Baixe Doação de leite humano materno a bancos de leite durante o pré-natal e outras Notas de aula em PDF para Enfermagem, somente na Docsity! R. de Pesq.: cuidado é fundamental, Rio de Janeiro, ano 9, n. 1/2, p. 49-56, 1./2. sem. 2005. 49 A orientação e incentivo da doação de leite materno para os bancos de leite humano durante o pré-natal* Samir Felipe e Felipe** Maria Filomena Pereira Vancellote Almeida*** RESUMO: Este estudo emergiu durante o ensino clínico da disciplina de Atenção à Saúde do Recém-nato, do curso de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto-UNIRIO. Observava uma preocupação dos dirigentes dos Bancos de Leite Humano para atender a demanda dos recém-nascidos, principalmente os prematuros hospitalizados. Diante desta situação realizei este estudo descritivo exploratório com abordagem quanti-qua- litativa. Com o objetivo de verificar se as puérperas foram orientadas no período pré-natal quanto à doação de leite materno para os bancos de leite humano e identificar as orientações oferecidas as puérperas durante o pré-natal voltado à doação de leite humano. Utilizou-se de um formulário como instrumento de coleta de dados, que foi aplicado em 212 puérperas de uma maternidade municipal da cidade do Rio de Janeiro. Os resultados possibilitaram cons- tatar que na rotina de pré-natal as questões relacionadas à doação de leite materno não são plenamente contempladas. Palavras-chave: Banco de Leite Humano. Pré-Natal. Doação de leite materno. 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Atualmente existe uma preocupação por parte dos dirigentes dos Bancos de Leite Humano (BLH) em todo o Brasil, com relação à redução das doações de leite materno pelas puérperas, para os BLH, dificultando o atendimento da demanda hospitalar. Paralelamente a esta situação, os avanços nos cuidados intensivos neonatais que proporcio- nam maior sobrevida aos bebês cada vez mais imaturos, aumentam a necessidade de se con- sumir leite materno pasteurizado armazenados nos bancos de leite humano. Os recém-nascidos (RNs), principalmente os prematuros, necessitam de leite materno pro- veniente dos BLH em virtude da imaturidade do reflexo de sucção e deglutição, privando-os, assim, do seio materno. A amamentação é desaconselhada para os RNs de baixo peso, mes- mo na presença da sucção e reflexo de deglutição coordenados, pois este ato demanda ener- gia, ocasionando perda de calorias significa- tivas para essas crianças. Por oportuno, ressaltamos que a redução da doação de leite materno para os BLH, repre- senta uma grande ameaça a saúde dos RNs, tendo em vista que é o único alimento e to- talmente compatível com organismo do ser * Trabalho de conclusão de curso, apresentado à Es- cola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP), da Uni- versidade Federal do Estado do Rio de Janeiro UNIRIO. 2003/1. sem. ** Enfermeiro Graduado pela Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da UNIRIO (autor). *** Professora Ajunta do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil da EEAP/UNIRIO (orientadora). R. de Pesq.: cuidado é fundamental, Rio de Janeiro, ano 9, n. 1/2, p. 49-56, 1./2. sem. 2005. 50 humano, constituindo uma base biológica inigualável para o seu desenvolvimento, além do que, a alimentação com fórmulas lácteas podem associar-se a maior exposição a infec- ções e a um inadequado aporte nutricional. Esta situação inquietou-me, como futuro en- fermeiro, e ao refletir sobre ela me questio- nava: Porque as puérperas não estão doando leite materno para os bancos de leite huma- no? Faz parte da rotina do pré-natal a orien- tação acerca da doação de leite materno? Diante da minha inquietação e questio- namentos senti a necessidade de realizar este estudo que tem por objeto as orientações oferecidas à gestante, no pré-natal, acerca da doação de leite materno para os BLH. Desta forma, temos como objetivos: identificar se as gestantes são orientadas durante o pré- natal quanto à doação de leite materno para os BLH e descrever as orientações oferecidas às gestantes durante o pré-natal acerca da do- ação de leite materno. 2 ABORDAGEM TEÓRICA 2.1 O LEITE HUMANO — ALIMENTO ESSENCIAL PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA Durante a gestação a mulher passa por diver- sas transformações anátomo-fisiológicas. A mama por sua vez para cumprir sua princi- pal função, que é a amamentação, também passa por transformações durante a gestação e após o parto, tornando-se capaz de produ- zir, armazenar e liberar os constituintes do leite (ZIEGEL; GRANLEY, 1985, p. 537-542). O leite materno possui quatro fases princi- pais, cada uma com as suas particula- ridades1: o colostro, que tem uma coloração amarelo gema, apresenta-se em pouca quan- tidade, tem sua produção no pós-parto e apojadura no 2º / 3º dia. O leite de transi- ção, mistura-se ao colostro, apresentando uma coloração amarela clara podendo durar até uma semana. Posteriormente vem o leite branco, que é produzido nos alvéolos entre as mamadas e com a ação da prolactina, a sua descida acontece num ritmo constante e interrupto. E por fim aparecerá o leite de as- pecto claro, que é formado passivamente nos intervalos das mamadas, sendo rico em vita- minas, sais minerais e fatores de proteção (anticorpos). A composição do leite materno (proteínas, carboidratos, lipídeos, vitaminas, minerais e oligoelementos) é determinada no sentido de oferecer energia e nutrientes necessários em quantidades apropriadas às crianças desde o nascimento até os seis meses de vida (LAWOUNIER; VIEIRA; GOUVEIA, 2002, p. 47-57). De acordo com os autores supra citados, o conteúdo protéico do leite materno, é com- posto por 60% lactoalbumina. A lactose é o principal carboidrato encontrado no leite hu- mano, no qual estão também presentes a galactose, a frutose e outros oligossacarídeos. No colostro a quantidade de lactose é de 4% e aumenta em até 7% no leite maduro. Os lipídeos são essenciais para o metabolismo cerebral, bem como no transporte de vitami- nas e hormônios lipossolúveis. Eles são con- siderados a principal fonte energética suprin- do uma quantidade de 40 a 50% das calorias necessárias ao desenvolvimento do lactente. O conteúdo de vitamina A no leite materno é adequado, tendo no colostro o dobro de sua concentração em relação ao leite maduro. A concentração de vitamina D no leite humano é baixa e insuficiente para as necessidades da criança. As concentrações de vitamina E e C geralmente atendem as necessidades da cri- ança e a concentração de vitamina K, nos pri- R. de Pesq.: cuidado é fundamental, Rio de Janeiro, ano 9, n. 1/2, p. 49-56, 1./2. sem. 2005. 53 O cenário desta pesquisa foi um hospital ma- ternidade de grande porte da rede pública do município do Cidade do Rio de Janeiro. A população alvo foi composta de 212 puér- peras, que tiveram acompanhamento de no mínimo seis consultas de pré-natal, interna- das no alojamento conjunto da referida insti- tuição. O critério de seleção baseou-se nas nor- mas do Manual de Pré-natal (BRASIL, 2000). Os dados foram coletados no mês de abril de 2003 depois de solicitada a participação das puérperas como sujeitos do estudo, atenden- do a resolução no 196/96 do Conselho Nacio- nal de Saúde – Consentimento Livre e Escla- recido, quanto ao anonimato. Os dados foram coletados através de entrevista semi- estruturada por “obter das entrevistadas, res- postas as mesmas perguntas permitindo que todas elas sejam comparadas com o mesmo conjunto de perguntas” (LODI apud MAR- CONI; LAKATOS, 1986, p. 71). A técnica de entrevista foi escolhida por apre- sentar as seguintes vantagens: pode ser usa- da em alfabetizados ou analfabetos; apresenta dados mais concretos sobre a população ge- ral; o entrevistador pode esclarecer as dúvi- das em relação às perguntas; obtêm dados que não estão em fontes documentais e que são importantes para o estudo; e é possível conseguir dados mais precisos comprovando imediatamente as discordâncias (LODI apud MARCONI; LAKATOS, 1986, p. 72). Foi elaborado um formulário com quatro per- guntas fechadas e uma aberta para ser utili- zado como instrumento de coleta de dados. Segundo Nogueira (apud MARCONI; LAKATOS, 1986, p. 86) formulário é uma lis- ta formal, catálogo ou inventário destinado à coleta de dados resultantes quer da obser- vação, quer da interrogação, cujo preen- chimento é feito pelo próprio investigador, à medida que faz as observações ou recebe as respostas, ou pelo pesquisado sob sua orien- tação. Os dados foram tabulados manualmente, apresentados em tabela. Em seguida foram analisados buscando os objetivos propostos, a luz das referências bibliográficas. 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A instituição utilizada como cenário deste es- tudo é uma maternidade de referência que re- cebe parturientes, independente de onde rea- lizou o pré-natal, de todo o município e região metropolitana. Desta forma as questões que serão apresentadas não retratam necessaria- mente uma realidade pontual. Com relação aos profissionais de saúde que realizaram os atendimentos de pré-natal, é importante observar o reduzido número de enfermeiros atuando no acompanhamento gestacional (Tabela 1). Isto pode ser consi- derado uma falha no sistema de saúde, já que de acordo com o Decreto da Lei do Exercício Profissional da Enfermagem, no 94.406/1987, o pré-natal de baixo risco pode ser acom- panhado pelo enfermeiro, tendo como re- ferência o Manual de Assistência Pré-natal (BRASIL, 2000), ou reflexo da hegemonia médica, tendo em vista as recentes discussões acerca da competência e legalidade do enfer- meiro realizar partos. Tabela 1: Distribuição das freqüências dos profissinais que atenderam às puérperas no pré-natal/RJ 2003 Profissional de Saúde Nº f% Médico 189 89,1 Enfermeiro 20 9,5 Ambos 03 1,4 Total 212 100% Fonte: O autor. Apesar de ser inquestionável que o leite ma- terno muitas vezes é vital para a recuperação, R. de Pesq.: cuidado é fundamental, Rio de Janeiro, ano 9, n. 1/2, p. 49-56, 1./2. sem. 2005. 54 Orientação quanto ao leite materno No f% Sim 57 26,9 Não 155 73,1 Total 212 100 Tabela 2: Distribuição das freqüências das puérperas de acordo com o rece- bimento de orientações no pré- natal acerca da doação de leite materno para os bancos de leite humano/RJ 2003 Fonte: O autor. Os profissionais que orientaram as puérperas no pré-natal, sobre doação de leite materno para os BLH, valorizaram a promoção e in- centivo à amamentação, contemplando, as- sim, uma das recomendações da Rede Nacio- nal de Bancos de Leite Humano. Quanto ao conteúdo das orientações para o aleitamento materno, o quadro abaixo nos aponta achados interessantes, que por moti- vos metodológicos tivemos que organizá-los em grupos e optamos pela apresentação em quadro demonstrativo. Quadro 1: Conteúdo de orientação no aleitamento materno recebida no pré-natal/RJ 2003. Fonte: O autor. Orientações No Benefício da doação LH 31 Cuidados no aleitamento 20 Não se lembra 13 Cuidados com a mama 11 Coleta e armazenamento 4 Existência dos BLH 4 De acordo com as entrevistadas os profis- sionais de saúde fizeram orientações acerca dos benefícios da doação de leite e da impor- tância da amamentação, tanto para os recém- nascidos, quanto para as mães. Com relação aos recém-nascidos, foram abordados os be- nefícios desse leite doado para as crianças internadas, bem como para os recém-nasci- dos que possuem mães soropositivas, en- quanto que para as mães, as orientações fo- ram referentes ao ingurgitamento mamário. No tocante às orientações quanto aos cuida- dos no aleitamento são oferecidas pelos pro- fissionais, no conjunto de manter livre de- manda da amamentação, a maneira mais con- fortável para o bebê ou a mãe durante a ama- mentação, a forma mais adequada do bebê abocanhar a auréola, a contra indicação de bicos e mamadeiras, bem como desaconse- lharam a oferta de água, soros e chás no in- tervalo das mamadas. Diante do quantitativo de puérperas que não lembravam do teor das orientações que rece- beram sobre o tema em referência, nos faz questionar se elas não estavam receptivas ou se os profissionais não deram a devida ênfa- se ao assunto. Com relação aos cuidados com as mamas, as orientações versaram sobre o preparo do seio para a amamentação, explicando a realização das técnicas de massagem e ordenha. Essas técnicas de massagem e ordenha, podem ser manuais ou através de bombas, ajudando o esvaziamento homogêneo da mama e melho- rando o reflexo de saída do leite, evitando assim o ingurgitamento mamário, e a mastite. Nesse caso, a massagem, facilita a desobs- trução dos ductos mamários e a ordenha ali- via a dor e previne a formação de abscesso mamário. As orientações referentes à coleta e arma- zenamento do leite humano ordenhado e do- ado abordaram a forma de armazenamento do leite em refrigerador. sobrevida e qualidade de vida dos RNs pre- maturos e/ou baixo peso, bem como para as crianças imumodeprimidas e portadoras de enterocolite necrotizante, observamos que os enfermeiros e os médicos não estão engajados na promoção e incentivo à doação de leite materno para os BLH, tendo em vista, o nú- mero reduzido de puérperas que receberam orientação sobre doação, durante o pré-natal como mostra a Tabela 2. R. de Pesq.: cuidado é fundamental, Rio de Janeiro, ano 9, n. 1/2, p. 49-56, 1./2. sem. 2005. 55 Já quanto à existência dos BLH os profissio- nais necessitam de maior investimento nas in- formações a serem transmitidas as mulheres. Desta forma, diante dos achados, cabe o des- taque quanto a importância dos fóruns, con- gressos, dentre outros encontros, os quais os dirigentes dos BLH enfocam a necessidade de se intensificar as divulgações sobre a existên- cia dos BLH e seus objetivos, que podem ter refletidos nos achados, o qual não teve como objetivo do estudo investigar. 5 CONCLUSÕES Este estudo mostrou que um quantitativo muito pequeno (26,9%) de puérperas foram orientadas durante o pré-natal sobre a doa- ção de leite materno para os BLH, em que pese à relevância dessas orientações para a saúde da criança, para a economia da família e conseqüentemente a qualidade de vida da população. Diante do exposto apontamos como sugestão à educação continuada de forma efetiva, mais concernente com as demandas de treinamen- to (atualização dos profissionais que atuam no pré-natal). Acreditamos, ainda que, levando em conta que são muitos e complexos os aspectos en- volvidos no déficit de doações de leite mater- no para os BLH, que os profissionais, em par- ticular o enfermeiro, possam através de prá- ticas educativas (orientações) junto às gestan- tes no pré-natal minimizar esta situação preocupante. Esperamos que este estudo possa contribuir para que os enfermeiros reflitam sobre sua atuação no pré-natal e se mobilizem para implementar ações que visem a promoção e o incentivo à doação de leite materno para os BLH. NOTA 1 Anotações de aula da Disciplina de Atenção à Saúde da Mulher (2001/2. sem.) do curso de Graduação de Enfermagem, da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, da UNIRIO. Orientation and incentive of the maternal milk donation for the human milk banks during the prenatal ABSTRACT: This study it emerged during the clinical education of disciplines of Attention to the Health of the Just-born one, of the course of Graduation in Nursing of the Escola de Enfermagem Alfredo Pinto-UNIRIO. It observed a concern of the controllers of the Human Milk Banks to take care of the demand of the just-been born ones, mainly the hospitalized prematures. Ahead of this situation I carried through this exploratório descriptive study with quanti-qualitative boarding. With the objective to verify if puérperas they had been guided in the prenatal period how much to the maternal milk donation for the human milk banks and to identify to the offered orientações puérperas during the prenatal one come back to the human milk donation. It was used of a form as instrument of collection of data, that was applied in 212 puérperas of a municipal maternity of the city of Rio De Janeiro. The results make possible to evidence that in the prenatal routine of the related questions the maternal milk donation fully is not contemplated. Keywords: Human Milk Banks. Prenatal. Maternal Milk Donation.