Baixe Ilustração do Ponto Ótimo de Corte de Milho para Silagem e outras Manuais, Projetos, Pesquisas em PDF para zootecnia, somente na Docsity! ISSN 1516-411X
CIRCULAR TÉCNICA Nº 23 Dezembro, 1999
Produção e uso de silagens para
alimentação de bovinos
Geraldo Maria da Cruz
Emiicpa
Pecuária Sudeste
Embrapa Pecuária Sudeste, Circular Técnica, Nº 23
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Cruz, Geraldo Maria da.
Produção e uso de silagens para alimentação de bovinos / Geraldo Maria da
Cruz. São Carlos : Embrapa Pecuária Sudeste, 1999.
23p.; 21em. — (Embrapa Pecuária Sudeste. Circular Técnica, 23.
1.Bovino — Nutrição — Alimentação — Silagem. 2. Bovino — Nutrição —
Alimentação — Silagem - Produção — Uso. |. Título. II. Série.
636.2084
(QEMBRAPA
Princípio Básico da Conservação de Alimentos
Todos os sistemas de conservação de alimentos são baseados
na inativação de enzimas e microrganismos. Ashbell (1994) cita sete
técnicas mais comumente utilizadas, apresentando também o seu mé-
todo de ação na conservação de alimentos. São eles:
1-Secagem - atua por meio da redução da atividade da água e do
aumento da pressão osmótica, criando então condição desfavorável
para atuação de enzimas e microrganismos;
2-Congelamento - interrompe a atividade enzimática e de
microrganismos, pela redução da temperatura e pela retirada de água
livre;
3-Adição de sal - atua por meio do aumento da pressão osmótica;
4-Adição de açúcar - idem adição de sal;
5-Radiação - atua por meio da inativação das enzimas e inibe atividade
de microrganismos;
6-Acidificação - atua por meio da redução do pH, que interrompe a
atividade enzimática e dos microrganismos;
7-Adição de químicos - atua por meio da inibição da atividade dos
microrganismos.
Definições e Escolha do Tipo de Silo
- SILAGEM - é o alimento produzido por meio da fermentação da
forragem com alto teor de umidade.
- ENSILAGEM - é o nome dado ao processo de produção de silagem,
envolvendo fermentação e estocagem de forragem verde.
- SILO - é a estrutura utilizada para conservar e estocar forragens
verdes para os ruminantes; pode ser do tipo horizontal itrincheira,
superfície, “bunker”) ou vertical (meia-encosta, torre e poço).
A escolha do tipo de silo a ser usado depende em parte da
topografia da propriedade rural e principalmente de características
inerentes ao tipo de silo. Fatores como facilidade de enchimento e
dificuldade de descarga ou vice-versa; perdas diferenciadas causadas
por dificuldade de compactação e maior área exposta (externa) por
tonelada de material ensilada são alguns exemplos. As perdas durante
a produção e a utilização de silagem e os custos da silagem produzida
e consumida, podem ser observados na Tabela 1.
TABELA 1. Perdas durante a produção, utilização e custos de produçã
de silagem
Tipos de Silo
Etapa Superfície Trincheira Meia-
encosta
Lavoura até 0 silo, em % 28 28 28
No silo (armazenamento), em % 28,7 15,2 88
Descarga e alimentação, em % 10,0 10,0 10,0
Custo final da silagem, sem perdas, 20.20 21.84 22.40
uUssA
Custo final da silagem consumida, 32.37 28.95 27.73
USsA
Fonte: Vilela et al., 1996a.
Ensilagem, então, é a forma de conservação de alimentos por
meio da acidificação. Esta preservação dos alimentos pode ser obtida
simplesmente pela adição de quantidades apropriadas de ácido, para
atingir o pH desejado. Outra possibilidade é mediante fermentação
em meio anaeróbico, fazendo com que bactérias (principalmente as
produtoras de ácido láctico) transformem os carboidratos solúveis em
ácidos orgânicos, abaixando o pH de aproximadamente 6,5 para 4,0.
Fermentação é um processo muito utilizado na indústria, para
produção de álcool, vitaminas, antibióticos, alguns derivados do lei-
te, chucrute, “pickles”, etc. Nas indústrias, comumente a matéria-
prima é esterilizada e uma cultura de microrganismos apropriada é
adicionada para se obter um produto final desejado. Na ensilagem de
forragens para produção de alimentos para ruminantes não é possível
esterilizar a forragem. Então temos que fornecer as condições ade-
quadas para o desenvolvimento de algum tipo de microrganismo e ao
mesmo tempo impedir o crescimento daqueles indesejáveis.
Etapas no Processo de Ensilagem
Às principais etapas no processo de ensilagem, segundo Ashbell
(1994), estão citadas a seguir, juntamente com os fatores que mais
influenciam o processo:
1-Produção da forragem e, ou obtenção de resíduos ou subprodutos;
2-Colheita;
2.1- Corte - altura de corte, estágio de maturidade e manejo;
2.2- Pré-secagem - se necessário e, ou possível;
2.3- Picagem - tamanho de partícula (regulagem das facas);
3-Adição de aditivos químicos e, ou biológicos;
4-Transporte e enchimento do silo - distância e duração do processo;
TABELA 2. Exigência mínima de carboidratos solúveis para
fermentação completa (% MS)
FORRAGEM ”
Teor de matéria seca Alfafa — Gramineas Milho
temperadas (planta inteira)
17 34 28 20
20 25 19 14
25 21 14 10
30 17 10 7
35 14 7 5
40 10 5 4
45 7 3 -
50 6 2 -
Teor de carboidratos 4-15 10-20 8-30
solúveis, % naMS
da forragem
Fonte: Ashbell, 1994.
A superioridade da planta inteira de milho verde, picada, como
forragem para produção de silagem em relação às outras forrageiras
apresentadas é evidente, sendo uma das principais razões da utilização
desta planta como padrão de qualidade de silagem. Pode-se observar
que o teor de carboidratos solúveis geralmente não limita a fermentação
quando da confecção de silagem de milho; contudo, forragens como
a alfafa e outras gramíneas temperadas (aveia, azevém) geralmente
necessitam de pré-secagem ou uso de aditivos para aumentar o teor
de matéria seca final, já que elas não possuem quantidade suficiente
de carboidratos solúveis quando seu ponto de corte (maturidade), do
ponto de vista nutricional, é o ideal.
o ponto ideal de corte das plantas de uma lavoura de milho para conservação na forma de silagem é ilustrada na Figura 1. Nota-se que o estádio ideal para ensilagem é o ponto farináceo passado, duro, com teor de matéria seca acima de 35%. Nas variedades e híbridos com IIstay-green" (planta permanece verde, enquanto a espiga já secou) acentuado, o teor de matéria seca é muito dependente da percentagem Estádios de desenvolvimento do milho DMS = Digestibilidade de MS CMSD = Consumo de MS digestível FIGURA 1 - Produção, digestibilidade e consumo de silagem de milho em função do conteúdo de matéria seca no momento do corte (Blaser, citado por Nussio, 1991). 12 de grãos na forragem ensilada. Pode-se observar na Figura 1 que para
teores baixos de matéria seca (< 30%), apesar de a digestibilidade da
matéria seca ser elevada (>70%), tanto a produção total de matéria
seca por hectare quanto o consumo de matéria seca ou o consumo de
matéria seca digestível são inferiores aos obtidos quando se colhe a
lavoura de milho com mais de 35% de matéria seca.
Outro aspecto negativo de silagens com baixo teor de matéria
seca é a produção de efluentes (perdas por lixiviação), conforme pode
ser observado na Tabela 3. Efluentes contêm elevadas concentrações
de carboidratos solúveis, ácidos orgânicos, macro e microelementos
minerais e nitrogênio não-protéico, que constituem perdas de nutrientes
altamente digestíveis, restando no silo um produto de qualidade inferior
ao material original.
Os efluentes de silagens possuem demanda biológica por oxigênio,
índice que mede a capacidade poluidora de fontes de água, de 90.000
mg de oxigênio por litro de efluente, valor 200 vezes maior do que o
das descargas domésticas.
TABELA 3. Produção de efluente e perdas de matéria seca por silagens
com diversos teores de matéria seca
Teor de matéria seca, % Produção de efluente, Perdas de
I4 silagem matéria seca, %
30 0 0.
25 5 04
20 so 1,6
15 200 7,2
Fonte: Ashbell (1994).
Fases de Fermentação no Silo
À necessidade do controle de qualidade da silagem advém
principalmente do entendimento das fases do processo de fermentação
no silo. Stoneberg et al. (1970) divide o processo de ensilagem da
planta inteira de milho verde, picada, em cinco fases distintas, como
mostrado a seguir:
Fase 1 - Fase aeróbica - o material é colocado no silo, as células ve-
getais continuam respirando, consumindo o oxigênio não re-
tirado após a compactação, havendo produção de gás carbônico
e calor. Como conseguência, a temperatura no interior do silo
aumenta de 20 para 32º, nas condições do Estado de lowa,
EUA.
Fase 2 - As bactérias produtoras de ácido acético iniciam o processo
de fermentação. Com a produção deste ácido, o pH declina
de 6,0 para 4,2.
Fase 3 - Fase de fermentação anaeróbica - as bactérias produtoras
de ácido láctico começam a atuar no terceiro dia, sendo que a
produção de ácido acético diminui rapidamente. Estas três
fases ocorrem nos quatro primeiros dias após o enchimento e
a vedação do silo.
Fase 4 - A produção de ácido láctico continua por aproximadamente
duas semanas a mais. À temperatura reduz lentamente para
28ºC, nas condições americanas. A ação bacteriana interrompe
quando o pH atinge valores pouco abaixo de 4,0.
16
Fase 5 - Fase estável - se todo o processo de ensilagem for feito
corretamente, a silagem manterá qualidade estável por um
longo período, principalmente se a vedação for correta e se o
pH abaixar rapidamente para valores abaixo de 4,0. Quando a
fermentação produzir quantidades insuficientes de ácido láctico
(condições de baixo teor de carboidratos solúveis, alta
umidade), haverá produção de ácido butírico (fermentações
secundárias) e proteólise intensa (degradação da proteína),
sendo que as perdas de matéria seca e de qualidade da silagem
poderão ser elevadas neste caso.
Alguns Resultados de Pesquisa sobre a Utilização de Silagens
O potencial de produção de leite com o uso de diversos tipos de
silagens fornecidas a vacas cruzadas Holandês-Zebu pode ser
observado na Tabela 5, enquanto que o daquelas fornecidas a vacas
puras da raça Holandesa está mostrado na Tabela 6. Nota-se que
foram obtidas médias de produção de leite de 10 a 15 kg/vacaídia nas
primeiras doze semanas da lactação, com suplementação diária de 4 a
6,5 kg de concentrado por animal para as vacas cruzadas H-Z (Tabela
5). A eficiência de conversão alimentar, em termos de quilogramas de
matéria seca ingerida por quilograma de leite produzido, variou de
0,91 a 1,16. Alguns fatores importantes que influenciaram esta
eficiência foram a qualidade dos alimentos, o potencial genético de
produção de leite das vacas cruzadas e a variação de peso vivo. É
conhecido o fato de vacas com potencial elevado de produção de
leite mobilizarem reservas corporais para aumentar a produção de
leite. Quando este processo de perda acentuada de peso vivo se
prolonga por muitas semanas, é comum ocorrer redução na eficiência
reprodutiva.
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18
É importante chamar a atenção para um ponto comum dos tra-
balhos de pesquisa com vacas cruzadas e puras Holandesas mostra-
dos nas Tabelas 5 e 6. Volumosos de qualidade inferior, quer sejam
silagem ou não, necessitam de consumo maior de concentrado para a
mesma produção de leite e a manutenção de peso vivo, evidenciando
conversão inferior, em termos de quilogramas de leite:quilograma de
concentrado ingerido.
Conclusões
A tendência do uso de silagens para alimentação animal é
crescente no mundo inteiro, devido principalmente à expansão da
cultura do milho, que é extremamente adaptada a ensilagem, e às
possibilidades de mecanização de todo o processo de produção de
silagem, com redução do uso de mão-de-obra, em relação a outras
formas de conservação de forragem.
A ensilagem tem conquistado mais espaço em relação à fenação
devido à melhor adaptação do primeiro processo (menores perdas) às
condições climáticas de verão.
O consumo voluntário das silagens é função do tipo de
fermentação ocorrida no silo e da qualidade do volumoso (matéria-
prima) ensilado, sendo fatores importantes, juntamente com o custo
do volumoso e do concentrado e do tipo de animal que fará uso
destes alimentos, para a decisão do planejamento da atividade leiteira,
do ponto de vista nutricional.
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