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Guias e Dicas
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Propagação de plantas frutiferas, Notas de estudo de Engenharia Agronômica

EMBRAPA - EMBRAPA

Tipologia: Notas de estudo

2010
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Compartilhado em 19/07/2010

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felipe-araujo-2 🇧🇷

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Baixe Propagação de plantas frutiferas e outras Notas de estudo em PDF para Engenharia Agronômica, somente na Docsity! 1 Propagação de Plantas Frutíferas Editores técnicos José Carlos Fachinello Alexandre Hoffmann Jair Costa Nachtigal EMBRAPA 2 Infra-estrutura para Propagação de Plantas Frutíferas O objetivo de todo viveirista é produzir mudas de plantas frutíferas com elevado padrão de qualidade (morfológica, fisiológica e fitossanitária). Essa meta é essencial para garantir a competitividade do viveiro e o retorno certo do investimento efetuado no estabelecimento da atividade, além de assegurar ao cliente, a satisfação de suas necessidades e, ao produtor de mudas, a idoneidade e a estabilidade do empreendimento durante anos. Para que esse objetivo seja alcançado, é fundamental adotar um elevado nível tecnológico, que inclua todas as etapas da produção, desde a obtenção do material propagativo básico até o transporte da muda ao cliente. Avanços na tecnologia de propagação são cada vez mais visíveis e concretos. Em culturas de nível tecnológico mais avançado, como na citricultura, na bananicultura e na pomicultura, parte dessa tecnologia já está quase totalmente incorporada à própria exigência legal, estabelecida pelos órgãos oficiais em nível estadual e federal. Neste capítulo, serão abordadas as principais estruturas e meios para propagação de espécies frutíferas, indicando algumas das condições que maximizem a qualidade das mudas produzidas. A necessidade em infra-estrutura do viveiro é variável, conforme as exigências legais, o nível tecnológico e o conhecimento da cultura, a escala de produção de mudas, o tamanho do viveiro, a disponibilidade de recursos do viveirista, o destino das mudas e o grau de exigência do mercado consumidor. Sementeiras e viveiros Para a propagação de plantas frutíferas, um dos aspectos de grande importância é a infra-estrutura da área de produção de mudas. Uma infra -estrutura adequada, racional e tecnificada é o primeiro passo para que o viveirista tenha uma atividade eficiente e economicamente viável. A escolha da infra-estrutura do viveiro de produção de mudas frutíferas depende de diversos fatores, tais como:  Quantidade de mudas produzidas.  Regularidade desejada da oferta de mudas.  Número de espécies a serem propagadas.  Método de propagação.  Custos das instalações. • Grau de tecnificação do viveirista. Em relação a esse último fator, vale ressaltar que a propagação de plantas é uma atividade muito dinâmica e tem tido avanços que possibilitam a produção com qualidade e eficiência. Daí, decorre a importância do viveirista estar em contínuo contato com os órgãos de pesquisa, universidades e serviços de extensão, para constante aperfeiçoamento. Entende-se, por viveiro, a área onde são concentradas todas as atividades de produção de mudas. Quanto à duração, os viveiros podem ser classificados em permanentes e temporários. Viveiros permanentes São aqueles com caráter fixo, onde a produção de mudas prolonga se por vários anos. Por isso, esses viveiros requerem um bom planejamento para a instalação, incluem uma infra-estrutura permanente e geralmente apresentam maiores dimensões. Por mais que o viveiro seja permanente, quando o plantio é feito no solo, uma mesma 5 Solos ricos em matéria orgânica têm vida micro e macrobiana mais ativa, o que pode favorecer o desenvolvimento das mudas. Contudo, devem-se utilizar áreas isentas de nematóides, insetos de solo, fungos patogênicos (Fusarium sp., Pythium sp., Armilaria sp, Rosellinia sp, Phytophthora sp., entre outros) e bactérias fitopatogênicas (Agrobacterium tumefasciens). Por isso, é necessário o monitoramento, por meio de análises microbiológicas do solo da área a ser utilizada como viveiro. A desinfestação do solo pode ser uma boa alternativa no controle de patógenos de solo e de plantas invasoras, mas normalmente é de alto custo e acarreta danos sobre toda a vida microbiana do solo. A escolha adequada e o manejo da área principalmente no que se refere à rotação de culturas são fundamentais, pois até o momento, não se encontrou um método de controle eficiente contra podridões-de-raiz. Cultivos anteriores o viveiro deve estar localizado em área onde não existiram pomares há pelo menos 5 anos, e onde não existiram viveiros há pelo menos 3 anos. Quando se utilizam áreas onde, anteriormente, havia mata ou outras plantas perenes, deve ser feita a destoca no mínimo 2 anos antes da implantação do viveiro, cultivando-se gramíneas anuais, entre elas o milho, a aveia-preta, o sorgo, entre outras, até que o viveiro seja implantado. Essas gramíneas podem ser incorporadas ao solo, para elevação do teor de matéria orgânica. Algumas plantas frutíferas liberam fitotoxinas no solo, as quais comprometem os cultivos posteriores, implicando a necessidade de ser feita a rotação de culturas. Por exemplo, a nogueira européia libera no solo o jiglone, a macieira libera a floridzina e o pessegueiro e a ameixeira, a prunasina e a amigdalina. Aspectos climáticos o melhor clima do local onde o viveiro será implantado depende da(s) espécie(s) a ser (em) propagada(s). Entre os fatores climáticos mais limitantes, estão a temperatura, a luz e a ocorrência de ventos. No que sé refere à temperatura, é importante que o viveiro esteja localizado em área o mais livre possível de geadas. Além disso, temperaturas médias mais elevadas reduzem o tempo para a produção das mudas. Como exemplo, pode ser citado o fato de que, no Estado de São Paulo, enquanto mudas cítricas requerem cerca de 24 meses para serem produzidas, no Rio Grande do Sul requerem cerca de 36 meses, exceto se produzidas em estufas. A exposição à luz é fundamental, especialmente na fase final de propagação. Ventos muito fortes aumentam a quebra no local da enxertia, podendo requerer a implantação de quebra-ventos. A extensão da área do viveiro depende de diversos fatores, sendo os principais:  Quantidade de mudas para plantio e replantio determinada pela capacidade operacional do viveiro e pela demanda por mudas pelos produtores.  Densidade de mudas, o que depende da espécie e do tempo de permanência, de modo a proporcionar as melhores condições para seu desenvolvimento.  Período de rotação, que se refere ao tempo que a muda permanece, desde o início de produção até o replantio ou comercialização. Esse intervalo é dependente da espécie, do método de propagação e do manejo da muda.  Dimensões dos canteiros e carreadores, que dependem da espécie a ser propagada e do grau de mecanização adotado. Viveiros com maior grau de mecanização requerem canteiros mais longos, maiores distâncias entre linhas e carreadores mais largos.  Dimensões das instalações determinadas, principalmente, pela quantidade de mudas produzidas pelo método de propagação adotado e pelo grau de tecnologia empregado. 6  Áreas para rotação, fundamentais para produção de mudas sadias, especialmente se a produção de mudas for feita diretamente no solo. Para dimensionamento do viveiro, deve-se considerar a disponibilidade de áreas para rotação, de modo que uma mesma área não seja utilizada para produção de mudas por mais de 2 anos. Um dos aspectos fundamentais a ser considerado no planejamento e dimensionamento dos viveiros é a seleção das espécies a serem propagadas. Existem viveiristas especializados em propagar apenas uma espécie, bem como viveiristas extremamente ecléticos, que propagam inúmeras espécies. Essa escolha depende da capacidade do mercado de absorver a produção das mudas, do tipo de clientela, do grau de especialização e de profissionalização do viveirista, das condições ambientais do viveiro e das exigências climáticas das espécies. De qualquer forma, os principais cuidados a serem tomados pelo viveirista - quando da seleção das espécies - são procurar trabalhar com uma certa economia de escala, para reduzir os custos unitários da muda, não abrindo mão da qualidade do produto. Telados e estufas A necessidade de instalações especiais em viveiros de produção de mudas frutíferas depende de diversos fatores e deve-se considerar a máxima eficiência no uso das mesmas, economicidade para construção e facilidade no manejo para produção das mudas. O grau de sofisticação das instalações depende da interação entre fatores como a espécie a ser propagada, quantidade de mudas a serem produzidas e o poder aquisitivo do viveirista. Atualmente, estão disponíveis no mercado, diferentes estruturas como telados, estufas plásticas, ripados e outras, em diversos módulos de tamanho e de custos. Para algumas espécies frutíferas, especialmente as mais sensíveis a viroses, torna-se recomendável - e em certos casos obrigatória - a manutenção das plantas-matrizes em telados, para garantir a sanidade das plantas fornecedoras de enxertos ou outra forma de material propagativo. Entre as instalações especiais para viveiros, destacam-se as seguintes: Telados É uma estrutura - de madeira ou de metal - coberta com tela, que garante o sombreamento e mantém a luminosidade próxima da natural (Fig. 1). O telado é útil nas seguintes situações: na manutenção de plantas matrizes isentas de viroses, na aclimatação e na produção de mudas que exigem sombreamento inicial. As telas podem apresentar diferentes graus de sombreamento, sendo importante considerar que, quanto maior for o grau de sombreamento, maior será a ocorrência de estiolamento das mudas que permanecerem por longo tempo no telado e maior a facilidade de as mudas morrerem quando forem transferidas para o pomar. O tipo de tela mais utilizado é o que permite um sombreamento de 50%. O telado pode ter diferentes dimensões, podendo ser permanente ou temporário, dotado ou não de sistema de irrigação localizada. No caso de telas à prova de afídeos, a dimensão da malha deve ser inferior a 0,4 mm. 7 Fig. 1. Telado para produção de mudas. Estufas Também conhecida como casa de vegetação, a estufa é uma estrutura parcial ou completamente fechada, feita de madeira ou de metal (alumínio, aço ou ferro galvanizado), geralmente coberta com plástico especial, para essa finalidade. Pode ainda ser coberta de vidro ou fibra de vidro, o que acarreta maior custo. A grande vantagem do uso de estufas em viveiros é a possibilidade de controle ambiental, de modo a maximizar a produção de mudas, reduzindo o tempo necessário para a propagação e permitindo que as mudas possam ser produzidas em várias épocas do ano. Normalmente, as estufas possuem sistemas de nebulização intermitente, o que mantém a umidade relativa do ar elevada, permitindo a propagação por meio de estacas com folhas (técnica que, em certas espécies, viabiliza a propagação por estaquia). A elevada umidade do ar e a alta temperatura aumentam a velocidade de crescimento das plantas. As estufas podem ser construídas pelo próprio viveirista ou adquiridas de empresas especializadas. Além do sistema de nebulização, as estufas podem ser dotadas de sistemas automatizados para aquecimento do substrato e diminuição da temperatura, entre outros. Entre os problemas relacionados com o uso de estufas, podem ser citados os seguintes:  Aumento da dependência da planta em relação ao homem.  Elevado custo de implantação.  Aumento da sensibilidade.  Ocorrência de doenças. • Dificuldades na aclimatação. O enraizamento de estacas de muitas espécies - especialmente as semi-lenhosas e herbáceas - é muito difícil, se não for adotado um controle ambiental, principalmente em relação a três pontos:  Manter alta umidade relativa do ar com baixa demanda evaporativa, de modo que a transpiração das estacas seja minimizada e a perda de água seja mínima.  Manutenção de temperatura adequada - e suficientemente amena na parte aérea - para estimular o metabolismo na base das estacas e reduzir a transpiração. Manter a irradiação num limite suficiente, para ocasionar elevada atividade fotossintética, sem causar aumento excessivo da temperatura nas folhas. As estufas têm essa final idade de controle ambiental. Quanto mais controladas as condições de propagação, maiores as chances de sucesso, especialmente naquelas 10 capacidade de aeração e drenagem, boa coesão entre as partículas e adequada aderência nas raízes. Na avaliação de um substrato, podem ser úteis parâmetros físicos tais como poros idade total, densidade, proporção do tamanho de partículas, espaços com ar e água, condutividade hidráulica saturada e insaturada. Na literatura, inúmeros materiais são citados como adequados para a germinação ou desenvolvimento de plantas propagadas por sementes. A associação de materiais - especialmente em mistura com o solo permite melhorar as condições para desenvolvimento das mudas. Assim, a grande maioria dos trabalhos com substratos nessa fase inclui misturas de solo, de vermiculita e de materiais orgânicos. É aconselhável misturar areia e materiais orgânicos, para melhorar a textura e propiciar melhores condições ao desenvolvimento das mudas. Em misturas, o solo e a turfa participam como retentores de umidade e nutrientes, enquanto a areia, serragem ou casca de arroz funcionam como condicionadores físicos. A mistura com materiais orgânicos beneficia as condições físicas do substrato e fornecem nutrientes, favorecendo o desenvolvimento das raízes e da planta como um todo. Numa sementeira, considerando-se o solo como substrato, é importante observar os seguintes aspectos:  A sementeira deve estar localizada fora da área de produção e não deve ser usada por mais de 2 anos consecutivos, como forma de diminuir o potencial de inóculo de patógenos.  Deve haver pequena declividade para exposição à luz e boa disponibilidade de água para irrigação.  É conveniente que se utilizem solos com textura média.  Para se evitar problemas com patógenos ou plantas invasoras, pode ser efetuada a esterilização do substrato. Esta pode ser feita utilizando-se fungicidas, solarização, tratamento térmico, ou agentes de controle biológico e químico, recomendados pela legislação vigente.  Deve ser prevista uma rotação de culturas antes da implantação de sementeira, especialmente se na mesma área foram cultivadas espécies perenes.  O suprimento de água deve ser adequado, pela necessidade de germinação e a sensibilidade das plântulas ao déficit hídrico.  Com o uso de corretivos, o pH do solo deve ser ajustado para o nível adequado à espécie a ser propagada.  Quanto ao suprimento de nutrientes, devem ser tomados cuidados com o excesso de adubação, especialmente a adubação nitrogenada. O excesso de sais inibe a germinação, além de o desequilíbrio nutricional favorecer a ocorrência de doenças. O manejo da adubação depende, essencialmente, do tempo de permanência da muda na sementeira. O substrato é um dos fatores de maior influência na propagação por estaquia, especialmente naquelas espécies com maior dificuldade de formação de raízes. O substrato não apenas afeta o percentual de estacas enraizadas, como também a qualidade do sistema radicular da muda. Destina-se a sustentar as estacas durante o enraizamento, mantendo sua base num ambiente úmido, escuro e suficientemente aerado. Num sentido mais restrito, o substrato deve garantir as condições adequadas apenas para o enraizamento das estacas. Contudo, numa abordagem mais ampla, é conveniente que algumas condições sejam oferecidas para que haja o desenvolvimento inicial das 11 raízes adventícias, tais como o fornecimento de nutrientes e o uso de materiais orgânicos, que podem favorecer o desenvolvimento radicular e o pegamento, e desenvolvimento no viveiro ou no campo. O substrato mais adequado para o enraizamento varia conforme a espécie, podendo-se considerar que um bom substrato deve reunir as seguintes características:  Reter água suficiente para manter as células túrgidas, evitando o murchamento da estaca.  Garantir aeração suficiente, por meio de um adequado espaço poroso, para a formação das raízes e o metabolismo radicular.  Aderir bem à estaca e às raízes formadas.  Não favorecer a contaminação e o desenvolvimento de patógenos e saprófitos, tanto por ser fonte de inóculo, quanto por criar condições favoráveis ao desenvolvimento de microrganismos.  Permitir que as estacas enraizadas sejam removidas com um mínimo de dano às raízes.  Ter baixo custo e fácil aquisição. • Não conter ou liberar quaisquer substâncias fitotóxicas à estaca. Conforme o tipo de ambiente para propagação, deve ser dada atenção diferenciada. No caso de uso de nebulização intermitente, a drenagem é um dos fatores mais importantes, para se evitar a asfixia na base da estaca. Ao se trabalhar com estacas lenhosas em solo ou em recipientes com outro material, mas sem nebulização, a retenção de água assume maior importância. A escolha do substrato é feita levando-se em consideração a espécie, o tipo de estaca, as características do substrato, a facilidade de obtenção e o custo de aquisição. A determinação do substrato mais adequado para cada espécie deve ser feita por meio de experimentos. Na Tabela 1, são apresentadas algumas vantagens e desvantagens de alguns substratos que podem ser utilizados em estaquia. O meio de enraizamento não afeta apenas o enraizamento em si. Tem sido obtida grande influência do substrato sobre a qualidade do sistema radicular adventício, no que tange a diversos parâmetros. É conveniente atentar-se para a qualidade do sistema radicular formado, pois essa irá, diretamente, o pegamento no viveiro e o desenvolvimento posterior da muda. Geralmente, raízes desenvolvidas em areia são mais grossas, menos ramificadas e mais quebradiças, ainda que as características do sistema radicular também sejam função da espécie. A mistura da areia com turfa ou outros materiais orgânicos permite que se forme um melhor sistema radicular. A permanência das folhas na estaca também pode ser afetada pelo substrato. Substratos com menor contato com a estaca tendem a ocasionar maior queda de folhas e a morte das estacas. A parte da estaca que fica enterrada no substrato poderá sofrer asfixia, que desfavorece o enraizamento, podendo causar até mesmo a morte desta. A baixa capacidade de drenagem do substrato na base da estaca pode ocasionar a necrose na base da mesma. Além disso, o pouco espaço poroso poderá favorecer a ocorrência de doenças. 12 o teor de oxigênio requerido na formação de raízes é variável conforme a espécie, mas é sempre indispensável. Por exemplo, para Salix spp., 1 mg.L-l de oxigênio é suficiente para o enraizamento, podendo o mesmo enraizar em água, ao passo que para Hedera helix, são necessários apenas 10 mg. L-l . Em algumas espécies, o aumento do teor de oxigênio incrementou o enraizamento de estacas. Assim, é importante analisar as características físicas do substrato a ser utilizado nessa condição. Espaço poroso (macro e microporosidade), oxigênio disponível, aeração, drenagem e excesso de água no substrato são aspectos interligados entre si, passíveis de observação. Há menções de que o espaço poroso do substrato de enraizamento deve ser de 20%, admitindo-se um intervalo de 15% a 45% de poros idade. As seguintes propriedades físicas de um substrato de enraizamento são importantes: 15  Proteção da muda contra doenças e pragas de solo, além de facilitar, quando necessário, a prática da esterilização do substrato.  Aumento da facilidade no transporte das mudas.  Redução do estresse no momento do transplante.  Permanência do viveiro por mais tempo, evitando a necessidade de rotação de culturas devido ao risco de doenças e pragas do solo. Quando a produção de mudas é feita em recipientes, é importante observar os seguintes aspectos:  Manutenção da umidade, especialmente em recipientes com pequena capacidade de acondicionamento de substrato.  Adubação, pois o substrato pode facilmente ser esgotado quanto à disponibilidade de nutrientes.  Limitação ao desenvolvimento radicular, aspecto que deve ser constantemente observado, de modo que o recipiente não venha a ser uma barreira para as raízes, a ponto de prejudicar o crescimento da muda. Convém que um bom recipiente apresente as seguintes carac;ticas:  Ter boa resistência para suportar a pressão devida ao peso do substrato e da muda.  Permitir que a planta tenha um rápido desenvolvimento inicial.  Acondicionar o volume adequado de substrato.  Possuir bom sistema de drenagem.  Possibilitar boa retenção da umidade.  Permitir boa retenção do substrato.  Ter durabilidade, a ponto de resistir durante todo o processo de produção da muda.  Ser de fácil manejo, quando da transferência (leveza e resistência).  Ter baixo custo de aquisição. • Ser reutilizável, ou construído com material facilmente reciclável. Mesmo que um recipiente não reuna todas essas qualidades, deve- se selecionar aquele que reuna o maior número de vantagens, pois isso está estreitamente relacionado com a eficiência do sistema de propagação e da viabilidade do uso de recipientes. Assim, a escolha do recipiente deve considerar as qual idades de cada material, o método de propagação e os efeitos que ele proporciona sobre o crescimento da muda. Vários são os recipientes utilizados na produção de mudas frutíferas. Entre esses, podem ser citados: sacos de plástico, tubetes, citropotes, bandejas de plástico ou de isopor, caixas de madeira ou de metal, vasos de plástico, entre outros. A seguir, serão descritos alguns dos principais recipientes utilizados na propagação comercial de plantas frutíferas: Sacos de plástico São recipientes que podem apresentar as mais diferentes dimensões, tais como 8 cm (diâmetro) x 12 cm (altura) e 25 cm (diâmetro) x 25 cm (altura). Normalmente, apresentam coloração preta ou escura, para impedir o desenvolvimento de algas e de plantas invasoras dentro do recipiente e proporcionar melhores condições de desenvolvimento para as raízes. Perfurados na base, para drenagem da água, são muito versáteis, adaptando-se a uma grande variedade de situações, além de terem baixo custo de aquisição, serem reutilizáveis e de fácil manejo (Fig. 2). 16 Fig. 2. Mudas cítricas obtidas em embalagens de plástico. Contudo, se o plástico for de pouca espessura, esses recipientes rompem-se facilmente com o peso do substrato ou devido ao crescimento das raízes. Além disso, as perfurações devem estar localizadas próximo à base da embalagem. Caso contrário, não permitem um bom escoamento da água em excesso, prejudicando o crescimento da muda. No momento da aquisição, é importante atentar para a qualidade do plástico, além do número e a posição das perfurações. Tubetes São recipientes de formato cônico, construídos em plástico rígido e de cor escura. Internamente, apresentam estrias que dificultam o enovelamento das raízes. Podem acondicionar diferentes volumes de substrato. Para o uso dos tubetes, é necessário um sistema de suporte, que pode ser uma bandeja de isopor, plástico ou metal, bem como uma bancada com fios de arame distanciados, para possibilitar a colocação dos mesmos. Assim, os tubetes ficam suspensos, de modo que a base destes ficam expostas ao ar, proporcionando a denominada poda das raízes pelo vento. Apresentam a vantagem de serem reutilizáveis várias vezes, além de permitirem a produção de um grande número de mudas por unidade de área. Por serem unidades independentes, os tubetes permitem a seleção das mudas com a embalagem. Por disporem de pequeno volume de substrato, requerem que se retire a muda tão logo as raízes ocupem todo o substrato. Por isso, são úteis para a primeira etapa da propagação, além de necessitarem de irrigações periódicas, visto que o substrato facilmente se desidrata. Dependendo do substrato, o tubete pode não reter o mesmo, que é perdido pelo orifício na base (Fig. 3). 17 Fig. 3. Porta-enxerto de citros produzidos em tubetes. Bandejas Podem ser confeccionadas em plástico, normalmente apresentando um espaço único e contínuo para acondicionamento do substrato. Também podem ser feitas de poliestireno expandido (isopor), constituídas de um número variável de células, onde é feita a produção da muda. As células apresentam forma piramidal invertida, com capacidade de até 120 cm3 de substrato por célula. Na base, a célula apresenta um orifício para escoamento da água. As bandejas podem ser reutilizadas várias vezes. Como os tubetes, elas são úteis na primeira etapa da propagação, pois acondicionam pequeno volume de substrato. Preferencialmente, as bandejas devem ficar suspensas, permitindo a poda pelo vento. A durabilidade da bandeja está em função do ambiente onde é feita a propagação e do cuidado no manuseio das mesmas. Para uma dada espécie, em sistemas tradicionais de propagação (viveiros), podem ser produzidas cerca de 25 mil a 30 mil mudas por hectare, enquanto com uso de bandejas, podem ser produzidas cerca de 200 mil mudas por hectare. Citropotes Também conhecidos como containers, esses recipientes são assim denominados por serem desenvolvidos e difundidos para produção de mudas cítricas. São confeccionados em plástico preto rígido e acondicionam grande volume de substrato, permitindo que a muda seja mantida nesse recipiente desde a repicagem (produzida em tubetes ou bandejas) até a comercialização. Os citropotes apresentam diversas vantagens, dentre as quais a facilidade de manuseio, a possibilidade de produção de mudas numa mesma área por vários anos, desde que o substrato seja oriundo de local isento de patógenos e o plantio da muda no pomar não apresente danos ao sistema radicular. Uma das principais limitações ao uso do citropote é o custo elevado. Na propagação por sementes, usam-se sacos de plástico, bandejas e tubetes. Na propagação por estacas, é mais comum o uso de sacos de plástico, embora, até o momento, ensaios feitos com bandejas e tubetes tenham proporcionado resultados bastante promissores. 20 sistêmicos para controle de insetos sugadores. Detectando-se a presença de inimigos naturais das pragas, deve-se, pelo menos, utilizar produtos químicos seletivos. Controle de plantas invasoras Uma boa condução e formação de mudas exige uma série de operações que estão estreitamente relacionadas, tais como: seleção das plantas-matrizes, copas e porta- enxertos, controle de pragas e doenças, além de tratos culturais adequados. Dentro desse aspecto, o controle de plantas invasoras, tanto em sementeiras como em viveiros, é de grande importância. Modernamente, tem-se propagado, principalmente, porta-enxertos, como é o caso específico de mudas cítricas, por tubetes, bandejas ou si m i lares. Essa metodologia permite a utilização de substratos tratados, isentos de plantas invasoras e garante maior controle de pragas e doenças. Entretanto, na segunda fase de propagação, com a utilização de viveiros, o controle de plantas invasoras é fundamental, porque nesse local é onde serão realizadas todas as operações que resultarão numa muda de boa qualidade. Inicialmente definido como área de terreno destinada à produção de mudas, onde as mesmas são formadas até irem para o campo, o termo viveiro, neste caso, tem um conceito mais abrangente por englobar estruturas como sementeiras, valetas para estratificação, áreas para plantio de porta-enxertos, casas de vegetação, câmaras de nebulização e coberturas de tela de plástico. Também estão relacionados materiais como sacos de polietileno, tubetes, vasos, bandejas de isopor, componentes de substrato como solo, areia, esterco, compostos orgânicos, cascas e palhas, vermiculita, casca de madeira triturada, terriço, etc. Nesse caso, a correlação entre o enviveiramento de mudas frutíferas e os possíveis problemas com plantas invasoras têm um sentido amplo, que envolve cuidados e práticas bem distintas, de acordo com a fase de produção da muda e a metodologia utilizada. O conceito de planta invasora ou daninha baseia-se na presença indesejável de uma planta, em relação ao homem, quando prejudicaria direta ou indiretamente sua saúde, a produção agropecuária ou outras atividades de interesse econômico. O conceito de indesejabilidade fica claro em definições como "uma planta que ocorre onde não é desejada", ou "uma planta fora do lugar". Assim, uma determinada planta poderá ser considerada invasora, indiferente ou útil, dependendo do tempo e local onde ela ocorre. No caso específico de viveiros, a presença de outras plantas, que não sejam as mudas, sempre é considerada danosa ou prejudicial. Existem cinco métodos de controle de plantas daninhas, distintos dos processos de prevenção e de erradicação. Prevenção é a utilização de métodos para se evitar uma infestação ou reinfestação, enquanto a erradicação é a eliminação de uma população. Deve-se considerar que viveiros de produção de mudas - em seu sentido amplo, como mencionado anteriormente - podem apresentar peculiaridades que diferem de uma cultura em larga escala em campo, tais como:  Os viveiros em campo normalmente ocupam áreas reduzidas atingindo, quando muito, alguns poucos hectares.  Formação de mudas, em alguns casos, com todas as etapas diretamente em recipientes.  Espaçamentos reduzidos, quando as mudas estão instaladas em viveiro no campo.  Elevado número de tratos culturais e práticas especiais, realizados com freqüência, exigindo que durante o enviveiramento as mudas estejam livres de 21 plantas invasoras.  Ciclo de produção variável, de 3 a 24 meses.  Limitações, quanto à presença de plantas invasoras impostas pela legislação.  As mudas são plantadas jovens e de pequeno porte, sendo mais frágeis e sensíveis do que as plantas adultas. Assim, independentemente do método utilizado, as particularidades, inerentes a um viveiro devem ser observadas. Controle manual de plantas invasoras Recomendável no caso de formação de mudas diretamente em recipientes (sacos de plástico, vasos, tubetes ou bandejas de isopor), bem como em sementeira, fazendo-se o arranquio das plantas invasoras com as mãos. O arranquio manual pode danificar as raízes da muda, quando as invasoras atingem um estágio de desenvolvimento mais avançado. O uso da enxada também é apropriado para pequenas áreas e espaçamentos reduzidos - como no caso de viveiros - podendo ser utilizada como componente de um sistema integrado de controle. Esse método dependerá, naturalmente, da disponibilidade de mão-de-obra, estimada em 10-15 DH/ha/capina, devendo-se considerar que o número de capinas, por ano, poderá ser de 6 a 8. Controle mecânico de plantas invasoras O uso de cultivadores de tração animal, de modelos e dimensões variadas, poderá ser feito em alguns tipos de viveiros instalados em campo, desde que se observem os cuidados necessários, considerando-se o porte reduzido das mudas e a fragilidade das mesmas. É um método que poderá fazer parte de um sistema integrado, de baixo custo, bom rendimento e não-agressivo ao ambiente, mas pouco eficiente para o controle de plantas Invasoras perenes. A utilização de equipamentos de tração mecânica, tais como enxada rotativa, grades e roçadeiras, é praticamente descartada em viveiros, pelas particularidades já mencionadas anteriormente. Controle cultural de plantas invasoras Relacionam-se como métodos culturais, a rotação, a consorciação de culturas, o uso de plantas companheiras (leguminosas) e práticas de manejo. Entre esses, e especificamente em viveiros, seria recomendável após o arranquio das mudas, fazer-se a alternância com outra cultura na mesma área (1 a 2 anos). Pode-se relacionar a cobertura da superfície do solo com restos vegetais ou filme de plástico, denominada cobertura morta. Ela mantém a umidade, protege o solo contra erosão, evita o desenvolvimento de plantas invasoras, acumula matéria orgânica e nutrientes, e eleva a atividade microbiana. A escolha de resíduos orgânicos para coberturas de viveiros deve ser feita mediante as seguintes observações:  Possibilidade de conterem sementes de plantas invasoras.  Ocorrência de fermentação.  Liberação de substâncias tóxicas às mudas. Possibilidade de disseminar ou aumentar a incidência de doenças e pragas. • Disponibilidade do material (10 - 20 t/ha). Entre os materiais mais comuns e disponíveis, há o bagaço de cana, a palha de trigo, o arroz e a casca de arroz. Quanto ao filme de plástico, deve-se avaliar a 22 viabilidade econômica do seu uso. Controle biológico de plantas invasoras Consiste num método que procura manter uma população de plantas invasoras que não cause danos econômicos, usando-se um agente biológico (por exemplo, fungos). A utilização de bioerbicidas ainda é pouco pesquisada e não é utilizada em larga escala. Controle químico de plantas invasoras o uso de herbicidas sintéticos, em associação com o método manual, é a forma mais utilizada nos vários sistemas de produção de mudas. Para se escolher um herbicida, várias características devem ser consideradas, tais como: Ser ativo biologicamente e de baixo custo/benefício.  Ser ecologicamente seguro ao aplicador e ao público.  Ser de fácil aplicação.  Ser compatível com outros químicos. • Apresentar alta margem de segurança às culturas. Destaca-se ainda o aspecto relacionado à sua seletividade, ou seja, um herbicida é seletivo quando matar ou retardar o crescimento de uma planta, sem afetar outras. Quando se diz que o produto é seletivo para folhas largas, significa que as espécies de folhas largas são resistentes, ou tolerantes ao produto, e o mesmo irá eliminar as demais. Essa seletividade depende das características físico-químicas do herbicida, da resistência da planta e do meio ambiente. Deve-se considerar que, em viveiros, trabalha-se com sementes, estacas, gemas e garfos, ou seja, estruturas vegetais que irão originar brotações e plantas inicialmente frágeis, herbáceas e bastante sensíveis. Assim, os cuidados devem ser maiores do que quando se aplicam herbicidas em áreas com frutíferas já adultas e apresentam maior resistência. A escolha do herbicida é função da recomendação para cada espécie frutífera e da invasora a ser controlada. Para tanto, deve-se tomar todos os cuidados para prevenir a ocorrência de deriva, contaminação da água, do solo e do próprio aplicador. 25 comum em plantas cítricas, e sua utilização é limitada à obtenção de clones novos ou clones nucelares a partir de plantas que produzem sementes poliembriônicas (Fig. 2 e 3). Na propagação por sementes, é comum o uso do termo seedling para designar plantas jovens propagadas desse modo, que poderão ser utilizadas como porta-enxertos ou como pés-francos. A reprodução sexuada é o principal mecanismo de multiplicação das plantas superiores e de, praticamente, todos os angiospermas. A população proveniente da reprodução sexuada apresenta variabilidade genética, devido à segregação e à recombinação de genes. Em muitas espécies, esse tipo de propagação é o processo natural de disseminação. Mesmo que a variação das características entre os descendentes possa ser significativa, há casos em que a semente é a única forma de propagação viável. Quanto menor a manipulação de uma espécie pelo homem, tanto maior a significância desse tipo de reprodução, fato especialmente observado no caso de frutíferas nativas, pouco submetidas ao melhoramento genético. Em fruticultura, a propagação por sementes tem as seguintes finalidades:  Obter porta-enxertos ou cavalos.  Criar novas cultivares.  Formar mudas de espécies que suportam bem a propagação sexuada, 26 conservando suas características. Para algumas espécies frutíferas, a propagação sexuada é ainda útil nos seguintes casos:  Na obtenção de clones nucelares (ou cultivares revigoradas, o que é comum em espécies cítricas).  Na obtenção de plantas homozigotas .  Na propagação de plantas que não podem ser multiplicadas por outro meio. A principal desvantagem da propagação por sementes, além da segregação genética nas plantas heterozigotas, que provoca dissociação de caracteres, é o longo período exigido por algumas plantas para atingir a maturidade. Contudo, existem exceções, como é o caso do maracujazeiro, cujo período improdutivo é semelhante entre plantas oriundas de propagação sexuada e assexuada. Uma das características da propagação por sementes é a variação que pode existir dentro de um grupo de plântulas. Na natureza, essa propriedade é importante, uma vez que torna possível a adaptação contínua de uma determinada espécie ao meio. Em cada geração, os indivíduos que estejam melhor adaptados a esse ambiente tendem a sobreviver e a produzir a geração seguinte. A propagação por sementes é um método eficiente para produzir plantas livres de doenças. Tem sido observado que vírus, nematóides e outros parasitas deletérios (nocivos) são comumente expurgados pela linha reprodutiva próxima à meiose ou pela meiose, e que, no entanto, são transmitidos e continuam a acumular em indivíduos de um done propagado vegetativamente. As sementes podem ser usadas como um filtro para algumas viroses, pois estas não se transmitem pela semente botânica, com algumas exceções. As vantagens e as desvantagens do uso da propagação sexuada em fruticultura encontram-se na Tabela 1. Plantas propagadas por sementes apresentam o fenômeno da juvenilidade, uma fase normalmente de longa duração, na qual a planta não responde aos estímulos indutores do florescimento. Plantas em estado juvenil tendem a apresentar características tais como a presença de espinhos, folhas lobuladas, ramos trepadores, fácil enraizamento e menor teor de RNA (ácido ribonucléico). Durante a juvenilidade, não há produção de frutos, o que acarreta um prolongamento do período improdutivo do pomar. O porte mais elevado pode representar uma desvantagem nas práticas de manejo do pomar, como na poda, no raleio, na colheita e em tratamentos fitossanitários. Além disso, a propagação sexuada pode induzir à desuniformidade das plantas e da produção, normalmente indesejadas em pomares comerciais. O desenvolvimento vigoroso e a maior longevidade das plantas, propagadas por sementes, podem estar associados à formação de um sistema radicular pivotante, mais vigoroso e mais profundo do que o sistema fasciculado, encontrado em plantas 27 propagadas por estacas. Muitos agentes causais de doenças, como vírus, bactérias, fungos e fitoplasmas não são transmitidos por meio das sementes, de modo que plantas obtidas por propagação sexuada tendem a apresentar melhor condição fitossanitária. Mesmo que a longevidade de plantas propagadas por sementes seja maior, um inconveniente da utilização dessas como porta-enxertos é o condicionamento da vida útil da copa a uma baixa longevidade do porta enxerto. Isso ocorre na enxertia de ameixeira sobre pessegueiro, na qual a vida útil da ameixeira, normalmente de 30 anos, fica reduzida a 15 anos, que é a vida útil do pessegueiro (porta-enxerto). Propagação assexuada A propagação assexuada, vegetativa ou agâmica é o processo de multiplicação que ocorre por mecanismos de divisão e diferenciação celular, por meio da regeneração de partes da planta-mãe. Esse tipo de propagação baseia-se nos seguintes princípios: Totipotencialidade As células da planta contêm toda a informação genética necessária para a perpetuação da espécie (totipotencialidade). Regeneração de células As células somáticas e os tecidos apresentam a capacidade de regeneração de órgãos adventícios. A propagação vegetativa consiste no uso de órgãos da planta, sejam eles estacas da parte aérea ou da raiz, gemas ou outras estruturas especializadas, ou ainda meristemas, ápices caulinares, calos e embriões. Assim, um vegetal é regenerado a partir de células somáticas, sem alterar o genótipo, devido à multiplicação mitótica. O uso desse tipo de propagação permite a formação de um clone, grupo de plantas provenientes de uma matriz em comum, ou seja, com carga genética uniforme e com idênticas necessidades edafodimáticas, nutricionais e de manejo. Enquanto em fruticultura a propagação sexuada tem importância restrita, a propagação assexuada é largamente utilizada na produção de mudas. Isso se deve à necessidade de se garantir a manutenção das características varietais, que determinam o valor agronômico do material a ser propagado, em espécies de elevada heterozigose, como as frutíferas. A utilização da propagação assexuada diz respeito à multiplicação, tanto de porta- enxertos, quanto da cultivar-copa. A importância e a viabilidade da utilização da propagação assexuada são uma função da espécie ou da cultivar, da capacidade de regeneração de tecidos (raízes ou parte aérea), do número de plantas produzidas, do custo de cada processo e da qualidade da muda formada. De modo geral, o uso da propagação assexuada justifica-se nos seguintes casos:  Propagação de espécies e cultivares que não produzem sementes viáveis, como, por exemplo, limão-tahiti, laranja-de-umbigo e figueira.  Perpetuação de clones, pois as frutíferas são altamente heterozigotas e perderiam suas características com a propagação sexuada. A escolha do método a ser utilizado depende da espécie e do objetivo do propagador. Basicamente, um bom método de propagação deve ser de baixo custo, fácil execução e proporcionar um elevado percentual de mudas obtidas. Dada a sua larga utilização na multiplicação de plantas frutíferas, a propagação assexuada apresenta diversas vantagens, que a torna, muitas vezes, mais viável que a 30 Materiais importados devem ser submetidos a quarentena, atividade de responsabilidade do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e de órgãos de pesquisa a ele vinculados. Uma vez obtido, o material deve ser testado (caso isso não tenha sido feito previamente), para verificar se não está contaminado por pragas ou doenças, principalmente por viroses . A verificação da ocorrência de virose numa planta matriz pode ser por meio de três técnicas:  Indexação por inoculação mecânica sobre plantas herbáceas.  Indexação por enxertia em plantas indicadoras. Indexação por meio de testes soro lógicos, como o teste de Elisa (Enzyme Linked Immunoabsorbant Assay). A obtenção de material livre de doenças pode ser feita por termoterapia (tratamento com ar quente a uma temperatura de 35°C a 43°C por um tempo variável entre 7 a 32 dias, dependendo da virose). A cultura de meristemas in vitro é outra técnica de larga utilização, sendo que os meristemas podem ser extraídos de plantas submetidas à termoterapia. A micro enxertia é também outra técnica bastante eficiente, na qual se utiliza um meristema como enxerto (ou cavaleiro) sobre uma plântula, sob condições in vitro. A propagação assexuada pode ser realizada por meio de diversos métodos, sendo os principais os seguintes:  Estaquia e microestaquia.  Enxertia e microenxertia.  Uso de estruturas especializadas.  Mergulhia. 31 Propagação por Sementes A propagação por sementes tem aplicação relativamente restrita na fruticultura, embora tenha tido grande utilização no passado. As principais limitações do uso comercial da propagação por sementes são a juvenilidade, o vigor elevado e a variabilidade genética, mesmo entre plantas originadas da mesma planta-matriz. Entretanto, a propagação comercial por sementes é de grande importância:  Na produção de porta-enxertos (citros e pessegueiro).  Em casos em que a semente é a única forma viável de propagação (mamoeiro, coqueiro, maracujazeiro, etc.).  Em espécies em fase inicial de exploração comercial, como é o caso das frutíferas nativas. Fatores que afetam a germinação das sementes A germinação abrange todo o processo que vai desde a ativação dos processos metabólicos da semente até a emergência da radícula e da plúmula (ápice do eixo do embrião ou da plântula dos vegetais com sementes). O percentual de germinação depende de fatores internos e externos. Como fatores internos, podem ser citados o estado de dormência, a qualidade da semente e o potencial de germinação da espécie. Os fatores externos mais importantes são água, temperatura, gases e luz (FACHINELLO et ai., 1995; HOFFMANN et ai., 1998; SAMPAIO et ai., 1996). Dormência A dormência representa uma condição em que o conteúdo de água nos tecidos é pequeno e o metabolismo das células é praticamente nulo, permitindo que a semente seja mantida sem germinar por um período relativamente longo. Segundo Hartmann et ai. (1990), a dormência pode ser classificada em: Dormência devida aos envoltórios da semente Dormência física - A testa ou partes endurecidas dos envoltórios da semente são impermeáveis à água, mantendo-a dormente (quiescente) devido ao seu baixo conteúdo de umidade. Dormência mecânica - Os envoltórios impõem uma resistência mecânica à expansão do embrião. Em geral, a dormência mecânica está associada com outras causas de dormência, como a física. Dormência química - Determinada por substâncias inibidoras da germinação, tais como fenóis, cumarinas e ácido abscísico; essas substâncias estão associadas ao fruto ou aos envoltórios da semente, como acontece nas sementes de cultivares precoces de pessegueiro. Dormência morfológica Embrião rudimentar - Quando o embrião é pouco mais do que um pró-embrião envolvido por um endosperma. Embrião não-desenvolvido - Quando, na maturação do fruto, o embrião encontra-se parcialmente desenvolvido. Um crescimento posterior do embrião dar-se-á após a maturação e a senescência do fruto. Dormência interna Dormência fisiológica - É comum na maioria das plantas herbáceas. Ocorre devido a mecanismos internos de inibição e tende a desaparecer com o 32 armazenamento a seco. Existem dois casos especiais de dormência fisiológica:  Dormência térmica - A germinação é inibida em temperaturas superiores a um limite variável conforme a espécie . Fotodormência - Ocorre em espécies cujas sementes necessitam de escuridão para germinarem. Nesse caso, não há germinação na presença de luz. Dormência interna intermediária - É característica de coníferas e é induzida pela presença dos envoltórios, ou tecidos de armazenamento da semente.  Dormência do embrião - Ocorre quando o embrião é incapaz de germinar normalmente, mesmo que separado da semente .  Dormência do epicótilo - Ocorre quando a exigência do epicótilo, para germinação, é diferenciada do embrião em relação à temperatura ou fitohormônios. Qualidade da semente A qualidade da semente pode ser expressa por dois parâmetros: viabilidade e vigor. A viabilidade é expressa pelo percentual de germinação, o qual indica o número de plantas produzidas por um dado número de sementes. O vigor é definido como sendo a soma de todos os atributos da semente, que favorecem o estabelecimento rápido e uniforme de uma população no campo. Uma semente em senescência caracteriza-se por apresentar uma diminuição gradual do vigor e subseqüente perda da viabilidade. Potencial de germinação da espécie As sementes da maioria das plantas perenes apresentam dificuldade de germinação, requerendo a utilização de métodos de superação dá dormência. Na maioria das vezes, a diferença de potencial de germinação entre espécies e cultivares é devida à interação, entre os diversos fatores, que podem afetar a viabilidade da semente. Não somente a germinação é influenciada pelo fator genético, como também pelo vigor e pela longevidade. Água A água é necessária para ativação do metabolismo da semente no momento da germinação. O teor de água mínimo para germinação depende da espécie, variando entre 40% e 60%, com base no peso da semente ainda fresca. Temperatura É o fator mais importante para a germinação, pois exerce influência nas reações metabólicas, afetando, também, o cresci mento das plântulas. Conforme a espécie, as temperaturas mínimas, ótimas e máximas são bastante variáveis, sendo que a temperatura ótima, para a maioria das sementes que não se encontram em repouso, varia de 25°C a 30°C. Temperaturas alternadas são geralmente mais favoráveis do que tem- peraturas constantes. Gases Geralmente, o oxigênio favorece a germinação, por ativar o processo da respiração. Contudo, o CO2, em concentrações elevadas, pode impedir ou dificultar o desencadeamento desse processo. Luz 35 prolongar a conservação das sementes. Além disso, a modificação da atmosfera de armazenamento, especialmente na redução do teor de oxigênio, mostra-se favorável à manutenção do poder germinativo da semente. No que se refere à umidade da semente, acima de 8% a 9% de umidade, insetos podem entrar em atividade; acima de 12 % a 14%, fungos podem tornar-se ativos; acima de 18% a 20%, pode ocorrer aquecimento devido à fermentação; e acima de 40% a 60%, ocorre germinação. Caso a semente seja tolerante à desidratação, é importante que seja mantida em baixa umidade. As baixas temperaturas prolongam a vida das sementes, sendo que em temperaturas de 0° a 45°C, cada diminuição de 5°C duplica a vida de armazenamento dessas sementes. Superação da dormência o tratamento para superação da dormência varia de acordo com o tipo de dormência que a semente apresenta. Aumento da permeabilidade dos envoltórios É utilizado quando a causa da dormência é a impermeabilidade do tegumento da semente. A escarificação é o método indicado para tornar os envoltórios da semente mais permeáveis à entrada de água e às trocas gasosas, bem como facilitar a emergência da radícula ou da plúmula, podendo ser feita por métodos físicos, químicos ou mecânicos. Método físico - Consiste na imersão da semente em água quente, entre 6SOC e 8SoC, durante Sal O minutos. A temperatura elevada diminui a resistência dos envoltórios e facilita a germinação. Método químico - Consiste no tratamento das sementes com hidróxido de sódio ou de potássio, formol e ácido clorídrico ou sulfúrico, geralmente por um período entre 10 minutos até 6 horas, conforme a espécie. Assim, os tegumentos são desgastados e a germinação é facilitada. É importante que sejam eliminados todos os resíduos de ácido que, aderidos à semente, podem prejudicar a germinação, o que pode ser feito por meio de lavagem em água corrente. Método mecânico - Esse método consiste no uso de uma superfície abrasiva, agitação em areia ou pedra ou na quebra dos envoltórios, como no caso das sementes de pessegueiro, que podem ser extraídas quebrando se os caroços com um torno manual, conforme Fig. 1. Deve-se ter cuidado para que o embrião não seja danificado. As sementes escarificadas tornam se mais sensíveis ao ataque de patógenos. Fig. 1. Extração de sementes de pessegueiro com o uso de torno manual. 36 Maturação do embrião Destina-se a superar a dormência da semente, por meio do amadurecimento do embrião, ou do estabelecimento de um balanço hormonal favorável à germinação. Isso é obtido pelo armazenamento das sementes em ambiente úmido e frio, por um determinado período (estratificação). Geralmente, o meio adequado para a estratificação é aquele que retém adequado teor de umidade e não contém substâncias tóxicas. Como exemplos, podem-se citar o solo, a areia lavada, o musgo, a vermiculita e a serragem, ou a mistura desses. Camadas de sementes são intercaladas com camadas de substrato à temperatura ambiente, ou em câmaras refrigeradas, com temperaturas entre 0°C e 10°e. a período de armazenamento varia conforme a espécie, sendo que para a maioria, esse período é compreendido entre 1 e 4 meses. Durante a estratificação, deve-se ter cuidado com o teor de umidade do substrato e com a eventual germinação das sementes, antes que o período previsto para a estratificação das mesmas se expire. Em variedades precoces, nas quais o embrião não está completamente desenvolvido no período em que ocorre a maturação do fruto, muitas vezes é necessário cultivar o embrião em meio de cultura adequado, permitindo que seu desenvolvimento seja completado. Esse processo é utilizado em cultivares precoces de pessegueiro que se destinam ao melhoramento genético, bem como no melhoramento genético de uvas sem sementes. Manejo das sementes e das sementeiras Antes da semeadura em viveiro, é importante que se adote um tratamento das sementes com fungicida ou hipoclorito de sódio. Assim, é possível minimizar a ocorrência de doenças que possam vir a prejudicar as plântulas. A sementeira deve estar localizada fora da área de produção, de preferência em terreno bem drenado, com pequena declividade, com plena exposição à luz e boa disponibilidade de água para irrigação. A má drenagem favorece a ocorrência de uma doença denominada dumping off que afeta a germinação e a sobrevivência das plantas jovens, provocando queda perece. Na verdade, essa doença é causada por fungos pertencentes aos gêneros Pythium, Rhizoctonia e Phytophthora, agentes também causadores de outras doenças de sementeiras. É recomendável o uso de áreas submetidas a uma prévia rotação de culturas, como forma de reduzir o potencial de inóculo de doenças. Não é aconselhável o uso de uma mesma área como sementeira, por mais de 2 anos. O tratamento do solo é útil para reduzir a incidência de patógenos nas futuras plantas, especialmente considerando-se a sensibilidade das mesmas no estágio de plântula. Esse tratamento pode ser feito com o uso de solarização (tratamento que consiste na cobertura do solo com filme plástico, sob insolação, para aumento da temperatura), uso de calor (por aquecimento direto, vapor d'água ou tratamento em autoclaves de alta pressão), uso de fungicidas ou de agentes de controle biológico (Trichoderma, por exemplo). Em alguns casos, pode ocorrer a esterilização completa do solo, o que pode ser inadequado, considerando-se que organismos benéficos também são eliminados pelos tratamentos. O tratamento do solo será tanto mais eficiente quanto melhor a qualidade sanitária do substrato empregado. A semeadura pode ser feita em covas, diretamente na embalagem, a lanço ou em linha. A semeadura em linha é a mais utilizada em grandes viveiros de pessegueiro e de citros. A quantidade de sementes a ser utilizada deve ser de 3 a 4 vezes o número 37 desejado de plantas, para permitir uma seleção rigorosa. Contudo, deve-se evitar uma densidade muito elevada de plântulas, para que não ocorra redução do tamanho e do vigor, obtendo-se plantas com sistema radicular pouco desenvolvido. A cobertura das sementes pode ser feita com solo ou areia, e a cobertura do canteiro com uma fina camada de palha. O objetivo da cobertura com palha é impedir o crescimento de plantas invasoras e conservar a umidade do solo. A palha deve ser removida pouco tempo antes da emergência das plântulas. Cuidados especiais devem ser dispensados no que se refere à irrigação, considerando-se a exigência de água para o processo da germinação e a sensibilidade das plântulas à falta de umidade do solo. A irrigação deve ser feita por aspersão, com uso de regadores ou de qualquer outro sistema de irrigação, no caso de sementeiras de maior porte. O controle da umidade pode ser feito por avaliação visual, uso de trados, tensiômetros ou pela estimativa da evapotranspiração. O controle de plantas invasoras pode ser feito por métodos químicos' ou mecânicos. A distância entre as linhas deve possibilitar a utilização de implementos agrícolas, e o uso de herbicidas pode ser feito em pré ou pós-emergência. Para definir a forma de controle das plantas invasoras, deve-se considerar a viabilidade econômica de cada método, e a sensibilidade das plantas aos herbicidas. De acordo com a espécie e o tempo de permanência na sementeira, é aconselhável proceder a adubação de correção e de cobertura. Conforme a exigência da espécie, é importante que o pH seja corrigido, com o uso de calcário. Se a adubação nitrogenada for necessária, deve ser feita com cautela, pois aplicações em excesso podem criar um desequilíbrio nutricional, que resulta em excesso de crescimento e elevada suscetibilidade a pragas e doenças. Por sua vez, elevadas concentrações de sais, produzidas por excesso de fertilizantes, inibem a germinação. Dada a sensibilidade das plântulas e a elevada densidade na sementeira, é necessário que se adotem medidas eficientes de monitoramento e controle de pragas e doenças. A partir da sementeira, assim que as mudas atinjam um crescimento satisfatório, são submetidas a uma seleção por tamanho, visando obter-se um padrão adequado das plantas destinadas ao viveiro, quando estarão colocadas em maiores espa- çamentos. No viveiro, as plantas poderão ser utilizadas como porta-enxertos ou como mudas destinadas à formação de pomares. No caso de mudas, é necessário selecionar as plantas próximas a um padrão característico da planta-mãe. 40 especialmente, ao fato de que o uso de estacas semi-lenhosas e herbáceas requer instalações com nebulização intermitente, que não são necessárias quando se utilizam estacas lenhosas. Princípios anatômicos do enraizamento No momento em que uma estaca é preparada, esta consiste de uma ou mais gemas (sistema aéreo em potencial) e de uma porção de tecido diferenciado, aéreo ou subterrâneo, sem o sistema radicular formado. As raízes formadas na estaca serão, portanto, uma resposta ao traumatismo produzido pelo corte. Assim, dois aspectos são fundamentais no enraizamento de estacas: Desdiferenciação - Processo pelo qual células de um tecido já diferenciado retornam à atividade meristemática e originam um novo ponto de crescimento. Totipotência - Capacidade de uma só célula originar um novo indivíduo, uma vez que ela contém toda a informação genética necessária, para reconstituir todas as partes da planta e suas funções. Com o preparo da estaca, há uma lesão dos tecidos, tanto de células do xilema, quanto do floema. Esse traumatismo é seguido de cicatrização, que consiste da formação de uma capa de suberina, que reduz a desidratação na área danificada. Geralmente, nessa área, há a formação de uma massa de células parenquimatosas que constituem um tecido pouco diferenciado, desorganizado e em diferentes etapas de lignificação, denominado calo. O calo é um tecido cicatricial, que pode surgir a partir do câmbio vascular, do córtex ou da medula, cuja formação representa o início do processo de regeneração. As células que se tornam meristemáticas dividem se e originam primórdios radiculares. Depois, células adjacentes ao câmbio e ao floema iniciam a formação de raízes adventícias (Fig. 3). Pode-se dividir a formação de raízes adventícias em duas fases. A primeira fase é de iniciação, caracterizada pela divisão celular. Em seguida, vem a fase de diferenciação das células num primórdio radicular, que resulta no crescimento da raiz adventícia. Geralmente, esses processos ocorrem em seqüência. Durante a iniciação das raízes, quatro etapas de modificações morfológicas podem ser citadas:  Desdiferenciação de algumas células adultas.  Diferenciação de algumas células em primórdios de raízes próximas aos feixes vasculares. 41  Formação de primórdios radiculares.  Desenvolvimento dos primórdios e emergência, por meio do córtex e epiderme da estaca, das raízes adventícias, acompanhada da sua conexão com o sistema vascular da estaca. O local de emissão dos primórdios radiculares é bastante variável, conforme a espécie e o tipo de estaca. Em estacas herbáceas - que não possuem um câmbio desenvolvido - os primórdios podem surgir entre os feixes vasculares, e para fora destes, e as raízes podem emergir em filas, acompanhando os feixes vasculares. As raízes adventícias também podem ser formadas a partir da epiderme e do periciclo. Os primórdios se formam em estacas lenhosas, a partir do xilema secundário jovem, geralmente, num ponto correspondente à entrada do raio vascular. Também podem ser formados primórdios a partir do câmbio, do floema, das lenticelas ou da medula. À medida que o ramo se torna mais lignificado, o local de formação das raízes parece se deslocar em direção centrípeta, ou seja, em estacas semilenhosas, originadas do floema, e em estacas lenhosas, do câmbio. Geralmente, as raízes adventícias se originam próximas ao cilindro vascular. Em algumas espécies, como Citrus medica e Ribes sp., há primórdios radiculares pré-formados latentes no momento da coleta das estacas, de modo que, uma vez colocadas em condições favoráveis, formam raízes. Muitas vezes é observada, na base da estaca, como resultado de um traumatismo, a formação de calo. Ainda que se trate de fenômenos independentes, na maioria dos casos, a formação do calo e o aparecimento das raízes adventícias são influenciados pelos mesmos fatores, e podem ocorrer simultaneamente. Tem sido observado que, ao menos para algumas espécies de difícil enraizamento, a formação de raízes se dá sobre o calo, ainda que a formação de calo não seja um prenúncio seguro da formação de raízes adventícias. Não há uma relação direta entre formação de calo e enraizamento. O calo pode ser ainda uma barreira protetora ao ataque de microrganismos. É possível que estacas com calo respondam, mais facilmente, ao uso de promotores exógenos de enraizamento do que estacas sem formação de calo. A localização das raízes adventícias é variável, e algumas espécies só formam raízes na base da estaca, outras em nós, ao longo do caule, e outras nos nós e entrenós. A casca pode constituir-se numa barreira à emergência das raízes. Um anel de esclerênquima contínuo, altamente lignificado, entre o floema e o córtex, pode ser uma das causas da dificuldade de enraizamento em determinadas espécies. Caso esse esclerênquima não seja rompido mecanicamente, as raízes podem emergir na base da estaca. Princípios fisiológicos do enraizamento A capacidade de uma estaca emitir raízes é função de fatores endógenos e das condições ambientais proporcionadas ao enraizamento. Para proporcionar o desejado sucesso na produção de mudas, o manejo da estaquia requer o conhecimento e a aplicação desses princípios. Além disso, o estudo desses aspectos pode auxiliar a caracterização de uma espécie como sendo de fácil ou de difícil enraizamento. Tem sido observado que a formação de raízes adventícias deve-se à interação de fatores existentes nos tecidos e à translocação de substâncias localizadas nas folhas e gemas. Entre tais fatores, os fitohormônios são de importância fundamental. Outros compostos, alguns deles parcialmente conhecidos, também têm influência indireta sobre o enraizamento. 42 Auxinas As auxinas compõem o grupo de fitohormônios com maior efeito na formação de raízes em estacas. Possuem ação na formação de raízes adventícias, na ativação das células do câmbio e na promoção do crescimento das plantas, além de influenciarem a inibição das gemas laterais e a abscisão de folhas e frutos. O AIA (ácido indolacético) constitui-se na auxina natural que ocorre nas plantas. Uma das primeiras utilizações práticas da auxina foi a de promover o enraizamento em segmentos de plantas. Posteriormente, outras substâncias de origem sintética, como o AIS (ácido indolilbutírico) e o ANA (ácido naftalenacético) mostraram-se mais eficientes do que o AIA, na promoção do enraizamento de estacas. A auxina é sintetizada nas gemas apicais e folhas novas, de onde é translocada para a base da planta, por um mecanismo de transporte polar. Os ápices radiculares também produzem auxinas, mas não há acumulação nas raízes, devido ao elevado teor de substâncias inativadoras de auxinas nessa parte da planta. O aumento da concentração de auxina exógena, aplicada em estacas, provoca efeito estimulador de raízes até um valor máximo, a partir do qual qualquer acréscimo de auxinas tem efeito inibitório. O teor adequado de auxina exógena, para estímulo do enraizamento, depende da espécie e da concentração de auxina existente no tecido. No momento em que a auxina é aplicada, há um aumento da sua concentração na base da estaca e, caso os demais requerimentos fisiológicos sejam satisfeitos, há formação do calo, resultante da ativação das células do câmbio, e das raízes adventícias. Giberelinas Dentre as giberelinas encontradas na natureza, o AG3 (ácido giberélico) é a mais importante. Uma vez que a principal ação das giberelinas é o estímulo ao crescimento do caule, em concentrações a partir de 10-3 molar, as giberelinas inibem o enraizamento, possivelmente devido à interferência na regulação da síntese de ácidos nucléicos. Por sua vez, inibidores da síntese de giberelinas, como SADH (ácido succínico 2,2-dimetilhidrazida) e paclobutrazol podem apresentar efeito benéfico ao enraizamento. Citocininas As citocininas têm efeito estimulador da divisão celular, na presença de auxinas. Assim, há um estímulo à formação de calos e à iniciação de gemas. Entretanto, espécies com elevados teores de citocininas, em geral são mais difíceis de enraizar do que aquelas com conteúdos menores, sugerindo que a aplicação de citocininas inibe a formação de raízes em estacas. Por sua vez, em estacas de raiz, as citocininas podem estimular a iniciação de gemas. Uma relação auxina/citocinina baixa estimula a formação de gemas ou primórdios foliares, ao passo que uma relação elevada estimula a formação de raízes. No cultivo in vitro, uma relação equilibrada promove a formação de calo e permite uma boa regeneração de plantas a partir de meristemas. Ácido abscísico Embora o ácido abscísico, ao inibir a síntese de giberelinas, possa favorecer o enraizamento, os resultados obtidos com esse hormônio são bastante contraditórios, não sendo possível obter-se uma informação em caráter conclusivo. Etileno 45 Em relação à composição nutricional, um conteúdo equilibrado de alguns nutrientes como o fósforo, o potássio o cálcio e o magnésio favorece o enraizamento. Ainda que o nitrogênio seja necessário para a síntese de proteínas e ácidos nucléicos, essenciais ao enraizamento, seu teor em excesso pode ser prejudicial. O excesso de manganês também pode prejudicar o enraizamento. O zinco é ativador do triptofano, precursor da auxina, e deve estar presente para que se dê a formação de raízes. Cuidados devem ser tomados, especialmente, com o conteúdo excessivo de nitrogênio e de manganês na planta-mãe, demonstrando a importância de um adequado manejo de adubação das plantas-matrizes para obtenção das estacas. Em estudos realizados para se estabelecer uma relação entre a capacidade de enraizamento de estacas de pessegueiro e o teor endógeno de triptofano, verificou-se que os maiores percentuais de enraizamento, número e peso da matéria seca das raízes foram encontrados nos meses em que havia menores teores de triptofano nos ramos. Isso leva a concluir que o triptofano tenha se convertido para AIA, com maior quantidade de auxina endógena presente. Idade da planta-matriz As estacas provenientes de plantas jovens enraízam com mais facilidade e isso se manifesta com mais freqüência em espécies de difícil enraizamento. Possivelmente, esse fato esteja relacionado com o aumento no conteúdo de inibidores e com a diminuição no conteúdo de co-fatores do enraizamento, à medida que aumenta a idade da planta. É recomendável a obtenção de brotações jovens em plantas adultas, que mesmo não caracterizando uma verdadeira condição de juvenilidade, apresentam maior potencial de enraizamento. Tipo de estaca Em espécies de fácil enraizamento, a importância do tipo de estaca na formação de raízes tem menor significado. Entretanto, quanto maior for a dificuldade de formação de raízes adventícias, maior será a necessidade da correta escolha do tipo de estaca. O tipo mais adequado de estaca varia com a espécie ou com a cultivar. Como a composição química do tecido varia ao longo do ramo, estacas provenientes de diferentes porções do mesmo tendem a diferir quanto ao enraizamento. Assim, em estacas lenhosas, o uso da porção basal geralmente proporciona melhores resultados. Isso pode ser devido ao acúmulo de substâncias de reserva e um menor teor de nitrogênio (resultando uma relação C/N mais favorável) e à presença de iniciais de raízes pré-formadas nessa região. Fato inverso se observa com estacas semilenhosas, para as quais os maiores percentuais de enraizamento são obtidos com a porção mais apical. Nesse caso, isso pode ser atribuído a uma maior concentração de promotores do enraizamento, pela proximidade dos sítios de síntese de auxinas, e à menor diferenciação dos tecidos. Estacas com gemas floríferas tendem a enraizar menos que aquelas provenientes de ramos vegetativos em fase de crescimento ativo, o que mostra um antagonismo entre a floração e o enraizamento, pois as flores mobilizam as reservas da estaca e abrem antes que o processo de iniciação de raízes tenha ocorrido. Estacas mais lignificadas geralmente apresentam maior dificuldade de enraizamento do que estacas de consistência mais herbácea e semilenhosa. Época do ano 46 A época do ano está estreitamente relacionada com a consistência da estaca, sendo que aquelas coletadas num período de crescimento vegetativo intenso (primavera/verão) apresentam-se mais herbáceas e, de modo geral, em espécies de difícil enraizamento, mostram maior capacidade de enraizamento. Estacas coletadas no inverno possuem um grau de lignificação e tendem a enraizar menos. Entretanto, estacas menos lignificadas (herbáceas e semilenhosas) são mais propícias à desidratação e à morte, requerendo um manejo adequado em relação ao ambiente, ao passo que estacas lenhosas podem até mesmo ser enraizadas no campo. Em muitos casos, especialmente em espécies caducifólias, as estacas lenhosas dormentes são preferidas em função da sua facilidade de obtenção, transporte e manuseio. No que se refere à época mais adequada para obtenção das estacas, há diferença entre espécies, sendo que algumas enraízam melhor no início da primavera e outras, de folhas grandes e persistentes, desde a primavera até o fim do outono. A influência da época de coleta das estacas no enraizamento pode ser, também, atribuída a condições climáticas, especialmente em relação à temperatura e à disponibilidade de água. Potencial genético de enraizamento O potencial que uma estaca apresenta para a formação de raízes é variável com a espécie e com a cultivar. Assim, pode ser feita uma classificação como espécie ou cultivar de fácil, médio ou difícil enraizamento, ainda que a facilidade de enraizamento seja resultante da interação de diversos fatores e não apenas do potencial genético. Sanidade Em diversas espécies frutíferas, tem-se observado que c10nes livres de vírus têm maior facilidade de enraizamento do que o material com vírus, havendo também efeito das viroses sobre a qual idade das raízes formadas e sobre a variabilidade de resultados, entre diversas estaquias feitas sob as mesmas condições. Da mesma forma que com as viroses, o ataque de fungos e bactérias pode ocasionar a morte das estacas, antes ou após a formação de raízes, podendo afetar a sobrevivência das mesmas ou a qualidade do sistema radicular da muda. A sanidade durante a estaquia é influenciada pelo grau de contaminação do material propagativo, pelo substrato, pela qualidade da água de irrigação e pelos tratamentos fitossanitários que venham a ser feitos nesse período. Balanço hormonal o equilíbrio entre os diversos fitohormônios tem forte influência no enraizamento de estacas. Assim, é necessário que haja um balanço adequado, especialmente entre auxinas, giberelinas e citocininas. Uma das formas mais comuns de favorecer o balanço hormonal, para o enraizamento, é a aplicação exógena de fitorreguladores sintéticos, tais como o AIB, o ANA e o AIA, que elevam o teor de auxinas no tecido. Oxidação de compostos fenólicos Em algumas especies, especialmente as pertencentes à família Myrtaceae, o forte escurecimento dos tecidos na região do corte da estaca, ocasionado pela oxidação de compostos fenólicos, pode dificultar a formação de raízes. Ao entrarem em contato com o oxigênio, os diferentes tipos de fenóis nos tecidos iniciam reações de oxidação, cujos produtos resultantes são tóxicos ao tecido. A oxidação desses compostos pode ser minimizada com o uso de substâncias anti- 47 oxidantes, tais como o ácido ascórbico, o PVP (polivinilpirrolidona), o ácido cítrico e o Dieca (dietilditiocarbamato), além de outros. Têm sido obtidos resultados preliminares que demonstram a importância do controle da oxidação no cultivo in vitro. Entretanto, a significância e a eficiência do controle da oxidação na propagação por estacas ainda carecem de maiores informações, visto que os resultados obtidos até o momento são incipientes. Fatores externos Temperatura - O aumento da temperatura favorece a divisão celular na formação de raízes. Contudo, especialmente em estacas herbáceas e semilenhosas, estimula uma elevada taxa de transpiração, induzindo o murchamento da estaca. Além disso, pode favorecer a brotação das gemas antes que o enraizamento tenha ocorrido, o que é indesejável. O aquecimento do leito de enraizamento ou substrato, com temperaturas que vão de 18°C a 21°C, estimula o enraizamento. Isso é importante para a multiplicação por estacas de espécies de difícil enraizamento. Luz - A importância da luz no enraizamento está relacionada à fotossíntese e à degradação de compostos fotolábeis, como as auxinas. Geralmente, a baixa intensidade luminosa sobre a planta-mãe, antes da coleta das estacas, tende a favorecer a formação de raízes, provavelmente devido à preservação das auxinas e de outras substâncias endógenas em detrimento aos compostos fenólicos. Por sua vez, a presença de luz durante o enraizamento de estacas, com folhas, pode favorecer a emissão e o desenvolvimento do sistema radicular. O estiolamento dos ramos, dos quais serão retiradas as estacas, facilita o enraizamento e é uma prática recomendada, especialmente no caso de espécies de difícil enraizamento. Na região basal da estaca, onde serão formadas as raízes, é necessário que se mantenha um ambiente completamente escuro. Umidade - Para que haja divisão celular, é necessário que as células se mantenham túrgidas. O potencial de perda de água numa estaca é muito grande, seja por meio das folhas seja por meio das brotaçães em desenvolvimento, especialmente considerando-se o período em que não há raízes formadas. A perda de água é uma das principais causas da morte de estacas. Portanto, a prevenção do murchamento é especialmente importante em espécies que exigem um longo tempo para formar raízes e nos casos em que são utilizadas estacas com folhas ou de consistência mais herbácea. O uso da nebulização intermitente (Fig. 4) permite a redução da perda de umidade pela formação de uma película de água sobre as folhas, além da diminuição da temperatura e da manutenção da atividade fotossintética das mesmas nas estacas. Por sua vez, a alta umidade favorece o desenvolvimento de patógenos, para os quais devem ser dispensados cuidados especiais. Substrato - O substrato destina-se a sustentar as estacas durante o enraizamento, mantendo sua base num ambiente úmido, escuro e suficiente aerado. 50 plástico até o momento do preparo . Período final do crescimento vegetativo (final do verão - início do outono) - Estacas utilizadas nessa época são denominadas semilenhosas, apresentam mais folhas e são mais lignificadas que na época anterior. Sua utilização requer nebulização intermitente, para evitar o murchamento e a perda das folhas. Podem ser utilizadas porções basais, medianas e apicais dos ramos. Da mesma forma que para a época anterior, devem ser adotadas medidas que reduzam a perda de água pelo material propagativo, ainda que sua resistência à desidratação seja maior que a das estacas herbáceas. Preparo e manejo das estacas Uma vez selecionados os ramos, é necessário que estes sejam levados a um galpão ou estrutura semelhante, onde as estacas serão preparadas. O preparo pode ser feito com tesoura de poda ou em se tratando de estacas lenhosas em grandes quantidades, com o uso de serras elétricas. Uma vez preparadas, as estacas devem ser mantidas em água até o momento de serem colocadas no substrato. O comprimento e o diâmetro das estacas variam conforme a espécie e o tipo de estaca. Estacas lenhosas podem ter comprimento variável de 20 a 30 cm e diâmetro que, geralmente, se situa entre 0,6 e 2,5 cm. Geralmente, estacas semilenhosas apresentam comprimento de 7,5 a 15 cm, e estacas herbáceas podem ser ainda menores. Após o preparo, é conveniente a separação das estacas em grupos, conforme o tamanho. Isso permite a obtenção de lotes homogêneos de plantas, o que facilitará a realização de operações posteriores. É ainda recomendável a identificação dos lotes de estacas por cultivar, para se evitar a mistura posterior no viveiro. Em estacas semilenhosas ou de consistência mais herbácea, a presença de folhas favorece o enraizamento, provavelmente devido à produção de co-fatores do enraizamento nas folhas. Da mesma forma, em estacas lenhosas, a presença de gemas aumenta o percentual de enraizamento em diversas espécies. Por sua vez, a presença de folhas nas estacas representa uma superfície transpiratória cuja taxa de perda de água é aumentada em condições de elevada temperatura, normalmente observada nas épocas de coleta de estacas menos lignificadas. Por isso, é necessário o uso de nebulização nas estacas com folhas. Geralmente, são mantidas apenas 2 ou 3 folhas na parte superior da estaca. Quando as folhas forem muito grandes, podem ser cortadas ao meio, para facilitar o manejo e reduzir a perda de água. O corte superior da estaca deve ser feito logo acima de uma gema e o inferior, logo abaixo. Essa recomendação é mais viável de ser seguida, quando é feito o preparo individual das estacas. Quando se trabalha com estacas lenhosas, com corte em feixes de 50 ou 100 estacas, o posicionamento do corte pode não ser o mais adequado. É possível o armazenamento das estacas lenhosas durante o inverno e, em alguns casos, esse procedimento permite a formação de calo ou de iniciais de raízes. Para tanto, podem ser utilizados leitos aquecidos ou o simples armazenamento em substrato umedecido. Deve-se evitar a desidratação das estacas armazenadas, bem como acompanhar a brotação das mesmas, pois, caso contrário, ocorrerá uma perda de água, com prejuízos ao enraizamento. O tratamento com fitorreguladores pode ser feito ainda no armazenamento. O uso de estacas com folha é citado na propagação de limoeiro de framboesa- negra, de goiabeira e de pessegueiro, além de outras, mas é pouco usado em fruticultura. Utiliza-se um nó com uma folha e uma gema por estaca, preferencialmente 51 de material que tenha gemas bem desenvolvidas e folhas sadias em crescimento ativo. Para algumas espécies, cortes laterais na base da estaca favorecem o enraizamento, especialmente naquelas em que o esclerênquima se constitui numa barreira física à emissão de raízes. Propiciada por esses cortes, a exposição do câmbio também pode facilitar a absorção de substâncias promotoras do enraizamento. Estaqueamento O plantio das estacas pode ser feito em recipientes (sacos de plástico, vasos, baldes, caixas, entre outros), em estruturas de propagação ou diretamente no viveiro. O primeiro caso é aplicado para estacas com folhas (semilenhosas ou herbáceas), as quais necessitam de umidade constante sobre a folha. O plantio direto no viveiro pode ser adequado para estacas lenhosas, especialmente de espécies caducifólias, quando a manutenção da umidade propiciada pela chuva ou por irrigações esporádicas é suficiente. Essa prática, denominada enviveiramento, destina-se, principalmente, à propagação de plantas em larga escala e à multiplicação de espécies ou cultivares de fácil enraizamento. Nesse caso, devem ser utilizadas áreas de solos profundos, bem drenados e com viabilidade de uso da irrigação. A profundidade de plantio é variável conforme o tipo de estaca, sendo que, para estacas de ramos, é aconselhável que dois terços sejam enterrados no substrato. No que se refere a estacas de raiz, é importante a manutenção dessas em profundidade de 2,5 a 5,0 cm, na posição horizontal, para manter sua correta polaridade. Como prevenção ao aparecimento de doenças, é recomendável a imersão das estacas em solução fungicida. Para aumentar a sobrevivência das estacas, pode-se misturar o fungicida com o fitorregulador durante o processo de tratamento das mesmas. No momento do plantio, é importante garantir uma boa aderência do substrato à estaca, uma vez que grandes espaços porosos podem aumentar a desidratação desta. Substrato Por ser um dos fatores de maior influência, especialmente no caso de espécies de difícil enraizamento, deve ser dada atenção especial à escolha do substrato. Para cada espécie, é necessário verificar, empiricamente, qual o melhor substrato (ou combinação de substratos). Um bom substrato deve proporcionar retenção de água suficiente, para prevenir a dessecação da base da estaca e, quando saturado (especialmente no caso de nebulização intermitente), deve manter uma quantidade adequada de espaço poroso, para facilitar o fornecimento de oxigênio, indispensável para a iniciação e o desenvolvimento radicular, e para a prevenção do desenvolvimento de patógenos na estaca. Deve-se, ainda, optar por substratos que não sejam fontes de inóculo de organismos saprófitos. Além da vermiculita, da casca de arroz carbonizada, da areia, etc., outros substratos, como o musgo turfoso, o musgo esfagníneo e a água poderão ser utilizados. No caso de utilização da água, é necessário um bom sistema de oxigenação, para permitir que as raízes se desenvolvam. Técnicas de condicionamento Estratificação É uma prática que consiste na disposição de camadas alternadas de areia grossa ou solo umedecidos, para proporcionar a formação prévia do calo, além de permitir a conservação da estaca. O aumento da temperatura e da umidade, até certos limites, 52 aumenta a intensidade de formação de calo. Deve-se evitar o desenvolvimento de fungos ou de bactérias, a acumulação de água e o dessecamento, que são prejudiciais à formação de raízes. É necessário que as estacas sejam retiradas da estratificação, logo que tenham formado o calo ou ocorrido a brotação das gemas. Lesões na base da estaca Especialmente em estacas que apresentam madeira velha na base, onde os cortes favorecem a formação de calo e de raízes nas bordas da lesão (Fig. 5 e Fig. 6). A divisão celular é estimulada pelo aumento na taxa respiratória e nos teores de auxina, carboidratos e etileno nessa área lesionada. Essa lesão faz com que haja maior absorção de água e de fitohormônios, aumentando a eficiência no enraizamento. Por sua vez, as lesões permitem que haja rompimento da barreira física formada por anéis de esclerênquima, os quais podem até mesmo impedir a emergência das raízes. Para tanto, efetuam-se 1 ou 2 cortes superficiais de 2,5 a 5,0 cm na base da estaca, removendo-se apenas uma porção da casca das estacas nesse local. Estiolamento - O desenvolvimento de uma planta, ou parte dela, na ausência de luz, resultando em brotações alongadas, com folhas pequenas, e não expandidas, e com baixo teor de clorofila. Além disso, são encontrados em tecidos estiolados teores baixos de lignina e altos de auxinas endógenas e de outros co-fatores do enraizamento, uma vez que esses últimos compostos são sensíveis à luz (fotolábeis). Assim, o enraizamento é favorecido. Pode-se efetuar o estio lamento de toda a planta, de todo um ramo ou de parte do mesmo (Fig. 7). Para tanto, faz-se uma cobertura dos ramos, em desenvolvimento, com plástico preto ou outro material similar (papel alumínio, fita-isolante e outros), de modo que esses cresçam na ausência de luz. 55 A substância promotora do enraizamento, bem como as concentrações e métodos de utilização mais adequados para uma determinada situação, variam com a espécie e com o tipo de estaca. Para verificar sua eficiência, são necessários testes empíricos. Tratamento com fungicidas Uma vez que a estaca, especialmente antes e logo após o enraizamento, é bastante vulnerável ao ataque de microrganismos e se encontra num ambiente favorável à proliferação de doenças, a proteção com o uso de fungicidas constitui-se numa prática importante para a sobrevivência das mesmas nesse período. Uso de nutrientes minerais Favorece a condição nutricional da estaca no enraizamento. A adição de compostos nitrogenados estimula o enraizamento em diversas classes de plantas, possivelmente pelo fato de que esses compostos intervêm em interações hormonais. O uso do boro em combinação com o AIB pode aumentar a percentagem e a rapidez de formação de raízes. A adubação de plantas matrizes de videira, com zinco, resultou em maior enraizamento e desenvolvimento de raízes, possivelmente devido ao incremento no teor de triptofano, precursor da auxina, do qual o zinco é ativador. A adubação de plantas-matrizes de ameixeira, com zinco e boro, aumentou os teores de triptofano nas estacas e o potencial de enraizamento. Uso da nebulização A nebulização intermitente é a aplicação de água na forma de névoa (gotas de tamanho reduzido) sobre as estacas, criando uma atmosfera para reduzir a perda de água pelas folhas. A redução das taxas de transpiração e de respiração pelas folhas, bem como a redução da temperatura das mesmas, são obtidas pela formação de uma película de água sobre as folhas, proporcionada pelo ambiente com alta umidade relativa. Isso assegura a destinação de fotossintatos e nutrientes para a formação das raízes. É importante que a água seja aplicada em intervalos regulares, durante todo o período diurno. Para evitar o excesso de aplicação, pode ser dispensado o funcionamento da nebulização durante a noite. Nas horas mais quentes do dia, os intervalos entre as nebulizações devem ser menores. A nebulização pode ser instalada em telados, estufas de plástico, ou mesmo no ambiente externo. O ambiente protegido é o mais adequado para essa técnica, uma vez que permite uma aplicação controlada da água, além de evitar o efeito do vento sobre a irrigação. O controle dos intervalos de acionamento do sistema de nebulização pode ser efetuado por meio de mecanismos como:  Folha úmida, na qual há uma superfície de tela, que simula a superfície de uma folha. Quando essa superfície perde água a um nível pré-estabelecido, o mecanismo da nebulização é acionado .  Temporizador (timer), o qual controla o funcionamento de uma válvula solenóide que, quando desligada, permite a nebulização das plantas. Pode-se utilizar um timer duplo, que permite trabalhar com dois turnos diferentes de nebulização, de tal modo que se tenha períodos diferentes do processo durante o dia, quando a necessidade de água é maior, e durante a noite, quando a necessidade de água é menor .  Controlador eletrônico de umidade, constituído de um sistema computadorizado 56 de acionamento da irrigação, com base na temperatura e na umidade relativa do ar. O uso de nutrientes na água de irrigação pode melhorar a qualidade das raízes formadas e o crescimento subseqüente das estacas enraizadas. Cuidados durante e após o enraizamento A divisão celular e o enraizamento só ocorrem em tecidos com células túrgidas e o principal cuidado a ser tomado durante o enraizamento é a manutenção de um adequado teor de água no substrato e na parte aérea da estaca. Isso é importante tanto quando se trabalha com estaquia direta em viveiro, na qual deverá ser prevista a implantação de um sistema de irrigação, quanto com estacas folhosas, como citado no item anterior. Especialmente quando se trabalha com nebulização, a aplicação de água para manter as folhas úmidas implica saturação do substrato com água e, por isso, a drenagem também deve merecer atenção, pois o excesso hídrico prejudica o enraizamento. Por sua vez, deve-se dar atenção ao manejo fitossanitário, com a utilização de tratamentos semanais com fungicidas, para reduzir o ataque de patógenos, principalmente fungos saprófitos sobre as estacas, em ambiente com nebulização. Nesse ambiente, a elevada umidade favorece a proliferação de doenças. Nesse caso, o monitoramento da ocorrência de doenças é muito importante. Para diminuir o potencial de inóculo, devem-se eliminar as folhas caídas e as estacas mortas. No caso de estaquia em viveiro, deve-se dar atenção à ocorrência de plantas invasoras e pragas. O manejo após o enraizamento depende da estrutura de propagação adotada. Se utilizada a estaquia direta no viveiro, deve-se repicar as mudas para um local com maior espaçamento, onde essas crescerão até atingir o estágio de comercialização. O desplante (extração das estacas enraizadas) deve ser, preferencialmente, feito em dias com baixa temperatura, nublados e com ventos fracos. Para minimizar a morte das mudas após o transplante, deve-se prever o uso da irrigação. As mudas podem ser conservadas em trincheiras ou câmaras frigoríficas. Os cuidados com as estacas folhosas devem ser maiores, especialmente no que se refere à desidratação. Uma vez que o ambiente numa casa de vegetação é muito diferente do ambiente externo, tão logo tenha-se formado um sistema radicular abundante, deve-se diminuir, gradativamente, a aplicação de água, reduzindo a umidade sobre as folhas e aumentando a aeração do substrato, que permite a aclimatação das mudas e menor perda de plantas no viveiro. Preparo e uso de fitorreguladores A utilização de fitorreguladores no enraizamento é uma prática largamente difundida, sendo uma técnica que, em muitas espécies de difícil enraizamento, pode viabilizar a produção de mudas por estaquia. Os principais fitorreguladores usados com essa finalidade são aqueles do grupo das auxinas. A auxina endógena, naturalmente encontrada nas plantas, é o AIA (ácido indolacético). As auxinas são essenciais no processo do enraizamento, possivelmente porque estimulam a síntese de etileno que por sua vez favorece a emissão de raízes. Os níveis de AIA na planta são variáveis conforme a velocidade das reações de síntese, de destruição e de inativação que, por sua vez, é afetada por alguns fatores, como:  Idade fisiológica do órgão e da planta. 57  Condições ambientais - Em plantas perenes de clima temperado, os maiores níveis de auxina são encontrados na primavera e no verão.  Parte da planta - As concentrações de AIA são maiores nos locais de síntese (regiões de crescimento ativo) e são muito baixas em tecidos já diferenciados. Para se obter estacas enraizadas em qualquer época do ano, deve se lançar mão de auxinas sintéticas, na promoção do enraizamento. Tipos de auxinas sintéticas As principais auxinas sintéticas e algumas de suas características constam da Tabela 1. Métodos de aplicação Pó - Podem ser encontradas fórmulas comerciais em forma de pó. Além disso, o preparo do fitorregulador em pó pode ser feito pelo usuário, mesmo que alguns autores o desaconselhem, em função da dificuldade de homogeneização da mistura. Para tanto, utiliza-se a quantidade de fitorregulador desejada para uma determinada concentração de talco industrial. Após adicionar o fitorregulador, acrescenta-se acetona ou álcool etílico à mistura, em quantidade suficiente para permitir a homogeneização do talco com o mesmo. A acetona ou o álcool são retirados por evaporação em estufa, em temperatura não muito elevada, preferencialmente em torno de 40°C, ou em condição de temperatura ambiente, de modo a não inativar o fitorregulador. Esse método de aplicação é 60 Propagação Vegetativa por Enxertia Introdução A enxertia é uma forma de propagação assexuada de vegetais superiores, na qual se colocam em contato duas porções de tecido vegetal, de tal forma que se unam e, posteriormente, se desenvolvam, originando uma nova planta (HARTMANN et ai., 1990). Uma planta propagada por enxertia é composta, basicamente, de duas partes: o enxerto ou garfo e o porta-enxerto ou cavalo, ainda que eventualmente possa ser utilizada uma porção intermediária ao enxerto e ao porta-enxerto, chamada de interenxerto, enxerto intermediário ou filtro. O enxerto é a parte representada por um fragmento da planta, contendo uma ou mais gemas, responsável pela formação da parte aérea da nova planta. O porta-enxerto é a parte responsável pela formação do sistema radicular. O interenxerto é usado quando se deseja evitar problemas de incompatibilidade entre o enxerto e o porta-enxerto, para controlar o crescimento da copa ou para se obter caule resistente a baixas temperaturas, entre outros objetivos. Para que se tenha sucesso com a propagação de plantas por meio da enxertia, é necessário que ocorra um bom contato da região cambial de ambas as partes enxertadas. A região cambial é formada por um tecido delgado da planta, situado entre a casca (floema) e a madeira (xilema) e composto por células meristemáticas capazes de dividirem-se e formarem novas células. Diversas espécies frutíferas são propagadas comercialmente por enxertia, como o pessegueiro, a ameixeira, a nectarineira, a macieira, a pereira, a videira, os citros em geral, a mangueira, o caquizeiro, entre outros (FACHINELLO et ai., 1995). Utilização da enxertia A enxertia pode ser utilizada com as seguintes finalidades: Manter as características genéticas de uma espécie, de uma cultivar ou de um clone A enxertia, bem como os demais métodos de propagação assexuada, permite que as características produtivas das plantas sejam mantidas em seus descendentes, garantindo o valor agronômico das mesmas, produzindo plantas mais uniformes quanto ao porte, exigências edafoclimáticas e tratamentos fitossanitários, entre outros. Propagar plantas que não podem ser multiplicadas por outros métodos Algumas espécies frutíferas produzem sementes com baixo poder germinativo, como é o caso da ameixeira (cerca de 2%), e outras simplesmente não as produzem. Por sua vez, em espécies altamente heterozigotas, a propagação por sementes implicaria modificações genéticas nos descendentes. Além disso, a enxertia é utilizada em espécies que apresentam dificuldade de formar raízes. Obter benefícios do porta-enxerto Embora os porta-enxertos sejam responsáveis apenas pela formação do sistema radicular e sustentação das novas plantas, em muitos casos, podem determinar características importantes como, por exemplo, conferir maior ou menor vigor à copa, como nos casos da macieira, da pereira, da videira e de citros, ou conferir melhor qualidade aos frutos. Além disso, muitos porta-enxertos são tolerantes a condições desfavoráveis, como solos pesados - com excesso ou falta de umidade - ataque de 61 pragas ou doenças, entre outras. Substituir cultivares de plantas estabelecidas Muitas vezes, em pomares estabelecidos com uma determinada cultivar, surgem problemas, como a baixa produtividade, frutos de qualidade inferior, hábito de crescimento inadequado, ou mesmo, suscetibilidade a pragas e doenças. Essas dificuldades podem ser solucionadas com a enxertia de uma nova cultivar mais adequada, sem necessidade de se implantar um novo pomar. Outra situação muito comum de uso da enxertia em plantas já estabelecidas é aquela em que se têm pomares com cultivares que necessitam de polinização cruzada e que, por morte ou número insuficiente de plantas polinizadoras, podem ter a produção comprometida e requerem a presença de plantas ou ramos de uma cultivar polinizadora. Em pequenos pomares domésticos, a enxertia possibilita que, numa mesma planta, tenha-se mais de uma cultivar ou mais de uma espécie. Isso é possível, enxertando-se uma cultivar ou espécie diferente em cada ramo principal. Contudo, nesse caso, deve-se ter o cuidado para que as cultivares enxertadas tenham o mesmo vigor, para evitar a dominância de um ramo sobre outro. Evitar problemas de juvenil idade Muitas plantas frutíferas, quando propagadas por sementes, necessitam de um período de 5 a 10 anos para superarem o período juvenil e entrarem em produção. Esse período improdutivo pode ser reduzido, enxertando-se segmentos de plantas que já estejam produzindo ou que foram propagadas por métodos assexuados, pois essas plantas já superaram o período de juvenilidade. Recuperar partes danificadas de plantas Fatores como baixas temperaturas, pragas, doenças, ventos, animais e equipamentos agrícolas podem provocar sérios danos às raízes ou à parte aérea das plantas. A recuperação total ou parcial é possível, por meio da enxertia. Estudar enfermidades viróticas As doenças causadas por vírus podem ser transmitidas de uma planta para outra, por meio da enxertia. Embora seja um grande problema na propagação das plantas, esse fato pode ser benéfico no estudo das doenças viróticas. Existem plantas bastante sensíveis ao ataque de determinados tipos de vírus, manifestando, c1aramente, os sintomas; outras, contudo, são portadoras de viroses e não demonstram qualquer tipo de sintoma. Pela enxertia de um segmento de planta que não apresente sintoma do ataque de vírus em outra planta indicadora, conhecida por ser muito sensível, pode-se verificar a presença, ou não, de uma determinada virose. Esse tipo de teste pode ser feito mesmo em plantas incompatíveis, visto não ser necessária uma perfeita união das partes enxertadas, para que ocorra a transmissão do vírus. Combinar clones ou cultivares A combinação de clones ou cultivares diferentes, numa mesma planta, permite a exploração das melhores características produtivas de uma determinada planta, utilizada como produtora, com as melhores características de um sistema radicular de outra, utilizada como porta enxerto. 62 União entre enxerto e porta-enxerto Para uma perfeita união entre enxerto e porta-enxerto, é necessário que ocorra uma seqüência de eventos, na seguinte ordem: Primeiro passo Quando se colocam em contato os tecidos cambiais do enxerto e do porta- enxerto, ambos com grande capacidade meristemática, ocorre multiplicação desordenada de células, irregularmente diferenciadas e agrupadas num tecido denominado calo (Fig. 1). Fig. 1. Multiplicação desordenada de células formando o calo para o início da união entre enxerto e porta-enxerto. A temperatura e a umidade podem estimular a atividade celular dos tecidos envolvidos, sendo que o aumento da temperatura, até UIT' determinado limite, favorece a divisão celular. A umidade é essencial à divisão celular, uma vez que em células ou em tecidos desidratados não há divisão. Existem outros fatores que também influem na formação de calo, como o potencial genético, a idade dos tecidos, os patógenos, etc. Segundo passo Com a multiplicação das células, ocorre um entrelaçamento das mesmas, formando um tecido de calo comum a ambas as partes. Terceiro passo Há uma diferenciação das células em novas células cambiais, promovendo uma união com o câmbio original do enxerto e do porta enxerto. Quarto passo o novo câmbio produz novos tecidos vasculares, que permitem o fluxo normal de água e de nutrientes. Com isso, está formada a união entre enxerto e porta-enxerto. Deve-se ressaltar que, durante a cicatrização do ponto de enxertia, não há mistura de conteúdos celulares, pois as células produzidas mantêm suas características, sejam provenientes do enxerto ou do porta-enxerto. Fatores que afetam o pegamento do enxerto Vários fatores, isolado ou em conjunto, podem influenciar na formação da união entre o enxerto e o porta-enxerto. Os principais fatores que influem nesse processo são 65  Incompatibilidade localizada - É aquela que surge em decorrência do contato entre enxerto e porta-enxerto, geralmente apresentando uma união frágil e com interrupções nos tecidos vasculares e no câmbio. Isso faz com que haja redução da passagem de seiva do porta-enxerto para o enxerto, e vice-versa. Esse tipo de incompatibilidade provoca também a ruptura no ponto de enxertia, em decorrência do maior tamanho da copa ou de ventos. A incompatibilidade localizada pode ser superada pelo uso de um enxerto intermediário, que seja compatível com ambas as partes . Incompatibilidade translocada - Esse tipo de incompatibilidade causa degeneração do floema, caracterizada pela formação de uma linha escura ou de uma zona neurótica na região do córtex. Isso dificulta o transporte de carboidratos, que se acumulam acima da região degenerada, com conseqüente redução do teor abaixo dessa região. Esse tipo de incompatibilidade não pode ser superado com o uso de um enxerto intermediário. Condições ambientais  Temperatura - a temperatura tem influência marcante no processo da enxertia, mais especificamente na taxa de divisão celular que afeta a formação de novas células, responsáveis pela união entre enxerto e porta-enxerto, e no processo de desidratação. De modo geral, temperaturas inferiores a 4°C e superiores a 32°C dificultam o processo de cicatrização.  Umidade do ar e do solo - as células novas que formam o calo e a união entre enxerto e porta-enxerto apresentam paredes finas e são bastante sensíveis à desidratação. Além disso, para que ocorra multiplicação celular satisfatória, é necessário que as paredes celulares estejam túrgidas. Isso faz com que haja necessidade de se manter um alto teor de umidade no local da enxertia. O teor de umidade do solo também é importante no processo da enxertia. No período da enxertia, um déficit hídrico provoca redução na divisão celular na região do câmbio, tanto do enxerto quanto do porta-enxerto. Com isso, a casca torna-se muito aderida ao lenho, dificultando seu desprendimento e a realização da enxertia.  Oxigênio - há intensa atividade respiratória e elevada necessidade de oxigênio durante a divisão e o alongamento celulares. O oxigênio pode tornar-se fator limitante no pegamento, quando são utilizadas ceras ou outros protetores que não permitem as trocas gasosas, principalmente em plantas com maior atividade respiratória.  luminosidade - uma intensa luminosidade pode causar dessecação rápida do enxerto. Assim, recomenda-se fazer a enxertia em dias com baixa luminosidade. Quando a enxertia for feita na primavera/verão, deve-se fazer a dobra da copa do porta enxerto, de modo que a parte dobrada promova o sombreamento do ponto de enxertia.  Vento - o vento pode provocar a quebra do enxerto no ponto de união, além de acelerar o processo de desidratação, após a enxertia. Além disso, poderá deslocar o enxerto e prejudicar a coincidência entre o câmbio de ambas as partes. Por isso, a enxertia deve ser evitada em dias ventosos, principalmente, da enxertia de garfagem.  Idade do porta-enxerto - de modo geral, porta-enxertos mais jovens possibilitam maior índice de pegamento, devido a uma atividade celular mais intensa, que facilita o processo de cicatrização.  Época - a época mais adequada para a enxertia depende da biologia da planta e do 66 tipo de enxerto a ser feito. Para plantas caducifólias, dá-se preferência ao período de inverno, para se fazer a enxertia. Já para espécies perenifólias, faz-se a enxertia na primavera/verão. Com relação ao tipo, geralmente a enxertia de garfagem é feita no inverno e a enxertia de borbulhia, na primavera/verão e no outono.  Classificação botânica - um fator importante que deve ser levado em consideração, quando da escolha das plantas utilizadas como enxerto e porta-enxerto, é o grau de parentesco existente entre elas, sendo que, quanto maior for a afinidade botânica, maiores serão as possibilidades de pegamento. Recomenda-se usar plantas que, no mínimo, pertençam à mesma família. Enxertos feitos em plantas pertencentes a famílias botânicas diferentes dificilmente são executados com sucesso.  Sanidade do material- é importante que as plantas utilizadas na enxertia estejam livres de pragas e doenças, que podem comprometer o pegamento e o desenvolvimento da nova planta.  Técnica da enxertia - muitas vezes, uma técnica mal utilizada pode causar sérios problemas na cicatrização do enxerto. Os resultados mais freqüentes do uso inadequado de técnicas de enxertia são a pequena área de contato entre os câmbios do enxerto e do porta-enxerto, cortes desuniformes, amarração errada ou demorada, danos mecânicos na retirada da gema, desidratação dos ramos fornecedores de gemas, ferramentas pouco afiadas ou contam i nadas, entre outros.  Habilidade do enxertado r - quanto mais rápido for feito o processo da enxertia, melhor será o índice de pegamento, uma vez que as partes envolvidas sofrerão menor influência dos fatores externos (sol, temperatura, patógenos, etc.). Outro fator relacionado, diretamente, com a habilidade do enxertador é a uniformidade dos cortes, que possibilitam melhor contato entre as partes enxertadas.  Polaridade do enxerto - para que ocorra a união, é extremamente necessário que se mantenha o enxerto na posição normal, principalmente tratando-se da enxertia de garfagem. No caso da enxertia de gema, tanto em T normal como em T invertido, recomenda-se manter a polaridade, mas a inversão da mesma não compromete a formação de uma união satisfatória. Isso ocorre, porque na enxertia de garfagem, na qual é usado um fragmento maior do ramo, com xilema e floema formados, o fluxo de substâncias fica totalmente comprometido, enquanto na enxertia de gema, o sistema vascular da nova planta é formado mais tarde, com o desenvolvimento da gema .  Oxidação de compostos fenólicos - mu itas plantas frutíferas, principalmente as pertencentes à família das mirtáceas, como a goiabeira, o araçazeiro e a pitangueira apresentam abundante exsudação de substâncias tóxicas ao tecido, por ocasião do corte ou ferimento. Essas substâncias são, principalmente, compostos fenólicos que sofrem oxidação ao entrarem em contato com as condições ambientais, o que dificulta a formação do calo e o processo de cicatrização. Equipamentos necessários Diversos são os equipamentos usados na enxertia. A seguir, são descritos os mais importantes e indispensáveis na realização dessa prática. Canivete Existe grande variedade de tipos de canivetes que podem ser usados na enxertia. Contudo, o importante é que esses apresentem lâminas de boa qualidade, que possam ser afiadas e que mantenham o fio por maior tempo possível (Fig. 4). Essas 67 características são importantes, porque aumentam o rendimento do enxertador e permitem a realização de cortes, com um mínimo de dano às células dos tecidos cortados, o que facilita o processo de cicatrização. As lâminas de aço inoxidável diminuem os riscos de oxidação. Canivete de lâmina dupla Esse tipo de canivete é usado para fazer a enxertia de placa e apresenta duas lâminas paralelas, distanciadas ao redor de 2,5 cm (Fig. 5). As lâminas paralelas possibilitam a manutenção das distâncias entre os cortes no porta-enxerto e ao redor da gema, garantindo perfeita coincidência dos mesmos. Fig. 4. Canivetes de enxertia com lâmina simples. Fig. 5. Canivete de enxertia com lâmina dupla. Tesoura de poda A tesoura é um equipamento utilizado para coleta dos ramos fornecedores das gemas, preparo dos porta-enxertos e dos garfos, corte final da copa ou aparação do sistema radicular no momento de arranquio da muda. Por isso, deve ser de boa qualidade e estar sempre limpa e bem afiada (Fig. 6). Máquina de enxertar Quando o enxerto e o porta-enxerto apresentam diâmetros semelhantes, os cortes poderão ser feitos com máquinas manuais ou acionadas por motores. Essas máquinas executam cortes na forma de bisei ou de encaixes, no enxerto e no porta-enxerto (Fig. 7). 70 que cada cor caracterize uma determinada cultivar. Esse sistema é muito utilizado na cultura da macieira. Produtos para desinfestação A desinfestação de ferramentas, como canivetes e tesouras, é uma prática que deve ser adotada, a fim de se evitar contaminação com microrganismos. Normalmente, o produto utilizado é o hipoclorito de sódio de 1,5% a 2% (água sanitária). Obtenção dos porta-enxertos A obtenção comercial de porta-enxertos pode ser feita por sementes ou por métodos vegetativos. O método mais utilizado é a propagação por sementes, pela facilidade de se obter um grande número de plantas, por proporcionar plantas sadias e vigorosas e pela pouca exigência de tratos culturais, o que permite a obtenção de porta-enxertos a baixo custo. A principal desvantagem da produção de porta-enxertos por sementes é sua grande desuniformidade. Os principais métodos vegetativos utilizados na obtenção de porta enxertos são a estaquia e a mergulhia. Apresentam a vantagem de produzir plantas uniformes, além de manter as características genéticas das mesmas em relação aos pais. A utilização de sementes ou de métodos vegetativos é função de uma série de fatores, tais como facilidade de obtenção de sementes, capacidade de enraizamento, variabilidade genética, custos e suscetibilidade a pragas e doenças, que podem levar à preferência por um ou por outro método. Um aspecto importante na obtenção dos porta-enxertos, principalmente quando se deseja fazer a enxertia de primavera/verão, refere-se a proporcionar condições que possibilitem bom desenvolvimento desses. Tais condições vão, desde a escolha do local e a correção do solo, até irrigações e tratamentos fitossanitários. Classificação da enxertia A enxertia pode ser classificada de duas maneiras: quanto ao método utilizado e quanto à época de realização. Quanto ao método utilizado Quanto ao método utilizado, existem três tipos de enxertia: enxertia de borbulhia, enxertia de garfagem e enxertia de encostia. As demais são variações desses tipos (chamadas formas). Enxertia de borbulhia - Também é conhecida como enxertia de gema e consiste em justapor uma pequena porção da casca de uma planta (enxerto), contendo apenas uma gema, com ou sem lenho, em outra planta (porta-enxerto) (Fig. 9). 71 Fig. 9. Enxertia de borbulhia feita em pessegueiro. Conforme o modo de incisão da gema, existem várias formas de se realizar a enxertia de borbulhia, ainda que o princípio seja o mesmo para todas elas. A seguir, serão descritas as formas mais comuns da enxertia de borbulhia, mesmo que existam outras cujo uso não é tão difundido. As enxertias em T normal e em T invertido, bem como as demais assinaladas, são subdivisões da enxertia de borbulhia e não uma divisão quanto ao método .  Enxertia em T normal - Essa forma é bastante utilizada na propagação de espécies frutíferas principalmente cítricas e rosáceas. o porta-enxerto deve apresentar um diâmetro de 6 a 8 mm (diâmetro de um lápis, no qual, com o auxílio de um canivete, faz-se uma incisão na forma de T (Fig. 10l, ou seja, faz-se um corte vertical com aproximadamente 3 cm de comprimento e, na extremidade superior, um corte horizontal. Os cortes devem ser feitos a uma altura de 5 a 25 cm do solo, cortando-se somente a casca que será desprendida do lenho. Uma altura de corte muito baixa poderá ocasionar a contaminação no local da enxertia, bem como gerar um futuro enraizamento da cultivar-copa. 72 Por sua vez, uma grande altura de corte implica maior superfície de retirada de brotações do porta-enxerto e maior risco de quebra no ponto de enxertia. As gemas são retiradas, preferencialmente, da porção mediana dos ramos da última estação de crescimento. Deve-se retirar um fragmento de casca com a gema e sem o lenho. Para isso, é necessário que ocorra fácil desprendimento dos mesmos. Para a retirada da gema, o corte deve ser feito de modo que seja atingida parte do lenho, para não danificá-la. Depois, faz-se um corte transversal da casca e, com uma leve pressão para a frente ou lateralmente, com o dedo polegar, faz-se a retirada da gema, com cuidado para não causar danos à mesma. Após a retirada da gema, deve-se inseri-Ia, o mais rapidamente possível, devido à desidratação e oxidação, no corte efetuado no porta- enxerto, de modo que fique protegida pelas abas laterais do T. Caso o tamanho da porção da casca com a gema seja maior do que o corte feito no porta-enxerto, deve-se eliminar a parte excedente. Para proteger e fixar a gema enxertada, deve-se amarrá-la de cima para baixo, para evitar que a mesma seja empurrada para fora do corte, ainda que isso facilite a penetração de água. Durante a amarração, deve se evitar cobrir a gema com a fita. Caso isso aconteça, deve-se retirar a fita, quando a gema começar a brotar. Dependendo da época da enxertia, que será vista posteriormente, deve-se fazer a dobra do porta-enxerto .  Enxertia em T invertido - A enxertia de T invertido é idêntica à forma anterior, diferindo dessa apenas quanto à forma de incisão no porta-enxerto. Nesse caso, o corte horizontal é feito na extremidade inferior do corte vertical, daí a denominação de T invertido (Fig. 10 B). Esse tipo de inserção apresenta algumas vantagens com relação ao anterior. Por exemplo, confere maior resistência ao broto no primeiro estágio de crescimento e dificulta a entrada de água, tanto proveniente da chuva, quanto da exsudação de seiva. O excesso de água no ponto da enxertia causa apodrecimento da gema. A amarração deve ser feita de baixo para cima, para impedir que a gema seja empurrada para fora do corte e evitar a penetração de água .  Enxertia em placa ou escudo - Essa forma de enxertia é utilizada em espécies que apresentam casca grossa, como é o caso da nogueira-pecã, do caquizeiro e da goiabeira (Fig. 11). É uma forma mais lenta e mais difícil de ser executada do que a enxertia na forma de T (normal ou invertido) (Fig. 10). O porta-enxerto deve apresentar um diâmetro de 15 a 25 mm, um pouco maior do que o necessário para a enxertia em T. Para se fazer a enxertia de borbulhia, deve-se utilizar um canivete de lâmina dupla, com o qual se fazem dois cortes paralelos horizontais e dois cortes paralelos verticais, obtendo-se uma placa de casca de formato quadrangular, ou um vazador com cerca de 2 cm de diâmetro e com as bordas bem afiadas. Para retirar a gema, procede-se da mesma forma, de modo que a placa contendo a gema tenha as mesmas dimensões da placa retirada do porta-enxerto. Isso permite uma perfeita coincidência das mesmas. A amarração é feita do mesmo modo que na enxertia em T invertido.  Enxertia em anel - Para se fazer essa enxertia, efetuam-se dois cortes horizontais e paralelos, com canivete de lâmina dupla, ao redor do porta- enxerto, obtendo-se uma porção de casca em forma de anel (Fig. 11). Para retirar a gema, procede-se de maneira idêntica à enxertia em placa. 75 Fig. 16. Enxertia de garfagem em fenda simples (A), dupla fenda (B) e cicatrização (C). A enxertia em fenda simples apresenta o inconveniente de o enxerto quebrar-se muito facilmente, pois o contato entre as partes enxertadas é muito frágil. Após a enxertia, deve-se fazer uma amarração com fita plástica, tomando-se o cuidado de não deslocar o garfo .  Fenda dupla ou inglês complicado - A forma de fenda dupla é a mais utilizada para a propagação da macieira, proporcionando bons resultados. Consiste em cortes em bisei no garfo e no porta enxerto, seguidos de um corte no terço inferior do garfo, e outro no terço superior do porta-enxerto. Para juntar as duas partes, faz-se o garfo deslizar sobre o corte em bisei do porta-enxerto, resultando no encaixe dos cortes (Fig. 16 B e C). Esse tipo de corte proporciona maior área de contato das regiões cambiais, bem como maior firmeza entre enxerto e porta-enxerto. Para obter-se maior índice de pega, é necessário que o diâmetro do garfo seja o mais próximo possível do diâmetro do porta-enxerto .  Enxertia com máquina - A enxertia com máquina também é uma forma de enxertia de garfagem, na qual cortes semelhantes são feitos com máquinas, no enxerto e no porta-enxerto. Existem vários tipos de máquinas de enxertar, mas as mais utilizadas fazem diferentes cortes, normalmente em forma de ômega (Fig. 17). A enxertia com máquina é feita em duas etapas. Na primeira, efetua-se o corte do enxerto e, na segunda, o corte do porta-enxerto e a união entre as partes. A principal vantagem da enxertia com máquina é o rendimento da operação, uma vez que uma pessoa é capaz de enxertar cerca de 5 mil unidades por dia. Como desvantagem principal, tem-se a necessidade de utilizar enxerto e porta-enxerto com diâmetros semelhantes. Enxertia de encostia - A enxertia de encostia, também chamada de enxertia de aproximação, consiste na união lateral de duas plantas com sistemas radiculares independentes, de modo que enxerto e porta-enxerto A 76 Fig. 17. Máquina pneumática utilizada para a enxertia. sejam mantidos, por seus sistemas radiculares, até que a união esteja completamente formada. É o método mais simples de enxertia, mas é pouco utilizado na propagação comercial de plantas frutíferas. A enxertia de encostia pode ser feita em qualquer época do ano, embora seja mais conveniente fazê-la na época de crescimento vegetativo, o que facilitará a cicatrização e a união entre as partes. Existem várias formas de se fazer a enxertia de encostia. Contudo, por sua pouca utilização, serão descritas apenas as mais importantes.  Lateral simples - É a forma mais simples de enxertia de encostia. Consiste em efetuar-se um corte na superfície da casca, com a finalidade de descobrir o câmbio, tanto no enxerto quanto no porta-enxerto. Depois, unem-se essas superfícies com fita de polietileno, ráfia ou qualquer outro material similar. Quando a união estiver completamente formada, faz-se o corte da parte aérea do porta-enxerto e do sistema radicular do enxerto, de tal maneira que a nova planta fique constituída do sistema radicular e da copa das cultivares desejadas.  Em lingüeta ou lateral inglesa - Essa forma é semelhante à anterior, diferindo pelo fato de ser feito um segundo corte da metade para baixo no porta-enxerto e da metade para cima no enxerto, ocasionando o encaixe de ambos. A enxertia em lingüeta tem sido bastante utilizada em trabalhos, para investigar a transmissão de doenças viróticas entre as plantas.  No topo - É feita do mesmo modo que a encostia lateral simples, mas o porta- enxerto é cortado em bisei, na extremidade, e encostado na planta, para formar uma nova. Quanto à época de realização A classificação da enxertia quanto a época é mais comum na Região Sul, onde as estações do ano apresentam características climáticas mais definidas, principalmente em relação à temperatura. Em outras regiões que não apresentam essas diferenças, a classificação da enxertia quanto à época não tem a mesma importância. Enxertia de primavera/verão - Esse tipo de enxertia também é conhecido como enxertia de gema viva. Geralmente é realizada nos meses de novembro e dezembro, podendo ser prorrogada até fevereiro. É a época mais utilizada em fruticultura, 77 principalmente por possibilitar a obtenção da muda em apenas um ciclo vegetativo. Por isso, deve-se ter uma serie de cuidados com os porta-enxertos, como adubações nitrogenadas, controle de pragas e doenças, limpezas e irrigações, a fim de que eles atinjam o diâmetro necessário dentro do período previsto. O método mais utilizado para a enxertia de primavera/verão é o de borbulhia em T invertido, mas pode-se utilizar, também, os outros métodos, dependendo das espécies que se desejam propagar. As gemas ou borbulhas devem ser retiradas de ramos da brotação do ano, com bom crescimento e oriundos de plantas sadias. Esses ramos devem ser coletados no mesmo dia em que é feita a enxertia. Em seguida, retiram-se todas as folhas, deixando- se um pequeno pedaço do pecíolo ligado ao ramo. Os ramos devem ser conservados na sombra, com a base imersa em água, para evitar a desidratação. Caso não sejam utilizados no mesmo dia, deverão ser enrolados em pano, ou papel úmidos, ou sacos de plástico e armazenados em geladeira comum, com temperatura em torno de 5° C. Após se fazer a enxertia, normalmente, faz-se a dobra da copa do porta-enxerto. Essa dobra consiste em quebrar parcialmente o porta enxerto, cerca de 10 cm acima do ponto de enxertia, para forçar a brotação da gema enxertada. Outro benefício dessa dobra é permitir o sombreamento do local da enxertia. Decorridos 10 a 15 dias, retira-se a parte dobrada da copa do porta enxerto, por meio de um corte acima da fita usada para amarração, e eliminam-se as brotações que surgirem do porta-enxerto. Quando o enxerto estiver medindo em torno de 15 a 20 cm de altura, faz-se um corte em bisei logo acima do mesmo, cortando-se, também, a fita da amarração. Deve-se ter cuidado para que, durante o corte, não ocorra afrouxamento da gema. Durante todo o desenvolvimento do enxerto, as brotações do porta enxerto devem ser eliminadas, para se evitar que elas exerçam competição e prejudiquem o desenvolvimento da muda. Enxertia de verão outono - Também conhecida como enxertia de gema dormente. É feita no final do verão ou no início do outono. A enxertia de gema dormente é semelhante à enxertia de gema viva, mas, nesse caso, não é feita a dobra da copa do porta-enxerto logo após a enxertia. Essa dobra é feita somente na primavera seguinte, quando a gema entrará em atividade. Assim, a muda enxertada no verão outono só estará completamente formada após dois ciclos vegetativos, o que faz com que essa enxertia não seja comumente utilizada. No entanto, quando os porta-enxertos não apresentam o diâmetro mínimo que possibilite a enxertia em novembro/ dezembro, a enxertia de gema dormente pode ser uma alternativa para aproveitamento dos mesmos. Uma maneira de se ganhar tempo com a muda enxertada no verão/ outono é levá- la para o local definitivo antes de a gema brotar, ou seja, no inverno subseqüente à enxertia. Para isso, corta-se o porta-enxerto cerca de 20 em acima do local da enxertia e, na primavera seguinte, quando ocorrer o desenvolvimento da gema, faz-se o corte definitivo. Tal procedimento apresenta, como inconvenientes, a incerteza da brotação da gema e a quebra do enxerto logo após a brotação, período em que a nova planta é mais sensível à ação de ventos, animais, máquinas e outros agentes, fazendo com que haja necessidade de substituição dessa muda. 80 Propagação Vegetativa por Mergulhia Introdução A mergulhia é um processo de multiplicação assexuada, em que a planta a ser originada só é destacada da planta-mãe após ter formado seu próprio sistema radicular. Essa técnica é recomendada para espécies com dificuldades de multiplicação por outros métodos c10nais ou mesmo por sementes. Baseia-se no princípio de que, pelo sombreamento parcial ou total do ramo ou de outra parte da planta, são proporcionadas condições de umidade, aeração e ausência de luz, que favorecem a emissão de raízes (MIELKE et aI., 1994). Algumas técnicas de condicionamento da planta, tais como o anelamento ou a dobra do ramo no local da mergulhia, provocam a redução da velocidade de transporte de carboidratos e fitorreguladores, aumentando as possibilidades de formação de raízes no local. A mergulhia é feita na primavera ou no fim do verão, ou seja, durante ou no final da estação de crescimento das plantas. Na propagação comercial de plantas frutíferas, a mergulhia é um processo bastante utilizado na obtenção de porta-enxertos de macieira, pereira e marmeleiro, ainda que possa ser usada, também, em casos onde as plantas apresentam dificuldade de formar raízes nas estacas, ou não possam ser propagadas por outros métodos. A mergulhia é um processo trabalhoso, que exige grande quantidade de mão-de- obra, tendo por isso um custo mais elevado do que os outros métodos de multiplicação vegetativa. Existem espécies, como a framboeseira e a amoreira, nas quais a mergulhia ocorre naturalmente, sendo, por isso, a principal forma de propagação. Fatores que afetam a regeneração das plantas Geralmente, os fatores que afetam a formação de raízes na mergulhia são os mesmos da estaquia, diferindo apenas em ordem de importância. Tal fato é devido à grande semelhança entre esses métodos de propagação. Para que ocorra a formação de raízes numa determinada parte do ramo ou da planta, é necessário que haja ausência de luz no período de enraizamento. A ausência de luz provoca o estiolamento do ramo, com acúmulo de auxinas e diminuição da lignina e dos compostos fenólicos (FACHINELLO et ai., 1995). As possibilidades de enraizamento são maiores, quando o estiolamento é feito em ramos ou partes jovens das plantas. A seguir, serão apresentados os fatores mais importantes: Substrato É necessário que o substrato apresente uma textura leve, com umidade, aeração e temperatura adequadas para a formação das raízes. Nutrição Como a planta a ser propagada por mergulhia permanece ligada à planta-mãe, ocorre um fluxo contínuo de água e de nutrientes, e essa nutrição equilibrada da matriz favorecerá a formação de raízes. Fisiologia A mergulhia deve ser feita, quando a planta se encontra em fase de crescimento vegetativo, principalmente no final desse período, quando ocorre um acúmulo de carboidratos e outras substâncias importantes para a emissão de raízes. 81 Idade do ramo Ramos mais jovens geralmente enraízam com maior facilidade do que ramos mais velhos. A poda drástica dos ramos, antes da mergulhia, é uma prática muito utilizada para provocar a emissão de novas brotaçães que, assim como no processo da estaquia, tendem a apresentar melhor enraizamento. Fitorreguladores A aplicação de substâncias estimuladoras do enraizamento, como o AIS (ácido indolbutírico), poderá favorecer a formação de raízes. Essas substâncias são utilizadas, principalmente, na mergulhia aérea (alporquial, pela facilidade de aplicação. Trabalhos realizados por Castro e Silveira (2003l, no final do inverno, com plantas de pessegueiro e ameixeira por meio de mergulhia aérea, anelando os ramos e, posteriormente, aplicando uma solução de AIB na concentração de 4.000 mg L-l, proporcionaram percentuais próximos a 100%, tanto no enraizamento quanto na sobrevivência das mudas. Anelamento o anelamento é uma prática que provoca uma interrupção no fluxo de substâncias nutritivas elaboradas no caule, produzindo o acúmulo de carboidratos, auxinas e outros fatores do crescimento nessa região, favorecendo o enraizamento. O anelamento pode ser feito, retirando-se um anel de casca com 0,8 a 1,0 cm de largura, ou amarrando-se um arame ao redor do ramo e, em seguida, cobrindo-se o local com substrato adequado. Princípios anatômicos e fisiológicos Os princípios anatômicos e fisiológicos, relacionados à formação de raízes na mergulhia, são semelhantes aos da estaquia, apresentados no Capítulo 4. Classificação Existem muitas formas de se executar o processo da mergulhia, mas todas obedecem ao princípio da cobertura parcial do ramo, ou outra parte da planta com solo ou outro substrato com a mesma finalidade. A mergulhia pode ser feita no solo ou fora dele, e é classificada segundo o esquema apresentado na Fig. 1. Mergulhia no solo Mergulhia simples normal - Consiste em curvar-se um ramo, cobrindo uma parte com solo, deixando sua extremidade descoberta e em posição vertical (Fig. 2). Para que o ramo não seja deslocado pela ação do vento ou de outros agentes, deve- se fixá-lo ao solo, pois o movimento do ramo poderá danificar as raízes, prejudicando o 82 enraizamento. Assim que o ramo formar raízes suficientes para sua manutenção, deve- se desligá-lo da planta-mãe. Mergulhia simples de ponta É semelhante à mergulhia simples normal, mas nesse caso, a ponta ou coberta com solo. Ocorre inversão de polaridade das gemas, que brotarão e formarão uma nova planta (Fig. 3). Do mesmo modo que na anterior, após a formação do sistema radicular, deve-se separar a muda da planta-mãe. Mergulhia contínua chinesa Consiste em curvar-se um ramo, cobrindo com solo a maior extensão possível do mesmo, de modo que apenas sua extremidade fique des- coberta. Com a cobertura do ramo, as gemas dispostas em sua extensão permanecem sob o solo e emitirão brotações enraizadas (Fig. 4). Teoricamente, poder-se-ia obter um numero e plantas igual ao numero e gemas enterradas, mas isso dificilmente ocorre devido à permanência de algumas gemas no estado de dormência. Mergulhia contínua serpenteada - É semelhante à mergulhia contínua chinesa, mas a cobertura é feita somente em algumas partes do ramo (e não em toda a sua extensão), ou seja, cobre-se uma parte com solo e deixa-se outra descoberta (Fig. 5). A mergulhia contínua, tanto chinesa como ser penteada, permite obter maior número de plantas por ramo, se comparada com a mergulhia simples. Quando as novas brotaçães emitirem raízes, os ramos devem ser desligados da planta-mãe. Mergulhia de cepa - Consiste no plantio de uma muda oriunda de semente ou de 85 Propagação Vegetativa por Estruturas Especializadas Introdução Estruturas especializadas são caules, folhas ou raízes modificadas que funcionam como órgãos de reserva de alimentos, podendo também ser utilizados na propagação vegetativa das plantas. Muitas vezes, esses órgãos possibilitam a sobrevivência das plantas em condições adversas. Em fruticultura, a propagação das plantas por meio de estruturas especializadas é usada em algumas espécies, como, por exemplo, o morangueiro, a bananeira, o abacaxizeiro, a framboeseira e a amoreira-preta (FACHINELLO et ai., 1995). Tipos de estruturas Embora existam vários tipos de estruturas especializadas que podem ser utilizadas na propagação de plantas, no caso das plantas frutíferas, as principais estruturas utilizadas são: estolões, rebentos e rizomas. Estolões São caules aéreos especializados, mais ou menos horizontais, que surgem da axila das folhas, na base ou na coroa das plantas que enraízam e formam uma nova planta. Geralmente, primeiro ocorre a formação de uma pequena planta no segundo nó do estolão e só depois é que é formado o sistema radicular. A formação de estolões é geralmente determinada pelo fotoperíodo, sendo iniciada em dias com duração de 12 horas de luz solar ou mais, dependendo da sensibilidade da espécie ou cultivar. Um exemplo característico de planta que pode ser propagada por estolões é o morangueiro, no qual o número de mudas obtidas em cada planta-mãe é dependente da cultivar (Fig. 1). Fig. 1. Estolões utilizados na propagação do morangueiro. Rebentos São brotaçôes que surgem a partir de raízes, do caule ou dos próprios frutos que, quando enraizados, podem ser utilizados na produção de novas plantas. A framboeseira, a amoreira-preta e o abacaxizeiro são facilmente propagados por rebentos (Fig. 2 e 3). 86 Fig. 2. Rebentos utilizados na propagação da amoreira-preta No caso do abacaxizeiro, as mudas produzidas por essas estruturas recebem denominações dependendo da parte da planta da qual se originam, Meletti (2000) conforme o que se segue: Coroa - Muda originada de um aglomerado de folhas modificadas, localizadas no ápice do abacaxi. Apresenta um peso reduzido (200 a 350 g), boa uniformidade, proporciona ciclo mais longo (22 a 24 meses) e não produz frutos tem porões. Nor- malmente, esse tipo de muda não está disponível aos produtores, já que os frutos para consumo in natura são comercializados com a coroa, a não ser quando os frutos são destinados às indústrias. Filhote - Muda originária do pedúnculo do fruto e, por isso, tem a parte basal curva. Apresenta tamanho uniforme (200 a 500 g), raramente produz frutos tem porões e apresenta ciclo um pouco menor (18 a 22 meses) do que as mudas de coroa. Esse tipo de estrutura é o mais abundante, na produção de mudas, e o número de filhotes é variável com a cultivar. No caso da cultivar Pérola, pode-se obter de 5 a 9 filhotes por planta. Rebentões - São mudas originárias a partir de brotações de gemas do caule localizadas nas bainhas foliares. Apresentam tamanho heterogêneo (400 a 1.000 g), frutos tem porões e ciclo mais curto (inferior a 18 meses). Embora exista um grande número de gemas, a dominância apical faz com que apenas 1 ou 2 dessas brotações se desenvolvam e possam ser utilizadas como mudas. A emissão de rebentões pode ser estimulada, artificialmente, pela eliminação do meristema apical ou tecido geratriz das folhas do abacaxizeiro, pela quebra da inflorescência ou do fruto em desenvolvimento, e pela poda das folhas e do pedúnculo, após a colheita do fruto. Para aumentar o rendimento desse tipo de muda, deve-se colher, também, os rebentões, tão logo atinjam o tamanho adequado para plantio, ocorrendo a produção de novas mudas. 87 Fig. 3. Diferentes tipos de mudas de abacaxizeiro. A) Coroa; B) Filhote; C) Filhote- rebentão; D) Rebentão. O número de rebentões pode variar com a cultivar, com a época de plantio, com a idade da planta na indução floral, com o tamanho da muda plantada, e com a densidade de plantio e de adubação. Quando os rebentões estão inseridos na região de conexão do talo com o pedúnculo, podem ser chamados de filhotes-rebentões. Independentemente da parte do abacaxizeiro a ser utilizada, após a coleta, as mudas são expostas ao solo por 1 ou 2 semanas, num processo denominado cura (Fig. 4), que tem por finalidades acelerar a cicatrização na região onde a mesma foi destacada da planta-mãe, reduzir a quantidade de água para evitar o apodrecimento, reduzir pragas e evitar fusariose, eliminando-se as mudas com sintomas. Rizomas São caules modificados de crescimento normalmente subterrâneo, e que apresentam capacidade de armazenar reservas. As mudas do tipo rizoma são importantes para a propagação da bananeira e, a exemplo do abacaxizeiro, recebem denominações diferentes de acordo com o tamanho e a forma, o que tem proporcionado algumas confusões, pela adoção de diferentes critérios regionais na separação dos tipos. As denominações mais comuns dos tipos de mudas originadas de rizomas na cultura da bananeira, segundo Teixeira (2000), são as seguintes: Chifrinho - Mudas medindo 20 a 30 cm de altura, com 2 a 3 meses de idade, e peso em torno de 1 a 2 kg, sem folhas. Chifre - Mudas medindo 50 a 80 cm de altura, com folhas rudimentares na extremidade superior. 90  Dificuldades técnicas de aclimatização.  Elevado período de juvenilidade após plantio no campo, entre outras. Em alguns casos, a multiplicação in vitro pode ser obtida em larga escala, resultando na instalação de verdadeiras biofábricas comerciais, baseadas no princípio da linha de produção, e algumas vezes automatizadas. No Brasil, onde a aplicação comercial da micropropagação é relativamente recente, existem diversos grupos trabalhando em instituições públicas de pesquisa e em universidades públicas e privadas. Entretanto, até o momento, poucas são as empresas privadas que atuam na área. Considerando-se somente essas possibilidades, a micropropagação torna-se um instrumento extremamente interessante no setor de produção de mudas frutíferas, já que a tendência da fruticultura moderna está voltada para os plantios adensados (que necessitam de grande número de mudas por área) e do uso de mudas certificadas. Metodologia geral Um aspecto fundamental para se fazer a micropropagação de uma frutífera é o domínio da tecnologia de propagação em laboratório, chamada de protocolo, resultado de estudos realizados com os fatores que afetam o crescimento e o desenvolvimento das plantas in vitro, que compreende as seguintes fases:  Estabelecimento das culturas in vitro.  Multiplicação in vitro.  Enraizamento in vitro.  Aclimatização. Estabelecimento das culturas in vitro Para iniciar a micropropagação de uma frutífera, é necessário estabelecer a cultura in vitro, isto é, obter as plantas livres de contaminastes visíveis e suficientemente adaptadas às condições in vitro para que, numa fase seguinte, possam ser multiplicadas. Assim, para o estabelecimento dos cultivos in vitro, a escolha do explante apropriado constitui o primeiro passo. O explante é qualquer segmento de tecido oriundo de uma planta, para iniciar um cultivo in vitro, podendo ser uma gema axilar ou segmento nodal, ápice caulinar ou radicular, sendo que esses contêm o meristema ou tecidos diferenciados, como as folhas ou pedaços de uma folha, entrenó, etc. (Fig. 1). Na seleção dos explantes, devem ser considerados aspectos como o nível de diferenciação do tecido utilizado e a finalidade da micropropagação. Teoricamente, considerando-se a totipotência das células vegetais, qualquer tecido pode ser utilizado como explante. Quando os explantes são de pequenas dimensões (cultivo de meristemas), a multiplicação geralmente visa eliminar viroses. o cultivo de ápices de maiores dimensões é empregado na multiplicação vegetativa, quando a infecção por vírus não for um problema muito severo. Na maioria dos trabalhos envolvendo micropropagação de frutíferas, os explantes escol h idos geralmente são obtidos de gemas apicais ou axilares, mas há variação, conforme a espécie ou a cultivar. No caso do mirtilo, os melhores explantes são os originados do segmento nodal, contendo a gema axilar. Para a pereira, cv. Carrick, podem-se utilizar gemas axilares ou meristemas apicais e laterais, enquanto para a cv. Garber, o melhor explante é o meristema. Geralmente, quando a finalidade da micropropagação é a c10nagem de cultivares superiores, ou seja, a produção de mudas, utilizam-se como explantes preferenciais gemas apicais ou axilares, pois essas gemas possuem maior número de células 91 meristemáticas e são geneticamente mais estáveis. Fig. 1. Explantes utilizados no início de cultivos i n vitro de espécies frutíferas: A) Ápice caulinar ou gema apical; B) Gema axilar; C) Segmento nodal; e D) Entrenó. Quando o objetivo da micropropagação é a obtenção de plantas para serem utilizadas em estratégias de melhoramento genético, podem se utilizar tecidos diferenciados como folhas e entrenós, que sofrerão uma dediferenciação por meio de tratamentos adequados. O estabelecimento in vitro, principalmente no caso de espécies lenhosas, como a maioria das frutíferas, apresenta dois problemas principais: a contaminação e a oxidação. A contaminação depende do material vegetal utilizado no isolamento dos explantes, que pode ser oriundo de casa de vegetação ou do campo, e do processo de desinfestação. A manutenção da planta-matriz em casa de vegetação permite que as brotações novas se desenvolvam em ambiente protegido de intempéries e insetos, que provocam ferimentos e permitem a entrada de microrganismos, o que resultará, posteriormente, na obtenção de explantes com menor incidência de fungos e bactérias. Muitas vezes, embora esses contaminantes não sejam visíveis nas plantas adultas, quando em contato com o meio de cultura, com temperatura adequada e ambiente estéril, onde não sofrerão competição, eles se proliferam, rapidamente, causando a morte do explante e prejudicando o cultivo in vitro desse material. A planta de onde será retirado o explante deve ser bem nutrida, livre de contaminantes e devidamente identificada como a cultivar que se deseja micropropagar (Fig. 2). 92 Fig. 2. Plantas-matrizes: A) Macieira cv. Mastergala; e B) Marmeleiro cv. Me, utilizadas como fonte de explantes para o início de cultivos in vitro. Após a seleção e os devidos tratamentos fitossanitários na frutífera, faz-se a coleta do ramo que fornecerá os explantes. Em seguida, esse material é levado ao laboratório, onde sofrerá uma desinfestação. Na desinfestação dos explantes, são utilizadas várias substâncias com ação germicida. As mais comuns são o etanol - que também possui a propriedade de remover a cera dos explantes, aumentar a penetração dos outros germicidas, geralmente utilizado a 70% e 80% - e os compostos à base de cloro (hipoclorito de sódio e hipoclorito de cálcio) nas concentrações de 0,5% a 2% de cloro ativo. A ação germicida das soluções de hipoclorito é devida à sua alta capacidade oxidante, que destrói a atividade das proteínas celulares. As combinações dos princípios ativos desinfetantes e os tempos de exposição variam muito. Para o estabelecimento in vitro de mirtilo, a desinfestação com hipoclorito de sódio a 1,5% de cloro ativo, durante 20 minutos, foi eficiente. Na desinfestação de meristemas de marmeleiro cv. Me, o hipoclorito de sódio a 1,5%, com tempos de exposição entre 10 e 20 minutos, propiciou bons resultados. Em Prunus cv. Mr. S. 2/5, não foram verificadas diferenças, utilizando-se 0,5% e 2,0% de hipoclorito de sódio, sendo que esse desinfestante mostrou-se superior ao hipoclorito de cálcio. A oxidação que ocorre no processo de isolamento de explantes de espécies lenhosas é um problema limitante. Essa oxidação ocorre em função da liberação de compostos fenólicos pelas células danificadas com o corte, que são oxidados pelas enzimas polifenases, produzindo substâncias tóxicas. Essas enzimas, além de escurecer o meio de cultura, inibem o crescimento dos explantes e podem causar a morte deles (Fig. 3). 95 sucesso da multiplicação in vitro, sendo indispensáveis para auxiliar a superação da dominância apical e a indução de proliferação de gemas axilares. Outros tratamentos podem ser dados aos explantes, para estimular maior proliferação, como por exemplo, a excisão do ápice e o cultivo na orientação horizontal. Na multiplicação in vitro do porta-enxerto de macieira cv. Marubakaido, o efeito da dominância apical pode ser superado colocando se os explantes na orientação horizontal no meio de cultura, obtendo-se assim, maior número de brotações e de gemas por explante, e maior taxa de multiplicação. Um adequado balanço entre auxinas e citocininas estabelece um eficiente controle no crescimento e na diferenciação das culturas in vitro. Concentrações altas de auxinas favorecem a iniciação radicular, enquanto reprimem a formação de brotos, e concentrações altas de citocininas induzem a iniciação de brotos e suprimem o enraizamento. As concentrações de citocininas para multiplicação estão entre 0,1 a 5/0 mg L-l, e entre as citocininas comercialmente disponíveis, a benzilaminopurina (BAP), geralmente apresenta melhores resultados. O thidiazuron (TDZ), um composto do grupo das feniluréias, em muitos casos tem apresentado resultados superiores, em relação às outras citocininas, na indução e na multiplicação de brotos de várias espécies. Na multiplicação in vitro de macieira cv. Fuji, o TDZ e o BAP apresentaram resultados semelhantes para a taxa de multiplicação. Entretanto, para o número médio de brotações, o TDZ foi superior, enquanto para o comprimento da brotação mais desenvolvida, o BAP foi superior. Apesar de não promoverem a proliferação de brotações axilares, as auxinas podem incrementar o crescimento da cultura. No meio de multiplicação, uma das possíveis ações da auxina seria a anulação do efeito supressivo das altas concentrações de citocinina sobre a elongação das brotações axilares, restaurando o crescimento normal das mesmas. Durante a multiplicação, podem-se utilizar auxinas que, com as citocininas, são responsáveis pela diferenciação dos tecidos meristemáticos. Esses fitorreguladores são comumente utilizados em concentrações baixas nessa fase da micropropagação. Outro grupo de reguladores de crescimento, que pode ser utilizado nessa fase, é o das giberelinas, as responsáveis pelo alongamento das brotações produzidas. Enraizamento in vitro Após a multiplicação, a etapa seguinte é a rizogênese, cujo propósito é a formação de raízes adventícias nas partes aéreas, obtidas no estágio de multiplicação, que permite a constituição de plantas completas (Fig. 6), para posterior aclimatização às condições ex vitro. 96 Fig. 6. Plantas de Prunus CV. Mr. S. 1/8 enraizadas in vitro e aparência do sistema radicular formado. O enraizamento de espécies herbáceas é geralmente fácil, mas no caso das espécies lenhosas, que inclui a maioria das frutíferas, é a etapa mais difícil. Tipos e concentrações de auxinas são as variáveis que, geralmente, mais influenciam o enraizamento, e variam conforme a espécie e a cultivar, devendo-se ajustá-las para cada caso, obtendo-se assim, sucesso no enraizamento. Os tipos mais utilizados de auxina são o AIB (ácido indolbutírico), o ANA (ácido naftalenacético) e o AIA (ácido indolacético). A emissão de raízes dos explantes de amoreira-preta cv. Ébano foi obtida com a adição de ANA ao meio de cultura. Os melhores índices de enraizamento do porta-enxerto de macieira cv. Marubakaido foram obtidos utilizando-se 0,1 mg L- l de AIB no meio de cultura. Na macieira cv. Fred Hough, o melhor enraizamento foi obtido com a adição de 0,6 mg L-l de AIB ao meio de cultura MS, com a concentração de sais reduzida a 50%. O AIB ou o AIA, nas concentrações de 0,2 ou 1 mg L-l, foram adequados para obter-se 70% a 100% de enraizamento na macieira cv. Northern Spy. Com a utilização do ANA, para essa mesma cultivar, observou-se a formação de calos, com raízes surgindo a partir destes, mas não apresentando conexão vascular com a base do broto. As melhores percentagens de enraizamento dos porta-enxertos de pereira Pyrus calleryana D-6 e Old Home x Farmingdale 9 foram obtidas, respectivamente, com 1,2 mg L-1 de ANA e 0,3 mg L-l de AIB, no meio de cultura ou com a imersão da base dos explantes, de ambos porta-enxertos, em 100 mg L' de ANA. Depois, devem ser transferidos para meio de cultura sem regulador de crescimento. O custo da propagação in vitro pode ser diminuído, promovendo se o enraizamento da planta em condições ex vitro, além de melhorar a qualidade do sistema radicular formado na planta. No enraizamento ex vitro, as brotações oriundas da multiplicação in vitro são retiradas dos frascos, o meio de cultura aderido é lavado, e então essas brotações são manipuladas como microestacas, podendo, em alguns casos e de acordo com a necessidade da espécie, tratar-se a base da microestaca com soluções de auxinas em talco ou água, antes da introdução no substrato, para acelerar o enraizamento. Materiais como vermiculita, areia, espuma fenólica, entre outros, podem ser úteis como substrato para o enraizamento ex vitro. Do ponto de vista econômico, isso representa uma repicagem que é eliminada, economia de espaço na sala de crescimento, energia elétrica e meio de cultura. Em termos de qualidade, a regeneração de raízes, . diretamente no substrato, tende a 97 produzir um sistema radicular mais funcional e completo. Aclimatização Nessa fase, as brotações enraizadas são transferidas para telado ou casa de vegetação, onde precisarão se readaptar às novas condições ambientais. Geralmente, os organismos vivos conseguem regular sua atividade de acordo com o ambiente a que estão submetidos, e é essa regulação que torna a aclimatização possível. Na aclimatização, as plantas micropropagadas passam de uma situação, onde os fatores responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento são controlados, para uma situação de ambiente natural e autotrófico. Essas condições ambientais podem causar estresses, além de favorecer o ataque de microrganismos e de pragas. As plantas provenientes da cultura in vitro são sensíveis e tenras, pois não desenvolvem a cutícula, resultando em alta evapotranspiração, e sua parte celular não apresenta rigidez suficiente para sustentação. As folhas são delgadas e suaves, fotossinteticamente inativas, deixando a planta em franco heterotrofismo. Os estômatos não operam eficientemente, provocando, assim, estresses nas primeiras horas após saírem dos frascos de vidro. A habilidade de fazer ajustes por meio de mudanças no seu padrão de crescimento, devido ao ambiente externo, é que vai determinar o sucesso na obtenção de plantas micropropagadas. Geralmente, um maior controle nas condições ambientais, como a utilização de um substrato adequado, manutenção de umidade relativa alta, sombreamento das plantas, controle fitossanitário e nutrição adequada são suficientes para a sobrevivência e o desenvolvimento das plantas micropropagadas, que estão sendo aclimatizadas. Na adimatização do porta-enxerto de macieira cv. Marubakaido, a vermiculita em caixas fechadas com vidro proporcionou maior sobrevivência (90%). Para a amoreira-preta aclimatizada em vasos na casa de vegetação, os substratos solo + areia + esterco, compostagem orgânica, composto orgânico comercial, e vermiculita em flocos médios não influenciaram a sobrevivência das plantas. Deve-se levar em consideração, que as espécies mostram comportamento diferente quanto à capacidade de adimatização. O sucesso na micropropagação de frutíferas depende de todas as etapas pelas quais os explantes são submetidos, com a obtenção final de plantas desenvolvidas e adaptadas. Cada etapa do processo de micropropagação possui uma forte influência no resultado final, devendo-se desenvolver metodologias adequadas aos diferentes genótipos utilizados. Aplicações da micropropagação em plantas frutíferas limpeza clonal Por serem propagadas vegetativamente, as frutíferas podem acumular durante o período em que são multiplicadas, uma quantidade bastante grande de viroses. A utilização da micropropagação como instrumento para a limpeza da planta- matriz fornecedora de estruturas utilizadas na produção de mudas, como borbulhas e estacas, é de grande importância no sistema produtivo. A propagação vegetativa de plantas constitui-se numa forma eficiente de perpetuação e disseminação de vírus. Isso se deve ao fato de que a maioria das viroses apresenta caráter sistêmico e o vírus estar presente em todas as partes da planta. Além disso, a quase totalidade das frutíferas arbóreas ou arbustivas são propagadas vegetativamente. Assim, quando partes de plantas, obtidas de hospedeiros
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