Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

João Calvino e George Whitefield - Martyn Lloyd-Jones, Notas de estudo de Teologia

George whitefield

Tipologia: Notas de estudo

2016
Em oferta
30 Pontos
Discount

Oferta por tempo limitado


Compartilhado em 16/04/2016

edson-nobre-2
edson-nobre-2 🇧🇷

3 documentos

Pré-visualização parcial do texto

Baixe João Calvino e George Whitefield - Martyn Lloyd-Jones e outras Notas de estudo em PDF para Teologia, somente na Docsity! Calvino é » Wiiejhel DAVA LIoyd-Jones João Calvino e George Whitefield 2 Encontre mais e-books evangélicos em nosso site: www.bibliotecacrista.com.br e www.ebooksgospel.com.br Digitalizado e Doado por: Mazinho Por gentileza e por consideração não alterem esta página. Aviso: Os e-books disponiveis em nossa página, são distribuidos gratuitamente, não havendo custo algum. Caso você tenha condições financeiras para comprar, pedimos que abençoe o autor adquirindo a versão impressa. 5 Outra coisa da qual partilhavam em comum - e quero dar ênfase a isto - é que ambos anelavam, talvez mais que qualquer dos seus contemporâneos, pela unidade entre os evangélicos. Nesta Conferência estudamos este ponto com relação a Calvino. Calvino estava tremendamente interessa-do em que todos os reformados e evangélicos estivessem juntos em unidade. Ele deplorava as divisões e divergências que tinham surgido e estava disposto a fazer o que pudesse - ele dizia que estava pronto a atravessar dez mares, se necessário, para comparecer a uma Conferência que ajudasse a promover esta unidade entre os evangélicos reformados. Não unidade com Roma, é claro, mas unidade do povo evangélico reformado. A mesma coisa dava-se com George Whitefield. Ele tinha que resistir, firmado em seus princípios, em sua doutrina, contra os dois irmãos Wesley, porém, ao mesmo tempo, lamentava a divisão, e fez quase tudo que um homem poderia fazer para unir as partes. E, mais para o fim da sua vida, eles chegaram, não obstante, a uma situação em que pregavam dos púlpitos uns dos outros e, a pedido do próprio Whitefield, foi João Wesley que pregou nos seus funerais. Isso é sumamente interessante, estes dois homens, Calvino e Whitefield, terem isto em comum também, este grande interesse pela unidade daqueles que estão unidos na pregação do evangelho de salvação. Finalmente, eles se parecem no que se refere à tremenda influência que exerceram sobre os seus contemporâneos e sobre as gerações subseqüentes. Agora dou atenção a isso. Alguém poderá perguntar: "Por que você está comemorando o 2502 aniversário de nascimento de George Whitefield?" Há muitas respostas para essa pergunta. Uma é que, como o nosso presidente (desta Conferência) assinalou com razão, ele é o mais importante filho da cidade de Gloucester. O bispo John Hooper, do século 16, foi bispo de Gloucester, Robert Raikes era de Gloucester, e Tyndale era oriundo desse condado. Alegrou-me, entretanto, ouvir o Dr. Packer dizer que George Whitefield foi o maior deles todos. Mas nós chamamos a atenção para ele esta noite, não por essa razão, e sim porque, fora de toda questão ele é o maior pregador inglês que já viveu. Observem a minha ênfase! Eu digo, o maior pregador "inglês". Não digo que foi o maior do mundo. Houve um contemporâneo dele, há duzentos anos, que, alegra-me observá-lo, até o bispo Ryle, ele próprio um inglês, tem que conceder e admitir que foi igual a Whitefield. Refiro-me a um homem chamado Daniel Rowland, que viveu e exerceu o ministério em Gales naquele mesmo século 18. Todavia, geralmente se concorda que, fora de toda questão, George Whitefield é o maior pregado inglês de todos os tempos. Falemos com precisão. Se se disser isso, e se se colocar Rowland com ele, bem, então eu acho que há bons fundamentos para dizer que estes dois homens foram, provavelmente, os maiores pregadores, desde os dias dos apóstolos. Não é exagero, como Ryle concordaria. Whitefield não foi somente o maior pregador inglês de todos os tempos; celebramos sua memória por sua profunda influência sobre o curso da história. O Dr Packer disse exatamente a mesma coisa a noite passada de João Calvino. E, naturalmente, é a verdade. É igualmente a verdade quanto a Whitefield. Sua influência na Inglaterra, sua influência em Gales, sua influência na Escócia e, em particular, sua 6 influência na América excede a possibilidade de cálculo. Se o historiador Lecky está certo ao dizer o que tem sido citado tantas vezes - que, sem dúvida, foi o Despertamento Evangélico que salvou este país de uma revolução como a que a França experimentou em 1789 e nos anos seguintes - se isso é verdade, bem, então George Whitefield, mais que ninguém, é o responsável por esse fato. É também por isso que acreditamos que é certo trazer à memória a lembrança deste grande homem, deste grande pregador. II Há um fato extraordinário acerca deste homem, Whitefield, ao qual devo dirigir a minha atenção por um momento, e esse fato é a espantosa negligência que ele sofreu. Seria muito interessante descobrir qual seria o resultado se eu pedisse a cada um dos que aqui se acham presentes que escrevesse um ensaio sobre George Whitefield. Quanto vocês teriam para dizer? Aventuro-me a asseverar que ele é o homem mais negligenciado de toda a história da Igreja. A ignorância concernente a ele é pavorosa. A gente vê isto constantemente, quando lê e ouve as pessoas. Tornou-se um hábito referir-se ao grande despertamento e avivamento de há duzentos anos como o avivamento "Wesleyano". Este é sempre mencionado em termos do que, particularmente, João Wesley fez - até seu irmão Charles tem sofrido. Parece que o povo tem a idéia de que tudo o que aconteceu no século 18 foi unicamente resultado da atividade de João Wesley. Encontrei um exemplo disto num novo livro sobre Charles Wesley, de autoria de Frederick C. Gill. Intitula-se Charles Wesley, o Primeiro Metodista ("Charles Wesley, the First Methodist"). Nele há um caso típico de como Whitefield é depreciado. Ao tratar da diferença de opinião que surgiu sobre a doutrina da eleição e predestinação e sobre a divisão que se deu, diz o autor, sobre Charles Wesley: "É com tristeza que ele se afastou do seu convertido em seus dias de Oxford". Noutras palavras, Whitefield é mencionado como um convertido de Charles Wesley! Assim, durante todos estes anos Whitefield tem sido esquecido ou depreciado. Alegra-me poder dizer que os melhores e mais distinguidos metodistas estão muito dispostos a reconhecer isto. O falecido Dr. J. Ernest Rattenbury se dispôs a dizer que o metodismo nunca dera o devido lugar à memória de George Whitefield. E o Dr. Skevington Wood, um historiador metodista atual, dispõe-se igualmente a dizer a mesma coisa. Mas a questão é: por que Whitefield tem sido negligenciado dessa maneira? Muitíssima gente sabe algo de João Wesley - não acho que sabe muito, mesmo dele, porém sabe algo - ao passo que Whitefield é um homem desconhecido, e a grande história concernente a ele é uma coisa que parece que as pessoas nunca ouviram. Por quê? A explicação é deveras importante; eis porque eu li aqueles versículos do capítulo dois do livro de Juizes. Vocês notam o ponto em questão: não só Josué morreu, mas "foi também congregada toda aquela geração a seus pais" - os contemporâneos de Josué. E depois o texto nos diz que "outra geração após deles se levantou, que não conhecia ao Senhor, nem tão 7 pouco a obra que fizera a Israel". Essa é uma declaração sumamente interessante e significativa. Isto sempre me parece que lança grande luz sobre a nossa presente situação. Quando as pessoas não conhecem o Senhor, logo se tornam muito ignorantes da história da Igreja. Uma vez que você perde o conhecimento do Senhor, você perde o interesse pelas Suas obras. Isso, penso, foi o que aconteceu durante os últimos cem anos. O conhecimento do Senhor sempre leva a um interesse pela história da Igreja, e estimula esse interesse. Acaso posso opinar de passagem esta noite que há algo de errado com um conservadorismo evangélico que não tem interesse pela história da Igreja? Há certamente algo de errado com um conservadorismo evangélico que parece pensar que a história evangélica teve início com a primeira visita de D.L. Moody a este país, por volta de 1873. Há um defeito em algum ponto do nosso conhecimento do Senhor; pois, desde que uma pessoa tenha um verdadeiro conhecimento do Senhor, ela tem um vivido interesse por todas as obras do Senhor, por todos os eventos conhecidos e registrados na longa história da Igreja Cristã. Penso que isso é algo que deveria levar-nos a examinar-nos a nós mesmos com muita seriedade. Estas duas coisas, de acordo com o texto, estão indissoluvelmente interligadas: a perda do conhecimento do Senhor, a perda do conhecimento dos Seus servos e das Suas grandes obras realizadas por meio deles. Examinemo-nos a nós mesmos, com calma, à luz dessa proposição. Mas há uma segunda razão pela qual o povo é tão ignorante sobre Whitefield, e é por causa da humildade dele. Ele, como Calvino, foi um homem muito humilde. Ele declarava: "Que o nome de George Whitefield seja esquecido e apagado, na medida em que o nome do Senhor Jesus seja conhecido". De novo, será que posso lançar, espe- cialmente aos membros da Conferência, uma pergunta teológica? Haveria algo na idéia de que aqueles que tendem a seguir o ensino de João Calvino estão menos interessados em publicidade do que aqueles que seguem o ensino arminiano esposado por João Wesley? Simplesmente lhes coloco isso. Peço-lhes apenas que mantenham os olhos nos jornais e periódicos religiosos e vejam se não há algo nessa idéia. O ensino de João Calvino primeiramente humilha o homem; glorifica a Deus. Faz o homem sentir-se insignificante, sentir-se pessoa inútil; e por mais privilegiado que seja, ou mais capacitado para realizações, ele sabe que é Deus que o faz. E nisso que ele está interessado. Será isso verdade, pergunto, com relação à outra ênfase, ao outro ensino? Permanece o fato de que sabemos muito menos sobre George Whitefield do que sobre João Wesley. Contudo a principal explicação, não tenho dúvida, da negligência de que Whitefield é objeto, é que ele nunca fundou ou estabeleceu uma denominação. Conforme foi chegando ao fim da sua vida, talvez tenha achado que cometera um erro nisso. Consta que ele disse, antes do fim, que João Wesley fora mais sábio que ele, que tinha "encurralado as suas ovelhas", ao passo que ele não o fizera. O fato, porém, é que ele não se preocupou em fundar ou em deixar uma denominação religiosa. Contentava-se em pregar o evangelho, em fertilizar todo e qualquer corpo religioso. Assim, ele não deixou uma denominação. Todavia João 10 seus rapazes para receberem educação. Ela foi iniciada como uma escola para crianças pobres, filhos de mineiros e outros. Quem fundou a Kingswood School? George Whitefield. Sempre George Whitefield na vanguarda; ele era o líder. A esta altura, espero ter convencido vocês de que o meu protesto contra esta afrontosa negligência para com este homem é mais que justificado. Contudo, em acréscimo a tudo isso, foi ele que levou o avivamento religioso de Gales a dar frutos. Ele foi de fato o primeiro moderador do que hoje se conhece como Igreja Presbiteriana de Gales. Costumava ser conhecida como Igreja Metodista Calvinista Galesa. Whitefield foi o primeiro moderador dessa Igreja, em 1743. Devemos ser precisos. Creio que se tornou moderador por esta razão: havia aqueles dois grandes homens e grandes pregadores em Gales - Daniel Rowland e Howell Harris - e o problema era qual dos dois deveria ser o primeiro moderador. Bem, os ingleses têm muitas utilidades e nessa ocasião um deles foi muito útil! Resolveram o problema concordando em que nenhum dos dois galeses seria o primeiro moderador, e puseram o inglês no cargo. Os dois galeses deleitaram-se em saudá-lo como moderador dessa primeira Associação Presbiteriana de Gales. Ele também teve grande influência na Escócia. Quem quer que já tenha lido sobre aquele período de celebração da Ceia do Senhor em Cambuslang, que hoje faz parte de Glasgow, saberá exatamente o que eu quero dizer. Sua influência na América, também, é algo que realmente frustra as tentativas de descrição. Todos os escritores, incluindo-se os que no presente estão interessados em reproduzir os escritos e as obras de Jonathan Edwards, são todos bastante cuidados e honestos para dizerem que a influência de Whitefield na América, por volta de 1740, e daí em diante, foi simplesmente irresistível. Houve um segundo "grande despertamento", maior até do que o primeiro, que ocorrera em 1735. Estas são algumas das razões pelas quais estamos chamando a atenção para este homem. Ele visitou a América sete vezes. Alguns de nós acham difícil cruzar o Atlântico atualmente, mas imaginem fazê--lo há duzentos anos! E Whitefield cruzou o Atlântico treze vezes. Morreu lá, em sua sétima visita, de modo que, de fato, cruzou o Atlântico treze vezes. Visitou a Escócia quatorze vezes. Calcula-se que, provavelmente, ele pregou dezoito mil sermões nos trinta e quatro anos de sua vida como pregador. IV Aí está por que, digo eu, é certo celebrarmos a memória deste homem. Este homem foi simplesmente um fenômeno. Não houve homem nenhum que fosse mais bem conhecido em Londres há duzentos anos, do que este homem, George Whitefield. Quais são os fatos a respeito dele? Deixem-me dar um breve sumário, a fim de tentar propiciar uma conceituação do fenômeno conhecido como George Whitefield. Como já lhes fiz lembrar, ele nasceu em Gloucester, na Estalagem do Sino ("The Bell Inn"), em 16 de dezembro de 1714. Muitos dos seus antepassados tinham sido clérigos da Igreja da Inglaterra, 11 porém o seu pai não. Seu pai era o zelador da Estalagem do Sino, em Gloucester, e ali ele passou a sua meninice. Seu pai morreu quando ele era muito jovem, e Whitefield nos conta em seu diário que ele caiu em muitos pecados, na maioria daqueles pecados nos quais a juventude tende a cair. Mas nunca foi feliz, sempre teve uma consciência sensível. Abandonou a escola por um tempo, porém depois começou a achar que estava errado. Durante o tempo em que deixou a escola, só esteve ocupado em servir bebida, segundo o costume daquele bar de Gloucester. Todavia a sua consciência ainda o perturbava, e ele voltou para a escola, e finalmente pôde conseguir ingresso numa faculdade, em Oxford. Ali, como digo, recebeu a influência daquele Clube Santo que tinha sido formado por Charles Wesley e alguns outros, e que mais tarde recebeu a adesão de João Wesley. Tendo concluído o seu curso em Oxford, foi ordenado pelo bispo Benson, bispo de Gloucester naquele tempo, em 20 de junho de 1736, na idade de vinte e um anos. Pois bem, o bispo Benson tinha feito uma regra segundo a qual não ordenaria ninguém com menos de vinte e três anos de idade, mas tendo ouvido o que ouvira sobre esse moço extraordinário, e tendo se encontrado pessoalmente com ele, resolveu quebrar a sua própria regra, pelo que o ordenou embora ele tivesse apenas vinte e um anos. Em 27 de junho, uma semana depois da sua ordenação, ele pregou pela primeira vez em Gloucester, na Igreja de Sta. Maria, a Cripta, onde havia sido batizado na infância e tinha participado pela primeira vez da Ceia do Senhor. Naturalmente, este evento causou muito interesse, e talvez algum entusiasmo. Sua mãe era muito conhecida como zeladora da Estalagem do Sino, e todos os parentes e amigos, e outros, vieram ao culto; o resultado foi que a igreja ficou repleta. Ora, este é o ponto interessante: logo neste primeiro sermão ele mostrou que era um homem à parte, que havia algo incomum acerca dele. O efeito sobre os ouvin- tes foi tremendo. Foi dito mais tarde, e até foi levado ao conhecimento do bispo, que quinze pessoas tinham ficado loucas por causa daquele sermão. O bispo Benson era um homem sábio, e correu a informação de que o seu comentário foi: "Tudo que desejei e esperei foi que a loucura não fosse esquecida antes do domingo próximo seguinte". Todavia, ele era um homem sábio, e compreendeu que ali estava um pregador deveras incomum. Já o primeiro sermão de Whitefield o marcou como um pregador inteiramente excepcional, na idade de, lembrem-se, vinte e um anos. Não devo cansá-los com mais detalhes. Ele veio a Londres pela primeira vez em agosto do mesmo ano de 1736. Seu primeiro sermão em Londres foi pregado em Bishopgate. O posto que veio a ocupar consistia em atuar como substituto do capelão da Torre de Londres, porém lhe foram dadas oportunidades de pregar noutros lugares e, de novo, no momento em que começava a pregar ele atraía a atenção, e atraía multidões. O povo jamais ouvira pregação como a dele. Em vez de ler um prosaico tipo de ensaio, que se supunha servir como um sermão, ele era um homem que pregava com todo o seu ser, com autoridade, poder e convicção - e, imediatamente, toda vez que pregava, as igrejas ficavam cheias, atulhadas. 12 Depois de passar cerca de dois meses aqui em Londres, ele foi substituir um amigo numa paróquia de Hampshire. Deu-se ali exatamente o mesmo. Como resultado disso, foram-lhe oferecidas muitas paróquias e se lhe apresentaram muitas possibilidades e perspectivas de êxito e de progresso na Igreja da Inglaterra. Mas, sob a influência dos seus amigos João e Charles Wesley, que estavam na Geórgia, EUA, procurando fazer alguma obra missionária, sentiu-se chamado para ir à Geórgia e, assim, decidiu definitivamente que era o que devia fazer. Não havia navio disponível imediatamente, e havia vários arranjos para fazer, de modo que ele pôde voltar a Gloucester para despedir-se de sua mãe, dos amigos e dos parentes. Ele pregou lá, e mais uma vez foi notável. Em certo sentido, ficou provado que esse foi um ponto decisivo da sua vida e carreira. Ele tinha alguns parentes em Bristol, cidade vizinha de Gloucester, e queria despedir-se deles antes de partir para a Geórgia. Por isso foi para lá. Toda vez que ele ficava sabendo que haveria algum tipo de preleção ou prédica nalguma igreja num dia de semana, sempre comparecia. Assim, em Bristol ele foi a uma certa igreja e ali estava sentado com a congregação, quando o homem que deveria pregar reconneceu-o, foi até ele e lhe pediu que pregasse em seu lugar. Diz Whitefield: "Sucedeu que eu tinha as anotações de um sermão no bolso, de modo que concordei em pregar". E o fez. Esse foi, num sentido, o começo do real fenômeno de George Whitefield. A congregação ficou toda eletrizada. Ele pregou noutras igrejas, e estas transbordantes também ficaram transbordante de gente. O povo vinha de toda parte, e nas igrejas ocupava todos os cantos - junto aos candelabros, no sótão, na galeria, em qualquer ponto, para estar no edifício e ouvi-lo. Pois bem, isso é assombroso. Ele pregou em Bristol pela primeira vez em janeiro de 1737. Houve atrasos, e ele ainda não pôde ir para a Geórgia, e assim pôde fazer mais uma visita a Bristol, em maio de 1737, chegando ali no dia 23. Eis aqui uma coisa que ajudará vocês a perceberem que fenômeno era este homem. Lembrem-se, ele era apenas um jovem de vinte e dois anos de idade, mas é isto o que ele diz sobre a sua segunda visita a Bristol: "Multidões vinham a pé ao meu encontro, e muitos vinham em carruagens a uma milha de distância, e quase todos me saudavam e me abençoavam quando eu andava pela rua". Vocês podem imaginar isso? Um jovem de vinte e dois anos! Gente caminhando uma milha, viajando em carruagens para encontrar-se com ele. Era uma espécie de "desfile real", e tudo resultante da sua admirável e espantosa pregação. E continuou assim - de volta a Gloucester, em seguida a Oxford e depois a Londres. Consta que entre agosto e o Natal de 1737 ele pregou cem vezes, e cada vez a auditórios repletos. Ele se tomou um dos homens mais famosos de toda a cidade de Londres, e de todo o país. Havia naquele tempo uma revista muito popular chamada Revista do Cavalheiro ("The Gentleman's Magazine"), e para alguém ter o nome nela era um feito e tanto. Pois bem, em novembro de 1737 houve um poema sobre George Whitefield na Revista do Cavalheiro, e ele ainda tinha somente vinte e dois anos de idade. Nove sermões dele foram publicados em 1737, e todos tiveram realmente grande venda. Então, afinal, ele pôde ir para a América, e lá passou a maior parte de 1738. Agora, lembrem-se, este ano de 1738 é o ano em que os dois 15 Ali estava um homem capaz de pregar daquela maneira a todas as classes. Havia muitos que o seguiam, dentre os membros da aristocracia daqui de Londres. A condessa de Huntington achava que não havia nenhum homem como ele, como pregador, e costumava abrir as salas da sua grande casa e convidar todos os principais elementos da aristocracia da época para ouvi-lo; e eles se deliciavam ouvindo Whitefield. Ele era o maior desses pregadores que pregavam para a aristocracia, todavia como lhes fiz lembrar, ele era também o maior pregador para os mineiros, o maior pregador para as multidões de Moorfields, Kennington Common e de onde mais acontecia ele estar. Ele podia pregar igualmente bem às crianças do orfanato. Que homem estupendo e admirável ele era! Ele também era supremo na questão de coletar dinheiro. Ele fundou um orfanato na Geórgia, e o custo para mantê-lo era muito grande. Assim, ele se acostumou a pregar um sermão e, depois, levantar uma coleta. Costumava conseguir enormes coletas de dinheiro, e com esse dinheiro também costuma- va ajudar quem quer que estivesse em necessidade, qualquer pessoa pobre, todo aquele que estivesse em dificuldade. Toda a Inglaterra falava dele. Sempre se sabia quando ele estava em Londres, e ele atraía gente de todas as classes ou de todas as camadas da sociedade. V Qual a explicação desse fenômeno? É-nos muito difícil concebê-lo, não é? Estamos vivendo dias muito pobres. Que século foi o século 18! Eis aí o fenômeno; qual a explicação? Permitam-me tentar uma espécie de análise. Comecemos com o homem propriamente dito. O homem natural era muito interessante. Quando menino, é descrito como esperto, hábil e muito cativante. Mas o que havia de mais notável quanto a ele era o seu dom de oratória. Ele mostrou isso quando era menino. Costumava imitar os pregadores na estalagem. Era um ator nato, e tinha elocução maravilhosa. O homem nasce orador. Não se pode fazer oradores. Ou você é orador, ou não é. E esse homem era um orador nato. Ele não podia evitar isso. Ele sempre era bom na declamação de trechos de dramas Shakespearianos. Na escola sempre lhe davam um papel, ou se era feito um discurso às pessoas notáveis da cidade de Gloucester, ele era o rapaz escolhido por sua admirável elocução e pela facilidade e graça com que fazia tudo. Era um orador nato, e como todos os oradores, era caracterizado pela grande liberdade e propriedade dos seus gestos. O pedante João Wesley não era orador, e às vezes tendia a criticar George Whitefield neste aspecto. Lembro-me de haver lido no Diário de Wesley sobre como sucedeu que, uma vez, ambos estiveram em Dublin ao mesmo tempo, e como João Wesley foi ouvir Whitefield. Em seu relato do culto, Wesley se refere aos gestos do pregador, dizendo que lhe pareceu que Whitefield se assemelhava a um francês lutando boxe. O que ele quis dizer é que Whitefield tendia a falar tanto com as mãos como com os lábios e a boca. Entretanto isso é oratória. Um dos maiores oradores de todos os tempos foi Demóstenes. Um dia alguém perguntou a Demóstenes: "Qual é a primeira grande regra da oratória?" E 16 Demóstenes respondeu: "A primeira grande regra da oratória é - movimento; a segunda grande regra da oratória é - movimento; e a terceira grande regra da oratória é - movimento". O orador não move somente os lábios e a língua; todo o seu corpo está envolvido. "Movimento!" "Vivemos maus dias; nada sabemos de oratória. George Whitefield era um orador nato. Vocês ouviram o que se conta que David Garrick disse? David Garrick era o principal ator naquele tempo, e toda vez que tinha oportunidade, sempre ia ouvir Whitefield. Ele não estava muito interessado no evangelho; estava mais interessado na elocução, nos gestos e assim por diante. Conta-se que Garrick disse que daria cem guinéus, se pudesse dizer "Oh!" como George Whitefield dizia. E outra pessoa disse que se sentiria completamente feliz, se pudesse pronunciar a palavra "Mesopotâmia" como Whitefield a pronunciava. Tenho uma autoridade maior ainda para citar. Um dos maiores homens de meados do século dezoito foi Bolingbroke. Era um homem hábil, culto, um homem do mundo, homem muito sábio e, outra vez, alguém que estava interessado na oratória e na elocução. Bolingbroke disse de Whitefield, a quem ouvira muitas vezes, que ele tinha maior "eloqüência imponente do que qualquer homem que já ouvira". Ele tinha ouvido todos os maiores oradores políticos e estadistas e outros tipos de orador também. Ele colocou Whitefield no topo da lista, qualificando a sua oratória como a maior "eloqüência imponente" que já ouvira. Em acréscimo a isso tudo, Whitefield tinha uma natureza calorosa e compassivamente expansiva. Aí está o homem natural. Contudo, isso não explica o fenômeno que era George Whitefield. Pensemos agora no espiritual. Aí está a explicação. Será que posso expressar isto de maneira crua e quase ridícula? Deus sabe o que faz, e quando Ele escolheu este homem, George Whitefield, a quem deu esses dons naturais, sabia o que estava fazendo. George Whitefield passou por uma extraordinária conversão. Foi um processo longo e penoso. Houve muitos passos. Como já lhes fiz lembrar, a consciência dele o perturbava na meninice, na juventude, e quando foi para Oxford não participou das várias festas para as quais era convidado; ele era muito sério. Depois ele freqüentou as reuniões do Clube Santo, e ficou mais sério ainda. Os membros desse Clube praticavam boas obras, tinham dias de jejum, visitavam as prisões... Mas nada disso o ajudou de fato. Depois ele leu um livro, um famoso livro escrito por um escocês chamado Henry Scougal, que vivera nos fins do século dezessete. O título do livro era, A Vida de Deus na Alma do Homem ("The Life of God in the Soul of Man"). Teve profundo efeito sobre ele. Convenceu-o de que ele precisava nascer de novo, de que ser cristão não é ter uma boa vida, fazer isto ou aquilo, e sim ter na alma a vida de Deus. Ele compreendeu que não a possuía; e isto o levou às profundezas do desespero. Ficou em agonia. Costumava ficar prostrado no solo, em oração, costumava sair para orar ao ar livre; não havia nada que ele não fizesse. Ele passou por esse terrível processo de convicção de pecado; então, finalmente, Deus por Sua graça sorriu para ele. Noutras palavras, a conversão de George Whitefield não foi uma questão de "tomar uma decisão". Não foi repentina. Não. Ele passou por essa tremenda agonia de convicção, e então irrompeu a luz para ele. Em 17 acréscimo a isso, foi-lhe dado o que ele chamava de "o selo do Espírito". É isso que explica o caráter extraordinário da sua pregação desde o começo. No entanto, vamos lembrar-nos disto: embora seja esse o começo, ele continuou a vida inteira a ser caracterizado por uma piedade sumamente admirável. A vida de oração desse homem faz que todos nós fiquemos envergonhados, e muitas vezes me fez sentir que não sei absolutamente nada destas questões. Já me referi à humildade e santidade de Whitefield. Nada mostra isso mais claramente que o modo como ele ficava apavorada com a idéia de pregar. Apesar de haver sido treinado para o ministério, e de já ter chegado o tempo de sua ordenação, pregar o amedrontava. Ele considerava essa tarefa muito sagrada; e quem era ele para entrar num púlpito e pregar? Por ele, fugiria para mil milhas de distância, para não pregar. Tal era sua maneira de ver isso tudo, e tal era o seu conceito de si próprio e da sua indignidade pessoal, que dava muito trabalho persuadir George Whitefield a entrar num púlpito e pregar. Irmãos, não haveria uma lição aí para alguns de nós? Ele detestava também notícias pela imprensa, e sempre ficava aborrecido quando as recebia. Noutras palavras, ele era um homem extraordinariamente humilde e piedoso. João Wesley lhe paga o tributo de dizer que achava que só conhecera um homem que se igualava a Whitefield em santidade - e, concebivelmente, achava que este homem era um pouco maior, não tinha certeza - e esse homem era John Fletcher, de Madeley. Mas, João Wesley dizer isso no fim da vida de Whitefield, e em vista de tudo que acontecera entre eles, é um tremendo tributo à santidade e piedade de Whitefield. Já dei ênfase ao seu zelo. Quero também dar ênfase ao seu espírito fraternal e ao elemento de universalidade que o caracterizava. Lembrei a vocês, no início, que ele, como Calvino, tinha muito interesse pela verdadeira unidade evangélica. Nada havia de pequeno quanto a esse homem; nada havia de estreito quanto a ele. Ele tinha opiniões fortes. Estava disposto a divergir dos seus grandes amigos João e Charles Wesley sobre questões doutrinárias, e a resistir a eles. Todavia isso não fez dele uma pessoa rígida e estreita; não fez dele um homem de um pequeno partido. Não! Posso provar isso. Na Escócia, por exemplo, os dois irmãos Erskine, Ralph e Ebenezer, que tinham saído por ocasião da primeira Secessão - e com muito bons fundamentos para isso - tentaram persuadir Whitefield a pregar somente para eles, na Escócia. Contudo ele não quis. Disse ele, se há homens na Igreja da Escócia que crêem no evangelho e que estão dispostos a abrir as portas para a minha pregação do evangelho, eu o farei. Ele não queria ficar amarrado aos Erskine. E ele pregou para os ministros da Igreja da Escócia, como lhes fiz lembrar, em Glasgow, em Cambuslang, em Edimburgo, e em vários outros lugares. Pois bem, tudo isso era resultado do Espírito de Deus nele - o amor e o espírito de fraternidade, a grandeza de coração, o desejo de que todos os que têm realmente um evangelho bíblico para pregar sejam um e trabalhem juntos. VI 20 homens ficavam aterrorizados, assustados e em agonia de alma quando o ouviam. Não obstante, isso era acompanhado por uma ternura, um amor e uma capacidade de derreter coração que eram irresistíveis. Isso é pregar! Gosto do comentário que o próprio Whitefield fez sobre esta questão de pregar. Um dia lhe pediram uma cópia do sermão que ele tinha pregado, para publicá-lo, e esta foi a sua resposta: "Não faço objeção", disse ele, "se vocês imprimirem com ele o relâmpago, o trovão e o arco--íris". Não se pode pôr a pregação na imprensa fria; é impossível. Pode-se pôr o conteúdo do sermão, não porém a pregação; não se pode por o "relâmpago", não se pode pôr o "trovão" - o ribombar do trovão, o brilho do relâmpago - não se pode capturar o "arco-íris". Tudo isso está na palavra, no movimento e em tudo que diz respeito ao pregador. Não se pode por isso na imprensa. É por isso que quando as pessoas lêem os sermões de Whitefield, muitas vezes dizem: "Não posso entender isto. Como é que um homem que produziu sermões como este pode ter sido tal fenômeno, tão maravilhoso pregador?" Se vocês disseram isso alguma vez, estão revelando a sua ignorância do que significa pregar. Não se pode pôr a pregação no papel. Eu defendo a idéia de que esse tem sido um dos nossos grandes problemas desde meados do século passado, ou até antes. A impressão de sermões, a impressão de tudo que é falado, pode ter um efeito devastador sobre a pregação como tal. Os homens têm os olhos postos nas pessoas que a vão ler, mais do que naquelas para as quais vão pregar na ocasião. É pena, mas entra aí a preocupação com a reputação e com o que dirão os críticos literários pedantes. Lembremo-nos das palavras de Whitefield sobre essa questão. O efeito da sua pregação era, como é natural, simplesmente irresistível. Ele nos conta o que observara no passado nos pobres mineiros de Kingswood. Esses homens tinham acabado de sair das minas e tinham os rostos negros de pó de carvão quando se postaram para ouvir Whitefield. Diz ele: "Quando eu lhes estava pregando, de repente comecei a observar sulcos brancos em seus rostos enegrecidos". Que será que era? Ah, lágrimas corriam pelas suas faces, fazendo sulcos na sujidade do pó de carvão. Isso é pregação! Esses pobres homens, que nada sabiam de doutrina, que de nada sabiam, exceto do pecado, que viviam só nas bebedeiras, e mesmo na devassidão, ao ouvirem essa estupenda pregação da Palavra de Deus, choraram, derramando copiosas lágrimas. Ou vejam como isso é descrito pelo autor do grande hino que começa com as palavras: Grandioso Deus, que operas maravilhas, todos os Teus caminhos incomparáveis são, sublimes e divinais. O próprio Samuel Davies também era um admirável pregador e um grande intelecto. Ele estivera num avivamento na América, naquele mesmo século. Fizeram-no diretor de um colégio. Samuel Davies e Gilbert Tennent foram enviados à Inglaterra para angariar dinheiro para aquele colégio. Chegaram depois de uma viagem terrível, durante a qual pensavam que iam naufragar, vezes sem conta. Chegaram a Londres num sábado de manhã, e a primeira pergunta que fizeram foi - "O Sr. Whitefield está na cidade?" Para satisfação deles, foi-lhes dito que estava, e que deveria pregar na manhã seguinte, creio que em 21 Moorfields. Assim combinaram que estariam ali em boa hora para ouvi- lo. Samuel Davies escreve o relato do culto, e eis o que ele diz: "Logo ficou claro para mim no culto, que o Sr. Whitefield devia ter tido uma semana excepcionalmente ocupada: era óbvio que ele não tivera tempo para preparar bem o seu sermão". Ele acrescenta: "Do ponto de vista da construção e da ordem do pensamento, era muito deficiente e defeituoso; era um sermão muito pobre. Mas," disse Samuel Davies, "a unção que o assistiu foi tal, que eu me arriscaria muitas vezes aos rigores de um naufrágio no Atlântico para estar ali e ficar sob a sua benigna influência". Isso é pregação, meus amigos. Pobre sermão, mas tremenda pregação! Que sabemos disso? Por que falamos da pregação como "fazer um discurso" ou "dizer uma palavra"? Pregação! Foi isso que produziu aquele tremendo avivamento, sob Deus. Vocês podem ler os relatos do que Jonathan Edwards e a senhora Edwards sentiam face à pregação de Whitefield. Deixem-me contar-lhes o que disse o grande Lorde Chesterfield. Chesterfield era um humanista, um típico homem do século 18, "homem de cidade", que escreveu um famoso livro de conselhos a seu filho. Ele costumava deliciar-se em ouvir Whitefield e, como outros, ficava dominado pelo poder da pregação. Vocês recordam a famosa história: uma tarde, Whitefield estava usando uma ilustração para mostrar o grande perigo da situação do pecador, a caminhar em direção ao inferno sem perceber isso, e apresentou esta figura: comparou o pecador com um homem cego conduzido por um cão. Ele tinha uma bengala na mão, e ia sendo conduzido pelo cão. Infelizmente o cão soltou-se e fugiu, e deixou o homem, que foi andando às apalpadelas com a sua bengala, fazendo o melhor que podia. Inconscientemente, disse Whitefield, o homem perambulou rumo à beira de um precipício, e sua bengala caiu no abismo, tão fundo que nem sequer se ouviu o eco. O cego foi avançando cautelosamente, pare recuperá-la; por um momento ele se equilibrou com um pé no vácuo e... Naquele momento o Lorde Chesterfield se pôs de pé, gritando: "Bom Deus! Detém-no!", e saltou para a frente para tentar impedir a queda do cego no abismo. Isso não é somente oratória, é pregação também; e pode afetar até um homem como o Lorde Chesterfield dessa maneira extraordinária. A história de que gosto mais no entanto, é a de Benjamin Franklin ouvindo Whitefield. Pois bem, ali estava outro gênio. Benjamin Franklin é famoso como cientista, famoso como homem de letras, como um dos líderes da Revolução Americana, como o primeiro embaixador enviado pelos Estados Unidos, como veio a acontecer, para representá- -los na França. Ele vinha freqüentemente a Londres. Esse homem capaz e culto dizia-se quacre; ele não era coisa nenhuma, do ponto de vista cristão. Ora, Benjamim Franklin vivia em Filadélfia, e quando das visitas de Whitefield, ele era tipógrafo. Era um astuto homem de negócio, e se acostumou a imprimir e vender sermões de Whitefield. Ele nunca perdia uma oportunidade de ouvir Whitefield e, em referência a uma dessas ocasiões, eis o que ele diz: já recordei a vocês que, invariavelmente, no fim de um sermão, Whitefield levantava uma coleta para o seu orfanato na Geórgia, e Franklin sabia disso muito bem. Tinha visto isso muitas vezes, e com freqüência punha algum dinheiro 22 na coleta; mas estava ficando cansado de fazer isso. Achava que Whitefield estava tomando muito dinheiro dele. Assim, ele nos conta que nessa ocasião particular em que foi ouvi-lo, tinha resolvido solene- mente que não daria nada na coleta do fim do culto. Diz ele: "Eu tinha no bolso ouro, prata e cobre; mas decidi que não daria nada, já tinha dado muitas vezes". Todavia o que ele diz a seguir é isto: "Conforme o pregador prosseguia, eu fui amole-cendo e acabei dando o cobre. Outro rasgo da sua oratória levou-me à decisão de dar a prata. E ele concluiu tão admiravelmente que eu esvaziei totalmente o bolso no prato da coleta - ouro e tudo". Ora, isso é pregação! Está além da oratória, é oratória inspirada - oratória inspirada pelo Espírito Santo, transmitindo a mensagem da Palavra de Deus e o seu glorioso evangelho. VIII Será que posso indicar, com alguns títulos, o que considero algumas das lições que George Whitefield tem para ensinar-nos hoje? Gostaria de ter tempo para desenvolvê-las. A primeira lição que ele nos ensina é esta: nunca a situação é de desespero - nunca! As coisas não poderiam ser piores do que eram no período anterior a 1736-37 - absolutamente desesperador, ao que parecia. Foi justamente naquele ponto que Deus pôs a mão nesse rapaz da Estalagem do Sino, em Gloucester - George Whitefield. A soberania de Deus! Não desperdicemos tempo com lamentações sobre o futuro da Igreja. Não demos muita atenção aos meros analistas do presente, que simplesmente descrevem a situação que nos confronta. Nunca é desesperadora. Isso é uma das coisas mais surpreendentes que Deus já realizou. Em segundo lugar, vamos, espero, dar fim uma vez por todas à mentira que afirma que o calvinismo e o interesse pela evangelização não são compatíveis. (Não gosto desses rótulos, mas como são utilizados, preciso utilizá-los.) Eis aí o maior evangelista que a Inglaterra produziu, e era calvinista. Charles Haddon Spurgeon, o maior evangelista do século passado, confessa que se modelara - na medida em que se modelara baseado em alguém - baseado em George Whitefield. E ele era calvinista. A objeção que alguns de nós fazem a certos aspectos da evangelização moderna não tem nada a ver com o calvinismo. Estou certo de que João Wesley faria objeção às coisas que objetamos nos métodos evangelísticos modernos, tanto como nós. A objeção não é sobre o calvinismo. Essa doutrina, que dá ênfase à glória de Deus e à depravação total do homem e ao plano e propósito divino e eterno de redenção no Senhor Jesus Cristo, sempre concitou e levou os seus verdadeiros adeptos à evangelização. Só Whitefield já basta para estabelecer isso; contudo, ele é tão-somente um brilhante e saliente astro de uma grande galáxia. A terceira lição é a necessidade absoluta de uma fé ortodoxa. Este homem pregava o evangelho como o mesmo fora pregado pelos apóstolos, pelos reformadores, pelos puritanos. Ele viveu os puritanos e seus escritos. As vezes até pregava sermões deles,
Docsity logo



Copyright © 2024 Ladybird Srl - Via Leonardo da Vinci 16, 10126, Torino, Italy - VAT 10816460017 - All rights reserved