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Ensaio Histórico sobre as Letras no Brasil (1847) - Francisco Adolfo de Varnhagen, Notas de estudo de Literatura

Ensaio Histórico sobre as Letras no Brasil (1847) - Francisco Adolfo de Varnhagen

Tipologia: Notas de estudo

2011

Compartilhado em 01/03/2011

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4.3

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Baixe Ensaio Histórico sobre as Letras no Brasil (1847) - Francisco Adolfo de Varnhagen e outras Notas de estudo em PDF para Literatura, somente na Docsity! 1 MINISTÉRIO DA CULTURA Fundação Biblioteca Nacional Departamento Nacional do Livro ENSAIO HISTÓRICO SOBRE AS LETRAS NO BRASIL [1847] Francisco Adolfo de Varnhagen Ao descobrir-se a América, ou antes, ao colonizar-se ela, durante o século XVI, achavam- se no seu maior esplendor as duas nações do extremo ocidental da Europa, que nisso se empenhavam: assim as línguas e literatura, sempre em harmonia com a ascendência e decadência dos estados, como verdadeira decoração que são de seus edifícios, tocavam então o maior auge. Com efeito, o castelhano e o português, que tiveram a sorte de passar primeiro que outras línguas do velho ao novo continente, subiam então pelas suas literaturas à categoria de línguas, graças ao impulso que lhes davam os respectivos centros governativos. O português poliu-se sem degenerar quase nada de sua filiação galego-asturiana, nem corromper o valor das articulações latinas. O castelhano, procedente da mesma filiação, só chegou àquele resultado, depois de arabizar-se muito, de adotar o gutural árabe, e de alterar insensivelmente outras articulações latinas. O português de hoje é o mais legítimo representante do antigo castelhano e do domínio romano na Espanha; e o castelhano moderno serve a comprovar quanto o domínio de uma nação estrangeira pode fazer variar um idioma já bastante formado. Mas, apesar desse polimento da língua e literatura portuguesa, na época em que se colonizava o Brasil, como se as letras se encolhessem com medo do Atlântico, não passam elas com os novos colonos. Não era no Brasil que os ambiciosos de glória tratavam de buscar louros para colher, pois que essa ambição elevada se satisfazia melhor na África ou na Ásia. Ao Brasil, ia-se [sic] buscar cabedais, fazer fortuna; e as miras do literáto alcançam mais alto, não é aos gozos, nem mesmo às glórias terrenhas a que aspira: é à glória imortal. Os troncos colonizadores não trazem, pois, da árvore-mãe seiva poética bastante para produzirem frutos com ajuda do clima e da terra. A atividade intelectual que emigrava da metrópole nem bastava toda para se estender pelos Algarves d’Além e pela Índia, onde feitos heróicos se passavam. Os acontecimentos, que na Ásia e na África se representavam, eram eternizados em versos por um Camões, um Corte-Real, um Vasco Mousinho; e em prosa por um Gaspar Corrêa, um Castanheda e um Barros. A única obra que nesse primeiro século se escreveu com mais extensão sobre o Brasil, só ultimamente se imprimiu: referimo-nos à do colono Gabriel Soares, cujo trabalho, feito em 1587, foi o fruto da observação e residência de dezessete anos na Bahia; tantos como como passara na Pérsia o naturalista Ctésias, que foi quem primeiro fez conhecer aos gregos as riquezas naturais da Ásia. Ao Brasil não passavam poetas; é, pois, necessário esperar que ele se civilize e que os poetas aí nasçam e vigorem seus frutos. Os indígenas tinham um gênero de poesia que lhes servia para o canto; os seus poetas, prezados até pelos inimigos, eram os mesmos músicos ou cantores que em geral tinham boas vozes, mas eram demasiadamente monótonos; improvisavam motes com voltas, acabando estas no consoante dos mesmos motes. O improvisador, ou improvisadora, garganteava a cantiga e os mais respondiam com o fim do mote, bailando ao mesmo tempo e ao mesmo lugar em roda, ao som de tamborins e maracás. O assunto das cantigas era em geral as façanhas de seus antepassados; e arremedavam pássaros, cobras e outros animais, trovando tudo por comparações, etc. 2 Eram também grandes oradores e tanto apreciavam esta qualidade que aos melhores faladores aclamavam muitas vezes por chefes. Os missionários jesuítas, conhecendo estas tendências, trataram de empregar a música e a poesia como meios de catequese. Nos seus colégios, começavam logo a ensinar a cantar aos pequenos catecúmenos filhos da terra e, mais tarde, compunham até comédias, ou autos sacros, para eles representarem; daí proveio o primeiro impulso da poesia e do teatro no Brasil. Assim, a respeito deste último, sucedeu neste país o mesmo que nos séculos anteriores se passara na Europa, pois, como é sabido, o teatro na Idade Média se conservou e se aperfeiçoou depois, ocupando-se exclusivamente de assuntos religiosos, como até se depreende da lei das Partidas. Na América Espanhola sucedeu diversamente. A Espanha não tinha Áfricas, nem Ásias, as suas Índias eram só as ocidentais. Do território hispânico não havia já mouros que expulsar e às Índias tinham de passar os que queriam ganhar glória. Assim, enquanto Camões combatia em África e se inspirava em uma ilha dos mares da China, Ercilla, soldado espanhol no Ocidente, deixava gravada uma oitava sua no arquipélago de Chiloe, e, quando Os Lusíadas viam a luz (1572), havia já três anos que corria impressa a primeira parte da Araucana. Os passos de Ercilla eram, no Chile, seguidos por Diego de Santistevan Osório e Pedro d´Oña (já filho d´América), que, em 1605, publicou em dezenove cantos o seu Arauco Domado. Já então se tinha organizado em Lima uma Academia Antártica e havia, na mesma cidade, uma tipografia na qual, em 1602, Diogo d´Avalos y Figueroa imprimiu sua Miscelanea Austral y Defensa de Damas, obra que faz lembrar a Miscelanea Antártica y origen de Índios, que o presbítero Miguel Cabello Balboa deixou manuscrita. Da mencionada Academia Antártica nos transmite, em 1608, os nomes de muitos sócios a introdução, feita por uma senhora, às Epístolas d´Ovídio, por Pero Mexia. Aí se mencionam, como mais distintos árcades, Mexia e os mencionados Oña, Cabello e Duarte Fernandes. Por esse tempo, compunha, também em Lima, fr. Diego de Hojeda a sua épica Christiada, publicada em 1611, e Fernando Alvarez de Toledo o seu Puren Indomito, que nunca se imprimiu. A regularmo-nos pelos tons dos cantos do berço, estes montuosos países da América Ocidental deveriam ter que representar um importante papel no desenvolvimento futuro da literatura americana. O México não deixava também de participar do estro ibérico, mas aqui, com ar de conquistador, e não com formas nacionais, como no Chile, onde o próprio poeta soldado é o primeiro, não só a confessar, mas até a exaltar generosamente as proezas do mesmo Arauco que ele combatia com armas. Com razão diz a tal respeito d. Gabriel Gomes: Al valiente Araucano Alonso venció y honró: la ira Recompensó la lyra. Nem sequer um canto de bardo se levantou a favor do, por enganado, não menos herói, tão simpático, Montezuma. Com o título de elegias canta Juan de Castelhanos, em milhares de fluentes oitavas, a história dos espanhóis que, desde Colombo, mais se ilustraram na América. Gabriel Lasso (1588) e Antonio Saavedra imaginaram epopéias a Cortez, mas foram tão mal sucedidos como século e meio depois o mexicano Francisco Ruiz de León. O pequeno poema Grandeza Mexicana, publicado no México em 1604 pelo ao depois bispo Balbuena, autor da epopéia El Bernardo, é, apesar de suas hipérboles e exagerações sempre poéticas, o primeiro trecho de boa poesia que produziu a vista desse belo país, que logo se começou a corromper: primeiro, com falsidades na guerra; depois, com a sede do ouro. Força é confessar que a obra de Balbuena é, de todas as que temos mencionado, a que mais abunda em 5 adiante trataremos com mais extensão. Desejáramos agora dar algumas amostras das primeiras cantigas religiosas, ensinadas pelos jesuítas, ou de alguma modinha das que devia de entoar a bela colona, sentada junto ao rio, a gozar da suave viração da tarde! - Mas só o tempo poderá recolher esses monumentos da primitiva poesia nacional. Quanto aos jesuítas, sabemos que, em 1575, fizeram representar em Pernambuco o Rico Avarento e Lázaro Pobre, que produziu o efeito de darem os ricos muitas esmolas. Nos anos de 1583 e seguintes não temos mais que ler a narrativa da visitação às diferentes províncias do pe. Cristóvão de Gouvêa, escrita por Fernão Cardim, para nos convencermos dos muitos progressos que haviam feito os discípulos dos jesuítas que, na Bahia, tinham já um curso d’artes e duas classes de humanidades. Na obra de Cardim se lê, também (pág. 30) como ouviram os índios representar um diálogo pastoril em língua brasílica, portuguesa e castelhana, língua esta que falavam com muita graça. Cardim nos dá notícia de uns versos compostos então ao martírio do pe. Inácio de Azevedo, além de muitos epigramas que se faziam sobre vários assuntos; também nos refere uma procissão das onze mil virgens em que estas iam dentro de uma nau à vela (por terra) toda embandeirada, disparando tiros, com danças e outras invenções devotas e curiosas, celebrando depois o martírio dentro da mesma nau, descendo a final uma nuvem do céu, e sendo as mártires enterradas pelos anjos, etc.; também o mesmo descreve a representação de certo diálogo (que se julgava composto por Álvaro Lobo) sobre cada palavra da Ave-Maria. Os escassos fragmentos que chegaram a nós de poesias principalmente religiosas em língua guarani não pertencem à presente coleção. Das modinhas, poucas conhecemos e, essas, insignificantes, e de época incerta, a não ser a baiana: “Bangué, que será de ti!” glosada por Gregório de Mattos; essa mesma sabemos ser antiga, mas não foi possível alcançá-la completa. Não deixaremos de comemorar a do Vitu, que cremos ter o sabor do primeiro século da colonização, o que parece comprovar-se com ser em todas as províncias do Brasil tão conhecida. Diz assim: “Vem cá Vitu! Vem cá Vitu! - Não vou lá, não vou lá, não vou lá! - “Que é dele o teu camarada?” - Água do monte o levou: - “Não foi água, não foi nada, Foi cachaça que o matou” Igualmente antiga nos parece a modinha paulista: Mandei fazer um balaio, Para botar algodão, etc. Cabe agora ocupar-nos do primeiro poeta que se fez notável no Brasil. Foi o satírico Gregório de Mattos, que já em Coimbra, onde se formou, e depois em Lisboa, nas Academias dos Singulares e na dos Generosos, a que pertenceu, começara a manifestar as tendências de seu gênio. Passando ao Brasil, terra que, segundo ele, o criara para “mortal 6 veneno”, o descontentamento e mal-estar o irritaram a ponto tal que, em vez de satírico, era muita vez insolente. Se nas descrições das festas ou caçadas, em geral demasiado prolixas, nos entretém e diverte, nas sátiras pessoais temos sempre que lamentar que o poeta ultrapasse os limites da decência e que, algumas vezes, deixe de ser cavalheiro. A maledicência que emprega contra o governador Antônio Luís, a par dos elogios que de sua administração nos deixou Botelho, e principalmente Rocha Pitta, fazem acreditar, que não a justiça, mas a vingança o movia contra esse representante do poder. Poderíamos, acerca dos seus versos satíricos, dizer o que de outras cantigas análogas diz um ilustre contemporâneo: - “Eram verdadeiros fascininos [sic]; eram jambos de Arquiloco refinados; eram estocadas de varar até as costas, e catanadas de abrir em dois até aos arções; iam os nomes estendidamente; iam pelo claro as baldas públicas e secretas, até os defeitos involuntários: os do corpo e os da geração, isto tão sem resguardo nos termos, que até as obscenidades se despejavam com um desembaraço digno de Catulo, Marcial ou Beranger.” Mattos, pelas tendências do seu caráter, fez-se, não discípulo, mas escravo imitador de Quevedo, portanto, assim como sucede a este, se muitos lhe acham graça e chiste, outros o acharão em oposição com o decoro de engenho, em vez de senhor e gracioso; o encontrarão truão e chocarreiro; quando quer ser filósofo, o acharão cínico. Como de Quevedo, o estilo é cortado e desigual; a par de um belo conceito, traz Mattos uma sandice, um disparate ou uma indecência. Sua imaginação era talvez viva, mas descuidada. O seu gênio poético faísca, mas não inflama; surpreende e não comove; salta com ímpeto e força, mas não voa nem atura na subida. Com Quevedo e com os poetas portugueses dessa época, cultiva os assoantes, sobretudo nos romances. Os espanhóis ainda hoje em dia conservam essa meia rima; em português, foi ela inteiramente abandonada e, quanto a nós, com razão. Não é este o lugar mais apropriado para entrar na questão da conveniência ou não conveniência do uso dos assoantes na poesia portuguesa; harmoniosa e bela é a nossa língua para, no heróico elevado, contentar-se com o solto. Os redondilhos, que são para poesia menos elevada, tornam-se monótonos se a rima os não abrilhanta e, nos líricos menores, até às vezes se requer que aquela seja aturada. Só aos ouvidos mais delicados é dado apreciar a arte do assoante e, por esta razão, nunca ele será popular. Das poesias, que damos por litigiosas, entre os dois irmãos Mattos, confessamos que nos inclinamos a que sejam pela maior parte de fr. Eusébio. Há nelas em geral mais unção religiosa e mais viva crença, que é natural ao gênio do poeta satírico. Quando muito, será de Gregório a glosa à Salve-Rainha, entretenimento semelhante ao de Quevedo, glosando o Padre- Nosso. Seguia-se neste lugar tratarmos de um poema descritivo dos sertões brasileiros - O Descobrimento das Esmeraldas - obra composta em 1689 por Diogo Grasson Tinoco e da qual era herói Fernão Dias Paes. Infelizmente, de tal poema não conhecemos mais que as estâncias 4a , 27a , 35a e 61a, que Cláudio Manuel da Costa transmite nas notas da sua Vila Rica. Fazemos votos para que o manuscrito que possuiu Cláudio ou algum outro venha a aparecer em Minas e seja dado ao prelo. Bernardo Vieira Ravasco, filho da Bahia, irmão do padre Antônio Vieira, deixou muitas poesias manuscritas, mas parece haverem-se perdido. Outro tanto terá sucedido aos Autos Sacramentais que compôs seu filho, Gonçalo Ravasco, e à comédia A Constância e o Triunfo, de José Borges de Barros, ao depois vigário-geral da Bahia. Fazemos aqui, muitas vezes, resenha destas obras, que não conhecemos, para chamar sobre elas a importância a fim de que se publiquem, se se chegam a encontrar. Manuel Botelho de Oliveira foi o primeiro brasileiro que, do Brasil, mandou ao 7 prelo um volume de poesias. Aí confessa ele a existência de outros poetas que haviam [sic] então no Brasil, e são seguramente, esses contemporâneos, de cujas poesias apenas se conhecem os títulos. Botelho de Oliveira talvez nascesse poeta, e não lhe falta imaginação, como se conhece quando segue sua natural inspiração, nos momentos em que não quer ser demasiado culto - como então se dizia - e nós hoje diríamos contorcido. O pior que ele fez foi querer demasiado imitar os poetas de Itália e Espanha (expressões suas) dessa época, pois, insensivelmente, toma por modelo a Gôngora, e Gôngora, apesar do seu grande talento, nunca podia imitar-se, pois coisas que ele diz, só ele as sabia dizer com arte. Botelho tinha nímia erudição para poder obedecer sempre às próprias inspirações e encher todo o seu extenso volume da Musica do Parnasso (que à imitação talvez de d. Francisco Manoel dividiu em choros), com mais composições semelhantes à silva, em que descreve a pitoresca ilha baiana da Maré. Quis passar pela vaidade de compor nas quatro línguas, portuguesa, castelhana, italiana e latina, e melhor fora ter-se estreado em uma bem. Ao seu castelhano, falta-lhe sempre o jeito de tal, nem que escrevesse primeiro em português e, depois, lhe cambiasse as terminações. No italiano e latim, a dificuldade da empresa prendeu-lhe a veia poética. Nas suas obras, se compreendem duas comédias, uma das quais Hay amigo para amigo já antes fora publicada anônima entre as Famosas. É o título da outra - Amor, enganos y zelos - três inimigos da alma, diz a comédia, que se dão nos amantes e no mundo todo. O enredo destas duas composições é mui insignificante, nem sequer o autor soube para elas inspirar-se com os socorros de Calderón e outros poetas dramáticos dessa época. Em ambas, fala-se de amor e mais amor, mas em ambas há pouca paixão. Na primeira, um amigo cede a outro a dama, por quem ambos estavam apaixonados. Nota-se, de uma e outra, que o autor possuía muito pouca arte, ou pouco conhecimento deste gênero de literatura dialogada; em vez de pôr em diálogo o que lhe convém, tira-se de cuidados e manda muita vez cada qual à cena dizer o que lhe aconteceu e o que intenta fazer. Além disso, as jornadas ou atos são, em geral, demasiado extensos. Em defensa, porém, do autor, cumpre-nos dizer que ele, por certo, nunca destinou para o teatro estas composições, a que chama Descante cômico reduzido em duas comédias, título que lhe quadra, pois vê-se uma certa forma para servir de pretexto a dizerem-se, segundo o gosto da época, descantes de trocadilhos e conceitos amorosos ou com pretensões de tais, pois mal das finezas amatórias que não foram inspiradas em algum sentimento ou alguma reminiscência da paixão do amor. Se existiu deveras a Anarda de Botelho, duvidamos que se enternecesse com tais declarações desenxabidas. Além da silva, acima mencionada, das comédias e das poesias amorosas, deixou-nos Botelho várias canções, um panegírico em 34 estâncias ao marquês de Marialva, que nos parece digno, com mais algumas outras suas composições, de ser condenado, para nos servirmos de uma expressão querida na época em que ele viveu, a afogar-se no Lethes. Quase contemporâneo a Botelho de Oliveira deve ter sido o autor que, no Florilégio, designamos pelo nome de Anônimo Itaparicano e hoje temos a certeza que era o pe. fr. Manuel de Santa Maria Itaparica, da ordem seráfica, e que ainda vivia em 1751, em que consagrou várias composições aos funerais do rei d. João V. Filho da baiana ilha de Itaparica, não só disso se prezou no seu nome, como nos seus versos, por pouco merecimento que se encontre nessa descrição da ilha de Itaparica. O Eustaquidos, tão recomendado pelo assunto e que tem sido escolhido para empresa de mais de um poeta, contém algumas belas oitavas, não inferiores às do moderno poema castelhano do pe. fr. Antônio Montiel , que começa com as três belas oitavas seguintes: Divina Musa, inspira favorable Conceptos à mi mente confundida: Dime, ¿ quien fue el varon inimitable, Que en paz y guerra, en la muerte y vida, 10 Academia de História que se criara em Lisboa, em 1720. Daquela Academia chegou a fazer memória o Mercúrio histórico de França, desse mesmo ano, mas os trabalhos delas eram de pouca importância, a regularmo-nos por alguns manuscritos que foram parar à biblioteca dos frades da Alcobaça e [que] tivemos ocasião de consultar, a saber: dissertações dos desembargadores Luís de Sequeira da Gama e Caetano de Brito e Figueiredo, outra do dr. Inácio Barbosa Machado e uma sobre a história eclesiástica do acima mencionado Gonçalo Soares da Franca. Já que falamos da Academia de História, cumpre dizer que dela foi sócio o baiano Sebastião da Rocha Pita que, em 1730, publicou uma História do Brasil que se recomenda pela riqueza das descrições e elevação do estilo que, às vezes, são tais que mais parecem de um poema em prosa. Antes tinha dado à luz vários escritos e composto poesias, pelas quais pouco se recomenda o autor baiano. O pe. João de Mello, jesuíta pernambucano, também publicou, em 1742, um livrito de poesias que apenas tivemos ocasião de ver. O mesmo nos sucede com as do fluminense Manuel José Cherem, publicadas em Coimbra e com o culto métrico à Senhora da Conceição, do Secretário de Estado do Brasil, José Pires de Carvalho. Todas três possuía um amigo nosso, portuense, mas não nos foi possível obter dele que no-las remetesse para nos servirem nesta notícia. Mais felizes fomos com impressos de fr. Francisco Xavier de Santa Teresa, da Academia de História, e das dos Aplicados, mas estas, exclusivamente panegíricas, de um bispo do Porto e de um dos duques de Cadaval nada teriam com o Florilégio. É, porém, para sentir que em Olinda já em tempo de Jaboatão não se achassem os manuscritos do poema ao Espírito Santo e a tragicomédia de Santa Felicidade e seus filhos, por cujas obras poderíamos ajuizar do gênio do poeta. Este escritor baiano era tido por bom pregador. Do genetlíaco, composto a uma senhora, pelo pernambucano Manuel Rodrigues Corrêa de Lacerda, dos escritos do cônego João Borges de Barros, nada podemos aventurar. O livro deste último, Relação Panegírica, dos funerais (que consagrou à Bahia) à memória de d. João V, contém muitas poesias de brasileiros, as quais excluímos da nossa coleção, não por falta de merecimento, mas por julgá- las só próprias de uma Miscelânea. Na cidade do Rio de Janeiro, onde, em 1735, se tinha começado a organizar uma sociedade literária, que não vingou, volveu-se, em 1752, a tratar de outra que chegou definitivamente a organizar-se, com o nome de Academia dos Seletos. O mesmo sucedeu mais tarde, no vice-reinado do marquês do Lavradio, à Sociedade Literária, que, sob seus auspícios, se criou. Cinco anos antes da fundação da Academia dos Seletos, em 1747, fora aí estabelecida, por Antônio da Fonseca, uma tipografia em que se imprimiu uma pequena relação composta por Luís Antônio Rosado e também, segundo se crê, o livro Exame de Artilheiros, do lente da Escola militar, José Fernandes Pinto Alpoim. Esta tipografia emudeceu logo, ou porque a fizeram calculadas medidas de uma política desconfiada, ou porque não poderia por si mesma sustentar- se, o que não é para crer, quando tantas outras havia já em várias cidades, muito inferiores da América Espanhola. O Rio, pelo seu comércio, pelo talento de seus filhos, patenteado em Coimbra, e sobretudo por se achar mais central para acudir de Pernambuco à Colônia do Sacramento, já tinha sobre a Bahia uma grande preponderância quando, em 1763, o marquês de Pombal para ali transferia a sede do vice-reinado. Mas foi mais que tudo a província de Minas que (por ser pátria de uns literatos e residência de outros) imprimiu um novo e grande impulso na regeneração da literatura brasileira. Se esta nascera da atividade de uma guerra de armas, agora, um século depois, outra guerra com os elementos, com as brenhas e entranhas da terra para extrair-lhe o ouro nelas escondido, produziu a regeneração literária que já traz em si mesma o cunho de ser nascida daqueles sertões do coração do Brasil. Eram filhos dessa província, mas dela ausentes, José Basílio e Durão; eram nela 11 nascidos e achavam-se aí residentes, Cláudio e Alvarenga Peixoto; Gonzaga desempenhava o lugar de ouvidor em Vila Rica; Silva Alvarenga vivia no Rio de Janeiro; o irmão deste, e Antônio Caetano de Almeida, irmão de José Basílio, também: todos formavam uma espécie de Arcádia, que se chamou Ultramarina. Se bem [que] destes poetas, Cláudio é o mais antigo, trataremos antes dos ausentes, não só por darmos notícia de suas epopéias de assunto brasileiro, como por deixarmos ou [sic] outros para os atender, conjuntamente, nos fatais acontecimentos posteriores. E primeiro trataremos de José Basílio e do seu Uraguay. Esta epopéia é das modernas de mais merecimento, se bem que o autor, com pressa, não lhe desse todo o desenvolvimento. José Basílio tinha-se familiarizado muito com a literatura clássica e italiana e deixou nisso freqüentes reminiscências, espalhadas pelo poema. O autor do Uraguay, principalmente, se extremou pelo talento da harmonia imitativa, pelo mecanismo da linguagem, sabendo sempre adotar os sons às imagens. Às vezes, faz correr os versos fluidos e naturais, outras, como nas falas de Cacambo, demora no verso de propósito, porque deseja representar distância, sossego ou brandura. Se a imagem é audaz e viva, como quando fala Cepé, faz precipitar os versos; até diríeis que em casos duros e de batalhas, etc., sabe fazê-los roçar asperamente uns com outros. Durão deixou-nos o Caramuru. Este poema, mais acabado que o anterior, é de fácil e natural metrificação, dicção clara e elegante, nele o poeta, só pelo seu gênio, conseguiu fazer herói um indivíduo que estava longe de o poder ser. Entretanto, cumpre dizer que, se da Ilíada se colhem estímulos de valor, se a Eneida comove à piedade, se o Orlando inspira sentimentos de cavalheirosa abnegação, se os Lusíadas exaltam o patriotismo e a Jerusalém é um modelo de prudência e conselho, o poema Caramuru oferece um tipo de resignação cristã e de virtudes conjugais. O Caramuru ganhará, de dia para dia, mais partido e chegará, talvez, a ser um dia popular no Brasil. Cláudio deve considerar-se o primeiro poeta mineiro, por direitos de antigüidade, pois já em 1751, em Coimbra, começou a imprimir algumas poesias; depois de ir a Minas, serviu de secretário de Governo, correu os sertões com o governador Lobo e foi protegido do conde de Valadares. Deixou-nos Cláudio mais de cem sonetos, vinte églogas, muitas epístolas, alguns epicédios e romances líricos e um heróico, alem de cantatas e cançonetas em italiano; pulsou a lira, orçando pelo sublime na sua saudação à Arcádia Ultramarina, mas no poema Vila Rica não acertou bem com a embocadura da trombeta épica. Nos sonetos, faz, muita vez, recordar a Petrarca. As suas églogas parecem em tudo modeladas sobre as de Garcilasso. Era Cláudio, como este, exato na impressão e, como ele, amante da literatura italiana. Mais delicados e ternos que sublimes, um e outro eram como nascidos para égloga e elegia. As obras de Cláudio devem estudar-se como modelos de linguagem; e, porém, de temer que o gênero bucólico, em que mais abunda, venha a convidar poucos à sua leitura. Alvarenga Peixoto era dotado de grande gênio poético e o pouco que dele nos resta é bastante para lamentarmos que nos não deixasse muito mais ou, por ventura, que não apareça o mais que comporia. O seu canto genetlíaco em 19 estâncias e a magnífica composição com que convida d. Maria I a passar-se à América são, por si sós, bastantes para lhe tecer eterna coroa de poeta. Gonzaga, cuja Marília de Dirceu já vai sendo traduzida em todas as línguas, acabando de sê-lo em castelhano, a rogo nosso, pelo amigo Sr. d. Enrique Vedia, distingue-se pela ternura dos afetos e pela naturalidade da versificação. Ninguém como ele, a nosso ver, tirou tanto partido para expressar seus sentimentos, de tudo quanto o rodeava, inclusivamente na prisão, com a imagem da morte perante os olhos. 12 Se Gonzaga (Dirceu) nos deixou um cancioneiro por nome Marilia, temos outro de Silva Alvarenga (Alcindo) intitulado Glaura. À maneira de Petrarca, um e outro constam de duas partes: no primeiro, canta o poeta os seus amores, na segunda, chora a perda deles: Dirceu, pela sua prisão e desterro; Alcindo, como Petrarca, pela morte do objeto amado. Silva Alvarenga, a quem devemos os melhores ensaios, feitos de intento em um gênero erótico novo, tinha grande amor à poesia e elevadas ambições de poeta. É correto na linguagem, poético nas imagens, natural, sensível e melodioso nas redondilhas, mas nem sempre altíloquo no heróico. Seus ensaios eróticos de cor americana perdem por monótonos e convertem, às vezes, o poeta num namorado chorão e baboso. Seu irmão, João Inácio, passava por ser o autor da famosa ode a Albuquerque que, ultimamente, se deu de presente (não sabemos com que fundamento), a Vidal Barbosa. Do irmão de José Basílio da Gama, nada podemos dizer, por não conhecermos composição alguma sua. O governador Luís da Cunha de Menezes não soubera ganhar as simpatias da capitania, cujo governo lhe fora confiado em 1783. O seu gênio vaidoso, os seus erros administrativos e o prestar-se ele em pequenas coisas ao ridículo, deram assunto para a violenta sátira que, em novo epístolas, chamadas Cartas Chilenas, contra ele escreveu um dos poetas de Vila Rica. A facilidade da metrificação, a naturalidade do estilo e a propriedade da linguagem fariam atribuir esta obra a Cláudio, a não desmentirem da sua pena, algumas expressões chulas e pouco decorosas. Tão pouco nos atrevemos a atribuí-las a Alvarenga Peixoto, de quem nenhuns versos possuímos deste gênero. É, porém, sem dúvida que tais versos eram de pessoa exercitada em o fazer e não havia então em Minas poetas neste caso mais que os dois e Gonzaga, que fica excluído, por se falar dele nas mesmas cartas. As epístolas supõem-se dirigidas por Critilo a um Doroteu (Teodoro?) que estava na Corte. Correm precedidas de uns versos de outro autor que, em certo lugar, nos previne a favor da nomeada de Critilo como escritor conhecido. Não faltam nas cartas verdades que deviam de ser duras aos ouvidos, não só do governador presente, como até de todos os mandões maus que lhe sucedessem. A sátira foi escrita provavelmente em 1786, isto é, depois das festas, por ocasião dos casamentos dos infantes de Portugal e Espanha. As cartas chilenas, que melhor podemos chamar mineiras, são o corpo de delito de Cunha de Menezes, cujo desgoverno foi a origem da primeira fermentação em Minas, para a conspiração em que apareceram complicados como chefes e cabeças os poetas de que ultimamente fizemos menção, Cláudio, A. Peixoto e, em aparência, Gonzaga. Talvez nenhuma outra história literária ofereça a novidade de se ver assim inseparável de uma conspiração política em que, segundo parece, tiram os poetas a principal parte. Em 1788, sucedeu a Menezes no governo o visconde de Barbacena e, à sua chegada, correu voz de que ia forçar a capitania ao pagamento de 700 arrobas de ouro que ela devia pela lei da capitação. Entretanto, as idéias de conspiração e revolução, originadas no governo anterior, haviam amadurecido e a notícia de que se ia violentar o povo e satisfazer aquele tributo fez-se espalhar como conveniente para fazer rebentar a revolução que os conspiradores imaginavam teria tão feliz êxito como a que se acabava de levar a efeito nos Estados Unidos, graças à grande proteção que estes encontraram da parte da França e Espanha contra a Grã- Bretanha. Alvarenga Peixoto estava entusiasmado pelo futuro da nova nação; improvisou-lhe a bandeira e propôs as providências que deviam adotar para criar partido e para resistir à guerra que, infalivelmente, dizia ele, com razão, devia ter lugar. Mas, como sucede tantas vezes, alguns conspiradores converteram-se em delatores. Antes de rebentar a revolução, foram todos os suspeitos réus presos e depois julgados. Cláudio matou-se no cárcere, enforcando-se com uma liga. Alvarenga Peixoto foi sentenciado à morte, e Gonzaga, talvez inocente à conspiração, a 15 é dizê-lo, que às vezes o imitou, na graça e naturalidade que chega a iludir-nos. Ao fazermos menção de Minas nesta época, é impossível deixar no olvido a exata e ingênua descrição desta província, feita em quadras pelo alferes miliciano Lisboa. As suas outras composições patrióticas e contra a invasão francesa em Portugal nem sequer tiveram voga na época de entusiasmo em que se deram à luz. Mineiro era também o pe. Silvério, chamado da Paraopeba. Suas composições são recomendáveis pela muita originalidade e , quando se colijam, fornecerão uma pintura de muitos usos de nossos sertanejos. Mais para o interior, em Goiás, pulsava a lira de Píndaro o sublime Cordovil, de quem devemos sentir que não sejam conhecidas maior número de produções. Tendência ao sublime se descobre também nas composições que temos do baiano Luís Paulino. Mais que estes se distinguiu, posteriormente, no lírico elevado, o pernambucano Saldanha, cantando os principais heróis que dirigiram a restauração da sua província contra o jugo holandês. Infelizmente, Saldanha parece não ter tido mais modelo que as odes pindáricas de Diniz que já demasiado se parecem umas às outras. Restava ocuparmo-nos, mais extensamente, dos últimos quatro autores poetas, com que termina o nosso Florilégio. De alguns outros modernos, falecidos, não possuímos composições bastantes, e dos vivos, não ousamos nós julgar e muito menos a par dos mortos. Assim, Deus faça subsistir por muito tempo os motivos porque [sic] deixamos aqui sem exame as poesias dos Pedra Branca e Alves Branco, dos Odorico Mendes e de tantos outros poetas talentosos de nossos dias. Reservando-nos, pois, o projeto de publicar um suplemento a esta coleção, quando tenhamos juntado os materiais para ele, igualmente prometemos, para o futuro, um album, contendo duas ou três das composições ou trechos de poesias que cada um dos poetas, que a nós se dirijam, e que são convidados neste lugar, creia preferíveis às outras suas. Os quatro autores referidos, que terminam o nosso Florilégio, são: José Bonifácio, Paranaguá, Januário e Álvaro de Macedo. Os laços de amizade e veneração que a eles nos prendiam, e nos ligam às suas famílias, quase nos apertam o pulso e fazem que a mão trema ao escrever deles um juízo crítico - prematuro talvez. Digamos, antes de tudo, que nenhum desses brasileiros talentosos cultivou a poesia, senão por distração de mais sérios estudos. José Bonifácio era naturalista; Paranaguá, matemático; Januário, pregador e Álvaro, profundo nos estudos da vária filosofia. Todos eles dedicaram grande parte da sua atividade e tempo aos afãs da política, já como deputados e ministros, já como escritores e jornalistas. De cada um destes dois últimos não pode contar a literatura mais que um pequeno poema, com escasso desenvolvimento. De Paranaguá, faltam ao público a maior parte das composições, com a correção com que as ia limando no decurso de sua vida, sobretudo as primeiras que publicou em Coimbra, no século passado. Não sabemos como haverá modificado a sua Primavera, tão notável pelo estilo e metrificação, mas onde faltava muita cor americana. Sentimos que o poeta fluminense preferisse entre as quadras do ano a que na Europa é mais risonha e fizesse menção de se ter acabado o frio do vento norte, quando o frio no Brasil não vem desse lado e que se lembre da flor da amendoeira, pois se há esta árvore em algum jardim de aclimatação, não é para nós um indício da primavera, etc. As composições amorosas, quando não abundam em nomes mitológicos, e sobretudo as heróicas ao Fundador do Império, e que ouvimos recitadas da própria boca do poeta, cremos que irão à posteridade com unânime louvor e darão a Paranaguá mais glória do que a Primavera a que, por falta de outros modelos do autor, demos a preferência. José Bonifácio não se pode classificar como poeta; não pertence a nenhuma escola, se bem que se educou na clássica. Não se afeiçoou a nenhum gênero, mas em todos se ensaiou. Não poetava por amor da arte, mas por fugir do tédio em horas que não queria pensar em ciências, nem em política. Isto em nada se opõe a que não sejam de superior mérito algumas poesias que 16 nos deixou. Parece que, juntamente com o brasileiro Mello Franco, muito concorreu para a confecção do poema satírico da Universidade de Coimbra - O Reino da Estupidez. Se o cônego Januário merece, nos diferentes ramos da literatura brasileira, uma reputação muito maior do que a que lhe dão suas obras na poesia, sobretudo, os seus serviços foram maiores do que os que indica o seu Nictheroy. Januário foi o primeiro coletor de poesias brasileiras, que promoveu o gosto pelas letras americanas e delas foi, na imprensa, na tribuna e até no púlpito, estrênuo e acérrimo campeão. Seu estro, descobriu ele, principalmente, em produções anônimas que, por ora ao menos, não podem pertencer à literatura, pelas muitas personalidades que encerram, nascidas de paixões políticas às quais não foi estranho na idade madura este ativo eclesiástico. Álvaro de Macedo era um moço de saber e conhecedor profundo da língua e literatura inglesa e desta grande admirador. A Festa de Baldo, apesar de seus defeitos, que consistem em faltas de desenvolvimento de certos pensamentos e no prosaísmo de alguns versos, é o nosso primeiro poema herói-cômico. A muita convivência que, na qualidade de colega, com Macedo tivemos e a amizade que a ele nos ligava, nos permitiram quase que assistir à composição dos últimos dois cantos do seu poema ao qual, a pedido nosso, o autor decidiu dar uma cor mais americana na parte descritiva. Lastimamos que não desse ainda mais desenvolvimento a este nosso pensamento quando, quase simplesmente, nomeia as frutas, etc. A obra de Macedo ganhará, talvez de dia para dia, mais popularidade e, daqui a menos de um século, figurará no país e na literatura mais do que hoje. Nela nos legou o autor uma verdadeira imagem da sua maneira sincera de pensar em religião, em política, em proceder social e doméstico, em tudo finalmente. Nela nos apresentou um espelho do seu caráter que conciliava à profissão de princípios severíssimos, com um trato tão alegre e galhofeiro quanto lho consentiam as queixas que tinha contra a sorte que pouco o favorecera na carreira que abraçara. Essas queixas, reunidas à sua compleição débil, lhe quebrantaram a existência aos quarenta e dois anos de idade. Faleceu em Bruxelas, onde servia como representante do Brasil. F. A. DE VARNHAGEN
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