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Guias e Dicas
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Tecnicas de Expressão Oral e Escritas, Notas de estudo de Arquitetura

Livro da disciplina de TEOE

Tipologia: Notas de estudo

2012
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Baixe Tecnicas de Expressão Oral e Escritas e outras Notas de estudo em PDF para Arquitetura, somente na Docsity! Introdução Com este módulo pretende-se dotar os alunos de competências de leitura, quer ao nível da compreensão quer ao nível das competências da expressão escrita. Informando Sistematizando Aplicando • Procurando saber mais Conteúdos 1. A leitura ■ Etapas da leitura; ■ Resumo; ■ Síntese. Objectivos ■ Apreender criticamente o significado e a intencionalidade de textos escritos. ■ Seleccionar estratégias adequadas ao objectivo da leitura. ■ Utilizar técnicas de registo e tratamento de informação. ■ Dominar técnicas fundamentais da escrita compositiva. Competências ■ Criar autonomia e hábitos de leitura, com vista à fluência de leitura e à eficácia na selecção de estratégias adequadas à finalidade em vista; ■ Apropriar-se das técnicas fundamentais da escrita, com vista à desenvoltura, naturalidade e correcção no seu uso multifuncional. ■ Dominar as convenções que subjazem à produção de textos escritos que cumpram as propriedades da textualidade. A Leitura Leitura A leitura constitui um dos recursos mais valiosos para o desenvolvimento da técnica da redacção. Mas, nem sempre conseguimos ler ou gostamos de ler. Às vezes, o culpado é o próprio livro. Desinteressante, é deixado de lado nas primeiras páginas. Às vezes, outros factores prejudicam a leitura e contribuem desfavoravelmente para o desenvolvimento deste hábito tão necessário ao estudante: vocabulário restrito, falta de hábitos de leitura. Para que se obtenha um bom rendimento nos exercícios de leitura, é preciso que sejam alcançados alguns objectivos fundamentais: ■ associar o que se lê com experiências e vivências pessoais; manter a atenção durante um tempo relativamente grande na leitura; ■ distinguir as ideias principais ou aspectos essenciais do texto que está a ser lido; ■ perceber a mensagem ou mensagens transmitidas pelo autor; ■ saber responder a perguntas sobre o livro; sempre que necessário tirar conclusões pessoais a partir dos dados fornecidos pela leitura; ■ captar o clima geral ou contexto de leitura e conseguir enquadrar-se nele; ■ compreender as estruturas da frase construídas pelo autor, capacitando-se assim, gradualmente para realizar leituras mais profundas. A. Mas, o que ler? 51 • Análise – a desmontagem do processo de leitura, analisando parte por parte, para tirar do texto o máximo possível de informações e de reflexão. • Resumo – compreensão do texto, destaque de todas as ideias-chave, é uma reprodução do texto utilizando uma outra construção. • Síntese – é diferente do resumo, na medida em que não se trata de dar todas ou mesmo as principais ideias do texto, mas apenas de pôr em relevo a ideia-chave ou ideias-chave, do discurso naquilo que ele tem de fundamental. Naturalmente várias conclusões são possíveis a partir da mesma leitura, segundo a visão pessoal que se tiver do problema. A síntese é uma recriação interpretativa. Põe em relevo o essencial. • Conclusão – propõe uma resposta ou anuncia uma tomada de posição que lhe parecer mais adequada. • Significação lexical Polissemia Não basta termos ideias variadas para uma redacção. É necessário que tenhamos recursos igualmente válidos para expressarmos as nossas ideias. Um dos principais factores na aquisição de tal capacidade é termos um vocabulário amplo e preciso. Em relação ao sentido das palavras, é necessário que recordemos o que é a polissemia. As palavras possuem vários sentidos e valores mas só adquirem um valor e sentido precisos dentro do contexto em que estão inseridas. A adequação entre a exigência do contexto e a escolha de certo vocabulário e o conhecimento do seu significado preciso revelam um eficiente uso do vocabulário. Denominamos polissemia o fenómeno ocorrido com a palavra que é capaz de simbolizar várias ideias, dependendo do ambiente linguístico em que se encontra, que é a frase. Exemplo 1 a. O Pedro bateu a porta. b. O Jairson bateu com o carro. c. O teu coração bateu bem rápido. Vamos reflectir... Como podemos observar, o verbo bater assume significados diferentes, dependendo do contexto de cada frase. Na frase a), o verbo tem o significado de fechar, na frase b) tem o significado de embater; por sua vez, na frase c) tem o significado de pulsar. Para exemplificar, constate o carácter polissémico das seguintes palavras. Escreva diferentes frases em que a palavra indicada adquira diferentes sentidos. Na coluna da direita, precise o sentido que as palavras assumem em cada uma das frases que construiu. Linha 1. 2. 3. Cabeça 1. 2. 3. Torto 1. 2. 3. Direito 1. 2. 3. Ligar 1. 2. 3. Conotação e denotação Um outro aspecto importante é o que diz respeito ao valor denotativo e conotativo dos vocábulos. Quando uma palavra é utilizada no sentido usual, comum, literal, naquele em que os dicionários registam em primeiro lugar, dizemos que esta é utilizada no seu valor denotativo. No entanto, quando uma palavra é usada no sentido figurado, conotativo, afectivo, indo para além do sentido comum, sugerindo outras ideias de ordem abstracta, dizemos que está usada no valor conotativo que possui. Exemplo 2 “Hoje está muito calor” sentido “Estou com muito calor” denotativo Vamos reflectir.... Como podemos ver, nas duas primeiras frases, a palavra calor é utilizada no sentido comum, significando temperatura elevada, a esta acepção da palavra denominamos valor denotativo Na segunda frase, a mesma palavra, calor, é utilizada num sentido figurado, significando, neste caso, a afectividade 51 “O calor das suas palavras animou-me muito” – sentido conotativo. das palavras. A esta acepção das palavras denominamos valor conotativo. Relações semânticas entre as palavras Relações de equivalência: sinonímia Quando pretendemos desenvolver a nossa propriedade vocabular devemos ter a preocupação de localizar as séries de palavras sinónimas e antónimas, sempre que possível. No desempenho da expressão escrita, usamos palavras que muitas vezes têm sentidos afins. As palavras que se unem por uma estreita e comum noção de sentido damos o nome de sinónimas. Convém, no entanto, ressalvar que duas palavras sinónimas nunca expressam um sentido totalmente igual, mas possuem traços semânticos em comum, com sentidos parecidos ou semelhantes. Exemplo 2 mensalidade soldo diária honorários ordenado salário féria Vamos reflectir... Todas as palavras mencionadas na coluna da direita, reportam-se a pagamento por serviços prestados; logo são palavras sinónimas. Nas séries de sinónimos abaixo indicadas, examine as subtilezas de significado e as distinções que sente existirem entre as palavras da coluna da esquerda e a coluna da direita. Elabore uma conclusão utilizando uma linguagem objectiva e clara. sensível manhoso rosto cara económico avarento negar recusar dizer garantir pedir implorar ir partir deixar abandonar pensar cismar Etapas considerar para a análise de um texto: a. Leitura, procure sublinhar palavras, expressões ou frases que lhe pareçam essenciais para a compreensão do texto. b. Caso seja necessária à compreensão do texto, efectue uma pesquisa sobre o autor, a época em que viveu, a importância da sua obra. c. Se houver palavras que não conhece ou cujo sentido não conseguiu apreender, consulte um dicionário. d. Releia o texto tentando dividi-lo em partes. Examine o conteúdo de cada uma delas. Localize a ideia principal e as ideias secundárias que lhe servem de argumento e reforço. e. Atribua um título-resumo a cada parte f. Apreenda o assunto do texto. g. Localize e fixe o tema do texto. h. Observe os recursos formais, adjectivação, figuras de estilo e relacione-os com as exigências temáticas (conteúdo-forma). i. Observe as palavras, a sua colocação na frase. j. Proceda ao levantamento das conclusões. k. Formule uma síntese do texto, elabore as suas impressões pessoais e localize a mensagem final do texto. Reserve um tempo para fazer interpretações de textos cujas conclusões sejam elaboradas sob a forma de pequenas redacções. Os comentários e explicações de texto devem seguir um roteiro. Apresentamos, a seguir, algumas sugestões: Interpretação esquemática: a. retirar as ideias fundamentais (mais importantes); b. utilizar uma linguagem própria; c. redigir um pequeno comentário adjunto. Interpretação explicativa: a. retirar as ideias principais e secundárias; b. explicar as ideias principais e focalizar as secundárias em função das primeiras; c. utilizar linguagem própria. Interpretação criadora ou imaginativa: a. retirar as ideias principais e secundárias; b. supor o sentido que o autor desejou dar ao texto; c. utilizar linguagem própria; d. elaborar , a partir da sugestão do texto, uma conclusão pessoal. Ao redigir não se esqueça de: 51 a. enfatizar o título, usando uma das seguintes alternativas; b. maiúsculas iniciais, com excepção das palavras de pequena extensão, como preposições, conjunções...; c. maiúscula inicial apenas na primeira palavra, seja ela artigo, verbo, preposição...; d. usar ponto final nos títulos, em se tratando de frase ou citação; e. entre o título e o contexto, deixar uma linha em branco; f. escrever com caligrafia legível; g. antes de iniciar o trabalho, antes mesmo do rascunho, esquematizar um roteiro de ideias; h. estruturar a redacção em três partes que correspondam a uma introdução ao assunto, ao desenvolvimento do mesmo e à conclusão do trabalho; i. indicar o tema em torno de uma só ideia central, complementando-a com ideias secundárias; j. indicar a ideia-chave nas primeiras linhas da introdução; k. procurar não repetir a mesma palavra seguidamente, substituindo-a por outra de significado semelhante; l. separar as diferentes ideias em parágrafos distintos, guardando-lhes a devida conexão; m. não rasurar a redacção; n. evitar o emprego de palavras ou expressões estrangeiras . Usá-las entre aspas ou sublinha-las quando não houver palavra correspondente na língua portuguesa; o. optar pela simplicidade de estilo , clareza de ideias e objectividade na análise do assunto; p. escrever frases curtas. A selecção e organização das ideias na redacção : os esquemas A composição Consiste em ajustar e organizar os pensamentos. A precisão lógica da exposição linguística importa, antes de tudo, no problema da composição. O próprio raciocínio, ainda não exteriorizado, depende de tal factor para se desenvolver. A exposição escrita deve ser mais trabalhada, porque os seus elementos ficam acrescidos dos encargos de clareza, expressão que, na fala, se distribuem de outra maneira. Nela também o problema do estilo apresenta importância muito maior, uma vez que não aparecem as riquezas da expressão oral para captarem a atenção do leitor, o qual deve recriar o jogo de pausas e cadências, trabalho este auxiliado pelos sinais de pontuação. A arte de escrever precisa assentar numa actividade preliminar já radicada, que parte do ensino escolar e de um hábito de leitura bem conduzido. O plano da redacção Surge da necessidade de um esquema, uma vez que se tem de focalizar o assunto, examinando-o de um determinado ângulo. Esta actividade passa pela selecção de expressões rápidas e abreviadamente indicativas, articuladas entre si como deverão ficar no trabalho planeado. O esquema auxilia e encaminha o trabalho. É um ponto de referência, sempre sujeito a reduções e alterações. O desenvolvimento do esquema O esquema deve ser desenvolvido antes, como fixação da natureza da exposição. A seguir deve ser ampliado num rascunho, de cuja revisão surge a redacção completa. É antes um novo escrito do que o rascunho passado a limpo. Assim, do esquema passa-se ao rascunho; deste, para a redacção propriamente dita e esta, ampliada e trabalhada chega a uma forma definitiva. Como traçar esquemas? Para percebermos o valor e importância de um esquema que oriente a redacção, é preciso que estudemos a estrutura de textos que apresentem organização e sequência de ideias. Somente aprendendo a dividir uma composição nas várias etapas que a integram, é que poderemos aprender a organizar e ordenar o nosso pensamento, treinado-o para a redacção. 51 Antes de começar a fazer um resumo, o leitor deve dar especial atenção à leitura do texto (lê-lo pelo menos 3 vezes); a compreensão do texto é de importância extrema para que se consiga resumir com sucesso. O sublinhado das palavras/expressões chave só deve ser feito na terceira leitura, quando já se conhece o texto e já se consegue discernir o essencial do acessório. Convém não esquecer que o uso do dicionário é importante para verificar sinónimos e consultar vocabulário. 1.ª etapa Primeira leitura atenta do texto – identificar o assunto, identificar o tipo de texto de que se trata, verificar parágrafos. Segunda leitura – apreensão do texto; com uma leitura mais cuidada, vai-se apropriando do texto e descobrindo informação relevante. Distingue-se o essencial do secundário. Terceira leitura – depois da descoberta da informação pode-se passar à técnica do sublinhado (palavras/expressões). Aqui deve-se ter especial atenção. Muitos alunos têm a tendência de sublinhar tudo indiscriminadamente; no final, têm um texto todo sublinhado e não conseguem ver o que é realmente importante. Daí aconselhar-se só a sublinhar na terceira leitura, porque é nesta fase que se está apto a pôr em evidência as palavras/expressões realmente importantes. 2.ª etapa Dividir o texto em partes (geralmente os parágrafos do texto ajudam bastante). Depois de dividido, dar um título a cada parte. Esta etapa é fundamental para, no final, elaborar o resumo definitivo. À medida que se vai dividindo o texto em partes, convém ir escrevendo logo as ideias fundamentais. 3.ª etapa Proceder ao resumo, seguindo as directrizes anteriores. Se o texto obedecer a um limite de palavras não se deve ter essa preocupação de imediato, só depois do resumo elaborado se deve voltar a lê-lo e, então, se necessário, contraí-lo ainda mais. O que reter? Ao elaborar um resumo deve-se ter em atenção: a. retirar exemplos e citações do texto (por vezes é necessário manter determinadas citações para uma melhor compreensão da ideia do autor); b. eliminar as marcas pessoais do autor e substitui-las por marcas impessoais. Exemplo: “eu acho que devemos ser selectivos na escolha de programas televisivos” por “deve-se ter atenção com a selecção de programas televisivos”; c. evitar comentários e opiniões no texto, pois tornam-no subjectivo. Ex.: “os jardins-de-infância são depósitos humanos onde os pais despejam os filhos”, este comentário, sendo importante para o texto como unidade, no resumo, é dispensável; d. retirar todas as expressões sintácticas repetitivas e, se possível, arranjar expressões que sejam englobantes. Exemplo: “...o arado, a foice, a enxada...” por “alfaias agrícolas”; e. sempre que possível utilizar articuladores do discurso para a ligação entre as ideias. Um texto coeso e coerente não perde a sua estrutura, além de se tornar mais compreensível. Exemplo: “a criança era perspicaz, a criança era astuta e tinha sempre a resposta pronta...” por “a criança tinha sempre a resposta pronta pois era perspicaz e astuta”; f. utilizar uma linguagem clara, objectiva, concisa e cuidada, respeitando sempre o texto original. Antes de passarmos à prática de resumo de textos na sua íntegra, vamos começar pela redução de pequenos textos, reformulação de frases e expressões. A. Nas frases seguintes, substitua a formulação em itálico por uma palavra ou conjunto de palavras, condizente com o contexto: 1. Falei com a filha da minha tia. 2. A CCSD /SIDA iniciou uma campanha com vista a evitar que a população fique infectada com o vírus. 3. A desvalorização do dinheiro e o aumento dos preços dos produtos preocupa a população em geral. 4. Ele tem uma máxima que o faz acreditar que tudo se resolve e que o protege de aflições desnecessárias. 51 B. Economize o número de palavras entre parênteses, utilizando outro verbo. 1. O corte sucessivo da luz e da água (deu origem) a manifestações de rua. 2. O Governo (teve de fazer face) ao fraco investimento externo. 3. Esta avaria (é a prova) do mau funcionamento da máquina. 4. A polícia (teve de usar) a força contra os manifestantes. 5. Esta reacção (é a prova do) seu verdadeiro carácter. 6. Ele (deu o conselho) ao seu filho para não se pronunciar sobre o assalto. 7. Deveríamos (fazer o teste) da performance deste novo veículo. 8. Esta resolução (vai contra) a vontade da associação de estudantes. 9. (Fiquei conformado) com o insucesso na disciplina de Estatística. 10. Esta situação (é própria de todos) os ambientes desertificados. b. “Podemos antever que as tecnologias da informação, com base nos computadores, serão o principal eixo de desenvolvimento das sociedades de amanhã. A liderança no caminho do futuro pertence às sociedades que estão preparadas para assumir, no seu seio, a mudança permanente e que encorajam a diversidade e a criatividade e não o conformismo social.” ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ _______________ c. “Entre as qualidades mais apreciadas na mão-de-obra contar-se-á certamente a versatilidade, o desembaraço e uma boa capacidade de enfrentar e resolver novas situações.” ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________ 3. Atente no 3.º parágrafo: “ por outro lado, será de esperar que os horários de trabalho sejam mais flexíveis e que o trabalho produtivo seja menos repetitivo do que no passado” 3.1. Substitua o articulador de discurso sublinhado por outro de sentido idêntico. ________________________________________________________________________________ ___ 3.2. Qual a relação de sentido que estabelece com a ideia anterior? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ______ 4. Sublinhe as palavras-chave/expressões que considere relevantes para a compreensão do texto. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ______ 51 5. Elabore o resumo do texto. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ____________________ Mulheres de ÁFRICA Chegados ao Terceiro Milénio, constatamos a necessidade de reafirmar que os direitos das mulheres são direitos humanos. Não obstante a evolução das mentalidades e dos instrumentos jurídicos internacionais conquistados ao longo do século XX, constitui um facto objectivo inquestionável que em várias latitudes a mulher é maltratada e não respeitada na sua dignidade enquanto pessoa. No que tange ao Continente Africano onde são inúmeros os sofrimentos, desde as mutilações à fome implacável, onde a pobreza atinge um maior número da população, é o trabalho das mulheres africanas que constitui a base económica das suas comunidades. São elas as obreiras incansáveis do lar, são elas o sustento e amparo de seus filhos, são elas que palmilham as terras na busca de lenha ou alguns tubérculos, são elas que, impulsionadas pelo instinto maternal, desenvolvem técnicas de sobrevivência em tempos de seca e de guerra. Não mais se pode negar a importância do papel da mulher no aperfeiçoamento e desenvolvimento das sociedades, em especial, nas africanas. Torna-se imperioso dotar as mulheres africanas dos instrumentos necessários, para que mais e melhor possam assumir de pleno as suas capacidades na tomada de decisões, quer no silêncio dos seus lares como na vida pública. Num olhar mais atento à história da Humanidade, cumpre lembrar alguns exemplos olvidados de Grandes Mulheres de África que em circunstâncias diferenciadas souberam impor- se como lideres e defensoras dos seus povos: Candace de Mémore, rainha núbia que reinou entre 283 e 115 A.C., a quem sucederam outras seis rainhas; Kahina do Magreb, que segundo se conta conseguiu no século VIII suster por algum tempo a invasão árabe da África do Norte; Amina da Hausalândia na África Ocidental, que no século XV, diz a lenda, cavalgou à frente das suas tropas em defesa do seu povo e território; as imperatrizes Helena e Sabla Wangel da Etiópia que viveram no século XVI tendo ambas estabelecido cordiais relações com o reino de Portugal; Dona Beatriz do Congo, cujo reino se estendia por ambas margens do Rio Zaire, e que morreu queimada com o seu filho nos braços ao querer fundar uma igreja genuinamente angolana, sendo considerada a pioneira do africanismo; Mmaanthatisi do Shoto, fundadora do Lesoto, viveu entre 1781 e 1835, cuja inteligência se impôs aos homens influentes daquela época. De entre as grandes Mulheres de África, destaca-se Nzinga de Angola ou Ginga, Rainha da Matamba, viveu entre 1581 e 1663, com arte política e militar enfrentou portugueses e holandeses, procurando com dignidade e altivez manter os limites territoriais do seu reino e a liberdade do seu povo. A Nação Angolana ao longo dos últimos 40 anos tem vivido as mais árduas e duras provas de uma guerra que dilacerou famílias, fazendo chorar muitas mães. Mas são essas mesmas mães, que na esteira de Nzinga, nos dão as maiores provas de bravura e tolerância, providenciando pelo alimento e educação dos filhos que tomou como seus. Hoje, justiça seja feita, a Mulher Angolana, por força das circunstâncias e alicerçada nas suas naturais características, espírito de abnegação e capacidade empreendedora, significa um pólo determinante no desenvolvimento da sociedade angolana, que se manifesta em todos os quadrantes, quer na iniciativa privada como assumindo cargos públicos. A coragem e determinação demonstradas ao longo dos tempos diz-nos ser do interesse de toda a Humanidade promover a igualdade, desenvolvimento e paz para todas as mulheres no Mundo. Torna-se absolutamente necessário, digamos mesmo obrigatório, que a mulher africana intervenha ao nível da política, garantindo um estatuto de igualdade perante as leis, sem recuos, como vem sucedendo nalgumas sociedades onde essas conquistas já consagradas e postas em execução são transformadas em letra morta. A sensibilidade feminina utilizada em todas as circunstâncias da vida para conservação da espécie humana com os sacrifícios que lhe são exigidos deverá também ser utilizada na discussão dos assuntos políticos e na partilha de responsabilidades, com vista à construção de sociedades mais equitativas, à erradicação da pobreza, ao combate à sida e à consolidação da democracia em que homens e mulheres sejam agentes e beneficiários de um desenvolvimento sustentado centrado na pessoa humana. Cláudia Cardoso, África Hoje, n.º 174, 8 de Março 2003 1. O papel da mulher em África é uma das questões cimeiras da actualidade. Diga de que forma a mulher tem sido vítima de um sistema político-social a que tem sido votada. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ____________ 2. “Torna-se imperioso dotar as mulheres africanas dos instrumentos necessários, para que mais e melhor possam assumir de pleno as suas capacidades na tomada de decisões, quer no silêncio dos seus lares como na vida pública”. 51 7. Atente nas seguintes palavras e preencha os espaços em branco. instrumentos/ dignidade/ implacável/ incansáveis/ imperioso/ circunstâncias/ erradicação/ estatuto/ mecanismos a. Quanto mais leio, mais verifico que o livro é um _______________ que desenvolve a mente humana. b. O desastre aconteceu em ______________ pouco claras, dai ter sido necessário criar _______________ para averiguar o assunto. c. Os responsáveis pelo projecto foram ______________ na procura de uma solução, no entanto foram _______________ no que diz respeito a prazos. d. Tornou-se _______________ a construção de uma escola no Bairro onde vivemos pois a ______________ das crianças é muito importante. e. Os funcionários públicos têm um _______________ dentro da sociedade bem definido, é preciso, no entanto, ______________ o absentismo. 8. Acrescente um sufixo a cada uma das palavras abaixo indicadas e construa uma frase. a. implacável______________________________________________________ _________________ b. dignidade_______________________________________________________ _________________ c. incansáveis_____________________________________________________ __________________ d. instinto_________________________________________________________ ________________ e. imperioso_______________________________________________________ _________________ 9. Acrescente um prefixo às palavras dadas de modo a encontrar o sentido oposto e construa uma frase para cada uma delas. a. questionável______________________________________________ _______________________ b. capacidades______________________________________________ ________________________ c. diferenciadas_____________________________________________ ________________________ d. amizade__________________________________________________ _______________________ e. digno_____________________________________________________ ______________________ f. tolerância________________________________________________ ________________________ g. justiça____________________________________________________ ______________________ h. sensibilidade_____________________________________________ _________________________ i. responsabilidade_________________________________________ _________________________ 10. Faça, agora, o resumo do texto. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ____________________________________ A Ria de Aveiro A ria é um enorme pólipo com os braços estendidos pelo interior desde Ovar até Mira. Todas as águas do Vouga, do Águeda e dos veios que nestes sítios correm para o mar encharcam nas terras baixas, retidas pela duna de quarenta e tantos quilómetros de comprido, formando uma série de poças, de canais, de lagos e uma 51 vasta bacia salgada. De um lado o mar bate e levanta constantemente a duna, impedindo a água de escoar; do outro é o homem que junta a terra movediça e a regulariza. Vem depois a raiz e ajuda-o a fixar o movimento incessante das areias, transformando o charco numa magnífica estrada, que lhe dá o estrume e o pão, o peixe e a água da rega. Abre canais e valas. Semeia o milho na ria. Povoa a terra alagadiça e, à custa de esforços persistentes, obriga a areia inútil a renovar constantemente a vida. Edifica sobre a água, conquistando-a, como na Gafanha, onde alastra pela ria. Aduba-a com o fundo que lhe dá o junco, a alga e o escasso – detritos de pequenos peixes. Exploram a ria os mercantéis, que fazem o tráfego da sardinha, os barqueiros que fazem os fretes marítimos, os rendeiros das praias que lhe aproveitam os juncais, os marnotos, que se empregam no fabrico do sal, os moliceiros, que apanham as algas, e finalmente os pescadores da Murtosa, que são os únicos a quem se pode aplicar este nome, e que entre outras redes usam a solheira, a rede de salto, a murgueira e a branqueira. O homem nestes sítios é quase anfíbio: a água é-lhe essencial à vida e a população filha da ria e condenada a desaparecer com ela. Se a ria adoece, a população adoece. Segundo Pinho Leal, em 1550, Aveiro tinha doze mil habitantes e armava 150 navios. A barra entulha-se, a terra decai. Em 1575, com a barra outra vez entupida, os campos tornam-se estéreis e a cidade despovoa-se. A alma desta terra é na realidade a sua água. A ria, como o Nilo, é quase uma divindade. Só ela gera e produz. Todos os limos, todos os detritos vêm carreados na vazante até à planície onde repousam. Isto é água e estrume, terra vegetal que se transforma em leite e pão. Palpa-se a camada de terra gordurosa sobre a areia. E, além de fecundar e engordar, a ria dá-lhes a humidade durante todo o ano, e com a brisa do mar refresca durante o Estio as plantas e os seres. Uma atmosfera de humidade constante envolve a paisagem como um hálito. Raul Brandão., Os Pescadores 1. Divida o texto em partes e atribua um título a cada uma delas. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ____________ 2. Resuma as frases seguintes: 2.a. “A ria é um enorme pólipo com os braços estendidos pelo interior desde Ovar até Mira. Todas as águas do Vouga, do Águeda e dos veios que nestes sítios correm para o mar encharcam nas terras baixas, retidas pela duna de quarenta e tantos quilómetros de comprido, formando uma série de poças, de canais, de lagos e uma vasta bacia salgada “ capacidade para alterar os padrões climáticos à escala local, regional e global, como já o estão a fazer – de uma maneira potencialmente catastrófica. Vejam-se os milhares de milhões de toneladas de anídrico carbónico que são emitidas todos os anos, no decurso da nossa vida quotidiana. Conduzir um automóvel, ligar uma luz, trabalhar numa fábrica, adubar um campo, tudo isso contribui para a crescente carga atmosférica de gases que aprisionam o calor. A menos que comecemos a controlar as emissões de CO2 e de compostos similares, as temperaturas médias globais vão, provavelmente, subir entre 1 e 5 graus até ao final do século; mesmo a extremidade inferior desse espectro pode causar muita confusão meteorológica. Entre outras coisas, quanto mais elevada for a temperatura, mais rapidamente a humidade pode evaporar-se da superfície da terra e condensar, sob a forma de gotas de chuvas nas nuvens, aumentando substancialmente o risco tanto de secas como de chuvas torrenciais. A actividade humana está a modificar a precipitação de outras maneiras dramáticas. As imagens de satélites mostram que os aerossóis industriais – ácido sulfúrico e coisas semelhantes – emitidas pelas siderurgias, refinarias de petróleo e centrais eléctricas estão a suprimir a precipitação nos grandes centros industriais. In Revista Visão, 13 de Abril de 2000 Proposta de síntese: O texto refere que, ao contrário do esperado, se observa uma degradação do estado do clima provocado drasticamente pelos seres humanos, no mundo inteiro. Diariamente, emitem-se enormes quantidades de dióxido de carbono que estão a provocar um aumento considerável da temperatura no planeta, que provocará condições meteorológicas extremas: ou grandes secas ou chuvas torrenciais. A poluição industrial também contribui para as alterações do clima, reduzindo a precipitação nos centros industriais. Redija a síntese do seguinte texto: AQUI ESTÃO “OS GATOS”! Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, e fez o crítico à semelhança do gato. Ao crítico deu ele, como ao gato, a graça ondulosa e o assopro, o ronrom e a garra, a língua espinhosa e a calinerie. Fê-lo nervoso e ágil, reflectido e preguiçoso; artista até ao requinte, sarcasta até à tortura, e para os amigos bom rapaz, desconfiado para os indiferentes, e terrível com agressores e adversários. – Um pouco lambareiro talvez perante as belas coisas, e um quase-nada céptico perante as coisas consagradas achando a quase todos os deuses pés de barro, ventre de jibóia a quase todos os homens, e a quase todos os tribunais portas 51 travessas. – Amigo de fazer jongleries com a primeira bola de papel que alguém lhe atire, ou seja um poema, ou seja um tratado, ou seja um código. – Paciente em aguardar, manso e apagado, com um ar de mistério, horas e horas, a sortida dum rato pelos interstícios dum tapume, e pelando-se, uma vez caçada a presa, por fazer da agonia dela uma distracção; ora enrolando-a como um cigarro, entre as patinhas de veludo; ora fingindo que lhe concede a liberdade, e atirando-a ao ar, recebendo-a entre os dentes, roçando-se por ela e moendo-a, até a deixar num picado ou num frangalho. Desde que o nosso tempo englobou os homens em três categorias de brutos, o burro, o cão e o gato – isto é, o animal de trabalho, o animal de ataque, e o animal de humor e fantasia – por que não escolheremos nós o travesti do último? É o que se quadra mais ao nosso tipo, e aquele que melhor nos livrará da escravidão do asno, e das dentadas famintas do cachorro. Razão por que nos acharás aqui, leitor, miando pouco, arranhando sempre, e não temendo nunca. Fialho de Almeida, Os Gatos Sintetize um artigo de jornal ou revista, cujo tema seja do seu interesse, e comunique essa síntese à turma. • Consulte os sites http://www4.fe.uc.pt/fontes/restos/fichas_de_leitura.htm http://guida.querido.net/jogos/portug/antoni-1.htm Introdução Com este módulo, pretende-se desenvolver as competências específicas no domínio da escrita. Informando 51 ■ localização do texto na obra a que pertence se se tratar de um excerto; ■ relação do texto com outros com os quais esteja relacionado; ■ referência das novas ideias veiculadas; ■ correspondência das nossas ideias às do texto; ■ tomada de posição sobre o assunto, fundamentando-o de forma conveniente. Comente os textos que se seguem: Texto 1 Espreitando o Novo Milénio Alimentos transgénicos, resistentes a insectos e menos perecíveis. Comboios de alta velocidade, que quase suplantam em rapidez os aviões. Aeronaves gigantescas, com capacidade para 800 pessoas. Casas inteligentes, onde tudo funciona premindo-se um botão. O novo milénio vai ser assim. Mais surpreendente. Mas também mais perigoso. Se as previsões dos cientistas se confirmarem, a temperatura da atmosfera continuará a subir – e, então, o mar sairá das suas margens e invadirá as terras baixas do litoral. As doenças que nos atormentam farão, no futuro, ainda mais vítimas. Os novos tempos serão também uma época de quebra de tabus – o mapa genético do Homem há-de ficar completo e as fronteiras do espaço mais próximas de nós. Paulo Chitas e Filomena Lança, A Actualidade em Português Texto 2 A Mulher na Publicidade É frequente ver-se a mulher como a personagem central e/ou motivadora dos anúncios publicitários. Usada pela sua beleza ou pela sua expressão sedutora ou terna, a mulher liga-se às mais variadas mensagens. Por vezes é a dona de casa eficiente, a mãe previdente e protectora ou a mulher social sempre pronta a surgir activa, trabalhadora, fresca e sofisticada; mas outras vezes, infelizmente, é apenas um isco, um chamariz para fazer com que o produto agrade. Usando e abusando do corpo da mulher – objecto, explorando a animalidade que todos possuímos, a mulher é-nos dada sob uma forma degradante que não dignifica o produtor e o produto nem o eventual comprador. Falar-se na mulher que a publicidade nos presentifica deve entender-se como um tributo às qualidades femininas, à sua fotogenia, à sua elegância, à sua sedução. É também o resultado da propensão feminina para o sugestionamento mais rápido e da sua posição de influência junto do homem. In Manual de Língua Portuguesa Portuguêsa Outra dimensão Texto 3 A Importância de Dizer não Depois de anos de educação permissiva, chegou a altura de os pais não fazerem todas as vontades aos filhos. Segundo os especialistas, uma criança precisa de ser contrariada para se tornar um adulto saudável. In Revista Portuguesa Infância, nº 8, p.82 51 A dissertação A dissertação é um texto que se caracteriza pela defesa de uma tese, uma análise precisa de um assunto apresentando provas que a justifiquem e que convençam o leitor da validade desse ponto de vista de quem as defende. As ideias devem estar sequencialmente ordenadas e as frases devem ter coerência e coesão. Em geral divide-se o assunto em três partes: 1. Introdução – apresentação da ideia que se pretende defender. 2. Desenvolvimento – desenvolvimento do ponto de vista, para isso deve-se argumentar recorrendo a opiniões de especialistas, fornecer dados. 3. Conclusão – conclusão do texto de acordo com o desenvolvimento e com os argumentos apresentados. O que reter? Orientações para elaborar uma dissertação ■ Linguagem denotativa e objectiva. ■ Coerência de ideias e coesão de elementos coesivos (conjunções). ■ Visão crítica sobre o assunto. ■ Hierarquização das ideias segundo a sua ordem de importância. ■ Utilização preferencial da terceira pessoa do singular ou primeira pessoa da plural. ■ Cuidado com a ortografia, com a sintaxe e variedade de vocabulário. Como para qualquer tipo de texto que escrevamos, é necessário fazer um esquema, ou seja, um guia. Vá colocando frases sucintas ou palavras na sua folha de rascunho. No rascunho vamos, assim, dando forma à redacção, porque as ideias passam a ser redigidas ainda que sem ordem de importância e teremos, no final, um texto coerente. Exemplo: a perene, insuspeitada alegria de conviver. (Carlos Drummond de Andrade) Texto 4 “O filósofo e psicólogo William James chamou a atenção para o grau em que nossa identidade é formada por outras pessoas: são os outros que nos permitem desenvolver um sentimento de identidade, e as pessoas com as quais nos sentimos mais à vontade são aquelas que nos ``devolvem'' uma imagem adequada de nós mesmos (...)” (Alain de Botton) 51 Introdução Neste capítulo tratar-se-á da descrição. Quando se escreve com o intuito de transmitir algo é necessário que encadeemos as nossas ideias de uma forma lógica, que usemos a pontuação correcta, que demos ao texto coesão e coerência, e que, sobretudo, sejamos criativos. Para se descrever é necessário ainda que saibamos usar os ornamentos da linguagem de forma expressiva, são esses recursos que fazem da descrição um texto com vida, dando-lhe características, detalhes sensitivos fortes. Sinalética a uso ao longo do módulo: Informando Sistematizando Aplicando Conteúdos 1. A descrição: ■ descrição de espaços; ■ descrição de personagens. Objectivos ■ Identificar um texto descritivo ou uma sequência descritiva. ■ Organizar e redigir um texto descritivo. ■ Identificar as características do texto descritivo. ■ Identificar elementos linguísticos caracterizadores do espaço. ■ Compreender o significado desses elementos. ■ Descobrir, através dos vários processos de caracterização, o retrato físico e psicológico de personagens. Competências: ■ produzir com correcção textos descritivos; ■ usar a língua de forma adequada, correcta e variada; ■ reconhecer as características e marcas da comunicação escrita; ■ interpretar e redigir textos de diferente tipologia, nomeadamente textos descritivos A descrição A descrição é o acto de transmitir emoções. Quando se descrevem pessoas, paisagens ou situações, o importante não é contar todos os pormenores detalhadamente, mas sim conseguir com que o leitor se situe no quadro descrito e mentalmente o visualize. A descrição privilegia o adjectivo e o substantivo, através deles o ambiente que se quer criar, ganha vida e desperta em nós sensações e emoções capazes de tornar real o que se quer descrever. A descrição é considerada o momento de pausa de uma narração, aqui o leitor delicia-se com os momentos de descanso em que a acção pára e se adicionam ao texto uma série de informações que têm como função embelezar o texto e torná-lo mais surpreendente e belo. Descrição de espaços 51 em água morna. Raúl Brandão, Os Pescadores Reparemos noutro exemplo: Exemplo 3: Adozinda aterrou frente aos portões da casa. A jovem atravessou a entrada e penetrou num átrio circular. O chão estava coberto de mármore negro riscado por veios cor de sangue, sendo o tecto suportado por grossas colunas. Duas escadarias de cada lado da entrada davam acesso ao piso superior, contornado lateralmente o átrio numa espiral. A iluminação era completa pela luz da lua, que se coava através de um vitral de intricadas figuras carmim no tecto, vindo depositar-se nos cerca de trinta feiticeiros sentados em bancadas junto às paredes, dando-lhe uma expressão sinistra. Adozinda apercebeu-se de que estava atrasada pelo ar de desaprovação dos olhares que caíam sobre ela. Subitamente, o entusiasmo com que estivera desde o início por ir apresentar a sua magia, o Brilho Disperso, desapareceu ao ver-se confrontada com a expressão quase feroz dos feiticeiros. Além disso, o átrio enorme e grandioso intimidava-a. Apetecia-lhe fugir. Quando já ia dar um passo atrás, uma voz feminina vinda do fundo do átrio fê-la parar. Sofia Ester, Adozinda e Zulmiro – A magia da adolescência (adaptado) Vamos reflectir: O aspecto tenebroso do ambiente descrito através das figuras de estilo confere ao texto um ambiente sinistro: veios cor de sangue, iluminação completa pela luz da lua, a adjectivação – enorme e grandioso. Repare-se também na sequência com que se narra a cena, começa nos portões e gradualmente vai passando ao interior da casa. A organização dos elementos é dada segundo um percurso lógico (entrada, átrio, chão, tecto, as escadas, a iluminação). A descrição exige que o termo que se utiliza seja exacto, concreto e próprio. Tal como uma câmera, o narrador vai passando os olhos de um lado para o outro, não esquecendo nada. Descrição de personagens As personagens são o elemento que dão vida ao texto (principais a figurantes), a caracterização das personagens pode ser de duas formas: directa ou indirecta. Quando se caracteriza uma personagem de forma directa, aparecem elementos que nos dão referências muito concretas dessa mesma personagem; ou através do narrador, ou outro personagem, dela mesma, ou ainda de falas da personagem. A caracterização indirecta é feita através de elementos muito subtis ao longo do texto, a forma de vestir, a forma de falar, os seus costumes, as suas atitudes; enfim, o leitor vai formando uma opinião acerca da personagem através destes elementos que vai recolhendo. RETRATO FÍSICO Geralmente quando se caracteriza fisicamente uma personagem dá-se especial relevo ao seu aspecto físico. Exemplo 4: O meu avô, homem alto e magro, de cara larga, ossuda e um tanto avermelhada, olhos claros e quase sempre tristes, tinha o costume de levantar as sobrancelhas espessas quando dizia alguma coisa importante. Isso fascinava-me e por isso me desgostava ver-lhe, por vezes, as pingas de sopa presas no bigode pendente para cada lado da boca. Não ligava com ele, sempre tão apurado, com o cabelo farto, penteado cuidadosamente. “limpa a boca, avô”, dizia eu. “ora, ora”, respondia ele, um pouco embaraçado. A avó contrastava com a figura esguia e imponente do avô. Baixa, muito baixa mesmo, tinha a cara miúda sulcada de rugas e usava o cabelo branco rigidamente penteado para cima da cabeça, onde o juntava num puxo redondo, apertado. Preferia vestidos escuros, que protegia nas lidas domésticas com um avental cor de cinza. Eu, a julgar pelas velhas fotografias, não passava de uma menina frágil, de cabelo louro, de feições infantilmente lisas. Nada mais descubro que valha a pena destacar. Ilse Losa, O Mundo em que Vivi Vamos reflectir: De destacar a adjectivação abundante nesta descrição. Através deles conseguimos visualizar as personagens. Nesta descrição podemos não só verificar a descrição directa, mas também a indirecta. O facto de se dizer que o avô tinha sempre os olhos tristes, pode significar algo que não é descortinado de imediato, a avó de avental cor de cinza também poderá significar algo mais do que se “vê”. Os advérbios de modo “cuidadosamente” e “rigidamente” conferem expressividade ao texto e, ao mesmo tempo, o leitor pode deduzir características suplementares das personagens, que de imediato não se adivinham. RETRATO PSICOLÓGICO O retrato psicológico é constituído pelos atributos mentais da personagem. Exemplo 5: França é um homem de olhos Vamos reflectir: Neste excerto destacam-se as 51 bons e quentes, que gosta do seu semelhante de um modo natural e evidente. Por não saber dizer “não” quando gostaria de dizer “não”, julga- se cobarde, mas os seus amigos, justamente por isso, consideram-no a bondade em pessoa. (...) O França não é pontual nem metódico. Por exemplo, não sabe o horário do seu carro eléctrico, embora já o utilize há mais de dez anos. Podemos encontrá-lo frequentemente na paragem, encostado a uma árvore a ler o jornal, com medo de chegar atrasado a casa para comer. (...). O França inspira uma confiança sem par. Toda a gente, mesmo a mais reservada e discreta se sente tentada a desabafar com ele. Será por causa do calor dos seus olhos, do raro dom de saber escutar os outros, do seu natural amorável, ou por tudo isso junto? Ilse Losa, Caminhos Sem Destino qualidades mentais da personagem através de adjectivação expressiva (ver sublinhado). As suas atitudes, a sua forma de ser, os seus hábitos, as suas fraquezas, as suas acções, a sua personalidade e os seus sentimentos estão expressos de tal forma que ficamos a conhecer o França de forma íntima. Importa reter Para se conseguir transmitir imagens, sensações e fazer do que se descreve um quadro vivo, é necessário: • adjectivos expressivos e abundantes; • referência a sensações visuais, olfactivas, tácteis, gustativas e auditivas; • emprego de adjectivos de forma metafórica; • verbos que indiquem dinâmica (sensações de movimento) e verbos estáticos (descrevem características); • verbos no pretérito imperfeito; • elementos que nos dêem referências ao espaço e ao tempo; • figuras de estilo (comparações, metáforas, personificações, hipérboles...) para tornar mais viva e expressiva a descrição. Observe o amanhecer da janela do seu quarto. Alinhe uma série de aspectos, tais como: • natureza/pessoas/animais/objectos; • acompanhe-os de adjectivos ou expressões que se refiram a: cores/ruídos/ odores/imagens visuais/imagens tácteis/sensações térmicas. Atente no texto: Frio, frio azul transparente e frio (bis) no branco das casas no fumo branco das casas brancas de manhã azul a desmaiar e empalidecer pra branco e frio nas pernas nuas plo monte acima a acordar e as cabras oblíquas pra cima a mexer a subir na relva parada nas pedras quietas e sol ao longe sol que há-de vir sozinho sem companhia ali plo monte acima cada vez mais verde com fumos brancos nas ■ Figuras fónicas; ■ Figuras de sintaxe ou de construção; ■ Figuras semânticas. Objectivos ■ Utilizar chaves linguísticas e textuais para desfazer ambiguidades, deduzir sentidos implícitos e reconhecer usos figurativos; ■ Interpretar linguagens de natureza simbólica; ■ Escrever com fluência e correcção. Competências: ■ Capacidade de utilização de recursos estilísticos; ■ Conhecimento das estratégias linguísticas utilizadas explícita e implicitamente para realizar diferentes objectivos comunicativos ■ usar a língua de forma adequada, correcta e variada. Figuras de estilo O estilo é a capacidade que o utilizador de uma língua (falante) tem para, face ao material que esta lhe fornece, escolher as palavras de forma a marcar o seu discurso, construir o seu próprio estilo. Convém referir que o estilo não diz respeito somente aos escritores, mas a todo o locutor que procura marcar o seu discurso com traços surpreendentes para estabelecer uma distância entre o banal e o expressivo, afastando-se assim da norma. Em literatura, estilo é o modo de expressar o pensamento através da linguagem escrita, no que se relaciona com os elementos acidentais e variáveis do léxico, com o modo particular de combinar e estruturar as frases e construções gramaticais e de seleccionar o material linguístico mais apropriado para os objectivos preestabelecidos. (Lexicoteca) 51 Mais importante do que nomear as figuras de estilo importa que o estudante se aperceba do efeito que elas provocam num texto literário, quer seja em prosa ou poesia. Convém salientar que quem escreve um texto fá-lo sempre com um determinado sentido, ou seja, ou dar mais realismo ao que escreve ou provocar no leitor determinado tipo de sensações. Assim, as palavras ganham outros significados, que, relacionados uns com os outros, fazem com que o texto passe a ter um sentido conotativo. Tipos de figuras Há várias classificações de agrupamentos das figuras de estilo; optámos por uma que nos parece de fácil compreensão. • Figuras fónicas: são aquelas em que se verificam efeitos acústicos, quer pela repetição de sons das palavras, nomeadamente de fonemas, quer quando se tenta reproduzir determinados sons da natureza. 4.d. Aliteração Vem vindo o violento vento Zunindo ziguezagueia Frio, frígido, friorento Vara o vidro das vidraças Geme, gargalha, golpeia (…) Vem vindo o violento vento, Geme, gargalha, golpeia, Zangado, zonzo na zoada, O corisco chicoteia A noite despedaçada. Recua e ruge raivoso O vento vertiginoso. Percebe o terror dos ninhos, Fuzila feroz família Inteiras de passarinhos. Mauro Mota Neste poema, a repetição das consoantes v, z, f, g permite visualizar e sentir o momento de destruição provocado pelo vento. Com a aliteração pretende-se, através da sonoridade das palavras iniciadas pela mesma consoante, criar um efeito visual em que o som e o sentido se complementam, criando-se uma imagem acústico-visual que sugere o real. A aliteração consiste na repetição de sons consonânticos iguais ou semelhantes, com o fim de criar efeitos sonoros sugestivos ou significativos. 4.e. Onomatopeia Cai a chuva ploc, ploc Corre a chuva ploc, ploc Como um cavalo a galope. Enche a rua, plás, plás Esconde a lua, plás,plás E leva as folhas atrás. Risca os vidros, truz,truz Molha os gatos, truz, truz E até apaga a luz. Parte as flores, plim, plim Maça a gente, plim, plim Parece não ter mais fim. Luísa Ducla Soares A repetição de ploc, ploc pretende imitar o som das gotas de chuva quando caem no chão. Além de pretender imitar um som da natureza, o poeta estabelece também uma comparação com o barulho de um cavalo a galope. Na segunda estrofe, com plás, plás pretende reproduzir o som provocado pela chuva quando bate nas folhas, levando-as com ela. Na estrofe seguinte, o som de truz, truz sugere a batida da chuva nas janelas, comparado com o som produzido por alguém que bate à porta. Seguidamente, plim, plim é um som mais leve relacionado com a fragilidade das flores e com o facto das pessoas ficarem aborrecidas quando chove. No final do poema, a hipérbole parece não ter mais fim denota a aversão que o poeta tem à chuva. As onomatopeias têm, neste poema, a função de torná-lo mais sonoro, aproximando-o do real e do estado de espírito causado pela chuva. As palavras, que pretendem reproduzir o som dos objectos ou sons da natureza ou a voz natural dos seres, denominam-se onomatopeias ou palavras onomatopaicas. • Figuras de sintaxe ou de construção: são aquelas em que se verificam desvios em relação à concordância entre os termos da oração, à sua ordem e às possíveis repetições ou omissões. a. Assíndeto Toquei-o. O homem sacode os ombros, levanta-se, atira o pano fora, encara-me de frente, com os bigodes assanhados entre as rugas e um olho azul de faiança cheio de cólera: – Que beleza o quê? Que beleza?... Isto?!” Raul Brandão, Os Pescadores Ao eliminarem-se as conjunções de um texto, este fica com mais ritmo, adquire mais velocidade e exige do leitor uma maior atenção de cada facto, por exigência das pausas rítmicas (vírgulas). 51 A gradação é a disposição das ideias numa ordem gradativa; as ideias podem estar ordenadas de forma crescente ou decrescente. Vejamos outro exemplo: O sol deixara de ser um balão amarelo. Crescia, crescia, crescia era uma roda de carro em fogo, era uma mó de moinho a arder, era uma fogueira sem fim, que abrasava o ar em toda a volta, incendiava as nuvens até estas ficarem rosadas, coradas, encarnadas. Luísa Ducla Soares, O Menino e a Nuvem Neste pequeno excerto, temos duas ideias gradativas, a primeira diz respeito ao sol que começa por ser uma roda de um carro em fogo, que cresce e se transforma numa mó de moinho, para finalmente ser uma fogueira sem fim. Outra ideia gradativa, relacionada com a primeira, é a da cor; as nuvens brancas, pela acção do fogo, começam por ficar rosadas, depois coradas, até que acabam por ficar encarnadas, da cor do fogo. Além da gradação é de salientar a metáfora “o sol era uma roda de carro em fogo, era uma mó de moinho a arder, era uma fogueira”. Neste caso, o narrador faz uma associação por semelhança entre a forma e a cor do sol e uma roda de um carro em fogo. Na política nada de novo, votam-se resoluções, “os queridos americanos” discutem e entretanto nós morremos, gelamos, dizemos adeus aos nossos amigos, separamo-nos daqueles que mais gostamos. Zlata Filipovic, Diário de Zlata (sublinhado nosso) Neste pequeno excerto, verificamos que as ideias estão enunciadas num sentido contrário àquele que é usual acontecer, isto é, a narradora começa pela morte, o fim da existência, para depois enumerar de forma regressiva outras acções que irão culminar com a morte. Trata-se assim de uma gradação regressiva. f. Pleonasmo Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal Fernando Pessoa, Mar Português, Mensagem Nestes dois versos, extraídos de um poema de Fernando Pessoa, o poeta, quando diz quanto do teu sal, repete e enfatiza a ideia anterior, pois já tinha enunciado que o mar é salgado. Vi claramente visto o lume vivo Camões, Os Lusíadas No caso do verso de Camões, extraído de Os Lusíadas, o poeta diz que viu e repete claramente visto, o que significa que tem a certeza do que viu, viu de forma clara, sem margem de dúvidas. Por outro lado, neste mesmo verso, temos a aliteração da consoante v, vi claramente visto, o que contribui para reforçar pleonasticamente a ideia. O pleonasmo ou redundância consiste na repetição da mesma ideia com palavras diferentes, mas cujo sentido já está implícito na primeira palavra. Todos nós, na linguagem oral, utilizamos pleonasmos tal como entrar para dentro ou subir para cima. É o chamado pleonasmo vicioso. Sendo admissível a sua utilização na linguagem corrente, deve, contudo, evitar-se. • Figuras semânticas: são aquelas que se referem ao significado das palavras, ao seu aspecto semântico. Dizem respeito à utilização das palavras com sentido diferente daquele que lhe é usual com o objectivo de criar efeitos expressivos na linguagem. a. Comparação Há cavalos-marinhos suspensos na água com um ar espantado, como pontos de interrogação. Há flores que parecem animais e animais que parecem flores. Sophia de Mello Breyner Andresen, A Menina do Mar Neste exemplo, os cavalos-marinhos são comparados, através da partícula “como”, a pontos de interrogação, porque, de facto, têm a forma de um ponto de interrogação. Deste modo, a forma e a ideia identificam-se. A seguir, o narrador compara, utilizando o verbo parecer, as flores com os animais e os animais com as flores, porque, desde a cor à forma, fauna e flora tendem a confundir-se. Através destas comparações, o narrador transporta-nos para o mundo da visualização. Este tipo de figura recebe o nome de comparação. A comparação consiste em comparar dois termos diferentes que são expressos por uma partícula comparativa tal, como, tal qual, tal como, qual, que nem e, também, alguns verbos parecer, assemelhar-se… Vejamos um outro exemplo de comparação: Uma cidade é como um animal. Tem um sistema nervoso, uma cabeça, ombros, pés. …. Ainda Kino, Joana e os outros pescadores não tinham regressado à cabana já os nervos da cidade estremecia e vibravam com a novidade…A novidade passou de raspão pelas cabanas e rebentou como uma onda de espuma na cidade de pedra e cimento. (sublinhado nosso) John Steinbeck, A Pérola Neste pequeno extracto, a cidade é comparada a um animal, porque tem sistema nervoso, cabeça, ombros, pés. De seguida, o narrador refere que a novidade passou de raspão pelas cabanas como uma onda de espuma. Esta comparação associa o rebentamento da onda de espuma com o rebentamento de uma novidade. Mas, tal como a onda de espuma não provoca danos no cimento, também a novidade passa de leve pelas cabanas, que, por sua vez, denotam fragilidade. 51 b. Metáfora O limpa-vias trabalhava há muitos anos no subway, sempre de olhos no chão. Uma toupeira, um rato dos canos… (sublinhado nosso) José Rodrigues Miguéis, Gente de 3ª classe Neste excerto do conto Gente de 3ª classe de José Rodrigues Miguéis, o narrador diz que o limpa-vias é uma toupeira, um rato dos canos, porque, tal como as toupeiras e os ratos, ele passa a maior parte do tempo debaixo de terra. Neste caso, o narrador, ao escolher as palavras toupeira e rato, está a fazer uma relação, uma associação por semelhança, entre dois termos que estão associados pela sua natureza de escuridão. Como o limpa-vias trabalhava no subway, onde há ausência de luz, é então comparado com uma toupeira. A metáfora consiste na substituição de um termo por outro, através de uma relação de semelhança, de tal modo que o significado acrescentado passa, necessariamente, por uma associação muito mais rica do que a que acontece na comparação. A metáfora não se limita a procurar a concisão, ela transfigura o sentido das palavras, ao mesmo tempo que expande a possibilidade de associações possíveis entre signos diferentes. Além de procurar a concisão, transfigura o sentido das palavras, dando ideia de um transporte e de uma mutação. Também exige da parte do leitor uma espécie de tradução, tentando decifrar o referente que, de algum modo, está ocultado pelo signo. A metáfora, porque recria a linguagem, modifica o facto descrito. c) Imagem As árvores entregavam ao vento as suas ramagens e o coração mexe-mexe dos choupos branque-verdejava. A oliveira da serra noivava-se de flores. Os castanheiros começavam a acender as candeias. Enrubesciam as pinhas dos cocorutos nas cerdeiras. Os miosótis bordejavam as fontes, que cantavam pelas suas biquinhas. E córregos d’ água penteavam ervas, longamente. Luísa Dacosta, História com Recadinho Neste excerto, reparamos que estão presentes várias metáforas “os castanheiros começavam a acender as candeias”, quando se quer dizer que os castanheiros começavam a florir. “E córregos d’água penteavam ervas, longamente”, a água ao passar pelas ervas alisa-as, penteia-as tal como um pente. “A oliveira da serra noivava-se de flores”, associa-se o florir da oliveira com uma noiva tendo como elemento comum as flores. E a personificação “os miosótis cantavam pelas suas biquinhas”, pois atribuem-se características humanas aos miosótis, que cantavam. A imagem é uma sucessão de figuras de estilo que pode englobar a metáfora, a comparação e a personificação, esta junção de figuras acaba por converter as ideias em representações mais sugestivas, sensíveis, animadas e coloridas. O disfemismo consiste precisamente no contrário do eufemismo, em vez de atenuar uma dura realidade, opta-se por torná-la mais real ou cruel através da utilização de palavras mais chocantes. g. Perífrase Ao longe, sobre a linha irregular dos telhados, o sol espalhava os primeiros raios de luz sobre a cidade. Filipe Sá, Textos No exemplo apresentado, o narrador escreve: “o sol espelhava os primeiros raios de luz sobre a cidade”, querendo descrever o amanhecer. No entanto, fá-lo de forma poética, utilizando linguagem metafórica. A perífrase consiste em dizer por muitas palavras o que poderia ser dito em poucas. h. Antítese “Deus, ó Deus!... Quando a morte à luz me roube Ganhe um momento o que perderam anos, Saiba morrer o que viver não soube.” (sublinhado nosso) Bocage, Meu Ser Evaporei na Lida Insana Nestes três versos extraídos de um poema de Bocage, verificamos o contraste de ideias, ganhar e perder; morrer e viver. O poeta deseja que o momento da morte seja de triunfo, uma vez que a vida foi repleta de derrotas. O sujeito poético, neste caso, pretende realçar a ideia de morte, já que não soube aproveitar a vida. A antítese ou contraste consiste na aproximação de ideias, palavras ou expressões de sentidos opostos, quer estabelecendo confrontos ou contrastes entre eles ou associando-os. i. Ironia Que lindo teste! Por este andar ainda acabas em juiz! “Como me leixa saudosa, Toda eu fico amargurada!” Gil Vicente Auto da Índia Constança quer que o marido parta para a Índia para poder levar uma vida mais leviana. No diálogo com a Moça e quando esta lhe diz que a armada já partiu, ironicamente ela diz “como me deixa saudosa”, “toda eu fico amargurada!” Querendo dizer precisamente o contrário. Santo sapateiro honrado. Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno No Auto da Barca do Inferno, após a morte, as almas eram sujeitas a um julgamento. Os juízes são o diabo e o anjo e em função da actuação das pessoas na terra são condenadas ou salvas. O sapateiro, durante toda a vida, tinha roubado os seus clientes. Assim, o diabo, ironicamente, chama-lhe sapateiro honrado, que de honrado não tinha nada. 51 A ironia é uma forma intencional de dizer o contrário do que se pensa, com intenção sarcástica. A ironia é frequente na linguagem corrente, familiar. j. Sinestesia Que claridade, dourada e quente! Luísa Dacosta, História com recadinho Claridade dourada: sensação visual Quente: sensação táctil Estas duas sensações, a visual e a táctil, normalmente não aparecem associadas. Porém, é com base nesta transgressão que se cria uma figura de estilo. Vejamos outro exemplo: Entrei na sala que tanto gosto de recordar: a mesa redonda com a toalha espessa, bordada a seda; as cadeiras de palhinha; a taça de cristal em cima do aparador; o prato de porcelana para o qual minha mãe escolhia frutas de cores vivas; o sofá de bombazina verde. Ainda ouço, nitidamente, o som quente do carrilhão do relógio de parede. Vi a mesa posta para o lanche, a torta de creme cor-de- rosa no centro e por toda a sala senti o cheiro a café. (sublinhado nosso) Ilse Losa, O Mundo em que Vivi Neste caso, verificamos a sensação auditiva, o som, e a sensação táctil, quente. Ora, o som não se associa a sensações tácteis. Deste modo, estas duas sensações dos sentidos, que na linguagem denotativa não ocorrem, provocam a figura de estilo sinestesia. Vejamos um outro exemplo de sinestesia: Mas à sexta-feira iam juntos e liam no silêncio quente da biblioteca, que cheirava a papel antigo, a madeira e cola, e também um pouco de verbena. (sublinhado nosso) Roberto Piumini, Um Amor de Livro A sinestesia é uma combinação de sensações diferentes – visuais, auditivas, olfactivas, gustativas e tácteis – e de sentimentos. Leia atentamente os textos que se seguem e responda às perguntas apresentadas. A Menina do Laranjal Era um laranjal de folhas verdes, brilhantes. Como se um pincel com verniz as tivesse pintado uma a uma. E um dia veio uma menina pelo laranjal e sentouse debaixo de uma laranjeira. Tinha os cabelos negros e caídos até aos ombros e um avental de flores amarelas. E sentouse e abriu um livro. Era um livro de poemas: poemas são palavras que nos lembram que somos vivos, que temos olhos, ouvidos, paladar, duas mãos que poisam em troncos rugosos, na seda da própria pele. E a menina começou a ler. O perfume da terra misturavase com o perfume das folhas do laranjal. Mas eram só folhas? Que perfume... E a menina poisou o livro sobre o avental de flores. Poema, poema, porque rio? Poema, poema, porque choro também? Porque choro também? Porque cheiro estas flores? São do avental ou do laranjal? Brancas, brancas, perfumadas. Vem meu pai no mar, meu pai é pescador. Mas já não é o sabor do sal que anda no ar perfumado. Esperame minha mãe em casa com um cesto de pão na mão (que belo é o cheiro do pão cozido!) e uma taça de mel na outra mão. Mel dourado. E a enorme lâmpada do Sol faz nascer mais flores. Flores brancas de doce, estranho perfume. Tão suave, tão bom. E a menina leva a mão à cabeça de negros cabelos. E com os dedos, pelo tacto, vê na sua cabeça uma grinalda de flores brancas. Matilde Rosa Araújo O Sol e o menino dos pés frios 1. Era um laranjal de folhas verdes, brilhantes. 1.1. Identifique as classes morfológicas que constituem a frase apresentada. 2. Na descrição que Matilde Rosa Araújo faz do laranjal, que classes de palavras predominam? Justifique. 3. Explique por palavras suas a seguinte expressão “poemas são palavras que nos lembram que somos vivos”. 4. Construa uma frase com sentido denotativo, baseando-se nesta expressão: “e a enorme lâmpada do sol faz nascer mais flores”. Explique a diferença de sentido entre a frase que construiu e a expressão dada. 5. “...que belo é o cheiro do pão cozido”. 1.2. Explique por palavras suas a expressão e esclareça a intenção do autor ao utilizar as duas palavras belo e cheiro. 1.3. Substitua a palavra belo por um sinónimo e verifique se o sentido se mantém. 51 3. Que características o sujeito poético atribui aos flagelados do vento leste? 4. Explique o sentido do verso “aprendemos com o vento a bailar na desgraça”. 5. “As cabras ensinaram-nos a comer pedras para não perecermos”. Identifique a figura de estilo utilizada e refira o sentido que traz à frase. 6. Porque é que o poeta diz que morremos e ressuscitamos todos os anos? Explique a utilização do verbo ressuscitar. 6.1. Substitua este verbo por uma expressão de sentido equivalente. 6.2. A expressão que encontrou tem a mesma carga emotiva que o verbo utilizado ressuscitar? 6.3. Justifique. 7. “Teimosamente continuamos de pé/num desafio aos deuses e aos homens”. 6.4. Substitua continuamos de pé por um verbo. Por que é que o poeta considera que é um desafio aos deuses e aos homens? 6.5. Identifique esta figura de estilo. A ESTRELA Um dia, à meianoite, ele viua. Era a estrela mais gira do céu, muito viva, e a essa hora passava mesmo por cima da torre. Como é que a não tinham roubado? Ele próprio, Pedro, que era um miúdo, se a quisesse empalmar, era só deitarlhe a mão. Na realidade, não sabia bem para quê. Era bonita, no céu preto, gostava de a ter. Talvez depois a pusesse no quarto, talvez a trouxesse ao peito. E dai, se calhar, talvez a viesse a dar à mãe para enfeitar o cabelo. Devialhe ficar bem, no cabelo. De modo que, nessa noite, não aguentou. Meteuse na cama como todos os dias, a mãe levou a luz, mas ele não dormiu. Foi dificil, porque o sono tinha muita força. Teve mesmo de se sentar na cama, sacudir a cabeça muitas vezes a dizerlhe que não. E quando calculou que o pai e a mãe já dormiam, abriu a janela devagar e saltou para a rua. Assim que se viu na rua, desatou a correr pela aldeia fora até à torre, porque o medo vinha a correr também atrás dele. A igreja ficava no cimo da aldeia e a aldeia ficava no cimo de um monte. A torre era muito alta e tinha uma porta para a rua. Pedro empurroua um pouco e viu que estava aberta. Meteuse de lado e entrou. Havia um grande escuro lá dentro. Como estava escuro, pôsse a andar às apalpadelas. Até que pisou o primeiro degrau, e começou a subir. À última volta da escada em caracol, olhou ao alto o céu negro, muito liso. Viu algumas estrelas, mas era tudo estrelas velhas e fora de mão. Até que chegou ao campanário e respirou fundo. Aproveitou mesmo para puxar as calças que estavam a cair. Eram dois sinos e uma sineta.E de um dos lados havia só um buraco vazio sem sino nenhum. Agora tinha de subir por uma escadinha estreita que começava ao lado; e depois ainda por uma outra de ferro, ao ar livre, e com o adro lá em baixo. Mas quando chegou à de ferro, não olhou. Deu foi uma olhadela à estrela, que já se via muito bem. Todavia, quando a escada acabou, reparou que lhe não chegava ainda com a mão. Tinha pois de subir o resto de gatas, dobrando e desdobrando as pernas como uma rã. Mesmo no cimo da torre havia uma bola de pedra e enterrado na bola havia um ferro e ao cimo do ferro estava um galo com os quatro pontos cardeais. Pedro segurouse ao varão e viu que tinha ainda de subir até se pôr mesmo em cima do galo. Subiu devagar, que aquilo tremia muito, e empoleirouse por fim nos ferros cruzados dos quatro ventos. Enroscando as pernas no varão, tinha agora os braços livres. E então ergueu a mão devagar. Os ferros balançavam, mas ele nem olhava lá para baixo. Fez força ainda nas pernas, apoiouse na mão esquerda e com a outra, finalmente, despegou a estrela. Não estava muito pregada e saiu logo. Entaloua então no cordel das calças, porque não tinha bolsos, e começou a descer. Vergílio Ferreira, A Estrela 1. Qual o sonho da personagem Pedro? 2. Localize a acção no espaço e no tempo. Retire expressões do texto que justifiquem a sua resposta. 3. Divida o texto em partes e justifique a divisão feita. Atribua um título a cada parte. 4. Explique por palavras suas “ a mãe levou a luz”. 4.1. Encontre um sinónimo para o verbo levar. 4.1.1. Acha que a expressão mantém o mesmo sentido? Justifique identificando o recurso estilístico utilizado. 5. “Dobrando e desdobrando as pernas como uma rã”. 51 Identifique a figura de estilo. Atente no exemplo: O Paulo tem tanta força que venceu o touro. Esta frase apresenta-se em registo normativo, poderemos transformá-la numa metáfora, dizendo, por exemplo, O Paulo é um touro. Quais as transformações feitas? No primeiro exemplo, todas as palavras têm um sentido denotativo, o significado aponta para a realidade concreta. Na segunda frase, as palavras relacionam-se por associação e adquirem novos sentidos aos quais chamamos sentido conotativo. Dizemos, então, que o Paulo é um touro, isto é, tem a força de um touro. Transforme cada uma das frases abaixo apresentadas, trabalhando-as com a figura de estilo indicada ao lado. Justifique as alterações efectuadas. Eufemismo Ele enriqueceu porque roubou a empresa. Hipérbole Os convidados atiravam arroz aos noivos. Tinha tanta sede que bebeu água do lago. Sinestesia Da varanda do meu quarto, em frente ao mar, vejo o pôr-do-sol.
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