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Composição da Dieta da Arraia - Apostilas - Engenharia de Pesca, Notas de estudo de Tratamento de Água

Apostilas de Engenharia de Pesca sobre o estudo dos Aspectos da biologia alimentar de Dasyatis colarensis na região da ilha de Colares, Características da família, Caracterização da espécie, Sistemática, Hábito.

Tipologia: Notas de estudo

2013

Compartilhado em 06/06/2013

Samba_Forever
Samba_Forever 🇧🇷

4.6

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Baixe Composição da Dieta da Arraia - Apostilas - Engenharia de Pesca e outras Notas de estudo em PDF para Tratamento de Água, somente na Docsity! 1 COMPOSIÇÃO DA DIETA DA ARRAIA Dasyatis colarensis SANTOS, GOMES & CHARVET-ALMEIDA, 2004 (CHONDRICHTHYES: DASYATIDAE) NA REGIÃO DA ILHA DE COLARES, PARÁ PAULO MARCELO DE OLIVEIRA LINS BELÉM 2008 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA INSTITUTO SÓCIO-AMBIENTAL E DOS RECURSOS HÍDRICOS 2 COMPOSIÇÃO DA DIETA DA ARRAIA Dasyatis colarensis SANTOS, GOMES & CHARVET-ALMEIDA, 2004 (CHONDRICHTHYES: DASYATIDAE) NA REGIÃO DA ILHA DE COLARES, PARÁ PAULO MARCELO DE OLIVEIRA LINS Relatório apresentado a Comissão de Estágio Supervisionado do Curso de Engenharia de Pesca da Universidade Federal Rural da Amazônia como requisito para obtenção do grau de Engenheiro de Pesca. Orientador(a): Dra. Patricia Charvet-Almeida BELÉM 2008 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA INSTITUTO SÓCIO-AMBIENTAL E DOS RECURSOS HÍDRICOS 5 AGRADECIMENTOS A Deus por todas as oportunidades e amigos que ele me proporcionou. À minha mãe por todo o carinho, dedicação, torcida e apoio incondicional nas horas difíceis dessa cruzada, e sobretudo por cuidar de mim; ao meu pai pelo exemplo de honestidade e determinação que sempre ficarão guardados comigo. À minha tia Jurema por todo o carinho e apoio durante esses anos. À Sheila por toda amizade e carinho durantes esses anos. Aos meus irmãos Luizinho e Neto, à minha Tia Bolota, aos meus primos Taysse, Jéssica e João, ao meu padrasto Sérgio, e demais familiares. À minha orientadora Patricia Charvet-Almeida, pela orientação, e sobretudo pela sua amizade rara nos dias de hoje. Ao Maurício Pinto de Almeida, pela amizade, ensinamentos e momentos de descontração. A todos os colegas de curso: Átilla Melo, Ádria , Akeme, Dilson, Edson, Fábio, July, Ligia, Marlene, Mari, Márcio e Jr Terra. Em especial aos eternos amigos: Átila Brandão (Baiano) por toda amizade (e por ter me apresentado ao Maurício e a Patricia), e à Déborah Elena (Dé) por toda amizade, conhecimento e parceria em quase todos os meus trabalhos acadêmicos. A todos os professores que contribuíram em minha formação durante esses anos de graduação. E todos aqueles que tenham contribuído tanto diretamente quanto indiretamente nesta longa e sinuosa estrada. 6 “Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às pessoas o que elas não querem ouvir.” George Orwell 7 RESUMO Aspectos da dieta da arraia Dasyatis colarensis amostradas na região da ilha de Colares, Pará, foram abordados neste trabalho. Os exemplares (n = 47) foram coletados em 2006. Os itens alimentares foram identificados até a menor classificação taxonômica possível. Durante as análises, foram levados em consideração aspectos qualitativos e quantitativos, calculando-se os seguintes índices para cada item alimentar analisado: Freqüência de Ocorrência (% FO), Porcentagem Numérica (% N), Porcentagem em Peso (% P) e a porcentagem do Índice de Importância Relativa (% IRI). As análises apontaram que o item de maior porcentagem de Freqüência de Ocorrência e em Número foi o grupo dos crustáceos (% FO = 88,24; % N = 68,37; % IRI = 57,87), incluindo representantes das famílias: Portunidae, Alpheidae, Penaeidae e Palaemonidae. O item de maior Porcentagem em Peso foi o grupo dos peixes (% P = 81,51; % IRI = 42,08), com representantes das ordens: Perciformes e Siluriformes. A maioria dos estômagos analisados apresentavam pouco conteúdo (87,2 % com ¼ de repleção). Enquanto que, a maioria dos itens apresentavam-se bastante digeridos (32,7 % com grau de digestão 5). Os resultados apontam D. colarensis como uma espécie predadora do tipo oportunista que se alimenta de peixes, crustáceos, moluscos e anelídeos. Palavras-chaves: Dasyatidae, alimentação, Ilha de Colares, Pará. 10 LISTA DE FIGURAS Figura 01: Vista dorsal e ventral da raia D. colarensis. ............................................. 17 Figura 02: Detalhe do lábio inferior de D. colarensis, notar mancha escura na margem. .................................................................................................................... 17 Figura 03: Desenho esquemático das papilas orais bifurcadas de D. colarensis...... 18 Figura 04: Mapa indicando o ponto de coleta na Ilha de Colares.............................. 23 Figura 05: Processo de evisceração das arraias D. colarensis em campo, onde a = Estômago e b = Vávula espiral.................................................................................. 25 Figura 06: Fotografia de um dos 47 exemplares de D. colarensis amostrados em campo. ...................................................................................................................... 28 Figura 07: Foto de um dos estômagos de D. colarensis coletados para análises, onde C = região cárdica e P = região pilórica. ................................................................... 29 Figura 08: Foto da parede interna de um dos estômagos de D. colarensis, onde C = região cárdica e P = região pilórica, notar as suas dobras e vilosidades. ................. 29 Figura 09: Itens alimentares da dieta de D. colarensis, onde (a) Amuré (Gobiidea); (b) Sarnambi (Veneroida); (c) Siri (Portunidae) e (d) Camarão (Penaeidae). ................. 34 Figura 10: Representação gráfica tridimensional do Índice de Importância Relativa (IRI), obtido para os itens alimentares observados para D. colarensis, onde D = dominante, R = raro, G = generalista e S = especialista. .......................................... 36 11 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Número, condição e categoria dos estômagos de D. colarensis estudados. .................................................................................................................................. 30 Tabela 2. Nível de repleção observado nos estômagos coletados para análise. ..... 31 Tabela 3. Grau de digestão dos itens analisados (número de itens observados n = 98). ............................................................................................................................ 32 Tabela 4. Categorias taxonômicas dos itens alimentares encontrados nos estômagos de D.colarensis identificados (n = 98). ...................................................................... 33 Tabela 5. Índices alimentares dos itens analisados. ................................................. 35 12 1. INTRODUÇÃO Os peixes são os animais que constituem o mais diversificado grupo dentre os representantes do reino animal, estima-se que existem mais de 30.000 espécies viventes (MOYLE; CECH, 2000). Essa diversidade é conseqüência de sua longa história evolutiva, que culminou, há pelo menos 400 milhões de anos, nas três principais linhas evolutivas: Myxini (Myxiniformes, peixe-bruxa), Cephalaspidomorpha (Petromyzontiformes, lampréia) e Gnathostomata (Placodermi, Chondrichthyes e Osteichthyes) (REDDING; PATIÑO, 1993; MOYLE; CECH, 2000). Os Chodrichthyes (peixes cartilaginosos), formam um grupo separado dos Osteichthyes (peixes ósseos), este segundo compreende em torno de 95% da fauna de peixes viventes, a origem dos Chodrichthyes está estimada para o período Siluriano há 420 milhões de anos (MOYLE; CECH, 2000; LÉOPOLD, 2004). Os peixes cartilaginosos se dividiram em duas linhas evolutivas recentes: Elasmobranchii (tubarões e raias) e Holocephali (quimeras) (STEVENS, 2005; COMPAGNO et al.,2005). Os elasmobrânquios compõem um grupo com cerca de 1.100 espécies, predominantemente marinhas, totalizando 60 famílias dentro da classe Chondrichthyes ainda viventes (COMPAGNO et al., 2005). Existem aproximadamente 500 espécies de tubarões, em torno de 600 espécies de batóides (do grego “batis” raia, “eidos” forma) e 50 espécies de quimeras, além de existir a possibilidade de descrição de novas espécies e revisão das existentes (COMPAGNO, 2001; STEVENS, 2005; COMPAGNO et al., 2005; ACANOMAS, 2008). Os batóideos formam um grupo numeroso e diversificado, no qual estão incluídas as raias elétricas ou “torpedos”, peixes serra, raias manta, raias violas, raias “skates” e raias com ferrão (STEVENS, 2005). A ordem Rajiformes está dividida atualmente em 23 famílias. A família Dasyatidae compreende 6 gêneros e 69 espécies (COMPAGNO,2005), esta informação pode variar (ITIS, 2008). O gênero com maior quantidade de representantes é o Dasyatis (do grego “dasys” áspero, e “atus” tubarão), com 42 15 2. OBJETIVOS 2.1. OBJETIVO GERAL • Estudar aspectos da biologia alimentar de Dasyatis colarensis na região da ilha de Colares. 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Analisar qualitativamente e quantitativamente os itens alimentares ingeridos em ambiente natural por Dasyatis colarensis; • Determinar o Índice de Importância Relativa (IRI) para os itens alimentares observados; • Avaliar os níveis de repleção dos estômagos analisados; • Avaliar o grau de digestão dos itens alimentares ingeridos. 16 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1. CARACTERÍSTICAS DA FAMÍLIA As arraias da família dasyatidae têm o disco com um formato circular ou romboidal, com uma cauda delgada em forma de chicote, e que geralmente possui ferrão venenoso. As raias deste grupo não apresentam as nadadeiras dorsal, anal e caudal. As nadadeiras peitorais são contínuas a partir dos lados da cabeça, não formando lobos subrostrais ou nadadeiras cefálicas. O focinho é obtuso, arredondado, ou mais ou menos pontudo. Os olhos e os espiráculos localizam-se no topo da cabeça. Pequenos dentes em muitas séries, formando bandas ao longo da mandíbula. Estas raias apresentam uma coloração na superfície dorsal geralmente variando de cinza para marrom escuro, às vezes com marcas escurecidas ou pálidas, e com superfície ventral geralmente esbranquiçada (BIGELOW; SCHROEDER, 1953; McEACHRAN; CARVALHO, 2002; STEVENS, 2005). 3.2. CARACTERIZAÇÃO DA ESPÉCIE A espécie D. colarensis (Figura 1) se distingue pela combinação das seguintes características: possui o disco em formato de diamante (romboidal), focinho alongado (com distância preorbital variando de 29 a 35% da largura de disco nas fêmeas, e de 35,5 a 37,7 % da largura de disco nos machos, presença de manchas escuras no lábio inferior (Figura 2), margens posteriores das nadadeiras peitorais são uniformemente arredondadas, as nadadeiras pélvicas são de formato triangular com a margem estreita ou levemente sinuosa, possui uma fileira dorsal de tubérculos ao longo da linha média do disco, os dentículos dérmicos estão distribuídos aleatoriamente ou de forma circular, a quilha caudal está ausente ou com uma pequena crista, e de três a quatro papilas orais bifurcadas (Figura 3) (SANTOS et al., 2004; SANTOS; CHARVET-ALMEIDA , 2007). 17 Figura 01: Vista dorsal e ventral da raia D. colarensis. Fonte: Adaptado de SANTOS et al., 2004. Figura 02: Detalhe do lábio inferior de D. colarensis, notar mancha escura na margem. Fonte: Adaptado de SANTOS et al., 2004. 20 Snelson et al., (1988) reportaram que os deslocamentos das raias são fortemente sazonais. Durante os períodos mais quentes, estas arraias são encontradas em ambientes mais costeiros, baías e no estuário. Enquanto que durante o inverno, as arraias movimentam-se para águas mais profundas. As alterações na salinidade das águas da baía de Marajó tornam as mesmas salobras no verão (junho a dezembro), e doce no inverno (janeiro a maio) (BARTHEM, 1985). A influência dessa descarga é demonstrada pela presença de florestas inundadas nas ilhas do estuário. Além disso, esta região é conhecida pela sua alta produtividade e potencial pesqueiro (BARTHEM; GOULDING, 1997; CHARVET-ALMEIDA et al., 2006). Em virtude das variações na salinidade que ocorrem anualmente no estuário amazônico, D. colarensis apresenta um deslocamento anual da costa em direção à baía influenciado pelo aumento da salinidade ocasionado pelo período de seca, esse movimento está associado ao ciclo reprodutivo da espécie, pois muitas das fêmeas capturadas apresentavam embriões bem desenvolvidos em seu interior. Enquanto que durante os períodos de chuva, essas raias deslocam-se em direção às águas mais afastadas da costa (IUCN, 2008). Esse movimento sazonal também foi observado para a espécie Plesiotrygon iwamae Rosa, Castello & Thorson, 1987 (CHARVET-ALMEIDA, 2001). De acordo com Charvet-Almeida et al., (2006), já foram registrados as seguintes espécies de dasiatídeos no estuário paraense: D. colarensis, D. guttata, D. geijskesi Boeseman, 1948 e Himantura. schmardae (Werner, 1904). As observações desses autores indicam que D. colarensis é a espécie mais comum e abundante na região, o que contraria muitos estudos que apontavam D. guttata como a espécie mais abundante. 3.6. ESTUDOS DE ALIMENTAÇÃO DE DASITÍDEOS Um dos primeiros estudos que levantou informações a respeito do hábito alimentar de um dasiatídeo foi realizado por Gudger (1912). Neste estudo, o autor fez considerações sobre a reprodução e alimentação de D. sayi, em Beaufort, nos Estado Unidos. 21 Outra contribuição muito importante para os estudos de alimentação foi a de Bigelow e Schroeder (1953), em raias capturadas na ilha Bimini, nas Bahamas. Hess (1961), determinou o hábito alimentar das raias D. sayi e D. centroura, na baía de Delaware, nos Estados Unidos. Struhsaker (1969), ao realizar estudos sobre a biologia e distribuição de D. centroura na costa sudeste dos Estados Unidos, determinou a dieta desta espécie. Observações em torno da ocorrência e da alimentação de H. schmardae na Venezuela, foram feitas por Yépez e Espinosa (1970). Thorson (1983), ao estudar D. guttata em três países da América do Sul e Central, fez considerações sobre o hábito alimentar desta espécie. 3.7. ESTATÍSTICA PESQUEIRA De acordo com IBAMA (2008), o estado do Pará produziu 966,5 toneladas de “arraia” (compreendendo espécies das famílias: Rajidae, Myliobatidae, Rhinobatidae, Gymnuridae, Narcinidae e Dasyatidae), o que representou 1,47% do total de 65.354 toneladas de peixes oriundos da pesca extrativa produzido pelo estado ano de 2006. A produção brasileira para o mesmo ano foi de 7.240 toneladas de arraias, o que representou 1,58% do total de 458.068 toneladas de peixes produzidos pela pesca extrativa. O fato de a estatística pesqueira agrupar diferentes famílias em um grupo único denominado “arraia” é fruto da falta de uma identificação mais detalhada das famílias, isso implica na impossibilidade de se quantificar as famílias ou sequer visualizar a importância de cada grupo na produção de pescado tanto no estado do Pará quanto nacionalmente. 22 4. MATERIAL E MÉTODOS 4.1. ÁREA DE ESTUDO A baía de Marajó está incluída em um grande sistema estuarino situado ao sul da ilha de Marajó, no Estado do Pará. Ela recebe a descarga do rio Tocantins; de alguns afluentes de menor porte, como os rios Guamá, Mojú e Acará; e provavelmente também parte da descarga do rio Amazonas, através do estreito de Breves (BARTHEM, 1985; BARTHEM; SCHWASSMANN, 1994). O estuário Amazônico forma um ambiente peculiar e ainda pouco estudado abrigando espécies marinhas e de água doce, algumas de fundamental importância para a pesca regional e nacional, despertando assim interesse científico e econômico (BARTHEM, 1985; CHARVET-ALMEIDA, 2001). Diferenças sazonais marcantes de pluviosidade na bacia Amazônica e do Tocantins provocam uma variação considerável no volume de água carreado por esses rios ao longo do ano, fazendo com que a zona de contato entre o rio e mar se desloque por aproximadamente 200 km de extensão (EGLER; SCHWASSMANN, 1962) e influencie diretamente a salinidade na baía de Marajó. As alterações na salinidade das águas desta baía tornam as mesmas salobras no verão amazônico (junho a dezembro) e doces no inverno amazônico (janeiro a maio) (BARTHEM, 1985). Dados obtidos por Barthem e Schwassmann (1994) indicam que nesta região há uma complexa dinâmica de deslocamentos de massas de água ao longo do ano. Durante o período chuvoso (1o semestre - inverno), a elevada descarga do rio Tocantins parece represar as águas do rio Amazonas próximo ao estreito de Breves e afastar as águas salobras para fora da baía, enquanto que no período mais seco (2o semestre - verão), quando a descarga do rio Tocantins é mínima, as águas do rio Amazonas penetram pelo estreito de Breves e entram em contato com as águas salobras que invadem a baía de Marajó (BARTHEM; SCHWASSMANN, 1994). Desta forma a alteração na salinidade das águas da baía de Marajó afeta diretamente a distribuição das espécies de dasyatídeos ocorrentes na região, que 25 Figura 05: Processo de evisceração das arraias D. colarensis em campo, onde a = Estômago e b = Vávula espiral. A fixação dos estômagos foi realizada em campo através de solução de formol a 10% tamponada com bórax. Todo o material foi levado para análise no Laboratório de Ictiologia do Museu Paraense Emílio Goeldi. As amostras foram lavadas em água corrente para eliminar o excesso de formol e conservadas em pequenos tambores contendo álcool etílico (70%) para análise. Durante a análise do material, os estômagos foram abertos, seu conteúdo colocado numa placa de Petri e analisado em lupa estereoscópica (Nikon, SMZ-10). Uma balança de precisão (Sartorius, LC621S) foi utilizada nas pesagens dos estômagos e dos respectivos itens alimentares. O excesso de umidade dos estômagos e dos itens alimentares foi removido com papel toalha. Os níveis de repleção dos estômagos foram observados e aos mesmos foram atribuídos os seguintes valores: 0 = vazio; 1 = ¼ de cheio; 2 = cheio até a metade; 3 = ¾ de cheio; 4 = cheio. Os estômagos vazios não foram considerados na análise, pois este método considera o item alimentar, sua porcentagem de freqüência relativa de ocorrência, peso e número. Uma análise do grau de digestão dos itens alimentares encontrados nos estômagos também foi efetuada com base nos seguintes valores indicados por 26 Zavala-Camin (1996), onde: 1 = exemplar não digerido; 2 = partes externas parcialmente digeridas; 3 = partes externas e massa muscular parcialmente digerida; 4 = somente o esqueleto axial e partes da massa muscular; 5 = somente fragmentos. Os resultados obtidos a partir das análises foram anotados em uma planilha específica (ANEXO A). A composição da dieta de D. colarensis foi obtida através dos cálculos de Freqüência Relativa de Ocorrência, Percentagem Numérica e Percentagem em Peso. Esses valores foram obtidos de acordo com as seguintes fórmulas: a) Freqüência Relativa de Ocorrência (%F.O.):      ×= n Fi FO 100% Onde Fi = Número de vezes que o item alimentar ocorreu; e n = número total de estômagos com ocorrência de itens. b) Percentagem Numérica (%N):      ×= n Ni N 100% Onde Ni = Número de itens de cada táxon; e n = número total de itens de todas as categorias taxonômicas. c) Percentagem em Peso (%P):      ×= n Pi P 100% Onde Pi = Peso total de um item (táxon); e n = somatório de todos os pesos de todos os conteúdos estomacais. O Índice de Importância Relativa (IRI) (PINKAS et al., 1971) modificado, onde a percentagem do volume é substituída pela percentagem do peso devido à dificuldade em se calcular o volume de itens muito pequenos para cada estômago, foi calculado considerando os resultados acima. O cálculo do IRI foi realizado através da seguinte fórmula: 27 ( )NPFOIRI %%% +×= O IRI foi transformado em porcentagem (%IRI) para melhor interpretação dos dados, de acordo com que foi indicado na literatura (CORTÉS, 1997). Todos os resultados obtidos foram armazenados e analisados com o auxílio de banco de dados (Excel – Microsoft Office 2003) e do software Statistica (versão 7.0 – Statsoft). 30 Os elasmobrânquios ainda apresentam a válvula espiral que é onde ocorre a absorção dos nutrientes, graças às dobras internas que retardam a passagem do bolo alimentar e ao mesmo tempo propiciam uma maior superfície de absorção (HOLMGREN; NILSSON, 1999; CHARVET-ALMEIDA, 2001). A análise dos estômagos coletados (n = 47) indicou a presença de 11 estômagos apresentando apenas substância amorfa (onde não foi possível a identificação de qualquer item alimentar), outros 34 com conteúdo estomacal que pôde ser analisado e dois vazios. A tabela a seguir (Tabela 1) apresenta os resultados referentes ao número, condição e categoria dos estômagos de D. colarensis analisados. Tabela 1. Número, condição e categoria dos estômagos de D. colarensis estudados. Estômagos n % Coletados para análise 47 100 Apresentando somente substância amorfa (muito digerida para análise) 11 23,4 Apresentando substância amorfa e itens alimentares analisados 34 72,3 Apresentando somente itens alimentares - - Apresentando itens alimentares analisados 34 72,3 Vazios 2 4,3 A maioria dos estômagos (n = 34; 72,3%) apresentou itens alimentares. Isso sugere que provavelmente as coletas ocorreram em períodos que sucederam a alimentação destas raias. O nível de repleção dos estômagos foi observado e apresentou os seguintes resultados (Tabela 2). 31 Tabela 2. Nível de repleção observado nos estômagos coletados para análise. Estômagos Nível de repleção n % 0 (vazio) 2 4,3 1 (1/4 de cheio) 41 87,2 2 (1/2 cheio) 4 8,5 3 (3/4 de cheio) - - 4 (cheio) - - Total 47 100 O grau de repleção dos estômagos analisados apontou que uma boa parte destes apresentavam pouco conteúdo (87,2% com ¼ de repleção), 8,5% com o grau 2 e 4,3% vazios. D. colarensis aparentemente é uma espécie que não acumula muito alimento em seu estômago. Uma possível explicação para isso poderia estar associada a abundância das presas ou ao fácil acesso das raias à elas, o que possivelmente poderia favorecer períodos contínuos de alimentação. Segundo Wetherbee et al., (1990) a ocorrência de estômagos vazios ou de baixos níveis de repleção é uma característica comum observada em elasmobrânquios marinhos. Silva et al., (2001), observaram que a maioria dos estômagos de D. guttata capturada na enseada do Mucuripe, no Ceará, estava com ¼ do volume preenchido (45,4%). A análise do grau de digestão dos itens apresentou os resultados indicados a seguir (Tabela 3). 32 Tabela 3. Grau de digestão dos itens analisados (número de itens observados n = 98). Grau de digestão Número de itens % 1 12 12,2 2 10 10,2 3 18 18,4 4 26 26,5 5 32 32,7 Total 98 100 O grau de digestão dos itens analisados indicou que a maioria dos itens apresentava-se no grau máximo de digestão (32,7%), e que provavelmente esta espécie apresente uma rápida digestão. A análise das categorias taxonômicas dos itens (Tabela 4) indicou a presença de quatro grandes grupos na dieta de D. colarensis, sendo: peixes, crustáceos, anelídeos e moluscos. Esta identificação seguiu as chaves de determinação de Ruppert & Barnes (1996) e Mello (2003) para invertebrados. Os vertebrados foram separados em grandes grupos e as amostras foram identificadas por especialistas até o menor nível taxonômico possível. 35 Tabela 5. Índices alimentares dos itens analisados. Item alimentar % F.O. % N % P IRI % IRI Anelídeos 2,94 1,02 0,21 3,629 0,03 Crustáceos 88,24 68,37 18,22 7639,878 57,87 Moluscos 2,94 1,02 0,06 3,169 0,02 Peixes 50,00 29,59 81,51 5555,169 42,08 Total 144,12 100 100 13201,85 100,00 A representação gráfica tridimensional (Figura 9) do conteúdo estomacal em relação aos valores de Freqüência Relativa de Ocorrência (% FO), Porcentagem Numérica (% N) e Porcentagem em Peso (%P) confirmou a dominância dos itens crustáceos e peixes. 36 Figura 10: Representação gráfica tridimensional do Índice de Importância Relativa (IRI), obtido para os itens alimentares observados para D. colarensis, onde D = dominante, R = raro, G = generalista e S = especialista. Estudos sobre a alimentação de raias do mesmo grupo apontam para hábitos alimentares semelhantes ao de D. colarensis. Bigelow e Schroeder (1953), observaram que os indivíduos da família Dasyatidae, de modo geral, alimentam-se de vermes, moluscos, crustáceos e pequenos peixes. Gudger (1912), observou a predominância de dois tipos de vermes como itens alimentares de D. sayi em Beaufort, Estado Unidos, concluindo que esta espécie se alimenta exclusivamente de espécies bentônicas. Hess (1961), indicou que D. sayi e D. centroura de ocorrência na baía Delaware nos EUA, têm o mesmo hábito alimentar, com preferência para crustáceos, moluscos, anelídeos e peixes teleósteos. Diferindo das observações de Gudger Crustáceos Peixes Moluscos Anelídeos 37 (1912), estas raias alimentam-se também de organismos livre natantes, e não exclusivamente de grupos bentônicos. Struhsaker (1969), observou que D. centroura na costa sudeste dos Estados Unidos, tem preferência alimentar por crustáceos, vermes, cefalópodes e peixes teleósteos. Yépez e Espinosa (1970), ao estudar as raias do lago Maracaibo, concluíram que H. schmardae tem preferência por crustáceos, como caranguejos e camarões. Em estudo realizado por Thorson (1983), em três países da América do Sul e Central, indicou que D. guttata alimenta-se de moluscos e peixes teleósteos. Aguiar (2005), em seu estudo de observação direta no arquipélago de Fernando de Noronha, observou uma raia da espécie D. americana predando cefalópodes. Silva et al.,(1998), ao estudarem D. guttata na enseada do Mucuripe, no Ceará, concluíram que esta apresentou preferência alimentar por crustáceos, moluscos e peixes. Em contra partida, os resultados apresentados por Silva et al., (2001), diferem do trabalho anterior, indicando que D. guttata , de ocorrência no mesmo local de amostragem, teve uma dieta mais diversificada com preferência alimentar por equinodermos, sinpunculídeos, anelídeos, moluscos, crustáceos e peixes. A área de ocorrência de D. colarensis foi ampliada havendo registros de ocorrência desta espécie até o Estado do Ceará (CHARVET-ALMEIDA, comunicação pessoal). Assim é possível que estas diferenças observadas na dieta de D. guttata em uma mesma região, estejam associadas a dificuldade na identificação dos exemplares. É bastante provável que nas amostras de Silva et al., (1998) e Silva et al., (2001) tenham ocorrido ambas espécies (D. guttata e D. colarensis). 40 CHARVET-ALMEIDA, P. Ocorrência, Biologia e Uso das Raias de Água Doce na Baía de Marajó (Pará, Brasil), com Ênfase na Biologia de Plesiotrygon iwamae (Chondrichthyes: Potamotrygonidae). Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Pará & Museu Paraense Emílio Goeldi. 213 p. Belém, 2001. CHARVET-ALMEIDA, P. História natural e conservação das raias de água doce (Chondrichthyes: Potamotrygonidae) no médio rio Xingu, área de influência do Projeto de Hidrelétrica de Belo Monte (Pará, Brasil). Tese de Doutorado. CCEN/UFPB. 213p. João Pessoa, 2006. CHARVET-ALMEIDA, P.; SILVA, A. J. A.; VIANA, A. S.; ALMEIDA, M. P.; LINS, P. M. O. 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Análise do conteúdo estomacal da raia manteiga Dasyatis guttata (CHONDRICHTHYES:DASYATIDAE) 45 ANEXO 46 ANEXO A Planilha/Análise Alimentação Número do Exemplar: ___Data de Coleta:___ _Data da Análise: Espécie: Peso Estômago Cheio: Índice de Repleção: _ Peso Estômago Vazio: Nome Vulgar e Táxon Família Nome Científico Estado de Digestão Contagem (n) Peso (g) OBS:
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