) Iwlx,y)
Yyz 5z + ay -0
7)
Tendo-se em vista que em toda as seções o momento torçor so
licitante ê o mesmo, torna-se tambêm plausível supor que
Ty e Ts não variam com x, ou seja Tay E não variam
com x. Assim sendo, de (2.49) constata-se algo de grande in
teresse. Com efeito, da primeira de (2,49) tira-se que
dv(x,2)/9x & uma função sô de 2, pois Tay não varia com x;
do mesmo modo, da segunda de (2.49) tira-se que dw(x,y)/9x
ê uma função só de y. Com relação à terceira de (2.49) duas
situações são possíveis, ou seja: ou dvlx,2)/d2 = ce
dw(x,y)/dy = -c, onde c & uma constante; ou então Jdv(x,2)/
dz = f(x) e wlx,y)/dy = -f(x), onde f(x) & uma função ex-
clusiva da variável x, O primeiro caso não faz sentido pois,
por exemplo, dv(x,z)/3x &, por força de considerações ante-
riores, uma função exclusiva de z, ou seja, v E do tipo
v= x f(z)
Assim sendo dv/dz = xf!'(z) e, por isso, não pode ser cons-
tante, Dessa forma sô resta como situação possível o segun-
do caso, e mesmo assim com f'(z) resultando constante. Es-
clarecendo melhor:
Ea = xf'(z) = Kx
(2.50)
E = xf'(y) = -Kx
onde K é uma constante. Em resumo, o estado de deslocamento
tem por componentes funções do tipo:
G(y,2)
E
“
Kxz (2,51)
q
“
w = -Kxy
-75-
FIG. I-|2— CONFIGURAÇÃO DE TENSÃO NUM VOLUME ELEMENTAR
ar aT
- - XxZ xy —
Tygdsdy Tuydudat(t + 3 dz)dxdy+(T (+ yo dy)dxdz = O
(2.56)
ou seja, cancelando os termos comuns tem-se:
day Tur
+ -——D = 0 2.57
3y Jz ( ,
ou, ainda, tendo-se em vista (2.55), essa expressão ganha
a seguinte redação:
jo?
e
+
o
e
K
o
(2.58)
a
q
a
nm
dal
u
No contorno da seção transversal, a equação dife
rencial (2.57), ou (2.58), deve obedecer as condições aí im
postas ao estado de tensão, ou seja, a componente de cisa-
lhamento normal ao contorno deve ser nula, por força do
-76-
teorema de CAUCHY, porquanto na face externa da barra su-
põe-se não haver solicitação. A figura 11.13 exibe uma se
ção transversal genérica, onde indica-se a configuração de
tensão no contorno. Tomando, para o contorno, uma coordena
da curvilínia s, a componente de cisalhamento normal ao
dz
costm)= 1
sen(m) = - SE
A
y í La
vias 1 dy
Lo
Nm
XT
z Mm 2N
tdz
a) Configuração de tensão no contorno b) Configuração geométrico no
contorno.
FIG.I. 13- CONDIÇÃO DE CONTORNO
contorno é dada por (transformação de coordenadas - do sis
tema Oyz para um sistema O0yz com o eixo y normal ao contor
no - vide (1.25)).
dz dy
t= = = - T =" = 0 2.59
* as “2 as é ?
onde o sinal negativo do segundo termo indica, no caso em
questão, o fato de y decrescer com o aumento da coordenada
s, conforme ilustra-se na figuralI.l3b). A expressãao(2,59),
tendo em vista (2,55), passa a escrever-se
Bb 332 0 (3! By .
rn Ghendeo (2.60)
-77-
2,8,2 - Equação de Equilíbrio Externo
Supondo-se a barra sujeita a uma solicitação por
momento torçor Mp o equilíbrio de uma parte genérica
da
barra, tendo em vista a configuraçao de tensões apontada na
figura I1.l4, implica em:
FIG.U-14 - CONFIGURAÇÃO DE TENSÃO NA SEÇÃO
K, = k Coua Tay IS
ou, ainda, tendo-se em vista (2,55):
3 3 2,.2
HM, = co E y- se z+y“+z")dS
Chamando
º Bv. 2,2
1 [8 Jp My tz jds
de (2,62) tira-se, pois
(2.61)
(2.62)
(2.63)
-80u
e verifica-se que a expressão (2.70) exprime, em verdade,
a condição
o (2.71)
ou seja, a condição de contorno, agora em termos da função
$, exprime-se na forma de é constante no contorno(dbe/ds= O
implica em é = constante no contorno s), Tendo-se em vista
que as grandezas de interesse em jogo dependem de deriva-
das da função $, é natural arbitrar-se um valor nulo no
contorno para tal função; o que permite simplificar a par-
te numérica do problema.
As condições expressas em (2.64) ficam tambêm o-
bedecidas, pois, por exemplo:
3
z [: ds [as (2.72)
g Ez g *Y
o
u
ou seja:
o
N
24 [y
- [2 2 26 alas (2.73)
z dy
Zz 1
1
onde 2) 29» 9, € 79 são ordenadas genêricas do contorno;
72
3» - -
Í, 5 dy = 00) 907) = 0 (2.74)
nm
pois, no contorno, é, conforme já mencionado, é constante.
De modo similar verifica-se 8 = 0 (primeira das (2.64)).
Para £
tem-se:
Por outro lado
Í
porém, integrand
E
3y
f 34
ss
»
onde:
y2
ty
”
quando se consid
fx
s Y
De modo similar
Í
e, assim sendo,
que:
dé
dz
-81-
inalizar, levando, agora, (2.66) em (2.61)
, 3y 9 * Jg 2)ds (2.75)
z fy
yds f || 2 ML vayjáz (2.76)
z y y
1 “1
o por partes, ter-se:
y y .
ydy = 4y/ 2 - Í 2 dy (2.77)
” 1
-0 (2.78)
era & = 0 no contorno. Com isso tem-se
yds = - [ 4ds (2.79)
s
tem-se também
zdS = - [eus (2.80)
s
tem-se finalmente
-82-
Mp =-2 das (2,81)
[a
Nessa nova formulação o problema da torção de bar
ras de seção constante qualquer consiste na procura de uma
solução da equação diferencial (2.69), cuja condição de
Contorno expressa-se pela nulidade da função no contorno
(equação de LAPLACE).
2.8.4 - Primeiro Exemplo de Aplicação
Considere-se, por exemplo, o caso da torção de
barra de seção circular, cuja solução jã se conhece da Re-
sistência dos Materiais, Trata-se, aqui, apenas de consta-
tar que aquela solução & correta sob todos os aspectos.
De início, considere-se a seguinte função:
0 = K(y2ez2-r2) (2.82)
a qual, como se percebe facilmente, anula-se no contorno
do círculo de raio "Rº, conforme ilustra-se na figura 11.15
Levando (2.82) em (2.69) tem-se:
y y
a) Seção b) Configuração de tensão
FIG I- 15- SEÇÃO CIRCULAR DE RAIO “R”.
-85-
porquanto as primeiras parcelas são identicamente nulas (no
te-se, a propósito, o expresso em (2.88)), Obviamente a G-
, Pp , Pp
nica solução viavel em face de (2.93) E a condição
v=0 (2.94)
ou, em outras palavras, no caso da seção circular a torção
não promove distorção. Convêm esclarecer que as hipóteses
da Resistência dos Materiais levaram à solução desse parti
cular problema por causa dessa propriedade;nos demais uma
imposição na distribuição das tensões não apresenta suces-
so, dada a complexidade real de tal distribuição (de certa
forma, a ocorrência de empenamento dificulta visualizar u-
ma plausível distribuição de tensão).
2.8.5 - Analogia de Membrana
O problema da torção ê, do ponto de vista pura-
mente matemático, em tudo parecido com o problema do equi-
líbrio de uma membrana sujeita à pressão; e por essa razão
existe uma analogia entre tais problemas.
A figura II.16 mostra uma configuração genérica
de equilíbrio de uma membrana sujeita a uma pressão inter-
na “p", onde h é a ordenada da superfície assumida pela
membrana. No contorno a membrana encontra-se vinculada, ou
Seja, no contorno tem-se h nulo. Pois bem, dentro da consi
deração de pequenos deslocamentos (h pequeno em face das
dimensões da membrana) o equilíbrio da membrana assim se
expressa (vide fig. II.l6b) e c)X
p dedy = 2sdysengê + 2sdusenth” (2.95)
-86-
o
CONTORNO 4 “PRESSÃO p
o) Membrono b) Elemento de c) Vista lateral
membrona
FIG. .I6- CONFIGURAÇÃO DE EQUILÍBRIO DE MEMBRANA
onde s & a força por unidade de comprimento da membrana, su
posta constante, dO e d9! são os ângulos contidos entre os
raios de curvatura segundo os planos xz e xy. Em se tratan-
do de pequenos deslocamentos têm-se ainda:
- 9h
Rr
er= 2h
ay
3 (2.96)
send6/2 = ao/2 = -1/2 2 az
3z
, vo = 32h
send6/2 = de6'/2 =-1/2 = dy
3y
e, com isso a expressao (2.95) passa a escrever-se
2 2
2h, 92h... 2 (2.97)
ay az
Cabe esclarecer que, nas deduções aqui apresentadas, as sim
plificações decorrentes da consideração de pequenos desloca
-87-
mentos são as seguintes, Em primeiro lugar, da consideração
de h pequeno decorre pequenas inclinações na membrana,e com
isso tem-se 8 z senê = tg0 =dh/dz, ou dh/dy = tgb'=send! 2
6', Por outro lado em sendo 6 e 8! ângulos pequenos tem-se
tambêm cosô 2 cos8! 21,0, e, com isso, a projeção horizon
tal da ârea do elemento infinitesimal de membrana dydz coin
cide com a ârea desse elemento. Para finalizar, cabe ainda
ressaltar que o sinal negativo nas duas últimas das (2.96)
provêm do fato de 0 e 6! decrescerem, respectivamente, com
z ey, ou seja, as segundas derivadas de h são negativas;
lembrando-se de terem sido os ângulos considerados em pri-
meira determinação na equação de equilíbrio (2.95). Além dis
so resta ainda chamar a atenção para o fato de se considera
rem verticais os raios de curvatura. A equação (2,97) & co-
nhecida como Equação de Laplace,
Tendo-se em vista a mesma natureza matemática das
equações (2,97) e (2.69), inclusive no que diz respeito 3s
condições de contorno (h=0 e $=0 no contorno), pode-se di-
zer que, a menos de um fator, as duas funções, h e são
q , , , ,
idênticas, ou seja:
h = -Ké (2.98)
- : : e a all :
onde K e um fator constante, cuja dimensão & F L (bh tem di
mensão de comprimento e à tem dimensão de força por unidade
de comprimento - a derivada de 6 tem dimensão de tensão).
Essa analogia permite, mediante a experimentação
com membrana de bolha de sabão, cujas propriedades satisfa-
zem a condições estabelecidas (s constante e no contorno não
ocorre perturbações de molhamento), obter os parâmetros de
torção Je W, que constituem os parâmetros geométricas da
seção de interesse no caso. Comefeito, de (2,81) e (2.98)
2
My = a f gds = 2 feas (2.99)
tem-se:
-90-
onde f & a inclinação da membrana segundo à direção 2, ou,
tendo-se em vista (2.101) e (2.103):
1 M,8
T= 268 PTE B = = (2.109)
ou seja:
2V
up = (2.110)
max
onde emax & a maior inclinação verificada na superfície as
sumida pela membrana (Cãx = MW.
2.8,6 - Segundo Exemplo de Apiicação
Considere-se por exemplo a função:
2
6 = u(y2-+2/4) (2.211)
que assume para y = £t/2 valor nulo, Trata-se, por conse
guinte, da solução de um problema de torção de uma barra,
cuja seção transversal & um retângulo de comprimento, a ri
gor, infinito (vide fig. II.i8a)). Todavia, cabe ressaltar
que tal solução constitui uma boa aproximação para os ca-
sos de retângulosmuito delgados (fig.II.18b)), visto que o
volume deslocado pela membrana correspondente & prâticamen
te o mesmo, tendo ou não c retângulo comprimento infinito.
Em verdade, as perturbações existentes nas extremidades do
retângulo comprido pouco alteram o resultado final e, mais
que isso, as grandes inclinações da membrana não ocorrem
nas extremidades e sim ao longo das bordas mais longas.
Pois bem, levando (2.111) em (2.69) tem-se
K = c8 (2.112)
-91-
Y
+
ES 7 tu
a) Retangulo de comprimento infinito b) Retangulo muito delgado
Ut <c<oe)
FIG. .|B- SEÇÃO RETANGULAR DELGADA
Por outro lado, levando (2,112)em (2.81) tem-se:
+c/2 +t/2 23
Hj = of Í coty"-tê/4)dyjdz (2.113)
-e/2 »t/2 .
ou seja:
o tie
HM = 6 =— (2.114)
e, com isso, tendo-se em vista (2.63); tem-se:
. tie
Je (2.115)
Com relação à inclinação, ou tensão de cisalhamento tem-se
- 36 1
Tea TT 288y (2.116)
sendo que o maximo cisalhamento ocorre, naturalmente, para
y = tt/2, ou seja:
T = GOt (2.117)
max
-92-
e, com isso, tem-se, tendo em vista (2.116):
3M
Tmax * Ot (2.118)
]
ou seja
e
o
a = (2,119)
A solução aqui apresentada serve de base para re
solver também os casos de secção transversal formada por re
tângulos alongados, a exemplo do ilustrado na figura 11.19,
Nesses casos, onde as perturbações criadas nas regiões de
conexão dos retângulos não introduzem alterações apreciã-
veis, os parâmetros podem ser assim estimados:
Lt
+ == -
| 1
I
I
I
l
Pot
L=D""D—
FIG .19- SEÇÃO ABERTA DE PAREDE DELGADA( b<<h)
1 23
J,=3 2 LT
i=l
(2.120)
1 23
gro dote;
max i=l
onde n é o número de retângulos na seção. Cumpre esclare-
cer que, na regiao de maior espessura, o cisalhamento E mã
ximo, porquanto nessa região a inclinação da membrana & ma
ior, daí a presença de tagx PO denominador da segunda das
(2.120).