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Guias e Dicas
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Gestão de Trabalho e Humanização em Saúde: Reflexões sobre Transformação Cultural, Trabalhos de Administração Empresarial

Este artigo discute a importância da gestão de recursos humanos na área de saúde, enfatizando a necessidade de abordar a força de trabalho como um componente fundamental na produção de saúde. O texto aborda os desafios causados pela globalização e os efeitos negativos na força de trabalho, além da necessidade de humanizar a gestão e os processos de trabalho para melhorar a qualidade da assistência e satisfação do usuário. Ao longo do artigo, são discutidos os conceitos de ergologia, humanização e a importância de abordar a complexidade do trabalho em saúde.

Tipologia: Trabalhos

2010

Compartilhado em 15/05/2010

andressa-leite-4
andressa-leite-4 🇧🇷

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Baixe Gestão de Trabalho e Humanização em Saúde: Reflexões sobre Transformação Cultural e outras Trabalhos em PDF para Administração Empresarial, somente na Docsity! Rev Saúde Pública 2008;42(3):555-61 Ensaio | Essay Élida Azevedo Hennington Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas. Fundação Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro, RJ, Brasil Correspondência | Correspondence: Élida Azevedo Hennington Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas Fundação Oswaldo Cruz Av. Brasil, 4365 Manguinhos 21040-900 Rio de Janeiro, RJ, Brasil E-mail: elida.hennington@ipec.fi ocruz.br Recebido: 13/6/2007 Aprovado: 31/10/2007 Gestão dos processos de trabalho e humanização em saúde: refl exões a partir da ergologia Management of work processes and humanization in health care: an ergological perspective RESUMO A Política Nacional de Humanização preconiza a transversalidade na construção de redes cooperativas, solidárias e comprometidas com a produção de saúde, estimulando o protagonismo e a co-responsabilidade de sujeitos e coletivos. Dentro desse contexto, o artigo apresenta refl exão sobre a gestão dos processos de trabalho em saúde, tendo como foco os trabalhadores e as contribuições da ergologia para repensar a produção de conhecimento sobre o trabalho. Utilizou-se como referencial a abordagem ergológica de Schwartz e seu dispositivo dinâmico de três pólos, formado pelas disciplinas constituídas pelos protagonistas – os trabalhadores, e pelas exigências epistemológicas e éticas. Um dos pontos críticos da humanização no âmbito do Sistema Único de Saúde foi o pouco estímulo à inclusão e valorização dos trabalhadores da saúde. DESCRITORES: Humanização da Assistência. Recursos Humanos em Saúde, organização & administração. Gestão em Saúde. Sistema Único de Saúde. Trabalho. ABSTRACT The National Humanization Policy recommends that cooperative, interdependent networks that are committed to producing health be established horizontally, encouraging the protagonism of subjects and collectives and their co-responsibility. The present study addresses management of health care processes focusing on health care workers and the contributions of ergology to rethink work-related knowledge production. The study was based on Schwartz’s ergological approach and its “three-poled dynamic apparatus” comprising established disciplines, their protagonists – workers – and epistemological and ethical requirements. It was crucial to the Brazilian National Health System humanization to promote inclusion and appreciation of health workers. DESCRIPTORS: Humanization of Assistance. Health Manpower, organization & administration. Health Management. Single Health System. Work. 556 Gestão do trabalho, humanização e ergologia Hennington EA A globalização ocasionou efeitos diretos e indiretos na força de trabalho em saúde de muitos países, tornando a gestão de recursos humanos (RH) um desafi o mun- dial na atualidade. Muitos desses efeitos são refl exos do enxugamento do Estado e conseqüente corte em programas sociais e de saúde, entre eles citam-se: re- dução ou manutenção do contingente de trabalhadores em contexto de ampliação de demandas; deterioração das condições de trabalho e precarização do mercado; redefi nição do papel do Estado, atuando mais como regulador; e aumento da participação do setor privado na oferta de serviços. Deste modo, a força de trabalho é considerada nos dias atuais um componente fundamen- tal na gestão em saúde, exigindo mudanças no processo de desenvolvimento de RH. Tais mudanças incluem a modernização de sua abordagem e a superação dos modelos tradicionais da administração, posicionamento proativo de gestores e administradores, e comprometi- mento dos profi ssionais e diferentes setores em todas as fases de implementação das políticas de saúde.4,9,a,b O estudo da força de trabalho em saúde ganhou desta- que uma vez que a relação direta entre gestão de RH e efetividade dos sistemas de saúde tornou-se cada vez mais evidente. Todavia, apesar do papel fundamental desta força de trabalho, ainda muito pouco é conhecido sobre sua composição, treinamento e desempenho.4 No Brasil, apesar de signifi cativos avanços desde a efe- tivação do Sistema Único de Saúde (SUS) na década de 1980, ainda persistem problemas em sua consolidação em termos de eqüidade de acesso, qualidade de ações e serviços, utilização adequada de recursos e sustenta- bilidade. Considera-se que a melhoria do modelo de atenção requer mudanças do modelo de gestão, de modo que os sujeitos envolvidos – gestores, trabalhadores da saúde e usuários – assumam papéis de relevância, poten- cializando o estabelecimento de práticas humanizadas bem como a efi ciência e efetividade do sistema de saú- de. Dentre os entraves mais importantes nesse processo, estão os modelos de gestão centralizados e verticais, desapropriando o trabalhador de seu próprio processo de trabalho, impedindo ou difi cultando o protagonismo e a autonomia dos sujeitos envolvidos diretamente na execução das políticas e na produção de saúde. A Política Nacional de Humanizaçãoc,d (PNH), proposta pelo Ministério da Saúde em 2003, pretende ter caráter INTRODUÇÃO a Nogueira RP, Paranaguá de Santana J. Gestão de recursos humanos e reforma do setor público: tendências e pressupostos de uma nova abordagem. Annecy/ França;2000 [acesso em 10/05/07]. Disponível em: http://www.opas.org.br/rh/admin/documentos/ACF22.pdf b Organización Panamericana de la Salud, Organización Mundial de la Salud. Atención primaria de salud e desarrollo de recursos humanos. Madrid; 2003 [acesso em 14/05/07]. Disponível em: http://www.observatoriorh.org/esp/pdfs/human_resources_sp.pdf c Ministério da Saúde. Agência de Notícias Humanização. Brasília; 2007 [acesso em 20/05/07].Disponível em: http://portal.saude.gov. br/saude/area.cfm?id_area=390 d Ministério da Saúde. HumanizaSUS. Política Nacional de Humanização. A humanização como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS. Brasília; 2004. Disponível em: http://dtr2001.saude.gov.br/editora/produtos/impressos/folheto/04_0923_FL.pdf (Série B. Textos Básicos de Saúde) e Antunes R. Trabalho e estranhamento. Apêndice In: Antunes, R. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez; 1995. p.121-134. f Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar. Brasília; 2001. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pnhah01.pdf [Série C: Programas, Projetos e Relatórios, 20]. transversal, perpassando todos os níveis de atenção à saúde. A humanização é entendida como uma trans- formação cultural da atenção aos usuários e da gestão de processos de trabalho. O diferencial dessa política reside também na preocupação com a capacitação e o desenvolvimento dos trabalhadores do setor saúde, proporcionando condições adequadas para a execução das atividades laborativas e para que os que cuidam possam ter suas necessidades satisfeitas. Entende-se que por suas características peculiares, o trabalho em saúde pode ser tanto emancipador, trans- formador e produtor de sentido, como estranhadoe e produtor de sofrimento e desgaste. Conforme afi rmam Rigoli & Dussault13 (2003), os trabalhadores da saúde não podem mais ser considerados simplesmente “ins- trumentos” ou “recursos” na oferta de cuidados neces- sários, mas atores estratégicos que podem agir indivi- dual ou coletivamente infl uenciando na construção das políticas. Muitas são as questões ainda não resolvidas que cercam o ato de refl etir e operar sobre o trabalho em saúde. Repensar a gestão e os processos de trabalho e a tarefa de produzir saúde traz como conseqüência o maior entendimento desse elo vital na construção de uma rede de atenção humanizada e solidária. O presente ensaio apresenta uma refl exão sobre o tra- balho em saúde, buscando confrontar o pensamento do fi lósofo francês Schwartz15 e a temática da gestão dos processos de trabalho no contexto da política de humanização. Os aportes teórico-fi losófi cos do autor são articulados com os pressupostos da PNH, tendo como foco os sujeitos-trabalhadores da saúde e seu papel na implementação de práticas humanizadas no âmbito do SUS. HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE: UMA POLÍTICA, ALGUNS CONCEITOS Está em curso no Brasil a instituição da PNH, cujo prin- cipal antecedente é a Política Nacional de Humanização da Assistência Hospitalarf proposta pelo governo fede- ral em 2001. Conforme já mencionado, a PNH possui escopo ampliado e pretende reorientar as práticas em saúde em todo o País numa perspectiva de transver- salidade. A partir da democratização das relações de 559Rev Saúde Pública 2008;42(3):555-61 objetivos e também ressingularizações, e se traduz num jogo de reciprocidades entre o dizer e o fazer, que são dimensões essenciais da atividade humana “trabalho”. A atividade deve ser pensada como uma dialética entre o dizer e fazer, o geral e o singular, o micro e o macro, o local e o global, o objetivo e o simbólico; é lugar de debates e incertezas, de confronto entre normas ante- cedentes e renormalizações singularizadas pelos seres humanos. Desse modo, a atividade seria marcada por três características essenciais – transgressão, mediação e contradição –, e resultante do embate entre as normas precedentes e a ação, do modo como cada sujeito reela- bora o seu fazer a partir dos “usos de si” no trabalho e suas redefi nições no aqui e agora. O conceito de “uso de si” refere-se à atividade desenvolvida pelo trabalhador e seu investimento nessa realização, que envolve eleição e arbítrio entre valores diferentes e até contraditórios. A análise da atividade transcende limites sociais, tempo- rais, institucionais, tornando possível e desejável pensar suas circulações e reinvestimentos.19,20,22 Em relação ao pólo epistêmico, considera-se que os conceitos são necessários porém insufi cientes para compreender o trabalho. Uma análise da situação de trabalho não se sustenta partindo-se unicamente da neutralização de conceitos e nem daquilo que foi simplesmente prescrito. Isto se dá em decorrência do abismo epistemológico existente entre “trabalho real” e “trabalho prescrito”. Ou seja, o trabalho não é possível sem pré-conceitualização, porém é preciso mais do que normas e saberes antecedentes para enfrentar situações de trabalho. Assim, propor mudanças na forma de ser e de fazer o trabalho resulta na confrontação com o novo e com todo tipo de problemas que precisam ser geridos a partir daí. Evidencia-se desse modo a fl uidez do trabalho e a potencialidade do sujeito trabalhador: na possibilidade de novas organizações, da implemen- tação de modos originais de operar aquela realidade e da criação de novas entidades coletivas. A vida no trabalho permite a troca de saberes, as experimenta- ções, a confrontação com a descoberta, o inusitado. Pensar o trabalho é pensar o trabalhador-potência: o que transgride e também o que consegue superar difi culdades imprevistas.7,17 O trabalhador da saúde, ao mesmo tempo em que, no seu cotidiano, produz e se reproduz como força de trabalho e produz saúde a partir da atenção à saúde de outras pessoas, habita um espaço relacional e pluridi- mensional. Assim, o trabalho pode ser tanto produtor de saúde como de mal-estar e adoecimento, para si – tra- balhadores – e para os outros. Como objeto de estudo, o trabalho em saúde também coloca em foco a práxis na qual são produzidos, além de objetos e artefatos, produtos ou serviços no atendimento às necessidades humanas, valores que se incorporam à ação propria- mente dita.23 A imaterialidade do trabalho em saúde acentua contradições na produção de valores de uso e de troca no capitalismo. Nessa inter-relação, alteridade e dialogia inscritos no encontro do sofrimento e na produção de saúde, este trabalho se mostra particular ao lidar com o humano, capaz de originar sentimentos de prazer e satisfação e de engendrar padecimento e desgaste. O trabalho em saúde é resultado de situações que se traduzem em experiência e como qualquer outro evidencia as normas antecedentes e as renormalizações num movimento constante, individual e coletivo.20 Nenhum trabalho é mera execução, repetição de movimentos, gestos, seqüências de atividades ou operações previstas antecipadamente. Toda produção no trabalho é ressingularizada; é uma renormalização parcial em torno de si. Desse modo, a gestão do trabalho em saúde deve perceber o espaço do trabalho como aquele de transgressão, do debate entre a norma e sua renormalização. Não é possível controle e antecipação da totalidade de circunstâncias e peculiaridades de um trabalho como a atenção em saúde, bem como de nenhum outro. As “brechas das normas”16 colocam em evidência que sempre haverá a possibilidade da transgressão, a possibilidade de se tomar uma decisão, própria, pessoal e livre. O trabalho é um universo de microtransgressões; é o ambiente propício para ques- tionar o prescrito, o poder. Felizmente, essas “brechas”16 existem sempre, permi- tindo escolhas dos trabalhadores – seres pensantes e deliberantes. A saúde cessa de se manifestar quando, em qualquer medida, o meio intenta impor integralmente suas próprias normas. Apesar das várias tentativas de estabelecer protocolos e regras tão comuns à prática na área da saúde, a total padronização é meta inatingí- vel e a cotidianidade exige que as pessoas arbitrem e façam escolhas. Os trabalhadores pensam, se pensam e constroem novas realidades para agir e administrar situações. Instigante, difícil e indispensável é reco- nhecer, apreender e conviver com essa dinâmica na organização das práticas e serviços de saúde. Para uma aproximação da realidade do trabalho é preciso cons- truir dispositivos que permitam chegar o mais próximo possível da atividade, de avaliá-la e de reconhecê-la como ela é, o que implica reconhecer esses espaços de microtransgressões e rupturas. Sob a perspectiva ergológica, a pesquisa e intervenção no campo da gestão em saúde apontam a necessidade de refl exão a respeito de valores tomados em consideração no campo das microdecisões durante o curso da ativi- dade, além da dinâmica dos processos de trabalho e a noção de experiência e subjetividade dos trabalhadores. Recorrendo-se a Schwartz,14 deve-se reconhecer que a negociação dos “usos de si” é sempre lugar de uma “dramática”. Assim sendo, ao refl etir sobre a gestão e avaliação de competências no trabalho, Schwartz14 reafi rma toda abordagem nesse sentido como legítima e útil – um exercício necessário, no entanto, ao mesmo tempo, uma questão insolúvel – desafi ando o tempo todo novas inventividades. Nessa mistura, compete 560 Gestão do trabalho, humanização e ergologia Hennington EA tentar articular variados “ingredientes”: o geral e a singularidade humana, a formação, normas, atividades e valores, as ingerências do meio, os diferentes usos de si e a possibilidade de armazenamento na forma de patrimônio, a relação dialética permanente entre esses diversos elementos perpassada por confl itos e antagonismos, sem contar as qualidades sinérgicas emergentes e potencializadas pelas políticas de governo do trabalho.14 Hardt11 afi rma que a prestação de serviços, a comunica- ção e o processamento de informações tornaram-se es- senciais à produção econômica na contemporaneidade. As posturas ativas no trabalho, a troca de informações, o trabalho em equipe, a supremacia das atividades simbólicas e a valorização do trabalhador fl exível e polivalente tornam-se elementos fundamentais nos novos processos produtivos, fenômeno observado in- clusive na saúde. Nesse sentido, como trabalho afetivo ou imaterial, o trabalho em saúde ao movimentar afetos produz/reproduz subjetividades coletivas, sociabilidade e a própria sociedade. A passagem para uma economia informacional envolve necessariamente uma transformação tanto na qualida- de quanto na natureza dos processos de trabalho. Esta é a implicação sociológica e antropológica mais imediata da mudança de paradigmas econômicos. Informação, comunicação, conhecimento e afeto passam a desem- penhar um papel estrutural nos processos produtivos. (Hardt,11 1993:148) Ao refl etir sobre a evolução do papel do trabalho afe- tivo no capitalismo, Hardt11 reitera que a produção foi enriquecida pela complexidade da interação humana, na união entre ação instrumental e comunicativa, produ- zindo e reproduzindo afetos em redes de comunicação e cultura – subjetividades e sociabilidade tornam-se diretamente exploráveis pelo capital, afl orando o bio- poder. Desse modo, destaca-se o enorme potencial do trabalho afetivo, na medida em que “o que se cria nas redes de trabalho afetivo é uma forma-de-vida” (Har- dt11, 1993:154). O trabalho afetivo, incluindo o trabalho em saúde, transformou-se em alicerce necessário para a acumulação capitalista e a ordem patriarcal, possuindo, de outro modo, a produção de afetos e de subjetividades o potencial ontológico e biopolítico para o fomento de circuitos autônomos de valorização e, possivelmente, de liberação. Numa perspectiva ergológica, muito mais do que simples conformação de um perfi l de adoecimento e morte resultante da exploração da força de trabalho, o trabalho em sua complexidade pode e deve ser analisado e reconhecido numa perspectiva libertadora, no seu papel na vida das pessoas e na con- fi guração da defesa da vida. As lógicas de subordinação existem, porém jamais serão sufi cientes para aniquilar as subversões renormalizantes.7,18 CONSIDERAÇÕES FINAIS Schwartz21 considera que para gerir o trabalho na sua dimensão concreta de trabalho útil, – como hierarquiza- ção de atos e objetivos e tomada de decisões baseadas em valores–, é necessário fugir de procedimentos este- reotipados e a abertura do espaço das negociações dos usos de si – simultaneamente, usos de si por outros (das normas econômicas às instruções operacionais, dimen- sionadas por instâncias públicas ou privadas) e uso de si por si (o que revela compromissos microgestionários, articulados à experiência das situações de trabalho), na esfera individual e coletiva. Esses espaços das negocia- ções, geralmente mediados por instâncias negociantes de arquitetura coletiva, por sua vez se constituem em lócus de uma dramática referente à relação efi ciência- efetividade e que remetem a um campo de valores ab- solutos como, por exemplo, gozar ou restaurar a saúde. A gestão do trabalho é contínua e opera nos espaços implícitos e/ou explícitos de negociação. A humanização perpassa pela inclusão do trabalhador da saúde nesse processo transformador, numa articula- ção entre os pólos disciplinar, epistemólogico e ético e dos sujeitos. Assim, a gestão dos processos de trabalho como parte vital da política de humanização em saúde faz pressupor o conhecimento e a consideração não só das questões macrossociais, políticas e econômicas, mas também de saberes e fazeres produzidos e legitimados no cotidiano dos trabalhadores da saúde e na concretude de suas práticas, nesse espaço microtransgressor, fonte de criatividade e também de resistência. Deve-se pensar a produção de cuidados e práticas huma- nizadoras levando-se em conta as especifi cidades desse labor que envolve a utilização intensiva de capacidades físicas e psíquicas, intelectual e emocional, incluindo tro- ca de afetos e de saberes. O trabalho em saúde pressupõe patrimônio e demanda necessariamente a socialização, a cooperação e a conformação de grupos e redes. Some-se ainda as exigências contemporâneas de uma incessante e rápida incorporação de novos conhecimentos e tec- nologias e do desenvolvimento contínuo de habilidades comunicacionais e de manejo de informações. Isso sem contar a convivência diária com toda forma de sofri- mento e a profunda e irremediável implicação com o universo da saúde e da doença, da vida e da morte e as inevitáveis repercussões no corpo e na mente. Pensar o trabalho vivo, este estranhoa ao mesmo tempo fonte de sofrimento e de prazer e emancipação, requer um olhar arguto e inconformado. As especifi cidades e idiossincrasias do trabalho em saúde exigem ainda mais a ponderação de diferentes elementos como os processos de subjetivação dos trabalhadores em tensio- namento constante no âmbito de uma sociedade iníqua, a restrição dos espaços de negociação e de rupturas das normas num ambiente precarizado e as dimensões ético-epistemológicas de produção de saúde envolvidas no processo de saúde-doença-cuidado. a Antunes R. Trabalho e estranhamento. Apêndice In: Antunes, R. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez; 1995, p.121-134. 561Rev Saúde Pública 2008;42(3):555-61 1. Ayres JRCM. Sujeitos, intersubjetividade e práticas de saúde. Cienc Saude Coletiva. 2001;6(1):63-72. 2. Ayres JRCM. Hermenêutica e humanização das práticas de saúde. Cienc Saude Coletiva. 2005;10(3):549-60. 3. Ayres JRCM. Cuidado e humanização das práticas de saúde. In: Deslandes SF, organizador. 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Labirintos do trabalho: interrogações e olhares sobre o trabalho vivo. Rio de Janeiro: DP&A; 2004. p.23-36. 22. Schwartz Y. Actividade. Laboreal. 2005[acesso em 20/05/07]:1(1):63-4. Disponível em: http://laboreal. up.pt/revista/artigo.php?id=37t45nSU5471122912276 57511 23. Souza-e-Silva MCP. A dimensão linguageira em situações de trabalho. In: Souza-e-Silva MCP, Faïta D, organizadores. Linguagem e trabalho: construção de objetos de análise no Brasil e na França. São Paulo: Editora Cortez; 2002. p.61-76. 24. Teixeira RR. Humanização e atenção primária à saúde. Cienc Saude Coletiva. 2005;10(3):585-97. REFERÊNCIAS Financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científi co e Tecnológico (CNPq; Processo nº 471014/2007) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ; Processo nº E-26 170.823/2007).
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