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Guias e Dicas
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Tratado de Psicologia Revolucionaria, Notas de estudo de Psicologia

Quem somos? de onde viemos? pra onde vamos\?

Tipologia: Notas de estudo

2011

Compartilhado em 07/03/2011

aldo-inacio-nogueira-6
aldo-inacio-nogueira-6 🇧🇷

4.9

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Baixe Tratado de Psicologia Revolucionaria e outras Notas de estudo em PDF para Psicologia, somente na Docsity! Tratado de Psicologia Revolucionária Samael Aun Weor O Nível do Ser Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Para que vivemos? Por que vivemos?... Inquestionavelmente, o pobre "Animal Intelectual", equivocadamente chamado homem, não só não sabe, como além disso, nem sequer sabe que não sabe... O pior de tudo é a situação tão difícil e tão estranha em que nos encontramos: ignoramos o segredo de todas as nossas tragédias e, no entanto, estamos convencidos de que sabemos tudo... Transporte-se um "Mamífero Racional", uma dessas pessoas que na vida se presume influente, ao centro do deserto do Saara; deixe-se-o ali, longe de qualquer oásis, e observe-se de uma nave aérea tudo o que acontece... Os fatos falarão por si mesmos; o "Humanóide Intelectual", ainda que se presuma de forte e se ache muito homem, no fundo resulta espantosamente débil... O "Animal Racional" é cem por cento tolo; pensa o melhor de si mesmo; acredita que pode desenvolver-se maravilhosamente através do jardim de infância, manuais de etiqueta social, escolas primárias e secundária, bacharelato, universidade, do bom prestígio do papai, etc., etc., etc... Infelizmente, por trás de tantas letras e bons modos, títulos e dinheiro, bem sabemos que qualquer dor de estômago nos entristece, e que no fundo continuamos sendo infelizes e miseráveis... Basta ler a História Universal para saber que somos os mesmos bárbaros de outrora, e que, em vez de melhorar, nos tornamos piores... Este século XX, com todos os seus espetáculos de guerras, prostituição, sodomia em escala mundial, degeneração sexual, drogas, álcool, crueldade exorbitante, perversidade extrema, monstruosidade, etc., etc., etc. , é o espelho no qual devemos nos olhar. Não existe, pois, razão suficiente para jactar-nos de haver chegado a uma etapa superior de desenvolvimento... O Nível do Ser Pensar que o tempo significa progresso é absurdo; desgraçadamente, os "ignorantes ilustrados" continuam engarrafados no "Dogma da Evoluçã Em todas as páginas negras da "Negra História", encontramos sempre as mesmas horrorosas crueldades, ambições, guerras, etc... Contudo, nossos contemporâneos "Super-Civilizados" estão convencidos de que isso de guerra é algo secundário, um acidente passageiro que nada tem a ver com sua cacarejada "Civilização Moderna". Certamente o que importa é a maneira de ser de cada pessoa; alguns sujeitos serão bêbados, outros abstêmios, aqueles honrados e estes sem-vergonha; de tudo há na vida... A massa é a soma dos indivíduos; o que é o indivíduo é a massa, é o governo, etc... A massa é pois a extensão do indivíduo; não é possível a transformação das massas, dos povos, se o indivíduo, se cada pessoa, não se transforma... Ninguém pode negar que existem distintos níveis sociais; há gentes de igreja e de prostíbulo, de comércio e de campo, etc., etc., etc. Assim, existem também diferentes Níveis de Ser. O que internamente somos, esplêndidos ou mesquinhos, generosos ou tacanhos, violentos ou tranquilos, castos ou luxuriosos, atrai as diversas circunstâncias da vida... Um luxurioso atrairá sempre cenas, dramas e até tragédias de lascívia, nas quais se envolverá... Um bêbado atrairá outros bêbados, e se verá sempre em bares e cantinas, isso é óbvio. O que atrairá o usurário? O egoísta? Quantos problemas? Prisões? Desgraças? Entretanto, as pessoas amarguradas, cansadas de sofrer, têm ganas de mudar, passar a página de sua história... Pobres pessoas! Querem mudar e não sabem como: não conhecem o procedimento; encontram-se em um beco sem saída... 2 O Nível do Ser O que lhes aconteceu ontem lhes acontece hoje e lhes acontecerá amanhã; repetem sempre os mesmos erros e não aprendem as lições da vida, nem a pauladas. Todas as coisas se repetem em sua própria vida; dizem as mesmas coisas, fazem as mesmas coisas, lamentam as mesmas coisas... Esta repetição aborrecedora de dramas, comédias e tragédias continuará enquanto carreguemos em nosso interior os elementos indesejáveis da Ira, Cobiça, Luxúria, Inveja, Orgulho, Preguiça, Gula, etc., etc., etc... Qual é nosso nível moral? Ou, melhor diríamos: qual é nosso Nível de Ser? Enquanto o Nível de Ser não mudar radicalmente, continuará a repetição de todas as nossas misérias, cenas, desgraças e infortúnios... Todas as coisas, todas as circunstâncias que acontecem fora de nós, no cenário deste mundo, são exclusivamente o reflexo do que interiormente levamos. Com justa razão podemos afirmar solenemente que o "exterior é o reflexo do interior". Quando alguém muda interiormente e tal mudança é radical, o exterior, as circunstâncias, a vida, transformam-se também. Estive observando recentemente (1974) um grupo de pessoas que invadiu um terreno alheio. Aqui no México, tais pessoas recebem o curioso qualificativo de "paraquedistas". São vizinhos da colônia campestre de Churubusco, estão muito perto de minha casa, motivo pelo qual pude estudá-los de perto... Ser pobre jamais será um delito, mas o grave não está nisso, mas em seu Nível de Ser... Diariamente lutam entre si, embebedam-se, insultam-se mutuamente, convertem-se em assassinos de seus próprios companheiros de infortúnio; vivem certamente em imundos casebres, dentro dos quais em vez do amor reina o ódio... A Escada Maravilhosa O "Nível de Ser" é o que conta, e isto é Vertical; encontramo-nos em um degrau, mas podemos subir a outro degrau... A "Escada Maravilhosa" de que estamos falando, e que se refere aos distintos "Níveis de Ser", certamente nada tem a ver com o tempo linear... Um "Nível de Ser" mais alto está imediatamente acima de nós de instante em instante... Não está em nenhum remoto futuro horizontal, mas aqui e agora, dentro de nós mesmos, na Vertical... É evidente, e qualquer um pode compreender, que as duas linhas, Horizontal e Vertical, se encontram a cada momento em nosso interior psicológico e formam Cruz... A personalidade manifesta-se e desenvolve-se na linha Horizontal da Vida. Nasce e morre dentro de seu tempo linear, é perecedora. Não existe um amanhã para a personalidade do morto; não é o Ser... Os Níveis do Ser, o Ser mesmo, não são do tempo, nada têm a ver com a linha Horizontal; encontra-se dentro de nós mesmos, agora, na Vertical... Seria evidentemente absurdo buscar o nosso próprio Ser fora de nós mesmos... Podemos afirmar como corolário o seguinte: títulos, graus, ascensões, etc., no mundo físico exterior, de modo algum poderiam originar exaltação autêntica, revalorização do Ser, passagem a um degrau superior nos "Níveis do Ser". Rebeldia Psicológica Queremos recordar a nossos leitores que existe um ponto matemático dentro de nós mesmos. Inquestionavelmente, tal ponto jamais se encontra no passado, nem tampouco no futuro. Quem quiser descobrir esse ponto misterioso, deve buscá-lo aqui e agora, dentro de si mesmo, exatamente neste instante, nem um segundo depois, nem um segundo antes. Os dois paus, o Vertical e o Horizontal da Santa Cruz, encontram-se neste ponto. Encontramo-nos pois, de instante em instante, diante de dois Caminhos: o Horizontal e o Vertical... É evidente que o Horizontal é muito comum: por ele andam "Vicente e toda gente”, "o Sr. Raimundo e todo o mundo". O Caminho Vertical é diferente: é o caminho dos rebeldes inteligentes, dos Revolucionários... Quando alguém se recorda de si mesmo, quando trabalha sobre si mesmo, quando não se identifica com todos os problemas e sofrimentos da vida, está de fato trilhando a Senda Vertical... Certamente, jamais será tarefa fácil eliminar as emoções negativas, perder toda identificação com nosso próprio "trem" da vida, problemas de todo tipo, negócios, dívidas, pagamento de letras, hipotecas, telefone, água, luz, etc., etc., etc. Os desempregados, aqueles que por qualquer motivo perderam o emprego, o trabalho, evidentemente sofrem por falta de dinheiro, e esquecer seu caso, não se preocupar nem se identificar com seu próprio problema, resulta de fato espantosamente difícil. Aqueles que sofrem, aqueles que choram, aqueles que foram vítimas de alguma traição na vida, de uma ingratidão, de uma calúnia ou de alguma Rebeldia Psicológica fraude, realmente se esquecem de si mesmos, de seu real Ser Íntimo; identificam-se completamente com sua tragédia moral... O trabalho sobre si mesmo é a característica fundamental do Caminho Vertical. Ninguém poderia trilhar a Senda da Grande Rebeldia se jamais trabalhasse sobre si mesmo. O trabalho a que estamos nos referindo é de tipo psicológico; ocupa-se de certa transformação do momento presente em que nos encontramos. Necessitamos aprender a viver de instante a instante... Por exemplo, uma pessoa que se encontra desesperada por algum problema sentimental, econômico ou político, obviamente esqueceu-se de si mesma. Se tal pessoa se detém por um instante, se observa a situação e trata de recordar-se de si mesma e depois se esforça por compreender o sentido de sua atitude... Se reflete um pouco, se pensa no fato de que tudo passa, de que a vida é ilusória, fugaz, de que a morte reduz a cinzas todas as vaidades do mundo... Se compreende que seu problema no fundo não é mais que "fogo de palha", um fogo fátuo que logo se apagará, verá imediatamente, com surpresa, que tudo se transformou. Transformar reações mecânicas é possível mediante a confrontação lógica e a Auto-Reflexão Íntima do Ser. É evidente que as pessoas reagem mecanicamente diante das diversas circunstâncias da vida... Pobres pessoas! Costumam sempre converter-se em vítimas. Sorriem quando alguém as adula, sofrem quando alguém as humilha. Insultam se são insultadas, ferem quando são feridas, nunca são livres; seus semelhantes têm o poder de levá-las da alegria à tristeza, da esperança ao desespero. Cada pessoa dessas que vão pelo Caminho Horizontal se parece com um instrumento musical, onde cada um de seus semelhantes toca o que bem deseja... A Essência O que torna belo e adorável todo menino recém-nascido é sua Essência; esta constitui em si mesma sua verdadeira realidade... O crescimento normal da Essência em toda criatura é certamente muito residual, incipiente... O corpo humano cresce e se desenvolve de acordo com as leis biológicas da espécie. Entretanto, tais possibilidades resultam por si mesmas muito limitadas para a Essência. Inquestionavelmente, a Essência só pode crescer por si mesma, sem ajuda, em um grau muito pequeno. Falando francamente, diremos que o crescimento espontâneo e natural da Essência só é possível durante os primeiros três ou quatro anos de idade, isto é, na primeira etapa da vida. Em geral se pensa que o crescimento e o desenvolvimento da Essência se realizam de forma contínua, de acordo com a mecânica da "evolução"; mas sempre de forma contínua, de acordo com a mecânica da "evolução"; mas o Gnosticismo Universal ensina claramente que isto não ocorre assim. A fim de que a Essência cresça mais, algo muito especial deve acontecer, há que se realizar algo novo... Quero referir-me, de forma enfática, ao trabalho sobre si mesmo. O desenvolvimento da Essência só é possível à base de trabalhos conscientes e sofrimentos voluntários. É necessário compreender que estes trabalhos não se referem a questões de profissão, bancos, carpintarias, serralheria, conserto de linhas férreas ou assuntos de escritório. Este trabalho é para toda pessoa que haja desenvolvido a personalidade; trata-se de algo psicológico. Todos nós sabemos que temos dentro de nós mesmos isso que se chama Ego, Eu, Mim Mesmo, Si Mesmo... A Essência Desgraçadamente, a Essência se encontra engarrafada dentro do Ego, e isto é lamentável. Dissolver o Eu Psicológico, desintegrar seus elementos indesejáveis, é urgente, inadiável, impostergável. Este é o sentido do trabalho sobre si mesmo. Nunca poderemos libertar a Essência sem desintegrar previamente o Eu Psicológico. Na Essência estão a Religião, o Buda, a Sabedoria, as partículas de dor de nosso Pai que está nos Céus e todos os dados de que necessitamos para a Auto-Realização Intima do Ser. Ninguém poderia aniquilar o Eu Psicológico sem eliminar previamente os elementos inumanos que trazemos dentro de nós. Necessitamos reduzir a cinzas a crueldade monstruosa destes tempos, a inveja, que desgraçadamente veio a converter-se na mola secreta de nossas ações, a cobiça insuportável que tornou a vida tão amarga, a asquerosa maledicência, a calúnia que tantas tragédias origina, a embriaguês, a imunda luxúria que age tão mal, etc., etc., etc... À medida que todas essas abominações forem sendo reduzidas a poeira cósmica, a Essência, além de emancipar-se, crescerá e se desenvolverá harmoniosamente. Inquestionavelmente, quando o Eu Psicológico morre, resplandece em nós a Essência. A Essência livre confere-nos beleza íntima, e de tal beleza emanam a felicidade perfeita e o verdadeiro Amor... A Essência possui múltiplos sentidos de perfeição e extraordinários poderes naturais... Quando "Morremos em Nós Mesmos”, quando dissolvemos o Eu Psicológico, gozamos dos preciosos sentidos e poderes da Essência. 12 Acusar a Si Mesmo A Essência que cada um de nós traz em seu interior vem do alto, do Céu, das Estrelas... Inquestionavelmente, a Essência maravilhosa provém da nota "Lá" (a Via Láctea, a galáxia em que vivemos). A Essência preciosa passa através da nota "Sol" (o Sol), a seguir pela nota "Fa" (a Zona Planetária), entra neste mundo e peneira em nosso próprio interior. Nossos pais criaram o corpo apropriado para a recepção dessa Essência, que vem das Estrelas... Trabalhando intensamente sobre nós mesmos e sacrificando-nos por nossos semelhantes, regressaremos vitoriosos ao seio profundo de Urânia... Nós estamos vivendo neste mundo por algum motivo, para algo, por algum fator especial... Obviamente, há em nós muitas coiss que devemos ver, estudar, compreender, se é que na realidade ansiamos saber algo sobre nós mesmos, sobre nossa própria vida. Trágica é a existência daquele que morre sem haver conhecido o motivo de sua vida... Cada um de nós deve descobrir, por si mesmo, o sentido de sua própria vida, aquilo que o mantém prisioneiro no cárcere da dor... Evidentemente, existe em cada um de nós algo que nos amarga a vida e contra o qual necessitamos lutar firmemente. Não é indispensável que continuemos na desgraça; é inadiável reduzir a poeira cósmica isso que nos faz tão fracos e infelizes. De nada serve envaidecer-nos com títulos, honras, diplomas, dinheiro, inútil 13 Acusar a Si Mesmo 16 A Vida No terreno da vida prática, sempre descobrimos contrastes que assombram. Pessoas endinheiradas, possuindo magníficas residências e muitas amizades, às vezes sofrem espantosamente... Humildes operários da pá e da picareta, ou pessoas da classe média, vivem às vezes em completa felicidade. Muitos arquimilionários sofrem de impotência sexual, e ricas senhoras choram amargamente a infelicidade do marido... Os ricos da Terra parecem abutres dentro de gaiolas de ouro, e atualmente não podem viver sem "guarda-costas"... Os homens de Estado arrastam correntes, nunca estão livres e andam por todos os lados rodeados de homens armados até os dentes... Estudemos esta situação mais detidamente. Necessitamos saber o que é a vida. Cada um é livre para opinar como queira... Digam o que digam, certamente ninguém sabe nada, a vida é um problema que ninguém entende... Quando as pessoas desejam contar-nos gratuitamente a história de sua vida, citam acontecimentos, nomes e sobrenomes, datas, etc., e sentem satisfação ao fazer seus relatos. Essas pobres pessoas ignoram que seus relatos estão incompletos, porque eventos, nomes e datas são apenas o aspecto externo do filme; falta o aspecto interno... É urgente conhecer os "estados de consciência": a cada evento corresponde tal ou qual estado anímico. Os estados são interiores e os eventos são exteriores; os acontecimentos externos não são tudo... A Vida Entende-se por estados interiores as boas ou más disposições, as preocupações, a depressão, a superstição, o temor, a suspeita, a misericórdia, a auto-consideração, a superestimação de si mesmo; estados de felicidade, estados de gozo, etc., etc., etc. Inquestionavelmente, os estados interiores podem corresponder-se exatamente com os acontecimentos exteriores, podem ser originados por estes, ou não ter relação alguma com os mesmos... De qualquer modo, estados e eventos são diferentes. Nem sempre os eventos se correspondem exatamente com estados afins. O estado interior de um evento agradável poderia não se corresponder com o mesmo. O estado interior de um evento desagradável também poderia não se corresponder com o mesmo. Quando surgiram acontecimentos aguardados durante muito tempo, muitas vezes sentimos que faltava algo... E, frequentemente, o acontecimento que não esperávamos veio a ser o que melhores momentos nos proporcionou... 18 O Estado Interior dignamente. Aqueles que aprendem a combinar conscientemente eventos exteriores e estados interiores marcham pelo caminho do êxito... 21 O Estado Interior 22 Estados Equivocados Inquestionavelmente, na rigorosa observação do Mim Mesmo, resulta inadiável fazer uma completa diferenciação lógica entre os acontecimentos exteriores da vida prática e os estados íntimos da consciência. Necessitamos, com urgência, saber onde estamos situados em um dado momento, tanto em relação ao estado íntimo da consciência como à natureza específica do acontecimento exterior que nos está sucedendo. A vida, em si mesma, é uma série de acontecimentos que se processam através do tempo e do espaço... Alguém disse: "A vida é uma cadeia de martírios que o homem leva enredada na Alma..." Cada um tem liberdade de pensar como quiser; eu creio que aos efêmeros prazeres de um instante fugaz sucedem sempre o desencanto e a amargura... Cada acontecimento tem seu sabor característico especial, e os estados interiores são também de diversos tipos; isto é irrefutável... Certamente, o trabalho interior sobre si mesmo se refere aos diversos estados psicológicos da consciência... Ninguém poderia negar que carregamos, em nosso interior, muitos erros, e que existem estados equivocados... Se realmente queremos mudar, necessitamos, com urgência máxima e inadiável, modificar radicalmente esses estados equivocados da consciência... A modificação absoluta dos estados equivocados origina transformações completas no terreno da vida prática. Quando alguém trabalha seriamente sobre os estados equivocados, obviamente os acontecimentos desagradáveis da vida já não podem ferí-lo 23 Estados Equivocados 26 Acontecimentos Pessoais Torna-se inadiável a plena auto-observação íntima do Mim Mesmo, quando se trata de descobrir estados psicológicos equivocados. Inquestionavelmente, os estados psicológicos equivocados podem ser corrigidos mediante procedimentos corretos. Como a vida interior é o imã que atrai os eventos exteriores, necessitamos, com a máxima urgência, eliminar de nossa psique os estados psicológicos errôneos. Corrigir estados psicológicos equivocados é indispensável quando se quer alter fundamentalmente a natureza de certos eventos indesejáveis. Alterar nossa relação com determinados eventos é possível se eliminamos de nosso interior certos estados psicológicos absurdos. Situações exteriores destrutivas poderiam se converter em inofensivas e até construtivas mediante a inteligente correção dos estados interiores errôneos. Alguém pode mudar a natureza dos eventos desagradáveis que lhe ocorrem quando se purifica intimamente. Quem jamais corrige os estados psicológicos absurdos, crendo-se muito forte, converte- se em vítima das circunstâncias. Por ordem em nossa desordenada casa interior é vital, quando se deseja mudar o curso de uma existência infeliz. As pessoas que se queixam de tudo, sofrem, choram e protestam, gostariam de mudar de vida, sair do infortúnio em que se encontram; infelizmente, não trabalham sobre si mesmas. Não querem dar-se conta de que a vida interior atrai circunstâncias exteriores, e que, se estas são dolorosas, isto se deve aos estados interiores absurdos. 27 Acontecimentos Pessoais O exterior é apenas o reflexo do interior; quem muda interiormente origina uma nova ordem de coisas. Os eventos exteriores jamais poderiam ser tão importantes, como o modo de reagir ante os mesmos. Permanecestes sereno ante o insultador? Recebestes com agrado as manifestações desagradáveis de vossos semelhantes? De que maneira reagistes ante a infidelidade do ser amado? Deixaste-vos levar pelo veneno dos ciúmes? Matastes? Estais na prisão? Os hospitais, os cemitérios e as prisões estão cheios de equivocados sinceros, que reagiram de forma absurda ante os eventos exteriores. A melhor arma que um homem pode usar na vida é um estado psicológico correto. Pode-se desarmar feras e desmascarar traidores mediante estados interiores apropriados. Os estados interiores equivocados convertem-se em vítimas indefesas da perversidade humana. Aprendei a enfrentar os acontecimentos mais desagradáveis da vida prática com uma atitude interior apropriada... Não vos identifiqueis com acontecimentos mais desagradáveis da vida prática com uma atitude interior apropriada... Não vos identifiqueis com acontecimento algum; recordai que tudo passa; aprendei a ver a vida como um filme e recebereis os benefícios... Não esqueçais que acontecimentos sem nenhum valor poderiam levar-nos à desgraça, se não eliminardes de vossa Psique os estados interiores equivocados. Cada evento exterior necessita, inquestionavelmente, da senha apropriada, ou seja, do estado psicológico preciso. 28 O Querido Ego Considerando que "superior" e "inferior" são duas seções de uma mesma coisa, pode-se deduzir o seguinte corolário: "Eu Superior" e "Eu Inferior" são dois aspectos do mesmo Ego tenebroso e pluralizado. O denominado "Eu Divino" ou "Eu Superior", "Alter Ego" ou algo parecido, é certamente uma evasiva do "Mim Mesmo", uma forma de auto-engano. Quando o Eu quer continuar aqui e no além, se auto-engana com o falso conceito de um Eu Divino Imortal... Nenhum de nós tem um "Eu" verdadeiro, permanente, imutável, eterno, inefável, etc., etc., etc. Nenhum de nós tem, na verdade, uma verdadeira e autêntica Unidade de Ser; infelizmente, nem sequer possuímos uma legítima individualidade. O Ego, ainda que continue além do túmulo, tem, no entanto, um princípio e um fim. O Ego nunca é algo individual, unitário, unitotal. Obviamente, o Eu são "Eus". No Tibete Oriental, os "Eus" são denominados "Agregados Psíquicos" ou simplesmente "Valores", sejam estes últimos positivos ou negativos. Se pensamos em cada "Eu" como uma pessoa diferente, podemos asseverar de forma enfática o seguinte: "Dentro de cada pessoa que vive no mundo, existem muitas pessoas”. Inquestionavelmente, dentro de cada um de nós vivem muitas pessoas diferentes, algumas melhores, outras piores... Cada um destes Eus, cada uma destas pessoas, luta pela supremacia, quer ser exclusiva, controla o cérebro intelectual ou os centros emocional e motor cada vez que pode, até que outra a substitui... A Doutrina dos Muitos Eus foi ensinada no Tibete Oriental pelos verdadeiros 31 O Querido Ego Clarividentes, pelos autênticos iluminados... Cada um de nossos defeitos psicológicos está personificado em tal ou qual Eu. Considerando que temos milhares e até milhões de defeitos, é evidente que vive muita gente em nosso interior. Em questões psicológicas, pudemos evidenciar claramente que os paranóicos, ególatras e mitômanos por nada na vida abandonariam o culto do querido Ego. Inquestionavelmente, tais pessoas odeiam mortalmente a doutrina dos muitos "Eus". Quando alguém quer conhecer de verdade a si mesmo, deve auto-observar-se e tratar de conhecer os diferentes "Eus" que estão radicados em sua personalidade. Se algum de nossos leitores não compreende essa doutrina dos muitos "Eus", deve-se exclusivamente à falta de prática em matéria de Auto-Observação. À medida em que alguém pratica a Auto-Observação interior, vai descobrindo, por si mesmo, as muitas pessoas, os muitos "Eus" que vivem dentro de sua própria personalidade. Aqueles que negam a doutrina dos muitos Eus, aqueles que adoram a um Eu Divino, indubitavelmente jamais se auto-observaram seriamente. Falando em estilo socrático, diremos que essas pessoas não só ignoram como, além disso, ignoram que ignoram. Certamente jamais poderíamos conhecer a nós mesmos sem a auto-observação séria e profunda. Enquanto uma pessoa continue considerando-se como Um, é claro que qualquer transformação interior será totalmente impossível. 32 A Transformação Radical Enquanto um homem prosseguir com o erro de crer-se Um, Único, Individual, é evidente que a mudança radical será algo mais que impossível. O fato mesmo de que o trabalho esotérico começa com a rigorosa observação de nós mesmos está nos indicando uma multiplicidade de fatos psicológicos, Eus ou elementos indesejáveis que é urgente extirpar, erradicar de nosso interior. Inquestionavelmente, de modo algum seria possível eliminar erros desconhecidos. Urge observar previamente aquilo que queremos separar de nossa Psique. Este tipo de trabalho não é externo, mas interno, e aqueles que pensem que qualquer manual de etiqueta ou sistema ético externo e superficial poderá levá-los ao êxito estarão de fato totalmente equivocados. O fato concreto e definido de que o trabalho íntimo se inicia com a atenção concentrada na observação plena de si mesmo é motivo mais que suficiente para demonstrar que isto exige um esforço pessoal muito particular de cada um de nós. Falando francamente, asseveramos enfaticamente o seguinte: nenhum ser humano poderia fazer este tipo de trabalho por nós. Não é possível mudança alguma em nossa Psique sem a observação direta de todo esse conjunto de fatores subjetivos que levamos dentro de nós. Aceitar simplesmente a multiplicidade de erros, descartando a necessidade de estudo e observação direta dos mesmos, significa de fato uma evasiva ou escapatória, uma fuga de si mesmo, uma forma de auto-engano. Só através do esforço rigoroso da observação judiciosa de si mesmo, sem escapatórias de qualquer espécie, poderemos evidenciar realmente que não somos "Um", mas "Muitos". 33 A Transformação Radical 36 Observador e Observado É muito claro e não é difícil de compreender que, quando alguém começa a observar-se seriamente, partindo do princípio de que não é Um, mas Muitos, começa realmente a trabalhar sobre tudo isso que carrega dentro de si. São obstáculos, tropeços, impecilhos para o trabalho de Auto-Observação Íntima os seguintes defeitos psicológicos. Mitomania (delírio de grandeza, crer-se um Deus); Egolatria (crença em um Eu permanente, adoração a qualquer espécie de Alter-Ego); Paranóia (achar que sabe tudo, auto-suficiência, presunção, crer-se infalível, orgulho místico, pessoa que não sabe ver o ponto de vista alheio). Quando se continua com a convicção absurda de que é Um, de que se possui um Eu permanente, torna-se mais que impossível o trabalho sério sobre si mesmo. Quem sempre se crê Um, nunca será capaz de separar-se de seus próprios elementos indesejáveis. Considerará cada pensamento, sentimento, desejo, emoção, paixão, afeto, etc., como funcionalismos diferentes, imodificáveis, de sua própria natureza, e até se justificará ante os demais dizendo que tais ou quais defeitos pessoais são de caráter hereditário... Quem aceita a Doutrina dos Muitos Eus compreende, à base de observação, que cada desejo, pensamento, ação, paixão, etc., corresponde a um ou outro Eu distinto, diferente... Qualquer atleta da Auto-Observação íntima trabalha muito seriamente dentro de si mesmo, e se esforça por separar de sua Psique os diversos elementos indesejáveis que carrega consigo. Se alguém de verdade e muito sinceramente começa a observar-se internamente, dividir-se-á em dois: Observador e Observado. Se tal divisão não ocorresse, é evidente que nunca daríamos um passo adiante na via maravilhosa do Auto-Conhecimento. Como poderíamos observar a nós mesmos, se cometêssemos o erro de não 37 Observador e Observado querer dividir-nos em Observador e Observado? Se tal divisão não ocorresse, é óbvio que nunca daríamos um passo adiante no caminho do Auto-Conhecimento. Indubitavelmente, quando esta divisão não sucede, continuamos identificados com todos os processos do Eu Pluralizado. Quem se identifica com os diversos processos do Eu Pluralizado é sempre vítima das circunstâncias. Como poderia modificar circunstâncias aquele que não conhece a si mesmo? Como poderia conhecer a si mesmo quem nunca se observou internamente? De que maneira poderia alguém auto-observar-se, se não se divide previamente em Observador e Observado? Assim, ninguém pode começar a mudar radicalmente enquanto não for capaz de dizer: "Este desejo é um Eu animal, que devo eliminar"; "Este pensamento egoísta é outro Eu que me atormenta e que necessito desintegrar"; "Esse sentimento, que fere meu coração, é um Eu intruso que necessito reduzir a poeira cósmica", etc., etc., etc. Naturalmente, isto é impossível para quem nunca se dividiu em Observador e Observado. Quem toma todos seus processos Psicológicos como funcionalismos de um Eu Único, Individual e Permanente, encontra-se tão identificado com todos os seus erros, tem- nos tão unidos a si mesmo, que perdfe por tal motivo a capacidade de separá-los de sua Psique. Obviamente, pessoas assim jamais podem mudar radicalmente, são pessoas condenadas ao mais rotundo fracasso. 38 Pensamentos Negativos Quem não vive sempre em estado de Alerta Novidade, Alerta Percepção, pensando que está pensando, facilmente se identifica com qualquer pensamento negativo. Como resultado, fortalece lamentavelmente o poder sinistro do "Eu Negativo", autor do correspondente pensamento em questão. Quanto mais nos identificamos com um pensamento negativo, tanto mais escravos seremos do correspondente "Eu" que o caracteriza. Com relação à Gnose, ao Caminho Secreto, ao trabalho sobre si mesmo, nossas tentações particulares encontram-se precisamente nos "Eus" que odeiam a Gnose, o trabalho esotérico; porque não ignoram que sua existência dentro de nossa psique está mortalmente ameaçada pela Gnose e pelo Trabalho. Esses "Eus Negativos" e brigões apoderam-se facilmente de certos "rolos" mentais armazenados em nosso Centro Intelectual, e originam sequencialmente correntes mentais nocivas e prejudiciais. Se aceitamos esses pensamentos, esse "Eus Negativos" que em um dado momento controlam nosso Centro Intelectual, seremos então incapazes de livrar-nos de seus resultados. Jamais devemos esquecer que todo "Eu Negativo" se "auto-engana" e "engana"; conclusão: Mente. Cada vez que sentimos uma súbita perda de força, quando o aspirante se desilude da Gnose, do trabalho esotérico, quando perde o entusiasmo e abandona o melhor, é óbvio que foi enganado por algum Eu Negativo. O "Eu Negativo do Adultério" aniquila os nobres lares e torna desgraçados os filhos. O "Eu Negativo dos Ciúmes" engana os seres que se adoram e destrói sua felicidade. O "Eu Negativo do Orgulho Místico" engana os devotos do Caminho e estes, sentindo-se sábios, cansam-se de seu Mestre ou o atraiçoam... 4 Pensamentos Negativos O Eu Negativo apela para nossas experiências pessoais, nossas recordações, nossas melhores aspirações, nosssa sinceridade, e, mediante uma rigorosa seleção de tudo isto, apresenta algo sob uma falsa luz, algo que fascina, e vem o fracasso... Não obstante, quando alguém descobre o "Eu" em ação, quando aprendeu a viver em estado de alerta, tal engano faz-se impossível... 42 A Individualidade Crer-se "Uno" é certamente uma brincadeira de muito mau gosto; infelizmente esta vã ilusão existe dentro de cada um de nós. Lamentavelmente, sempre pensamos de nós mesmos o melhor, jamais não ocorre compreender que nem sequer possuímos verdadeira individualidade. O pior é que até nos damos ao falso luxo de supor que cada um de nós goza de plena consciência e vontade própria. Pobres de nós! Quão néscios somos! Não há dúvida de que a ignorância é a pior das desgraças. Dentro de cada um de nós existem muitos milhares de indivíduos diferentes, Eus ou pessoas que brigam entre si, que pelejam pela supremacia e que não têm ordem ou concordância alguma entre si. Se fôssemos conscientes, se despertássemos de tantos sonhos e fantasias, quão diferente seria a vida... Mas, para cúmulo de nosso infortúnio, as emoções negativas e as auto-considerações e amor próprio nos fascinam, nos hipnotizam, jamais nos permitem recordarmo-nos de nós mesmos, ver-nos tal qual somos... Acreditamos ter uma só vontade, quando na realidade possuímos muitas vontades diferentes (cada Eu tem a sua). A tragicomédia de toda esta Multiplicidade Interior é pavorosa; as diferentes vontades interiores cnhocam-se entre si, vivem em conflito contínuo, atuam em diferentes direções. Se tivéssemos verdadeira Individualidade, se possuíssemos uma Unidade em vez de uma Multiplicidade, teríamos também continuidade de propósitos, consciência desperta, vontade particular, individual. Mudar é o indicado; entretanto, devemos começar por ser sinceros com nós mesmos. 43 A Individualidade sabe, é um ignorante ilustrado. Necessitamos "desegoistizar-nos” para "individualizar-nos", mas quem crê que possui a Individualidade é impossível que possa desegoistizar-se. A Individualidade é 100% sagrada, raros são os que a têm; mas todos pensam que a têm. Como poderíamos eliminar os múltiplos "Eus" se cremos que temos um "Eu" Unico? Certamente só quem jamais se auto-observou seriamente pensa que tem um Eu Unico. Devemos entretanto ser muito claros neste ensinamento, porque existe o perigo psicológico de se confundir a Individualidade autêntica com o conceito de alguma espécie de "Eu Superior", ou algo do gênero. A Individualidade Sagrada está muito além de qualquer forma de "Eu", é o que é, o que sempre tem sido e o que sempre será. A legítima Individualidade é o Ser, e a razão de Ser do Ser é o mesmo Ser. Distinga-se entre o Ser e o Eu. Aqueles que confundem o Eu com o Ser certamente nunca se auto-observaram seriamente. Enquanto a Essência, a consciência, continua engarrafada dentro de todo esse conjunto de Eus que levamos dentro, a transformação radical será totalmente impossível. 46 O Livro da Vida Uma pessoa é o que é a sua vida. Isso que continua mais além da morte é a vida. Este é o significado do livro da vida, que se abre com a morte. Vendo esta questão de um ponto de vista estritamente psicológico, um dia qualquer de nossa vida é realmente uma pequena réplica da totalidade da vida. De tudo isto podemos inferir o seguinte: Se um homem não trabalha sobre si mesmo hoje, não mudará nunca. Quando se afirma que se quer trabalhar sobre si mesmo, e não se trabalha hoje, adiando para amanhã, tal afirmação será um simples projeto e nada mais, porque no hoje está a réplica de toda a nossa existência. Existe por aí um dito popular que diz: "Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje mesmo". Se um homem diz: "Trabalharei sobre mim mesmo, amanhã", nunca trabalhará sobre si mesmo, porque sempre haverá um amanhã. Isto é muito similar a certo aviso que alguns comerciantes pôem em suas lojas: "Fiado, só amanhã". Quando algum necessitado chega para solicitar crédito, encontra o terrível aviso; volta no outro dia, e encontra outra vez o malfadado letreiro. Isto é o que se chama em psicologia a "doença do amanhã". Enquanto um homem diga "amanhã", nunca mudará. Necessitamos, com urgência máxima, inadiável, trabalhar sobre nós mesmos hoje, não sonhar preguiçosamente com um futuro ou uma oportunidade extraordinária. Esses que dizem "vou antes fazer isto ou aquilo, e depois trabalharei", jamais 47 O Livro da Vida trabalharão sobre si mesmos. Esses são os moradores da terra citados nas Sagradas Escrituras. Conheci um poderoso latifundiário que dizia: “primeiro necessito aumentar minhas propriedades, depois trabalharei sobre mim mesmo". Quando ficou mortalmente doente, fui visitá-lo e lhe fiz a seguinte pergunta: "Ainda queres aumentar tuas propriedades"? "Lamento de verdade haver perdido o tempo", me respondeu. Dias depois morreu, depois de haver reconhecido seu erro. Aquele homem tinha muitas terras, mas queria apossar-se das propriedades vizinhas, a fim de que sua fazenda ficasse limitada exatamente por quatro caminhos. "A cada dia basta o seu afã!", disse o Grande Kabir Jesus. Devemos auto-observar- nos hoje mesmo, no tocante ao dia sempre recorrente, miniatura de nossa vida inteira. Quando um homem começa a trabalhar sobre si mesmo hoje mesmo, quando observa seus desgostos e penas, marcha pelo caminho do êxito. Não seria possível eliminar o que não conhecemos. Devemos antes observar nossos próprios erros. Necessitamos não só conhecer nosso dia, como também nossa relação com o mesmo. Há certo dia ordinário que cada pessoa experimenta diretamente, exceto os acontecimentos insólitos, inusitados. É interessante observar a recorrência diária, a repetição de palavras e acontecimentos na vida de cada pessoa, etc. Essa repetição ou recorrência de eventos e palavras merece ser estudada, pois nos conduz ao auto-conhecimento. 48 Criaturas Mecânicas Repetimos acontecimentos, nossos hábitos são os mesmos, nunca quisemos modificá-los; são os trilhos por onde circula o trem de nossa miserável existência. No entanto, pensamos de nós o melhor... Por toda parte abundam os "Mitômanos", o que se crêem Deuses; criaturas mecânicas, rotineiras, personagens do lodo da terra, míseros bonecos movidos por diversos "Eus"; pessoas assim não trabalharão jamais sobre si mesmas... 51 Criaturas Mecânicas 52 O Pão Super-Substancial Se observarmos cuidadosamente qualquer dia de nossa vida, veremos que de fato não sabemos viver conscientemente. Nossa vida parece um trem em marcha, movendo-se nos trilhos fixos dos hábitos mecânicos, rígidos, de uma existência vã e superficial. O curioso do caso é que jamais nos ocorre modificar os hábitos, parecee que não nos cansamos de estar repetindo sempre o mesmo. Os hábitos nos mantêm petrificados, mas pensamos que somos livres; somos espantosamente feios mas nos cremos Apolos... Somos gente mecânica, motivo mais que suficiente para carecer de todo sentimento verdadeiro do que estamos fazendo na vida. Movemo-nos diariamente dentro dos velhos trilhos de nossos hábitos antiquados e absurdos, e assim é claro que não temos uma verdadeira vida; em vez de viver, vegetamos miseravelmente, e não recebemos novas impressões. Se uma pessoa iniciasse seu dia conscientemente, é claro que tal dia seria muito diferente dos outros. Quando alguém toma a totalidade de sua vida como o mesmo dia que está vivendo, quando não deixa para amanhã o que deve fazer hoje mesmo, chega realmente a conhecer o que significa trabalhar sobre si mesmo. Jamais um dia carece de importância; se de verdade queremos transformar-nos radicalmente, devemos ver-nos, observar-nos e compreender-nos diariamente. Entretanto, as pessoas não querem ver-se a si mesmas. Alguns, tendo vontade de trabalhar sobre si mesmos, justificam sua negligência com frases como a seguinte: "O trabalho no escritório não me permite trabalhar sobre mim mesmo". Palavras sem sentido, ocas, vás, absurdas, que só servem para justificar a indolência, a preguiça, a falta de amor pela Grande Causa. 53 O Pão Super-Substancial 56 O Bom Dono de Casa Nestes tempos tenebrosos, separar-se dos efeitos desastrosos da vida é certamente muito difícil, mas indispensável; de outro modo se é devorado pela vida. Qualquer trabalho que alguém faça sobre si mesmo, com o propósito de conseguir um desenvolvimento anímico e espiritual, relaciona-se sempre com o isolamento — muito bem entendido — pois, sob a influência da vida tal como sempre a vivemos, não é possível desenvolver outra coisa que a personalidade. De modo algum tencionamos opor-nos ao desenvolvimento da personalidade; obviamente esta é necessária na existência, mas certamente é algo meramente artificial, não é o verdadeiro, o Real em nós. Se o pobre mamífero intelectual equivocadamente chamado homem não se isola, mas se identifica com os acontecimentos da vida prática e dissipa suas forças em emoções negativas, em auto-considerações pessoais e no inútil palavreado insubstancial e nada edificante, nenhum elemento real pode desenvolver-se nele, exceto o que pertence ao mundo da mecanicidade. Certamente, quem quiser de verdade conseguir em si o desenvolvimento da Essência deve chegar a estar hermeticamente fechado. Isto se refere a algo íntimo estreitamente relacionado com o silêncio. A frase vem dos antigos tempos, quando se ensinava secretamente uma Doutrina sobre o desenvolvimento interior do homem vinculada com o nome de Hermes. Se alguém tem escapes de energia e não está isolado em sua intimidade, é inquestionavelmente que não poderá conseguir o desenvolvimento de algo real em sua psique. A vida ordinária, comum e corrente, quer devorar-nos implacavelmente; devemos lutar contra a vida diariamente, devemos aprender a nadar contra a correnteza... 57 O Bom Dono de Casa Este trabalho vai contra a vida, trata-se de algo muito diferente do de todos os dias, e que, contudo, devemos praticar de instante a instante. Refiro-me à Revolução da Consciência. É evidente que, se nossa atitude para com a vida diária é fundamentalmente equivocada, se acreditamos que tudo deve marchar bem, apenas porque assim o queremos, virão os desenganos. As pessoas querem que as coisas lhes saiam bem porque tudo "deve ir de acordo com seus planos", mas a crua realidade é diferente; enquanto alguém não mude interiormente, goste ou não goste, será sempre vítima das circunstâncias. Fala-se e escreve-se sobre a vida muitas estupidezas sentimentais, mas este Tratado de Psicologia Revolucionária é diferente. Esta doutrina vai ao grão, aos fatos concretos, claros e definitivos; afirma enfaticamente que o "Animal Intelectual", equivocadamente chamado homem, é um bípede mecânico, inconsciente, adormecido. "O Bom Dono de Casa" jamais aceitaria a Psicologia Revolucionária; cumpre com todos os seus deveres como pai, esposo, etc., e por isso pensa o melhor de si mesmo. Entretanto, só serve aos fins da natureza, e isso é tudo. Por outro lado, também existe o "Bom Dono de Casa" que nada contra a correnteza, que não quer deixar-se devorar pela vida; mas estes últimos são muitos raros no mundo, nunca abundantes. Quando alguém pensa de acordo com as idéias deste Tratado de Psicologia Revolucionária, obtém uma correta visão da vida. 58 Os Dois Mundos cidade, não associar-se com perversos, não comer veneno, etc., assim também, mediante o trabalho psicológico sobre nós mesmos, aprendemos a caminhar no "Mundo Interior", o qual é explorável mediante a auto- observação de si. Realmente, o sentido de auto-observação de si mesmo encontra-se atrofiado na raça humana decadente deste época tenebrosa em que vivemos. À medida que perseveramos na auto-observação de nós mesmos, o sentido de auto-observação íntima irá se desenvolvendo progressivamente. 81 Os Dois Mundos 62 Observação de Si Mesmo A Auto-Observação íntima de si mesmo é um meio prático para obter uma transformação radical. Conhecer e observar são coisas diferentes. Muitos confundem a observação de si, como o conhecer. Temos conhecimento de que estamos sentados em uma cadeira em uma sala, mas isto não significa que estamos observando a cadeira. Conhecemos que, em um dado instante, nos encontramos em um estado negativo, talvez com algum problema ou preocupação por este ou aquele assunto, ou em estado de desassossego ou incerteza, etc. Mas isto não significa que o estejamos observando. Você sente antipatia por alguém? Não lhe agrada certa pessoa? Por que? Você dirá que conhece essa pessoa... Por favor! Observe-a, conhecer nunca é observar; não confunda o conhecer com o observar... A observação de si, que é cem por cento ativa, é um meio para a transformação de si, enquanto o conhecer, que é passivo, não o é. Certamente, conhecer não é um ato de atenção. A atenção dirigida para dentro de si mesmo, para o que está sucedendo em nosso interior, sim, é algo positivo, ativo... No caso de uma pessoa a quem se tem antipatia, apenas porque nos agrada e muitas vezes sem motivo algum, observa-se a multidão de pensamentos que se acumulam na mente, o grupo de vozes que falam e gritam desordenamente dentro de si mesmo, o que estão dizendo, as emoções desagradáveis que surgem em nosso interior, o sabor desagradável que tudo isto deixa em nossa psique, etc., etc., etc. Obviamente, em tal estado damo-nos conta também de que interiormente estamos tratando muito mal à pessoa a quem temos antipatia. Mas, para ver tudo isto, se necessita inquestionavelmente de uma atenção dirigida intencionalmente para dentro de si mesmo; não de uma atenção es A Tagarelice disso, com a língua secreta, interna, resulta extraordinário, maravilhoso. Muitos calam exteriormente, mas com sua língua interior esfolam vivo ao próximo. A tagarelice interior venenosa e malévola produz confusão interior. Se observarmos a tagarelice interior equivocada, veremos que está feita de meias verdades, ou de verdades que se relacionam de um modo mais ou menos incorreto, ou do algo que se agregou ou se omitiu. Desgraçadamente, nossa vida emocional se fundamenta exclusivamente na "auto- simpatia". Para o cúmulo de tanta infâmia, só simpatizamos conosco mesmos, com nosso "querido Ego", e sentimos antipatia e até ódio daqueles que não simpatizam conosco. Valorizamos demasiadamente a nós mesmos, somos cem por cento narcisistas, isto é irrefutável, irrebatível. Enquanto continuemos bloqueados na "auto-simpatia", qualquer desenvolvimento do Ser tornar-se absolutamente impossível. Necessitamos aprender a ver o ponto de vista alheio. É urgente sabermos colocar-nos na posição dos outros. “Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles" (Mateus VII, 12). O que verdadeiramente conta nestes estudos é a maneira como os homens se comportam interna e invisivelmente uns com os outros. Infelizmente, ainda que sejamos muito corteses e até sinceros às vezes, não há dúvida de que, invisível e internamente, nos tratamos muito mal uns aos outros. Pessoas aparentemente muito bondosas arrastam diariamente seus semelhantes até a cova secreta de si mesmas para fazer com estes todos os seus caprichos (humilhações, engano, escárnio, etc.). 66 O Mundo das Relações O mundo das relações tem três aspectos muito diferentes, que necessitamos aclarar de forma precisa. Primeiro: estamos relacionados com o corpo planetário, ou seja, com o corpo físico. Segundo: vivemos no Planeta Terra e, como consequência lógica, estamos relacionados com o mundo exterior e com as questões atinentes a nós: assuntos familiares, negócios, finanças, questões profissionais, política, etc., etc., etc. Terceiro: a relação do homem consigo mesmo. Para a maioria das pessoas este tipo de relação não tem a menor importância. Desafortunadamente, as pessoas só se interessam pelos dois primeiros tipos de relações, olhando com a mais absoluta indiferença o terceiro tipo. Alimento, saúde, dinheiro, negócios, constituem realmente as principais preocupações do "Animal Intelectual" equivocadamente chamado "homem". Torna-se evidente que tanto o corpo físico como os assuntos do mundo são exteriores a nós mesmos. O Corpo Planetário (corpo físico) às vezes se encontra enfermo, às vezes são, e assim sucessivamente. Cremos sempre ter algum conhecimento do nosso corpo físico, mas, na realidade, nem os melhores cientistas do mundo sabem muito sobre o corpo de carne e osso. Não há dúvida de que o corpo físico, dada sua tremenda e complicada organização, está certamente muito além de nossa compreensão. No que diz respeito ao segundo tipo de relações, somos sempre vítimas das circunstâncias. É lamentável que ainda não tenhamos aprendido a originar conscientemente as circunstâncias. 87 O Mundo das Relações São muitas as pessoas incapazes de se adaptarem às coisas ou às pessoas ou ter verdadeiro êxito na vida. Ao pensar em nós mesmos do ponto de vista do trabalho esotérico Gnóstico, faz-se urgente averiguar com qual destes três tipos de relações estamos em falta. Pode suceder o caso concreto de que estejamos equivocadamente relacionados com o corpo físico e, em consequência disto, podemos estar enfermos. Pode suceder que estejamos mal relacionados com o mundo exterior e, como resultado, tenhamos conflitos, problemas econômicos e sociais, etc., etc., etc. Pode ser que estejamos mal relacionados conosco mesmos e, consequentemente, soframos muito por falta de iluminação interior. Obviamente, se a lâmpada de nosso quarto não se encontra conectada com a instalação elétrica, nosso aposento estará em trevas. Aqueles que sofrem por falta de iluminação interior devem conectar sua mente com os Centros Superiores de seu Ser. Inquestionavelmente, necessitamos estabelecer corretas relações não só com nosso Corpo Planetário (corpo físico) e com o mundo exterior como também com cada uma das partes de nosso próprio Ser. Os doentes pessimistas, cansados de tantos médicos e remédios, já não desejam curar-se; os pacientes otimistas lutam por viver. No Cassino de Monte Carlo, muitos milionários que perderam sua fortuna no jogo se suicidaram. Enquanto isso, milhões de mães pobres trabalham para sustentar seus filhos. São incontáveis os aspirantes deprimidos que, por falta de poderes psíquicos e de iluminação íntima, renunciaram ao trabalho esotérico sobre si mesmos. Poucos são os que sabem aproveitar as adversidades. Em tempos de rigorosa tentação, abatimento e desolação, deve-se apelar para a íntima recordação de si mesmo. 68 A Canção Psicológica Chegou o momento de refletir muito seriamente sobre isso que se chama "consideração interna". Não cabe a menor dúvida sobre o aspecto desastroso da "auto-consideração íntima", pois, além de hipnotizar a consciência, ela nos faz perder muitíssima energia. Caso a pessoa não cometesse o erro de identificar-se tanto consigo mesma, a auto- consideração interior seria totalmente impossível. Quando alguém se identifica consigo mesmo, quando se quer muito, sente piedade de si mesmo, se auto-considera, pensa que sempre se portou bem com Fulano, com Siclano, com a mulher, com os filhos, etc., e que ninguém soube apreciá-lo, etc. Em suma, pensa que é um santo, e os outros uns malvados, uns velhacos. Uma das formas mais comuns da auto-consideração íntima é a preocupação pelo que outros possam pensar sobre nós mesmos; talvez suponham que não somos honrados, sinceros, verídicos, valentes, etc. O mais curioso de tudo isso é que ignoramos lamentavelmente a enorme perda de energia que esse tipo de preocupações nos traz. Muitas atitudes hostis para com certas pessoas, que mal algum nos fizeram, se devem precisamente a tais preocupações nascidas da auto-consideração íntima. Nestas circunstâncias, quando se quer tanto a si mesmo, auto-considerando-se deste modo, é claro que o Eu, ou melhor dizendo, os Eus, em vez de se extinguirem, se fortalecem espantosamente. Identificada consigo mesma, a pessoa se apieda muito de sua própria situação, e até se põe a fazer contas. Então é que pensa que Fulano, que Siclano, que o compadre, que a comadre, que o vizinho, que o patrão, que o amigo, etc. não lhe pagaram n A Canção Psicológica como deviam, apesar de suas costumeiras bondades, e, engarrafado nisso, torna-se insuportável e aborrecedor para todo mundo. Com um sujeito assim praticamente não se pode falar, porque qualquer conversa seguramente vai parar no seu livro de contas e em seus tão cacarejados sofrimentos. Está escrito que, no trabalho esotérico Gnóstico, o crescimento anímico só é possível mediante o perdão aos outros. Se alguém vive de instante em instante, de momento em momento, sofrendo pelo que lhe devem, pelo que lhe fizeram, pelas amarguras que lhe causaram, sempre com sua mesma canção, nada poderá crescer em seu interior. A Oração do Senhor disse: "Perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos a nossos devedores". O sentimento de que alguém nos deve, a dor pelos males que os outros nos causaram, etc, detém o progresso interior da alma. Jesus, o Grande Kabir, disse: "Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto está em caminho com ele, para que não suceda que te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao seu ministro e sejas posto em prisão. Em verdade te digo, dali não sairás antes de teres pago o último centavo" (Mateus V, 25,26). Se nos devem, devemos. Se exigimos que nos paguem até o último cruzeiro, devemos pagar antes até o último centavo. Esta é a "Lei de Taliã absurdo. Olho por olho e dente por dente”, círculo vicioso, As desculpas, satisfações e humilhações que a outros exigimos, pelos males que nos causaram, são também exigidas a nós, ainda que nos consideremos mansas ovelhas. Colocar-se sob leis desnecessárias é absurdo, melhor é colocar-se sob novas influências. 72 A Canção Psicológica A Lei da Misericórdia é uma influência mais elevada que a Lei do homem violento, "Olho por olho, dente por dente”. É urgente, indispensável, inadiável, colocar-nos inteligentemente sob as influências maravilhosas do trabalho esotérico Gnóstico, esquecer que nos devem e eliminar de nossa psique qualquer forma de auto-consideração. Jamais devemos admitir dentro de nós sentimentos de vingança, ressentimento, emoções negativas, ansiedades pelos males que nos causaram, violência, inveja, recordação incessante de dívidas, etc. A Gnose está destinada àqueles aspirantes sinceros que verdadeiramente queiram trabalhar e mudar. Observando as pessoas, podemos evidenciar de forma direta que cada uma tem sua própria canção. Cada qual canta sua própria canção psicológica; quero referir-me de modo enfático a essa questão das contas psicológicas, sentir que lhe devem, queixar-se, auto-considerar-se, etc. Às vezes as pessoas cantam sua canção "sem que nem porque”, "sem que se lhes dê corda", sem que se as estimule, e, em outras ocasiões, depois de umas quantas taças de vinho... Nossa aborrecida canção deve ser eliminada, ela nos incapacita, nos rouba muita energia. Em questão de Psicologia Revolucionária, alguém que canta muito bem — não nos referimos à formosa voz nem ao canto físico - certamento não pode ir além de si mesmo, fica no passado. Uma pessoa impedida por tristes canções não pode mudar seu Nível de Ser, não pode ir além do que é. Para passar a um Nível Superior do Ser, é preciso deixar de ser o que se é, necessitamos não ser o que somos. Se continuamos sendo o que somos, nunca poderemos passar a um Nível Superior do Ser. 73 A Canção Psicológica 76 Retorno e Recorrência Um homem é o que é sua vida; se um homem não modifica nada dentro de si mesmo, se não transforma radicalmente sua vida, se não trabalha sobre si mesmo, está perdendo seu tempo miseravelmente. A morte é o regresso ao próprio começo de sua vida, com a possibilidade de repetí-la novamente. Muito se disse na literatura pseudo-esotérica e pseudo-ocultista sobre o tema das vidas sucessivas. Melhor é que nos ocupemos das existências sucessivas. A vida de cada um de nós, com todos os seus tempos, é sempre a mesma, repetindo-se de existência em existência, através dos inumeráveis séculos. Inquestionavelmente, continuamos na semente de nossos descendentes, isto é algo que já está demonstrado. A vida de cada um de nós, em particular, é um filme vivo que ao morrer levamos para a eternidade. Cada um de nós leva seu filme e torna a trazê-lo para projetá-lo outra vez na tela de uma nova existência. A repetição de dramas, comédias e tragédias é um axioma fundamental da Lei de Recorrência. Em cada nova existência se repetem sempre as mesmas circunstâncias. Os atores de tais cenas, sempre repetidas, são essa gente que vive em nosso interior, os "Eus". Se desintegramos esses atores, esses "Eus" que originam as sempre repetidas cenas de nossa vida, então a repetição de tais circunstâncias se faria impossível. Obviamente, sem atores não pode haver cenas, isto é irrebatível, irrefutável. 77 Retorno e Recorrência Assim é como podemos libertar-nos das Leis de Retorno e Recorrência, assim podemos fazer-nos livres de verdade. Obviamente, cada um dos personagens (Eus) que em nosso interior levamos repete, de existência em existência, seu mesmo papel. Se o desintegramos, se o ato morre, o papel termina. Refletindo seriamente sobre a Lei de Recorrência, ou repetição das cenas em cada Retorno, descobrimos, por auto-observação íntima, os mecanismos secretos desta questão. Se na existência passada, na idade de vinte e cinco anos, tivemos uma aventura amorosa, é indubitável que o "Eu" de tal compromisso buscará a mulher de seus sonhos aos vinte e cinco anos da nova existência. Se a mulher em questão só tinha então quinze anos, o "Eu" de tal aventura buscará seu amado na mesma idade na nova existência. É fácil compreender que os dois "Eus", tanto o dele como o dela, se buscam telepaticamente e se reencontram, para repetir a mesma aventura da existência passada. Dois inimigos que lutaram até a morte na existência passada se encontrarão outra vez na nova existência, para repetir sua tragédia na idade correspondente. Se duas pessoas tiveram uma disputa por bens de raiz, na idade de quarenta anos na existência passada, na mesma idade se buscarão telepaticamente na nova existência, para repetir o mesmo. Dentro de cada um de nós vivem muitas pessoas cheias de compromissos, isso é irrefutável. Um ladrão leva em seu interior uma corja de ladrões, com diversos compromissos delituosos. O assassino leva dentro de si mesmo um "clube" de assassinos, e o luxurioso leva em psique uma “casa de encontros”. O grave de tudo isso é que o intelecto ignora a existência de tais pessoas ou "Eus" dentro de si mesmo, e também os compromissos que fatalmente vão se cumprindo. 78 Auto-Consciência Infantil Foi-nos dito muito sabiamente que temos noventa e sete por cento de subconsciência e três por cento de consciência. Falando francamente e sem rodeios, diremos que noventa e sete por cento da Essência que levamos em nosso interior se encontram engarrafados, embutidos, absorvidos dentro de cada um dos Eus que, em seu conjunto, constituem o "Mim Mesmo". Obviamente, a Essência ou Consciência enfrascada dentro de cada Eu se processa em virtude de seu próprio condicionamento. Qualquer Eu desintegrado libera determinada porcentagem de Consciência, a emancipação ou liberação da Essência ou Consciência seria impossível sem a desintegração de cada Eu. Maior quantidade de Eus desintegrados, maior Auto-Consciência. Menor quantidade de Eus desintegrados, menor porcentagem de Consciência desperta. O despertar da Consciência só é possível dissolvendo o Eu, morrendo em nós mesmos, aqui e agora. Inquestionavelmente, enquanto a Essência ou Consciência esteja embutida dentro de cada um dos Eus que carregamos em nosso interior, encontra-se adormecida, em estado subconsciente. É urgente transformar o subconsciente em consciente, e isto só é possível aniquilando os Eus, morrendo em nós mesmos. Não é possível despertar sem haver previamente morrido em si mesmo. Os que tentam despertar primeiro para depois morrer não possuem experiência real do que afirmam, marcham resolutamente pelo caminho do erro. As crianças recém-nascidas são maravilhosas, gozam de plena 81 Auto-Consciência Infantil auto-consciência, encontram-se totalmente despertas. Dentro do corpo de cada criança recém-nascida encontra-se reincorporada a Essência, e isso dá à criatura sua beleza. Não queremos dizer que cem por cento da Essência ou Consciência estejam reincorporados no recém-nascido, mas sim os três por cento livres, que normalmente não estão enfrascados nos Eus. Não obstante, essa porcentagem de Essência livre reincorporada dentro do organismo das crianças recém-nascidas lhes dá plena auto-consciência, lucidez, etc. Os adultos vêm o recém-nascido com piedade, pensam que a criatura se encontra inconsciente, mas se equivocam lamentavelmente. O recém-nascido vê o adulto tal como em realidade é: inconsciente, cruel, perverso, etc. Os Eus do recém-nascido vão e vêm, dão voltas ao redor do berço, querendo meter-se no novo corpo. Mas, devido a que o recém-nascido ainda não fabricou a personalidade, toda tentativa dos Eus para entrar no novo corpo resulta completamente impossível. Às vezes o bebê se espanta ao ver esses fantasmas ou Eus que se aproximam de seu berço, e então grita, chora, mas os adultos não entendem isso e supõem que a criança está doente, ou que tem fome ou sede: tal é a inconsciência dos adultos. À medida que a nova personalidade vai se formando, os Eus que vêm de existências anteriores vão penetrando pouco a pouco no novo corpo. Quando a totalidade dos Eus já se reincorporou, aparecemos no mundo com essa horrível feiúra interior que nos caracteriza, então andamos como sonâmbulos por todas as partes, sempre inconscientes, sempre perversos. Quando morremos, três coisas vão para o sepulcro: 1.0 corpo físico; 2. o fundo vital orgânico; 3. a personalidade. 82 Auto-Consciência Infantil O fundo vital vai se desintegrando pouco a pouco, como um fantasma, ante a fossa sepulcral, a medida que o corpo físico vai também se desintegrando. A personalidade é subconsciente ou infraconsciente, entra e sai do sepulcro cada vez que quer, alegra-se quando os desconsolados lhe levam flores, ama seus familiares, e vai se dissolvendo lentamente em poeira cósmica. Isso que continua mais além do sepulcro é o Ego, o Eu pluralizado, o mim mesmo, um montão de diabos dentro dos quais se encontra enfrascada a Essência, a Consciência, que a seu tempo e a sua hora retorna, se reincorpora. É lamentável que, ao fabricar-se a nova personalidade da criança, se reincorporem também os Eus. 83 O Publicano e o Fariseu Começar a dar-se conta da própria nulidade e miséria em que nos encontramos é absolutamente impossível enquanto exista em nós esse conceito do "mais". Exemplos: eu sou mais justo que aquele, mais sábio que Fulano, mais virtuoso que Sutano, mais rico, mais esperto nas coisas da vida, mais casto, mais cumpridor dos deveres, etc. Não é possível passar através do buraco de uma agulha enquanto sejamos "ricos", enquanto exista em nós esse conceito do "mais". "É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no reino de Deus”. Isso de que minha escola é a melhor e de que a do próximo não serve, isso de que minha religião é a única verdadeira e todas as outras são falsas e perversas, isso de que a mulher de Fulano é uma péssima esposa e a minha é uma santa, isso de que meu amigo Roberto é um bêbado e eu sou um homem muito judicioso e abstêmio, etc; isso é o que nos faz sentir ricos, motivo pelo qual somos todos como os "camelos" da parábola bíblica, com relação ao trabalho esotérico. É urgente auto-observar-nos de momento em momento, com o propósito de conhecer claramente os fundamentos sobre os quais descansamos. Quando alguém descobre aquilo que mais o ofende em um dado momento, o incômodo que lhe deram por tal ou qual coisa, então descobre as bases sobre as quais descansa psicologicamente. Tais bases constituem, segundo o Evangelho Cristão, "as areias sobre as quais cada um edificou sua casa”. É necessário anotar cuidadosamente como e quando se desprezou aos outros, sentindo- se superior, talvez devido ao título ou à posição social, ou à experiência adquirida, ou ao dinheiro, etc. É grave sentir-se rico, superior a Fulano ou a Siclano, por tal ou qual motivo. Gente assim não pode entrar no Reino dos Céus. É bom que cada um de nós descubra em que se sente lisonjeado, em que é satisfeita sua vaidade; isso virá mostrar-nos os fundamentos sobre os quais nos apoiamos. 86 O Publicano e o Fariseu Contudo, tal classe de observação não deve ser uma questão meramente teórica, devemos ser práticos e observarmo-nos cuidadosamente, em forma direta, de instante em instante. Quando alguém começa a compreender sua própria miséria e nulidade, quando abandona os delírios de grandeza, quando compreende quão néscios são tantos títulos, honras e vãs superioridades sobre nossos semelhantes, é sinal inequívoco de que já começa a mudar. Uma pessoa não pode mudar se se aferra a coisas como "minha casa", "meu dinheiro", "minhas propriedades", "meu emprego", minhas virtudes", "minhas capacidades intelectuais", “minhas capacidades artísticas", “meus conhecimentos", "meu prestígio", etc. Isso de aferrar-se ao "meu" e a "mim" é mais que suficiente para nos impedir de reconhecer nossa própria nulidade e miséria interior. É de assombrar o espetáculo de um incêndio ou de um naufrágio: então as pessoas, desesperadas, se apoderam muitas vezes de coisas que causam riso, coisas sem importância. Pobres pessoas! Sentem-se nessas coisas, descansam nessas bobagens, se apegam a isso que não tem a menor importância. Sentir a si mesmo por meio das coisas exteriores, fundamentar-se nelas, equivale a estar em um estado de absoluta inconsciência. O sentimento da "Seidade" (O Real Ser) só é possível dissolvendo todos esses "Eus" que levamos em nosso interior; antes, tal sentimento resulta absolutamente impossível. Desgraçadamente, os adoradores do "Eu" não aceitam isto, eles se crêem Deuses, pensam que já possuem esses "corpos gloriosos" de que falara Paulo de Tarso, supõem que o "Eu" é divino, e não há quem lhes tire esses absurdos da cabeça. Não se sabe o que fazer com tais pessoas, se lhes explica e não entendem; sempre aferradas às areias as quais edificaram sua casa, sempre metidas em seus dogmas, seus caprichos, suas necessidades. 87 O Publicano e o Fariseu Se essas pessoas se auto-observassem seriamente, verificariam por si mesmas a doutrina dos muitos, descobririam dentro de si mesmas toda essa multiplicidade de pessoas ou "Eus" que vivem em seu interior. Como poderia existir em nós o real sentimento de nosso verdadeiro Ser, quando esses "Eus" estão sentindo por nós, pensando por nós? O mais grave de toda essa tragédia é que a pessoa pensa que está pensando, sente que está sentindo, quando, em realidade, é outro o que em um dado momento pensa com nosso martirizado cérebro e sente com nosso dolorido coração. Que infelizes somos! Quantas vezes cremos estar amando, e o que acontece é que outro dentro de nós, dentro de si mesmo, cheio de luxúria, utiliza o centro do coração. Somos uns desventurados, confundimos a paixão animal com o amor, e, contudo, é outro dentro de nós mesmos, dentro de nossa personalidade, quem passa por tais confusões. Todos pensamos que jamais pronunciaríamos aquelas palavras do Fariseu na parábola bíblica: "Deus, te dou graças porque não sou como os outros homens”, etc. Não obstante, e ainda que pareça incrível, procedemos assim diariamente. O vendedor de carne no mercado diz: "Eu não sou como os outros açougueiros que vendem carne de má qualidade e exploram o povo". O vendedor de tecidos na loja exclama: "Eu não sou como os outros comerciantes que sabem roubar ao medir e que se enriqueceram". O vendedor de leite afirma: "Eu não sou como outros vendedores de leite, que o misturam com água. Gosto de ser honrado". A senhora de casa comenta em uma visita o seguinte: "Eu não sou como Fulana, que anda com outros homens. Graças a Deus sou pessoa descente e fiel a meu marido". Conclusão: os demais são malvados, injustos, adúlteros, ladrões e perversos, e cada um de nós é uma mansa ovelha, um "Santinho de Chocolate", bom para servir de menino de ouro em alguma igreja. 88 A Vontade A "Grande Obra" é, antes de tudo, a criação do homem por si mesmo, à base de trabalhos conscientes e padecimentos voluntários. A "Grande Obra" é a conquista interior de si mesmo, de nossa verdadeira liberdade em Deus. Necessitamos, com urgência máxima, inadiável, desintegrar todos esses "Eus" que vivem em nosso interior, se é que em realidade queremos a emancipação perfeita da Vontade. Nicolas Flamel e Raimundo Lulio, ambos pobres, liberaram sua vontade e realizaram inumeráveis prodígios psicológicos que assombram. Agripa não chegou mais que à primeira parte da "Grande Obra", e morreu penosamente, lutando pela desintegração de seus "Eus", com o propósito de possuir a si mesmo e fixar sua independência. A emancipação perfeita da vontade assegura ao sábio o império absoluto sobre o Fogo, o Ar, a Água e a Terra. A muitos estudantes de psicologia contemporânea parecerá um exagero o que em parágrafos anteriores afirmamos, com relação ao poder soberano da vontade emancipada; não obstante, a Bíblia nos fala maravilhas sobre Moisés. Segundo Filon, Moisés era um Iniciado nas terras dos Faraós, às margens do Nilo, Sacerdote de Osiris, primo do Faraó, educado entre as colunas de Isis, a Mãe Divina, e de Osiris, nosso Pai que está em segredo. Moisés era descendente do Patriarca Abraão, o grande Mago Caldeu, e do respeitável Isaac. Moisés, o homem que liberou o poder elétrico da vontade, possui o dom dos prodígios, isto o sabem os divinos e os humanos. Assim está escrito. Tudo o que dizem as Sagradas Escrituras sobre esse caudilho hebreu é 91 A Vontade certamente extraordinário, portentoso. Moisés transforma seu bastão em serpente, transforma uma de suas mãos em mão de leproso, e logo lhe devolve a vida. Aquela prova de sarça ardente colocou bem claro seu poder, o povo compreende, se ajoelha e se prosterna. Moisés utiliza uma Vara Mágica, emblema do poder real, do poder sacerdotal do Iniciado nos Grandes Mistérios da Vida e da Morte. Ante o Faraó, Moisés muda a água do Nilo em sangue, os peixes morrem, o rio sagrado fica infectado, os egípcios não podem dele beber; e as irrigações do Nilo derramam sangue sobre os campos. Moisés faz mais: faz com que apareçam milhões de rãs desproporcionais, gigantescas, monstruosas, que saem do rio e invadem as casas. Logo, ao seu gesto, indicador de uma vontade livre e soberana, aquelas rãs horríveis desaparecem. Mas como o Faraó não liberta os israelitas, Moisés opera novos prodígios; cobre a terra de sujeira, suscita nuvens de moscas asquerosas e imundas, que depois se dá ao luxo de afastar. Desencadeia a espantosa peste, e todos os rebanhos morrem, exceto os dos judeus. Colhendo fuligem do forno, dizem as Sagradas Escrituras, atira-a no ar, e, caindo sobre os Egípcios, causa-lhes pústulas e úlceras. Levantando seu famoso bastão mágico, Moisés faz chover granizo do céus, que de forma inclemente destrói e mata. Logo faz estalar o raio flamígero, retumba o trovão aterrador e chove espantosamente; logo, com um gesto, devolve a calma. Contudo, o Faraó continua inflexível. Moisés, com um golpe tremendo de sua vara mágica, faz surgir, como que por encanto, nuvens de gafanhotos, logo vêm trevas. Outro golpe da vara e tudo retorna à ordem original. O final de todo aquele drama bíblico do Antigo Testamento é muito conhecido; intervém Jeová, faz morrer todos os primogênitos dos egípcios e o Faraó não tem mais remédio que deixar ir os hebreus. 92 A Vontade Posteriormente, Moisés se serve de sua vara mágica para fender as águas do Mar Vermelho e atravessá-las a pé. Quando os guerreiros egípcios se precipitam por ali perseguindo aos israelitas, Moisés, com um gesto, faz com que as águas voltem a se fechar, tragando os perseguidores. Inquestionavelmente, muitos pseudo-ocultistas, ao ler tudo isto, quiseram fazer o mesmo, ter os mesmos poderes que Moisés, contudo, isto é absolutamente impossível enquanto a Vontade continue engarrafada dentro de todos e cada um desses "Eus" que carregamos nos diferentes transfundos de nossa psique. A Essência é Vontade-Consciência, desgraçadamente processando-se em virtude de nosso próprio condicionamento. Quando a Vontade se libera, então se mescla ou se funde, integrando-se assim com a Vontade Universal, fazendo-se por isto soberana. A vontade individual, integrada com a Vontade Universal, pode realizar todos os prodígios de Moisés. Existem três tipos de atos: a) aqueles que correspondem à Lei dos Acidentes; b) os que pertencem à Lei da Recorrência, fatos sempre repetidos em cada existência; c) ações determinadas intencionalmente pela Vontade Consciente. Inquestionavelmente, só pessoas que hajam liberado sua Vontade mediante a morte do "Mim Mesmo" poderão realizar atos novos nascidos de seu livre arbítrio. Os atos comuns e correntes da humanidade são sempre o resultado da Lei de Recorrência ou mero produto de acidentes mecânicos. Quem possui vontade livre de verdade pode originar novas circunstâncias; quem tem sua vontade engarrafada dentro do "Eu Pluralizado" é vítima das circunstâncias. 93
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