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As plantas medicinais dos quintais de Mimoso:Uma abordagem a partir da Educação Ambiental, Notas de estudo de Agronomia

Conservação; respeito à diversidade natural, social, às comunidades e suas culturas enfim, à vida em sua plenitude, são premissas da Educação Ambiental (EA). Pesquisas apoiadas nas ciências exatas, sociais e biológicas, buscam perceber as relações existentes entre o ser humano e o ambiente, na perspectiva da conservação natural e cultural, considerando as práticas conservacionistas que existem nas comunidades pantaneiras, chamad@s de ?tradicionais?, devido a seus modos de vida e organizações soc

Tipologia: Notas de estudo

Antes de 2010

Compartilhado em 26/10/2007

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Baixe As plantas medicinais dos quintais de Mimoso:Uma abordagem a partir da Educação Ambiental e outras Notas de estudo em PDF para Agronomia, somente na Docsity! Universidade Federal De Mato Grosso Instituto de Biociências Sandro Nunes Vieira As plantas medicinais dos quintais de Mimoso: Uma abordagem a partir da Educação Ambiental. Monografia apresentada ao Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito para obtenção do Grau de Licenciado em Ciências Biológicas. Orientadores: Edward Bertholine de Castro Professor do Instituto de Biociências da UFMT Departamento de Biologia e Zoologia. Michèle Sato Professora Doutora do Instituto de Educação da UFMT Departamento de Ensino e Organização Escolar Cuiabá, Março de 2003 II DEDICATÓRIA Ao Sr. Heron e Sra. Thildes, pelo amor, dedicação, correções, força, caráter, perseverança e apoio, e ainda, por serem à base de sustentação mais sólida ao qual posso me espelhar. Ao meu irmão Carlos e sua esposa Glaucia, meus sobrinhos: Wendell, Karine, Kenedy, Vitor, Matheus e Weslley. Á comunidade de Mimoso, pelos momentos especiais e aprendizados. Abstract .................................................................................................................VIII 1- Introdução ................................................................................................................ 1 2 - A Educação Ambiental, socialização, respeito e participação ................................. 6 3- As comunidades “tradicionais” ................................................................................. 10 4- A diversidade cultural e seu re-conhecimento............................................................12 5- Mimoso uma realidade enquanto área de estudo .......................................................14 6- Uma experiência. ...................................................................................................... 15 7- Comunidade biológica e social. ................................................................................ 15 8- Conservação social e natural – Procedimentos e necessidade. ................................. 18 9- Biodiversidade ... mantendo e colaborando................................................................19 10- Conhecendo a diversidade e usos da flora medicinal de Mimoso............................20 11- Instrumental de Pesquisa... ...................................................................................... 3 11.1. - Objetivos Gerais ........................................................................................... 3 11.2.- Apontamentos metodológicos. ...................................................................... 4 12- Resultados e Discussão: .......................................................................................... 21 Apresentando os usos da flora: A comunidade enquanto disseminadora do conhecimento. ................... 23 12.1- Diagnóstico dos usos das plantas em seu cotidiano pel@s morador@s da comunidade de Mimoso: ......................................................................................... 22 14 - Conhecer, oportunizar, compartilhar... educar e aprender. .................................... 25 15 – Considerações Finais: ............................................................................................ 28 16 - Bibliografia ............................................................................................................ 37 17- Bibliografia Consultada........................................................................................... 37 VII Resumo Conservação; respeito à diversidade natural, social, às comunidades e suas culturas enfim, à vida em sua plenitude, são premissas da Educação Ambiental (EA). Pesquisas apoiadas nas ciências exatas, sociais e biológicas, buscam perceber as relações existentes entre o ser humano e o ambiente, na perspectiva da conservação natural e cultural, considerando as práticas conservacionistas que existem nas comunidades pantaneiras, chamad@s de “tradicionais”, devido a seus modos de vida e organizações sociais particulares. Através de observações e entrevistas participativas, pesquisas de campo e bibliográfica além de, consultas a técnicos, resgatou-se, através do conhecimento da comunidade de Mimoso (Pantanal de Mato Grosso) os usos das plantas medicinais existentes nos quintais d@s morador@s. Buscou-se estabelecer o diálogo entre o conhecimento científico e o popular, na perspectiva de favorecer espaços na Educação Formal aos princípios e práticas da Educação Informal, oportunizando a tomada de decisões da comunidade em torno da conservação e manutenção de seu ambiente natural e social, que é premissa da EA e “meta”do biorregionalismo. Os resultados constam de um número superior a 20 espécies, que são utilizadas em suas práticas medicinais, que são carregadas de simbologias e crenças. Vegetais como o assa-peixe (Vernonia sp.), cansação (Jatropha urens Muell.) e cordão de São Francisco (Leonotis nepetaefolia (L.)R. Br.), que na comunidade, são indicados para a pneumonia, alergia e problemas renais respectivamente. Esses vegetais encontrados no Pantanal de Barão de Melgaço na região de Mimoso mostra-nos a diversidade cultural e natural através do conhecimento e beleza da simplicidade que se estabelece com a dinâmica da água e com a qual as comunidades pantaneiras sabem de forma impar se adaptar e viver. Palavras chaves: Educação Ambiental, Plantas Medicinais, Pantanal Mato- grossense, Comunidades Tradicionais, Mimoso. V III Abstract Conservation, respect towards natural, social diversity, towards communities and their cultures in short, towards life in its plenitude, are premises of Environmental Education (EA). Researches based on exact, social and biological sciences, seek to perceive the relations existing between human being and environment, in the perspective of natural and cultural conservation, considering the conservationist practices which exist in the Pantanal communities, called “traditional”, due to their ways of life and peculiar social organizations. Through observations and participating interviews, bibliographical researches and on the field, besides, consultations to specialists, were recovered, through the Mimoso (Mato Grosso Pantanal) community's knowledge the uses of medicinal plants existing in the inhabitants' gardens. We tried to establish the dialogue between scientific and popular knowledge, in the perspective of favouring spaces in Formal Education for the principles and practices of Informal Education, giving the opportunity to the community's taking of decisions about conservation and maintenance of its natural and social environment, which is a premise of EA and the “aim” of bio-regionalism. The results consist in a number superior to 20 species, which are used in their medicinal practices, and which are loaded of symbols and beliefs. Vegetal such as assa-peixe (Vernonia sp.), cansação (Jatropha urens Muell.) and cordão de São Francisco (Leonotis nepetaefolia (L.)R. Br.), which inside the community are indicated for pneumonia, allergy and kidney problems respectively. These vegetables found in the Pantanal of Barão de Melgaco in the Mimoso region, show us a cultural and natural diversity through the knowledge and beauty of the simplicity which establishes itself with the dynamics of water and with which the Pantanal communities know in a singular way how to adapt themselves and live. Key-words: Environmental Education, Medicinal Plants, Mato Grosso Pantanal, Traditional Communities, Mimoso. 1 - INTRODUÇÃO: Mimoso é uma comunidade sem muitos recursos financeiros, cuja população é caracterizada por pequen@s1 produtor@s rurais e pescador@s (hoje em número bem 1 Acatando recomendações da rede internacional de gêneros, usamos o símbolo “@”, no sentido de oportunizar o espaço para ambos os sexos, e assim, evitando linguagem que privilegie um ou outro, pois os espaços na sociedades devem ser iguais independente de cor, sexo ou credo. menos afortunada, várias “agressões” e causando rupturas intelectuais e sociais, que causam uma sobreposição sócio-cultural e econômica. A EA busca a igualdade, sem sobreposição de raça, cor, sexo ou intelecto, no intuito da busca aos direitos e deveres de reais cidadãs e cidadãos, e para que, compreendam, o sentido de cidadania, que não é apenas votar, torcer na copa do mundo pela sua seleção. Deve-se, também, colaborar com a educação das pessoas, para que possam lutar pelos seus direitos e exigir o seu cumprimento. É colaborar para um país mais igualitário, sem separações sociais, econômicas e culturais. Refletir um espírito que como diz HERCULANO (2000:105), seria “o espírito de solidariedade e criticidade”. A EA procura fazer a interligação com as diversas áreas do conhecimento, há a necessidade de pesquisa constante, para colaborar e implementar os quesitos básicos para a construção de uma Educação voltada a todos os ambientes sociais e naturais. Sendo assim, FREIRE (2000:32/33) salienta sobre a pesquisa e a educação: "Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervendo, educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade". A necessidade de um plano de EA que privilegie os conhecimentos da própria comunidade se faz cada vez mais presente, principalmente a partir do momento em que é conhecida a situação em que se encontra o pantanal, em especial a localidade em estudo. Cremos que devemos transformar nossa práxis e incorporar a paixão e o respeito pelo nosso ambiente, noss@s irmãos e irmãs, cidadãos e cidadãs, seja ele pantaneir@, amazônic@, nordestin@. Somos uma nação de diferentes pensamentos, ações e vivências, isso é que ocasiona a imensa diversidade “da nossa pátria mãe tão gentil”. 3- As comunidades “tradicionais”. Quando se menciona a palavra tradicional, muit@s lembram logo da forma de ensino. Aquela que considera @ alun@ como uma pessoa que nada sabia até ingressar na escola, ou que só lhes reconheciam como um ser histórico após a sua inserção no ensino formal, desprezando seus conhecimentos e saberes, colocando-@s em um estágio de papel em branco; só por não possuírem conhecimentos aquela formalidade acadêmica ou proporcionados pela educação formal. Muitas vezes el@s são chamad@s de “atrasad@s”, “primitiv@s” e outros termos pejorativos. Isso, devido a essas comunidades manterem um certo “afastamento” da “civilização” (aquela mesma “civilização” que mata, rouba, destrói e humilha tudo o que puder só para ter benefícios próprios), e por isso, esses cidadãos e cidadãs são de certa forma discriminad@s. No sentido de desmistificar esse estereótipo, refletir-se-á a partir de algum@s autor@s três pontos: símbolos, conhecimento e cultura. Sob a ótica de ARANTES (1981: 35/36), os símbolos não estão a esmo dentro de uma comunidade/cultura, pois, esses símbolos derivam da convivência do ser humano com a natureza e seu cotidiano. El@s são expressos através da “língua” e as suas múltiplas “falas”, e das questões sociais nas quais estão envolvid@s, mesmo que os interesses sejam diversos e divergentes, principalmente das demais culturas. Sendo assim, muito da cultura e sapiência que uma comunidade possui, vem da tradição oral, que em Mimoso é bastante evidenciado principalmente nas narrativas d@s mais experientes. Conforme COSTA (1999: 4), essas tradições orais são às vezes complexas e bem elaboradas, devido a quantidade de símbolos que estão implicitamente inclusos, e vão de fatos históricos às vivências. Podemos perceber isso, através de exemplos d@s Maias, Incas e outras civilizações, que deixaram símbolos que até hoje estão sendo decifrados. COSTA (op. Cit), ainda ressalta que a principal fonte desse conhecimento advém d@s contador@s de histórias que não faziam uso de linguagem escrita mas que, através da troca dialogal, expressavam a cultura e a história daquela sociedade. Que a diversidade de cultura seja respeitada pela sua beleza, história e sabedoria. Esta também é premissa da EA, respeito a toda e qualquer manifestação cultural, pois, dessa forma a beleza é evidenciada em nuances e facetas maravilhosas e ricas. SATO & PASSOS (2002, p. 231), apresentam a seguinte opinião: “A diferença entre nós e estes povos está no fato de que eles percebem a diversidade nas relações com a sociedade dominante que se constitui como alteridade em relação às suas vidas e significações; a sociedade dominante por sua vez é cega em relação à diversidade que eles constituem. Esta é uma radical diferença entre eles e nós, de fundo, de significação e portanto de identidade e autocompreensão”. Conservar essa diversidade é não sujeitar-se ao “abafamento” e uniformização promovida pela “cultura capitalista”, que cada vez mais se impõe. O consumo excessivo, a cultura massificada e o apego aos bens materiais, fazem com que o reflexo capitalista, torne- se cada vez mais destrutivo aos aspectos culturais e naturais de vários países. A comunidade de Mimoso, ainda não está tão exposta a essa massificação, pois resiste e conserva os traços de sua cultura e ambiente, apesar das influências externas. Isso é um estímulo para se conhecer melhor Mimoso que traz consigo saberes diferentes ao qual não nos cabe ignorar e se prender ao “científicismo”. O saber presente em Mimoso oferece-nos a oportunidade de buscar a união entre os dois (conhecimentos acadêmico e popular) para assim, conseguir o diálogo e alcançar o objetivo comum que também é premissa da EA: respeito a tod@s, e evitar a fragmentação dos saberes. Não buscar essa fragmentação é contemplar o conhecimento acadêmico e o popular, e não tão somente ensinar, e sim, ensinar-aprendendo e aprender-ensinando. Assim procura-se construir de forma conjunta esse projeto de buscar princípios e valores que propiciem uma melhor qualidade de vida, através da diversidade de opiniões e pensamentos. Dessa forma, a relação ser humano-natureza, deve ser pensada na forma de uma corrente, onde todos os elos (independente de suas formas, tamanhos, espessuras ou cores) são importantes, e a quebra ou o enfraquecimento de um deles, pode causar a vulnerabilidade. Essa é a corrente que BOFF (2001: 25), chama de “corrente única de vida”. pressão econômica e social, que favorece o êxodo rural, principalmente dos jovens, que partem em busca de empregos e de estudo em áreas que possam inseri-l@s no mercado de trabalho das cidades. Com isso, houve uma mudança na estrutura da comunidade, pois, esses jovens ajudavam suas famílias na roça e em outras atividades que visavam a manutenção da família e indiretamente da comunidade. A comunidade de Mimoso, onde se desenvolveu o presente trabalho através do Projeto Educação Ambiental Como Prática Sustentável das Comunidades Pantaneiras, ou simplesmente, projeto MIMOSO, que ancora seus objetivos no respeito e valorização cultural e natural. O trabalho enfocou os usos das plantas medicinais existentes nos quintais da comunidade de mimoso que, foram percebidos na ótica de Da SILVA & SILVA (1995:7) como (...) importantes unidades de recursos gerados pelo trabalho feminino, através do plantio de fruteiras e de criação de animais domésticos. Salienta-se que também há os vegetais com uso medicinal. POTT & POTT (1999) em pesquisa sobre os vegetais da região pantaneira, contabilizaram 1.863 espécies, identificados em 774 gêneros e 136 famílias, que estão adaptados à região. Sobre a diversidade que existe em Mimoso e conseqüentemente no pantanal, SATO & PASSOS (2002, p. 253) relatam: "A comunidade é uma grande miscigenação que agrega, brancos, negros e índios (bororo), daí se vê a grande diversidade que há na região, sendo localizado no pantanal mato-grossense, a característica de planície, também é constatada, a região apresenta um relevo que tem características bem marcantes que são desde morros com matas, cerradão e cerrado”. Mimoso refere-se segundo Da SILVA & SILVA (1995:63) ao núcleo da sesmaria e situa-se na fralda do morro redondo, onde está construída a igreja de Santo Antônio, a escola Santa Claudina, em homenagem à mãe de Rondon, o posto telefônico que foi construído homenageando Rondon. Apesar de ter-se retirado espécies nobres de madeiras, características fisionômicas da mata são mantidas. Segundo Da SILVA & SILVA (op.cit.) Esta unidade de paisagem é utilizada para retirada de madeiras, de plantas medicinais e para fuga do gado durante as cheias. Sobre as áreas de formações “típicas” de pantanal, BRITSKI (1999) descreve o pantanal como uma extensa planície sedimentar, localizada no centro oeste do Brasil, com relevo uniforme no geral e com altitudes aproximadas de 100 metros. BRITSKI (1999: 11/13) ainda salienta: “ (...) o complexo do Pantanal, é um mosaico de comunidades muito diferentes que apresenta mudanças abruptas, geralmente correlacionadas com a topografia, e muitos ecótonos; e ainda incorpora elementos dos principais tipos de vegetação vizinhos, que são o cerrado, a floresta amazônica e a do chaco. A floresta semidecídua é intercalada com o cerradão. Esse tipo de floresta está relacionado, na sua composição específica, tanto com a do chaco quanto com a da região de transição amazônica.” Essa rica diversidade biológica é o que faz do pantanal e de suas comunidades circunvizinhas, parte fundamental na conservação tanto cultural como natural da vida pantaneira. KLOETZEL (1994:8) revela-nos que em ambientes distintos, quando há perturbações e deslocamento de espécies, pode acontecer o processo de perda desses indivíduos e, conseqüentemente, o comprometimento daquela biota. Através do diálogo que insere a pesquisa, buscou-se colocar os resultados desta para serem utilizados como auxílio para os seus estudos e vida. É conhecido que a representação desses povos, intitulados como “tradicionais” ou “ribeirinhos”, é de que a natureza é parte de sua vida, é onde tiram o seu sustento, e seus remédios; isto constitui uma relação intrínseca com o ambiente, sendo este “parte do povo pantaneiro". Evidenciando que, quando há participação comunitária nos processos ligados à manutenção e conservação de ambientes, os resultados caminham para o êxito maior em relação aos outros projetos intervencionistas com fins “variados” que, portanto, não fazem esse elo entre comunidades circunvizinhas e seus ambientes. É válido lembrar que essas comunidades vivem há muito tempo naquele ambiente e conhecem, de forma particular, todas as peculiaridades e fenômenos que lá existem. 6- Vivenciando a teoria. O projeto MIMOSO, que conta com o financiamento e o apoio do Global Environmental Facility (GEF), Organização dos Estados Americanos (OEA), Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e Agência Nacional das Águas (ANA), visa valorizar a diversidade cultural e natural da região pantaneira. Ancorado na proposta das teorias biorregionais que segundo SATO (2002) e SATO (2000 B) : É uma tentativa de resgatar uma conexão intrínseca entre comunidades humanas e a comunidade biótica de uma dada realidade geográfica(...) e buscam o conhecimento local através das análises biológicas e narrativas da região”. O projeto tem como uma das suas metas a gestão dos recursos naturais pela própria comunidade, tendo como perspectiva a participação da população nas ações e decisões dentro e fora do projeto, de forma crítica e reflexiva. Uma das ferramentas utilizadas é o resgate histórico com a população, que apresenta e representa símbolos variados para “conviver com o mundo”, ARANTES (1995:26/28), contribui que: “Essa diversidade, que se desenvolve em processos históricos múltiplos, é o lugar privilegiado da ”cultura” uma vez que, sendo que em grande medida arbitrária e convencional, ela constitui diversos núcleos de identidade dos vários agrupamentos humanos, ao mesmo tempo que os diferencia uns dos outros. Pertencer a um grupo social implica, basicamente, em compartilhar um modo específico de comporta-se em relação aos outros homens e à natureza”. Sobre esse ponto SAUVE (1996 apud: SATO, 1997:12), contribui, dizendo-nos o tipo de representação de ambiente, como lugar para se viver : “EA para, sobre e no, para cuidar do ambiente. A natureza com os seus componentes sociais, histológicos e tecnológicos. (...) Lugares ou lendas sobre a natureza". O resgate desta interação, almeja a compreensão, por parte d@s morador@s, alun@s e professor@s da comunidade de Mimoso e região, da importância da biodiversidade no seu dia a dia, preparando-os e quem sabe evitando a perda desta diversidade. Ouvir as palavras principalmente dos moradores mais antigos, é de grande importância para se conhecer os fatos que permeiam as relações dentro da comunidade. Perante esse fato, urge a necessidade de se conhecer o passado e o presente desta comunidade para que @s própri@s morador@s, possam pensar em um futuro equilibrado e melhor. 7- Comunidade biológica e social. Para definir comunidade RICKLEFS (1996: 334),apoiado na ecologia, apresenta-nos: "Usualmente, aplica-se a um grupo de populações que ocorrem juntas, freqüentemente denota-se associações de planta e animais que ocorrem numa localidade particular denominada por uma ou mais espécies predominantes ou por uma característica física”. Apesar de um certo equilíbrio, há ainda, grandes perdas “A diversidade de espécies tem se mantido aproximadamente estabilizada ou no máximo em um ritmo de crescimento vagaroso, embora pontuado por breves períodos de extinção acelerada em poucas dezenas de milhões de anos”. (WILSON op. cit.7). pois, o que está em “jogo”, são as relações entre ambiente e ser humano. Mas buscando-se um suporte no que diz LÈVÊQUE ( 1999: 13/14): “O termo “biodiversidade”, contração de diversidade biológica, foi introduzido, na metade dos anos 80, pelos naturalistas que se inquietavam pela rápida destruição dos ambientes naturais e de suas espécies. Logo foi popularizado, quando das discussões que tiveram lugar ao redor da assinatura da convenção sobre a diversidade biológica, na época da Conferência do Rio de Janeiro, em 1992.” O ser humano é o grande responsável por essa perda e desestabilização global, que poderá tornar-se uma grande catástrofe se assim continuar. Devemos lembrar e pôr em prática o que SATO & PASSOS (2002: 222), enfatizam sobre as três esferas multidimensionais. “um rico ‘menu’ da biodiversidade a ser preservada por uma política que pense a vida humana como resultado do conjunto vivo e dinâmico do ecossistema, pois os grandes inimigos desta biodiversidade, são os grandes proprietários de terras, que arrasam a vegetação, erradicam as espécies do pantanal e impõe uma fisionomia alienígena, além de ter um impacto muito grande sobre a população e as relações sociais dela”. As ações para a manutenção e conservação dessa biodiversidade, são de cunho teórico e prático, as quais buscam a legislação e outras formas de legitimação. Sabemos que desde 1972, através da Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio ambiente, em Estocolmo, e várias outras convenções, tratados, simpósios e congressos foram realizados para tratar sobre tal questão. Citemos alguns para compreender a área de atuação ou não desses documentos e ações: A Carta da Terra, Agenda 21, Protocolo de Kyoto, Convenção sobre as mudanças climáticas e também sobre a desertificação e, mais recentemente, a RIO +10. Porém, mas, as que conseguiram maior êxito são as de criações de parques, reservas, unidades de conservações, jardins botânicos, entre outros, devido a prática tanto de manutenção como a legislativa. Quando as comunidades participam das atividades e projetos de conservação, estes também trazem resultados importantes, como é o exemplo do Movimento Cinturão Verde, lançado pelo Conselho das Mulheres Quenianas (NCWK), que segundo BARBIERI (1996:47): “emprega a capacidade de trabalho e recursos locais, estimulando as comunidades a tomarem o destino nas próprias mãos. Incentiva, assim, a autoconfiança das pessoas do lugar, convencendo-os de que não são incapazes e atrasadas". Em Mimoso, os antecedentes do projeto colaboram de forma semelhante para que a comunidade soubesse valorizar-se. Quando foi iniciado o projeto MIMOSO, @s morador@s já despertaram esse sentido de poder colaborar e de situar-se como parte do processo e não como objeto de pesquisa. Talvez essa seja a chave que abriu oportunidade de projeto: O respeito mútuo entre comunidade e “pesquisador@s”. A EA nos ensina a compartilhar sentimentos e vivências e assim, tornar possível a melhor “aceitação” no desenvolvimento do trabalho com as outras pessoas, sendo assim temos responsabilidades, que ILTIS (op. cit.135), alerta-nos: “A lua e os planetas continuarão onde estão para sempre, mas a diversidade biológica da terra está sendo exterminada agora. Portanto, é imperativo que estudemos e preservemos cuidadosamente a natureza neste planeta agora, pois será nossa ultima chance de assegurar que a biodiversidade sobreviverá para as futuras gerações.(...) Não apenas biólogos e agrônomos, mas cada cidadão pensante, cada político responsável e cada líder religioso desempenha um papel indispensável.” 10- Conhecendo a diversidade e usos da flora medicinal de Mimoso. Há coisas aparentemente complexas e com profunda beleza, que até pode-se achar que é a perfeição diante à sua complexidade. Mas, na verdade, toda essa complexidade encerra-se na simplicidade de pequenas coisas, gestos, ações e fatos. Há coisas tão simples que é repassado, que esquecemos da complexidade que possa ter. Por muitas vezes desconhecermos, negamos as fontes aonde foram colhidas tais informações. Ouvir um senhor de uma comunidade simples do pantanal, em sua casa simples de sapê no sopé do morro e, em menos de uma tarde, ter relatos de mais de 20 espécies vegetais e usos, nos faz pensar sobre o paradoxo do que é simples e complexo. Saber que por vezes os habitantes de regiões mais afastadas, não estão totalmente equivocad@s em seus conhecimentos, faze-nos pensar, sobre a real interação entre o ser humano, a sociedade e a natureza. O uso de espécies vegetais por uma grande parte da população, seja rural ou urbana, é um indicativo de sabedoria, cultura e crença, que estão inseridas dentro de uma simbologia e misticidade que, é muitas vezes, contraria à ciência e aos preceitos da modernidade. Para BRASIL (1998: 7): “A eficiência da fitoterapia é assegurada por milênios de tradição, sendo prática comum entre índios e as populações tradicionais. Já existe a comprovação científica das propriedades de um número razoável de plantas, do ponto de vista medicinal, tornando- as viáveis para a agroindustrialização ou uso “in natura”.” Ainda é acentuado o uso medicinal, através de várias civilizações que, centenas de anos atrás, já conheciam e utilizavam esses poderes fitoterapêuticos. Estas são civilizações respeitadas historicamente pelos seus grandes feitos e conhecimentos, civilizações como os egípcios, babilônicos, assírios, maias e outras. O que é uma planta medicinal? São vegetais que através de nutrientes, água e luz, conseguem metabolizar substâncias que possuam princípios ativos que, no organismo dos seres humanos e outros animais, promovem reações diversas, variando entre a cura e/ou abrandamento de enfermidades. Para o desenvolvimento de tais princípios ativos houve um processo evolutivo de anos e anos, que as culturas mais antigas e algumas atuais conseguem, de forma sábia, utilizar. E por que utilizam? O uso desses vegetais é mais acentuado devido a deficiência do sistema de saúde, cujo o acesso apresenta diversas dificuldades para a população. Entre elas temos a distância dos centros de saúde, como no caso de Mimoso que é de aproximadamente 4km em relação a escola ( e nem tod@s moram perto da escola).Pode-se ressaltar também a ausência de profissionais para o trabalho e o alto custo dos medicamentos industrializados, tornando indispensável o uso desses vegetais, seja para doenças mais simples como dor de cabeça, resfriado e dores musculares, como para outras enfermidades mais complexas (câncer e fraturas), destacando-se aí o valor do conhecimento dito empírico, para lidar com enfermidades conforme a necessidade. De onde são extraídas as plantas? Grande parte dos vegetais são cultivados nos quintais d@s morador@s (erva cidreira, laranja e o boldo), e outras são retiradas das matas no entorno da comunidade que muitas vezes fazem parte do próprio quintal ( como o gengilin, peroba e aroeira). As matas possuem grande diversidade, justificada pelas diferenças de 11.2.- Apontamentos Metodológicos: A metodologia é fundamental para a pesquisa, ela e suas técnicas oferecem ferramentas que colaboram para a melhor elaboração e sistematização do processo de construção, manutenção e considerações da pesquisa. A pesquisa ora realizada, teve um caráter de pesquisa qualitativa a nível diagnóstico, onde se procurou contemplar as informações em formas e contextos variados para, dessa forma, refletir sobre a qualidade do processo e do fenômeno que há na comunidade. Sobre a pesquisa de cunho qualitativo temos, segundo SANTOS FILHO & GAMBOA (2001: 38/41): "Na ótica da pesquisa qualitativa, é impossível o investigador e o processo de pesquisa não influenciarem o que é investigado - como o instrumento não pode separar-se do que está sendo medido -, sendo este uma extensão do pesquisador e um fato da realidade pesquisada. Em vez de uma linguagem científica, o pesquisador qualitativo defende uma linguagem real, não neutra e semelhante ao do dia-a-dia”. Sobre o método na pesquisa qualitativa, podemos dizer que ele é: “(...) indutivo (dos dados para a teoria), por definições que envolvem o processo e nele se concretizam, pela intuição e criatividade durante o processo da pesquisa, por conceitos que se explicitam via propriedades e relações, pela síntese holística e análise comparativa e por uma amostra pequena escolhida seletivamente”. Para auxiliar a pesquisa na comunidade de Mimoso, buscou-se “navegar” em vários tipos de conhecimentos, sendo assim, utilizou-se das seguintes técnicas de pesquisa: A) Pesquisa de campo - Fundamental para o propósito da pesquisa, principalmente para a “imersão” no contexto da comunidade, o que facilita as técnicas seguintes. B) Observação participativa - É aquela na qual @ pesquisador@ vai a campo e observa diretamente o fenômeno. Em Mimoso, esse método foi um grande diferencial, pois observando de perto a comunidade e participando de seu cotidiano houve um fortalecimento da credibilidade enquanto pessoa e pesquisador@ perante a comunidade. Isso favoreceu o acesso às pessoas e às informações, pois, as trocas se estabeleciam em vários níveis de conhecimentos e confiabilidade. MONTEIRO & MONTEIRO (2001: 39), descreve o que é observação: “Nem todos são bons observadores, a ideologia do observador influi no resultado. Pode ser feita em grupo ou individualmente. Os resultados ficam vulneráveis ao momento da observação (uma praça muda ao longo de 24h. do dia e nos 7 dias da semana). Gera informações essenciais para outros níveis de pesquisa. Muitos fenômenos escapam da observação. Diminui o subjetivismo pois é melhor “conhecer o terreno dos fatos” do que interpretá-los apenas por dados secundários (textos, estatísticas, imagens, etc)”. C) Entrevistas participativas - vem no intuito de buscar informações através de perguntas e respostas fornecidas pelos membros da comunidade. Em Mimoso, foi empregado, entrevistas de forma aberta, através de um pequeno caderno de campo para anotações com enfoque nas plantas medicinais. Conforme as informações valiosas de MONTEIRO & MONTEIRO(op. cit. p. 39), temos: “Técnica clássica nas ciências sociais. Essencialmente para levantamentos de opiniões, costumes, para conhecimento de fatos históricos (as testemunhas). Baseada na conversação “face à face”. Sua vulnerabilidade está nos processos de comunicação (o entrevistado entende o vocabulário do entrevistador? O entrevistador entende o vocabulário do entrevistado? O entrevistado simpatizou com o entrevistador?) e na possibilidade do entrevistado não fornecer opiniões sinceras ou, fornecer dados incompletos, pois na entrevista não existe possibilidade de segredo ao emitir uma opinião”. D) Pesquisa e Revisões Bibliográficas - Para abarcar os nomes científicos e vernaculares que por ser um “conhecimento popular” dão margens a muitos e ao mesmo com diferentes nomes. E) Consulta à técnicos e especialistas - Sempre que as dúvidas sobre algum vegetal ou algo relacionado à pesquisa, lançava-se mão dos conhecimentos, d@s membros da academia ou mesmo do corpo técnico da UFMT e outras instituições. 12- Resultados: Apresentando os usos da flora: A comunidade enquanto disseminadora do conhecimento. O reconhecimento do uso de certas plantas medicinais encerra uma sabedoria que auxilia na conservação das espécies, apesar de que, indiretamente há a conservação em vários níveis culturais e naturais. O trabalho foi executado valorizando este potencial e respeitando a cultura da população. O resgate desta interação “ser humano - sociedade - natureza”, almeja a compreensão, por parte d@s morador@s da comunidade de Mimoso e região, da importância da biodiversidade no seu dia a dia, preparando-os para evitar a perda desta diversidade. O conhecimento da comunidade é muito abrangente e principalmente enraizado na cultura e religião, e isso está bem explícito na frase do Sr. Manoel Pio “Eu não curo ninguém, apenas sou um instrumento...Quem cura é a fé”. É necessário salientar que o conhecimento dessa população não é fragmentado, já que o conhecimento de um fato está sempre em relação com outro, ou seja, os fatos se encontram e se entrelaçam fazendo o conhecimento tornando-se bem amplo e contextualizado. Segue abaixo alguns resultados, que estão copilados no quadro 1: 13- Diagnóstico dos usos das plantas em seu cotidiano pel@s morador@s da comunidade de Mimoso: Abacate (Persea americana) : Faz chá com a folha ou caroço, é bom para os rins. Tarumã (Vitex cymosa): A casca é bom para tudo. Terramicina (Alternanthera sp.): Chá das folhas é bom para dores . Vassourinha (Scoparia dulcis): Macera e faz salmoura e passa no machucado, bom para cicatrizar. Quadro 1 - Espécies com uso medicinal na comunidade de Mimoso Nome Vernacular Nome Científico Família Usos Partes Utilizadas Abacate Persea americana Mill. Lauraceae Diurético Folhas ou caroço Abutua Cissampelos sp. Menispermaceae Gastrite Raiz Alho allium sativum L. Liliaceae Gripe e derrame Bulbo Anador Anandenanthera sp. Acanthaceae Dores estomacais Folhas Angico Anadenanthera colubrina Bren. Leguminosae Cólicas e bronquite Casca Aroeira Myracroduon urunderuva Fr. All. Anacardiaceae Cortes e inflamações Casca Arruda Ruta graveolens L. Rutaceae Dores e derrames Folhas Assa-Peixe Vernonia sp. Compositae Pneumonia Flores Babosa Alloe vera L. Liliaceae Dores Sumo das folhas Boldo Plectranthus barbatus Andrews Lamiaceae Dores estomacais Folhas Cabaça Crescentia cujete L. Bignoniaceae Sinusite Fruto Caju Anacardium occidentale L. Anacardiaceae Impinges e cicatrização Casca e semente Cana-de-macaco Costus sp. Zingiberaceae Males renais Raiz Cancerosa Soroceae guilleminiana Gaud. Moraceae Câncer Latescência Canela Cinnamomum zeylanicum Breyn. Lauraceae Na garrafada, vermífugo Pó ou casca Cansação Jatropha urens Muell. Euphorbiaceae Alergia Raiz e broto Capim cidreira Cybopogon citratus (DC.) Stapf. Poaceae Dores musculares e cabeça, Folhas depurativo do sangue Carambola Averrhoa carambola L. Oxiladaceae Calmante Folhas e frutos Colônia Alpinia speciosa Schum. Zingiberaceae Depurativo do sangue e ansiedade Flores Cordão de São Francisco Leonotis nepetaefolia (l.) R. Br. Lamiaceae Problemas estomacais Fruto Cumbarú Dipterix alata Vog. Fabaceae Reumatismo, feridas e garganta Fruta e casca Erva-de-Santa Maria Chenopodium ambrosioides L. Chenopodiaceae Picadas de serpentes e vermífugo Fruto, sumo e fruto Fedegoso Senna occidentalis L. Leguminosae Vermífugo Raiz Fortuna Bryophyllum pinnatum (Lam.) Okem Crassulaceae Problemas renais Folhas Fumo Nicotiana tabacum L. Solanaceae Dores reumáticas Folhas Goiaba Psidium guajava L. Myrtaceae Diarréia Fruto e broto Hortelã Mentha piperita L. Lamiaceae Calmante e tosse Folhas Jaborandi Ottonia corcocadensis Miq. Piperaceae Sinusite Folhas Jurubeba Solanum paniculatum L. Solanaceae Dores hepáticas Fruto Laranja. Citrus aurantium L. Rutaceae Calmante Flores Losna Artemisia absinthium L. Compositae Males renais Folhas Manga Mangirefa indica L. Anarcadiaceae Tosse Folhas Mangava-brava Lafoensia pacari St. Hil. Lythraceae Inflamações Casca Nó de cachorro Heteropterys aphrodisiaca O Mach. Malpighiaceae Pressão baixa e estimulante sexual Raiz Peroba Aspidoperma sp. Apocynaceae Vermífugo Casca Pião-branco Jatropha curcas L. Euphorbiaceae Manchas na pele Folhas Quina Strychnos pseudoquina St. Hil. Loganiaceae Vermífugo e depurativo do sangue Casca Romã Punica granatum L. Punicaceae Males da garganta e hemorróidas Frutos e sementes Salsa Petroselium hortenses L. Umbilliferae vários males folhas Tamarindo Tamarindus indica L. Leguminosae Cefaléia, queda de cabelo e anemia Folhas e fruto Tapera-velha Hyptis suaveolens (L.) Poit. Lamiaceae Dores na barriga Folhas Tarumã Vitex cymosa Bert. Verbenaceae Cefaléia e problemas renais Casca e folhas Terramicina Alternanthera brasiliana (L.) O Kuntze Amaranthaceae Dores Folhas Vassorinha Scoparia dulcis L. Scrhophulariaceae Cicatrização Planta inteira 14 - Conhecer, oportunizar, compartilhar, educar e aprender. Os relatos, informações e saberes da comunidade, são, sem dúvidas, ricos e valiosos, fazendo parte de conhecimento amplo e difuso na comunidade. Perante aos resultados obtidos indaga-se: como podemos diante desse quadro em que se encontra o ensino brasileiro, dar soluções e apontamentos concisos ou exatos de como usar esses resultados? Até o presente momento dentro das consultas bibliográficas e perante as políticas educacionais, a maneira que está sendo mais viável para fazer esse elo entre vivência e ensino formal é através dos Temas Transversais. A partir de pesquisas sobre os processos educacionais e a formação de cidadãos e cidadãs crític@s, observamos que, tod@s sabem um pouco, afinal de contas Paulo Freire já dizia: ”Ninguém se educa sozinho, os homens, se educam em comunhão”. O que relata STEFANY (2000:25), referente aos PCN’s, p. 107 e 108, é muito instigante: “Saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos”. E ainda: “Compreender a cidadania como participação social e política, assim, como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si mesmo o respeito”. A Educação Informal (E.I.) é aquela que é transmitida em vários ambientes sociais, na igreja, na comunidade, televisão etc., ela não está em forma de curso ou algo semelhante. Baseia-se em comportamentos e atitudes, e muitas vezes estão desvinculadas de uma criticidade. Sendo assim, BRASIL (2001:28/29) explana o papel da EA nesse sentido: “(...) A Educação Ambiental tem como se utilizar deste processo, obviamente desenvolvendo um senso crítico sobre as matérias vinculadas na mídia, em geral. É, acima de tudo, uma forma que valoriza as falas e às vezes, inclusive de faixas etárias restritas - como a linguagem entre os jovens. É uma forma que valoriza o saber popular, o que, de certa maneira, vem a facilitar a construção ambiental.” Tanto a Educação Formal (E.F) como a Educação Informal (E.I.) buscam o conhecimento. Mas devemos evidenciar que o processo que envolve o E.F. se dá no âmbito das instituições de ensino, visando preparar @ alun@ pra a realidade social e oferecer a el@s objetivando sensibiliza-los para a questão da região e cultura, que vem sempre relacionado. Fundamentalmente, buscou-se e busca-se a sensibilização para com todas as espécies de vegetais e para o ambiente, como também para o ser humano. Essas relações se estabelecem na construção social, cultural e educativa do ser crítico o que compõe algo maior que é a teia da vida, pois os vegetais trazem-nos diversos benefícios que vão dos alimentos aos remédios. Acreditamos assim, que a comunidade saberá proceder com ações significativas para a manutenção as espécies vegetais de Mimoso. 15 – Considerações Finais A vida pantaneira é estabelecida sócio e culturalmente, conforme o seu ambiente e suas condições. Essa interação promove a convivência e a vida dos componentes desse ambiente. O conhecimento do uso e da manutenção dos vegetais, não só medicinais, é uma forma de garantir a conservação da cultura e do ambiente pantaneiro. Além de efetivar princípios de cidadania, amor e respeito para com todas as formas de vida que são de fundamental importância nas relações sócio-biológicas. É o povo pantaneiro que personifica o ciclo das águas, às vezes turbulento, em profunda serenidade. As interações existentes na comunidade de mimoso no que diz respeito à cultura- sociedade e natureza, são vista através de várias representações, variando de um@ para o outr@, e assim, promove a convivência e a vida dos componentes desse ambiente. Observam que com o ciclo das águas a diversidade da fauna e flora aumenta, é mais fácil observar jacarés, pássaros, orquídeas, sucuris e vários outros seres que estão integrados a esse ciclo, que é de extrema importância para sua sobrevivência. ALBUÊS, (2000:56) sensibilizada diz : “Os traços dessa cultura nos deram nossa identidade. Nós somos o que somos através disso. E quando nós deixamos uma agressão a essa cultura acontecer todos nós perdemos (...) Para ela a cultura é dinâmica, sempre muda . Sobreviverá quem se adaptar mais rapidamente às mudanças que se apresentam”. Mas, até quando poderá adaptar-se às mudanças? Essa é a grande questão. Um antigo morador de Mimoso diz que ”Antigamente havia uma festa que durava 8 dias, onde cada um levava algo para a festa. De dia iam para casa fazer os serviços domésticos e à noite voltavam para a festa. Hoje já não agüentam fazer festa que dure 2 dias”. Em comunidades como Mimoso, as festas são os momentos em que onde acontecem inúmeras manifestações culturais e de sabedoria, onde a religiosidade é o ponto fundamental, e que interliga toda a cultura do povo pantaneir@. Deve-se salientar que apesar d@s pantaneir@s de Mimoso não possuírem, muitas vezes, poder aquisitivo para a compra de herbicidas ou remédios, el@s não provocam incêndios desordenadamente, el@s sabem do período certo dessa prática. Dessa forma, não podemos afirmar que todos os problemas do pantanal têm origem devido a essa ou aquela pessoa. O presente trabalho não tem como objetivo identificar a planta e a cura para os males apresentados. Ele vem na expectativa de despertar a sociedade perante o reconhecimento das comunidades ditas “tradicionais” e da grande parte do povo brasileiro que é excluída, julgada e às vezes até culpada, sem direito a defesa. Isto ocorre porque julga só a conhece pelas estatísticas, e por isso não dá valor a suas manifestações culturais, formas de viver e visão do mundo. As atividades para conservação da cultura e biodiversidade devem ser priorizadas e efetivadas com o auxílio de todos os cidadãos e cidadãs numa perspectiva de ação coletiva. Acreditar que existe alternativas para melhorar as nossas vidas e conseqüentemente o mundo e quiçá o universo é o principal desafio. E dessa forma a conservação parte de princípios de responsabilidade, afetividade e respeito. Com ênfase nesses atributos acima relacionados, possibilita-se uma visão sobre uma comunidade “tradicional”. Em GUARIM (1995:37): “A comunidade (...) assume atitudes conservacionistas ao manter interrelações entre as ofertas dos elementos componentes dos ambientes naturais (...) As demandas da sociedades e das atividades que desenvolve nas paisagens produtivas (agricultura e a pesca como atividade sócio-econômica), são realizadas pelo sistema social sem alterar os processos ecológicos e a qualidade ambiental das paisagens”. Ressalta-se, ainda que a terra e seus componentes possuem beleza ímpar e que mantê- los conservados para que as futuras gerações possam desfrutar racionalmente de toda essa biodiversidade é primordial. A Educação Ambiental busca valorizar a cultura, e o seu valor deve ser encarado como um dever de cada Ser humano, afirmando sua identidade de Cidadã e Cidadão do Mundo. FREIRE (2000: 46) expressa: “Assumir-se como um ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar. (...) A assunção de nós mesmos não significa a exclusão dos outros”. Valorizando o ser humano e ainda sensibilizando que estes são parte do ambiente (assim como toda a sua misticidade, cultura e amor), é a utopia que pode ser real. “Sonhar não custa nada”... BIBLIOGRAFIA CONSULTADA BALBACH, Alfons. A flora Nacional na medicina doméstica. São Paulo:”A edificação do lar", Sem data, 9º ed., vol. I. BALBACH, Alfons. As plantas curam. São Paulo:”A edificação do lar", 1986. BRASIL, Secretaria de Ensino Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Terceiro e quarto ciclos: Apresentação dos temas transversais. 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A comunidade de barranco alto: diversificação de saberes às margens do rio Cuiabá, Dissertação de mestrado apresentada ao programa de pós- graduação em Educação Pública, linha Educação e Meio Ambiente, da UFMT. UFMT, 1995,137p GALLO, Giovanni. Marajó; A ditadura da água. Belém, edições”O nosso museu". Santa Cruz do Ariri, Pará,2ºedição, 1981. GUARIM, Vera Lúcia M. S . Barranco Alto: Uma experiencia em Educação Ambiental.Cuiabá:EDUFMT,2002. GUARIM, Vera Lúcia M. S. Normas para a apresentação de monografia. Cuiabá: Departamento de Botânica e Ecologia/UFMT, 2002. GUARIM NETO, Germano, MORAIS, Ronan G. de (Orgs.)Plantas Medicinais NA Educação Ambiental: Sentimentos e Percepções. Cuiabá: Instituto Pró-Natura,2002. MARTINS, Ernane R. et all. Plantas Medicinais. Viçosa: grupo Entre Folhas, Ed.UN,1995. MATO GROSSO, Secretaria de Estado de Educação. Escola Ciclada de Mato Grosso- um diálogo com a família. Cuiabá MT, SEDUC, 2001. PANIZZA, Sylvio. Plantas que curam - Cheiro de mato. 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