Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

TDAH EM ADOLESCENTES RESIDENTES EM COMUNIDADES TERAPÊUTICAS POR ABU, Trabalhos de Psicopedagogia

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Fundação Santo André para obtenção do título de Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional.

Tipologia: Trabalhos

2013

Compartilhado em 30/09/2013

katia-beraldi
katia-beraldi 🇧🇷

1 documento

1 / 27

Documentos relacionados


Pré-visualização parcial do texto

Baixe TDAH EM ADOLESCENTES RESIDENTES EM COMUNIDADES TERAPÊUTICAS POR ABU e outras Trabalhos em PDF para Psicopedagogia, somente na Docsity! KÁTIA BERALDI TDAH EM ADOLESCENTES RESIDENTES EM COMUNIDADES TERAPÊUTICAS POR ABUSO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS SANTO ANDRÉ 2012 KÁTIA BERALDI TDAH EM ADOLESCENTES RESIDENTES EM COMUNIDADES TERAPÊUTICAS POR ABUSO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS Trabalho de conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Fundação Santo André para obtenção do título de Especialização em: Psicopedagogia Clínica e Institucional. Orientador(a): Profª Ivete Pellegrino Rosa. SANTO ANDRÉ 2012 Procurou o homem, desde a mais remota antiguidade, encontrar um remédio que tivesse a propriedade de aliviar suas dores, serenar suas paixões, trazer-lhe alegria, livrá-lo de angústias, do medo ou que lhe desse o privilégio de prever o futuro, que lhe proporcionasse coragem, ânimo para enfrentar as tristezas e o vazio da vida. Lauro Sollero. RESUMO Os aspectos do consumo de substâncias psicoativas na população de adolescentes, com histórico de comportamento de Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade - TDAH foi um estudo de uma realidade empírica, com o objetivo de verificar a associação entre duas variáveis nas dificuldades de aprendizagem ao uso de substâncias psicoativas: avaliar especificamente em relação ao TDAH em adolescentes que fazem uso de substâncias psicoativas e identificar possíveis intervenções Psicopedagógicas no tratamento. O método é composto por três adolescentes do sexo masculino em situação de residência em Comunidade Terapêutica - CT. Os dados foram coletados através de entrevista e de questionário denominado SNAP – IV e foi construído a partir dos sintomas do Manual de Diagnóstico e Estatística - IV - (DSM-IV) da Associação Americana de Psiquiatria. Há sugestão que o abuso de SPA seja associado dos transtornos considerados como co-morbidade do TDAH, sendo necessárias intervenções multidisciplinares. Palavras-chave: TDAH. Substâncias Psicoativas. Adolescentes. Comunidade Terapêutica. Psicopedagogia. ABSTRACT The aspects of the consume of psychoactive-substance in adolescent population, with a history of behavior disorder, attention deficit / hyperactivity disorder – ADHD, was a study of an empirical reality, in order to verify the association between two variables in the difficulties of learning and the substance abuse: the assessment specifically in relation to Attention Deficit Disorder / Hyperactivity Disorder - ADHD in adolescents who use psychoactive substances and to identify possible interventions in the treatment psycho-pedagogical. The method consists of three adolescent boys who find themselves living in a therapeutic community. The informations were collected through interviews and a questionnaire called SNAP - IV and was made from the symptoms of the Diagnostic and Statistical Manual - IV (DSM-IV) of the American Psychiatric Association. There are suggestions that the abuse of SPA is associated with disorders considered as co-morbidity of ADHD, requiring multidisciplinary interventions. Keywords: ADHD. Psychoactive Substances. Adolescents. Therapeutic Community. Psycho- pedagogy. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 7 1.1 CARACTERIZANDO OS PARTICIPANTES DO ESTUDO................................. 9 1.2. RELAÇÃO FAMILIAR.......................................................................................... 10 2 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM............................................................... 12 3 USO INDEVIDO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS......................................... 16 4 INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS........................................................... 19 5 CONCLUSÃO............................................................................................................. 23 REFERÊNCIAS............................................................................................................. 25 9 Diante de tais considerações pretendemos neste estudo avaliar as possíveis associações das dificuldades de aprendizagem dos adolescentes usuários de SPA residentes na C.T. Também pretendemos identificar o tipo de intervenção psicopedagógica possível durante o tratamento terapêutico desses adolescentes em C.T. 1.1 CARACTERIZANDO OS PARTICIPANTES DO ESTUDO Por uso abusivo de SPA os adolescentes pesquisados encontram-se em regime de internação em CT, localizada em região rural, há 30 km de distância do centro do município de residência da família. Tal indicação foi tomada, como medida de proteção 2 pela situação de rua e uso abusivo de SPA que esses adolescentes encontravam-se e/ou pelos riscos de ameaça de morte pelas diversas circunstâncias que esses se colocavam em função da obtenção da droga. A população estudada nesse trabalho é exclusivamente masculina e o período de permanência foi de seis meses, ou de acordo com a permanência voluntária desses na CT. Esses adolescentes passaram por uma avaliação breve da equipe do Centro de Atenção Psicossocial Infanto/Juvenil - Álcool e Drogas III – CAPSi AD III, e diante das situação de risco de vida e por envolvimento ao uso de SPA a melhor opção adotada foi o encaminhamento para a CT. O nível escolar é o mais baixo: encontra-se como último ano estudado entre o 1ª e 4ª ano do ensino fundamental I, e o inicio da experiência com o uso de drogas entre os 9 e 11 anos para os adolescentes com características comportamentais hiperativas. Contudo, os adolescentes com Déficit de Atenção, verbalizaram o início de uso de drogas a partir do 5ª ano do ensino fundamental e concomitantemente, sua ausência escolar. Quanto à escolaridade desses, foi observado durante as entrevistas com os familiares e com os próprios adolescentes, uma sobreposição na linha do tempo: ocorrida a evasão escolar, inicia-se também maior permanência deste na rua de casa; depois pelas ruas do bairro e, finalmente pelas ruas do centro da cidade. Neste interim surgem os primeiros experimentos das SPA. Em relação ao desempenho escolar foi levantado por parte dos adolescentes e familiares entrevistados que a responsabilidade por não estarem na escola é exclusivamente deles e não por não se adaptarem aos moldes da escola ofertada pelo sistema educacional; não 2 O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu Artigo 98, estabelece as medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; III - em razão de sua conduta. 10 considerando suas dificuldades de aprendizagem a um ensino falho e sem atrativos que contribuem para fatores de vulnerabilidade para o consumo de drogas nesta faixa etária. Apenas um adolescente apresentou laudo médico de TDAH com predominância em impulsividade e que, até os nove anos, foi acompanhado por uma equipe multiprofissional de uma instituição especializada em Educação Especial. 1.2 RELAÇÃO FAMILIAR As relações intrafamiliares mostraram-se estressadas e os vínculos até rompidos por toda uma problemática apresentada pelo histórico com problemas de “indisciplina” na escola, posteriormente agravado pelo envolvimento com drogas que consequentemente gera furtos de objetos pessoais para o sustendo do vicio. Depois, com furtos na comunidade onde residem, ocasionam-se as primeiras ameaças de morte e, por fim, a constante presença da polícia trazendo o adolescente para a casa. Nas entrevistas foi levantado um número significativo de adolescentes que residem apenas com as mães e irmãos. A figura do pai é apresentada em outras situações como desconhecidos, falecidos ou separados. As mães, por sua vez, apresentaram fazer uso de medicação psicotrópica por problemas de depressão, doenças psiquiátricas, envolvimentos com álcool ou drogas. Em um único caso de pais que vivem juntos, ambos fazem uso abusivo de álcool. Foi levantada uma particularidade na relação entre os pais desses adolescentes. Ainda nesta dinâmica há irmãos que também faziam uso de SPA; no entanto, os adolescentes com histórico de TDAH e uso de SPA, eram tratados com mais severidade que com os outros irmãos que somente faziam uso de SPA e não sofriam de TDAH. Os pais tendiam a focar a atenção dos problemas familiares e até justificando o uso de SPA pelos de TDAH, aumentando assim toda a cobrança que já sofriam pelo uso de drogas. As mães entrevistadas trabalhavam fora para o sustento da casa em empregos informais como empregadas domésticas. A apenas uma mãe que trabalhava com vinculo empregatício em empresa privada na função de auxiliar de serviços gerais. Elas apresentavam dificuldades em acompanhar os adolescentes usuários nos tratamentos ambulatoriais e somente quando eram procuradas por terceiros que ameaçam seus filhos de morte, buscavam ajuda para remediar a situação; porém, o envolvimento do filho com o uso de drogas já estava bastante comprometido. 11 Como foi observado, a opção pela internação do adolescente parte dos pais e não da equipe da saúde, uma vez que esses pais alegam que já fizeram de tudo, mas não conseguiram obter sucesso em ajuda-los, e que, em razão de ameaça de morte, não podiam mais voltar para a casa. Por não haver uma politica de atendimento para esses casos, a CT vem sendo a opção mais viável. Após a internação desses adolescentes inicia-se um grande desafio de convencer a se inserir em programas de apoio para co-dependentes e até mesmo de visitar os filhos nas CTs, alegam que não precisam de tratamento e, quanto às visitas, usam suas ausências como sansão por tudo que passaram com os filhos adolescentes. Em algumas situações é necessário usar o argumento da exigência do Poder Judiciário para que estas famílias iniciem as visitas. Muitas também começam as visitas somente após o programa de atendimento que realizou a internação do adolescente fornecer o transporte para levar e traze-los da CT, pois alegam não terem condições financeiras para pagar o transporte coletivo até a cidade onde está localizado a CT. Todos os adolescentes quando foram encaminhados para a internação já faziam uso de SPA há pelo menos três anos, embora em um dos casos estudados o grau de dependência era de um ano de uso abusivo de drogas. E, neste período, as principais SPA utilizadas foram tabaco, maconha, álcool e crack. Em razão desse multiuso de SPA, todos os diagnósticos realizados pela equipe de saúde caracterizaram-os como usuários de múltiplas drogas (CID 10 – F:19), incontinência familiar e ameaça de morte. Dos adolescentes estudados, todos haviam envolvimento com o ato infracional e passagem por delegacias ou Unidades de Internação Provisória – UIP da Fundação Casa, por roubos dentro da própria casa, furtos de celular e bolsas de transeuntes, tráfico, roubos em supermercados, entre outros. Quando esses adolescentes chegaram à internação, o seu estado psicoemocional estava confuso, perturbado e com instabilidade emocional extrema. Para estabelecer uma relação de vínculo de atendimento socioeducativo foi necessário de um a dois meses e, após um vínculo pré-estabelecido, é que realmente iniciam-se as abordagens de intervenções. Porém, isso não significa obtenção de sucesso no tratamento, apenas uma figura de confiança que o adolescente sabe que pode contar e não vai prejudicá-lo. No trabalho com esses adolescentes há indicativos de que o TDAH e o uso de SPA apresentam estreita relação. O adolescente que apresentou estes dois transtornos com laudo médico era o com menos idade e iniciou o uso de drogas por volta dos 11 anos e foi o que 14 Chiolas (2010) citando ideias de Barkley de 2002, explica que o Déficit de Atenção pode afetar, de forma diferente entre outros fatores, os diversos aspectos envolvidos no funcionamento da atenção e nas tarefas nas quais ela é necessária, como no planejamento, na organização e no controle dos estímulos. Por exemplo: uma pessoa começa a ler um livro e na metade da página não consegue lembrar o que acabou de ler; numa conversa é capaz de perder o foco da narrativa; o aluno comete erros tolos nas provas em matérias que ele domina porque no momento da prova sua atenção cai. O portador de DDA tem dificuldades em se concentrar e prestar atenção de forma consistente. Apesar de existir controvérsias em relação aos fatores de influência da manutenção da atenção, a maior parte dos autores consideram que a diminuição da atenção está relacionada ao fato da atividade não ser suficientemente atraente ou não possuir uma recompensa imediata. A criança portadora de Hiperatividade apresenta, ainda, uma superexcitação e atividade excessiva, tende a ser agitada, ativa e é facilmente levada a uma emoção excessiva. Sua reação emocional é mais intensa e mais frequente, e isso ocorre independentemente do tipo de emoção que esteja sendo expressa: raiva, frustração, felicidade ou tristeza. Ela tem dificuldade de controlar o corpo em situação de postura sentada e em silêncio por um longo período de tempo. Still (1992, cit. por Lopes, 2004; Toro, 1998) descreveu um conjunto de crianças que apresentavam um excesso de atividade motora e um escasso controle de impulsos. Still defendeu que a doença tinha uma origem orgânica e identificou características comuns entre crianças hiperativas: cabeça demasiado grande, malformação no palato e vulnerabilidade as infecções. Para os professores, uma criança com hiperatividade na escola, é descrita como: ela provoca os colegas, fala muito, levanta da carteira a todo instante, bate com os pés, mexe as mãos, revira-se todo o tempo: parece elétrica ou movida a motor. Nos adolescentes e adultos hiperativos, muitas vezes o que predomina é uma sensação interna de inquietação: ou estão sempre se ocupando com alguma atividade ou com várias ao mesmo tempo e as vezes não conseguem completá-las. O portador de Impulsividade ou fracasso na inibição de comportamentos (Lopes, 2004), tem dificuldade de pensar antes de agir e de seguir regras. Na maioria das vezes, ele conhece e entende as regras, mas sua necessidade de agir rapidamente contém sua reduzida capacidade de autocontrole. Isso resulta em um comportamento inadequado e irrefletido. No TDAH, as reações tendem a ser imediatas e sem reflexão: costuma-se dar uma resposta sem escutar a pergunta por inteiro; é impaciente e tem dificuldade de esperar. Em consequência da impulsividade, o portador tende a ser impopular por romper regras que não foram bem assimiladas ou por não conseguir mantê-las. As manifestações comportamentais geralmente 15 aparecem em múltiplos contextos: em casa, na escola ou em situações sociais. A impulsividade pode também levar a acidentes, por exemplo, não olhar por onde anda, tropeças em objetos, colidir com pessoas, e pode, inclusive, envolver-se em atividades perigosas sem consideração quanto às possíveis consequências, por não pensar antes de agir. A impressão que estas crianças deixam é que são irresponsáveis, mal-educadas, imaturas e difíceis de aturar (LOPES, 2004). Para Toro (2008), todos esses distúrbios acima de certa forma vão contribuir para o fracasso escolar, social e familiar. A prevalência do TDAH é alta e corresponde às manifestações comportamentais diversas. Riesgo (2006) estudou as principais co-morbidades psiquiátricas das crianças TDAH que são:  Abuso de Substâncias  Enurese Noturna  Epilepsia  Tiques  Transtorno de Ansiedade  Transtorno de Aprendizagem  Transtorno de Conduta – TC  Transtorno de Humor  Transtorno de Linguagem  Transtorno de Oposição e Desafiante - TOD Segundo o referido autor tais co-morbidades ocorrem em um contexto no qual a criança tem dificuldades de aprendizagem enfatizando a necessidade de tratamento com psicofármacos e psicológico, após avaliação realizada por multiprofissionais. Crianças com TDAH podem apresentar dificuldades de aprendizagem em 19 a 26% dos casos. Entre estas observam-se transtornos específicos, como dislexia, disgrafia e discalculia, sendo a dislexia a co-morbidade mais frequente. Em muitos casos, os transtornos da linguagem estão presentes, seja por distúrbios da fala (como dificuldades articulatórias, alterações do ritmo da fala e da qualidade da vocalização), mas também por distúrbio da linguagem tanto na percepção como na elaboração (como falhas no acesso lexical, dificuldades de estruturação sintático-semânticas e falhas no processamento da informação). Sabe-se que, com o tempo, outras co-morbidades costumam se associar ao TDAH, aumentando assim a ocorrência de co-morbidades psiquiátricas. Segundo Searight et al (2000), 16 as co-morbidades mais frequentes são: transtorno de humor (19 a 37%), transtorno de ansiedade (25 a 50%), abuso de álcool (32 a 53%), outros abusos de substâncias – maconha e cocaína (8 a 32%) e transtorno de personalidade (10 a 20%). Estas pesquisas mostram uma alta prevalência de co-morbidades entre TADH e os transtornos disruptivos de conduta e de oposição desafiante em torno de 30 a 50%. Bierderman et al (1995), em um estudo realizado com adultos com TDAH diagnosticados na infância, verificaram que aproximadamente 40% dos pacientes apresentaram, abuso ou dependência por SPA durante a vida. Conclui-se que independente das outras co- morbidades psiquiátricas, o risco de abuso de SPA ainda é maior em pacientes TDAH. O transtorno de atenção ocorrendo no cérebro apresenta várias interfaces de estudo como a neurociência, a saúde mental e a educação. 3. USO INDEVIDO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS As questões relativas ao abuso de álcool e outras drogas são consideradas, atualmente, um grave problema de saúde pública. O tratamento de adolescente destaca-se como um dos grandes desafios, dada à alta prevalência de uso, que vem ocorrendo cada vez mais precocemente (Guimarães, Godinho, Cruz, Kappann, & Tosta Junior, 2004; Prata e Santos, 2007; Toscano, 2001), associado a altos índices de abandono e baixo sucesso terapêutico (Kaminer & Szobot, 2004). A presença de TDAH dobra o risco para o desenvolvimento de abuso/dependência de substâncias ao longo da vida, e ambos os transtornos influenciam-se mutuamente, o que traz implicações para o diagnóstico, o prognóstico e o tratamento de ambos os transtorno. A maconha é a droga ilícita com maior frequência de abuso entre portadores de TDAH. Adultos jovens portadores de TDAH relatam um efeito calmante proporcionado pela maconha, reduzindo sua inquietação interna. Este efeito reforça a hipótese da automedicação dos sintomas de TDAH como um fator de risco para o desenvolvimento de abuso/dependência de drogas (Romano, 2005). Outro contraponto referido é a realidade no âmbito escolar desses adolescentes: o fracasso e a falta de vínculos no ambiente escolar (uns dos fatores de risco externo) e a própria predisposição biológica (um dos fatores de risco interno) ao uso de SPA, incita o experimento de novas sensações e prazeres. 19 que apresentam práticas de violência física, transtornos de humor, ansiedade e transtorno de personalidade antissocial. Diante dos estudos dos diversos autores, constatou-se haver uma relação entre aqueles que apresentam elevado uso de SPA com os TDAH, conforme dados relatados nas entrevistas. Os adolescentes usuários, além de tratamento medicamentoso, se beneficiam de intervenções de natureza sócioeducativa. Pela escala de uso de SPA, os adolescentes verbalizam como sendo a maconha a primeira substância utilizada, depois o tabaco, posteriormente experimenta o álcool, cola de sapateiro e cocaína, porém, não se fixaram a estas substâncias, mas sim ao uso do crack, por ser uma droga de valor acessível e efeito instantâneo após o uso. No entanto, como a duração de efeito dura por volta de cinco minutos, o usuário passa a consumi-la com maior frequência, levando-o à dependência química mais rapidamente que as outras SPA. 4. INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS Quando esses adolescentes entraram em contato com a aprendizagem e perceberam que não havia sintonia neste processo, não conseguiram suportar e desencadearam níveis elevados de estresse de ordem biopsicossocial. Muitas vezes esses sintomas foram negligenciados, tanto pelos pais como pelos professores, que banalizaram como falta de interesse, indisciplina, desajustamento, entre outros. Afirma Macedo (2008) que o TDAH é uma questão séria. Se não tratado de maneira adequada, pode ter efeitos duradouros na vida do paciente com várias repercussões [...]. Sem tratamento, os sintomas de TDAH podem afetar o desempenho escolar, limitar a qualificação ocupacional e aumentar o risco de abusos e dependência de drogas e de álcool. Pela vicissitude da organização familiar e do próprio adolescente em lidar com esta realidade, sua resistência às tensões da vida são minimizadas, impondo um compasso em experiências estressantes no inicio do seu desenvolvimento psicossocial e ocorrências de problemas emocionais e comportamentais no transcorrer da sua vida, desencadeando uma vida social desorganizada. Estudos realizados por Souza e Oliveira (2005), quanto à escolaridade e repetência de um grupo de adolescentes usuários e não usuários, constatou-se um prejuízo acadêmico significativo entre estes dois grupos - no primeiro, registrou-se um percentual de 93,3% contra 20 73,3% de repetência do segundo grupo - desenhando um cenário social e econômico que permite poucas condições de educação em classes menos favorecidas, ou ainda, em que as práticas pedagógicas costumam ser pouco adaptadas às necessidades individuais do sujeito. Ainda os mesmos autores apontam um dado importante em um estudo realizado sobre Simkin (2002), que tratou sobre os fatores de proteção contra o uso de drogas e relatou que o tratamento precoce do TDAH reduz em 85% o envolvimento com drogas. Quando o adolescente é encaminhado para tratamento em CT por uso abusivo de SPA, é necessário um olhar sensível e uma escuta polida para um atendimento multiprofissional. O psicopedagogo contribuirá com abordagens de ressignificações de valores do adolescente, na compreensão e no enfrentamento da dependência química, bem como nas consequências da mesma. Posteriormente, na intervenção na área da autovalorização e elevação da autoestima, do estabelecimento de um projeto de vida e encaminhamento para (re)iniciação acadêmica, profissional e estímulo à autonomia e independência, incentivando o resgate de sua identidade e proporcionando uma vida com qualidade. Para um trabalho efetivo com adolescentes é necessária uma gama de atividades diferenciadas e atrativas, principalmente para os adolescentes com históricos de TDAH. De acordo com as dificuldades, é fundamental a adaptação de algumas atividades, o que envolve a observação do comportamento do adolescente antes da aplicação de qualquer atividade ou técnica. Além da anamnese, continuamente são feitas entrevistas avaliativas da evolução do tratamento, observações e aplicações de técnicas psicopedagógicas, como provas projetivas, sessões lúdicas, diagnósticos operatórios e dinâmicos. Por se tratar de um adolescente com queixa de uso abusivo de SPA e com uma hipótese de dificuldades de aprendizagem, nos deparamos com um indivíduo em grande sofrimento. Pelo fato de suas dificuldades de aprendizagem não terem sido sanadas anteriormente, elas se arrastam até o momento em que o adolescente foi encaminhado para tratamento terapêutico por uso de SPA e, que de certa forma, são manifestadas em sua rotina na CT. As intervenções psicopedagógicas terão que abrir um leque de possibilidades aquém das suas funções, pois surtirão intervenções que abrangerá duas áreas do conhecimento: tanto da saúde como da educação. As intervenções devem ser trabalhadas paralelamente com os pais e o conhecimento do adolescente, para que ele se sinta confiante e seguro nas orientações e encaminhamentos. 21 Os encontros devem ser agendados com regularidade, de modo a acompanhar a participação dos pais nas orientações dadas, e corrigir suas possíveis falhas; ainda é possível nos contínuos acompanhamentos dar novos redirecionamentos de acordo com a rotina e as respostas do adolescente às intervenções. Faz parte dos encontros esclarecer dúvidas e lidar com as angustias e medos, tanto da família como do adolescente. Para alcançar os objetivos das intervenções é primordial uma articulação tripartite: adolescente, família e as intervenções psicopedagogia; pois se não houver o completo envolvimento destas três partes, o sucesso do tratamento estará comprometido. Quando um adolescente apresenta um histórico de uso abusivo de SPA, os pais, no momento da internação, encontram-se no cume da exaustão e estão impotentes perante o filho e seus sentimentos de amor e ódio são ambivalentes. Nesta hora, é importante uma atenção especial aos pais para que exteriorizem seus sentimentos e sintam que estão diante de um novo ponto de partida com o filho. A intervenção psicopedagógica, portanto, deve direcionar os atendimentos para as possibilidades possíveis e reais dos ideais da família. Após a alta terapêutica e sua saída do CT, o tratamento continua ambulatoriamente e em conjunto da família e posteriormente com a escola. As intervenções psicopedagógicas devem alcançar e sensibilizar esses corresponsáveis pelo atendimento, para juntos contribuírem para o não agravamento da queixa apresentada e estabelecer medidas de manutenção no tratamento, visando o não aparecimento de outras co-morbidades psiquiátricas. O trabalho psicopedagógico deve estar acompanhado de outros tratamentos, como avaliação neuropsicológica, reabilitação cognitiva, medicamentoso, terapia ocupacional, atendimento psicoterapêutico individual e grupal, psiquiátrico, atendimento familiar individual e grupal, acompanhante terapêutico e de ressocialização 4 de tal sorte que as abordagens terapêuticas se completem. Segundo Rotta (2006) é preciso que sejam considerados os seguintes itens: a) modificações de comportamentos; b) ajustamento acadêmico; c) psicoterapia e d) terapia farmacológica. 4 A ressocialização implica, depois de três meses de internação, a saída do interno para a casa da família em um final de semana por mês, para que seja observado seu comportamento frente a sua realidade fora da CT. 24 específicos e estimulados ao conhecimento cientifico sobre o transtorno que seus filhos sofrem, através de divulgação de palestras, literaturas e grupos de apoio. Também é preciso ajudá-los na administração da manutenção dos cuidados pessoal e educacional do filho portador. A psicopedagogia clínica e institucional precisam estar preparadas para uma abordagem que propicie condições para o desenvolvimento da autoestima e do senso critico e da responsabilidade do educando sobre sua realidade e necessidades psicossociais, promovendo a redução do abuso de SPA e qualidade de vida. Rosa (2009) afirma que a ação do psicopedagogo se estende da criança ao mundo que a entorna, e as contribuições teóricas devem se somar para se possa melhor visualizar sua realidade. Ele precisa contar com diferentes modelos teóricos como base; a interação desses modelos permitirá uma dinâmica de trabalho que oferecerá o suporte e o parâmetro para uma práxis efetiva. Contudo esta pesquisa incite novos estudos, não só, para orientação das famílias sobre os cuidados necessários a uma criança que sofre de TDAH, mas também as politicas públicas quanto às ações para o sistema educacional, saúde mental e as CTs, que despreparadas aos cuidados destas crianças, as abdicam por ausência de estratégias, instrumentalização, conhecimento em lidar com este público. Assim, sem continência familiar e educacional, acabam ficando a própria sorte se refugiando nas ruas e no consequente uso e abuso de SPA e suas repercussões. Visualiza-se assim um quadro real que não tem tido a atenção devida do sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente, causando uma demanda de dependentes químicos que poderia ser prevenida ainda na infância se o diagnóstico de TDAH fosse realizado prematuramente. 25 REFERÊNCIAS Pesquisa Scielo – Nov 2011. http://www.scielo.br AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (2002). DSM-IV, Diagnostic and statistical manual of mental disorders (4ª ed. texto revisado). Washingon, DC: APA. BARKLEY, R.A. Transtorno de Déficit de Atenção-hiperatividade. TDHA. Porto Alegre: Artmed, 2002. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília: Ministério da Justiça, Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, 2000. CONSELHO REGINAL DE MEDICINA DO ESTADO DE SÃO PAULO/ASSOCIAÇÃO MEDICA BRASILEIRA. Usuários de substâncias psicoativas: abordagem, diagnósticos e tratamento. Coord. Ronaldo Laranjeira et al. 2. Ed. São Paulo. 2003. CYPEL, Saul. Criança com Déficit de Atenção e Hiperatividade: Atualização para pais, professores e profissionais da saúde. S.Paulo: Lemos, 2000. GIUSTI, J.S. Adolescentes usuários de drogas que buscam tratamento: as diferenças entre os gêneros. São Paulo, 2004, 204p. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo. GUARDIOLA, ANA., Transtornos da Atenção: Aspectos Neurobiológicos, in ROTTA, NEWRA T., OHLWEILER, LYGIA E RIESGO, RUDIMAR DOS S., Transtornos de Aprendizagem – Abordagem Neurobiológica e Multidisciplinar., Porto Alegre: Artmed, 2006. KIRK, Samuel A.; GALLAGHER James J. Educação da Criança Excepcional. 3ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996; 319-403. MACEDO, Rosa Maria S. Terapia Familiar: no Brasil na última Década. (pp.333-339). 1ª Ed. São Paulo: Roca, 2008. MATTOS, P. (2003). No mundo da lua: Perguntas e respostas sobre transtorno do déficit de atenção com hiperatividade em crianças, adolescentes e adultos. São Paulo, SP: Lemos Editorial. OBID – Observatório Brasileira de Informação sobre Droga – Portal: www.obid.senad.gov.br. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10: descrição clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993. PSIC – Revista de Psicologia da Vetor Editora. Afetividade e Dificuldades de Aprendizagem: uma abordagem psicoeducacional. nº 8, nº 1 , p. 113-114, Jan./Jun. 2007. 26 RIESGO, RUDIMAR DOS SANTOS., Transtornos da Atenção: Co-morbidades., in ROTTA, NEWRA T., OHLWEILER, LYGIA E RIESGO, RUDIMAR DOS S., Transtornos de Aprendizagem – Abordagem Neurobiológica e Multidisciplinar., Porto Alegre: Artmed, 2006. ROSA, Ivete Pellegrino. Psicopedagogia Clínica: um modelo de diagnóstico das dificuldades de aprendizagem. São Paulo: Porto de Ideias, 2009. ROTTA, NEWRA T., Transtorno de Atenção: Aspectos Clínicos., in ROTTA, NEWRA T., OHLWEILER, LYGIA E RIESGO, RUDIMAR DOS S., Transtornos de Aprendizagem – Abordagem Neurobiológica e Multidisciplinar., Porto Alegre: Artmed, 2006. SCIVOLETTO, S. Tratamento Psiquiátrico Ambulatorial de Adolescentes Usuários de Drogas – característica sóciodemograficas, a progressão do consumo de substâncias psicoativas e fatores preditivos de aderência e evolução no tratamento. 127p. Tese (Doutorado) – Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, 1997. SENAD – Secretaria Nacional Antidrogas. Portal: <http://www.senad.gov.br> SOUZA, Cristiane Cauduro; OLIVEIRA, Margareth da Silva. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade em adolescentes usuários de drogas. Arquivos Brasileiros de Psquiatria, Neurologia e Medicina Legal. Vol. 99, nº 03; jul/ago/set 2005. SZOBOT, Claudia M.; ROMANO, Marcos. Co-ocorrências entre transtorno de déficit de atenção/hiperatividade e uso de substâncias psicoativas. Artigo de Atualização. 2007. ________. Prevenção ao uso indevido de drogas: Curso de Capacitação para Conselheiros Municipais. Brasília: Presidência da Republica, Secretaria Nacional Antidrogas. Universidade Federal de Santa Catarina. 2008. WAJNSZTEJN, Alessandra B. C.; WAJNSZTEJN, Rubens. Dificuldades Escolares: um desafio superável – medicina/psicologia. 2ª Ed. São Paulo: Ártemis Editorial, 2009.
Docsity logo



Copyright © 2024 Ladybird Srl - Via Leonardo da Vinci 16, 10126, Torino, Italy - VAT 10816460017 - All rights reserved