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Os seis desafios formador, Notas de estudo de Pedagogia

Os seis desafios formador

Tipologia: Notas de estudo

2012
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Compartilhado em 04/06/2012

vera-lucia-oliveira-4
vera-lucia-oliveira-4 🇧🇷

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Baixe Os seis desafios formador e outras Notas de estudo em PDF para Pedagogia, somente na Docsity! 1 Avisa lá 30 Edição – abril/2007 REFLEXÕES DO FORMADOR Os seis desafios do formador Formar professores exige saberes refinados, que a Formadora Cristiane Pelissari traduziu em um conjunto integrado de desafios a serem continuamente perseguidos. CRISTIANE PELISSARI1 Tornei-me formadora de professores um pouco por acaso. Esses acasos que com o tempo, e sem a gente perceber; ganham espaço, despertam o desejo, provocam mudanças e se transformam em casos definitivos. Com o tempo, descobri que ser formador de professores2 não é uma tarefa fácil. O ato de formar é complexo, nem sempre linear ou totalmente prescritivo. Constituir-se formador é processual, o que significa, entre outras coisas, tempo, investimento pessoal e disponibilidade para rever-se. Aprender novas formas de ensinar professores pressupõe tempo para testá-Ias, avaliar seus efeitos, realizar ajustes, reavaliá-Ias. É preciso ter a oportunidade de trabalhar com seus pares - dentro e fora da escola - partilhar, além de idéias e conhecimentos, os sucessos e as dificuldades desse ofício especializado em transformar práticas de professores. Constituir-se formador implica desenvolver, progressivamente, um corpo específico de saberes. Saberes esses que nem sempre coincidem com aqueles do ofício de professor (origem profissional da maioria dos formadores de professores). E quais são esses saberes? Que competências, habilidades específicas, capacidades necessitam desenvolver os formadores para que suas ações representem mudanças efetivas dentro das instituições às quais estão vinculados? Na tentativa de dialogar com essas questões e com reflexões de alguns formadores experientes, arrisco-me a elencar seis desafios que considero postos hoje ao contexto da formação continuada de professores e, especialmente, aos formadores de professores. 1 - Criar um contexto investigativo de formação Recorrendo ao princípio da homologia de processos (que busca coerência entre a formação recebida pelo professor e o tipo de educação que posteriormente lhe será pedido que desenvolva com seus alunos), entendo que a melhor maneira de formar professores investigativos, reflexivos e críticos é expô-Ios a uma formação mais dialógica e menos transmissiva. Uma formação que privilegie a análise da prática pedagógica por meio de uma metodologia por resolução de problemas. "Uma capacidade que o formador precisa ter é problematizar a situação de aprendizagem com os professores. "3 1 Formadora do Instituto Avisa Lá e do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores – Letra e Vida. 2 Refiro-me a todos os profissionais que assumiram como uma das suas principais tarefas a formação de professores, sejam coordenadores pedagógicos, diretores de escola, supervisores, técnicos de secretarias públicas e assessores pedagógicos. 3 As falas de educadores que aparecem nesse artigo fazem parte da dissertação de mestrado: A formação dos professores: um tema em discussão. A formação dos formadores de professores: um tema em suspensão - Um estuda sobre os saberes dos formadores de professores. Cristiane Pelissari, Universidade Metodista de São Paulo UMESP, abril de 2005. 2 "É preciso que o formador tenha a capacidade de analisar as atividades dos professores, saber fazer intervenções e dar devolutivas que auxiliem o professor na sua ação e na reflexão sobre ela. Saber problematizar as situações didáticas, de forma que o professor possa pensar sobre seus saberes. " Essas afirmações revelam um desafio cotidiano da profissão de formador: planejar situações- problema4 que se convertam, de fato, em momentos de aprendizagem para os professores. Problematizar uma situação de aprendizagem com os professores significa intervir na intenção de destituir certezas, abalar convicções, instaurar dúvidas, desestabilizar. Gosto de pensar com Lino de Macedo5 quando diz que "a situação-problema pede um posicionamento, pede um arriscar-se, coordenar fatores em um contexto delimitado, com limitações que nos desafiam a superar obstáculos, a pensar em um outro plano ou nível. Trata-se, portanto, de uma alteração criadora de um contexto que problematiza, perturba, desequilibra". Isso pressupõe uma metodologia que, diferente dos modelos tradicionais de formação, privilegie a construção e o uso de conhecimentos, em vez de apenas a transmissão de informações teóricas. 2. Analisar as necessidades formativas dos professores Para diminuirmos o descompasso entre os programas de formação e as necessidades dos professores, é preciso conhecer com maior seriedade e critério as necessidades formativas. Não me refiro aqui apenas àqueles levantamentos de demandas em que os formadores inicialmente "ouvem" os professores para depois delinearem os objetivos da formação, as estratégias a serem utilizadas, os conteúdos a serem ensinados, etc. Ou seja, um movimento de ajuste entre a "procura" de formação e a "oferta" da mesma. Analisar as necessidades formativas é ir muito além desse primeiro diagnóstico. Parece-me que nem sempre é possível "delegar" a esse diagnóstico inicial toda a condução da ação formativa subseqüente. É preciso ultrapassá-Ia. "Eu achava que tinha que desvelar essas necessidades para os professores. Quando você está lá, no dia-a-dia, as coisas ficam meio obscuras. Um olhar diferente, alguém que está afastado do fazer consegue enxergar coisas não “normais”: Eu tento mostrar para elas a necessidade, mas não dizer diretamente. Eu tinha que fazer com que elas pensassem sobre o problema." Na maioria das vezes, as necessidades formativas dos professores encontram-se, também para eles, oculta. Então, como eles podem identificar um problema de que não têm consciência ainda? A experiência com a formação de professores tem me mostrado que a própria formação é um veículo desencadeador de novas necessidades. Em outras palavras: um dos objetivos da formação pautada em uma perspectiva reflexiva - deveria ser a possibilidade de provocar nos professores a "construção" de suas necessidades ou, ainda, de novas necessidades. Tornar o que era inconsciente em um objeto de reflexão. O diagnóstico das necessidades de um grupo de professores não se esgota no momento inicial da formação. Ele se estende, se configura e se reconfigura no "durante", ao longo da formação. Estar atento ao movimento do grupo é tarefa do formador. Provocar e ler essas necessidades desencadeadas pela própria formação é um saber específico a ser, progressivamente, desenvolvido pelos formadores. A observação criteriosa e a escuta - não qualquer escuta - representam aliados nessa perspectiva. 4 "As competências para ensinar no século XXI" - Philippe Perrenoud e Mônica Thurler (org.). In Situação-problema: forma e recurso de avaliação, desenvolvimento de competências e aprendizagem escalar. Artmed, 2002. 5 Lino de Macedo é Professor Titular de Psicologia do Desenvolvimento do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo - USP. É membro do Conselho Consultivo da Revista Avisa lá. 5 “A gente sabe um pouco sobre como as crianças aprendem e eu acho que os professores mesma forma, assim, fazendo jogos com o conhecimento, fazendo ligações com aquilo que sabem." De certa forma, quando você lida com criança,você é detentora do saber, não há um julgamento por parte deles. Quando você passa para a função de formadora, você está lidando com parceiro iguais. Eles têm a mesma formação. " Caminhamos por um terreno ainda pouco explorado, mas arrisco dizer que gerenciar um grupo de professores em formação não é o mesmo que gerenciar uma classe. Atuar como formador de sujeitos adultos (e professores) não consiste simplesmente em pôr em prática as habilidades que desenvolveu em sua origem profissional, mas, sim, adquirir outras que, em geral, o trabalho como professor não exigiu. “Assim como os professores precisam olhar para seus alunos e trabalhar a partir dos conhecimentos prévios deles, o formador também precisa olhar para o professor." "Uma competência que o formador precisa ter é pensar como meu aluno aprende, como ele se aproxima dos objetos de conhecimento. " Conhecer tais processos poderá estabelecer de melhor forma as fronteiras entre essas duas dimensões: ser-professor e ser-formador, dando, assim, maior visibilidade às especificidades de cada função. Considerando o número de professores que anualmente participa de ações formativas e os gastos públicos que os programas de formação representam, penso que esse é um tema que precisa ser investigado urgentemente, pois novas descobertas sobre as atitudes dos professores frente à formação recebida podem possibilitar reorientações consistentes no terreno da política de formação. Estudar, investigar profundamente essas concepções que orientam as práticas dos professores permitirá criar dispositivos formativos que favoreçam o processo de identificação das mesmas. Não que, ingenuamente, devamos acreditar que reconhecer as próprias concepções signifique substituí-Ias, automaticamente, por outras mais coerentes com o conhecimento disponível. Mas, certamente, identificá-Ias já representa uma maior possibilidade de, por meio do autoconhecimento e da auto-avaliação, reconceitualizar práticas até então cristalizadas. 6. Fazer parte de um coletivo de formadores: o trabalho colaborativo Aqui gostaria de destacar a necessidade de se instaurar um trabalho de elaboração colaborativa do conhecimento dentro dos grupos de formadores. É preciso considerar que os formadores também são sujeitos em formação, também vivem um processo de desenvolvimento profissional. "Comecei a pensar mais nesse papel de formadora e ter instrumentos para atuar como formadora à medida que eu encontrei um grupo de pessoas que faziam a mesma coisa que eu e ali a gente tinha um espaço para discutir o que estávamos fazendo. " "Não é intuitivo, existe estudo. Ver esse lado da formação que eu não via. A gente achava que só conhecer o conteúdo que ia ser discutido bastava. Achava que isso era suficiente para ser formador, mas descobri que não é. " "É importante encontrar pessoas que possam direcionar seu olhar para alguns aspectos. Eu me lembro que quando eu fazia relatórios, eu tinha uma pessoa que me indagava, me ajudava a ver as coisas. " 6 As falas dos formadores evidenciam a importância do coletivo na construção do conhecimento. A interação é a engrenagem do saber, exatamente porque nos permite (re) pensar nossas idéias à luz das dos outros. “A gente sozinho não consegue. A gente acaba se isolando cada um com seus saberes e aí dá impressão que não dá para compartilhar com o outro. Mas uma coisa que acho fundamental é estar refletindo, é essa busca. " Viver o coletivo nessa perspectiva é trabalhoso, frustrante, às vezes, pois envolve a disponibilidade para viver o conflito, a diferença de opiniões. Exige deslocar-se, sair de si mesmo para considerar o outro. Como diz Saramago7, "se não sais de ti, não chegas a saber quem és ... é necessário sair da ilha para ver a ilha ... " Entendo que sair de nós, no contexto da formação, significa ser co-responsável pela formação dos seus pares, do grupo ao qual pertence. Antes de finalizar, gostaria, ainda, de ressaltar que se constituir formador de professores pressupõe desejar aprender, e não apenas ensinar. Assumir que é preciso estudar, dialogar com o conhecimento disponível sobre o assunto, investir na própria formação, reivindicar espaços de reflexão para o desenvolvimento dos saberes específicos necessários a sua função. PARA SABER MAIS Livros • “Diz-me como ensinas, dir-te-ei quem és e vice-versa”, A. Nóvoa. In: A pesquisa em educação e as transformações do conhecimento. Ed. Papirus. Tel.: (19) 3272.4500. • A profissionalização dos formadores de professores, Marguerite Altet, Léopold Paquay e Philippe Perrenoud. Ed. Artmed. Tel.: 0800.703.3444. • Era assim, agora não... – uma proposta de formação de professores leigos, Regina Scarpa. Ed. Casa do Psicólogo. Tel.: (11) 3034-3600. • Ler e escrever na escola, o real, o possível e o necessário, Delia Lerner. Ed. Artmed. Tel.: 0800.703.3444. • O conto da ilha desconhecida, José Saramago. Ed. Cia. das Letras. Tel.: 11 3707-3500. • Processos formativos da docência: Conteúdos e práticas, Maria da Graça Nicoletti Mizukami & Aline M. de Medeiros R. Reali. Ed. UFSCAR. Tel.: (016) 3351-8014 Sites • O conto da ilha desconhecida, José Saramago. http://www.releituras.com/jsaramago_conto.asp • Programa Letra e Vida - Formação de Professores Alfabetizadores. http://cenp.edunet.sp.gov.br/letravida/ 7 In O conto da ilha desconhecida, José Saramago. Ed. Cia. das Letras. Te!.: 11 3707-3500.
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