Baixe Conselho Federal Médico sobre SURDOS-MUDOS e outras Notas de estudo em PDF para História, somente na Docsity! 8 de junho de 2003 Prezados membros do Conselho Federal de Medicina, Prezados membros do Conselho Editorial do Portal Médico, Prezado Ítalo Carvalho. O artigo, “Protetização Auditiva”, de autoria de Ítalo Carvalho, publicado na revista do Conselho Federal de Medicina (Dezembro/ 2002 – Janeiro/2003)1 foi lido e divulgado entre membros da Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos (FENEIS), e do Grupo de Trabalho (GT) Linguagem e Surdez da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Letras e Lingüística (ANPOLL). Fazem parte do GT surdos e ouvintes, professores e pesquisadores de várias universidades brasileiras O GT como um todo, bem como os demais signatários deste documento, vêm manifestar a preocupação do grupo em relação ao referido artigo. Chamou-nos a atenção o fato de o texto estar incluído em uma seção intitulada Atualização Científica quando, em verdade, o texto apresenta, ao lado de informações sobre próteses auditivas, uma série de afirmações anacrônicas, infundadas e preconceituosas. Destacamos a seguir, alguns trechos:2 ! " #$ #$ %& & ' ( ) * + ' ! ( , " O discurso de Carvalho mostra sua afinidade com uma longa e infame tradição de desconhecimentos e equívocos sobre a surdez. O autor faz ecoar uma concepção de surdez que remonta à antiguidade ao considerar as 1 Disponível em: http://www.portalmedico.org.br/jornal/jornais2002/dezembro/pag_13.htm; acessado em 8 de junho de 2003. 2 Negritos nossos. pessoas surdas vítimas de uma desgraça e à margem da humanidade plena. Apenas para efeitos de ilustração da história da qual Carvalho é o mais recente porta-voz, recortamos aqui alguns enunciados: % )$ # ' - $ $ #$ * ./01,2+/3+ ' - 4 4 5 ) ) ) ' ) - ,' & ' 6 ) ) # #$ 4 - $ $ 4 ! " #$ %%& O discurso clínico-terapêutico sobre a surdez, no qual Carvalho se insere, pressupõe que as únicas medidas que possam resgatar pessoas surdas dos efeitos sociais e psicológicos negativos da surdez passam pela restauração da audição e aprendizagem da fala. Mas mesmo assumindo tal perspectiva, Carvalho é ousado ao relacionar a surdez diretamente com distúrbios morais e psíquicos. É comum encontrar entre clínicos a compreensão de que eventuais efeitos psicológicos e sociais que possam ser encontrados entre pessoas surdas são produzidos não pela condição orgânica de ser surdo, mas sim pelo ambiente social que não se adapta à diferença e que tende a estigmatizá-la.6 A versão mais pessimista dessa abordagem é adotada por aqueles que acreditam que os “efeitos secundários” (psicológicos e sociais) da surdez são inevitáveis porque, sem a audição (e a língua oral), as pessoas surdas não têm acesso ao mundo simbólico. 3 DEGÉRANDO, J. M. (1984 [1800]) Dos signos e da arte de pensar em suas múltiplas relações. Trad. Franklin Leopoldo e Silva e Victor Knoll. 3. Ed., São Paulo: Abril Cultural (Coleção Os Pensadores) 4 LEITE, T. (1881) Compêndio para ensino dos surdos-mudos. 3ª ed. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert. 5 WHITE, L. A. (1949) The symbol: The origin and basis of human behavior. The science of culture. Evergreen. Ch. 2: 22-39. 6 Conforme ensinava Vygotsky. VYGOTSKY, L. (1989) Fundamentos de defectologia. (Trad. Lic. Ma. Del Carmen Ponce Fernández). Habana: Pueblo y Educación.