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Apostila Microeconomia, Notas de estudo de Mecatrônica

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Tipologia: Notas de estudo

Antes de 2010

Compartilhado em 27/01/2009

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Baixe Apostila Microeconomia e outras Notas de estudo em PDF para Mecatrônica, somente na Docsity! MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 1 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima O Mecanismo de mercado Embora alguns países sejam mais ricos que outros, os recursos de cada economia são limitados. É necessário fazer escolhas. Além disso, há algum grau de especialização em todas as economias, e cada economia precisa de um mecanismo para responder às perguntas fundamentais criadas pela especialização e pela necessidade de fazer escolhas: 1. Quais são os bens e serviços a produzir? 2. Como produzir esses bens e serviços? 3. Para quem produzir os bens e serviços? Há basicamente duas maneiras de obter respostas a estas perguntas. A primeira é utilizar a “mão invisível” de Adam Smith. Caso os individuos tenham liberdade completa na escolha, então o açougueiro, o padeiro e o cervejeiro produzirão a carne, o pão e a cerveja para as refeições. Em outras palavras, o mercado dará as respostas fundamentais. A segunda maneira de obter estas respostas é utilizar o governo. As funções governamentais podem ser bem restringidas, significando uma mera modificação da operação do mercado. Quando o govemo coloca um imposto alto na compra de automóveis que consomem muita gasolina, a procura de automóveis pequenos aumenta. Os fabricantes de automóveis responderão a esta mudança com um aumento na produção de automóveis pequenos e uma redução na produção de automóveis grandes. Assim, o governo pode influir na questão de quais bens a produzir sem ter de se envolver diretamente na fabricação de automóveis. Os impostos não são a única maneira por meio da qual o governo pode influir na produção. O govemo determina uma boa parcela do que a economia produz, mediante as compras que faz, através de leis ou por ser o dono de empresas produtivas. Ele concorre com o setor privado em muitas atividades econômicas no Brasil - serviços bancários, mineração, siderurgia e distribuição de gasolina, por exemplo - e reserva algumas outras atividades exclusivamente para empresas governamentais. Teoricamente, poderia existir um sistema que dependesse exclusivamente ou do mercado ou do governo para tomar as três decisões fundamentais de o que, como e para quem produzir. Mas o mundo real é um meio-termo. Todas as economias do mundo utilizam uma mistura de mercado e governo para tomar decisões. Assim, o grau de importância do mercado no processo decisório varia muito entre países. No Brasil, o mercado faz a maioria das escolhas. Entretanto, o governo tem um papel muito importante na economia, e esta importância tem crescido muito nos últimos tempos. A ideologia marxista é contrária à determinação pelo mercado livre de quem receberá os bens e serviços produzidos. Além disso, não permite a acumulação de muito capital por Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 2 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima A equação matemática que explica dois pontos é: y=y=y=y(&K-x) X—X Substituindo y por p (preço) e x por q (quantidade), para a função ser utilizada com maior simplicidade em economia, teremos: p-po=pl — po (q — qo) ql- qo Ex.: A demanda de arroz é de 1640 quantidades ao preço de 1,20 um.. Após a safra, quando o preço diminuiu para 1,10 um., a quantidade consumida alterou-se para 1660 unidades. Qual a função demanda para esse produto? Os dados disponíveis do problema são: to po =1,20 e pl=1,10 qo = 1640 4 ql=1660 9p=9,4-0,005q e q= 1880 -200p Para elaborarmos o gráfico da função demanda, determinaremos as intersecções da função: p= 9,40 p=0 q-0 ese q-1880 $/(g) 9,40 = 1880 = pmáx | 200 f(Do) = 1880 — 200p o q máx. = 1880 quut 3) Fatores que afetam a função demanda A função demanda pode ser descrita como: qDem = f(a;b;c; 50) onde os principais fatores são: Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 5 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima a. O preço da mercadoria à disposição dos consumidores b. A renda disponível do consumidor, para adquirir a mercadoria c. O número de consumidores que existem num período de tempo definido na economia d. A quantidade de variações ou tipos de mercadorias à disposição dos consumidores e. O gosto e preferência do consumidor por um determinado produto f. O tipo de relacionamento que existe entre os produtos à disposição dos consumidores 3.1) Preço - O fator mais importante que afeta a função demanda Pressupondo-se um equilíbrio inicial, em que o preço e a quantidade sejam conhecidos num instante de tempo to e a demanda para o produto seja Do: Do Supondo-se um novo instante de preço em que ocorra, por exemplo, um aumento delta (A) qualquer e que tudo o mais permaneça constante, inclusive a renda do consumidor, se o preço aumenta, será possível adquirir uma quantidade menor do produto com a mesma quantidade de moedas. Então: pl>po =po + Ap tl 3 ql<qo = qo - Aq Retornemos as condições do instante to, no ponto A, e vamos supor que o preço do produto, ao contrário, seja reduzido. Então a um preço menor, e com a mesma quantidade de moeda (note que nem a renda nem mais nada está sendo alterado!), uma quantidade maior do produto normalmente poderá ser adquirida pelo consumidor. Assim, teremos: p2<po =po - Ap 29 q2>go = qo + Aq Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 6 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima 8/9) pl... pt dl Po pb q pol. quut 3.2) Renda — O fator renda pode ser considerado como o segundo em importância, dentre todos os fatores que podem influir na quantidade demandada de um produto ou serviço econômico. Como renda, em microeconomia, devemos entender a quantidade de moedas que o consumidor estará disposto a “gastar” no ato de adquirir uma certa quantidade de um produto qualquer, sendo conhecido o preço em um instante de tempo qualquer. Seja um produto x qualquer, e conhecidas a renda do consumidor e a função demanda do produto num certo instante inicial, teremos o seguinte conjunto, a partir do ponto inicial A sobre a função: to Ro IA] (fDo) o Q qo ql quut. No instante tl ocorre um aumento real da renda disponível do consumidor para adquirir esse produto. Agora só a renda irá variar, e todos os demais fatores, inclusive o preço do produto, permanecerão constantes. Se o preço não variar e a quantidade de moedas que o consumidor possui para “gastar” com o produto x for maior, a quantidade que ele pode adquirir desse produto também será maior. Então, num segundo instante de tempo teremos: Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 7 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima significa que, para o consumidor demandar uma certa quantidade de um produto, será necessário o consumo de uma certa quantidade do outro. Sejam dois produtos m e n relacionados, cujos preços e quantidades nesse primeiro instante de tempo to são conhecidos, bem como as respectivas funções demanda. Em to: to (po e qoJDmo to (po e qo*Dno f(Do) H (a) 4 Sia) pl Produto n Produto m +Aq po|-- po A 2 -Aq c -Aq | +Aq o ql qmiu.t. o ql qo q? quut Supondo-se um instante de tempo tl, em que o produto n varie o preço, por exemplo, aumentando-o, teremos: ! pl>po-po+4p | o Dno ql<qo=qgo-Aq t Dml po constante ql<qo=qo-Aq Analisando, podemos perceber que um aumento do preço do produto n restringirá o seu consumo, e um outro m, a preço constante, tem uma demanda menor, sendo este um efeito típico de produto complementar. Voltemos ao instante inicial to, e vamos provocar uma variação em que o preço agora seja menor que o inicial. t2) p2<po-po-Ap q2>q=qo+Aq Dno [c3 2 po constante a2>go=qo+Aq Dm? [C] Agora, com um preço menor do produto n, o consumidor irá demandar mais desse produto (via preço), porém deverá consumir mais do produto m a ele relacionado de uma forma complementar porque, para se consumir uma certa quantidade maior de n, é necessária uma quantidade também maior de m. Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 10 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima 4) Elasticidade da demanda Ferramenta que oferece aproximações satisfatórias quando empregada corretamente para analisar casos de modificações de mercado. Definição de elasticidade: A Elasticidade mede a proporcionalidade existente entre as variações que ocorrem nas quantidades e as variações provocadas em um fator qualquer, permanecendo todos os demais fatores constantes. 4.1) Elasticidade-preço-demanda ep= Aq/go = A%q/AY%p Ap/po onde: ep = elasticidade-preço qo = quantidade inicial demandada po= preço inicial Aq=ql-go Ap>pl-po Sejam dois pontos que expliquem o comportamento do consumidor em relação a um certo produto x, pressupondo-se um deslocamento em relação à variação do preço, em que podemos estabelecer uma reta que passe por ambos, os quais denominaremos como A e B. Esses dois pontos determinarão um pequenos arco, se analisados através da curva de demanda, e se visualizados em relação à função demanda reta teremos um segmento linear. O cálculo da elasticidade será executado pela média aritmética simples, e o erro será apenas em relação à distância da flecha entre o arco e a corda, que é tão pequeno que pode ser desprezado. Utilizando-se a fórmula geral da elasticidade: Aq /gm Ap/pm Obs.: Sabemos que a diferença entre as quantidades e os preços podem apresentar como resultado um sinal negativo, se ql ou pl forem menores que qo ou po respectivamente num instante de tempo, então o sinal da elasticidade calculada será negativo. Como os valores negativos parecem mais dificeis de ser tratados quando estamos verificando os cálculos, a elasticidade-arco será considerada em módulo referindo-se, portanto, somente às proporções das variações entre preços e quantidades. earc— Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) q MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Entretanto, outro problema permanece. O resultado do cálculo da elasticidade depende do ponto em que iniciamos o cálculo. Por exemplo, considere a demanda entre os pontos 4 e B, no gráfico abaixo. 40 50 60 Q Se partirmos do ponto A e movermos até o ponto B, a quantidade Q aumenta de 50% (de 40 para 60), mas o preço declina de 50% (de 84,00 para $2,00). Isto resulta em: Ed - Variação % em Q — 50% — | variação % em P 50% Se começarmos em B, no entanto, calculamos uma redução na quantidade de 33,3% (de 60 para 40), enquanto o preço aumenta de 100% (de $2,00 para 84,00). Isto nos dá: Ed = 333% — 0,333 100% A solução mais imediata para o problema é evitar ambos os extremos da curva de demanda e usar a média ou o ponto médio. Na fórmula do ponto médio para a elasticidade, utilizamos a quantidade média e o preço médio: Ed = 89% = 0,60 60% Tomemos pm e qm calculando seus valores pela média dos preços e das quantidades conhecidas: pm=po+pl e qm=qo+qgl , 2 2 Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 12 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima ecras= +AgB x poA +ApA qoB O sinal será: EcaB= (+) Os valores a serem utilizados na equação têm sinal positivo porque os deltas são positivos e o resultado obtido da elasticidade cruzada será positivo. Podemos estabelecer uma regra simples: sempre que o sinal da elasticidade cruzada for positivo, os produtos analisados são, de certa forma, substitutos entre si. Devemos notar que, quando os produtos são substitutos, existe um “fluxo de consumidores” em direção ao produto que estiver apresentando o preço menor. São exemplos de produtos substitutos: refrigerantes, sorvetes, televisores, rádios, carros, roupas etc. Produtos complementares A partir de um instante de tempo tl, em que o preço do produto M aumenta para pl, suas quantidades demandadas tendem a diminuir para ql (no gráfico, do ponto A para C), e, se nesse mesmo instante de tempo um outro produto N a ele relacionado, a preço constante, apresentar também uma redução nas quantidades demandadas, podemos concluir que os produtos são, de alguma forma, complementares entre si. Quando aumentarmos o preço de um produto, o consumidor diminui a quantidade demandada e, ao mesmo tempo, reduz a quantidade de um produto a ele relacionado, por serem complementares. Podemos notar que o consumidor, ao adquirir menos produto M, necessitará de uma quantidade menor do outro produto N porque este é um complemento do primeiro. E, pela equação da elasticidade cruzada, teremos: . EcrMN T -Aqn . Pom Quanto ao sinal: º e +ApM QN come (E cv () fDD Do) sa) sa 02) pl (Do) +4 po p A Produto “M” Po p2 “Ap E Produto “N” -Aq o ql qo q? quut o al do q qut Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 15 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Introduzindo na fórmula as informações obtidas do gráfico, podemos notar que o sinal, resultado calculado da elasticidade, será negativo e a análise feita é sobre produtos complementares. Na análise de produtos complementares nota-se que não existe um fluxo de consumidores entre os produtos, somente um relacionamento que surge da necessidade natural existente entre as quantidades consumidas de um produto em relação ao outro, e da dependência entre elas. Produtos complementares são produtos econômicos que apresentam a característica de dependência de consumo. Quando o consumidor adquire uma certa quantidade desse tipo de produto, está automaticamente compromissado em adquirir uma quantidade de um outro que o complemente. Como por exemplo: peças de reposição e embalagens, fundamentalmente produtos complementares. 5) Dispêndio total do consumidor e a relação com a elasticidade Dispêndio total é a função com a qual se pode determinar a quantidade de moedas que o consumidor despende ao adquirir uma certa quantidade de produto ou serviço econômico, conhecendo-se o preço, num determinado instante de tempo. DT-p.q Sabemos que a quantidade demandada do produto é em função do preço que ele possui, que substituímos, então, para um instante de tempo inicial: DTo=po. f(p) Exemplo: q=8-p q Pp DT=p.q Elasticidade Relação entre peDT 0 8 0 1 7 7 ep=1 Sep) DTt 2 6 12 Supérfluo Sep1 DT, 3 5 5 3 15 6 2 12 ep<l Sep) DT) 7 1 7 Subsistência Sep1 DTt 8 0 0 Tabela Relação entre DT e a Elasticidade Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 16 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Podemos agora construir um gráfico que represente as duas funções, em que observamos melhor seu comportamento. Partindo-se do princípio de que a função DT não é uma função do primeiro grau (o DT deste exemplo é uma hipérbole reta com base no eixo das quantidades e com início na origem do gráfico), determinamos o seu ponto de máximo, derivando-se e igualando a zero: d(DT) =0 dp) No exemplo da tabela acima temos: DT-pq onde: q=ftp) $ 16 14 DTmáx Substituindo com os valores da função: q=8-p Na função de dispêndio total: DT=p (8-p) DT=8p-p” Derivando: DT) = 8-2p d(p) Igualando-se a zero: Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 17 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Podemos dizer que a função de utilidade marginal nada mais é do que a derivada da utilidade total: UMg = d(U da) No ponto onde a UT é máxima (onde ocorre a saturação do produto) a UMg é nula. Após esse ponto, a UMg assume valores negativos, indicando que a UT é decrescente. Podemos analisar a relação entre todas funções de utilidade visualizando um exemplo por meio da tabela abaixo. Tabela Relação entre quantidade consumida de um produto e as funções UT, Ume e UMg qx UTx UMéx UMgx 0 0 - - 1 12 12 12 2 22 1 10 3 30 10 8 4 36 9 6 5 40 8 4 6 42 7 2 7 42 6 0 8 40 5 -2 UMg f(UMe) Ponto de Saturação UMg=0 quiu.t. A funcão Utilidade Marginal da tabela 6.4) Relação entre UMg, Renda e Preço do Produto Vamos considerar que um consumidor deseja maximizar sua satisfação em relação a um produto qualquer. As suas limitações são: renda disponível, preço do produto e o limite natural definido pela utilidade máxima. Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 20 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Suponhamos que o consumidor esteja disposto a adquirir dois produtos, a e b, cujos preços são pa e pb. Devemos considerar que os preços dos produtos são constantes durante um período de tempo qualquer, pois o consumidor não tem meios de alterá-los, se considerado como força individual de demanda de mercado, não conseguindo influenciar isoladamente modificações fundamentais. O equilíbrio da utilidade pode ser definido para o consumidor quando: UMpga = UMgb pa pb Essa função mede a proporcionalidade entre os acréscimos da utilidade em relação ao preço de cada produto, exercendo uma análise por comparação, que é uma aproximação matemática do que cada consumidor faz quando vai ao mercado para adquirir os produtos que deseja. Todo consumidor, quando exerce o ato de demanda, tem como tarefa decidir quais os produtos que deseja adquirir e quais as quantidades de cada um deles. Esse trabalho é exercido mentalmente, comparando-se o preço de um produto em relação a outro e verificando qual a quantidade necessária de cada um em relação à renda disponível. Além disso, é necessário conhecermos a renda que o consumidor estará disposto a despender no consumo dos dois produtos, e denomina-se este limite de restrição orçamentária ou de renda. O consumidor irá despender, então, toda a renda disponível na aquisição de dois produtos, conhecidos os preços e maximizando o grau de utilidade de cada moeda empregada e a quantidade de úteis totais obtidos nessa combinação. Tabela Utilidades Marginais para dois produtos: A e B. Produto A UMga UMga'pa Produto B UMgb UMgb/pb a b 60 30 28 28 50 25 26 26 40 20 18 18 30 15 10 10 20 10 8 8 10 5 5 5 5 2,5 3 3 Examinemos a Tabela acima, sabendo que a renda disponível do consumidor é de 14,00 u.m. para adquirir as quantidades dos produtos a e b, cujos preços são pa=2,00 e pb=1,00 um. Empregando-se a fórmula: UMga = UMgb pa pb A combinação que satisfaz a igualdade e com a qual o consumidor, com os recursos disponíveis, adquire a maior quantidade possível dos dois produtos se encontra em: Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 2 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima 20 =10 5 10=10 Assim, o consumidor estará adquirindo 5 unidades do produto a e 4 unidades de b, maximizando sua satisfação e gastando toda a sua renda: (5. 2,00) + (4. 1,00)= 14,00 um. Escolha entre bens Com todos os produtos disponíveis no mercado, como os consumidores fazem suas escolhas? Considere o exemplo da tabela abaixo, na qual o consumidor tem uma renda de R$10,00 e está escolhendo entre lanches e que custam R$2,00 e revistas que custam R$4,00. O consumidor continuará comprando até onde sua renda permitir. Como ele deve proceder? Comprar mais lanches ou mais revistas? Nesta decisão, ele deverá continuar sua compra até o ponto no qual a utilidade marginal recebida pelo último real gasto em lanches seja igual à utilidade marginal recebida pelo último real gasto em revistas. No nosso caso, isso acontece no ponto onde o consumidor comprou 3 lanches e uma revista, no limite de sua renda. CALCULO DA UTILIDADE MARGINAL POR REAL Lanches Revistas (Preço = R$2,00) (Preço = R$4,00) Q (un) Umg (útilies) Umg/R | Umg (útiles) — Umg/R 1 12 6 16 4 2 10 5 12 3 3 8 4 8 2 4 6 3 4 1 5 4 2 2 0,5 Note que, o ponto que representa a melhor escolha feita pelo consumidor, onde ele maximiza sua utilidade, o quociente Umg/P é o mesmo para a última unidade de ambos os bens (4 útiles por real). Útiles é como chamamos uma unidade usada para medirmos a utilidade marginal de um certo produto. Em outras palavras, O consumidor atingirá o máximo de satisfação quando a utilidade que ele recebe do último real gasto em um bem é a mesma que ele recebe do último real gasto em qualquer dos outros bens Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 22 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Na figura abaixo podemos visualizar a Clo que está tangenciando a RPCo. Nesse ponto, as quantidades qa e qb dos produtos estarão maximizando a satisfação do consumidor, dadas as restrições de renda e de preços dos dois produtos. RPCo qbiu.t! pb do Clo o qao qalut. 8.1) Curva renda-consumo Para estudarmos a curva renda-consumo, vamos partir de um princípio no qual são conhecidos os preços de dois produtos pa e pb, e também a renda que o consumidor dispõe para gastar ma aquisição de quantidades de ambos os produtos, maximizando sua satisfação no ponto A. Teremos, assim: RPCo = Clo quando: Ro = qao(pao)+qbo(pbo) = RPCo Curva Renda-Consumo o qao qal Ro/pa Rl/pa qaut. Para um novo instante, vamos agora supor que tenha ocorrido um aumento da renda real do consumidor de Ro5RI. Então: RI-Ro+4AR Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 25 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima E, se tudo o mais permanecer constante, inclusive os preços dos produtos, teremos: Ri=qal(pao) + qbI(pbo) =RPCI1 que agora irá tangenciar em B a CIl, que se encontra numa posição superior a da Clo, e assim por diante irão surgindo pontos de tangência C, D, entre as RPC e as CI. E a cuva que explica todos esses pontos de maximização chama-se curva renda-consumo. Essa curva descreverá, com os sucessivos deslocamentos, o comportamento do consumidor em relação aos dois produtos analisados à medida que a renda varia, aumentando ou diminuindo o consumo. A curva renda-consumo não deve ser confundida com a curva de Engel, que relaciona a renda com o consumo de um único bem econômico, e que é uma teoria que tem como objetivo analisar o tipo de produto demandado. 8.2) Curva preço-consumo Vamos admitir um instante inicial em que a renda Ro e os preços de a e de b sejam conhecidos, e que a maximização ocorre no ponto E, em que está a tangente da RPCo com a Clo. Com a utilização da equação, teremos: Ro=qao(pao)+qbo(pbo)=RPCo que se encontra no ponto E do gráfico. Desta forma, propomos um novo instante de tenpo em que, por exemplo, o preço de a varie, diminuindo: pa-pao-Ap Com um preço menor do produto a, supomos que o consumidor adquira uma quantidade maior desse produto via fator preço (lembremos que nem sempre as coisas acontecem dessa forma na economia!), e então será possível determinarmos uma nova RPC para esse novo instante de tempo: Ro=qal(pal)+qbo(pbo)=RPCI1 qbiut. Curva preço-consumo Ro/pb qbi qbo o qao qal Ro/pao Ri/pal qaut. Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 26 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Agora, com a RPCI, teremos em F um novo ponto de tangente entre esta função e uma nova CIl, mais elevada e mais distante da origem, o que nos leva a concluir que o consumidor pode, neste instante, combinar quantidades maiores dos dois produtos, e um grau de satisfação maior será alcançado no ponto de tangência entre as funções. Examinando-se a distância surgida entre os pontos E e F podemos, interligando-os, construir uma função que explique o comportamento do consumidor em relação à alteração do preço de a, curva esta que é denominada preço-consumo. Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 27 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima $/(9) HOfo)q = 200p + 680 quut Figura 2.2 A função oferta do exemplo numérico Para testarmos se a função está correta, basta substituirmos os valores do problema na função oferta. qofo = 200p + 600 po=10,40 > q=(200x 10,40) + 600 = 2680 pl=1020 — q=(200x 10,20) + 600 = 2640 1) Fatores que afetam a função oferta São exemplos de fatores que provocam variações da função oferta: preço, mão-de-obra, número de máquinas empregadas na produção, custos dos insumos, estado tecnológico empregado, velocidades das máquinas de produção etc. 1.1) Fator Preço Podemos considerar que, assim como na demanda, o preço também é o fator de maior importância para a tomada de decisão da firma quanto à quantidade de produtos a se produzir. Todos os demais fatores que podem influenciar a função oferta provocam deslocamentos da função, fazendo com que ela se aproxime ou se afaste da origem. Somente o fator preço provoca variações sobre a função oferta, e todos os demais fatores provocam deslocamentos da função. Os deslocamentos via fator preço podem ser observados a seguir, com os deslocamentos de ASBede AC. Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 30 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Si(g) pl po 1º qxut Podemos, dessa forma, caracterizar que o fator preço pode normalmente influenciar a função oferta da seguinte maneira: pt at pj ay 1.2) Fator mão-de-obra Vamos propor um primeiro instante to em que uma determinada empresa esteja produzindo uma certa quantidade de um produto qualquer, empregando para isso uma quantidade inicial de mão-de-obra que designaremos como MOo, e teremos: to MOo po [A] (O fo)) o q2 qo ql quiu.t A partir desse instante inicial vamos propor uma modificação para um novo instante de tempo tl, no qual a firma, por exemplo, aumenta a quantidade empregada de mão-de-obra na produção (e tudo o mais permanece constante), modificando, assim, o volume produzido. Então: =] + q MO1I>MOo=MOo+AMO [B] po constante qli>go=go+Aq Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 31 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Podemos verificar que, normalmente, quando aumentamos um fator qualquer (neste caso a mão-de-obra) empregado na produção, a quantidade obtida de produtos finais tende a aumentar: ql>go Dessa forma, o novo ponto B que surge de oferta em ql, combinado com o preço po constante, deverá ser explicado matematicamente por meio de uma nova função oferta que passe por ele, a qual designaremos de f(OfI), diferente da função f(Ofo), verificando-se, portanto, um deslocamento da função de A5B. Retornando-se ao instante inicial to, se agora, de outro modo, reduzirmos a quantidade empregada de mão-de-obra na produção, podemos verificar que a quantidade de fatores empregados na produção diminui, tornando o nível de produção atingido menor. Nesse instante, que definiremos como t2, teremos o seguinte comportamento: 2 MO2>M0O0=MO o-AMO [Cc] po constante q2>qo=qo-Aq Temos nesse instante um novo deslocamento da função oferta, de A5C, determinando um novo ponto que, por sua vez, deverá ser explicado por meio de uma nova função oferta f(Of2),em direção oposta ao deslocamento anterior, aproximando-se da origem, já que a quantidade diminuiu se comparada do instante to. 2) Elasticidade da oferta Mede a proporcionalidade existente entre as variações que ocorrem na quantidade ofertada e as variações de um fator qualquer, permanecendo todos os outros fatores constantes. 2.1) Elasticidade igual a um Se o prolongamento da função oferta passa pela origem, como é mostrada a seguir, a elasticidade no ponto A em que se encontra a combinação po e qo pode ser determinada utilizando-se a fórmula de elasticidade no ponto: fofo) e=MI $a) OM pl 4 PA po Aq 0 qo al quiut T Mo M1 Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 32 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Uma função desse tipo tem um formato matemático y=ax-b, em que a constante b possui um valor negativo, o que determina um ponto de intersecção no eixo das quantidades no primeiro quadrante e no eixo de preços no quarto quadrante em E, como demonstrado no gráfico. 2.4) Uma outra ar Podemos, por meio de um outro gráfico, visualizar as três funções simultaneamente, para elucidar melhor esse comportamento da oferta. Se tivermos um preço po num determinado ponto em A, a quantidade qo associada a esse preço, e por esse ponto passarmos as funções oferta possíveis com diferentes coeficientes angulares, teremos: f(Ofo) e=1 for?) e<1 Si(g) for) 1 Coeficiente angular quu.t. 1. A função f(Ofo), cuja elasticidade é e=1 2. A função f(Ofl), cuja elasticidade é e>1 3. A função f(Of2), cuja elasticidade é e<1 3) O ponto de equilíbrio Conceito de ponto de equilíbrio: É um ponto em que as quantidades que o consumidor está disposto a retirar do mercado, a um certo preço, num determinado instante de tempo, são exatamente idênticas às quantidades que os produtores estão, por sua vez, dispostos a colocar no mercado, nessas mesmas condições. Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 35 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima fiDo) f(Ofo) Po] ? Ponto de equilíbrio de mercado (supõe inexistência de estoques) 0 am qua 4) Desequilíbrio de mercado 4.1) Desequilíbrio via fator preço Para analisarmos o desequilíbrio provocado por variações do preço, vamos supor um instante inicial to em que são conhecidas as funções demanda e oferta para um certo produto, bem como um ponto de equilíbrio existente entre as duas funções. Assim, nesse primeiro instante: to (po e qo) [PEo] (ADemo)=HOfo)) A partir desse instante, vamos provocar uma variação no preço, que será considerado o fator modificador, e todos os demais fatores permanecem constantes. Teremos: t Demanda Oferta pl>po=po+4p [B] e tl 4 pl>po=pot4p [c] ql<qo=go-Aq qli=qgo=qgo+Aq No ponto B do gráfico, temos uma quantidade para a demanda, e no ponto C, uma quantidade para oferta. Isso se deve ao fato de que o preço maior estimula por um lado a oferta e por outro desestimula a demanda. Então: qiDem <qlof Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 36 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima «— fofo) pl po Do) p2 * Escassez e oferta | o q qo ql quiut Entre a quantidade demandada e quantidade ofertada (do ponto B até o ponto C) ocorrerá uma lacuna. Mantendo-se os demais fatores constantes, ao preço pl os consumidores terão a mesma quantidade de renda, suficiente para adquirir somente as quantidades no ponto B do gráfico, enquanto os produtores estarão dispostos, a esse preço, a produzir quantidades maiores no ponto C. Se analisarmos o gráfico do ponto de vista do consumidor, podemos dizer que está ocorrendo uma escassez de demanda, pois se a oferta colocar no mercado as quantidades ql, em C, teremos produtos em excesso no mercado, e essa quantidade maior não terá como ser demandada (alguns autores tratam a diferença entre B e C como excesso de oferta, pela ótica do produtor). Vamos retornar ao ponto de equilíbrio inicial to, e diminuir o preço em relação a po, de tal forma que com um preço p2, surgirão dois novos pontos diferentes de oferta e demanda, E e F, em que um preço menor desestimulará os produtores a produzirem as quantidades anteriores, e os consumidores, a preço menor, terão, com a mesma renda disponível para a aquisição desse produto, maior poder aquisitivo. Então: 12 Demanda Oferta p2<po-po-Ap [E] e v p2<po-po-Ap [”] q2>qo=go+Aq q2<qgo=qo-Aq q2Dem>q20f 4.2) Desequilíbrio via fator renda do consumidor Vamos agora propor um desequilíbrio que seja provocado por variação do fator renda do consumidor. Seja um instante de tempo inicial em que é conhecida a renda que o consumidor está disposto a gastar na aquisição de um certo produto, a um preço po, e teremos: to (Ro, po e qo) [PEo] (f(Demo) = f(Ofo)) [A] Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 37 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Ao contrário, se empregarmos uma quantidade menor de mão-de-obra para produzir o produto x em t2: MO2-MOo-AMO HO) fOfo) ron) Sa) ADO) L p2 po pl o q2 qo ql qu'u.t. Com menor quantidade de mão-de-obra empregada, será possível produzir uma quantidade menor desse produto e, consegiientemente, isso provocará uma escassez do produto no mercado nesse instante de tempo. Enquanto isso, o consumidor continua com o mesmo valor de renda para gastar com esse produto (excesso de demanda), provocando uma pressão sobre as quantidades que agora são escassas no mercado, e criando, assim, uma tendência para aumento do preço até um certo ponto PE2, onde novamente estará em equilíbrio, e a quantidade menor será combinada a preço maior. Os deslocamentos serão da função oferta de um para outro ponto de equilíbrio, e dessa forma conseguem-se mudanças da função oferta para satisfazer as diferenças de equilíbrio. 5. As perguntas interligadas: - "O Que", "Como" e "Para Quem" Como foi possível observar, até agora, a resposta à pergunta sobre quais bens e serviços serão produzidos depende da combinação de duas melodias diferentes: a demanda e a oferta. A demanda é a melodia que os consumidores tocam, enquanto os produtores são os responsáveis pela melodia da oferta. Observamos que cada grupo - tanto os consumidores quanto os produtores - tem de adaptar sua melodia à medida que o outro grupo toca. Agora, se queremos ir além da primeira pergunta - o que produzir - para responder às outras perguntas - como e para quem - é necessário reconhecer que o mundo é mais complexo ainda. Não existem apenas duas melodias. Existe uma orquestra completa, e a melodia que cada instrumento toca relaciona-se com as melodias que todos os outros estão produzindo. Veremos a seguir um esquema que representa a complexidade da economia, envolvendo mercado de bens, mercado de fatores, famílias e empresas. Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 40 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Demanda de bens e Mercado de Bens Ofeita de bens e serviços de consumo Exemplos: (a) Mercado de milho 9 (b) Mercado de hotéis perto de Itaipu... e muitos outros bens D serviços de consumo As famílias demandam bens [ Famílias ] As famílias oferecem fatores Ofeita de fatores de produção (recursos) a produção de milho P o XX D 9 (b) Mercado para operários de construção nas obras de Itaipu As empresas oferecem bens [ Empresas ] As empresas demandam fatores Demanda de fatores de produção (recursos) Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 41 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Os mercados de bens (como café, milho, bananas) aparecem na parte superior do gráfico; temos falado muito nestes mercados até agora. Na parte inferior do gráfico, observamos que existem semelhantes mercados para os fatores de produção, cada um com uma oferta e uma demanda. Para produzir milho, os agricultores contratam mão-de-obra e arrendam terras, por exemplo. Criam, portanto, uma demanda para mão-de-obra e por terras na “indústria” de milho. Simultaneamente, os indivíduos que trabalham nas fazendas correspondem à oferta de mão-de-obra. Para responder à pergunta de o que seria produzido, começamos com uma análise da parte superior do gráfico, no qual a demanda e a oferta para muitos produtos diferentes são representadas. Caso haja muita demanda para chá e pouca para café, esperaremos observar uma grande produção de chá e uma pequena de café. Porém, cedo ou tarde será necessário levar em conta também o que está acontecendo na parte inferior do gráfico. Os mercados de fatores de produção são relevantes porque têm certa influência na posição das curvas de oferta e de demanda dos bens. Considere o que acontece quando se decide construir uma grande obra como a represa de Itaipu, por exemplo. Muitos trabalhadores são contratados para a obra, aumentando fortemente a demanda por operários de construção no Estado do Paraná. No início, os salários sobem rapidamente, atraindo, desta forma, trabalhadores de outros estados. O rápido crescimento nos salários pagos no Paraná (parte inferior do gráfico) repercute na demande de bens no estado (parte superior). Por exemplo, as demandas por alimentos e por habitação (parte superior) aumentam, em resposta ao aumento da renda dos operários de construção (parte inferior). Para entender quais bens e serviços seriam produzidos, começamos com a parte superior do gráfico. Para responder as perguntas de como e para quem os bens serão produzidos, devemos começar com a parte inferior do gráfico. Os preços determinados na parte inferior do gráfico ajudam a decidir como os bens serão produzidos. Durante o periodo da Peste Negra (1348-1350) e das pragas subsequentes, estima-se que entre um quarto e um terço da população da Europa Ocidental faleceu. Devido à escassez de mão-de-obra e aos altos salários, os produtores de trigo foram incentivados a empregar menos mão-de-obra no cultivo e colheita do grão. Assim, produziu-se o trigo com uma diferente combinação de mão-de-obra e terra. O mecanismo de mercado foi o sistema que a sociedade daqueles tempos - como a sociedade de hoje - utilizou para conservar um fator escasso. A reposta à pergunta de quem receberá os bens e serviços produzidos depende da renda que cada um recebe. Em primeiro lugar, a renda depende da interação demanda e oferta, na parte inferior do gráfico. A oferta de neurocirurgiões é reduzida em comparação à demanda, por exemplo. Consequentemente, muitos profissionais dessa área desfrutam uma renda alta. Em contraste, a oferta de mão-de-obra desqualificada é grande, e o salário recebido por este tipo de mão-de-obra é muito baixo. Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 42 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Neste caso, por exemplo, se considerarmos que o aumento foi dado apenas em São Paulo, temos que tanto a oferta quanto a demanda serão altamente elásticas. A demanda por gasolina em São Paulo é elástica porque os motoristas podem comprar combustível nos municípios vizinhos. A oferta pode ser elástica também, porque os comerciantes podem fechar os postos de gasolina dentro do município de São Paulo e passar a vendê-lo nos outros municípios. O resultado é que a receita tributária da Prefeitura de São Paulo pode não ser muito boa, como ilustrado na área sombreada. Situação 2 — Oferta e Demanda com Baixas Elasticidades P S, 8, | Nesta situação, tanto a oferta quanto a demanda são bastante inelásticas. Um exemplo seria se houvesse a imposição do imposto sobre combustíveis no país todo. Quando o Governo Federal declara este imposto, a quantidade consumida sofreria apenas uma pequena variação, e a receita tributária do govemo cresceria bastante (a receita está representada pela área sombreada). Q Consequentemente, quando o governo taxa produtos específicos, ele deve preferir itens com baixa elasticidade da demanda, como cigarros e bebidas alcóolicas. 8) A teoria clássica da produção Definimos uma função Produção Total (PT) em economia com a seguinte equação: PT=f(a;b;c;d;...;n) onde: PT é a Produção Total num instante de tempo qualquer. a;b;c;d;...;n são os insumos ou fatores econômicos que devem ser empregados para se obter a produção desejada. Quanto ao tempo, podem ainda ser considerados os fatores de produção: e Fator Fixo: é todo fator de produção cuja quantidade utilizada, num determinado tempo, é mantida inalterada; Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 45 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima e Fator Variável: é aquele cuja quantidade empregada pode ser aumentada ou reduzida durante o processo produtivo, para variar o volume de produção desejado. O tempo estabelecido no sistema produtivo, em economia, tem o seguinte significado: e Curto prazo: quando podemos variar as quantidades de insumos aplicados na economia parcialmente, sendo que um ou mais permanecem inalterados. e Longo prazo: refere-se a um tempo suficientemente grande que permite variar todos os fatores empregados no sistema produtivo. Vale ressaltar que o produto é, de certa forma, o portador apenas do resultado, do uso ou emprego de uma certa tecnologia, que é manipuladora e transformadora dos insumos empregados e, assim, pode ser considerada na função de produção para um certo produto x, como a seguinte fórmula: PTx= f(a;b;cid;...;n) + tec Quanto aos fatores de produção empregados no sistema produtivo, vamos considerar nesse modelo que um deles seja constante e outro variável. Assim, resultará uma função do tipo: PTx=(FF,FV) Se tomarmos como fator fixo o capital empregado (K) e o trabalho (L) como o variável, a função pode ser descrita como: PTx=f(K, L) Fator Fixo Fator variável Produção Total K L 6 14 20 26 32 40 42 46 44 40 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 o Note que, quando nenhuma unidade de fator variável (L) é aplicada juntamente com uma unidade de fator fixo (K), a produção total é nula, isso porque o capital, por si só, não transforma insumos econômicos nem realiza sequer um único produto. Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 46 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima 8.1) Função produção média (PMé Essa função mede o rendimento do fator variável, ou seja, quanto cada fator variável empregado é responsável, em média, pela variação da Produção Total. Essa função é determinada como: PMérv=PT/FV Para nosso modelo, o fator variável empregado no sistema produtivo é o trabalho, ele então empresta o nome à função, que se denomina Produção Média do Trabalho: PMé =PT/L Substituindo a PT pelo valor de sua função: PMé, = fK,LYL 8.2) Função Produção Marginal (PMg A função Produção Marginal (PMg) mede a proporcionalidade que existe entre as variações que ocorrem na Produção Total (PT), em relação às variações provocadas nas quantidades empregadas do fator variável, num instante de tempo qualquer. É, portanto, a medida do incremento da Produção Total em função da variação da quantidade empregada do fator variável. Sua fórmula pode ser descrita da seguinte maneira: PMgr=PTI-PTo [I] FVI-FVo Aplicando o valor do fator variável empregado na produção como L: PMgr= PTI-PTo Li-Lo As diferenças entre os dois instantes da Produção Total e do fator variável são: Para PT 5 APT = PTI-PTo, e para L 5 AL=LI-Lo, Substituindo na equação em (1): PMgi=A(PT) A(L) Desde que a variação do fator L seja a menor possível, isto é, que ela tenda a zero, teremos: PMgr > lim = A(PT)/ A(L) AL5O0 Podemos, portanto, definir a PMg como uma função que é o resultado da derivada da PT em relação ao fator variável empregado. Em nosso caso, o fator variável é L, então: Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 47 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima A Divisa entre Iº e o IIº Estágio de Produção Na divisa entre o Iº e o IIº estágios, a PMé é máxima, e esse ponto pode ser determinado pela igualdade da derivada da função a zero: d(PMe) = 0 d(L) que é também o ponto matemático em que a derivada da PT é igual a sua média: PMé-PMg ou seja: d(PT)=PT dL) L Dessa forma, a derivada da PT intercepta sua média no ponto de máximo. 8.4.1.2) O II Estágio de Produção Limites O IP estágio de produção tem início no ponto de aplicação qL2, e vai até qL3. Nesse ponto termina o IIº estágio de produção. Comportamento As funções PMg e Pmé já atingiram seus valores máximos, e portanto, no IIº estágio são decrescentes. A PT continua crescente, porém em um ritmo menor que no Tº estágio. A Divisa entre o IIº e o IIIº Estágios de Produção Quando a PT atinge seu ponto de valor máximo, em B, estaremos na divisa entre o IIº e o IIIº estágios de produção, e isso ocorre onde são empregadas as quantidades de fator variável qL3. Para estabelecermos esse ponto de máximo, podemos igualar a PT derivada a zero: d(PTYA(L)=0 ou, então: A(RE:L)/A(L)=0 como: d(f(K;L))/d(L)=PMg podemos notar que, quando a PMg assume o valor nulo, estaremos no ponto de valor máximo da PT: PMg=0 84.1.3)0 HP Es: io de Produção Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 50 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Limites O III estágio de produção tem o seu início em qL3, e prosseguirá até o encerramento da produção. Comportamento A função PT já atingiu seu valor máximo na divisa do estágio, e, desse ponto em diante, ela será decrescente (lei dos rendimentos marginais decrescentes). A PMé continua decrescente em todo o IIIº estágio, tendendo a zero, positiva e diferente de zero. A PMg é nula na divisa do estágio, e no IIIº estágio assume valores negativos. Na tabela a seguir, encontra-se um resumo do comportamento dos estágios e das funções. Estágio PM, PMé PT P IIº HI 8.4.2) Decisão de onde produzir 1. Seo custo do fator variável for maior que o custo do fator fixo, deve-se produzir onde a PMé é máxima. 2. Seo custo do fator fixo for maior que o custo do fator variável, deve-se produzir onde se encontra a PT máxima e a PMg é nula. Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 51 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima CAPÍTULO 3 - CUSTOS ECONÔMICOS DE PRODUÇÃO Empresas geram lucro vendendo a um preço que exceda o custo. Então, as duas maiores preocupações dos executivos das empresas são: 1. Que preço eles podem obter 2. Como eles podem cortar os custos, mantendo ou, ainda, melhorando a qualidade. Como consumidores, as empresas têm escolhas a fazer. Uma das mais importantes é decidir que bens serão produzidos e de que maneira: Qual combinação de insumos a firma usará no processo produtivo? Por exemplo, será que uma indústria automobilística terá capacidade de produzir mais barato, usando uma linha de montagem altamente automatizada, com um grande leque de equipamentos e somente poucos empregados? Será que o plantador de trigo usará uma enorme quantidade de fertilizantes em cada acre produzido ou produzirá o trigo usando mais terra e menos fertilizantes? A liberdade de ação dos negócios é, contudo, severamente limitada no curto prazo. Por exemplo, a maneira pela qual a General Motors fabrica seus carros este ano é principalmente determinada por decisões feitas no passado. A General Motors já tinha planejado os robôs, as máquinas de estampar e as fábricas que seriam usadas nesse ano de produção: agora é muito tarde para colocar novas máquinas ou construir novos prédios. No curto prazo, suas decisões são limitadas: Quantos carros ela produzirá, e quantos empregados ela empregará na linha de produção para construir esses carros? No longo prazo, é claro, a General Motors tem muito mais liberdade. Se ela toma suas decisões do que será feito daqui a cinco ou dez anos, terá tempo para expandir seu capital construindo novas fábricas ou comprando novos equipamentos. Ou pode ela contrair seu capital decidindo não repor uma planta ou equipamento obsoleto. Com isso, os economistas fazem distinção entre o curto e o longo prazo. No curto prazo, um ou mais insumos são fixos. Por exemplo, a General Motors tem somente uma quantidade fixa de planta ou equipamento, e um fazendeiro possui apenas uma quantidade fixa de terra. No longo prazo, uma firma pode escolher a partir de um menu de opções. Ela pode preferir produzir num sistema de capital intensivo — com mais máquinas e menos trabalhadores — ou num sistema de trabalho intensivo, com mais trabalhadores e menos máquinas. O curto prazo é um período em que um ou mais insumos são fixos. O longo prazo é o período em que as firmas podem mudar as quantidades de todos os insumos, incluindo capital e terra. Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 52 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima total é uma função que possui um valor positivo mesmo quando a produção é nula, e esse valor é idêntico ao custo fixo, em se tratando de curto prazo. 2.2) Curvas unitárias As curvas unitárias representam todas as funções de custos cujos valores se referem à unidade que está sendo produzida num certo instante de volume de produção qualquer. Custo fixo médio é o rateio das despesas fixas pelas quantidades produzidas, ou seja, a média do custo fixo em relação ao volume de produção efetuado num instante qualquer de produção. Custo variável médio é o valor, em média, que é gasto em despesas variáveis para se produzir uma quantidade num determinado nível de produção. Custo médio é o quanto custa para se produzir uma unidade em um dado momento de nível de produção. E o rateio de todas as despesas pelas quantidades que estão sendo produzidas num determinado instante de tempo. Custo marginal é o quanto varia o custo total quando se aumenta ou diminui de uma única unidade o volume de produção. Ele mede a proporcionalidade em que o custo total varia quando se provoca variação de uma única unidade no nível em que se está produzindo uma mercadoria. Esse custo é o único que não possui contrapartida com os custos totais. 3) Fórmulas para determinação dos custos Custo fixo = CF = fÃo) Custo variável = CV = f(q) Custo total = CT =CF+CV Custo fixo médio = CFMé = CF/q Custo variável médio =CVMé=CV/q Custo médio = CMé =CT/q Custo marginal = CMg =CT1-CTo/ql-qgo 4) Curvas de custos econômicos de produção Ex.: Uma empresa emprega fatores de produção na seguinte proporção: 20 unidades monetárias são empregadas na aquisição de fatores fixos, e 10 unidades monetárias são gastas em fatores variáveis por unidade produzida. Primeiramente determinaremos todas as funções de custos para esse tipo de produção. Temos também a informação de que o Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 55 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima tamanho da empresa a curto prazo é suficiente para produzir no máximo 10 unidades desse produto. CcF=fk)=20 Cv=fg=10q CT=CF+CV= fE)+q)=20+10q CEME=CF/q= RK)/g=20/q CVME=CV/g= aq 10g/g=10 CMESCT/G=(CFHCV)/q= [KH 0 =(20+109)/q=20/q+10 CMg=(CV A g)=A(10g/Aq)=10 5) Construção das curvas totais Observamos na Figura 3.1 abaixo as três funções de custos totais: CT, CV e CF. A quantidade máxima de produção, que neste exemplo é de 10 unidades, representa o tamanho da firma, ou capacidade máxima instalada. $ CT=20+10q 0 quiu.t Figura 3.1 As curvas de custos totais Quando nenhuma unidade está sendo produzida, o CT é idêntico ao CF, pois as despesas fixas continuam existindo. O CV, ao contrário, é nulo quando nenhuma unidade é produzida, e aumenta à medida que a produção aumenta. A distância entreo CT e o CV em qualquer ponto de nível de produção, sejam as funções retas ou curvas, é exatamente igual ao CF. 6) Construção das curvas unitárias 6.1) Função de custo fixo médio Note que a função de CFMé começa com a menor quantidade possível de produção, e jamais deve iniciar no instante zero. Assim sendo, podemos dizer que não existem curvas médias enquanto a produção for nula, porque não podemos calcular médias de valores nulos. As funções unitárias iniciam-se quando a primeira unidade é produzida. Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 56 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima $/(a) CFMé o quut. O CFMé representa o rateio das despesas fixas pelo volume de produção praticado. E uma função não linear, decrescente, que tende a zero, porém será sempre positiva e diferente de zero. 6.2) Demais funções de custo unitários Quando o CV é linear, o CVMé é igual ao CMg, isto é, o incremento do CV é constante. Notamos que a diferença entre o CMé e o CVMé, em qualquer posição de instante de nível de produção, é exatamente igual ao CFMé. A diferença que surge acima do CVMé até o CMé representará o CFMé. Á S/a) CcMé CFMé CVMé quiu.t 7) As funções de custos de produção não lineares Vamos supor que um certo produto x esteja sendo produzido, e o volume de produção executado seja qo. Será possível, depois de um determinado período de tempo, obtermos o montante das despesas necessárias para serem produzidas essas quantidades, e chamaremos esse valor de custo total inicial (CTo). A partir dessas informações poderemos elaborar um gráfico como o da Figura 3.2. Traçando-se uma vertical em relação à qo, onde se encontra o nível de produção, determinaremos um ponto, com a intersecção do valor das despesas totais CTo, ao qual denominaremos de ponto A (com as coordenadas xo;y0). Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 57 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Se o custo total for uma função de segundo grau, o custo marginal, que é a sua derivada, será uma função de primeiro grau. Se o CT for uma função de grau superior, o CMg será uma função não linear. $/ cMé CMé min o o quut. TIP A função custó marginal linear $/(g) cMé CVMé CMg=CMémin. CMg=CVMémin. Cmgmín. o q ql qo qu'u.t. TIP A função custo marginal não linear Da origem até o nível de produção qo, o CMé é decrescente, e nesse ponto atinge seu valor mínimo. E nesse ponto tanbém que o CMg é igual ao CMé mínimo. Após o ponto em que ocorre essa igualdade o CMé passa a aumentar e o CMg torna-se maior que o CMé. Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) so MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Mesmo as funções sendo lineares, a distância entre o CT e o CV continua representando o CF, da mesma forma que a distância entre o CMé e o CVMé representa o CFMé. 9) As curvas de custos econômicos a longo prazo Quando o sistema de produção não apresenta restrição de nenhum fator a ser empregado, o CT toma-se continuo. Na Figura 3.3 há três tamanhos de custos em três períodos de crescimento da empresa. Uma linha tangente aos pontos A, Be C representa o CTrp, como exemplo de emprego de recursos que têm um comportamento de variação contínua. cT2 &—CT3 o quiu.t Figura 3.3 O custo total a longo prazo Uma análise sobre as funções de custos médios fornece maiores detalhes sobre o longo prazo (Figura 3). Vamos supor, para este exemplo, que a empresa proceda a três modificações em seu tamanho instalado de capacidade de produção. Num primeiro momento tl, com o custo CMél, a empresa inicia seu sistema de produção e obtém a quantidade ql no momento em que estará ocorrendo sua taxa ideal de produção a curto prazo para esse instante de tempo, com o menor CMé desse curto prazo. Supondo que o seu produto tem um aumento de vendas, e ela necessita produzir mais do que essa quantidade, seu custo médio de obtenção da unidade será cada vez maior com a utilização desse tamanho instalado de escala de produção. O tamanho ideal de produção foi ultrapassado, e é necessário que se variem os fatores que estavam sendo mantidos constantes, responsáveis pelo CF1. Quando a empresa varia sua capacidade instalada de produção, imediatamente passa a operar com um novo CMé2 a curto prazo, que agora permite uma produção maior, onde em q2 vamos encontrar o nível de produção com o menor custo de obtenção da unidade produzida nesse novo tamanho instalado, bem como uma nova taxa ideal de produção. Supondo que esse nível de produção seja também ultrapassado, novamente os custos de obtenção da produção tornam-se crescentes, e será necessário um novo aumento da capacidade instalada da empresa. Ao adquirir fatores que permitam ampliar sua capacidade máxima desse nível de produção, a firma atinge um novo CMé3 a curto prazo, que lhe permite agora produzir um nível q3 em um novo ponto, em que teremos uma taxa ideal de produção a curto prazo para esse Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 61 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima tamanho de escala de produção. E assim sucessivamente, a empresa irá ampliando seu tamanho instalado de produção, buscando sempre um nível mais elevado. No ponto A do gráfico da Figura 3.4 o CMél é crescente e cruza com o CMé2 que é decrescente, sendo, portanto, um tamanho de escala de produção mais vantajoso que o primeiro. Em Bo CMé2 é crescente, enquanto o CMé3 é decrescente. Se passarmos uma tangente a todos os pontos resultantes das taxas ideais de produção determinadas pelos sucessivos tamanhos de curto prazo — pontos esses determinados pelas igualdades entre CMg e CMé a curto prazo -, o resultado será uma função que se denomina CMér» (custo médio a longo prazo). CM63min. CMélmin. CMéZmin. CMérp CMelc CMedE o ql q quut. TIPrp Região de Economia de Região de Deseconomia Escala de Produção de Escala de Produção Figura 3.4 As curvas unitárias a longo prazo A empresa está constantemente alterando seu tamanho máximo de capacidade instalada de produção durante sua existência econômica, atingindo sempre um nível superior de produção. Esse crescimento permite traçarmos uma função de custo médio a longo prazo (CMér») na Figura 3. Existirá um ponto em que se pode observar o menor custo de obtenção de uma unidade produzida a um certo nivel qo, ponto esse que se denomina TIPrp (taxa ideal de produção ou nível ótimo de produção a longo prazo). O ponto em que ocorre TIPrp divide o gráfico da Figura 3 em duas partes: da origem até o ponto de TIP;p em que o CMérr é decrescente, é denominado como região de economia de escala de produção; e após esse ponto, em que o CMérp é crescente, como a região de deseconomia de escala de produção. Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 62 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Considere a situação de um consumidor individual que estende o seu consumo até que a última unidade forneça um beneficio pessoal (utilidade marginal) de R$ 10,00, indicado pela barra vertical. Para este consumidor, o custo marginal é o montante pago por uma unidade adicional, ou seja, seu preço. Consumindo até o ponto em que a utilidade marginal iguale o preço, o consumidor igualará seu custo marginal ao seu beneficio marginal. Para uma empresa individual em concorrência perfeita, o preço representa o beneficio marginal. Desde que a empresa continue a produzir até o ponto em que o custo marginal iguale o preço, estará também igualando seu custo marginal e seu beneficio marginal. Assim, num mercado competitivo: 1. Consumidores compram até que: UMg =P 2. Empresas produzem até que: P=CMg 3. Consequentemente, UMg = CMg Mercado de concorrência perfeita é aquele em que existem homogeneidade do produto, muitos compradores e muitos vendedores. Essa característica de grande número de participantes no mercado de um determinado produto torna-se necessária para que não haja interferência unilateral sobre as decisões de mercado. O mercado de concorrência pura pode ser classificado por meio das seguintes características principais: Produto homogêneo — Isso significa que os produtos não sofrem diferenciações pelas quais o consumidor possa extrair possíveis conclusões do fabricante, que de certa forma interferiria em sua decisão. Os produtos, independentemente de que tipo de fabricante procedem, possuem as características básicas idênticas. Grande número de compradores e vendedores — A quantidade de produtores e de consumidores é grande o suficiente para que as ações individuais não tenham forças para provocar alterações sobre o preço do produto no mercado. Inexistência de conluio ou de restrições artificiais — Não existe formação de ações individuais, nem de grupos, nem de govemo, que interfiram na formação do preço deste tipo de mercado. Todos os atos dos agentes econômicos são livres de qualquer forma de restrição que possua capacidade de interferência em seu funcionamento. Plena mobilidade dos recursos — A perfeita mobilidade dos recursos necessários à produção econômica não permite monopolização e restrições sobre os fatores necessários. Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 65 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Pleno conhecimento entre compradores e vendedores — O consumidor e o produtor possuem um conhecimento perfeito do preço do produto no mercado. 4.3) Formação de preço da firma no mercado de concorrência perfeita Primeiramente, devemos entender que para a firma produzir em concorrência perfeita, terá sempre de decidir entre dois objetivos principais: e minimizar prejuizos de produção, se prejuízos forem inevitáveis, ou e maximizar lucros de produção, se for possível auferir lucros. 4.4) Comportamento da firma e da indústria no mercado de concorrência perfeita Na Figura 4, os gráficos referem-se à firma, do lado esquerdo e a à indústria, do lado direito. Para facilitar mais ainda o entendimento, vamos efetuar uma análise por meio das curvas unitárias da firma. Para a empresa temos: e preço, areceita média e receita marginal: RMéo = RMgo =p = Opo e nível de produção que maximiza lucros se encontra em: Oqo, onde RMgo = CMgo e custo da unidade para o nível de produção: CMéo = OCMéo e lucro ou prejuízo médio avaliado pela diferença entre o preço e o custo médio: TIMé ='po — CMéo = poCMéo (a diferença entre os pontos A e B) CMéo CMgo = Ofo sq) $/(g) OMo =” RMg po | uu RMc o qo qu'ut. o Qo Qx/u.t. (Firma) (Indústria) Figura 4 Os gráficos da firma e da indústria em concorrência perfeita Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 66 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima No exemplo da figura, o segmento é positivo e refere-se, portanto, a um lucro extraordinário. No gráfico da direita, que representa a indústria, temos: A função que define a demanda global desse produto é a função DMo. A oferta global está representada pela função Omo. A quantidade global de produtos Qo, é a soma de todas as quantidades que são produzidas por todas as firmas do setor e levadas à mercado. Assim, temos as funções: n OMo= E (CMgoi) = onde n é o número de firmas que compõem o setor; ei variando de uma em uma firma; n Qo = (goi) ia onde n é quantidade global dessa mercadoria produzida no setor, variando i de uma em uma unidade. No ponto em que aa funções demanda e oferta de mercado se interceptam está o ponto de equilíbrio PEo. Este é realmente o ponto de equilíbrio entre todos os consumidores dessa mercadoria e os produtores no mercado, levando-se em contas as premissas básicas de que tudo que for produzido será consumido e vice-versa. Vamos analisar uma empresa que possui uma observação simples de produção, em que a função de custo total a curto prazo seja uma equação do primeiro grau, do tipo: CT=CF+CV onde: CF é a despesa constante, que não varia a curto prazo; CV-ag; a é a constante de despesas variáveis por unidade produzida; q refere-se ao nível de produção por uma unidade de tempo qualquer. 4.5) Teoria da receita Quando a firma vende as mercadorias que foram produzidas, as moedas resultantes dessa operação no mercado são denominadas receita. 45.1) Receita total É, portanto, o produto entre o preço de mercado pelo volume produzido de mercadorias. Como em concorrência perfeita a firma não tem autonomia para alterar o preço de mercado, o preço é considerado constante, e podemos dizer que: Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 67 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima 1. Sea RT for maior que o CT, o resultado será um número positivo, representando uma posição em que está ocorrendo lucro extraordinário: [ TERT>CT=(" 2. Sea RT forigual ao CT, o resultado obtido será nulo, evidenciando que a produção se encontra no PE e os custos são iguais a RT: II T=RT-CT=0) 3. Sea RT for menor que o CT, o resultado obtido será negativo e a produção encontra-se num ponto em que os custos são maiores que a receita, provocando um prejuízo: JL T=RT<CT=() 5) As funções custos não lineares 5.1) Maximização por meio das curvas totais Quando a função de CT é uma curva, determinaremos os pontos de máximo prejuizo, bem como de máximo lucro, pelas derivadas das funções. Na Figura 4.2 observaremos uma função de CT de ordem superior e uma RT. $ Lucro Extraordinário máximo CTSRT CT=RT * Prejúizo i máximo o ql qo q? quit. (6) JTmáx o JTmin O Figura 4.2 As curvas totais e a formação de preço em concorrência perfeita Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 70 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Podemos visualizar também nesta figura, a função de [JT que é determinada pela diferença entre a RT eo CT. Em qo temos o PE, onde a RT é igual ao CT e ]JT é nulo. Em ql temos a máxima distância entre a RT e o CT. Da origem do gráfico até qo o CT é maior que a RT gerando prejuízo e o [JT assume valores negativos. A partir de qo o CT torna-se menor que a RT e o resultado será um segmento da função [JT, que é positivo, e no ponto de nível de produção q2 encontra-se a máxima distância entre as duas funções, onde o lucro extraordinário é máximo. Agora podemos definir mais duas funções a partir de [JT. 1. A função |] Mé: IlMé=IT/q=(RT-CT)/q=RMé-CMé O [IMé representa o valor, em média, medido entre a RMé e o CMé. Como em concorrência perfeita a RMé é igual ao preço, então podemos dizer que é a diferença entre o preço e o custo de obtenção de uma unidade de produto, num nível de produção qualquer, num instante de tempo. [IMé=p-CMé 2. A função TIMg: TIMg dTT)/d(=d(RT)/dg)-d(CT)/A|)=RMg-CMg Essa função mede a diferença entre o incremento da receita e o custo total. Como nesse tipo de mercado a receita marginal é exatamente igual ao preço, então a diferença entre o preço e o CMg é igual a TIMg: TIMg=p - CMg A maximização A determinação dos pontos de máximo da função de [JT é feita por meio da derivada da função igualando-se a zero: dq IT)/A(g)=0 que pode ser simplificada como: TIMg=0 Substituindo, teremos: TIMg=dTIT)/d(q)=d(RT)/d(g)-d(CT)/d(g)=RMg-CMg=0 p-CMg=0 dessa forma, concluímos que: P-CMg que é também: RMg-CMg e, assim: TERMg=RME-CMg Quando estamos determinando a maximização da produção com essa igualdade, temos de pesquisar se está ocorrendo uma das seguintes hipóteses: Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) a MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima e Sea igualdade estiver antes do ponto de equilíbrio, trata-se de prejuízo máximo. e Se estiver após o ponto de equilíbrio, refere-se a lucro máximo extraordinário. 5.2) Maximização por meio das curvas unitárias Podemos também analisar a situação de T] (lucros) pelas curvas unitárias. Na Figura 7 observarmos as funções de custo por unidade de produção e do preço. Sabemos que quando o preço intercepta o CMé estamos no PE: RMé-CMé No gráfico da Figura 7 temos dois pontos de equilíbrio, em ql e em q2. Entre esses dois níveis de produção encontra-se uma região onde o custo de obtenção da unidade produzida é menor que o preço de mercado, gerando consegientemente um lucro extraordinário. 8/9) CMé CMg po cMél CMémin o ql qo q2 q quu.t. Figura 7 As curvas unitárias e o lucro de produção Em qo encontra-se o menor custo de obtenção da unidade produzida, e é nesse ponto que estará ocorrendo também a taxa ideal de produção (TIP). O nível de produção q2 é determinado pela igualdade entre o CMg e o preço, e é onde se encontra o ponto de máximo em relação ao lucro que pode ser obtido nesse tipo de produção: P-CMg e também: RMé-CMg 5.3) Onde, quando e quanto produzir Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 72 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima CAPÍTULO 5 - ESTRUTURA DE MERCADO - MONOPÓLIO Por definição, o mercado denominado monopólio é considerado, em economia, como o mercado extremo em relação ao de concorrência perfeita. Como seu próprio nome sugere, é un mercado em que existe apenas um produtor para uma certa mercadoria, e não existe um substituto próximo. Teoricamente, quando o produto é feito por um só produtor, sem substituto próximo, o mercado é denominado monopólio puro, e quando existe outro fabricante com um substituto, é definido como monopólio diferenciado. Quando existem dois fabricantes para o mesmo produto, é denominado duopólio. 1) Fatores que podem conduzir ao monopólio de setores econômicos 1.1) As patentes A maior parte dos países, hoje em dia, protegem os inventos com patentes e licenças que, de certa forma, conduzem ao monopólio de um produto. Grande parte das invenções tem um custo de pesquisa muito elevado ou relevante, o que torna seus preços acrescidos dessa variável e serve como um motivo a mais para aumentar os preços das mercadorias, se bem que muitos produtos podem ser produzidos com baixo custo por serem produtos descobertos casualmente. Existe um período de vida útil de uma patente, que varie em cada país; após esse tempo, ela se torna de domínio público. As válvulas de descarga para sanitários, no Brasil, eram patentes de invenção de uma só pessoa que as produzia com exclusividade, durante todo o tempo de vigência da patente, caindo em dominio público após o período de 25 anos, que é o prazo de exploração que esse tipo de produto tem em nosso país. Certos produtos são produzidos durante mais tempo, e a monopolização não é quebrada, como acontece com o xarope básico da composição da Coca-Cola, que, no mundo todo, talvez duas ou três pessoas conheçam exatamente sua fórmula de composição e modo de preparo. 1.2) Controle de recursos primordiais Se alguém tiver capital suficiente para instalar em suas terras máquinas de exploração de petróleo e extraí-lo, não poderá executar esse tipo de atividade econômica, porque em nosso país as concessões de extração de petróleo são monopólio de empresa estatal. Existem leis específicas que regulamentam a exploração de jazidas minerais e as condições para que o Estado desaproprie as áreas onde são encontradas. As florestas e os recursos hídricos, por exemplo, são controlados pelo Estado e somente ele define a exploração econômica. 1.3) Economias de escala de produção Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 75 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Na economia, sempre que o custo médio é decrescente no longo prazo, sendo constantes os custos dos fatores, podemos produzir concentrando a produção em uma única firma, e conseguimos diminuir, dessa forma, os custos das mercadorias em questão. Assim, se o volume de produção for dividido em dois fabricantes, o preço do produto tende a aumentar, o que torna essa solução pior para o consumidor. Esse tipo de situação é denominada, em economia, monopólio natural. Sempre que o consumidor abrir a tomeira em sua residência, sairá água de uma só empresa que, de certa forma, detém o monopólio de abastecimento em sua cidade. Esse tipo de produto é analisado sob o aspecto de existirem duas empresas que efetuam o mesmo serviço e os custos adicionais que provêm dessa divisão de mercado. As licenças governamentais e as concessões Quando novas rodovias foram abertas no Estado de São Paulo, o controle dessas estradas passaram a ser executados por uma empresa criada exclusivamente para esse fim. O Estado impôs certas regras de concessão, e entre elas encontrava-se uma que servirá como exemplo. Todos os postos de serviços instalados nessas rodovias foram permissionados com exclusividade pela marca BR, que é a distribuidora de petróleo da companhia Petrobrás S.A. Dessa forma, no caso da necessidade de completar o tanque de combustível ou de utilizar um outro serviço qualquer, os usuários desse tipo de transporte teriam como único recurso, nessas rodovias, servitem-se de postos desse tipo de monopólio. Existem leis específicas que envolvem as concessões. Mesmo no campo da prospecção do petróleo, já existem algumas leis de concessões governamentais em andamento. Quando desejamos completar uma ligação internacional fatalmente iremos finalizar na mesa de concessão de alguma firma que dispõe de um satélite de comunicações entre países, cuja concessão foi primeiramente cedida por acordo firmado entre países. 2) Maximização dos lucros a curto prazo A diferença na demanda entre um competidor perfeito e um monopolista O competidor perfeito precisa considerar o preço de mercado como dado. Por exemplo, um agricultor individual nunca pensa em pedir R$ 1,00 a mais por quilo de seu trigo quando sabe que não irá consegui-lo; e nunca ofereceria o produto por R$ 1,00 a menos, pois pode vender todo o seu trigo ao preço concorrente de mercado. O agricultor não tem “poder de mercado”. Como um produtor individual dentre muitos, ele é incapaz de, por meio da redução da quantidade que oferta, causar qualquer influência notável, sobre o preço. Para confirmar essa afirmação, suponha que o preço de mercado seja R$ 2,00, como determinam a oferta e a demanda, observada no gráfico abaixo: Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 76 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima P(R$) 1.000.000 2.000.000 q A resposta do agricultor a este preço é ofertar 2.000 unidades, como está mostrado no gráfico seguinte: P(RS s=CMg 1.000 2.000 q Suponha, agora, que ele tente ofertar apenas a metade desta quantidade, ou seja, 1.000 unidades. Esse movimento reduzirá a oferta de mercado, deslocando S para a esquerda, mas por um montante tão pequeno (1.000 unidades) que sua ação não será percebida pelo mercado. A oferta total variará de 2.000.000 para 1.999.000 unidades e o preço de mercado continuará o mesmo. Agora, no caso do monopólio a demanda total de mercado é exatamente a mesma do caso competitivo recém-descrito. A única diferença é que esta demanda de mercado está sendo satisfeita por uma única empresa monopolista, em outras palavras, a demanda que a empresa individual enfrenta, é exatamente a demanda total de mercado. O monopolista, como resultado, pode afetar o preço. Em resumo, a firma monopolista tem a demanda de mercado em suas mãos. Ela é livre para deslocar-se ao longo da curva de demanda de mercado, selecionando aquele que achar melhor. O concorrente perfeito, por outro lado, não tem controle sobre o preço; em lugar disto, a empresa enfrenta sua própria curva de demanda individual, completamente elástica, e a única coisa que pode fazer é escolher a quantidade que quer vender. O monopolista determina o preço, enquanto o competidor perfeito aceita o preço. A primeira diferença entre monopólio e concorrência perfeita é o que o preço no monopólio não é constante e, portanto, a receita marginal é diferente do preço. Ao Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 77 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Preenchendo a tabela com essas funções: RT 0 7 12 15 16 15 12 7 0 ojnjojolajula/a(o cojajajujejwpojnio Quando a quantidade demandada é igual a zero, a RMg é máxima; quando a RT atinge o valor máximo, a RMg é nula, e no instante em que a demanda é máxima, a RMg atinge seu valor negativo máximo. Quando a RT é máxima e a RMg é nula, a elasticidade da demanda é igual a unidade. Em todo o segmento de elasticidade elástica, a RMg é positiva, e, no segmento inelástico, a RMg apresenta valores negativos. 4) Maximização do lucro por meio das curvas totais A maximização de lucros, utilizando-se as curvas totais, pode ser definida, da mesma forma que no mercado em concorrência perfeita, pela diferença entre a receita e o custo: JITo=RTo-CTo Na Figura 5.2 observamos as curvas totais de custos e as funções características do mercado de concorrência em monopólio. $ RTmáx. RTo CTo Figura 5.2 As curvas totais no monopólio Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 80 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima O custo total intercepta a função receita total nos pontos A e B, que são os pontos de equilíbrio em que se encontra a igualdade: RT-CT Podemos estudar essas regiões do gráfico em relação à função de [JT: NT =RT-CT De O até ql a RT<CT e é uma região em que ocorre prejuízo. No ponto A não ocorre nem lucro nem prejuízo; é o ponto de equilíbrio RT=CT. No ponto B está o outro ponto de equilíbrio. De q2 em diante, novamente temos prejuízos. No ponto de nível de produção qo encontra-se a maior distância entre o CT ea RT. Nesse ponto, o lucro é máximo, e é indicado pela diferença entre as duas funções, do ponto D até o ponto E. Para o nível de produção q3 a RT é máxima em C. Uma perpendicular a esse nível de produção intercepta a curva de demanda em G, em que a elasticidade é unitária, e em F, em que a RMg é igual a zero. S)A maxi ação por meio das curvas unitárias A seguir efetuaremos uma análise por meio das curvas unitárias com o auxílio do gráfico da Figura 5.3. S/q CMgo Meo CVMe CVMéo F| CMB | nemiaemrmeme RMg = CMg DMo o| qx/ut RMg Figura 5.3 As curvas unitárias no monopólio Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 81 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima São conhecidas as funções de custos, a demanda DMo e o preço po para um certo produto produzido no mercado monopolista. Para determinarmos o nível de produção em que ocorre o lucro máximo, igualamos as funções: RMg — CMg que é a mesma igualdade com a qual examinamos a situação de lucro máximo em concorrência perfeita. Essa igualdade encontra-se no ponto A do gráfico, e por esse ponto passaremos uma perpendicular que definirá todos os pontos necessários. A intersecção dessa perpendicular determina as quantidades relativas ao nível de produção indicado em qo. Ela define também em B um ponto na função DMo, e por esse ponto, com uma paralela ao eixo das quantidades, determinamos o preço po. Quando essa perpendicular intercepta o CMé em C teremos nesse ponto o custo de cada unidade produzida nesse nível, eem D, o CVMé. Pelas áreas formadas por todos os pontos teremos os valores referentes às curvas totais. Assim, a receita total será definida pela área do retângulo: OpoBqo O custo total é representado pela área: OECqo O custo variável é determinado por: OFD qo O custo fixo será: FECD Neste exemplo, a situação é de lucro, que pode ser visualizado pela área: EpoBC Existem algumas condições necessárias e suficientes para que o monopólio decida produzir. Neste tipo de mercado, a receita média também é exatamente igual ao preço de mercado, ou seja, representa a quantidade de moedas que o produtor consegue quando vende uma mercadoria produzida, e então teremos as seguintes definições: e Seo preço for menor que o CVMé para todos os níveis de produção, o monopolista não produzirá. e Seo preço for igual ou maior que o CVMé em um intervalo de produção, ele deverá produzir onde acontece RMg igual ao CMg. 6) Regulamentação do mono; Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 82 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Pode-se estabelecer uma fórmula de aproximação razoável para determinar o preço de mercado regulamentado, considerando-se a taxa de retorno esperada que a empresa poderá obter no mercado. Esse critério é denominado, então, de regulamentação da taxa de retorno, eo preço será definido pela fórmula: p= CVMé + (De+t+sKe)/q onde: De = Depreciação s = taxa de retorno permitida Ke = estoque de capital da firma t= imposto Por mais simples que pareça uma fórmula como essa, devemos imaginar a complexidade de serem estabelecidos todos esses índices com uma relativa segurança, bem como os acordos políticos para regulamentação do monopólio, tentando a manipulação de dados que se delongam por um prazo muito extenso, favorecendo setores importantes da economia. Estarão também em jogo interesses particulares que podem influenciar as regulamentações, o que de certa forma estará beneficiando projetos, estudos, planejamentos intermináveis, até a efetiva regulamentação dos preços. Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 85 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima CAPÍTULO 6 - MERCADOS ENTRE MONOPÓLIO E CONCORRÊNCIA PERFEITA O monopólio representa a forma mais clara de poder de mercado; o monopolista está sozinho no mercado e tem poder para escolher o preço pelo qual realiza as vendas. Ao observarmos gigantes como a Souza Cruz, Petróleo Ipiranga, Voklswagen, Nestlé, dentre outros, percebemos que a maior parte deles não é monopolista. A Souza Cruz concorre com a Philip Morris brasileira; a Volkswagen disputa o mercado de automóveis com a Ford ea Fiat, entre outras; a Ipiranga divide o mercado de derivados de petróleo com a Shell, por exemplo. O oligopólio - em que o mercado está dominado por um pequeno número de grandes empresas - é mais significativo em nossa economia que o monopólio puro. 6.1. OLIGOPÓLIO O grau em que uma indústria está dominada por alguns poucos vendedores pode ser medido pela razão (ou coeficiente) de concentração, que é a proporção das vendas da indústria realizada pelas quatro maiores empresas dessa indústria. Exemplos de coeficientes de concentração da receita ao nível das quatro maiores empresas, segundo setores selecionados podem ser vistas na tabela a seguir (Brasil, 1989): Mineração 65,96 Automobilismo 82,94 Metalurgia 47,07 Informática 65,37 Siderurgia 54,47 Supermercados 52,98 Química e petroquímica 73,4 Fumo e bebidas 69,52 Comunicações 42,47 Têxtil 38,59 Embora haja em todos os países ocidentais uma tendência de concentração crescente nos últimos anos, com as grandes empresas ganhando participação no mercado, há uma tendência pequena de um único produtor eliminar seus concorrentes e emergir como monopolista. O oligopólio é, assim, uma forma estável de organização do mercado. Não é meramente um estágio temporário a caminho do monopólio. Quais são as forças que contribuem para esta estabilidade? Por que um pequeno número de empresas se tornam tão grandes enquanto nenhuma delas percorre a estrada até tornar-se um monopólio? Oligopólio é um mercado dominado por um pequeno número de vendedores. Cada firma tem influência considerável no preço de mercado, devendo-se levar em conta a reação de outras firmas do mercado. Parte da resposta encontra-se na natureza dos custos. Em muitas indústrias, há vantagem em produzir em larga escala; há um declínio no custo médio à medida que a produção aumenta. Uma fábrica projetada para produzir 500.000 carros por ano pode operar a um custo médio muito menor do que uma projetada para produzir 100.000. Os custos, porém, não continuam a cair sempre. Uma fábrica que produz dois milhões de unidades pode não operar com um custo médio menor que outra de um milhão de unidades. Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 86 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Quando os custos caem ao longo de um intervalo considerável, engajam o desenvolvimento de firmas grandes. Mas, quando os custos eventualmente começam a subir antes da produção atingir a quantidade total vendida no mercado, desencorajam qualquer grande empresa a crescer e desenvolver un monopólio. As condições de custo podem levar, então, ao oligopólio natural. O oligopólio natural ocorre quando os custos médios de empresas individuais caem por um intervalo grande o suficiente para que poucas firmas possam produzir a quantidade total vendida ao menor custo médio. Custo preço Db CMe Custo preço 20 20 CMe 10 10% 1090 quantidade 1000 10 quanisâMe a) Concorrência perfeita. b) Monopólio natural. A curva CMe de longo prazo reverte A curva CMe de longo prazo a um nível de produção relativamente continua a cair, não atingindo baixo um mínimo até que cruze D c/P c) Oligopólio natural. Caso intermediário: o CMe de longo prazo alcança seu mínimo num ponto considerá- vel do mercado total. Várias firmas grandes serão capa- zes de atingir (ou quase) o custo mínimo, mas firmas pequenas terão custos médios 300 1.000 altos e encontrarão dificul- Quantidade dade em concorrer. 100 A persistência do oligopólio, no entanto, não é devida somente às condições de custo. O oligopólio apresenta um equilíbrio entre forças que encorajam a concentração e forças que trabalham contra essa concentração. Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 87 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima de $ 20,00 em cada unidade. (Estes $ 20,00 são a diferença entre o preço de venda de $ 100,00 e o custo médio de $ 80,00). O problema é que a firma individual que enfrenta um preço estabelecido de $ 100,00 preferiria vender mais que sua cota de 200 unidades. Se fizer isto, porém, mais de 600 unidades serão produzidas e, segundo a parte (b), o preço da indústria cairá. Se a empresa, então, esquece o interesse conjunto em favor do seu interesse individual, o acordo de fixação de preço se desfaz. Quando os interesses individuais dominam, as empresas produzirão além de suas quotas, e o preço do cartel sucumbirá numa guerra de preços que as empresas manterão pela participação no mercado. Devido à força do interesse individual, os cartéis tendem a dissolver-se depois de histórias curtas e tumultuosas. Ademais, quanto há uma completa ruptura num cartel, a luta pelos mercados pode intensificar-se. Isto é particularmente verdadeiro quando a vantagem de custo de produção em larga escala aumentam como resultado das mudanças tecnológicas. Neste caso, um oligopólio natural pode estar encaminhando-se para um monopólio natural. Na ausência de uma intervenção governamental, apenas uma empresa sobreviverá. A questão é qual? Cada empresa deseja ser vitoriosa; cada qual tem incentivo para tentar ganhar uma vantagem sobre suas rivais, por meio da expansão rápida dos ganhos resultantes dos menores custos via produção em larga escala. É provável que se forme um excesso de oferta, com as empresas estimulando freneticamente as vendas. O resultado pode ser a concorrência predatória, ou seja, vender a um preço abaixo do custo médio e do custo marginal de modo a jogar as rivais para fora do mercado. Nesta batalha, o prêmio irá provavelmente para a empresa que possuir os maiores recursos financeiros, os quais lhe permitam sustentar-se com perdas de curto prazo, enquanto elimina seus rivais. 6.2. ELEMENTOS DE ESTABILIDADE NUM OLIGOPÓLIO Uma das maneiras utilizadas pelos oligopolistas na tentativa de evitar uma guerra de preços é formar um cartel e entrar em acordo formal sobre o preço. Porém, os cartéis são ilegais. Como, então, os oligopolistas reduzem a pressão sobre a concorrência de preços? Como evitam as guerras de preços e chegam a um preço razoavelmente estável - e lucrativo? A curva de demanda quebrada A melhor maneira de entender a idéia de uma curva de demanda quebrada é colocar-se na posição de um dos três grandes oligopolistas da indústria que estamos utilizando como exemplo. Se você baixar seu preço, as duas outras empresas concorrentes provavelmente agirão como você, em desafio. Como nenhuma pode permitir que você lhes tome uma fatia de mercado, é provável que, em decorrência, elas enfrentem seu corte de preço com um corte de preço de seus próprios produtos. Por outro lado, se você aumentar o preço, estará dando uma oportunidade de ouro para seus concorrentes: mantendo seus preços estáveis, eles estarão aptos a roubar uma fatia de suas vendas. Você percebe, consegiientemente, que seus concorrentes agem de uma maneira simétrica: quando você baixa o preço, eles o seguem, mas quando você aumenta o preço, eles não o acompanham. O gráfico abaixo mostra como esta forma de comportamento pode levar à estabilidade de preço. Supõe-se que, neste mercado, as três empresas tenham tamanhos iguais, cada uma tem inicialmente um terço das vendas. Suponha que sua empresa seja uma das ilustradas. Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 90 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Preço P3 P1 D indústria Quantidade Suponha que você tenha dois concorrentes igualmente grandes e que seu equilíbrio inicial esteja em El. Se seus concorrentes seguissem qualquer variação de preço que você fizesse, a curva de demanda que enfrentaria seria df, independentemente do preço que você estabelecesse, sua participação no mercado seria de um terço. Infelizmente, você não enfrenta df em toda sua extensão, pois seus concorrentes não o seguirão sempre, e sim apenas quando você reduzir o preço. Assim, o único intervalo relevante de df é a seção da curva em traço mais forte, abaixo de El. Se elevar seu preço, seus concorrentes não o seguirão e, neste caso, eles roubarão uma fatia do mercado que antes era sua (indicada pela seta tracejada). A curva de demanda que você enfrenta, então, é d. Resumindo: se seus concorrentes seguem a variação de seu preço para baixo, mas não para cima, você enfrentará a curva de demanda quebrada, em traço mais forte. Como você maximiza o lucro, enfrentando esta curva de demanda? Selecionando o ponto El, no qual ela se quebra. Estabelecendo o preço Pl, como tem sido feito pelas três empresas, você também segura sua participação tradicional no mercado. Seu lucro está indicado pela área do retângulo assinalado. Mesmo que você altere a curva de CMe um pouco para baixo, El permanece como seu ponto de maximização de lucro. Assim, sua tendência é manter o preço Pl mesmo quando seus custos mudam. A curva de demanda quebrada, no entanto, oferece limitações. Por exemplo, ela não explica como o primeiro preço é estabelecido. A segunda dificuldade é que os preços não são tão rígidos, quanto a teoria sugere. É possível observar, na história, incrementos nos preços dos bens de oligopólios, fato que a curva de demanda quebrada não previa. Como, então, explicar essas variações? Liderança no preço Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 91 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima Uma explicação para as variações metódicas nos preços de oligopólio pode ser encontrada na liderança de preço. As empresas podem em determinadas circunstâncias considerar desejável seguir uma empresa que dá o primeiro passo e aumenta o preço. Quando todas as outras empresas o fizerem, o incremento de preço tornar-se-á rígido - para beneficio de cada uma delas. Para ilustrar a liderança de preço, considere que no gráfico anterior você seja um líder de preço. A curva de demanda que você enfrenta, então, não tem mais uma quebra. Em lugar disto, é a curva df em toda a sua extensão, já que seus concorrentes irão seguí-lo na mudança de preço tanto para cima quanto para baixo. Nestas circunstâncias você é capaz de liderar a indústria na direção de um novo preço, mais elevado, contanto que esteja confiante de que as outras empresas verdadeiramente seguirão sua liderança. O resultado, quando está assegurada sua liderança, é semelhante ao do cartel. Como líder, você selecionará o preço que maximizará seus próprios lucros, e sua escolha será aproximadamente o preço que maximizará os lucros da indústria como um todo. Não há, entretanto, um acordo formal e o problema de “defraudar” poderia ser substancial. O líder pode encontrar parceiros concedendo descontos ou baixando preços para aumentar suas participações no mercado. Na prática, pode ser dificil identificar qualquer padrão bem definido de liderança de preço. Pode não haver nenhum líder de preço consistente; primeiro uma empresa toma a iniciativa de aumentar preços, depois outra. E a liderança de preço pode ser algo tentador. Uma empresa anuncia um incremento de preço, para ver se as outras a seguem. Se não, o preço poderá ser rebaixado novamente. (Esta forma de estabelecimento de preço por “tentativa e erro” pode ser uma maneira de a empresa testar se pode ou não exercer liderança de preço.) Finalmente, mesmo quando oligopolistas seguem um padrão de liderança de preço, não podemos ter certeza de que estão exercendo poder de monopólio. Se os custos estiverem subindo, um oligopolista poderá aumentar o preço na mesma proporção, na expectativa de que os outros irão segui-lo. Aparentemente, ocorre uma liderança de preço; na verdade, as empresas estarão defendendo-se do aumento geral de custos e não explorando o poder de monopólio às expensas do público. Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 92 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima originam do consumidor requer certa imaginação”. Neste caso, é o produtor, não o consumidor, que manda. Segundo Galbraith, o consumidor é um títere, manipulado pelos produtores mediante artifícios de propaganda. Muitos dos desejos que os produtores originalmente criam e, em seguida, satisfazem, são banais: a demanda por desodorantes, ceras, comidas sem valor nutritivo. Vários economistas marxistas modernos fazem a mesma crítica ao mercado. Sem defender os méritos de qualquer produto, os que defendem o mercado podem contra- argumentar, baseados parcialmente na pergunta: Quais são as alternativas? Caso o mercado não seja o instrumento para decidir quais bens “merecem” ser produzidos, quem será o responsável? Um burocrata do governo? Não se deve permitir que as pessoas cometam seus próprios erros? E como Galbraith pode supor que todos os desejos criados são sem valor? Afinal de contas, poucos nascem com uma preferência definida por música ou por arte. Nossa preferência musical é criada quando ouvimos um criador de boas melodias, como Vinícius de Moraes. Alguém do governo deveria proibir as músicas de Vinícius porque apenas satisfazem os desejos criados? Finalmente, o Prof. Galbraith exagera quando sugere que as empresas podem controlar as vendas por propaganda, protegendo-se das incertezas do mercado. Mesmo um produto que é amplamente promovido pode fracassar. Estas seis críticas ao mecanismo de mercado poderiam ser ainda mais elaboradas, para fornecer um argumento a favor de sua substituição por um sistema de controle governamental. Os economistas marxistas dão especial ênfase à primeira e à última crítica quando atacam as economias de mercado. Mas os que pregam a reforma, em vez da eliminação do sistema de mercado, também utilizam as seis críticas. Uma grande parte da recente história econômica da Europa Ocidental, da América do Norte e de muitos outros países do mundo tem sido escrita por tais reformadores. Os seguintes exemplos são uma amostra dos argumentos dos reformadores: o funcionamento de um sistema de mercado deve ser modificado mediante programas privados e públicos de assistência para assegurar a sobrevivência dos fracos e desamparados. Nas situações em que poucos controles sobre os bancos têm permitido instabilidade econômica, o governo deve estabelecer uma moeda forte e estável com o objetivo de propiciar um ambiente favorável ao desenvolvimento do mercado. Os monopólios com um excesso de poder devem ser desarticulados ou severamente controlados pelo governo. O governo pode produzir diretamente os bens e serviços em áreas como a segurança nacional, a justiça e o policiamento, nas quais o sistema de mercado não funciona ou funciona mal. Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 95 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima APÊNDICE 2 PROBLEMAS COM O LIVRE MERCADO Até aqui, fornecemos uma visão cor-de-rosa de como os mercados livres funcionam bem. Os exemplos de resultados ineficientes ocorreram quando o governo interveio para alterar as regras de funcionamento do mercado competitivo: quando o burocrata resolveu que muito (ou pouco) estava sendo produzido e ordenou que menos (ou mais) fosse produzido, houve uma perda de eficiência. Na verdade, até agora, a análise trouxe uma mensagem muito forte do laissez-faire: o governo deve deixar o mercado agir. Mas isto nos dá uma visão distorcida da realidade. Para que o livre mercado resulte em eficiência, todas as quatro condições básicas listadas na tabela abaixo, precisam ser preenchidas. Condição Será violada se: Há beneficios para outros que não os UM$s = UMg compradores (ex. os vizinhos usufruem de um jardim bem cuidado).. Um comprador individual tem alguma influência sobre o preço (como pode suceder quando há apenas poucos compradores) Um vendedor individual tem alguma influência sobre o preço (como pode P=CM, 8 ocorrer se há apenas poucos vendedores). Há poluição ou outro custo não absorvido CMg = CMgs pelo produtor. Na prática, porém, essas condições podem não ser preenchidas. Se essas condições não forem respeitadas, a economia, deixada livre, funcionará ineficientemente. Neste caso, a intervenção governamental pode fazer com que a economia trabalhe mais eficientemente, e não menos. Além disso, mesmo quando todas as quatro condições são obedecidas, o resultado pode não ser tão bom quanto as páginas precedentes sugeriram. Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 96 MICROECONOMIA Daisy A. N. Rebelatto e Mariana S. O. Lima A solução perfeitamente competitiva depende da distribuição de renda Suponha que os indivíduos tenham rendas diferentes. O indivíduo I tenha uma renda mais elevada que o indivíduo II. A demanda por um produto depende do desejo pelo mesmo e da capacidade de pagar por ele. Sendo assim, ao considerarmos a demanda de mercado como a soma das demandas individuais, o indivíduo II terá uma possibilidade menor de consumo do produto em questão. Isso quer dizer que, para cada distribuição possível de renda, há uma solução perfeitamente competitiva diferente. A questão de como a renda deveria ser distribuída não pode ser respondida apenas pelos economistas. Quando um mercado competitivo fornece sinais errôneos Imagine o caso onde uma perturbação inicial (talvez devido a uma doença), eleve o preço dos suínos. Como consequência, os produtores serão induzidos a expandir a produção, que quando chega ao mercado a datas posteriores, resulta numa superoferta, e os preços baixam. Em seguida, os produtores serão induzidos a diminuir a produção, e esta mudança levará, num período seguinte, a uma escassez do produto, o que elevará novamente o preço do mesmo para níveis extraordinariamente altos. Este ciclo continuará enquanto os produtores interpretarem mal os sinais de preço de mercado e, erroneamente, usarem o preço de hoje para formularem suas decisões de produção. Embora este mercado seja perfeitamente competitivo, segue um padrão cíclico e, em decorrência, não funciona bem. O PAPEL DA ESPECULAÇÃO NA REDUÇÃO DA INSTABILIDADE DOS PREÇOS Há várias maneiras pelas quais o padrão cíclico pode ser quebrado. Primeiro, após duas ou três alterações de preços, os produtores reconhecem o que está acontecendo e, por conseguinte, deixam de supor que o preço de hoje fornece uma boa predição do preço de amanhã. A outra possibilidade é que alguém mais reconheça este padrão e aja não apenas de maneira lucrativa em beneficio próprio, mas também modifique o ciclo e, assim, beneficie a sociedade como um todo. Suponha que o preço, num ciclo como o dos suínos, tenha subido no primeiro ano e decrescido no segundo. Um brilhante indivíduo percebe subitamente: “Já vi isso antes. Este é, novamente, um ciclo de suinocultura. Muitos produtores, devido ao baixo preço do suíno este ano, sairão desse ramo, e o preço subirá no próximo ano. Vou comprar alguns animais que estão baratos este ano, congelá-los e vendê-los no ano que vem”. Será um empreendimento rentável (se os custos de armazenamento, etc. não forem muito altos), uma vez que esse indivíduo descobriu uma maneira de colocar em prática o conselho Texto elaborado para disciplinas de graduação da EESC-USP São Carlos (SP) 97
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