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Guias e Dicas
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Arquitetura em bambu, Notas de estudo de Urbanismo

ARQUITETURA COM BAMBU Mestrando: Arq. RUBENS CARDOSO JUNIOR Orientador: PROF. Dr. JUAN LUIS MASCARO

Tipologia: Notas de estudo

2010

Compartilhado em 28/01/2010

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Baixe Arquitetura em bambu e outras Notas de estudo em PDF para Urbanismo, somente na Docsity! Dissertação apresentada em Agosto/2000, no convênio UNIDERP - UFRGS/ PROPAR, como parte dos requisitos para obtenção do Título de MESTRE em ARQUITETURA. “ARQUITETURA COM BAMBU” Mestrando: Arq. RUBENS CARDOSO JUNIOR Orientador: PROF. Dr. JUAN LUIS MASCARÓ UNIDERP UNIVERSIDADE PARA O DESENVOL- VIMENTO DO ESTADO E DA REGIÃO DO PANTANAL UFRGS - PROPAR UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO UNIDERP UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO E DA REGIÃO DO PANTANAL UFRGS - PROPAR UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO “ARQUITETURA COM BAMBU” Mestrando: Arq. RUBENS CARDOSO JUNIOR Orientador: PROF. Dr. JUAN LUIS MASCARÓ BANCA EXAMINADORA: Profa. Dra. Lucia Mascará - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Prof. Dr. K. Ghavami - Pontifícia Universidade Católica - PUC-RIO. Prof. L. Doc. J. L. M. Ripper - Pontifícia Universidade Católica - PUC-RIO. UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - RELAÇÃO DAS FIGURAS E TABELAS FIGURA 28 - SAPATA EM CONCRETO APARENTE --------------------------------------------------------- 80 FIGURA 29 - DETALHE DA TENTATIVA DE FORMAR OS ARCOS -------------------------------------------- 80 FIGURA 30 - LUVA DE UNIÃO E INCLINAÇÃO DA CALOTA------------------------------------------------- 81 FIGURA 31 - CALOTA (OCA MENOR) -------------------------------------------------------------------- 81 FIGURA 32 - LUVA METÁLICA EM FORMA DE “CACHIMBO” ------------------------------------------------ 82 FIGURA 33 - ANEL METÁLICO -------------------------------------------------------------------------- 82 FIGURA 34 - ANEL METÁLICO --------------------------------------------------------------------------- 82 FIGURA 35 - ANEL METÁLICO, JÁ COM A FIXAÇÃO DAS VARAS DE BAMBU (ESTRUTURA) ----------------- 82 FIGURA 36 - ANEL METÁLICO, JÁ COM A FIXAÇÃO DAS VARAS DE BAMBU (ESTRUTURA) ----------------- 82 FIGURA 37 - COLOCAÇÃO DOS PARAFUSOS ------------------------------------------------------------ 82 FIGURA 38 - “FLAUTAS” DE SUSTENTAÇÃO DAS VIGAS ------------------------------------------------- 83 FIGURA 39 - VIGAS DE SUSTENTAÇÃO DA LAJE --------------------------------------------------------- 83 FIGURA 40 - DESENHOS FEITOS COM CLARABÓIAS DE BAMBU ------------------------------------------- 83 FIGURA 41 - TRATAMENTO E SECAGEM A BASE DE CHAMA, COM MAÇARICO À GAS ---------------------- 83 FIGURA 42 - COLOCAÇÃO E CORTE DAS FOLHAS DE BACURI ------------------------------------------- 84 FIGURA 43 - COLOCAÇÃO E CORTE DAS FOLHAS DE BACURI ------------------------------------------- 84 FIGURA 44 - COLOCAÇÃO E CORTE DAS FOLHAS DE BACURI ------------------------------------------- 84 FIGURA 45 - MONTAGEM DE FOTOS DO MEMORIAL DA CULTURA INDÍGENA ----------------------------- 85 FIGURA 46 - MONTAGEM DE FOTOS DE OUTRAS APLICAÇÕES -------------------------------------------- 87 TABELA 1 ---------------------------------------------------------------------------------------------- 75 TABELA 2 ---------------------------------------------------------------------------------------------- 76 - V SUMÁRIO ts tSB-BULSMN SDL e UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - SUMÁRIO SUMÁRIO AGRADECIMENTOS ------------------------------------------------------------------------------------------ II RELAÇÃO DAS FIGURAS ------------------------------------------------------------------------------------ IV SUMÁRIO --------------------------------------------------------------------------------------------------- VII RESUMO --------------------------------------------------------------------------------------------------- 10 ABSTRAC --------------------------------------------------------------------------------------------------- 11 CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO ---------------------------------------------------------------------------- 14 1.1 OBJETO ----------------------------------------------------------------------------------------------- 14 1.2 CONTEXTUALIZAÇÃO ---------------------------------------------------------------------------------- 14 1.3 PRESSUPOSTOS --------------------------------------------------------------------------------------- 15 1.4 OBJETIVOS DA PESQUISA ----------------------------------------------------------------------------- 15 1.5 RELEVÂNCIA DA PESQUISA ---------------------------------------------------------------------------- 15 1.6 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ------------------------------------------------------------------------ 16 CAPÍTULO II - BAMBU COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO CIVIL -------------------------------------- 18 2.1 VARIAÇÃO DIMENSIONAL EM FUNÇÃO UMIDADE/PROC. SECAGEM----------------------------------------- 18 2.2 SUSCEPTIBILIDADE AO ATAQUE DE INSETOS - CURA E TRATAMENTO -------------------------------------- 21 2.2.1 PROCESSOS DE CURA ------------------------------------------------------------------------------- 21 2.2.2 PROCESSOS DE TRATAMENTO ----------------------------------------------------------------------- 22 2.3 BAIXA ADERÊNCIA DO BAMBU EM ASSOCIAÇÃO COM OUTROS MATERIAIS -------------------------------- 26 2.4 LIGAÇÕES EM PEÇAS DE BAMBU ------------------------------------------------------------------------ 28 2.4.1 RECOMENDAÇÕES FUNDAMENTAIS PARA AS LIGAÇÕES ESTRUTURAIS ---------------------------------- 29 2.4.2 TIPOLOGIA DAS LIGAÇÕES --------------------------------------------------------------------------- 29 2.4.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE LIGAÇÕES DO BAMBU ------------------------------------------------------- 31 2.5 TECNOLOGIA DO BAMBU ------------------------------------------------------------------------------- 32 2.5.1 ETAPAS DE PRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------ 32 2.5.2 CORTE ---------------------------------------------------------------------------------------------- 34 2.5.3 CURA ----------------------------------------------------------------------------------------------- 34 2.5.4 SECAGEM ------------------------------------------------------------------------------------------- 35 2.5.5 TRATAMENTO ---------------------------------------------------------------------------------------- 36 - VII RESUMO e ABSTRACT UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 11 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - RESUMO E ABSTRACT - PGS. 11 A 12 RESUMO Este trabalho tem a modesta intenção de esclarecer alguns pontos “obscu- ros” na “arte” de construção com bambu. Queremos com isto, vencer pré-conceitos, especialmente no nosso estado (Mato Grosso do Sul), onde a informação demora um pouco mais para chegar, pela sua localização geográfica e falta de pesquisadores. Abordamos pontos de interesse, sem com isto, dizer que estes são os mais importantes, mas buscamos o mais significativo, sem mesosprezar aqueles não abor- dados. Procurarmos estabelecer uma linha de pensamento, dividida da seguinte for- ma: ETAPAS DE PRODUÇÃO; PONTOS DE INFLUÊNCIA NO DESEMPENHO DO BAMBU COMO MATE- RIAL DE ENGENHARIA; FORMAS DE UTILIZAÇÃO DO BAMBU; LIGAÇÕES COM PEÇAS DE BAMBU; APLICAÇÕES DO BAMBU; OBRAS EXISTENTES e PESQUISAS REALIZADAS. Também apresentamos uma obra desenvolvida e construída por nós, sem com isto, menosprezar trabalhos de outros autores. Palavras Chave: Bambu; Pesquisa; Construção Civil. UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 12 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - RESUMO E ABSTRACT - PGS. 11 A 12 ABSTRACT This work has the modest intention to show some “dark spots” in the “art” of bamboo construction. We want with, this work to beat preconceived concepts, specially in our state (MS), where information takes long time to get, because of its location and for its defaul of researchers. We approach points of interest, without telling that there are the most important ones, but reaching the most meaningful one, without underrate the not approachead points. We want to draw a line of thinking, divided in the following way: • Production stages; • Influential spots on bamboo’s performance as an engeneering material; • Ways of how to use bamboo; • League with bamboo parts; • Bamboo usage; • Existing works; • Realized searchs. We also present a developed work and built by us, without taking less care with others authors work. Key words: • Bamboo; • Research; • Civil Architecture. UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 15 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - INTRODUÇÃO - PGS. 13 A 16 ca, no sentido da necessidade de aprimoramento da técnica construtiva para a produ- ção em série, devido ao alarmante déficit habitacional enfrentado atualmente no pais. 1.3. Pressupostos Apesar do Brasil não possuir tradição construtiva na utilização do bambu, a espécie mais propícia para construção, Guadua angustlfolia é nativa na nossa região (pantanal e regiõies próximas: Bonito, Miranda, Aquidauana), foi “exportada” para Costa Rica onde iniciou-se o cultivo em larga escala, para sua utilização em construções de baixa renda. Atualmente Costa Rica é considerado o pais mais desenvolvido na pro- dução de habitação em Bambu, atendendo a todos os pré-requisitos exigidos pela ONU na produção de habitação de baixo custo. (Folha de São Paulo, 1996). A pesquisa partirá ainda, de pressupostos baseados em estudos realizados sobre comportamentos fisicos e mecânicos (obtidas na literatura), além de estudos sobre a durabilidade do material após aplicação de preservativos. 1.4. Objetivos da Pesquisa O objetivo geral da pesquisa é sistematizar as soluções ténicas adotadas, através da compilação dos exemplos construtivos mais significativos, para a utilização do bambu como material para construção, com vistas a sua aplicação na construção civil. 1.5. Relevância da Pesquisa Através desta pesquisa, pretende-se mostrar a viabilidade de aplicação des- te material aos profissionais da área, permitindo também, o acesso às informações técnico-construtivas pelas comunidades, na construção de suas próprias habitações, principalmente nas zonas rurais (pantaneira) e de transição entre o centros urbanos e o campo, através de uma politica habitacional adequada. Uma vez que essa técnica construtiva com o bambu é facilmente assimilada pela população, é possivel o trabalho em mutirão e autoconstrução BAMBUSETUM (1994) e MORAN (1991), tendo em vista a lastimável realidade da produção de moradia no pais, onde ainda encontra-se uma parcela significativamente grande da população que depende da produção autônoma e informal de habitação. A possibilidade de redução dos custos totais, poderá reforçar a utilização do bambu em programas habitacionais, representando uma alternativa a mais para a reso- lução dos problemas habitacionais. Permitirá ainda, o uso de um material ecologicamente correto, que possibilita a diminuição considerável de gastos com energia na fabricação de componentes para construção. Além disto, o bambu possibilita, com o plantio em áreas degradadas, a re- cuperação do solo, a contenção da erosão e o aumento da umidade relativa do ar na região, dando suporte ao crescimento de espécies arbóreas nativas. UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 16 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - INTRODUÇÃO - PGS. 13 A 16 1.6 Estrutura da Dissertação A estrutura da dissertação foi dividida em 6 capítulos. O conteúdo reunido em cada um dos capítulos tem por finalidade descrever assuntos específicos para o desen- volvimento da pesquisa. CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO Tem como meta a delimitação do objeto de estudo, contextualizar e definir os objetos da pesquisa. CAPÍTULO II: BAMBU COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO CIVIL Apontam as premissas básicas para pesquisa, configurando a Revisão Bibli- ográfica. Discorrem sobre considerações a respeito de espécies mais adequadas para o uso na construção; cultivo, produtividade. Abordam ainda aspectos que influenciam no desempenho do bambu como material para construção. Descrevem-se as etapas de processamento do bambu, desde o corte à usinagem. As formas de utilização do bam- bu, relacionando-as na aplicação como componentes de edificação. CAPÍTULO III: OBRAS EXISTENTES Serão analisados os aspectos técnico-construtivos de cada um dos projetos selecionados. Serão abordados dados sobre as técnicas utilizadas em cada etapa cons- trutiva. CAPÍTULO IV: MEMORIAL DA CULTURA INDÍGENA Demonstra em rápidas palavras e fotos, a primeira obra pública do país, exe- cutada em bambu. CAPÍTULO V: OUTRAS APLICAÇÕES Fotos de objetos e utilidades no “mundo do bambu”, apenas para exemplificar quase tudo aquilo que se pode fazer com o bambu. CAPÍTULO VI: CONCLUSÕES Um breve resumos dos pontos mais importantes abordados no escopo do trabalho, e traça diretrizes de trabalho com bambu. Q - es + 4 6 L b | | ) CAPÍTULO II s aa bo, am MATERIAL STRUÇÃO CIVIL. UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 20 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO II - PGS. 17 A 46 Deve-se dispor os bambus em camadas superpostas, isolando uma cama- da da outra com bambus também na horizontal, dispostos perpendicularmente e com um diâmetro de 1,5 vezes, em relação ao bambu colocado para secar. O espaço entre os bambus, em uma mesma camada, deve ser de meio diâmetro. As peças armazenadas de- vem ficar isoladas do solo em 30 cm e devidamente protegidas das intempéri- es (FIGURA 1). A secagem pode durar em média 2 meses, podendo variar se- gundo as condições de temperatura; ventilação e umidade relativa do ar. b) Secagem ao fogo Modo muito utilizado para endireitar peças tortuosas, o calor utili- zado deve ser controlado, para se evitar a secagem muito rápida, pois com uma contração excessiva, o bambu poderá apre- sentar alguns defeitos (FIGURA 2). Os bambus devem ser movimentados para uma secagem mais uniforme. Aconselha-se também que antes dos bambus serem submetidos a este processo de secagem, a umidade das peças de bambu sejam reduzidas em 50%. Os defeitos mais comuns para este tipo de secagem são: - fissuras superficiais - extremidades; - fendilhamento generalizado; - deformações e - mudança de coloração. Este processo pode ser usado também como forma de tratamento. De acor- do com OHKE (1989), os bambus dispostos sobre a brasa, eliminam lentamente a água e outros produtos indesejáveis através da superfície externa. Estas substâncias que vão sendo eliminadas devem ser removidas com um pano. O bambu, em seguida deve ser submetido a raios infravermelhos, ficando com uma superfície brilhante, sem a perda da flexibilidade das fibras. c) Secagem em estufa Neste processo são utilizadas estufas convencionais semelhantes às em- pregadas para secagem de madeira. Este sistema é mais rápido e eficiente para se FIGURA 1 - ARMAZENAMENTO FONTE: HIDALGO (1981) FIGURA 2 - SECAGEM AO FOGO FONTE: HIDALGO (1981) UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 21 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO II - PGS. 17 A 46 obter teores de umidades desejadas, porém envolve custos mais elevados. É recomen- dado para secagem em larga escala. Este processo de secagem pode ser feito em 2 ou 3 semanas, porém há maiores possibilidades de ocorrerem rachaduras nas peças devi- do à velocidade de secagem. 2.2. Susceptibilidade ao ataque de insetos - cura e tratamento Um dos problemas que impede a difusão da utilização do bambu na constru- ção é o fato de serem altamente susceptíveis à deterioração por ataque de insetos e fungos. Nota-se uma grande variação de durabilidade entre as espécies, principalmente em relação à concentração de amido. Segundo relatos de vários pesquisadores, o “Bambu Brasil” ou “Bambu Imperial”, Bambusa vulgaris var. vittata, possui alta concentração de amido, sendo um dos mais susceptíveis ao ataque de insetos. Por outro lado, um dos bambus mais resistentes ao ataque de insetos e fungos é o Bambusa angustifolia, cuja concentração de amido é uma das mais baixas. Segundo TARGA & BALLARIN (1990), tem sido observado que algumas madeiras utilizadas em conjunto com esta espécie de bambu, tiveram que ser substitu- ídas anteriormente, por causa do ataque de insetos, enquanto o bambu ainda perma- necia intacto. Segundo publicações das NAÇÕES UNIDAS (1972), para se reduzir ao mínimo os ataques de insetos deve-se efetuar o corte dos bambus, com níveis mais baixos de concentração de amido, fase correspondente a primeira parte da temporada de inverno (época da seca). Na Índia, este período corresponde aos meses compreen- didos entre outubro a fevereiro. No Japão se considera o melhor período para o corte outubro e novembro. Relata-se que a vulnerabilidade ao ataque de fungos também tem certa relação com o período de corte, apesar destes aspectos não terem sido suficientemente investigado na maioria das espécies. Observou-se ainda que as par- tes médias e superiores são menos resistentes ao ataque de insetos. 2.2.1. Processo de cura Para tornar mais eficiente o tratamento das peças de bambu, é importante a etapa de cura do bambu, ou seja, processo muito utilizado para tornar o material recém cortado menos propenso ao ataque de insetos, com a eliminação de grande parte da seiva, reduzindo a concentração de amido pela transpiração das folhas. Dois procedimentos são citados por HIDALGO (198l): a) cura na mata ou b) imersão. A cura feita na mata apresenta resultados mais adequados, pois o bambu conserva sua cor natural, evitando manchas de fungos e rachaduras nas peças. A cura por imersão em água pode tornar o bambu mais leve e quebradiço. De acordo com publicações das NAÇÕES UNIDAS (1972), o processo de cura tem como objetivo diminuir o teor de umidade das peças e a concentração de amido, evitando o ataque de insetos. No processo de cura na mata aplicava-se uma UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 22 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO II - PGS. 17 A 46 solução extremamente tóxico de 5% de DDT em pó mineral, no extremo inferior do talo recém cortado, sem cortar as folhas e ramas do bambu. As peças devem ficar isoladas do solo por uma pedra (FIGURA 3). Segundo HIDALGO (1981), os bam- bus curados na mata foram 91,60% menos ata- cados que os não curados. 2.2.2. Processo do tratamento De acordo com vários estudos so- bre processos de tratamento de bambu, três processos (em itálico), foram considerados os mais adequados para o tratamento de bam- bu: - a) por transpiração das folhas ou substituição de seiva; - b) método tampão; - c) tratamento sob pressão (Boucherie); - d) método de impregnação por imersão; - e) banho a quente e; - f) tratamento em autoclave. De acordo com CAMBONERO et al (1991), a resistência ao ataque de fun- gos e insetos podem ser incrementados significativamente seguindo uma combinação de procedimentos, como: - uma adequada manipulação do material, desde o momento em que se cortam os colmos no campo, até a montagem no local do edifício; - um desenho arquitetônico adequado que propicie que o bambu se encon- tre resguardado dos elementos naturais que o degradem, criando barreiras para a proliferação de fungos e insetos. TARGA & BALLARIN (1990) concluem que, em geral, a durabilidade do bambu é curta, sem tratamento. Chegaram aos seguintes valores: - 6 a 24 meses, quando enterrados no solo; - 22 a 41 meses, quando em contato direto com o solo; - 2 a 7 anos, sob cobertura e sem contato com o solo. FIGURA 3 - CURA NA MATA FONTE: HIDALGO (1981) UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 25 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO II - PGS. 17 A 46 do a temperatura a 90o C, aproximadamente durante o tempo desejado e depois deixan- do esfriar, utilizando-se tambores abertos sobre o fogo. Neste método registrou-se uma absorção de creosoto de 70,40 kg/m3. No caso da utilização de substâncias preservan- tes que não suportam altas temperaturas, os bambus devem ser aquecidos anteriormen- te e logo após submergidos na solução química. BOURNE (1978) utilizou bambu tratado com enxofre aquecido a 112o C, envolvendo-o logo após com arame farpado e areia grossa, para ser aplicado dentro do concreto. Concluiu que o tratamento é de baixo custo. Segundo AZZINI & SALGADO (1992b), o tratamento do bambu pode ser realizado em banho a quente com água, uma vez que o amido, principal elemento de atração de insetos, tem um aumento da solubilidade em água aquecida, com tempera- tura superior a 65o C. Desta maneira, os grânulos de amido podem ser decompostos termicamente e eliminados. Este processo é multo utilizado na fabricação de papel de bambu. Segundo OHKE (1989), o bambu pode ser submerso em água quente com soda cáustica. A saturação durante este processo é muito rápida, podendo provocar defeitos nas peças, causando ainda através deste processo a perda parcial de flexibilidade. De acordo com OHKE (1989), este processo é adequado para bambus se- cos, com teor de umidade abaixo de 20%. Os bambus quando roliços podem romper-se sob pressão, portanto para evitar rachaduras pode-se perfurar os nós. A absorção foi a mesma que no processo de impregnação, com um período de duração de uma semana, porém prolongando-se para 5 semanas, obteve-se absorção de 1,5 a 2 ve- zes mais que a atingida na autoclave. Os engenheiro Plinio de Souza Fernandes e Clóvis Ribas (1995), iniciaram experimentos de tratamento de bambu em autoclave, com a espécie Dendrocalamus giganteus, Bambu Gigante, no Instituto Florestal de São Paulo (Manduri), afim de avaliar os índices de impregnação, durabilidade e viabilidade econômica. TAMOLANG et al (1980a) em experiências com tratamento em auto-clave, afirmaram que o mesmo além de ser anti-econômico, apresenta problemas de ruptura dos colmos. Para atingir impregnação satisfatória, é necessário eliminar os vazios das paredes do bambu, com vácuo. Em geral, os bambus roliços se rompem, especial- mente se possuírem paredes finas. Somente as espécies de bambus de paredes es- pessas suportam o tratamento sob pressão. FANG & MEHTA (1978) comprovaram que, em geral, a variação da resistên- cia do bambu em peças tratadas e sem tratar, foram sempre da ordem de 3:1, isto é, que a resistência nas peças tratadas é três vezes maior que nas não tratadas. CAMBONERO et al. (1991) recomendaram, como melhor preservante, pro- dutos a base de boro, por suas características de difusão, atingindo-se boa retenção e baixa toxicidade para humanos. Para se aumentar a retenção do liquido preservativo é necessário excluir a maior quantidade de ar das paredes do bambu, pois o ar bloqueia os dutos por onde o líquido flui. UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 26 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO II - PGS. 17 A 46 A impregnação do bambu com preservantes à base de boro, se faz através do processo Boucherie Modificado, sob pressão hidrostática (80 a 120 KPa), atingindo uma impregnação de 0,83 a 1,24 MPa em bambus de 3m de comprimento. Como solu- ção preservativa utilizou-se octoborato disódico tetrahidratado a 5%, 10% e 15% em água. A seiva foi substituída em um tempo de 5 a 35 minutos. Os resultados apresentados pelos mesmos autores, ao final de 15 meses em campo de prova das peças de bambu, foram: - as peças não tratadas foram praticamente destruidas pelos insetos; - as peças tratadas foram levemente atacadas na parte superior do bambu, mas nenhuma foi destruida. Após a análise química, pôde-se notar que a parte supe- rior das peças não recebeu quantidade adequada de preservativos, e foi somente nessa região que os insetos perfuraram os bambus. Depois de 6 meses os colmos foram abertos longitudinalmente encontrando-se todos os insetos mortos em seu inte- rior. Concluiu-se que para se obter melhores resultados, os bambus devem ser madu- ros, sem evidências de ataques de insetos e recém cortados. Se recomenda estabele- cer um sistema de normatização e seleção do material antes de um tratamento preser- vativo, Quando não for possível tratar o material, logo após o corte, pode-se optar pelo armazenamento temporário em água para a extração parcial do amido. Em geral, os preservativos utilizados no tratamento das peças de bambu são muito semelhantes aos produtos aplicados nas madeiras. Vários processos de tratamento foram experimentados, obtendo-se resultados compatíveis para viabilizar a utilização do bambu na produção de habitação de baixa renda. 2.3. Baixa aderência do bambu em associação com outros materiais Alguns experimentos foram realizados para aumentar a aderência do bambu, quando aplicado em composição com outros materiais, impermeabilizando-o, de tal modo a evitar grandes variações dimensionais, pela absorção d’água, principalmente em con- tato com argamassa de revestimento (muito utilizado no reboco dos painéis de bambu). De acordo com KURIAN & KALAM (1977), quando utilizado em composição com o concreto, o bambu sofre dilatação pela facilidade de absorção de água do con- creto, causando fissuras no mesmo. Logo após, sofre retração com a eliminação de água, destruindo a aderência com o concreto. BERALDO (1987) conclui ainda que: - quando se utilizam bambus imaturos, em geral surgem fissuras no concreto antes que se desenvolva a aderência; - os colmos tratados quimicamente desenvolvem uma maior aderência do que os não tratados; UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 27 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO II - PGS. 17 A 46 - no bambucreto, utilizando-se bambus maduros e tratado com emulsão asfáltica, desde que não seja em excesso, apresenta maior resistência do que o bambu não tratado ou imaturo. BAUMANN apud BARMAK (1938) constata que não é possivel obter um con- junto solidário entre bambu e o concreto, pois não há nenhuma aderência entre os mes- mos. O mesmo autor conclui que o bambu antes de ser utilizado com concreto deve ser impermeabilizado. O impermeabilizante deverá satisfazer as sequintes exigências: - que a impermeabilização se faça por meio de untamento ou revestimentos; - o produto impermeabilizante não deve produzir reações quimicas prejudici- ais, nem ao bambu, nem ao concreto; - deve ser insolúvel e inalterável na água; - deve secar o mais rápido possivel e; - quando a impermeabilização se fizer por meio de revestimento, deve aderir fortemente ao bambu. Através de alguns experimentos, KURIAN & KALAM (1977) concluem que uma das maneiras mais eficientes para se impermeabilizar o bambu é a aplicação de 3 camadas de uma solução de 40% de resina solúvel em álcool, seguindo de uma demão de zarcão (óxido de chumbo), resultando na absorção de apenas 1% de água em 24 horas. Aplicando-se o dobro da camada foi possivel diminuir para 0,3% a absorção de água. LIMA et al (1996) utilizaram produtos à base de petróleo, Negrolim e arame. Após a aplicaçdo do petróleo ou Negrolim, o bambu foi envolvido em uma camada de areia grossa. Em ambos os casos, produtos á base de petróleo foram desaconselhados para a região nordestina, pois devido à elevada temperatura, não houve total solidificação do produto, ocasionando o deslizamento da superfície de contato do concreto com bam- bu. Segundo GHAVAMI & HOMBEECK (1981), os melhores resultados obtidos em experiências para impermeabilização do bambu, foram com cera e resina (Epoxi), porém ainda não foram considerados apropriados pelo alto custo e baixa aderência com concreto. Resultados satisfatórios foram obtidos com a aplicação de enxofre e areia, mas apesar de ter sido indicado por FANG & MEHTA (1978) que seu uso provoca algu- mas trincas, após o terceiro dia submerso na solução. Segundo BARMAK (1938) é necessário o uso de impermeabilizantes para evitar problemas de destacamento do bambu, devido a absorção de água do concreto, uma vez que a película externa do bambu não é totalmente impermeável. De acordo com UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 30 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO II - PGS. 17 A 46 cionada por injeção de concreto nos entrenós que fazem parte das ligações, ou seja, somente nos segmentos que serão parafusados. Segundo HIDALGO (1974), a ligação consiste na abertura de um orifício na parte superior do colmo de bambu parafusado, onde após o término do travamento, de toda a estrutura é injetado o concreto. Esta liga- ção é citada em várias bibliograflas como Ligação Velez, a qual tem atribuido excelente desempenho na aplicação estrutural do bambu (FIGURA 6). Outros materiais foram experimentados na tentativa de resolver problemas de aderência do concreto ao bambu, devido à alta capacidade de absorção d’água pelas paredes internas muito porosas do bambu, provocando destacamento do concre- to no interior dos colmos. Como solução para este problema, GHAVAMI & HOMBEECK (1981) experimentaram algumas resinas, não em sua forma pura, pois tornam-se inviáveis economicamen- te, mas associadas a outros elementos. Desta maneira optou-se, por três compostos: Resina Epox Sikadur 52 com pó-de-serra; Resina de PVC com pó-de-serra e Resina Epox Sikadur 52 com areia não peneirada compactada. Os autores concluiram que somente no último caso, o resultado se apresentou satisfatório, sendo que a ruptura ocorreu não pelo desprendimento do agregado, mais pelo escoamento do parafuso. Portanto, a utili- zação do bambu associada a areia permitiu considerável aumento, da resistente a es- forços mecânicos à tração, pois elevou a aderência das paredes internas do bambu. GONZALEZ (1996), através da utilização de ligações “Tipo Vélez”, afirma que o destacamento do concreto no interior dos colmos do bambu, pela falta de aderência entre os mesmos, não acarreta problemas na estabilidade estrutural da construção. O concreto, atua na ligação apenas para aumentar a superfície de contato do parafuso e as paredes do bambu, evitando fissuras, esmagamento e desgaste na superfície externa do bambu . Outro problema encontrado é a dificuldade de ajustar o ângulo das peças em estruturas que utilizam peças inclinadas. Segundo modelos propostos por POZO (1982) em estruturas espaciais, para se obter rigidez nos nós utiliza-se placas de ferro, unindo todas as peças no centro por um tubo metálico com aproximadamente o mesmo diâme- tro do bambu, resultando um maior ajuste da conexão à variação dos ângulos (FIGURA 7). b) Peças Amaradas Pouco eficiente, porém muito utilizada, as liga- ções realizadas apenas com cordas e arames não possu- em rigidez satisfatória para a utilização como estruturas, pois o bambu possui alto índice de retratibilidade. FIGURA 6 - LIGAÇÃO “VELEZ” FONTE: VILLEGAS (1989) FIGURA 7 - PEÇAS EM ÂNGULO COM FERRAGEM. FONTE: POZO (1982) UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 31 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO II - PGS. 17 A 46 Desta maneira, para aumentar a rigidez nas ligações amarradas, recomenda-se a utilização simultânea de cavilhas de madeira, parafusos ou conexões metálicas para distribuir as forças aplicadas e evitar a torção na ligação. A técnica utili- zada para se obter maior ajuste nas amarrações consiste no umedecimento das tiras de bambu, cordas de coco ou sisal antes de serem amarradas. Pode-se encontrar ainda amarras com outros tipos de materiais que garantam a estabiiidade da peça, como por exemplo, a estrutura desenvolvida por MORADO (1994), onde foram utilizados fios de aço retorcido, associados à borracha de silicone. c) Peças Encaixadas Dotado de uma resina natural protetora, o bambu possuí uma superfície extre- mamente deslizante, o que dificulta o travamento das ligações. Desta maneira, várias formas de usinagem foram adotadas para evitar a movimentação das peças. A maneira mais simples de ligar segmentos de bambu é pela sobreposiçao de colmos usinados de forma côncava, permitindo a fixação das peças que permane- cem em sua forma roliça. Os cortes devem ser feitos sempre o mais próximo a um nó possivel, aumentando assim, a resistência da peça e evitando fissuras. Os entalhes devem ser feitos somente nas peças verticais para evitar a ruptura por cisalhamento 2.4.3. Considerações sobre ligações do bambu Um dos problemas mais frequentes nas ligações é a variação do diâmetro interno das peças de bambu. Ocorrem grandes dificuldades na execução de ligações que utilizam segmentos de madeira, pois a usinagem dessas peças roliças de peque- nas dimensões proporcionaria uma técnica muito artesanal, não sendo compatível com a intenção de produção em larga escala, portanto préfabricada e racionalizada. De acor- do com os autores analisados [Hidalgo (1981), Morado (1994) entre outros], as ligações parafusadas enrijecidas com aglomerados, apresentaram melhor desempenho estrutu- ral e facilidade de montagem. Deve-se evitar a utilização de ligações basicamente encaixadas, pois há gran- de dificuldade na compatibilização do diâmetro entre as peças. Pode-se observar que quando a peça entalhada, apresentada de forma côncava, possui o diâmetro excessiva- mente maior que a peça roliça, a ligação torna-se instável pela tendência de rotação entre elas. Por outro lado, quando a peça côncava possui um diâmetro consideravelmen- te menor do que a roliça, a extremidade da peça entalhada poderá sofrer fissuras, de- pendendo da carga aplicada sobre a mesma. Mas, apesar das dificuldades na compatibilização do diâmetro entre as peças, torna-se necessário a utilização de encai- xes entre os bambus em qualquer tipo de ligação, seja parafusada ou amarrada. Outro fator que requer certo cuidado na montagem de estruturas de bambu é a possibilidade de esmagamento das peças horizontais. Deve-se evitar a ocorrência deste fato, procurando utilizar os segmentos horizontais com nós na região onde ocorra o descarregamento das cargas verticais. Porém, não sendo possível a coincidência dos UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 32 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO II - PGS. 17 A 46 nós nas ligações, os segmentos horizontais devem ser enrijecidos com uma peça de madeira, concreto ou alguma resina com resistência adequada ao esforço solicitado. Apresentando elevados índices de variação dimensionais de retração e inchamento, não é recomendável a utilização de ligações apenas amarradas, pois não atingem a estabilidade solicitada para estruturas em geral. As peças de bambu quando retraem tornam as amarrações frouxas e a estrutura perde sua estabilidade. O uso de resinas para o endurecimento das ligações apresentou alguns pro- blemas de desempenho em relação à aderência com as paredes internas do bambu. Entre os resultados obtidos o mais adequado foi com o uso de resina Sikadur e areia experimentado por GHAVAMI & HOMBEECK (1981). Na utilização de peças metálicas obtiveram-se resultados muito satisfatórios, principalmente em relaçdo à facilidade de montagem, porém se faz necessária uma aná- lise da finalidade do uso desta estrutura para verificar a viabilidade econômica de sua aplicação. 2.5. Tecnologia do bambu. Aqui elaboramos um quadro panorâmico do Estado da Arte, das ténicas exis- tentes nos sistemas construtivos de bambu para habitação no Brasil e no Exterior. Serão abordados aspectos sobre as formas de utilização do bambu, assim como os principais componentes utilizados em habitações - elementos de cobertura e de fechamento dos painéis. Será ainda apresentado um quadro das pesquisas em desenvolvimento e algu- mas das principais produções científicas sobre o emprego do bambu em construções de habitações 2.5.1. Etapas de produção A seguir serão apresentadas as etapas principais para o manejo do bambu visando sua aplicação em construções Para cada etapa serão apresentadas as respec- tivas técnicas e suas variações, sistematizadas a partir da coleta de dados obtidos de vários autores e dos projetos analisados. CORTE; CURA: - NA MATA; - POR IMERSÃO; UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 35 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO II - PGS. 17 A 46 bu submerso por um período maior que 6 semanas torna-se mais leve e quebradiço (HIDALGO, 1981). Por outro lado, quanto maior o tempo submerso, menor o ataque de insetos. 2.5.4. Secagem É o processo de redução do teor de umidade das peças de bambu, para aproximadamente 10 a 15%. Com um adequado processo de secagem pode-se reduzir os defeitos pelas mudanças dimensionais do material, evitando problemas causados pela retração excessiva das paredes, o que acarretará fissuras e rachaduras nas peças. Permite ainda aumentar a resistência mecânica do material. Com a secagem das peças há uma diminuição do peso, reduzindo portanto, o custo de transporte. A secagem per- mite ainda melhor acabamento do bambu, maior facilidade de execução e maior ade- rência entre peças coladas devido a maior penetração de adesivos. Serão descritos a seguir diversas técnicas de secagem com as respectivas observações. a) Seco ao ar livre. O processo de secagem por entabicamento das peças na horizontal. Estas devem estar protegidas de sol e da chuva, mas permitindo uma ventilação adequada e ficando isoladas do solo. O tempo de secagem depende diretamente da ventilação no local do galpão de secagem, variando em torno de 4 semanas (tempo necessário para a seiva escorrer de dentro dos colmos). b) Seco ao fogo. Este processo de secagem é feito com a colocação das peças sobre brasas, controlando-se o calor para evitar uma secagem muito rápida, pois quanto mais deva- gar, menor é o risco de o colmo arrebentar com o calor (pressão interna). Com uma secagem rápida as peças podem apresentar diversos defeitos. As peás antes de serem colocadas ao fogo devem ter o teor de umidade reduzido à 50% (cincoenta por cento). As peças devem serem movimentadas uniformemente para se evitar manchas. c) Seco em estufa. O processo de secagem em estufa é semelhante ao da madeira. Pode-se controlar a velocidade de secagem através da temperatura, e velocidade adequadas do ar. UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 36 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO II - PGS. 17 A 46 2.5.5. Tratamento Consiste na aplicação de produtos quimicos preservativos para proteger o bambu do ataque de fungos ou insetos. Foram encontradas na literatura diversas técni- cas de tratamento descritas a sequir: a) Substituição da seiva Neste processo as peças devem ser colocadas na vertical dentro de um reci- piente contendo preservativo, que será absorvido por transpiração das folhas. Não se deve cortar as folhas e as ramas dos bambus. O processo de substi- tuição da seiva, deve-se iniciar após a eliminação do excesso de seiva pelo extremo inferior do bambu. b) Tampão. Neste processo a seiva será substituída por pressão hidrostática através do posicionamento em desnível de um recipente com preservativo. A pressão deve ser aplicada nas peças de bambu recém cortadas. c) Boucherie. Consiste em aplicar no extremo superior dos talos de bambu, através de um tubo de borracha, sulfato de cobre, por exemplo, por pressão hidrostática. Aplica-se aos bambus recém cortados, cuja seiva ainda esteja em movimen- to. As folhas e ramas devem ser cortadas. d) Método de impregnação por imersão. Consiste em submergir total ou parcialmente as peçAS de bambu num depó- sito com preservativo. A eficiência deste tratamento depende do maior tempo que este possa per- manecer submerso. e) Banho quente. O banho a quente permite que a pelicula externa do bambu se dissolva, per- mitindo maior penetração do produto pelas paredes, além de provocar a decomposição e eliminação de grande parte de amido. Deve-se aquecer o bambu para submergi-lo na solução preservante, quando este não suportar altas temperaturas. Em temperatura acima de 65o C, os grânulos de amido são descompostos e eliminados, diminuíndo portanto o ataque de insetos. UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 37 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO II - PGS. 17 A 46 f) Autoclave. Processo adequado para bambus secos, com teor de umidade a baixo de 20%. Peças roliças podem apresentar ruptura. De acordo com vários autores, este processo apesar de eficiente, apresenta resultados antieconômicos e problemas de rachaduras dos colmos. 2.5.6. Usinagem A usinagem consiste no processamento do bambu para sua utilização em diversas formas, desde o bambu roliço até em forma de fibras para a produção de cha- pas. A seguir, estão reunidas estas formas mais utilizadas do bambu: a) Bambu roliço. Forma de utilização do bambu em seu estado natural, sendo utilizado princi- palmente como elemento estrutural. A maior preocupação em estruturas roliças são as ligações. Deve-se evitar entalhes com ângulos específicos, pois essas ligações dificultam a produção em série. Recomenda-se que os cortes das conexões sejam efetuados o mais próximo possível de um nó. b) “Esterilhas” . “Esterilhas” são pranchas de bambu obtidas através da remoção dos nós e da abertura dos colmos em forma de tábuas. É a forma mais utilizada para a produção de painéis de bambu, podendo ser rebocados com uma argamassa de revestimento. c) Bambu em tiras. É a abertura de bambu longitudinalmente através de uma ferramenta metálica que divide o bambu em 1/2, 1/4, ou mais partes no sentido radial do bambu. As tiras são utilizadas principalmente como painéis de cobertura ou de vedação da habitação. Permitem ainda um reboco com argamassa de revestimento.O bambu pode ser apenas pregado nos montantes do painel ou trançado entre a estrutura princi- pal. d) Chapas. São produzidas através de bambu picado em pequenas dimensões, prensa- dos e colados com resinas. UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 40 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO II - PGS. 17 A 46 2.7.1. Cobertura a) Cobertura com telhas do 1/2 bambu Os bambus utilizados na forma de telhas são divididos longitudinalmente ao meio (FIGURA 12), retirando-se, a sequir, os diafragmas. A estrutura é forma- da por bambus com diâmetros superiores a 7 cm. Na pri- meira camada colocam-se os bambus dispostos lado a lado com a face côncava para cima, fixas nas ripas. A se- gunda camada sobreposta sobre a primeira, com o lado côncavo para baixo encaixando de forma similar às telhas romanas. A declividade mínima da cobertura deve ser de 30o . Esta cobertura apesar de ser leve, pode ser comple- tamente impermeável a água. b) Cobertura com ripas de bambu As ripas são feitas com talos maduros e recém cortados. São segmentos obtidos abrindo-se o bambu longitudinal- mente, secos a sombra e de comprimento igual á distân- cia entre os nós. No extremo das pequenas peças forma-se uma lasca que se prende às ripas de bambu, já fixas na estrutura do telhado (FIGURA 13). Devem ser utilizados bambus de diâmetro superior a 7cm e as ripas com no mínimo 4cm de largura. Na FIGURA 14, estão apresenta- dos a colocação das ripas sobre as travessas que se dis- tanciam entre si de 15cm, sendo que, por m2 de telhado, são necessários aproximadamente 200 ripas. A inclina- ção deverá ser maior do que 30o. FIGURA 9 - SEQUÊNCIA DE ABERTURA DE ESTERILHA FONTE: HIDALGO (1981) FIGURA 10 - SEQUÊNCIA DE ABERTURA DE ESTERILHA FONTE: ARQ. RUBENS C. JR. FIGURA 11 - SEQUÊNCIA DE CORTE DO BAMBU EM TIRAS COM FACA DE MULTIPLO CORTE FONTE: HIDALGO (1981) UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 41 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO II - PGS. 17 A 46 c) Cobertura com “esterilhas” ou tiras de bambu Neste tipo de cobertura utiliza-se o bambu como forro, em forma de tiras ou “esterilha”. Pode-se utilizar como cobertura qualquer tipo de palha dependendo do tipo de vegetado da região (FIGURA 15), ou uma camada de argamassa de revestimento. A estrutura pode ser feita também de colmos de bambu com 4cm de diâmetro colocados a uma distância de 30cm, podendo variar de acordo com o comprimento da palha utiliza- da. Podem-se utilizar tiras de bambu para fixar as folhas. Como prevenção contra incên- dios e ao ataque de insetos, GONZALEZ (1996), utiliza um forro interno de “esterilha” de bambu e uma camada de cimento e cal antes de fixar a palha (Projeto Alándaluz). KATAYAMA (1989), no Nepal, utiliza bambus em fitas trançadas, para executar cobertu- ras de abrigo de ônibus, rebocadas com argamassa de revestimento. De acordo com publicações das NAÇÕES UNIDAS (1972), as “esterilhas” de bambu sem uma cobertu- ra como proteção, necessitam de um acabamento com cimento e uma camada de mate- rial betuminoso impermeável. Devido à sua superfície rugosa, o bambu admite facilmen- te o reboco, que pode ser tanto de argamassa (1:6) como a cal (1:3), com aproximada- mente 20mm de espessura. Tem-se como exemplo de aplicação desta técnica os proje- tos Mihras, Alándaluz e Unicef. d) Cobertura com estrutura de bambu roliço Em alguns casos, na cobertura, o bambu é utilizado somente como elemento estrutural. Na Costa Rica o sistema estrutural da cobertura é préfabricado na usina e depois transportado para o canteiro de obras. O tipo de telha utilizada pode ser a de barro, que permite melhor conforto térmico (Projeto Costa Rica e Mihras-Peru - 5.3. e 5.4). Na regido de Kyoto, no Japão, pode-se encontrar estruturas mistas de bambu e madeira (FIGURA 16). De acordo com UCHIMURA (1989) encontram-se coberturas de palhas com espessura de 60cm sob estrutura de bambu roliço do século XVII, do inicio da Era Edo. 2.7.2. Painéis de fecha- mento a) “Bahareque” Segundo NA- ÇÕES UNIDAS (1972), esta é uma técnica muito utiliza- da na América Latina. As paredes de “bahareque” são formadas por tiras ou “esterilhas” de bambus en- trelaçados ou amarrados a bambus roliços de peque- nas dimensões, posicionados na vertical ou FIGURA 12 - COBERTURA COM TELHA DE BAMBU FONTE: HIDALGO (1981) TIRA DE BAMBU TIRA DE BAMBU FIXADA NO CAÍBRO PARA EVITAR QUE O VENTO LEVANTE AS TELHAS TIRA DE BAMBU ARAME GALVANIZADO ARAME GALVANIZADO CAÍBRO INFERIOR CAÍBRO INTERMEDIÁRIO CORTES DE PROFUNDIDADE E LARGURA IGUAIS CUMEEIRATELHAS DEBAMBU TIRAS AMARADAS AO CAÍBRO UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 42 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO II - PGS. 17 A 46 na horizontal. Os montantes estruturais são de madeira e, somente em alguns casos são utilizados bambus como elementos estruturais. O espaço entre as fibras são preenchi- das com barro ou com barro e pedra, portanto esta construção se torna relativamente maciça, não sendo muito recomendada para regiões susceptíveis a abalos sísmicos (FIGURA 17). Após o trançado de bambu, as tiras são rebocadas com barro. Devido à baixa resistência da terra às intempéries é necessário uma constante manutenção das faces externas dos painés. Na FIGURA 18, é apresentada a estrutura das paredes de “bahareque”, formada por bambus de aproximadamente 10 cm de diâmetro. Os montan- tes verticais são colocados de 30 a 40cm de distância um do outro, pregados à soleira de madeira. A sequir, são pregadas “esterilhas” de bambu, na face externa e interna, onde os pregos se distanciam entre si de 8cm (FIGURA 18). O reboco utilizado é aplicado em duas camadas de cimento e areia no traço de 1:5. b) Painéis de “esterilha” de bambu Segundo publi- cações das NAÇÕES UNI- DAS (1972), esta técnica é muito utilizada na Indonésia, Colômbia, Equador e Índia. As “esterilhas” são fixadas na horizontal às peças roliças de bambus e encaixadas nos montantes verticais de madeira. (FIGURA 19). Os painéis para serem protegidos das intempéries são rebocados interiormente e exteriormente. Em algumas regiões uma das faces do painel permanece aparente (Projeto UNICEF - 5. l.). c) Painéis de bambu roliço ou “cana-brava” Em construções de habitação de alto padrão, no Japão, ainda se utiliza o sistema tradicional japonês, taipa de mão, composto basicamente de bambus em tiras e FIGURA 13 - SEQUÊNCIA DE CORTE DAS RIPAS DE BAMBU PARA FABRICAR AS TELHAS DE BAMBU FONTE: HIDALGO (1981) FIGURA 14 - COBERTURA COM RIPAS DE BAMBU FONTE: HIDALGO (1981) UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 45 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO II - PGS. 17 A 46 S e g u n d o HIDALGO (1981), este sis- tema de construção permi- te obter painéis delgados e resistentes e que os bam- bus roliços permaneam na horizontal e fixos a seguir, em colunas de bambus de maiores dimensões sepa- radas uniformemente entre 50 a 70cm (FIGURA 22). Já na FIGURA 23, as tiras são fixadas horizontalmente. O posicionamento das tiras trançadas na vertical possi- bilita melhor rendimento e durabilidade, pois permite a secagem mais rápida do painel após ser atingido por uma chuva. FIGURA 19 - PAREDE DE “ESTERILHA” FONTE: ARQ. RUBENS CARDOSO JR. (CAMPO GRANDE) FIGURA 20 - SEQUÊNCIA DE MONTAGEM DE UMA CASA COM PAINÉIS DE CANA BRAVA - (45 MINUTOS). FONTE: ARQ. RUBENS CARDOSO JR. (FUNBAMBU - COSTA RICA). UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 46 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO II - PGS. 17 A 46 FIGURA 21 - CASA COM PAINÉIS DE TIRA DE BAMBU, REBOCADA COM BARRO. FONTE: ARQ. RUBENS CARDOSO JR. (ÍNDIA) FIGURA 22 - DETALHE DE PAREDE COM PAINÉIS DE TIRA DE BAMBU, REBOCADA COM BARRO. FONTE: ARQ. RUBENS CARDOSO JR. (ÍNDIA) FIGURA 23 - PAINÉIS COM QUINCHA - TIRAS HORIZONTAIS. FONTE: HIDALGO (1981) FIGURA 24 - PAINÉIS COM QUINCHA - TIRAS VERTI- CAIS. FONTE: HIDALGO (1981) f) Painéis de bambu estrutural com “cañizo” De acordo com LUISIONE et al (1989), as paredes das unidades habitacionais do projeto Mihras-Peru foram feitas com estrutura de bambu e “cañizo”, recobertos com barro (taipa), recebendo maior proteção nas bases, com fundação em adobe estabilizado ou concreto (ver Pro- jeto Mihras-Peru 5.4). | CAPÍTULO II 7?) tú & Q = E ty O r> < uy LI cy) LU Q UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 50 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO III - PGS. 47 A 76 Optou-se por deixar o bambu aparente em algumas faces internas da cons- trução, apenas invernizando a superficie das “esterilhas”. Nota-se que desta forma, a “esterilha” deve ser fixada com sua face brilhante para fora, ao contrário das paredes rebocadas, pois a face interna do bambu permite maior aderência à argamassa. Observações Segundo o relato, em relação ao custo total da obra, conclui-se que o valor de uma edificação feita através de um sistema construtivo convencional equivale a 4 construções de mesmas dimensões utilizando bambu. O processo de produção bastante simples permíte uma construção rápida e com participação dos membros da comunidade sem a necessidade de mão-de-obra especializada. 3.2. Experiência Habitacional - Hotel Ecológico Alándaluz. LOCAL: QUITO, EQUADOR INSTITUIÇÃO: CORPORACIÓN AMINGA Y C.L. AUTORES: GONZALEZ, (1997). DATA: 1990 FONTE: GONZALEZ, (1997). Introdução. O projeto do Hotel Ecológico de AIándaluz foi construído a partir do programa desenvolvido por um grupo de pessoas, visando o desenvolvimento de projetos alterna- tivos, auto-sustentáveis e ecológicos. Segundo GONZÁLEZ (1997), a Coorporacíon AMIGA Y C. L. foi criada em 1995, para fornecer informações aos interessados em aplicar as técnicas de construção vistas no Hotel. Este foi fundado por equatorianos com recursos próprios, não recebendo doações do governo e de instituições. O objetivo principal do grupo é demonstrar a viabilidade dos projetos alternativos, ressaltando propostas de arquitetura ecológica, resgatando materiais naturais e visando a harmonia entre o meio ambiente. As estratégias aplicadas para o desenvolvimento dos projetos são: arquitetu- ra ecológica, tratamento de água, coleta seletiva de lixo, agricultura orgânica, refloresta- mento de áreas degradadas com espécies nativas e bambu, estação de educação e investigação científica e trabalho comunitário. O hotel foi construido próximo ao Parque Nacional Machalilia, situado ao redor de AIándaluz. GONZÁLEZ (1997) afirma ainda que o Hotel tornou-se um sitio demonstrativo, principalmente para os povoados localizados nas proximidades da região, das possibilidades de aplicação do bambu em construção. UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 51 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO III - PGS. 47 A 76 Fundação O bambu, por ser um material muito leve e resistente, requer uma fundação simplificada. Utílizou-se concreto e ferro de 1/4" nas vigas baldrames, deixando espe- ras para receber os pilares de bambu. No caso de construções maiores, como o res- taurante de Alándaluz, cuja altura supera 12 m e tem dimensões de 12,00 x 18,00 m, as vigas baldrames utilizadas possuíam dimensões de 50 x 30 cm com ferro de 1/2”. Alguns pilares foram apoiados em paredes de pedras. Estrutura A estrutura foi projetada para solicitação de cargas à compressão e tração, evitando os esforços à flexão. De acordo com GONZÁLEZ (1997), o bambu utilizado, Bambusa angustifolia, pode ser utilizado como coluna para sustentar uma laje ou piso intermediário, sempre e quando não tenha contato com a umidade do solo. A estrutura é composta basicamente por pilares e vigas de bambu, utilizando-se o sistema de ligações tipo “Velez”. Ligações estas compostas por parafusos enrijecidos com con- creto, apenas nas seções perfuradas. Em relação à aderência do bambu ao concreto, GONZÁLEZ (1997) afirma que há tendência de separação entre os dois materiais, devido ao inchamento e a retração das paredes do bambu provocadas pela absorção de água. Conclui-se que a aderência não se realiza de forma perfeita, pois cada material trabalha de maneira independente. Porém, apesar da baixa aderência, nas seções das ligações onde o cimento é utilizado, amplía-se a superficie de contato com o parafuso, aumentando-se a resistência principalmente na horizontal, evitando a flexão, o fendilhamento das pe- ças e o esmagamento da viga que recebe esforços na vertical. Nestas ligações foram utilizados pilares compostos com quatro peças e pi- lares duplos fixos entre si. Utilizaram-se em alguns pontos braçadeiras metálicas para evitar o fendilhamento e fissuras nas peças. Segundo GONZÁLEZ (1997), as braçadeiras funcionam como um simples reforço podendo ser eliminadas com cortes que permitam coincidir os nós nos extre- mos das peças. Painéis As paredes das construções foram feitas de duas maneiras, utilizando-se: 1. Bambus roliços. 2. Bambus abertos “esterilhas”, rebocados com argamassa de revestimento ou, sem reboco, ficando o bambu aparente. Em geral foram utilizados “esterilhas” rebocadas, na face interna do bambu, UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 52 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO III - PGS. 47 A 76 com cimento ou outras argamassas de revestimentos naturais, como excremento de boi com terra. Segundo GONZÁLEZ (1997), em relação ao isolamento térmico, o resulta- do é satisfatório, tanto com “esterilha” rebocada com uma argamassa, quanto sem nenhum reboco, permanecendo aparente a face brilhante do bambu. Cobertura Toda a estrutura de cobertura foi feita com bambu roliço, compondo as tesouras, através de ligações tipo “Velez”, utilizou-se, como cobertura, “esterilha” de bambu picado, sobre a qual estendeu-se uma malha metálica, recebendo logo em seguida um reboco de cimento e palha de arroz. com espessura de até 3 cm. Para maior resistência colocou-se uma outra camada de folhas de palmei- ra, Phitelephas aequatoriallis. Foi dada preferência à utilização desta capa de cimento entre as folhas e o bambu, devido a existência de muitos pássaros na região, cujos ninhos feitos sobre as folhas, ocasionavam goteiras na época das chuvas. Além disto, sendo que as folhas são muito susceptíveis a ação do fogo, a argamassa funciona como elemento isolante entre a construção e a cobertura. Manejo do bambu Alguns procedimentos importantes foram citados pelos autores, para me- lhor desempenho do material na construção, como: Secagem O bambu, uma vez cortado foi seco ao ar livre, em posição vertical ou hori- zontal, para se evitar esforços nas peças, o que poderiam causar curvaturas nas mes- mas. Foram observados que os melhores resultados obtiveram-se secando as peças em posição horizontal. Observou-se também que os bambus devem estar protegido dos raios dire- tos do sol e totalmente isoladas da umidade do solo. O período de secagem foi de um mês, passando por um novo período de secagem após o tratamento em um tanque de imersão. Não existe um tempo máximo de secagem. Tratamento Para imunização dos bambus, foram aplicados uma solução de bórax e ácido borácico. Logo após, os bambus devem permanecer durante três dias para secar. UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 55 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO III - PGS. 47 A 76 painéis utilizados são: o retangular e o trapeizoidal, construídos por peças de madeira com secções 5,0 x 5,0 cm e 2,5 x 5,0 cm e esterilha de madeira que são fixadas umas às outras através de uma viga. Em geral, cada unidade habitacional é composta por 17 painéis pré-armados, sendo que uma equipe de 4 ou 5 pessoas, sem experiência, demora 4 dias para mon- tagem (com experiência 2 dias). O reboco com cimento é feito em aproximadamente 300 horas. As principais características dos painéis são: baixo peso e grande capaci- dade estrutural. Observou-se que a técnica foi facilmente absorvida pela população, pois logo nos primeiros meses que se iniciou o trabalho de autoconstrução (20 casas), a população havia assimilado grande parte da tecnologia utilizada. Para execução do reboco dos painéis foi desenvolvida uma fôrma metálica, que deve ser fixada na parte posterior do painel para se evitar o desperdício de massa, pois a fôrma retém nos painéis a massa que atravessa as “esterilhas”. De acordo com BAMBUSETUM (1995a), apesar dos resultados favoráveis, 3 aspectos deveriam ser melhorados: como abaixar o peso da fôrma e melhorar o sistema de sua fixação no painel, eliminando-se a ne- cessidade de perfuração no bambu e na madeira da ossatura. Após alguns estudos, chegou-se a um modelo desmontável de menor peso e com peças reajustáveis. Po- rém, ainda se considera necessário projetar novos modelos que se ajustem às diferen- tes dimensões dos painéis necessários a uma habitação. Os gastos com pesquisas para a racionalização desta etapa de reboco, justificase uma vez que a mesma repre- senta 32% da mão-de-obra paga; 9,65% do montante pago por materiais e mais de 14,5% da totalidade dos custos das casas. O novo objetivo para produção de painéis é a substituição da madeira dos painéis por peças de bambu, principalmente os montantes verticais. Produção de painéis Em Limón, foi implantada uma fábrica de painéis para a construção de 10 casas por semana. Sendo que para cada casa são utilizados 17 painéis, são necessá- rios aproximadamente 1.200 bambus (tipo “canabrava”) para a construção de cada unidade habitacional. Portanto, para atender a demanda de Habitações de Interesse Social, prin- cipalmente na zona rural, a prioridade do governo foi de delimitar várias áreas de plantio de bambus e mais fábricas de painéis. As fábricas deverão atender a alguns pontos importantes, como: 1 . Proximidade das plantações de bambu, algumas já implantadas estrategi- camente no país; 2. Ter vias de acesso e topografia favoráveis ao escoamento do produto ter- minado, assim como para o abastecimento de matéria-prima; UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 56 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO III - PGS. 47 A 76 3. Proximidade às regiões de maior demanda habitacional. De acordo com BAMBUSETUM (1992b), as oficinas de produção de painéis devem conter dimensões: - 400 m2 de área coberta, para produção; - 700 m2 para o armazenamento de matéria-prima e produto terminado; - 100 m2 para o armazenamento de produtos químicos e similares; - 50 m2 para administração. Tratamento Segundo CAMBRONERO et al.(1992), a esterilha de bambu foi tratada pelo método de impregnação que consiste em banhos de imersão em tanques apropriados para este fim. O produto químico utilizado no processo de preservação é a base de subs- tâncias solúveis em água. Um dos mais utilizados é o boro. Já os bambus roliços são tratados por substituição da seiva, através do Método Boucheri, com uma pressão de 20 kilopascal, A duração deste processo de tratamento é de aproximadamente 30 minutos. Sua efetividade é comprovada median- te a análise de penetração e retenção, realizadas nas Universidades de Hamburgo e de Costa Rica. Montagem Na comunidade de Atenas, em Costa Rica, foram produzidas as paredes pré-fabricadas, de uma habitação de 48 m2 , em 11 dias, formando-se grupos de 5 trabalhadores. Em geral, a fundação da habitação consiste em uma sapata corrida reforça- da com aço, sobre a qual se colocam uma ou duas fiadas de tijolos. Acima do bloco, coloca-se ainda uma camada de material de proteção (impermeabilizante) para evitar o contato da umidade do solo com o bambu, de modo a evitar o apodrecimento e o ataque de insetos xilófagos. Na sequência, coloca-se a soleira inferior na qual se fixam os pai- néis préarmados. Resistência O comportamento das habitações em abalos sísmicos pôde ser avaliado após inúmeros terremotos ocorridos na região. Após a construção de 30 casas, em Rio Banano, em zona de alta intensidade de abalos sísmicos, um terremoto de magni- UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 57 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO III - PGS. 47 A 76 tude de 7,5 na escala Richter, atingiu a região em Abril de 1991. Nenhuma das 30 casas sofreu maiores danos, somente em algumas unidades observaram-se fissuras nos limi- tes das habitações. A resistência aos abalos foi comprovada ainda em outro conjunto construido em Rio Grande de Paquera com 31 unidades que resistiram ao mesmo abalo sísmico. Como resultado imediato, o governo da Holanda doou fundos ao PNB para a construção de 50 unidades em Bataán. Estas foram construídas em apenas 4 meses, a partir de outubro de 91. O governo da Dinamarca doou, logo em seguida, fundos para a construção de mais 100 unidades. De acordo com GUTIERRÉZ (1991), as principais razões que explicam este comportamento favorável são: - Baixo peso - A carga dos painéis, com reboco de cimento, variam entre 90 a 130 kg/m2, equivalendo a 35% de uma parede similar de blocos de concreto (12cm de espessura, aproximadamente 250 kg/m2). O piso de madeira ou esterilha de bambu pesa de 50 a 90 kg/m2, enquanto um piso de vigotas pré-fabricadas pesa 400 kg/m2. Como as forças de sismos são proporcionais ao peso da estrutura, esta redução incide significativamente nas forças que ocorrem nas habitações. - Alta resistência - Os painéis demonstraram grande capacidade estrutural. Foram obtidos em testes de resistência ao cisalhamento valores de até 1.500 kg/ml, permitindo que a construção absorva as forças do sismo dentro da faixa elástica, sem fissuras na extensão do painel. - Integridade estrutural - A fundação em radier, produz uma resposta monolítica e integral, evitando as fissuras por deslocamentos diferenciais, - Controle técnico - Nos projetos de autoconstrução o acompanhamento técnico é permanente para garantir a qualidade dos detalhes construtivos na estrutu- ras das habitações. Segundo GUTIERRÉZ (1992), em avaliações da capacidade estrutural so- fridas frente a cargas eventuais de abalos sísmicos (coeficientes sísmicos C = 0.33) e vento (120 km/h), sobre uma habitação de paredes de “cana-brava” e cimento (peso = 130 kg/m2) e “esterilha” e cimento (peso = 90 kg/m2) e uma cobertura (peso = 20 kg/ m2), obtiveram-se valores de cargas transversais de: VENTO 120 KM/H = 57,60 KG/M2 SISMO (ESTERILLA E CIMENTO) = 29,70 KG/M2 SISMO (CANA-BRAVA E CIMENTO) = 42,90 KG/M2 Obs: O coeficiente sísmico considerado de C = 0.33, assim como a velocida- de do vento de 120 km/h, foram os valores mais altos constatados em Costa Rica. Segundo conclusões de GUTIERRÉZ (1991), a partir de resultados obtidos, as paredes das habitações produzidas com bambu e madeira, têm a capacidade de resistir aos abalos sísmicos com coeficientes de 4 a 6 vezes maiores que o especifica- do no Código Sísmico de Costa Rica de 1986. UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 60 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO III - PGS. 47 A 76 usos, costumes, desenhos e necessidades da população em quanto à utilização de áre- as, funções, sistemas construtivos, orientação, ventilação e insolação. A pesquisa permitiu selecionar alguns materiais idôneos e ao alcance da população, assim a equipe MIHRAS-PERU pôde desenvolver um sistema construtivo aplicável à autoconstrução, apropriado aos recursos naturais da região; aos abalos sís- micos; ao clima e aos costumes tradicionais, quando retoma técnicas basicamente an- cestrais (adobe, “quincha” e o bambu), porém inovando, racionalizando a produção e melhorando a qualidade e a resistência dos materiais. De modo geral, a construção baseia-se em 6 princípios fundamentais: 1. Dar uma resposta econômica e de qualidade à problemática de assenta- mentos populares; 2. Adequação as condições locais (terreno, clima, topografia); 3. Utilização de materiais locais e de fácil acesso otimizando seu uso; 4. Uso de técnicas construtivas locais, inovando e racionalizando a produção; 5. Possibilidade de utilização de mão-de-obra local mediante um curto pro- cesso de capacitação, tornando possível sua aplicação em autoconstrução e mutirão; 6. Tornar possível, a partir da produção de materiais aplicáveis à construção, a criação de fontes de trabalho. Segundo LUISIONE et ai (1989), a pesquisa de materiais, localização e de- senvolvimento dos processos de extração, produção e aplicação, duraram cerca de 3 meses. A seleção dos materiais foi feita através de ensaios, estudos das vantagens e desvantagens. A construção foi facilitada pelo fato da região ser rica em bambus de grandes diâmetros, barro, cal, gesso e casca de arroz e por outro lado, a população tem conhecimento do manejo de trançados de bambu e caniço, pois a região era conhecida pela fabricação de cestas. As paredes foram feitas com estrutura de bambu e caniço, recobertos com barro (taipa), recebendo maior proteção nas bases, com fundação em adobe estabilizado ou concreto. Posteriormente, as paredes receberam acabamento em gesso, permitindo que recebessem uma pintura. O sistema de cobertura foi feito em forma de pirâmide, onde o elemento es- trutural é composto por quatro vigas de bambu que funcionam como travamento das paredes. O fechamento da cobertura foi feito como uma grande cesta de bambu trança- do A grande cesta foi coberta externamente com cimento, areia, gesso e cal. Interna- mente, recebeu só gesso, garantindo a vedação e o acabamento sem provocar excesso de peso. A estrutura é modular com dimensões de 3,30 x 3,30 m, utilizando-se bambus de 7 m de comprimento. UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 61 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO III - PGS. 47 A 76 Os tetos foram pré-fabricados no canteiro e os módulos foram compostos de acordo com o cômodo, um para cada quarto, dois para a sala e assim por diante. A pirâmide possui 80 cm de altura no vértice, chegando a 3,20 m o pé-direito, a partir do centro da cobertura. Segundo DIRIGENTE CONSTRUTOR (1990), para garantir um bom desempenho térmico, utilizou-se o sistema Venturi, que aproveita o vento para extrair o ar aquecido do interior. Sobre a cúpula foi instalado sistema de ventilação (chapéu de palha). A primeira área executada foi o núcleo social, de 800 m2 de área construída, depois os outros equipamentos sociais, como sala de reuniões, creche, grupo escolar, posto de saúde, oficinas, escritórios administrativos e residência dos técnicos. Segundo DIRIGENTE CONSTRUTOR (1990), mesmo mostrando vantagens (tanto que o trabalho já está em desenvolvimento em outros assentamentos), o Projeto Mihras-Peru apresentou alguns problemas. A população aceitou com dificuldade os materiais locais, acreditando não serem duráveis. Também o formato do teto das habita- ções era associado às casas de passarinho. A população sem compreender que a cada nova região de intervenção do Projeto MIHRAS, haviam novas propostas de materiais e técnicas diferenciados, argumentando que as Universidades se limitavam apenas em implantar novas tecnologias inventadas. Este problema ainda é um fator agravante, o prejuízo causado pelas propagandas dos materiais nobres (ladrilho, concreto, ferro, etc), Custos A equipe técnica chegou a conclusão que deveria se evitar ao máximo a utili- zação de ferragem, pouco cimento e pouca madeira. Ficou comprovado, por exemplo, que o cimento de adobe ficava mais caro que o concreto, pois utilizava mais mão-de-obra. O revestimento do teto também passou a ter espessura menor, sem perder impermeabilidade, resultando um custo mais baixo e maior leveza. 3.5. Experiência Habitacional em Caldas LOCAL: REGIÃO DE CALDAS - COLÔMBIA INSTITUIÇÃO: PARTICULAR AUTORES: ARQ. JAIME MOGOLIÓN SEBÁ E ARQ. GUSTAVO DIAZ CARDONA DATA: 1991 FONTE: MONGOLLÓN & DIAZ, (1991) (1) Introdução. O projeto foi implantado na região ocidental colombiana, zona cafeicultora, localizada entre as Cordilheiras Central e Ocidental, cuja temperatura oscila entre 15 a (1) ln:”Informes de Ia Constucción” (1991) - Concurso Iberoamericano - tema: “Construcción y Médio Natural”. Colocação em primeiro lugar. Órgãos Financiadores do IV Concurso Consejo: Centro Superior de Investigaciones Científicas (CSIC), Madrid; Fundación MAFRE, Madrid; Secretaria General do Meio Ambiente (Ministerio de Obras Públicas y Urbanismo (MOPU), Madrid e Sociedad de Gestión de Viviendas (S.G.V.), Madrid. UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 62 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO III - PGS. 47 A 76 24o C, e altitude entre 1.000 a 2.000 m. Esta área é considerada “classe A” em ocorrên- cias de abalos sísmicos e erosão. De acordo com as características desta região, optou-se em utilizar madeira e bambu (recursos renováveis e de baixo gasto energético), assegurando-se à estrutura um desempenho adequado aos abalos sísmicos, haja visto o baixo peso e a alta flexibilidade do material. A proposta consiste ainda no aproveita- mento de recursos naturais abundantes na região, através de um sistema normalizado de desenho e construção progressiva de habitações. Inspirado em tipologias espaciais e métodos de construção desenvolvidas nas regiões montanhosas colombianas, de Antioquia e Caldas, procurou-se introduzir melhoramentos na técnica construtiva, baseando-se nos avanços tecnológicos contemporâneos nos campos da arquitetura e engenharia, principalmente com a padronização, racionalização e a produção em série de componentes construtivos. O sistema proposto se apoiou em experiências obtidas com a construção de um bairro de habitações populares em Manizales. Sistema Construtivo Os requisitos principais que deveriam ser cumpridos no desenvolvimento do sistema construtivo foram: baixo custo; resistência e adaptabilidade à terrenos íngrimes, ou seja, construções leves para evitar a sobrecarga nos solos de grande declividade, adaptação do projeto ao terreno evitando grandes movimentações de terra, facilidade de crescimento dos módulos habitacionais e manejo adequado das águas pluviais. Com relação a custos, pelo fato do bambu ser um material de alta resistên- cia à compressão, portanto ideal para transmitir as cargas verticais, evita-se a neces- sidade de fazer grandes escavações e grandes estruturas de fundação, resistentes ao empuxo da terra, se ajustando facilmente ao declive do terreno. Em relação aos abalos sísmicos, o baixo peso da construção diminue as forças de inércia resultante dos terremotos, transferindo ao solo cargas muito meno- res. O peso da construção deste sistema oscila entre 300 a 400 kg/m2. Durabilidade A durabilidade, da mesma maneira que em construções de madeira, é em geral um dos pontos críticos para utilização do bambu como material para construção. No caso do bambu guadua, já existem muitos estudos que mostram com precisão o comportamento do bambu. Na Colômbia, nesta mesma região, a durabilidade excepci- onal deste material é comprovada, em construções existentes desde o começo do sécu- lo, cujo sistema estrutural é composto basicamente por madeira e bambu. No sistema proposto foram seguidos alguns cuidados necessários para utili- zação do bambu, como: 1. 0 reboco das paredes foi feito com argamassa de boa qualidade porém, devendo-se aplicar técnicas similares desenvolvidas para preservação de madeira, no UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 65 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO III - PGS. 47 A 76 Construção dos painéis Os painéis foram construidos a partir de uma ossatura de madeira serrada de seção de 8 x 4 cm, e de altura igual a 2,40 m com largura variável. A ossatura recebe montantes internos de bambu separados a cada 30 cm entre eixos. Nos painéis situados próximos as arestas colocou-se um contraventamento posicionado a 45o na direção ho- rizontal. Nos painéis “janelas” ou “portas”, coloca-se outra peça de madeira, a 30 cm da travessa superior, de seção 8 x 4 cm, reforçadas com peças de bambu. Aos painéis, foram fixadas as “esterilhas” de guadua, tomando o cuidado para que a face brilhante ficasse voltada para o interior da parede, permitindo-se assim, a aplicação do reboco na face interior do bambu, cuja aderência à argamassa, é muito superior do que quando aplicada a face externa. A “esterilha” foi fixada à estrutura do painel com arames e pregos a cada 10 cm. Construção das paredes Posicionam-se os painéis, verificando sempre o prumo, sobre o contrapiso de cimento, em terrenos planos ou sobre o entrepiso, em terrenos inclinados. Deve-se iniciar a fixação dos mesmos, sempre por um dos vértices das paredes, formando com as diagonais “V” invertidos. Os painéis foram fixados à soleira inferior com pregos galvanizados e, entre si, através de parafusos de 1/4" de diâmetro. Sobre os painéis coloca-se uma soleira superior ou viga de amarração, reforçando-se os vértices, com travessas diagonais a 45o de madeira. Logo após a colocação das paredes, procedeu-se à forração dos painéis pelo lado interno da parede, recobrindo-se as mesmas com malha de galinheiro (5 x 5 cm) que são fixados à “esterilha” com pregos de 1/2". A malha é colocada somente quando os painéis estivessem totalmente fixados. A malha poderá ser fixada também ao pré-fabricar os painéis, observando-se que a mesma deve possuir dimensões maiores que as do painel, Acabamento dos painéis O reboco deve ser feito após a colocação da tela de galinheiro sobre as pare- des, deixando-se juntas de dilatação, para evitar fissura. Deve-se seguir as seguintes etapas de revestimento: - Primeiro, aplica-se à superficie argamassa de cimento, cal e areia na pro- porção de 1:1:5, de forma que cubra os interstícios da esterilla de guadua; UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 66 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO III - PGS. 47 A 76 - Logo após 24 horas, se aplica o reboco final de 1,50 cm de espessura com a mesma massa; - Nas áreas úmidas se recomenda adicionar a massa um produto impermeabilizante. Instalações A rede de instalações elétricas pode ocupar os espaços vazios entre os pai- néis, mas com prevenção contra incêndios, ou manutenção, recomenda-se que as insta- lações sejam feitas por fora dos painéis, fixando-os a estrutura por meio de braçadeiras. Da mesma maneira, procede-se à fixação das instalações sanitárias. Barroteamento Sobre a soleira, colocam-se as vigas (barrotes) de madeira serrada ou peças de bambu de comprimento igual ao vão a ser coberto. As peças foram distribuídas entre si a cada 30 cm. Este entramado pode ser coberto com lambris de madeira ou “esterilha” A “esterilha” se for utilizada como piso, deve ser feito um reforço com arame galvanizado coincidindo-se com as linhas do módulo de 30 x 30 cm e recoberto com uma massa de cimento e areia. As bordas exteriores do piso foram cobertas com um friso de madeira. Cobertura Sobre a soleira superior, se colocam as terças de bambu. A forma e o diâme- tro das peças de bambu foram definidas a partir do peso da cobertura, assim como os espaços entre os caibros, para receber as telhas. Semelhante ao barroteamento, as terças são fixadas à soleira superior e a estrutura dos painéis com pinos metálicos de 1/ 4". Utilizou-se na produção das casas, telhas de fibrocimento devido ao seu baixo peso, economia, rendimento em sua colocação e impermeabilidade. Custo De acordo com recentes experiências com este sistema construtivo o custo por m2 foi avaliado em US$ 51,62. Portanto, o valor médio de um módulo espacial de 10,89 m2 é de US$ 562,20. UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 67 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO III - PGS. 47 A 76 3.6 Experiência Habitacional em Manizalez LOCAL: MANIZALEZ, COLÔMBIA INSTITUIÇÃO: INSTITUTO DE CRÉDITO TERRITORIAL AUTORES: ARQ. JORGE HUMBERTO ARCILA E ARQ. GUSTAVO GUZMÁN DATA: 1982 FONTE: GUZMÁN & ARCILA, (1982), SEGRE, (1991) Introdução. A implantação do projeto foi realizada em uma região montanhosa, cuja declividade média está próxima a 45%, com índice pluviométrico de 2.144 mm e de temperatura média de 17o C. Manizalez, região tipicamente produtora de café, possui aproximadamente 400.000 habitantes. Os arquitetos partiram do princípio do aproveita- mento de recursos naturais existentes na região e como material predominante encontrou-se o bambu Guadua para a produção das unidades habitacionais por iniciati- va do Instituto de Crédito Territorial, com o propósito de obter uma ocupação racional dos íngremes terrenos andinos. O projeto deve proporcionar, ainda, um sentido comuni- tário a seus moradores. Planejamento A área dos lotes por habitação foi dividida em 42 m2. Sendo que, as habita- ções eram direcionadas às classes populares, o projeto visava a um desenvolvimento progressivo da célula mínima. O primeiro espaço produzido possui uma área de 14,50 m2, composto por um banheiro, uma cozinha e a circulação. A primeira ampliação possí- vel é de uma área de 17,50 m2, deixando uma área para um pátio de 12,50 m2. A segun- da ampliação consistia na construção de dois quartos, somando-se 18,25 m2. A habitação mínima inicial tem uma área de 30,25 m2, atingindo quando fina- lizada a construção uma área de 59,00 m2. 3.7. Estrutura Espacial para Escola LOCAL: FACULDADE DE CIÊNCIAS AGROPECUARIAS DE PALMIRA - COLÔMBIA INSTITUIÇÃO: SECRETARIA DE INTEGRACIÓN POPULAR DE IA PRESIDENCIA DE IA REPÚBLICA, CENTRO DE INVESTIGACIÓN DEL BAMBU - CINBA AUTORES: ARQ. OSCAR HIDALGO LOPEZ DATA: 1978 FONTE: HIDALGO, (1978), HIDALGO, (1981) Introdução O Centro de Investigación del Bambu experimentou novas estruturas de co- UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 70 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO III - PGS. 47 A 76 diretamente sobre o solo. As primeiras peças de bambu foram fixadas no concreto atra- vés de esperas de ferro. Porém, pela dificuldade de execução, foram eliminadas as es- peras e o bambu foi apenas engastados no bloco de concreto. Na execução das sapatas, afim de evitar a penetração de água pela interface entre o bambu e o concreto, sugere-se que seja feita uma superficie inclinada com mate- rial impermeabilizante. Estrutura O sistema estrutural foi composto por 12 peças de diâmetro aproximado de 15 a 20 cm e de comprimento de 8,50 m, cuja interseção entre estas formaram-se 2 triângulos invertidos de base aproximada de 5 m. A circulação entre os pavimentos é feita através de uma escada de marinheiro. As ligações foram executadas através de parafusos galvanizados, sem a uti- lização de concreto no interior dos colmos; perfurados. Para a sustentação do piso fo- ram utilizados pilaretes de madeira e cunhas de madeira parafusadas na estrutura prin- cipal de bambu, servindo de apoio aos barrotes. A seguir foi fixado o assoalho de ma- deira. Utilizou-se nas ligações, peças de borracha entre os bambus e entre a arruela e o bambu, pois segundo SANSANO, os bambus não resistem a grandes impactos en- tre as peças, ou seja, não resistem a grandes esforços perpendiculares às fibras (baixa resistência ao cisalhamento), assim como, contato direto do parafuso com o bambu. Segundo SANSANO (1996), os orifícios e rachaduras nas peças de bambu devem ser preenchidos com silicone ou borracha, para evitar que os insetos penetrem pela camada mais resistentes do bambu. Deve-se manusear os bambus com muito cui- dado, pois uma vez fissurados começam os problemas. Cobertura A cobertura foi sustentada por 4 pilares de madeira 6 x 12 cm, apoiada em uma viga de 6 x 6 cm que trava a ligação da estrutura principal de bambu. Os caibros de madeira foram parafusados aos extremos dos bambus, com o auxílio de peças de ajuste de madeira fixadas no interior dos colmos de bambu. Vedação A vedação do pavimento térreo foi feita em alvenaria e argamassa armada. A tela de arame galvanizado foi fixada aos bambus por barras de ferro através da perfu- ração dos mesmos e rebocados com argamassa de cimento. Segundo o proprietário, alguns problemas foram detectados devido à seca- gem muito rápida da argamassa armada, em função da incidência direta do sol na face UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 71 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO III - PGS. 47 A 76 Norte, resultando fissuras, entre o bambu e o concreto, ocasionando a penetração de água no interior da construção. As fissuras foram preenchidas com uma faixa de material asfáltico, formando uma junta de dilatação. Não se constatou o mesmo problema na face sul. O fechamento do pavimento superior foi feito através de chapas de compensado e lambris de madeira. Esquadrias Esquadrias do pavimento térreo foram feitas com bambu e madeira. Os vi- dros foram encaixados em peças de madeira e fixadas por pequenas peças roliças de bambu. Tratamento As peças de bambu foram tratadas, por pincelamento, com Pentoxin e óleo Diesel. Constatou-se, durante a visita ao local, que algumas peças de bambu foram atacadas por cupim, indicando a insuficiência do tratamento por pincelamento. Da mesma maneira, notou-se que as peças de madeira foram atacadas primeiro do que as peças de bambus tratados. Devido as grandes irregularidades nas peças de bambu, pode-se prever difi- culdade na modulação e racionalização da produção, principalmente durante o proces- so de vedação, devendo-se, portanto, dedicar uma atenção especial ao desenvolvimen- to de detalhes de projeto que levem em conta os problemas de interface e de produção em larga escala. 3.9. Construção de um protótipo em São Carlos LOCAL: SÃO CARLOS - SÃO PAULO INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP, ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS - EESC, LABORATÓRIO DE MADEIRAS E ESTRUTURAS EM MADEIRAS - LAMEM AUTOR: ENG. CIVIL VALENTIN MAMANI CORDERO, PROF. TITULAR JOÃO CÉSAR HELLMEISTER (ORIENTADOR) DATA: DEZ 1/989 FONTE: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - MAMANI & HELLMEISTER, 1989 Introdução Este projeto foi elaborado e construído dentro do desenvolvimento da Disser- tação de Mestrado de MAMANI (1989), sob a orientação do professor titular João César Hellmeister, em 1989, na EESC-USP. O trabalho “Painéis de Bambu - Argamassa” teve dois objetivos: conhecer novas técnicas de sistemas construtivos utilizando bambu e estimular novas pesquisas para melhorar a utilização do mesmo como material para construção. Para a pesquisa utilizou-se basicamente 3 materiais: madeira, bambu e ar- gamassa. UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 72 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO III - PGS. 47 A 76 Protótipo O protótipo foi construido para avaliar um sistema construtivo em condições reais de ocupação, e analisar os problemas de bambu e argamassa, do ponto de vista tecnológico, morfológico e funcional. Os componentes foram parcialmente préfabricados no (LaMEM). A mão-de-obra foi constituída por carpinteiros, no Laboratório, e no canteiro, por um pedreiro e um servente. O volume de madeira serrada foi de 1,80 m3 de bambu, 3,50 m3 e de arga- massa 2,00 m3. A área total do protótipo foi de 18,00 m2. Tratamento Utilizou-se o método banho frio em tambor aberto em função do custo bene- ficio, empregou-se um preservativo hidrosolúvel classificado quimicamente como CCA tipo A (arseniato de cobre cromatado), em solução a 3%. 0 bambu adquiriu coloração esverdeada. 0 mesmo processo foi utilizado para madeira serrada. Fundação O alicerce foi feito com uma largura de 20 cm, profundidade de 40 cm e uma elevação do solo de 15 cm. A fixação dos painéis foi feita através de parafusos chum- bados, com esperas de 20 cm de comprimento, nos eixos de alicerce, com espaçamento de 1,50 m. Segundo MAMANI et ai. (1989) foi necessário a colocação de uma manta asfáltica. sobre o alicerce, para evitar a absorção da umidade do solo pelos painéis. . Estrutura O sistema estrutural foi formado por uma grelha de madeira de Eucalipto, semi industrializada (pré-cortada) e pré-fabricada. A grelha foi montada no chão, utili- zando montantes verticais a cada 55,00 cm de distância, com seções de 2,50 x 8,00 cm e comprimento máximo de 2,45 m. A ossatura dos paíneis é pregada em soleiras já fixadas sobre o alicerce através dos parafusos de ancoragem. Montagem dos painéis Foram preparados 6 painéis externos e 1 painel interno: 3 painéis cegos; 2 painéis de janela e 1 painel porta. A sequência de montagem destes painéis foi: 1. fixação das soleiras inferiores nos parafusos de ancoragem sobre o alicer- ce já impermeabilizado; 2. localização dos painéis; 3. fixação do 10 painel pelo canto oposto ao acesso; UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 75 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO III - PGS. 47 A 76 TABELA 1 - PESQUISAS DESENVOLVIDAS FORA DO BRASIL LOCAL INSTITUIÇÃO PROFISS IONAL PRODUÇÃO/ÁREA DE PE SQUIS A Colômbia - Bogotá 1.- Universidad Nacional de Colômbia Caracterização física e mecânica; 2. - Centro de lnvestigación dei Bambu Estudos sobre tratamento, espécies, cultivo, manejo e construções de habitações Caldas y Antioquia - Colômbia Arq. Jaime MOGOLLÓN Sebá e Arq. Guatavo DÍAZ Cardona Desenvolvimento de sistema construtivo. Implantação de conjunto habitacional Cali - Colômbia Eng. Ag. Ximena Londoño Estudo biológico dos bambus Caldas - Colômbia Arq. S imón V ELEZ Construção de alto padrão Manizales - Colômbia Instituto de Crédito Territorial Arq. M aria Eugenia Rojas de M. Arq. Gustav o Gusmán Rojas Arq. Jorge Humberto Arcila Lozada San José - Costa Rica Fundação National del Bambu Arq. Ana Cecília Chaves Desenvolvimento de sistema construtivo Univ ersidad de Costa Rica Eng. Arnaldo V indas Produção de 200 casas/ano Arq. Guillermo González Treinamento p/ técnicos e profissionais Eng. Arturo Venegas Estudo de propriedades físico/mecânica Eng. Francisco Rodrígues Pesquisa sobre preservação Eng. Andrei Bourrout V. Estudo de comportamento e capacidade estrutural dos componentes e ligações Caracas - V enezuela Arq. Fruto V ivas Habitação com bambu Tucumán - Argentina Univ ersidad Nacional de Tucumán Arq. Horácio Saleme Arq. S usana C. de Viruel Piura - P eru Grupo M ihras-Peru Arq. E milio LUISIONE Arq. E liseo Gusmán Negrón Arq. Antonio Augusto Bedrikow Ottawa - Canadá Internacional Dev elopment Research Centre - IDRC Gilles Lessard Caracterização física/mecânica International Union of Forestry Research Organizations - IUFRO Amy Chouinard Estruturas de bambu Hamburg - Alemanha International Union of Forestry Research Organizations - IUFRO Eng. W. Liese Anatomia do bambu Estudo sobre preserv ação Kassel - Alemanha Univ ersidad Kassel Eng. Arq. Antonio MARIDUE ÑA del Pozo Estudo de detalhes construtivos Modelos construidos Ensaio exp. em Estrutura espacial Ligações com metal Estudo de arcos Construção de protótipos Bhagalpur - Índia Bhagalpur College of Engieneering Eng. Mec. R. N. Das Ligações em treliças de bambu Dehradun - Índia Forest Reserarch Institute - ICFRE Eng. Harendra Nath Mishra Uso estrutural do bambu Prov íncia de Galera - Equador Unicef Arq. Jorge Moran Ubidia Desenvolvimento de sistema Tecno Habitat Ministério do Bienestar Social Guayaquil - Equador Univ ersidad Laica Vicente Racafuerte de Guayaquil Bambucreto Estudo de ligações Exp. C/ composição do reboco p/ painéis de bambu Projeto de detalhamento de ligações Eng. Jorge S alomán Hurtado Levantamento histórico da utilização do bambu na construção habitacional no Equador Portoviejo - Equador Arq. Abner Hernández Compilação de componentes construtivos Arq. Ana Lucia Gav iria Estudo de painéis Eng. Jorge V izcarra Torres Estudo do manejo correto dos guaduais Eng. Enrique Lozada Habitação rural Arq. Douglas Dreher A Desenvolvimento de sistema construtivo Arq. David Nuremberg Arq. Oscar HIDALGO Lopez Estruturas em bambu Desenvolvimento de sistema construtivo Desenvolvimento de sistema construtivo Arq. Antonio Loor S. UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 76 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO III - PGS. 47 A 76 TABELA 2 - PESQUISAS DESENVOLVIDAS NO BRASIL LOCAL INSTITUIÇÃO PROFISSIONAL PRODUÇÃO/ÁREA DE PESQUISA Bauru - São Paulo Universidade do Estado de São Paulo - UNESP Prof. Eng. Agr. Marcos Ant. Pereira Sistema de irrigação Construção habitacional Bauru - São Paulo Universidade do Estado de São Paulo - UNESP Prof. Eng. Agr. Marcos Ant. Pereira Tecnólogo mec. Ivaldo de D. Valarelli Tecnóloga mec. Geovanna F. Amorim Eng. Mec. Marcos T. Tibúrcio Belo Horizonte - Minas Gerais Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG Prof. Eng. L. Esutáquio Moreira Ligações estruturais Belo Horizonte - Minas Gerais Diretoria da Relevo - Consultoria e Projetos Arq. Denise Morado Estudo de ligações e estruturas espaciais São Carlos - São Paulo Universidade de São Paulo - USP e LaMEM Arq. Valentin Mamani Cordero Trabalho de aperfeiçoamento de sistemas construtivos Campinas - São Paulo Universidade de Campinas - UNICAMP Prof. André Munhoz A Ferrão Aderência do bambu no concreto e construções rurais Campinas - São Paulo Universidade de Campinas - UNICAMP Prof. Wesley Jorge Freire Prof. A L. Beraldo Campinas - São Paulo Instituto Agronômico de Campinas - IAC Eng. Agr. A Azzini Eng. Agr. Luiz A B. Salgado Assis - São Paulo Hélio de Souza Dias Construção habitacional Pindorama - São Paulo Artista plástico José Joaquim Sansano Construção habitacional Campina Grande - Paraíba Universidade Federal da Paraíba - UFPB Prof. Normando Perazzo Barbosa Fibras de bambu no concreto e na taipa Fortaleza - Ceará GRET - Groupe de Recherche e D'Echanges Technologiques Desenvolvimento de sistemas construtivos COHAB - Comp. De Hab. Do estado do Ceará Bambucreto Centro Internacional de Investigación y Aplicación tierra CRATerre America Latina Estruturas espaciais Governo do estado - Sec. De Des. Urbano e Meio Ambiente Lligações estruturais Rio de Janeiro - RJ Pontifícia Universidade Católica - PUC-Rio Prof. Eng. K. Ghavami Estruturas espaciais, Ligações estruturais e Bambucreto Rio de Janeiro - RJ Pontifícia Universidade Católica - PUC-Rio Prof. Arq. J. L. M. RIPPER Equipamentos para deficiêntes físicos Rio de Janeiro - RJ Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Arq. Regina Bienestein Habitação popular e taipa com bambu Projeto global: Estudo de aplicabilidade e desenvolvimento de técnicas de produção de produtos em forma de painéis, a base de bambu para emprego na indústria moveleira e na construção civil. Utilização de fibras de bambu e bambucreto Propagação, caracterização, aplicação e tratamento do bambu CAPÍTULO IV MEMORIAL DA CULTURA IN- DÍGENA UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 80 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO IV - PGS. 77 A 85 FIGURA 27 CONCRETAGEM DA BROCA FOTO: ARQ. RUBENS CARDOSO JR. FIGURA 28 SAPATA, EM CONCRETO APARENTE. FOTO: ARQ. RUBENS CARDOSO JR. zação do bambu na construção. 4.3 EXECUÇÃO DA OBRA. 4.3.1 FUNDAÇÃO E ESTRUTURA. A fundação é convencional, fei- ta na mesma inclinação da base da sapa- ta, isto é, num ângulo de 35o (figura 27 e 28), com brocas na profundidade de 3,5 metros, Ø 25 mm, ferragem em espiral. Como o prazo para execução e entrega da obra foi muito curto, não foi pos- sível fazer a envergadura do bambu (com areia e fogo), foi tentado fazer a curvatura no chão, utilizando-se para isto, estacas fincadas e concretadas, dando o formato desejado, após, com cabo de aço e para- fusos, forçar a inclinação. O bambu não re- sistiu a pressão e rompeu (figura 30). Para isto, foi desenvolvido uma luva metálica (fi- FIGURA 29 DETALHE DA TENTATIVA DE FORMAR OS ARCOS FOTO: ARQ. RUBENS CARDOSO JR. UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 81 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO IV - PGS. 77 A 85 FIGURA 30 LUVA DE UNIÃO E INCLINAÇÃO DA CALOTA. FOTO: ARQ. RUBENS CARDOSO JR. FIGURA 31 CALOTA (OCA MENOR). FOTO: ARQ. RUBENS CARDOSO JR. gura 29), na inclinação desejada, dando o devido formato nas varas de bambu, for- mando a calota (formato de oca indígena). (figuras 31) Nào houve tempo necessário para ensaiar esta luva e outros componen- tes metálicos, mas os cálculos e ensaios foram simulados no programa de compu- tador SAP 2000, pelo calculista. Os cálcu- los e ensaios para concreto foram execu- tados pelo programa de computador BUILDING S3. Os ar- cos foram monta- dos na superfície, e encaixados, na ex- tremidade inferior, a uma luva, em for- ma de cachimbo, aparafusada na sa- pata (figura32), e a extremidade supe- rior, em um arco metálico, (figura33) que também foi cal- culada à inclinação no ângulo desejado. Este arco metálico foi fixado em um único pilar central (figura 34), e recebeu todos os arcos, que foram sendo encaixa- dos nas luvas pré-dimensionadas (figuras 35 e 36). Como foi mencionado em capí- tulos anteriores, o bambu não aceita pre- UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 82 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO IV - PGS. 77 A 85 FIGURA32 LUVA METÁLICA EM FORMA DE CACHIMBO FOTO: ARQ. RUBENS CARDOSO JR. FIGURA33 ANEL METÁLICO FOTO: ARQ. RUBENS CARDOSO JR. FIGURA 34 ANEL METÁLICO FOTO: ARQ. RUBENS CARDOSO JR. FIGURA 36 ANEL METÁLICO, JÁ COM A FIXAÇÃO DAS VARAS DE BAMBU (ESTRUTURA) FOTO: ARQ. RUBENS CARDOSO JR. FIGURA 37 COLOCAÇÃO DOS PARAFUSOS. FOTO: ARQ. RUBENS CARDOSO JR. FIGURA 35 ANEL METÁLICO, JÁ COM A FIXAÇÃO DAS VARAS DE BAMBU (ESTRUTURA) FOTO: ARQ. RUBENS CARDOSO JR. go, pois suas fibras não resistem. Como se pode ver na figura 37, foi utilizado para- fuso de metro, para fixação de qualquer peça ou encaixe, entre as peças de bam- bu. A espécie utilizada na super es- trutura, flautas e vigas é do genero Dendrocamalus giganteus, nome vulgar Bambu Gigante, com uma média de diâ- metro entre 12 e 15 cm. Na cerca externa, a espécie é o Guadua angustifolius, com nome vulgar de Taquarussú, muito encon- trado em toda a região limitrofe ao panta- nal Sul Matogrossense e no mesmo.O bam- bu gigante nos foi fornecido por uma fazen- da próxima a Campo Grande, 22 km (Fa- zenda Jaraguá) e o taquarussú, de uma ci- dade distante 230 km de Campo Grande (Dourados). UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 85 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO IV - PGS. 77 A 85 FIGURA 45 - MONTAGEM DE FOTOS DOMEMORIAL DA CULTURA INDÍGENA. FONTE: ARQ. RUBENS CARDOSO JR. CAPÍTULO V OUTRAS APLICAÇÕES UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 87 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO V - PGS. 86 A 87 5. OUTRAS APLICAÇÕES A seguir, mostrarei algumas fotos, sem pretensão de querer “aumentar”este trabalho, mas para demonstrar até aonde pode ir a execução de objetos ou utilizades, com esta planta, que é uma “grama super desenvolvida”, demonstrando suas outras aplicações nos mais variados campos do conhecimento. 01 02 03 04 05 06 07 08 FIGURA 46 - MONTAGEM DE FOTOS 01 - SOFÁ FEITO COM BAMBU ROLIÇO (COSTA RICA 1999); 02 - LIGAÇÃO USANDO MADEIRA E RESINA EPÓXI (PUC-RIO 1998); 03 - ESCULTURA USANDO A RAÍZ DO BAMBU(COSTA RICA 1999); 04 - ENROLAGEM DE MOTOR ELÉTRICO, USANDO VARETAS DE BAMBU(CAMPO GRANDE 1998); 05 - ANDADOR PARA DEFICIÊNTE FÍSICO (RIO DE JANEIRO 1998); 06 - CAMA FEITA COM RIPAS DE BAMBU (COSTA RICA 1999); 07 - CERCA UTILIZANDO BAMBU ROLIÇO (CAMPO GRANDE 1999); 08 - AVIÃO “DEMOISELE”DE SANTOS DUMONT, FEITO COM BAMBU ROLIÇO (RIO DE JANEIRO 1999). FONTE: ARQ. RUBENS CARDOSO JR. UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 90 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO VI - PGS. 88 A 92 de melhor aproveitamento dos recursos naturais. De acordo com a produção científica, pode-se observar que muito tem sido pesquisado e publicado sobre o comportamento físico e as propriedades mecânicas do bambu, cada vez mais possível, fazer a comparção entre os resultados. Cabe uma me- lhor divulgação da potencialidade do bambu e incentivo para a capacitação e formação de profissionais aptos, tirando partido das caracteristicas favoráveis e suprimindo suas deficiências através da associação do bambu com outros materiais. Dentre os problemas existentes, para o desenvolvimento da tecnologia de utilização de bambu, os sequintes temas foram levantados: - Susceptibilidade ao ataque de insetos; - Aderência em revestimentos aplicados sobre bambu (impermeabilizaçào); - Heterogeneidade entre as peças visando a padronização e otimização do material, estudando as possibilidades de pré-fabricação de componentes construtivos, para a produção em larga escala, em especial para a produção de painéis; - Dificuldade na execução de ligações rigidas e estáveis, principalmente no uso do bambu estrutural. A partir da literatura apresentada no Capitulo Ill e IV, foi possivel extrair principais recomendações a serem consideradas na etapa de processamento, que se divide em: corte, secagem e tratamento. A partir da análise das soluções adotadas nos projetos selecionados, foram propostos parâmetros e/ou diretrizes de projetos para a produção de componentes cons- trutivos para habftação, abordando as diversas partes da construção: fundação; liga- ções estruturais; sistema de fechamento - painéis e coberturas. A diretriz a ser colocada para fundações é adotar soluções que evitem a as- censão da umidade do solo por capilaridade para as peças de bambu. Pode ser feita tradicionalmente, com sapata corrida de concreto ou blocos estruturais, tomando-se o cuidado de impermeabilizar, principalmente a face de contato dos painéis com a funda- ção; Quando se tratar de terrenos em dedive, utilizando como solução pilotis de bambu, estes devem ser engastados no concreto com sua extremidade impermealizada, cuidando para que na sua interface não ocorra o acúmulo de água; Ainda tratando-se de pilotis, estes devem receber uma maior atenção em relação à questão de tratamento, devendo serem tratados pelo processo mais eficiente possível e o projeto deve contemplar a possibilidade de manutenção. As observações feitas, em relação às ligações estruturais, referem-se à apli- UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 91 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO VI - PGS. 88 A 92 cação do bambu em estruturas em sua forma natural, ou seja, roliça. Em ligações parafusadas, deve-se evitar o contato direto entre as peças de bambu e, entre o bambu e o parafuso, para evitar fissuras e esmagamento, principal- mente em vigas, fazendo uso de segmentos de borracha ou silicone. Desta maneira evita-se, ainda, a penetração de insetos e água pelos orifícios deixados na colocação dos parafusos. Permite, também, ajustes maiores entre as peças de bambu, absor- vendo as variações dimensionais, provocada pela umidade. Recomenda-se também, enrijecer o interior dos colmos, nos pontos mais solicitados das peças, através de injeção de resinas ou concreto. No sentido de minimizar os custos, recomenda-se que seja utilizado madeira serrada somente na periferia da ossatura dos mesmos, facilitando ainda a fixação de um painel ao outro, devido a superfície aplainada. Os montantes verticais dispostos no inte- rior da ossatura, devem ser feitos de bambus roliços, proporcionando maior resistência, estabilidade estrutural aos painéis portantes e menor peso; Havendo a disponibilidade de espécies de bambu de grande diâmetro, para maior racionalização e rapidez de produção, recomenda-se a utilização de “esterilhas” de bambu para o fechamento dos painéis; As “esterilhas” devem ser fixadas com as faces internas voltadas para fora, pois é a face de maior aderência ao revestimento; A elaboração de gabaritos e guias para a montagem dos painéis é de grande importância na racionalização e padronização da produção em série; Para maior proteção da parte inferior dos painéis, pode-se aplicar materiais impermeabilizantes, junto a argamassa de revestimento; Em relação as instalaçães elétricas e hidráulicas, muitas vezes feitas nos es- paços vazios dos painés, recomenda-se que sejam feitas fora dos painéis como preven- ção a incêndios e para maior facilidade de manutenção. Dentro dos sistemas construtivos analisados, a forma mais empregada em coberturas é o bambu em forma roliça, seja na composição de pequenos módulos em tesoura, em estruturas espaciais, ou em terças e cáibros, e ainda, para grandes vãos possibilita-se adotar, entre outras, soluções em treliças planas ou espaciais. Outros exemplos encontrados na literatura, ainda tiram partido das caracteristicas de flexibili- dade do bambu em tiras, trançando-as e compondo diferentes possibilidade de curva em estrutura em “casca”. As “esterilhas” da mesma maneira, podem ser utilizadas como elemento de forro ou de base para receber argamassa de revestimento, deven- do esta ser devidamente impermeabilizada para atender aos requisitos de estanqueidade de uma cobertura. A tecnologia de utilização de bambu em construção tem a sua tradição consagrada em países Latino Americanos e Asiáticos, com patamar tecnológico consi- UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 92 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPÍTULO VI - PGS. 88 A 92 derável, entretanto no Brasil, ainda está para se desenvolver muitos aspectos, que se constituem em lacunas importantes - conhecimentos necessários para fornecerem sub- sídios técnicos para a plena aplicação deste material. Pretendemos que as informações obtidas com este trabalho, e agora divulgadas, possam servir para difundir os aspectos técnicos da utilização deste materi- al, seu uso correto e suas possibilidades. Entretanto, uma "cultura de utilização" só se cria, ou melhor, se difunde se for mais e mais explorada e exercitada. Para tanto, a con- tinuidade do estudo é premíssa básica. É claro que os conhecimentos obtidos devem ser ampliados. Materiais que possam ser utilizados em conjunto com o bambu devem ser ensaiados. Opções diversas das aqui apresentadas para o tratamento e a impermeabilização poderão ser de grande utilidade. Mas, como já citado, é hora do exercício e da experimentação. É hora de materializar, dar forma ao conteúdo e construir para quem precisa com este material, ao mesmo tempo simples e nobre. Uma conclusão ficou fortemente marcada: temos sim, uma alternativa viável e plenamente disponível, se não nova, renovada, revista, e acessível para colaborar definitivamente com um acréscimo importante na qualidade de vida do nosso meio. Arquiteto Rubens Cardoso Junior Agosto/2000 UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - 95 ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS - PGS. 93 A 100 BARMAK, H. (1938). Ensaios sobre o emprego do bambu em construções de concreto. 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