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Guias e Dicas
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Psicologia vol. III - mário ferreira dos santos, Notas de estudo de Bioquímica

mário ferreira dos santos

Tipologia: Notas de estudo

2016

Compartilhado em 13/07/2016

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danilo-dalla-vecchia-rocha-4 🇧🇷

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Baixe Psicologia vol. III - mário ferreira dos santos e outras Notas de estudo em PDF para Bioquímica, somente na Docsity! PSICOLOGIA Programa editorial éa LIVRARIA | ENCICLOPÉDIA DE Cíf) WróRa LOGOS Cc: FILOSÓFICAS E SOCIAIS de Mário Ferrera ãos Santos. Vocuuzs PuRLICANOS: b» dosnfia e Cosmovisão” — 2% ul. 2) “Lógira e Dialéntico” Cinciuindo « Docadiuléctica) 22 ul. 1) “Teariy du Conhecimento” “Ontologia e Cosrialo A Bar 8; “O Romem Noolagia Geral mente 0 Infinita” (Teolngia) £Axiologia c Estética) Sob a direção de Mário Ferveixa dos Santos óteles «es Muteções” — Com a texta traduzido e reexposto, acom- parhudo de comentários comoendiados por Mário Ferreira dos Santos A Sam “Ob “Olras corais — Aco completas de Aristóteles” 3 de Pl hadas de come: o” is € notas COLUÇÃO “OS GRANDES LIVROS": “Dom Quixote de la Mancha, de Mig Docé — 2 vols. ene i Corventos — ilustra com: A Bam de Milon, com iusirações ce Gustave Doré 2 es de Gustave Doré, em 3 vols “Gil Blis de Sentilhans”, de Le Sage, com ilustr ANTOLOGIA DA LITFRATURA MUNDIAL: 1) “Antologia de Conios e Novelas de Lingua Estrengetra” — 1 vol, A Sam 2) “Amioiogia de Contos s de Língea Estrasgeira” | vol. 3) “Antologia de Contos las de Lingua Porttguêsa” -— 1 vol. ulas e Apélegos” — 7 vol Lopia da Pensimento Mundil” E MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS PSICOLOGIA Edi ENCICLOPÉDIA DAS CIÊNCIAS FILOSÓFICAS E SOCIAIS VOL. JIJ * LIVRARIA EDITORA LOGOS LTDA. ALAMEDA ITU, 452 — TELS, 31-3365 e 31-0238 SÃO PAULO 1956 1 MÁRIO "ERREIRA DOS SANTOS A APECGTIVIDADE TEMA VI AM O funceionar afectivo «cc co 185 Art. 2 -- Prazer e dor. As emo 15 Ar. 3 — As tendências e as inclina 187 Art 4 A imaginação. Fantasia co B9 A INTELECILUALTDADE TEMA VII Art, 1 -- Associação de idéias — Classificação. Teorias 207 Art 2— A abstracção (cc ceiceiceceriia s19 Art 3 Oduioe classificações. Raciocínio. Espécies de co 28 Art. 4 — Direção &o Conhecimento. Princípio de finalidade ... ds o 2 Art. Sinais e linguagem — A linguagem e o pensamento cce. . o 51 Art. 6 — Vontade e desejo ....... Do 255 rEMA VI Art. 1 = Teorias modernas da Psicologia .. 2 Art. 2 — A psicaráliso . eee 269 Ast. 3 — Teoria da assimilação de Piaget o MM Art. 4 — Crítica à teoria do tacteamemo ....cccciooo 285 MA 1 ARTIGO E NOOLÓGICA DO FUNCIONAMENTO PSÍQUICO Como o expusemos vs “Pilosviia v Cosmovisão”, o têrmo Noulogia tem para nós um sentido específico. Embora usado espo- radicamente durante o Renascimento, empregado por Kant em sentido restricto, quando sc referia à Alosotia noolópica de Platão, em face do empirismo aristatélico, — e mecernamente por Encken, que considera à noológico como uma superação da psicologia, À qual não pode scr reduzida, pois se refere ac aspecto criador do nusso espírito, — damos ao têrmo uma acepção precisa, Há lugar para & construção de uma nova disciplina que eu globe em seu âmbito tado o proceder do espívito humano, quando criador ou não, em suas raízes somáticas, hem como em sua ca. pacidade assimilativa, em face do cultural-histórico. Dessa forma, a Noologia, como a entendemos, é uma disciplina que tem como sbijceto não só os fundamentos do nosso espírito, com suas raízes psicológicas, como em sua interactuação com o realizar-se culiu- ral, o histórico-soeial, bem como seus fundamentos ontolôgicos. A origem da palavra vem do têrmo grego nous, espírito, que se distingue do 1êrmo mais especílico nsyicbê, alma Inclui a Noologia. em seu âmbito, o estudo da Psicolugia, em- bora apresente o facto psicológico um aspecto noológico, cuia ese pecificidade só poderá ser examinada oportunamente. Não poderíamos peneirar no estudo da Psicologia, sem que o precedêssemos por uma rápida, sucinta e clara síntese nooló- gica, que nos ubrirá novas possibilidades ao exame dos lavlus psíquicos, bem como permitirá que os mesmos se apresentem cora mais clareza. Ki “Noologia Geral” é êsses aspectos serão ÁRIO FERIÚIRA DO: ANT analisados cm jace das grandes contribuições que a ciência muderra oferece au estudo de temas de tal importância. Por ora, queremos apenas esboçar uma visão geral, suliciente pura uma nítida coleeação dos temas da psicologia, bem curnio serescentar cleuma compreensão decasisléclica. segundo as normas já expos- tas em nossas Livros “Dialéetca” o “Decadialêctica”, unde estam belecemos uma snetodolagia, de emprêgo úfil e imediato, c que per- milação, ora dejecta-os quando não assimilados. Todo organismo vivo é um ser de méxima heterogeneitade, onde a intensidade prepondera sóbre a rxlensidado, e que se h terogeneiza ante o mundo ambiente, onde está imerso, outro & epuslo a êle, mas do qual, naturalmente, deperde. Moslra-ios a o ugia que Esse ser vivo. organizado, mantém traças com es els mentos ambientais o que, ora os incorpors, ao crsunismo pos milação, ora dejecta-o» quando não assimilados. Suas necessidades vitais são aplacadas por essa incorporaç de bens, que permitem, assim, que se torne apto à vida, que per- dure. O aplacamento das necessidades processa-se, para tornar-se npto ao meio embiente, pelas trocas que terá de cfeciuar, isto é, por eua adapiação, que é um estade de hazrionia, de equilíbrio «dinâmico entre êle, o voeis ambiente, que o cerca, Como or ganismo, múltiplo em sucs funções, estas manifestam não ser de uma rigidez. variante, pois admitem, dentro do seu campo fun- cional, uma cscalaridade, que permite iquêle pôr-se de acôrdo, ucerdar-se, no todo ou em parte, conio meio, quer por modifica. ções internas, quer per modificações externas, a fim de sobreviver. Tesas adaptações, enjo lena perteuce sobretudo à biclogiz e às ciências utins, dav-se dentro de uma escala Hmilada, além da qual o organismo não sodo ultrapassar, por sobrevir-lhe, inevitã- velmente, a morte A adaptação é assim vestricta às disponibilidades do o gunismeo. Constrói a biologia, desta Lorma, um esquema funcional da adaptação, que se processa pela acomodação (al commnodo), con- formação. em dar forma ad, diriginto es s para o meio ambiente. E acomedu-se o ser vivo ao meio ambiente cer o que vera, com a conjunto ve seus esquerios biológicos, torsando-se como as coisas. E em: [ace delas, e segundo êsscs esquemas que se aco. medam, e dentro do seu âmbito, retira do meio ambiente o que PSICOLOGI lhe é asstrvile: milável, de ad simil, de semelhante à..., cenlizando ção. Dêste modo, funciora a wlapiação por — exteniovização dos csquersas nd... | acomoda. assiwiiação — comar cenelhamco, segundo os esquemas, no que se assemelha nos esouemas, nã sinvil Na 1) incorporação dos clemenios ass metahólicas do organismo; daptação biológica. hã milados pelas funções 2) exiação de novos esquemas globais, que se estruehnam, segundo as experiências por que passam, que lhes dão nova ordem, os quais, enriquecidos das noves experiências, vão, por sua vez, acomodar-se, incluindo, memorizadas cientemente ou não, as experiências anteriores, o que explicaria as adaptações adquiridas, distintas das fixes, que seriam as normais dos esquenias biológicas Discute-se se há adaptações adquiridas ou não, e se elas não são apenas possibilidades actualizadas des aduplações lixas, ista é, do cunjunto dos esquemas biológicos previamente dad Por implicar êste lema q conhecimento de outzas importantes categorias da psicologia, o decorrer dêste livro tezenios oportuni- dade de examinálo. Como os sêres vivos são mais on menos complexos, entre êle: conhecemos os que em seu luncionamento revelam uma diloren- ciação tai de funções, que são portado-es de um sistema psíquico complexo, come os animais superiores c, entre Ccs, o homem, tema de nosso estudo, que dêles se diferenciou uinda ma portador de um espírito (novs), que é criador. E êsse sistema psíquico, como se observa, funciona dentro do «campo da biologia, por adupiações que levam à incorporação de clemertos do mundo exterior assimilados, mas se distingue por construir seus próprios esquenas, esquenas psíquicos, que não funcionam por incorporação biológi similações de das ciêncics na- tnmais, quanto a ste ponto, e torná-la, por sua vez, irredativel à biologia, em oposição à todos os que sº deixam empolgar pelas in- terpretaçõe: biológicas, que preténdem, como logo se vê, explicar os facts psíquicos, reduzindo-os à iveras manifestações oinlógicas. a, ras por outra ordem, o que leva « distinguir a psicoloi 4 NIÁRIO FERREIRA DOS SANTOS e livro que essas diferenças lão importantes vão transparecer «os poucos. Mas antes de examinar êste ponto, faz-se mister cxplanar outros que, embora elementares, são, no entanto, fundamentais para unia boa inteligência do assunto que ora aberdamas. X é no corpo dê Colocando-nos em face do exame dos si vivos superiores, vemos que dispõem êles, para seu contacto com o mundo exterior, além do que compão propriamente sua parto somática (de soma, em grego, corpo), uma parte que so dierenciou funcional e estruc- turalmente, que é o seu sistema nervoso, que entra em contacto com “ mundo exterior através de meios, órgãos, que são chamados órgãos dos sentidos. Os factos do mundo exterior são sensorialmente captados por êssos sentidos, mas condicionados ao seu alcance. Sabemos, por exemplo, que nosses ouvidos sentem (e a sen sação será sualnicemento estudada mais adiante) as vibrações mo- leculares do ar, que vão de um limite de 16 vibrações a 20.000, suais meros. Têca vibração molecular, superior ou inferior a êsse campo é ada, escapa-nos totalmente, embora tenhamos meios técuico- icos para Vê-se desde logo que a assimi- lação de vibrações moleculares do ar (sons) estã condicionada ao alcance dos nos: squemas auditivos; portanto o nosso conheci mento é também limitado. E se hoje corhecemos que outras vibra- ções se dão e nús escapar, não temos delas uma sensação, imas ape- aus um conhecimento, que é importente fazer, e que es- 'larece, desde já, pelo mer os, uma diferença importante no nosso conhecimento: a que nos é dada peles sentidos, de modo imediato, sem: outro meio que êles mesmos, é um conhecimento mediato, que Ghtemos por outros meios, que nos permitem coxhecer e não sentir e que nltregassa es li sites esquemáticos sensíveis. cu Jimi E o que se dá com q ouvido, de moda análogo se dá com os outros órgãos. Iloje sabemos que a “nassa” luz é apenas uma fe= ima faixa das vibrações electro-magnéticas, e que nossos olhos são aptos a serlir apenss uma parte, embora o conhegamos não senti- mos, senão através de seus eleitos, 0 que ultrapassa a essa faixa. Os esquemas neturais, bio-fisiológicos que dispomos permi- tem-nos ume adaptação (acorsodação + assimilação), condicionada no seu alcance e para conhecermos além ou aquém, precisamos de cutros esquemas, que à êles agregamos, como aparelhos técnico. científicos, ete. PSICOLOGIA 1 Mas iais aparelhos não nos podem dar os factos como êles são, mas apenas traduzí-los aos nossos esquemas, para que dêles tenha- mos sensações, pois quando o microscópio nos aumenta cem vêzes um minúsculo ser, de um milionésimo de milimerro de extensão, não no: mite que 0 vejamos como êle é, mas que o vejamos ampliado à nossa frixa esquemática, Vervos, ateim, que nossos meios de contacto com o mundo cx- são de êmbito limitado, Além di emos que os nossos ârgãos dos sentidos vão elcangam todos os campas dos factos, ma apenas um muito Limitado, que graças À construção de outros es- quemas nos é permitido traduzí-los aos que nos são naturais. Taienteia-se para nós que dispondo apenas de nossos esquemas psíquicos, não poderiamos conhecer além de uma faixa diminuta de existir, Mas, e eis o ponto importante, e que distingue o homeri des anímais: somos capazes de construir novos esquemas e com éles co ahecer meis. E êsse ser, aqui, é poder. E podemos, - 5 psíquicos que dispemos, estructuzá-los de modo a construir rovos quemas globais, que permitam novas acomodações e novas assi- milações, ampliando, assim, as nossas possibilidades, como construir meios, utilizar elementos do mundo exterior, ordenados sob noves esquemas, para que sirvam de insivunnentos, não só de dominio des factos exteriores, mas também para conhecê-los Conhecer e domin: pecios jriportantes que di dispócm apenas de meios É meio exterior nar o conhecer, temor aí deis us gue o homem dos animais pois êstes io-psieolágicos para adaptavenvso so Dessa forme, a cdeptação do home é iá noéiica e não pura este psiquica. E 6 aoótica puvque o nous se manifesto gens eu pacidede criadora de esquemas. O homem é anenas portador de mm psiquismo, mica de um psiguismo que é capaz de funder um espírito. Sem: necessidade de discutir se êsse espírito é substancialmente dilerente do psiquistmo, ou de outea ordem de ser (espiritual, por exemplo), diferente absolutamente da que é componente do corpo, podemos, de antemão, pois (ais discussões virão cm seu tempo € cm trabalhos posteriores, dizer que o homem é um ser diferente TEMA L ARTIGO 2 PSICOLÓGIA — VIDA MENTAL E SUAS LEIS A cbservação do que se publica no mundo inteiro, evidencia que estamos atravessando tuna época em que a Psicologia está em primeira plana. Nunca, em tóda a história da humanidade, houve tanto interêsse por ela como hoje, e nunca essa palavra foi tão empregada. Guando Acistátel tema. ear em seu “Pralado da Alma”, abordou s de psicologia, estava muito longe de calcular que êsles viessem a Ler, como têm hoje, um interêsso tão acentuado. Graças ao desenvolvimento da ciência, a Psicologia ingressa agora utum terreno novo. Foi Locke (1632-1704), [ilísufo inglês, gue procurou separá-la da metafísica, à qual, até então, estava subordinada. Posteriormente, Hume (1711-1776), James Mill e Jobn Stuart Mill prosseguiram nesse trabalho, realizando obscr- vações valiosas, que vão constituir os fundamentos dêsse edifício santesco, que haje se constrói, e que é a Psicologia moderna. Origem etimológica A palavra psicologia é formada de duas palavras gregas: nsyichê, que significa alma, e logos que significa ciência, tratado. Por isso, timolôgivamente, a ps.cologia é a ciência da alma, e esta tem sido a definição classicamente aceita. O têrmo Psychologia foi criado por Melarchton e usado por Clocemo (Sec. XVII). A expressão alma refere-se a algo que a experiência exterior vão pode alcança”, salvo as suus manifestações, como é conside- rada pela metafísica clássica, pois os teólogos sempre considera- ram a alma tn ser espiritual, forxa do corpo, e que sobrevive à e MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS morte dêste. É cla a sede de nossos sentimentos e de nossos pen- samentos, permanecendo imutável, apesar de tolos us estados transeuntes pelos quais cla passa. Psicologia moderna A psicologia, modernamente, não estuda a alma sob êste as- pecto, embora não tome uma posição decidida quanto ao proble- ma do espiritual e do material, ou seja, não é nem materialista nem espiritualista. Ela restringe o objecto de suas pesquisas, observações, análises, nos quais procura descobrir a legalidade dos chamados fenômenos psíquicos, regionalmente, isto é, ciretasero- ve-se a um campo restrito, sem maiores preocupações de carácter metafísico, pois seria invadir seara alheia, O estudo metafísico da Psicologia pertence à Noclogia e à Cosmologia. A Psicologia não pode penetrar no terreno das origens, muito embora no decorrer da sua actividade, tenha ela que tocar em temas que interessam mais diretamente à flosofia, pois dizem respeito a objectos. que só filosificamente podem ser tratadas. Esta parte chamariamos de “lilosofia da psicologia”, cujos Umites procuraremos evidenciar. Modernamente, a Psicologia tomou um carácter científico, alastendo-se da teoria clássica. A observação dos fenômenos psíquicos, tais como os da consciência, as sensações, os sentimen- tos, as raciocínios, as complexos, a memória, os desejos, etc. per- mitiram fôsse ela construída sôre bases científicas, principal. mente depois que The foi aplicado v métudo experimental, Desta forma, a psicologia procura evidenciar, no fenômeno psicológico observável, não mais uma faculdade, mas estahelecer xelações de sucessão regular enlre us [enômenos psicológicos. Na clássica, a alma era considerada como possuidora de determina- das faculdades, tais como a percepção, o raciocínio e a volição, À psicologia moderna nãa iundamenta mais os fenômenos psíquicos sôbre faculdades, e quando emprega êste têrmo a faz coma uma expressão cômoda, para cor preensão geral. É ela o estudo de certos campos de consciência que formam o nosso psiquismo, c segundo « tendência mais moderna da filo- FSICOLUGIA e sofia, êstos são irredutíveis, isto 6, não se reduzem a outros. Assim, as fenômenos psíquicos não podem ser explicados ave como meros ferômenos biológicos, corto êstes não poem ser ex- plicados como meros fenômenos fisiológicos, vem êstes como sim- ples fenômenos físicos, como já vimos. Há estruciuras que formam campos ixredutíveis no conhecimento. A psicologia tem um campo próprio da acção, um objecto práprio irredutível às outras eiên- ns, cias, A idéia da faculdade era considerada artigamente como um poder espreial de lazer ou soirer um certo gênero do acção. A teoria das faculdades não admitia uma cisão do psiquismo. A alma cra considerada coro uma unidade indissolúvel, que se munifesia ra como pensamento, ora como actividade (von tade), ora como sentimento, Desta forma, segundo as operações da alma, segundo sua maneira de aetua: ou de sentir, é que se inanifestavam estas faculdades. A psicologia moderna dispensa as expressões alma e facul- dade, em. vista das acepções pronunciadamento metalísicas que têm, e transforma-se numa ciência da. vida mentul e des suas leis, cu seja, numa ciência dos estados de consciência cnquanta tais, usendo És observações e as experiências como meios para a cons- trução dos seus prircípios. Por isso se menifesta ua psicologia moderna mais um trabalho de investigação dos factos do que «4 construção de grandes sínteses ou de sistemas Nanerasos são us psicólogos que se preocupam mais com & ninservação dos factos isolados ou de seu entrelaçamento, sem. se aterem a uma concepção geral, nem tampouco se proporem a construir sisicinas, pur considerarem que, no ponto em que nos encontremos, muito afastados ainda estamos de podermos reali vindouros. “ar esta grande síalese que caberia ac Não obstante, são também numerosos aquêles que constróem sistemas cerrados de psicologia, os quais, na maior parte das vêzes, vão têm polido vencer o tempo e caem espetacularmente, engquan- to outros se arrastan dentro de uma existência estéril, prestes a serem abandonados Absolutamente tais factos não são um ar- gwmento contra a psicologia, pois considerando o pouco tempo em que se tem realimerie empreendido um estudo mais coordenado e científico dos factos psíquicos, é natural que todos êstes aconte- 2a MÁRIO FERKEIRA DOS SANTOS cimentos se processem, c que conheçamos tantos malogros quan- tas indecisões. Tal trabalho de coordenação só poderá ser inspi- rado por um sentido universalizante, como o que possa! a filo- sofia, depois de uma obra cuidadosa de selecção das observações obtidas, o que exigirá não pouco tempo e muitos esforços, E doutra forma não poderia ser, pois o homen, só mesmo num outro estágio de sua vida, poderia preocupar-se com os (e- nâmenos psíquicos, se considerarmos quento [oi absorvido no do- correr de sua existência pelos fenôricnos Íísicos, pelos factos na existência do mundo esleriur, que lhe diziam tanto respeito à vida, à existência. A psicologia exige uma visão introspectiva, isto é, uma re- flexão sôbre nós mesmo: uma atenção sóbre os sentimentos, as idéias, vontade, o que natiralmente exige tuna lase mais culta. mais avançula, o que só poderin verilicar-se em úpocas e em pes- soas, cujas condições 1ós som. tais que permitissem esta direção in- trospectiva, êxse exurinar a si mesmo. É por isto que verífica- mas, através da linguístico, que as palavras usadas para expressar factos psíquicos são tâdas de origem “ísica, mas com nova acepção. Assim, se vesificarmos as palavras usades ainda hoje pola psico- logia, veremos o têrmo alma que significa etimolôgicamente sôpro; clara, obscura, límpida, cristalina, sombria, confusa; espírito for- te, fraco, débil, vontade dura, mole, etc, e se examinarmos as ex- pressões que são formadas de vocábulos de origem grega e lutina, verificaremos que, ctimolôpicamente, são palavras que express factos físicos. É de se noler iambém que a clareza de um você- bulo usado em psicologia está diretamente relacionada a um facto ra físico. Assim quanto mais ma palavra enc sra em si à expressão do que conhecemos do mundo exterior, mais forte é ela para ex. pressar um facto Squien do mundo interior, Esta é também uma razão porque a Psicologia, apesar de ser esforços, não pode separar-se facilmente de certos preconceitos, que são produtos da vida de relação do homem com o seu mundo ambiente, e também e que leva à tantos erros de profundas conseqiiências. PSICOLOGIA eu Divisão da Psicologia Wolf (1679-1754) dividiu a Psicologia cm: 1) Psicologia ruciwnal (como a chamavam os esculásticos) — a que busca o fundamento metafísico dos factos psíquicos, que aborda os temas da existência da alma, da sua imortalidade, ete. Está incluída na Metafísica (e será estudada na “Noologia”). 2) Peicologia empírica — a que se cinge em. observar os fe- nâmenos psíquicos e a estabelecer e a captar as causas, leis, con- dições de seu surgimento, cujas alirmações são controláveis pelos factos. Segue esta os métodos científicos, o está para a psicologia racional como estão as ciências naluvais para a filosviia natural. Tal não impede haver entre ambas pontos de contacto, o que é realizado sobretudo pela Neologia. Podem estabelecer-se outras classificações, mas se conside- rarmos o estado actual das estudos (ilosóficas, a de Wolf permanece viva, pois poderíamos aperas distinguir, na experimental, uma psicologia teárica ou geral, coro a que expomos neste livro, que é uma psicologia de observações, teiricamente cstruciurada, c uma psicologia de laboratório (fregiientemente chamada de expe- rimental), solução que bem corresponde às razões de V. Fgger. Uma terveira possibilidade de classificação seria a Psicologia prática ou aplicada, de base empírica, mas construída através de buscas metódicas e da contribuição geral de homens experimen- tados, que, nas mãos de especialistas, transformam-se num con- junto de normas práticas, não só de observação como de aplica- cão, sem, no entanto, desprezar as contribuições dos ouiros rumos da Psicologia. Também se usa muito a expressão psicologiu em profundidade é também, psicologia da profundidade. Distirgui-la-famas como à que orienta as suas observações e buscas no mais Írtimo do ser humano, como o procede a psicanálise, em seus diversos sectores e tendências, bem como práticas afins. Considerando todos âsses aspectos, pode enunciar-se não própriamente uma definição da psicologia geral, mas um carseterizar-se da mesma, que vale por uma definição: su MÁRIO YERREIRA DOS SANTOS tudo da lógica que os pensamertos, além de não serem espaciais, são também intemporais, mas o aeto de pensar processa-se numa pessoz c num determinado tempo. Embora não seja êle cspacial cstá implicado com algo que ocupa espaço, como é o ser humaro. Mas os factos psicológicos, como os sentimentos, a ventade, o raciocínio não têm dimensões nem ocupam um lugar no espaço. Ha leorias que procuram explicar as funções psicológicas como meras funções cerebrais, localizando-as no encéfalo. Entretanto, se admitirmos essa relação entre os factos psicológicos com a nossa constituição cérebro-espinhal, temos que salientar ludavia que o processo fisiológico não torna espaciais os factos psicológicos. Éstes podem ser entendidos como simples processos que, ra sua consti- tuição unitária, não formam, no entanto, um corpo, que é o lacia processado no espaço e no tempo, IIá nos factos psicológicos temporalidade, pois éles decorrem suma determinada iracção de tempo, sem podermos, no entanto, dar-lhes uma espacialidade, isto é, uma extensão, Os ternas da intensidade e da extensidade, que examinamos em “Filosofia c Cosmovisão”, ajudan-ros a escla ste ponto. No entanto, pademos facilmente compreender que num sentimento de mêdo ou de amor, não encontrancos uma capacialidade que nos indique dimensões extensistes, mas podemos compreendê-los na temporalidade, como, por exemplo, quando disemos que “passamos por algun: mirutos de pavor qu de mêdo”. recer É que os factos nsienlógicos são intensistas c não extensi seguem amais aquela ordem do que esta. E a intensidade é da dem do tempo, enquanto à extensidade é da ordem do capaço, como i amos no estudo dos factôres de intensidade e de cx tensidade, á veri Entretonio, embora galientemos essa ciferença entre os facins psicológicos e as modificações físico-químicas da célula cerebral, » poleremos explicar os fenômenos psicológicos por uma redução apenas extensista dêstes aos factos do sistema nervoso, Precisa- ríamos também estudar tais factos do sistema nervoso por seu as- peeto intensista (estuco êstc dialéctico), para compreendermos que existe muito de fundamento nas teorias psicológicas, as quais pro- curam explicar os factos psicológicos, fundamentando-os no sis- isma nervoso, como veremos oportunamente. PSICOLOGIA a Não se pode negar cue existem relações entre à corpo e c vepirito; entre o sistema nervoso c o pensamento. O que, porém, estava mal colocado eva considerar-se o facto do pelo sistema nervoso, assim como ysicológico com algo segre “uréia pelos rins”, isto é, a “pilis segregada pelo fígado” ou a “ur “ob o aspecto de corpo, como algo ocupando à espaço, como um produto. Desta observação decorre naturalmente aquela terceira que tabelecc a não mensurabilidade dos factos psicológicos, isto é, vão serem êles medíveis, comparáveis a uma exlensão, tomada como metro, como medida. Muitos poderiam acrescentar que medimos o tempo; logo, sendo os lavtos psicológicos temporais são êles mediveis. Mas, na realidade, não imedimos o tempo, mme- dimos o cspago recorrido por um móvel animado de uma veloci- dade. O tempo da mecânica é uma função do espaço. O tempao psicológico não tem êsse carácter homogêneo do iempo espaciali- “ado da mecânica, pois os factos psíquicos decorrem com uma duração que varia de intensidade. A mecida do tempo é obtida por uma espacialização e não pela temporalização, o que por ora é prematuro tratar-se. Por éste modo não liceu totalmente refutada q tese materialista da psieviogia, nem tampouco a tese espiritualista, mass apenas são colocados sob um outro prisma, dialéetico, que com- preende ambas as razões, para Lranscendê-las numo explicação ineis empla € conerela, gov veremos. Sintiticamente, podemos distinguir os [actos psíquicos dos outros: 1) os jectos psíquicos sic pessoais, existem só em qu experimenta; os factos jísicos são Eupessuais, existeri para lodos. 2) Os factos psíquicos são interiores à consciência; os factos físicos são exieriores. 3) Os factos psíquicos são iutencioncis (o q tudexemo; e oportunamente os factos físicos são jactos brutos. (No entanto, podemos, e na “Simbólica” o examinamos, afirmar uma significação nos factos brutos, não, porém, uma intenção significativa psicológica). 4) Os factos psíquicas desenrolam-se jora do espaço; (não são localizáveis) enquanto os fuctos físicos desenrolem-se no esprço. sa MÁRIO FERREIRA DOS ANTOS Ambos, porém, sucedem no tempo (mas os psíquicos se dão na duração, no tempo psicológico, como o mestrau Bergson). 5) Os factos psíquicos são inextensos (consegllentemente não são medíveis), mas os factos físicos são medíveis. 6) Os factos psíquicos são intensistas, genuinamente hete- vogêneos, móveis, cambiantes; os juetos físicos, submetidos à lei da inércia, são predominuntemente, extensistas, homogêneos. 7) Os jactos físicos são determinados por eeusas (ou factô- res caracteristicamente causais) ; os factos psíquicos são determinados por fins. Os movimentos da matéria podem ser explicados pela cau lidade; a actividade psíquica exige a presença de uma finalidade (em todo o plano biológico, como no psicológico, a finalidade se impõe). 8) Nos juctos físicos veina o determinismo; nos jactos psí. quicos observamos vma faculdade especial de escolha. Essas distinções, que se podem fazer entre us factos psíguio e os faetos Íísicos, revelamenos a impossibilidade de uma redução dos primeiros aos segundos, como descja o materialismo. Os factos psíquicos são qualitativamente diferentes, de outra ordem, e obedecem ou se coordenam em condições diferentes, em vue tôda simplificação, explicação e redução aos factos do plano físico são revelações de barbarismo filosófico, Mas tal posição não ipe que neguemos a inleractuação dialéctica entre o físico e , cuja reciprocidade é de ricas consequências. es 9 psíquic Muitas têm sido as observações feitas com a fim de determi. nar as influências que exerce o físico sôbre o psíquico. A vida psíquica dá-se num corpo, e dêle não está scparado. O corpo hu- maro tem alma, c a alma tem corpo. Separar o somálico do aní- mico, e não reconhecer sua reciprocidade, é combatido por mui- tos psicólogas, como já o era pelos cscolásticos. A psigue depende do corpo, e tal é a relação entre ambos, que a caracterologia, que actualmente se incorpora entre as ciências psicológicas, está apta a descobrir c a revelar nos traços fisionô- micos, com uma justeza extruordinária, o simbólico que êles têm + que revela muito da alma humana. Se até certo tempo era a carueterologia considerada um saber duviduso, dentro das velhas normas da fisiognomonia clássica, hoje, PSICOLOGIA sa depois dos estudos de Klages, Freienfels, Corman, ele. incorpora-se decisivamente no catipo científico. O corpo humano revela a alma. Uma análise morfo-psicoló. gica é, portanto, possível. Essa relação simbólica entre corpo o «lma vem em favur dos que afirmam uma profunda reciprocidade entre o psíquico e o lísico, muito embora, cm certos aspectos, à ultrapasse, e se dê uma superação do psíquico, que ascende a uma independência, a uma vietóriu sôbre o Íísico, como o masira a construção da carácier em sua luta, e cooperação, contra, e vom o lemperamento, Ora, tuis temas exigem estudo especial, e cabe à Caraclerolo- gia fazê-lo em parte, enquanto outra, o principal, caberia, na Me- tafísica, à Psicologia Racional empreender, ou melher, à Noologia. As grandes experiências da reflexologia e da endoerimologia levam à aceitação de uma heterogeneidade entre o psíquico c q fisico, e a alimar a reciprocidade. São opostos que cooperam, como se compreenderia dialieticamente. Uma teoria derna que merece estudo especial aqui é a do Prrolelismo psíquico-fistológico Segundo essa a, surgida desde Leibnitz, c desenvolvida até nossos dias, os factos psíquicos e os lactos fisiológicos consti- tuem quas séries paralelas. Segundo Leibritz, não há nenhuma actuação da alma sôbre “ corpo nem vice-versa, erabora baja uma correspondência do es tado de wn com o de outro. Seriam como deis relógios que mar- cam as mesmas horas, sem que um exerça acção sôbre o outro, e ambos funcionem, obedecendo à harmonia preestabelecida por Deus. Os paralelistas modermos aesilam a irdependência dos factos psíquicos de os fisiológicos, mas não núniilem a intervenção divi- na, Para muitos dêles, como Claparêde, o paralelismo é apenas uma hipótese provisória para facilitar as observações; para outros é uma afirmação, uma tese decisiva, São os paralelismos doutri- nais, como as de Taine, Hocffdins, Paulscn, etc Para os paralelistas contemporâneos: a) há uma equivalência absoluta entre os processos cere- brais e os processos menti Ba MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS Claparêde criticava os psicólogos pos quererem resolver as relações entre a alma e q corpo, pois tais temas ultrapassan: o “ampo da ciência, c devem ser estudados pela filosofia. à irredu- tibilidade, afirmava Clnparéde, é evidente; a hetorogeneidade é Sagrante, c a única relação que podemos captar é a da sitmulta- ncidade entre auhos, isto é, que os fenômenos de consciência dão-se no mesmo tempo que 08 corcbrais, ou seja, o proce: fisico-química, o que revela uma concomitância. um paralelismo. A psicologia pode registar êsse paralelismo, não explicá-lo, pois tal enigma escapa ao campo prôpriamente cientílico, e pertence £o da filosofia b) A equinciência absoluta se explica por uma identidade fundemental, uma correspondência estreita entre o psíquico e O fisiológico. o Não há nenhuma aeção causal entre as duas ordens Examinemos os argumentos e discussões em lôrio dessas teses, A teoria paralelista funda-se sôbre dois argumentos. 1) Os fucios da experiência sugerem. a idéia do paralelismo. Chora-se de prazer como de dor, e como Dumas diz: “é ditícil saber se um indivíduo chora ou ri, quando vão se vê o seu rosto, e quando nos dirigimos ao pneumógrafo para anotar as respira cões do chôro e do riso, obtêm-se traços em que as convulsões das expirações se inscrevem da mesma maneira, com 05 mesmos períodos eurtos...” Sabe-se, também, que há modificações Fisin- lógicas às quais não correspondem fenômenos psíquicos. 2) Como argumento racional: Como compreender a acção do espírita sôbre O corpo, quando são ambos fundamentais, hete- rogêneos, de nalurezas e ordens diferentes? A tais argumentos, Bergson propõe uma posição de parale- lismo unilateral, estabelecendo que a todo facto psíquico corres- ponde um facto fisiológico, e não a recíproca, isto é, há factos tisiológicos sem correspondência a [actos psíquicos “Que haja solidariedade entre o estado de consciência e o cerebral, não se pode concluir no paralelismo das duas séries, a roupa e a prego ao qual está presa, pois se tirarmos o prego, a a 2 roupa cai. Dir-se-á que, por isso, a forma do prego desenha forma da roupa e pos permite de alguma maneira pressenti-la PSICOLOGIA 3 Assim, do facto de estar ligado um facto psicológico a um facto ccrcbrai não se pode concluir o paralelismo das duas séries, a psicológica e a fisiológica. “ (Matitre et mémoire, V-VD . Huxley, (1825-1805) e Maudsley (1835-1918) toram os fun- dadores do epifenumenismo, cujas tescs estabelecem: a) os factos psíquicos sãv apenas tomadas de consciência de moditicações cerebrais. Dessa iorma, todo icnômeno psíquico se funda ro listológico; é um ienômeno em tôrno (epi) de, epifenô. meno, fenômeno acessório, portanto; b) a tomada de consciência não influi sôbre o orgânico. “A consciência... é como o silvo que acompanha ao lrabalho de uma locomotiva, sem influência sóbre o sea mecanismo”. “Iuxloy). Um homem não seria uma máquina intelectual inferior sem a consciência do que com ela... o agente continuaria sua actividade, na ausência de testemunha...” (Meudsley). E outro epifenomenista francês proclama: “Tôda as opera- ções, nas quais consideramos a consciência como activa, são di- rigidas pelas suudanças materiais, que são conscientes, mas que actuain enquanto mutações materiais e não por serem conscien- les... (Le Dantee)". O ruído que produz um galho ao quebrar-se rão é o que causa à quebra do galho, mas é apenas um epifenômeno. Assim é a consciência para Godferneaux. E Piéron também acompa- nha tais pontos de vista. Dessa forma, os factos inconscientes seriam apenas facios psíquicos aos quais faltam o epifenomenismo da consciência, comu um quebrar de galho, sem que se ouvi ss. O epifenomenismro encontra em suas palavras e argumentos a antitesc dos mesmos. A testemunha de Maudsley, na frase citada, é victuslizada, mas é imporlente, como o é sempre, A consciência, como lestermunha, não é explicada. So é incom- preensivel que um desejo, uma representação, um esquema ope- vatária actuem sôbre o organismo, é menos compreensível que 1mo- dificações fisiológicas scjam acompanhadas dêsse epifenômeno, a consciência. Além disso, onde as provas de tais afirmativas? Por que uns são acompanhados de consciência e outros não? Depois, que é epifenâmeno, neste sentido sobretudo? Ou é algo ou é nada. Se tem uma realidade; a consciência a tem, A consciência é uma 40 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS contudo desprezar o trabalho prático da ciência, casa nerdude conquistada pela prática, pois o fortalecimento de suas afirma- ções é fundado constantemente na experiência, mas a redução de tôdu a ciência a um pan-psicalogismo é apenas rm desejo deli- rante, comum a vertos especialist Anatomia e q fisiologin do sistema nervoso. O mesmo que observamos quanto a certos psicólogos, obser- vamos também quanto a fisiólogos que procuram reduzir os factos psiculógicos à [isiolegia do sistema nervoso. A opinião dêsses especialistas é que à vida mental é apenas uma função do sistema nervoso, uma espécie particular do sistema fisiológico. Desta jorma, a psicologia seria directamente dependente da neu- rologia e da fisiologia nervosa. es úllimos tempos, q sistema nervoso têm sido ampla- mente estudado c grandes descobertas foram feitas sôbre as doenças mentais, como causadas ou condicionadas por transtornos daquêle sistema, Não é de estranhar, portanto, que houvesse uma tendência, por parte dos lisiclogistas e dos neurologistas, em re- duzir 4 psicologia às suas ciências, ineluindo-a, assim, no âmbito das ciências naturais. opinião foi sustentada por Huxley Hodgson, Mauis!ey, Le Danice e muitos outros cientistas curo peus « americanos, como já vimos. Os Esiologistas, ao examinerem o sistema nervoso, cbse ram que, no cérebro, ro cerebelo e na medula, a substência ner- vosa apresenta uma parte branca e uma parte cinzenta. Na cé- rebro e no ccrebelo, cssa substância cinzenta envolve uma outra branca, enquarto va medula a substância cinzenta se acha no centro. De início, julgou-se que os nexvos periféricos erum 05 condu- tores das sensações e o cércbro, o cerebelo, a protubcrância, o bulho e a medula fôssem os centros para onde se dirizissem tódas as sensações, e de lá suissem as crdens ou os reflexos correspor- dentes. Posteriormente, foi considerada « substância branca como condutora; c a cinzenta, como a formadora des centros. Desta forma, v cérebro, como a medula são constituíds, em parte, por conéntores c rão são apcnas centros. Outros centros periféricos são encontrados no coração, no grande simpático, no tubo digestivo, et Examinada essa substância cinzenta, verifica-se que cla é constituída por células nervosas; enquanto a substância branca PSICULOGIA al é constituída por prolongações dessas mesmas células, Assim a distinção entre centro e condutor não é tão nítida como se pen- sava. O elemento que forma a subslância nervosa é o acurono, que é uma célula provida de prolongações chamadas celulíncias, isto é, lendera para o corpo da célula, para o seu centro, e as ce- tulifugas, one dela se afastam, prolongam-se para Tora. Trabalhos modermos mastrem que êsses neuronos são ver- cadeiras unidades, em contacto entre si, mas separados, iso é, não soldados uns aos outros; estão em contiguidade e não em anastomosis. Cada neurono têm mra região cinzenta e uma re- gião branca, Verificou-se que não sômente os nervos são conduto- res; o próprio neurono é condutor. Os que procuram explicar os factos psicológicos coto uma simples função do sistema nervoso, ou seja, causado pelo sistema nervoso, interpretam-nos como condutores das excitações. Quer dizer: é por rmeio dêsses neuronos que se propaga uma vibração da periféria ao interior ou do interior à periféria, e êsse corpo eclular transiormaria essas vibrações cm estados de cons- ciência, em pensamentos, em sensacões, ctc.. No campo da filosofia, veremos quão grandes problemas se deparam nessa explicação simplista, problemas tais como o do movimento, o de causa e cfoito, o de transformação do simples movimento em pensamento, e outros semelhantes, que exigem tanto estudo c análise sôbre os quais as controvérsias estão muito longe de ierininar e encontrar uma solução pacífica. A psicologia clássica, antes das grandes conquistas da fisio- logia, preocupava-se apenas com os [actos psivalógicos, observan- do-os através da introspecção e da análise permitida pelo pensa- mento, isto é, por uma reflexão sôbre os factos que se davam, & procurando correlacionâlos por meio de princípios gerais, sem ater-se ou preocupar-se com a parte da fisinlngia do sistema ner- voso, Mas, comu vimos, a psicologia era uma ciência da alma, enquanto a psicologia, que procura explicar «s lactos psicológicos, apenas como [unção do sistema nervoso, é uma psicologia sem alma, E A vontemporaneidade, ou seja, à suceder dentro do mesmo tempo, dos factos psicológicos com correspondentes modificações do sistema nervoso, pezmiliu, naturalmente, que surgisse essa interpretação. RIO PERRBIRA DOS A psicologia geral, nelos elementos que dispõe, pelo campo onde exerce & sua acção, não está capacitada pare resolver nem oferecer soluções sôbre êste ponto que a ultrapassa, que vai além do seu âmbito. Apesar de surgirem sempre psicólogos que julgan que a buiaiha está ganha para a interpretação fisiologista, eutee as grandes, o: maiozes Lisiologistas, há sempre uma atitude um Lanto céptica, duvidosa quanto ao singelisno dessa explicação, e prefe- rem ater-se apenas aos factos observados e deixar a solução c a discussão dêsse problema à filosofia, que se acha naturalmente mais capacitada para examiné-lo. Maudsley, que já cilamos acima, considera a consciência apenas corro um reflexo, uma aparência Jugiliva e vaga, um Je. nômeno acessório c inútil, um “cpilenômeno”, como vimos. Vamos 4 um exemplo. Se eu resolvo abrir um livro para ler, não o faço por que me interessa estudar um tema qualquer sôbre q qual estou pensando. Não; cu procuro o livre, porque sou impulsionado por causas mecânicas que me levam a procurá-lo, pois fui excitado por qualquer acontecimento que me impulsionou o funcionamento do sistema nervoso, que me ordena = rea lização do acto de proeurar o livro. A consciência é apenas u epilenâmeno, isto é, o fenômeno dependente, decorrente de todos os outros actos fisiológicos que se processaram em mim. Huxley, um dos defensores desta teoria, chama-nos té de “autômatos conscientes”, Não podemos nos furtar & uma citação sarcástica de William James, um grande psicólogo americano, sôbre esta teoria. Diz James: “se cunhecêssemos completamente o sistema rervoso de Shakespeare e além dissu as condições em que êle se encontrava, seriamos capazes de fazer compreender porque êle, em certo período de su. vida, traçou, sôbre certas folhas de papel, êsses pegueros sinais, que podemos chamar, para abreviar, o ma- nuserito de Iamlet. Compreenderiamas a razão de cada borrão, de cada corzeção, e isso sem reconhecer à existência Ge um pen- samento no espírio de Sbakespesre, De modo semelhante po- deríamos escrever a hiogratia dessas duzentas libras de quente matéria albuminóide que se chama Martin Lulero, sem supôr jamais que estava dotado de sentimento”, Os principais argumentos dos epifenomenistas podem scr re- sumidos assim: “se om lôda a natureza, todo c qualquer movi- mento têm sua causa em: muvimentos anteriores, tôda e qualquer PSLCOLOGIA as aclividade de um organismo é explicada pelas transformações da energia, das quais êle é teatro, e a consciência e a vontade não poderiam desempenhar nenhum papel; a vida psicológica mostra a sua estreita dependência do corpo, pais vertas substâncias po- dem aumentar nosso poder de atenção ou saprirair 2 sensibilidade, cumo o álevol, 0 café, o ópio, o éter, ete.”, Não é difícil verificar nestas afirmações que os partidário; do epiienomenismo englobam em fórmulas simples, fenômenos demasiadamente complexos, e ubordam temas que escapam cem- pletamente ag âmbito da psicologia. Por outro lado, em contra- posição a tais argumentos, outros psicólogos mustram a acção da consciência sôbre os fenômenos [ísicos, ou seja, como certas mm. gústias, e idéias podem influir sôbre o funcionamento de nossos órgãos, sem que haja qualquer modificação na extructura nervosa, a qual só se verifica posteriormente. Nao há dúvida que se ebserva a influência do espírito sôbre o corpo. Sc sc afirmar que a influência do ospirito sôbre o corpo é compreensível, também se pode afirmar que a influência do corpo sôbre o espírito tam- lLém é compreensível. Hstabelece-se assim a possibilidade de se admitir uma interacção entre espírito e corpo. No século que passou, século XIX, houve uma tendência em fundir tôdas as ciências era uma só. Tal impulso foi profunda- mente estimulado pela filosofia da evolução e pela teoria da uni- dade das fôrgas físicas, que cra quasc um verdadeiro axioma no mesmo século, um princípio cuja verdade quase ninguém punha em divida, Assim a Matéria inorgânica torna-se orgânica, alra- vês dos sêres inferiores, até chegar sos sêres superiores, inclu- sive o Iomem. Essa era a teoria de Spencer, Hacckel, Darwin e muitos outros, para citarmos apenas os mais corhecidos. Dessa forma os elementos da consciência lumana já estavam dacos desde lúda eternidade, e chegou-se até a admitir a consciência dos átomos, forma mais elementar da corsciência, Dêste modo, a consciência esa imanente stência, já estava contida em iodo o ser exis- tente. Consegiientemente a consciência humana seria a soma das consciências atômicas dos átomos que fanmam o homem. A inin- teligibilidade, ou seja o carácter não inteligível dessa teoria, é evidente, No entanto, houve quera a defendesse com grande en- tusiasmo, e ainda hoje encontraraos adentos dessa opinião. sa MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS O lransterir « corsciêncic Eumana para a consciência nos átomos é um recurso que a concepção unitária e a teoria de qu na natureza vão há suiuções de continuidade, tinham fatalmente ar. Veremos posteriormente quais as razões lógicas e dialácticas que levaram ciemistas do século KIX a essas teurias, razões porém que essus opiniões foram totalmente refutadas, Há nelas certa exactidão, certa positividade Com o decorrer do tempo e do estudo da filosoiia, veremos gue há muito de verdade nas afirmações das diversas tcorias, as quais erram quando negam, ou seja, erram quando procuram ser absolutista, e julgam que a sta perspectiva é a única que se podo considerar verdadei» Assim se poderia dizer: tôdas as teorias têm alguma coisa de verdadeiro cuando afirmam; erram quando negam, Uma visão apenas unilateral dos fenômerhs físicos levaria naiural- mente os cientistas do século XIX às conclusões que chegaram. A perspectiva unitária do mico (monista) Linha um carácter abstracio, e não comnreendia q universo em sua concreção, em tôdas as suas manifestações antinômicas, contraditória Dessa Torma, à consciência era compreendida dentro da ho- megeneidade à qual se procurava veduzir tudo, embora a cons- riência não fôsse quantitativa, espacial, e sir qualitativa poral, psicológica. tem Ademais, o nusso mundo é meuito n muplexo do que jul- gavam os cientistas do século passado, que havicm chegado a uma visão demasiadamente simplista do universo is O geral e o particulac, o simples e o composto, os processos dislécticos, observêveis depois, constitulam novos problemas, ainda não solucionados. E o amiverso é ainda mais complexo do que julga a nossa ciência artual, pois cada cia aparecem novas complicações, como abservemos facilmente na teoria atômica. Dêste modo, cs problemas da psicologia não podem ter tuna solução fácil, sobretudo xe considerarmos que essa disciplina é jovem, é 0 campo de aeção e do investigação é muito vasto é de difíceis generalizações em face do heterogênea dos resultados. E isso por que? Porque, precisamente, o facto psicológico é indi- lual, hetervgênco, qualitativo, MA 1 ARTIGO 5 A PSICOLOGIA COMPARADA No estudo dos factos sociais, verilica-se facilmente a influên- cia que a sociedade exerce sôbre o pensamento humano e curse- rileniemente sôbre a psicologia, e vice-versa, O meio social inculca-nos certo número de pensamentos, bem como actualiza certos sentimentos, provoca & estructuração de paixões, como a emulação, a inveja etc. Infiui a sociedade sôbre nossos gostos e apreciações, e para convencerme-nos, bastaria atentássemos para as influências da moda. Além disso, a sociedade revela uma heteragencidade com- plexa de atitudes como de perspectivas. Não se pode deixar de wonhecer as diferenças entre os povos primitivos c os povos ci- vilizados. Nestes, a capacidade abstractera cresce, enquanto na- quêles é muito menor. Ilá povos primitivos, que não têm uma conceituação complexa para as idéias abstractas, faltasm-lhes us têrmos gerais, nem se orientam segundo « nossa lógica. Essas dilererças não só são observáveis entre povos primi- tivos e povos civilizados, como êstes, segundo os diversos ciclos culturais, olerecem tais dilerenças psivulógicas, que perinitem comparações que facilitam a apreciação de dilezenças e de se- melhanças Os estudos tão amplos da históxia c da cultura permitem-nos hoje reconhecer as profundas diferenças entre o pensamento egip- cio e o hindu, ou o chinês, om 0 ocidental, fáustico, ele. Os estudos de psicologia infantil, os progressos da psicogênese nos oferecem cempo para uma análise da mentalidade infantil que é tão diversa da do homem civilizado. As possibilidades dialócticas que hoje se actualizam, graças aos esforços dos que se dedicam à investigação lógica, permitar- nos desde já uma visão éas actualizações faturas. 50 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS Weber fêz algumas boas observações sôbre a sensibilidade táctil. Techner tentou medir os factos psíquicos, medir as sensações, Weber observou que se se pusesse na mio de uma pessoa um pêso de 170 gramas, c se aumentasso mais uma grama, aquela não sentiria o aumento. F verificou que tal sc dava até atingir 10 grs. Quando o pêso atingia 180 pes, à paciente sentia o aumento. Com um pêso de T700 grs. também se dava o mesmo facto, quando o aumento lôsse de 100 grs. Quantidades menores de pêso pas- savam imperceptíveis. Assim veriiicaram que a relação eons- tante entre o acrescentamento inínimo perceptível e a excitação precedente exa de 1 para 17. Fevhner chegou a construir postulados e inclusive uma lci para a explicação dos fenômenos psíquicos, mas os mesmos argu- mentos contra a concepção fisiologista podem ser aplicados no casa presente. O experimentalismo e o desejo de medir os factos ps quicos não deram os resultados e, hoje, os psicólngus de labora- tório cedem ante as críticas justas dos psicólogos que consideran: o cojceto da psicologia irredutível às ciências naturais, No en- Lanto, há e havia nos estadas feitos e nas experiências naturais. algo de verdade. Mas a solução cstava mal colocada. É que êsses psicólogos de laboratórios prosseguiam na interpretação ho- mogênea e ubstracta que vinha do racionalismo ciússico, buscando spenus o aspecto quentitalivo da natureza e inibindo, pondo à margem, desprezando totalmente o aspecto qualitativo, cujos te- mas oporkunumente serão tratados por nós, e que abrirão novas perspectivas para o estudo da filosofia. Só então compreenderenios que uma sensação é um tudo que não pode ser decomposto em partes, como se processa quando vi- sualizamos um corpo apenas por sua parte extensista. Assim o homem não é apenas uma soma de membros, nem pode ser de- composta em suas parles, porque o ser humano é êsse conjunto, êzse todo, ou não é. Essa forma unilateral de ver os factos psíquicos, isto é, dando acentuação apenas ao que é extenso, levou tais psicólogos à des- prezarem a parte não extensa e sim intensa dos mesmos faelos, impedindo, por isso, um maior progresso da psicologia, que só neste século vai começar a encontrar o seu verdadeiro caminho, apesar dos preconceitos do sécula XIX, que ainda a obstaculizam, criando embaraços ao seu desenvolvimento, TEMA H ARTIGO 1 PENSAMENTO E PERSONALIDADE Vimos que é caracteristica da vida psicológica a heteroge- neidude, isto é, o diferente, o vário, o diverso, e que as tentativas para reduzir o psíquico a elementos mais simples, têm sido vãs. Os factos psíquicos rão são alguma coisa estática, parada, mas estão em movimento, são dinâmicos, [luídos, imovediços como u corrente de um rio, comparável a uma sucessão de ondas, “cor- rente da pensamento”, expressão muito usada po William James, à vida psíquica não está formada de clementos simples (áto- mos) juxtapostos, não é formada de uma série de estados isolados, unidos entre si, mas eomjuntos, massas de contornos imprecisos, “campos de consciência”, como se expressou James, nos quais êle distinguia um centro iluminado e uma obscura margem que se deslocava sem cessar, O que caracteriza à vida psíquica é a sua irredulibilidade, bem como o seu carácter de heteroseneidade, de individualidade, pois cada facto psíquico se dá uma vez c não se repete, pois a aparente repetição é um novo laclo, com aspectos parecidos, ou não, ao anterior. Por ontro lado se ouserva nos lenômenos psíquicos uma in- tensidade, um sspecto qualilalivo e não quantitativo de mera ex- Lensão, como, por exemplo, se observa num corpo não orgânico. Vê-se que, na biologia, a ordem do processo dinâmico do existir é dilerente da ordem do processo dinâmico dos factos Tísi- cos. Nestes, o seu suceder é predominantemente dirigido, orien- tado por um acontecer que expressa sempre extensidade, Uma pedra, por exemplo, um minério, é antes de tudo extensão, corpo, tamanho, dimensões, espaço. RIO FERREIRA DOS SANTOS Um corpo vivo tem uma ordem dinâmica diierente, pois nêle não se observu preduminantemente o aspecto extersista, o quan- titativo, mas sobretudo um processo quelitetivo, intersista, Au lado do que é mineral e inorgânico, aparece-nos o que é vino, que é gerado, eresce e se reproduz, age e reage com intensidades di fercates; é estimulado, têm certa aulonomia, move-se, está em constante transmutação A vida psíquica pertence lambém a essa vrdem dinâmica, cujos aspectos dialécticos serão aporiunamente examinados, Por isso à psieolngia têm por objecto o que não têm essa es- taticidade, êssc estar perado, que transparece tão acentuadamente nos corpos físicos. Não é estática a nossa vida psíquica, mas em constante acti- vidade. Não podemos detê-lu; nossa vontade não pode irpedir que ela prossiga, por isso O pensar é sempre visto como algo em movimento, movediço, como antes livemos ocasião de alicnar, citando palavras de William) James. Somos daouêles que preferem, ao estudar a psicologia, obser- var Us aspectos gerais para depois desdobrá-los e procurar as ele- mentos mais simples. Em vez de partirmos da sensação para compreender a consciência, como é comun fazer-se, preferimos partir do pensamento, da consciência, para depois chegarmos ao particular dos mesmos fenômenos. Partimos assim Go geral para o particular, sem que isso pre- judique o estudo da psicologia, Ao contrário, pois tal método está de acôrdo com a compreensão intensista e glohal dos factos iquicos, que se apresentam como um todo, ao qual a razão, pos ieriormente, separará em elementos que, uz verúude são as- peetos, visões parciais, abstractas do que chamamos um facto psíquico. Já verificamos que o pensamento é apreendido, apanhado, captado pelo pensar, e que q pensar exige um ente, um ser, uma pessoa que pensa. Além disso, versos que o pensar está em cons- tante acção, é dinâmico, movediço, em perpétua transformação. Não é difícil observar que o recém-nato não têm ainda cons- ciência és si próprio, não save ainda que é alguém neste mundo. Têm um perneber confuso das coisas, na» quais se mistura, em que o ambiente e êle formam uma massa só, cujos contornos uão loram ainda devidamente delineados, Só vom o decorrer do tempo c das muitas experiências «cpara-se Cle do meio ambiente, PSICOLOGIA as quando sente que é onto o que o cerca, outro que êle, É neste inomento que se precisa, lenta, umas poderosamente, a noção de sua própria existência. A forsiação do Eu extá corrclacionada ao meio ambiente, seu contrário, o não-Eu. Só depois dêsse período se delineia u dis- finção entre o eurpo e o ex, quando começa a observá-lo como se lóese outro, que é sentido, que é conhecido, que lhe proporciona sofrimentos & prazeros, maiores ou menores. Essa é uma segunda fase de diferenciação do Eu, e permite a forração do que se chama personalidade. Ora, Lodo pensamento, tôda sensação, lodos os factos pafeui- cus observados exigem um corpo onde se processem. Em suma foda jacto psíquico implica a existência de um enmpo. Se na pri- meira fase a sensação vão exigia o conhecimento da persovalidade, ela exige sempre a presença de um corpo. Mas o pensar de um corpo, não é o pensar de um cutro corpo. O pensar é individual, singular. Na psicologia patológica, observam-se casos de dosagregação da personalidade. Na histeria, há diminuição do campo das ser- sações ou das idéias. Eisquecimentos pareiais de factos, de uma pessoa, etc. Cada sensação é uma rove sensação, cada perfume que as- piranos é uma nova sensação da olfato. Se ouvimos uma nota é tomamos a ouví-la, a nossa sensação é cada vez outra, embora o objecto possa ser o mesmo. Dêste aspecto individual, portanto heterogêneo, dos factos príguicos, nunca é demais revetir a sua imporiância, porque topames facilmente muitas coniusões sôbre êsig assunto nas obras Ge muitos psicólogos r é conti il verificarmos, em cada um, que o peus As excepções assinaladas por alguns, coro a do sonho, a de vira síncope, como soluções de continuidade do pensar, não pro- cudem, porque no sonho há uma inconsciência relativa, pois nossa viga psicológica de hoje se encadeia com a vida psicológica de ontem. Também a variedade dos sentimentos e das idéias, que se sucedem na corsciência, não vale comu argumento contra a continuidade da corsciência, purque tais Íaelos psicológicos são «penas aspectos qualitativos dela, cujo curso, porêm, é variado. Essa veriunte da corrente di consciência mostra-nos também a variante que se observa nos sentimentos, a variabilidade do: 5a MÁRIO FERREIRA. DOS & ANTOS mesmos, pois vra temus un sentimento mais forte, ora muis fraco, A desigualdade da corrente de consciência demonstra sua “velo- idade” desigual. Há paradas bruscas, marchas apressudas, des- lisamento trangúilo, escachoar mais adiante. Citemos William James: “Não há na linguagens: humana unia conjunção ou uma pre- posição, um gito adverbial, uma forma sintáciica, uma inflexão da voz que não traduza algum matiz de relação que nós sentirios existir entre os objeclos mais visíveis de nossos pensamentos... Deveriamos dizer um sentimento de “6”, um sentimento de “sim”, um sentimento de “amas”, um sentimento de “por”, como diz mos um sentimento de “azul” ou um sentimento de “Erio”. Wil- liam James chamava a êsse sentimentos de “sentimentos de re- lação” « “sentimentos de passagem”. Ao lado dêles [alava nos “sentimentos de tendência”. “Supondo que lrês pessoas vos di- gam uma após outra: “Atendo”, “escuto”, “olhe”, Nos 1rês casos, vorsa consciência utende. Mas é a mesma atenção? Fon- do de lado as diferentes atitudes corporais, as ordens ouvidas, ex- pressadas por distintas palavras, fica o sentimento da direção de onde deve vir a impressão em cada urt dos casos, embora nenhu- ma impressão tenha chegado no entanto”, exemplifica Rous(am. E ainda podemos citar essa lacuna que sentinos em nós quando csquecemos uma palavra. Mas sentimos como uma som- tra dela a nos guiar. Sabemos que as palavras que nos vêm à mente não são aquelas. Era o que James chamava de “senti- mento de direção”. Se [ásse um vácuo dentro da nossa constituição psíquica, se nada houvesse atrás dêsses esquecimentos, como saberiemos que a palavra proposta não é aquela que nos vem à mente? São fa ios dessa espécie que destroem as opiniões des que procuram in. terpretar u nossa vida mental apenas como impressões e idéias nova modalidade da opinião daquêles que procuram conceber a rossa consciência coma algo composto de átomos psíquic A nossa consciência forma uraa corrente ora mais veloz, ora mais Tenta, mas sempre intensista, portanto alhcia a tóda e qual- quer medida. (Na “Noologia” estudaremos as estructuras in- tencionais, além das eidáticas, e das Sácricas do psiquismo hu- mano). Nós vemos, iniuímos por nossos sentidos, directamente, o mundo como diversidade. Nossa intuição apreende o vário, o PBICOLOGIA e] múltiplo, que é todo à panorama de nossa existência. Uma ca- paeidade típica, peculiar do nosso espírito, consiste em analisar, em disassociar, separar, delimitar os contornos que formam os chjectos do nosso mundo circundante. Não ventos cada coisa iso tulemente, e até quando as tixamos, vêmo-las cercadas pelo ambiente, pelo lugar que elas ocupam, embora mais csfumado. Um: exeraplo: tenho ugui sôbre a mesa um livro. Eu posso ver êsse livro, observar us seus vontoros, ter uma nação de sua fi- mas servo também que êste livro está sôbre a mesa. O livro está sôbre a mesa; quando pronuncio essas palavras levo algum tempo para fazê-lo. No entanto, o que se me dá de imediato é 0 facto de o “livro-estar-em-cima-da-mesa”, o que cu apreendo de uma só vez, Se quero expressar essa sensação geral para outros, ou para mim mes:no, emprego palavras, e pronuncio a frase: “o livro está em cima da mesa”, O facto de usarmos palavras para expressar rossas idéias, nossas sensações e sentimentos, levou-nos a julgar erroncamente que os factos psíquicos se pracessassem analítica- mente, por cio de elementos, como os que usamos na linguagen. Por isso se cusluma decompor um pensamento au uma sensação em suas partes puramente abstractas, quando na realidade é um todo concreto. Não vejo primeirumento o livro, depois a mesa, para depuis peresber que o livro se acha em cima da mesa Não; “a livro-está-em-cima-da-mesa” é uma configuração total que esreendo dêsse facto pelo pensar; é um Lodo que eu expresso sor meio de târmos que, juxtapostos, unidos uns aos ouiros, são capazes de expressar o que sinto, ou transmitir uos outros a mi- nha sensação. Ora, aqui surge um outro aspecto da nossa consciência, Não temos uma consciência de tudo quanto nos cerca. Muito nos escapa ou é por nós desprezado. Vê-se que há uma selceção dos objectos e factos por parte de nossa consciência, que aceila uns c rejeita outros, Tal facto que se observa eum nosco, difere de individuo para indivíduo, c até no próprio indivíduo. Percebemos mais lâcilinente o que nos interessa 04 o que nos diz respeito. Há mma verdadeira valorização dos factos. À wms damos maior atenção, por isso percebemos melhor, enquanto outros são desprezados. Esla parte é importante, e hoje funda- menta uma verdadeira ciência nova que surge: a que estuda o se MÁRIO FERBLIRA DOS SANTOS enquanto outras, desde cue atiniara usia determinada intensidade, passam a ser percebidas Sucedeu com Leibnite o que parecia mais racional em face do “infinitamente” pequeno. Sempre vamos notar na filosofia duas tendências mar: antes: uma, a mais numerosa, que procura cx- p-icar tudo reduzindo a clgo homogêneo, único, simples; outra, à mcenos numerosa, no Ocidente sobretudo, que procure explicar tudo helerogêneamente, aceitando uma espécie de pluralismo. isto é, edmitirdo múltiplos clementos qualitativos formadores das coisas. Teibnitz procura explica: o todo pela parte, considerando êste como uma espécie de soma das partes componentes, coro o apresenta a matemática, was que a vida teima em não aceitar, pois am corpo humano, não é aperas a sema de suas paries, um con- junto de braços, pernas, órgãos, mas lorma, na sua totalidade, um. quê de dilerente, de novo. Além disso, os factos nos comprovam exuberantemento a opinião por nós aceita. Há um exemplo famoso, dado por Stuart Mill, que «uito nos auxilia: so um pêso de 100 grs, é capaz de romper certo fio, não vamos julgar que 10 grs, sojam capazes de romper apenas um décino do fio. IIá realmente uma tensão maior do Liv, com êsse pêso, tensão que cresce à proporção que aumenta o vêso, só se verificando a ruptura quando do ecrescentamento dos 100 grs. Uma análise dos factos da vida nos mostra patentemente quanto penetra c intervém q inconsciente no que iazemos. Um pianista, por exemplo, ao executar um trecho de música, não é consciente de cada um. dos seus mevimentos. Um operário, no seu mister, renliza avlos dos quais não tem consciência, mas que lor- mam o contexto de suas operações. O artista, ao realizar ums obra de arte, nem sempre persa em cada um dos seus actos, nem: dêles tera consciência, nois muilas vêzes na obra criadora não po- netra nenhum traço de consciência. Muitas das nossas associações de idéias se processem sem que so perceba nenhum traço de consciência. Não podemos conscientemente presar atenção a cada palu- vra de uma frase nem do que lemos. Muitas escapan ao cons- ciente, embora lenhamnos uma noção geral consciente. Kan suma, pralicaros muitos actos inconseiontemente, sem -que dêles guardemos qualquer recordação e muitas vêzes estra- PSICOLOGIA a nhamos que nos assinelem um gesto ou um mover de nosso rosto, dos quais não tinhamos a menor consciência. Nas afeições, sobre- tudo na simpatia c na antipatia, há muito de inconsciente, como também nos nossos hábitos, nos sonhos, nes desvarios, além des inúmeras distrações que conhecemos, sem a participação de qual- o da cons sem que saibamos o que fazemos quer ag A psicologia patológica veio acrescentar inúmeras provas em prol da teoria do inconsciente, tais como as aneste de histeria, que não têm qualquer fundamento constitucional, é são apenas de carácier pelguico. Outro facto já citado é o que so refere às diversas personalidades que evidenciam certos duen- tes mentais, não guardando a menor consciência do que praticam nesses cstados diversus. A, activicade do inconsciente é imensa. Pierre “Inmet, o espixitista Myers. e muitos outros, estudaram inúmeros casos interessantes de fenômenos inconscientes que mos- tram uma grande riqueza de exceução. Esta a razão porque a psicologia em profundidade procura estudar êste campo imensa- mente grande. Os Lrabalhos de Freud, Jung, Sueckel e muitos ou- tros, têm contribuído para enriquecer a 1eoria do inconsciente, e hoje são poucos os psicólogos que não o admitem. ias nos casos É por isso a inconsciência um grande problema para a psicologia. Alguns psicólogos a negam totalmente. Entre os modernos filósofos, Sartre alizma “que « “única maneira de existir para à consciência é de tor consciência que existe”... “a consciência é o ser da conseiência”. Aceita Sartre, porém, uu: desconhecimento. “Tôda consciência não é conhecimento. Há consciências alecti- vas por exemplo... Bsse ciúme, en o sou, cu não o conheço”. O argumenio lundamental de todos os que se colocam musa posição negativa é o seguinte: scr inconsciente, e não ter consc: cia, € privação lots] de consciência. Nesse caso, nunca poderia tornar-se consciente. ên- Ge MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS A qutra posição, a afirmaiiva, funda-se na experiência. São iavtos que levasr us psicólogos a consttuirem e a aceitarem a existência de um psiquismo inconsciente. No entanto, se nos colocarmos dentro de um falso farmalisma lógico, teríamos de negar tôda e qualquer passagem do incorscien- te para o consciento. Mas nossos actos nos revelam muitos mo- tivos inconscientes, e a psicologia em profundidade já reuniu número suficiente de factos para comprová-lo. Há exemplos simples, mas decisivos. O do moleiro que diz não ouvir o rimar do moinho enquanto dorme, mas que se acorda se flo pára de rodar. O do homem que dorme sem ouvir o tique- taque do relógio, mas se êsse parar imediatamente se acorda. As experiências de memória inconsciente são famosas e mui- tas práticas espíritas são explicadas por êles. Há casos espanto- sos, como o que é citado por Johannet, em “Souvenirs sur H. Bergson”, (cit. por Foulguié) sóbre uma sessão de mesa em que emareceu um texto ininteligível para todos os presentes. Quis Bergson que se counservasse u Lexto. Apesar de tôdas as tentati- vas de tradução, tudo tôra inútil. Finalmente, um sinólogo. ac examinar o texto, declarou que era de Confúcio, aliás um texto bem conhecido do grande filósofo. Foi então que um dos pre- sentes declarou, que há aros alrás kavia manuseado uma gramá- tica chinesa, c nela havia o texto de Confúcio, como se nôde ve- rificar depois Há também nos factos de associações de idéias exemplos ex- traordinários: associações complexas, puramente inconscientes, como também os factos de actividade criadora do espírita. Quan- tos problemas são resolúveis súbitamente e neles se vê uma longa cadeia de factos e de idéias. Há músicos famosos, como Mozart, que relatam ter «urgido tôda uma composição num segundo de inspiração, em que a obra surge sem que houvesse um Lrabalho prévio (consciente, sem dúvida) de coordenação. (1) Henri Poincaré conta em seu livro “Science et Méthoce” uma série de experiências dêsse gêncro, tanto dêle como de matemá- (13 Esle ponto exige quios estudos que só o podemos fazer na “Noolo- gia”, pois invadiras aqui um serreno que ultrapassa o psicológico. PSICOLOGIA s3 ticus conhecidos. Essas iluminações súbitas revelam um longo trabalho de preparação, que escapa totabrente ao consciente. Hã ainda factos afectivos, antipatias ou simpatias, que são sempre puramente inconscierdes. E a caracterologia em seus ex- tudos actuais nos mostra que são sempre bem fundados. Grandes são as controvérsias sôbre A natureza do inconsciente Para psicólogos modernos como Jung, Myers, James, cte. o eu sublimal (incouscienie) é wma realidade e não uma mera di tinção do psiquismo. O eu inconsciente seria igual, em potência, em todos os homens, em todos idêntico, € explicaria os fenômenos dc telepatia, de metapsíquica, ele. Dêsse modo, há uma região que formaria a sub-fundo da alma humana. Para Freud, êsse fundo é individual, o id, que constitui a ver dudeira personalidade da homem, sendo & vida consciente, a ego, apenas uma maniinstação parcial dêsse grande inconsciente. Posição fisiologista Para os que defendem a posição ista, a consciência é E como o salienta Ribot, tôdas as manifestações da vida psíquica, sensações, desejos, sen- timentos, volições, etc. podem ser ora conscientes, ora inconscientes. apenas um epilenímeno, como já vimo; Erguem-sc opiniões contrárias, poiz se pudemos encontrar um antecedente fisiológico para explicar um facto psíquico, há exem- pios que só um aniceedente psíquico pode explicar tais factos. Pradines comenta: “O próprio cérebro não parece poder in- leligentemente colaborar na vida psíquica, a não ser concebido como animado, como instrumento de uma actividade viva que o ultrapassa, da actividade de um vivente total, o qual não pode sex explicado pelo traçado de deslocamentos celulares ou de cor- rentes nervoses, mas que tem sempre um fim e um sentido, logo uma alma. O funcionamenas cerebral é coisa da alma. Tal é o princípio de uma psicologia coerente”. (Psychologie” T, 1, p. 15). tá MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS Posição psicologiste Dara a posição psicologista (vomo a de Galton), há factos psíquicos inconscientes, porque a consciência é limitada. Perce- bor é fazer selceção, escolher, inibir o que não interessa, tomar consciência só do que interessa. A atenção realiza-se por meo de inatenções, inconseiências. Certas amamalitis, como a restrição do campo da consciência, explicar-nos-iam algumas anormalidade: psíquicas inconsciência, há um di- psíquicos subir ora ao Entre a zona da consciência e mite vago e flutuante, onde vemos facto; conseionte, ora descer ao inconsciente. Dessa forma, consciente e inconsciente colaboram, e, na vida emal, prestam mútua ajuga constante. Valoriza-se, assim, tudo q que a vida consciente deve ao inconsciente: inspirações poéti- cas, achados científicos, pressentimentos & sonhos premonitórios Mas que seria o inconsciente sem a vida consciente? Se o cons ciente se alimenta de mil impressões que escapam à consciência n elara, é tambémn o conservaíório de percepções e de ser:limentos conscientes que as necessidades da vida prática nos fazem esque cer ou reculear: nesso recesso obscuro se adicionam tôdas as expe- xiências da vida consciente, o que a consciência pereebeu colidia- remente, o inconsciente o regista, preparando as visões de con- junto ou sintéticas que flanquearão um dia as barreiras da cuns- ciência” (Foulquié, Traité de Philosophie, T. Ip. 218). Não é, para fal posição, 4 consciência um epifenômeno dos tos psíquicos. “A consciência não é um clemerto corstitalivo «do facto psíquico: ela o acaba, mas não o corstitui; em certo sen- tido é, pois, um epifenômeno. Nós já assinalamos que a sensibi- lidade protopathica, putamente afecliva, era primitiva é consclen- 1º, enguanto à sensibilidade epiecrítica, constituída pelo conheci mento ou pela consciência, lhe era posterior e a ela se acrescen- tava por intervalos Mas a consciência não se acrescenta ao fenômeno psíquico dentaltsente: o que é acidental é a inconsciência. Por si, com efeito, todo facto psíquico é consciente, e se à consciência está chstruída, permanece no inconsciente, voltará à consciência des de que o campo esteja livre: à inconsciência nada mais é que a PSICOLOGIA 65 usência de consciência actual; ela é una “possibilidade de cons- ciência” (Binct). “uma consciência viriwal” (Fergson). Tam- bém não se pode admitir o pensamento de Freud, para quem os ão em si mesnios inconscientes, de forma que comparável à percepção da processos psíquicos 5 sus percepção, pels consciência, murdo exterior pelos árgãos dos sentidos. O lenômeno físico, as lormas ou a luz, não aspirem abs utamente a ser conhecidos, e não fazem nenhum esfôrço para atrair o Losso olhur. Outra coisa se dá com os factos psíquicos inconscientes” (Foulquié). (1) Entre a consciência e à inconsciência, costuma-se falar em subconsciêrcia. Há inconsciência total quando se dá ausência tam- bém total, não só de consciência reflectida, como de consciência espontânea. Consitiere-se confusamente o têrmo subconsciência, que, para muitos, é sinônimo de inconsciência ou como uma von ciência parcial. Propõe Lalande no “Vocabilaire” considerar-se subconsciente v fenómeno do qual não se tem actualmente cons- ciência, mas que ze tornaria consciente se lhe iôsse prestado ção. E tais eslados o são por Irava intensidade, e propõe chamá-l de “sudconscicntes elementares”, que corresponderiam à pré-ron: ciência de Freud. E aos qutros, embora intensos, mas que esta- pam ao pensamento actual e por isso permanecem estranhos, cha- imá-los-ia de subconscientes Luccionais. Neste úlliro caso, as vir tualizações corseglientes da falta de csquemas, que se acomodem e efectuem assimilações, seriam da subconsciência funcional. Mas há alada as virtuelizações mocidas pelo próprio sujeito smando inibe, despreza, recalca o que não lhe interessa. Estes casos poderiam ser chamados de “subconsciertes por inibição Os fenômenos fisiológicos são em geral inconscientes, Quanto à pergunta que se faz, se há sensações inconscientes, estados afecti- «os, como simpailas é antigatias, cesvidades volítivas, que muitos afirmam serem também inconscientes, mutos psicólogos conçor- dum, embora também aceitem a subcunsciência dêsses estados. Os esraláslicos aceitam a sulbcorseiência, não da não actualizada Crspentum potesvíaled. A pr deparamos é examinada nos livros de Noofocia oniseiência poten 70 MÁRIO FERHEIRA DOS SANTOS wna imagem, uma representação e uma vivência do que seja ten- são. Não é ainda deiinível essa palavra, porque no têrmo tensão há mais do que apenas v ex-tensio de ex-tensão, (Lensão que se expande); há mais do que à in-Leusivo, de intensão (lersão que é contrípeta, que parte para si mesma). Na tensão, há os dois que se actualizam e se actualizarão, que se realizarão em acto, quer como extensidade, quer como inten- idade, sempre juntos, pois não há intensidade onde não há ex- tensidade e vice-vorsa, embora uma seja reduzida ao mínima e à outra ao máximo; wa não pode existir sem a outra; são assitt ussimptotes (expressão tirada da geometria, que simplesmente po- deríanos traduzir dizendo que uma não poderá coincidir con a emtra, veduzir-se uma à outra). Penetramos assim, num dos as- peetos mais importantes da filosofia e, para nós, o que tem maior relêvo, pois nos persnilirá construames um ponto de referência que, no futuro, nos facilitaré a compreensão de tôdus as correntes, doutrinas c escolas, e será o trampolim de onde perticemos para a construção de uma cosmovisão que incluirá tôdas as outras colacando-ss no seu lugar. Essa visão nos permitirá uma posição dialéctica, de grarde utilidade para o rosso estudo. Chegando a êste ponto, compreendemos a vida como tensão, como uma tensão de aspectos próprios que chamamos vital, A tensão, considerada em si mesmas, assume caracteres diversos, como a tensão dos gases, a tensão elétrica, etc. Essa tensão vital, em suas realizações de extensão e intensi- dade, no corpo vivo, alcança o sistema nervoso que possui a sua tensão nervosa, espécic de sistema defensivo do ser vivo. É pu meio do sistema nervoso que se capta o murdo exterior. É essa lensão que põe em contacto o ser animal com o mundo exterior, Não-Eu, o mundo do objecto. A atenção é uma fixação da tensão. Por meio dessa fixação hã um aumento intensivo da tensão nervosa. O homem é então, sujeito (lensão interior) em face de algo, ob-jecto, (tensão exte- riar que se lhe opõe, que não é éle. (1), Forma-se entre o sujeito e o objecto um antagonismo, um dualismo antagônico; um enlrenta q qutro (1) O têrmo atenção tem a mesma origem de tensão, de teúsio, pois am- bos etimolôgicamente vêm da mesma raiz, PSICOLOCIA “1 Mas nesse enfrentar, o objecto não sofre modificações em si mesmo, enquanto v sujeito soíre transformações intensivas na sua tensão. Há, por isso, em face do objecto unia madificação do su- jeito, modificação sofrida pelo sujeito, uma madificação de grau tensional. Essa modilicação lhe permite o conhecimento de st, por conhecer o objecto. Fi dessa contradição que nasce a consciência reflexa do sujeito. Sim, porque o objecto, que lhe é exterior, permite a êste modilicar-se e separar-se daquele. Essa separa- ção é ascendente. É fácil ver-se como se processa. Num recém- nascido, não há ainda o conhecimento do mundo exlerior, do .não-eu, Por isso a criança, no seu desabsoehar, não tom consciência de na, porque não tem consciência do exterior, embora tenha sensibilidade, uma consciência da sensação (consciência directa dos cscolásticos), sem nítida diferenciação de si mesma do resta do mundo, É como uma visão coniusa em que ainda não se deli- nearam os aspectos diversos da meia ambiente. A pouco e pouco, com o desenvolvimento dos sentidos, pela experiência, vai distin- guindo o mundo ambiente, o que está fora, o de que não tem a mesma sensibilidade da que tem em si mesma. E ao sentir o mun- do exterior, como o que é outro, tem contemporânsamente a cons- ciência de si mesma, pois ao notar que “isso aí não é ela contemporâneamente, que “ela não é iss si mi , nota Dêste modo se iniei à formação do cu. Mas nessa fase ainda o eu está misturado com o própeio corpo, Depois, ao comprepen- der e separar o eu do corpo, ao sentir o próprio corpo como ob; to é que se inicia a formação lenta da personalidade Na tensão ca consciência dirigida, ou seja, a-tensional, são captados certos aspectos do objecto, em detrimento de outro, quer dizer, há uma selecção, pela qua! demos mais importância a uns aspeeios do que a ontros, há valorização &os aspectos. Por isso é que dissemos que há um papel selectivo e velore tiro na tensão da consciência atencioncl. Assim o que conserva- mos na memória do objecto não é a totalidade do ohjecto, mas ape- nas uma representação, uma imagem do exterior, uma imagem do não-eu, modelada selectivamente pelo ex (segundo seus es- quemas). a 3 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS Vimos também que tudo quanto vu homem conhece em sua vida psíquica não é aperas consciente. IIá outros factos que não têm essa tensão tão elevada s ponto do eu temar conhecimento déles, Quando o grau de tensão, de intensidade da tensão, é menor, há um estado que os psicólogos chamam de pre-consciente, ou xeja, o que ainda não é consciência, mas que se pode tornar cons» ciente pela tensão da própria consciência dirigida para êles ou que surgem em determinados instantes inesperadamente, por um processo que, posteriormente, iremos estudar, como as idéias, como à processo criador dos artistas, as chamadas intuições, pressenti- mentos, etc. Outra parte, porém, recua para o inconsciente. Dêsse inconsciente, parte vem ao preconscientc e ao cons ciente, e parte permanece inalcançávcl pela consciência. É necessário que sc comprecuda que êssc esquematismo que cstasnos usando não tem um sentido tópico, isto é, de lugar (topos, em grego. lugar), quer dizer, tudo isso não tem determinados lu- gaves orde tais Juulos sucedao. Não devemos comprecuder essa explanação assim como s descrição geográfica de uma região. Aqui está ur lago, lá uma montanha, acolá um rio, ete Nossa tendência, que é activada pela razãu (como veremos oporturamente), leva-nos a dar um carácter de ex-tensidade & tudo que queremos conhecer. ou seja, dar um lugar, um sen- tido tópico, num continuo espacial ou espacializante. Este es quera é Juncional, mais imensivo que extensivo c mostra aspectos de dinamismo psíquico; e nesse dinamismo podemos reconhecer certos processos aos quais emprestamos nomes que os englobam, como os que usamos. O Fomem, como ser psíquico, é também um ser biológico, é corsegilentemento inorgânico tumbém, mineral. O inconsciente é algumas vêzes considerado como o mineral do homem, por seu aspecto obscuro, inerte. (Devemos bem conside- rar essa palavra iné muitas vêzes mal compreendida. Inércia ão quer dizer apeaus parado, estático. IEmprega-se essa palavra para expressar a conjunto de propriedades que levam a um corpo, que não sofra quaiquer aeção exterior, a pernanceer no mesma estudo, na mesma velocidade, quer em grandeza, quer em dire- ; OU permemecer em repouso quando em repouso. Quer dizer: não há autonomia, anto-impulso na inércia. Um corpo é inerte quande necessita de uma fôrça motriz exterior para mecificor seu movimento. Neste sentido é que se emprega quando se fala PSICOLOGIA ui Grecia das massas humanas; um homem inerte é aquéle que se o deixorem no estado era que se encontra, nêle ficará, se não ocorrer uma fôra exterior para movimentá-lo. Dor isso sc diz também “sacudir a inércia de alguém”). Voltando ao inconsciente, a patologia mederna e a psicolo- gia em profundidade nos mostram que o inconsciente não é inerte, pois actua no consciente, leva a personclidade à prática de artos ilusóriamente julgados cspontâncos, mas que recebem o impulso do inconsciente, de tudo aquilo que iorma o conjunto da. tensão vital psíquica do homem, e que não penetrou no campo do cons- ciente. (Compreenderenos melhor o que se refere à consciência quanto tratemos dêsse ponto). Verificamos que a consciência da eu iuplica a consiência não-eu. Chamamos o não-cy de objecto, mas devemos reco- nhecer que o próprio eu pode ser objecto de si mesmo, isto É quando o eu se debruça sôbre si mesmo para estudar-se, conhe- ver-se, pensar sôbre si mesmo. Neste caso, o em é objecio de si mo, pois assume a forma antagônica de sujeito e objecto, cujo antagonismo não quer dizer uma separação absoluta, pois um não o sôbre o outro, Ex- pode existir sem o qulro é um exerce sua acç pliquemos melhor: o eu tem do não-eu um conhecimento modela do, valurado. Dêle, a consciência apreende certas relações que se tornam por isso inteligíveis, quer dizer, cavazes de serem en- tendidas. Essa inteligibilidade é revelada pelo pensamento, que é in temporal, e, como vimos, Ler uma inteligihilidade indeterminada Essa inteligibilidade permite que um artista, ura homem vulgar, um filósofo, um físico, um economista, ele, possam ter das col perspectivas diversas, sem se csgotarem. tôgas as possibilidades do conhecimento. Essa inteligibilidade é parcial quanto ao homem, que sotre influência do tempo, da enltura, das opiniões, dos gru- sos sociais e dus proiissões que tem. Por isso os crentes afirmam que só Deus capta a inteligibilidade to! homens apenas ra inteligibilidade pare maior ou mena Essa inteligibilidade é apreexdida pelo acto de pensas, acto de pesar, medir, comparar, e processa-se por na lensão da toms- ciência que se fixa no objecto, reflete-o em si mesma, isto é, espe. Yano em si mesma, especula com êle. (De speculuar, palavra lu tina que significa espêlho). O que resulta disso tudo é o conhe. cido que não é algo parado, estático, mas em constante trensmu- “ MÁRIO 2ETRA DOS 8: NTOS tação e movimento, pois o conhecimento que formamos aumenta. cresce ou diminui, segundo a acção de qutros processos que não cabem por ora estudar, mas que nela estão incluídos. Pur exer- plo: o 2luno que estuda uma lição e sabe-a muito bem num deter. minado momento, poderá esquecê-la amanhã, e relemirá-ia depois. Êssc conhecido não permanece isolado, mas se liga a conteú- dos de outros conhecidos anteriores. Essa enordenação se dá per um eritério antinêmico que vê em cada objecto conhecido, simul- tâneamente, alguma coisa que sc pareec com autro conhecido é ao mesmo tempo alguma coisa que se diferencia, que & próprio, individual. Aqui se dá uma dicotomia importante que irá avultar no derorver desta obzu, olerecendo-nos um campo de noves inv tigações. É a antinomia entre o parecido c o diferente, O parecido é muis extensivo e o diferente, intensivo. O primeiro, quando se- parado do objecto, predispõe à razão a criação dos anteconceitos, e posteriormente a racionalização que tende para o invariante, nara a generalização. O diferente é obtido por uma scparação do aspecto intensivo, que é variante, irracional), oposto à razão e oferece conceitos pró- pries, e o conhecimento da individualidade (terra importante para a compreensão nítida do existencialismo moderno). Ambos po- dem, no entanto, ser observados pelo espírito huniaro em sua in- fluência e acção reciproce, numa síntese supra-racional (além da o e da intuição). Estes últimos aspectos rão poderemos por enquanto estudar, nem eselerecê-los ainda, antes de penetrar cm outros temas, Todos êstos loruas, que já não nos abandonarão mais, serão analisados neste livro, no de “Noule e na “Teuria Geral das Tensões”, onde crcontrarão novas icações, que se propõem tirá-los da siluação aporética que é encontram ainda hoje. ARTIGO 1 ATENÇÃO A conseiência é para muitos como tm facho de Zuz por entre as itevas, coma uma fixação de luz, Uma corrente de tensão que se fixa sôbre o objecto que se lhe opõe. Assim como a luz só ilumina quando encontra um objecto a ser iluminado, a tensão da consciência, quando posta sôbre um objecto, aumenta sua ela vidade máxima: é a atenção. A concentração da tensão de comsriência sôbre um objecto, cerca-o, envulve-o. E assim como o jacto de luz que ilumina um ponto está cercado de penumbra, na atenção, o ponto iluminado está também cercado de penumbra. Por isso sc diz que « aienção é uma desatenção, quer dizer, é um atender uma parte e um de- satender o que interessa menos à consciência Vimos que em tôda percepção há um trabalho seleetivo. Não conhecemos dos objectos tudo quanto nos apresentam, mas sim as notas que nos interessam. Essa [unção selectiva é própria de todo ser vivo, como já vimos. Observa-se na atenção uma série de efeitos que podemos sim- plificar da seguinte forma: aumenta cla a intensidade de algu- mas percepções e diminui outras. Assim, fixamos o olhar sôbre um pequeno corpo que queremos ver, diminuindo a extensão do campo visual, aumentando a in-tensidade sôbre o ponto desejado. O mesmo fazemos quando queremos examinar um Tacto vstcoló- gico. Procuramos separá-lo do que o cerca para pôr tôda inten- sidade sôbre o que nos interessa. Tal facto, aumentando a inten- sidade, clareia mais o ponto para o qual a atenção está voltada, cireunserevendo consciência para ali, o que dá mais nitidez. Podemos exemplificar: se fixamos tôda a tensão sôbre o pon- to em que penetra a agulha de uma injeção, aumentasnos a in- so MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS Verificamos que não era nada de importância. Apenas uma iolha tocada pelo vento. Voltamos à nossa postura anterior. Que nos mostram todos êsses factos e outros que poderemos fheilmente recordar, porque já temos experimentado muitos? Ape. nas que o acto de atenção é procedido de alguma coisa; que é desperlado. Reslmento há muito de razão na teoria empirista da atenção. Jista Leu sempre uma provocação que a antecede, Só que essa provocação pode ser exterior ou interior. São os exei- temtes de que Bdavant o escolâsticos. Não podemos aqui tratar do instinto porque êsse complexo psicológico e biológico será estudado em outra parte, mas podo- mos traçar algumas opiniões eue não deixam de ser importantes, É possível, c essa é a nossa opinião, que os primeiros séres vivos que povoaram a lerra não possuissem instintos, pois não julga- mos sejam êstes algo simples, e sim complexos, adquirido. e de- pois transmitidos, A vida apresentava uma série de experiências várias que sedimentaran: o processo selectivo das atitudes animais Esses séres, no início, soi»iam de tôdas as contingências do meio ambiente, mas, con: o decorrer do tempo, foram distinguindo v que lhes convinha do que lhes rão corvinha. Alastavam-se do que lhes era prejudicial e aproximavam-se do que lhes era bom e útil Essa: oram a pouco & pouco, vês de gerações ecrações, permitindo que se sedimentassem certos impulsos de tensivos ou agressivos que Lonam v rome enleciivo de instintos Ora, todos subem que o homem tem instintos e êles servem-lhe de delesa, de aviso, para enfrentar as dificuldades, que lhe advém. O Cavlo exterior que provoca a aienção, que “chama à ater- ção”, coro subiariente se diz na Imgragem popular, não é uma causa da atenção, é apenas um lactor. Verifica-se comumente, até entre filósoius, verta confusão entre causa e factor. Há factores que são chamados causas, como causas que são faciôres Coro é tema de outros estudos, ilustraremos apenas com um conhecido exemplo para mais nítida inteligência da distin Imaginemos que temos um pavio que vai commicar-se com cus carga de disamite, que está colocada no sopé de um monte. Se aproximarmas um fósluro dêsse pavio, êle se aconderá, e q -hama se provagará através dêste alé chegar à cápsula de dina- mite. Aí, por acção da combustão, se dará a produção de um gás de grande fárca expansiva, que expelirá a terra à longa distância PSICOLOGIA a Perguntamos: é a chama a causa? É o pavio a causa? É a combustão da dinamite s causa? Ou é a expansão a causa da explosão? Realmente a causa da explosão é a expansão do gás. Os ou- ivos foram apenas factóres. No aco de alenção, o facto exterior é apenas um factor da atenção, e não causa. Nem tudo quanto sucede no exterior nos provoca atenção Provocu-nos, no entanto, o que nos interessa. Vejamos em que consiste êste interêsse. Consiste em que êles ressoom dentro de nós, isto é, desperlam em nós ou o nosso mêdo, uu as nossas preocupações: sorrespondem a perigos ou possibilidades de ser- mos prejudicados ou beneficiados. Alguns antores chamam de yre-ntenção êssc estado que antecede à alonção e que consiste iuun trabalho representativo do nosso espírito. Sim, à facto ex- terior Jembra-nas algo que já sucedeu cu põe em tensão um dos nossos instintos, Logo, xo acto de atenção, não poderaos também “indir de outro elemento: a memória, pre: Há a memória de algum vem ou de a uitidado de um bem ou de um mal. Essa mer la à memória consciente, mas é uma memória imediata, instan- jânca, que nos leva a tumar uma atitude de expectativa e delesa. Ka atitude da atenção, que já estudamos acima, verificamos que «ue há uma postura de expectativa, que so caracteriza pela tensão de nossa consciência e de nosso sistema muscular * vasomotor, Qurigido gara o que ros “chuna a atenção”, para o que nos chame a tensão para si. gu mal ou da possi- ória não se asseme- Courdenadas da uteação Assim já podemos enumerar na atenção uma série de elo- “ecordenadas” mentos necess: | excitantes 2) memória, 3) interêsse; A) direção da tensão de consciência; 5) imobilidade. Numa fase mais culta da vida humana, chamam-nos a aten- cão factos que dizem respeito diretamente à nossa personalida- s2 MÁRIO PEREIRA DOS SANTOS de, como por exemplo, para o físico, os fenômenos físicos; para o músico, uma frase musical; para o pintor, um aspecto da ne- tureza, cte. O interêsse maior uu menor que nos causa o facto exterior vo espírito, poderá provocar a maior ou menor iniersidade da lensão de consciência, que é, em certo grau, volitiva, pois nessa direção a actividade dirigida, sendo consciente, assume as carao- terísticas da pomlade, como veremos, quando tratarros dêsse tema, Ná no acto de atenção um representar antecipado da expe- riência que se espera. E realmente, de antemão, criamos imagens quais acolheremos a percepção rova, como salienta Rous- tan. “É, — diz le — represcntar-se com antecipação a experiên- cia que vai produzir-se, ou pedir à nossa imaginação apenas uma representação precisa, antecipada, pelo menos uma hipótese que nos ajudará a compreender o significado do espetáculo, a rela- ção desta sensação nova com alguma porção de nossa experiência passada, Não há atenção voluntária sem o que diversos psicólogos chamaram pre-percenções” com a; Essas pre-percepções são necessárias, pois não percebemos claramente sevão aquilo que pre-pereebemos. Para demonstrar bem csla tese, servirin-nos mais wma vez de Rouslan, que nos dá um bom cxcmple. “Fazei que vos mostrem, à distência, uma figura desconhe- eida c que a manterham, a princípio. muito longe, a pouto de vos impedir dizer o que representa. Pedi que a apruximera até o por to de perveber alguas traços, algumas manchas de sombra e de luz, sem que ainda possais interpretá-la. Pedi então que se de. tenham e comprovai que, apesar de vossos esforços, cstais inpos- =ibilitados de entender o eshôço. Notai o ponto onde estais e o ponto em que está a figura. Fazei então que vos entreguem a figura; olhai-a de perio e depois colocai-a no mesmo lugar e voltai ao posto que ocupáveis antes: não podereis compreender então como fostes incapazes, um momento antos, de interpretar essa figura que percebeis agora com bastante nilidez. É que dispor- des agora de uma percepção que não tinheis antes”. Tal é sob certo uspecto o que sucede com todos, Surge alguém: que vê o que outros não viram, e Ro chamar a atenção para q vovo, os outros põemi-se então à perceber. & o que sucede com os arlistas que descobrem valâres que outros não perechiam ar- PSICOLOGIA ea tes. Por isso Nielzsche dizia que os urtistas e os filósofos eram inventores de valôres novos. Inventores, no sentido clássico, de descobridores de valôres novos, (1) Divisões da atenção Podemos dividir esquemâticamente a atenção em: 1) atenção interior — a que se dirige a um facto do mundo interior; 2) atenção exterior — a que se dirige a um facto do mundo exterior. Subdivide-se a atenção exterior um: a) atenção electiva — a que realiza uma escolha entre os dados segundo o interêsse. Ex.: um arquiteto, um homem comum escolherão dados diferentes de uma construção; b) atenção expectante — a que consiste num dirigir-se a um [acto que se espera, a um facto futuro, Na primeira, temos a direção dada pelos rossos esquemas que se avemodam a ura facto para assimilá-lo. Na segunda, há umxa acomodação geral e não específica coma no primeiro caso. No primeiro atendemos a isso au àquilo; no se- gundo atendemos em geral. No primeiro caso, a atenção é mais in- tensa e concontreda em...; no segundo é intensa também, mas descentrata. A atenção interior se subdivide em: indo se d! para estados subje- a ntenção reflexiva — qu tivos, que podem ser: 1 — para conhecê-los melhor: atenção cognitiva: 1 — sôbre nossos afectos: atenção ajectiva; HI — sôbre nosso querer; atenção volitina; b) atenção reflexiva operatória — quando se dixige às nos- s idéias quando meditamos: atenção mental. (1) Em nossos Evros “Tratado de Simbólica” e na “Noologia Geral” Betes termas obterão novo: elementos que juslificarão Es opiniões que ora de- fendemos, aa MÁHIO FERREIRA DOS SANTOS 1) se se dirige a relações: atenção racional Na psicologia clássica dividia-se a atenção em espontânea, quando a atenção era provocada pelo objecto; voluntária, quando provocada pelo sujeito dirigindo-se para o objecto, Tsaminemos estas palavi As relações da atenção e da consciência loram estudadas, «ob o ponto de vista da palologia mental, nas anostesias dos sos nâmbutos e des histéricos, e sob o ponto de vista da psicologia nó: mal, nos cieitos da atenção ou da distração sôbre a intensidado das sensações. ,. Todos já ouviram faler das ancstesias eleetivar dos sonâmbulos, que não ouvem senão uma voz: & do seu mag- netizador; nenhum outro ruído, nem sequer u detonação de um revólver realizada perto dêles, c éas ancstesias completas dos his- téricos, que crieen nêlos uma cegueira, uma surdez, uma anosmia, uma insensibilidade cutânea totais. cs fenômenos, .. 1êm o in- consciente... ., sendo antes subconscientes que inconscientes, dei- xam pairar uma dúvida, não sómente sóbre o valor do testemu- :ho do sujeito, que muitas vêzes é suspeito de insinceridade, mas sôbre a natureza e a profundidade du inconsciência êc que parece notar-se nêles as sensações abolidas na aparência, poderdo ser reveladas na lembrança ou por meio da sugestão bipuótica. O po- der da atenção de diminuir ou de abolir a cunsciência de uma impressão ao dela se arastar, de aumentá-la ou de fazê-la quando nela se aplica, não aparece aqui com uma evidência inconteste.” (Pradines, idem, p. 24). A lei do interêsse não é uma tautolegia como o pretende zuos- tur Pradines. Se tôda actividade vital é utilitária por natureza, é teleológica por deiinição, isto é tem uma finalidade, como êle o aceita, o interêsse psicológico de que se [ula tem sua raiz na sensibilidade, portanto vitol, sensório-motriz, piológica, Mas o ser humano é também alectivo e intelectual e a direção intelectual depende do interêsse afectivo. Não se é objectivista sem se ter uma disposição afectiva para tanto. Além disso não se conclua que a atenção cria o interêsso, como a pretende mostrar Burnhar, mas apenas o estimula. É pre- PSICOLOGIA nb ciso considerar-se todo facto psíquico como global, como na ver- dade o é. O que distingulros como consciência ou inconsciência, atenção ou inalenção, distração, ote, são apenas dislinções dos graus de intensidade e de extensidade do iaeto psíquico, segundo os esquemas construidos pelo ser humano no desenvolvimento do seu processo psíquico e vital. A tensão psfquica é coordenadora e courdenada. As conquis- tas que já estahelecemos na dialéctica não nos permitem cons- truir faculdades psíquicas com topicidade neri funcionalidades estanques, isoladas do funcionamento psíquico geral. s acomodados ra atenç Os esquem: o expectante podem issi- miar diversos factos que sucedem. mas dentre Sles só provoca ão um aumento de intensidude, portanto de lensão dirigida inter- sivamente para o facto, aquélos que vorrespondem mais ao inte- vêssc individual, quer de origem alectiva ou, mais longínqua, de origem va sensibilidade. A atenção pode provocar o interêsse, mas & preciso esclarecer coma. Sc atendemos para... (dirigimos a tensão psíquica para algo) e se nos interessumos por isso, é por que xcalizamos aí assimtilações com esquemas que peruitem, por sua vez, assimilações mais complexas com esquemas globais. Ao prestar atenção & algo, descobrinos em algo v que já nos interessa. O interêsso não é criado, mas despertado, estimulado pela atenção. Dessa forms a aciividude atencienal é eriadora, mão num sen- ido restrito. Novas experiências permitem o [ortalecimento de esquemas anlerivres ou u coordenação de novos esquemas, cons- truídos da participação de muitos outros que Tormam uma nova estruetura, Êsses nuvos esquemas construídos passam a achuar no futura como noves motivos de interêsse a serem despertados, Desta forme, pudemos evitar a queda, quer na concepção estriotamente idealista, quer na eslrictamente enpirista. A aceilação da teoria dos esquemas gormite-nos compreen- Gcr melhor os factos psíquicos, bem cumo compreender a recipro- cidade diclêctica “inlerêsso atenção”, sempre contemporâneas e interactuantes ” FERREIRA DOS SANTOS gia chama do Ego. Mas ougamos Nietzsche: “Aquêle pequeno mundo interior vai desenvelvendo-se e crescendo, à medida que encontra impedimento a exteriorização do homem” As Tanlásticas barreiras que a organização social construiu para defender-se contra os antigos instintos de liberdade, e em primeiro lugar, A barreira do castigo, conseguiram que todos os instintos do homem selvagem, livro e vagabuada, se voltassem contre o homen interior. À cólera, a crueldade, a necessidade de persegute, tudo isso se dirigia contra o possuidor de tais instis tos; eis aqui « origem da “imã ennsciência”. O homem que, por falta de resistências e de adver-ários exteriores, colbido no petro da segularidade dos costumes, sc despedecava com impaciência, perseguia-se, devorava-se, umedrortava-se e malivatavase a si próprio; êste animal a quem se quer domesticar, mas que so fere nos ferros de sua jaula, êstc 5: as privações fazem en- languecer na nostalgia do deserto e que fatalmente devia encon- trer em si mesmo um campo de aventuras, um jardim de supli- Clos, uma Tegião perigosa e insegura, êste Icuco, êsie cutivo, de aspirações inpossíveis, teve de inventar a “má consciência”, En- tão veio an mundo a maivr e mais perigosa de tôdas as enterra dades, o homem enférmo de si mesmo” — Não eslá aqui a [ormação do Super-Ego dos Psicanalistas, a gênese da angústia e dos complexos na :n$ consciência, dêsse “ho- mem enfêrmo de si mesmo”? E ainda acrescentava êlo: “Junte-se cirda o facto de cairar “una alma animal dentro de si mesma, o que deu ao imundo um jacto tão novo, tão profunco, tão inaucito, tão enigmático, tão “ico em contradições, em promessas de futuro, que o aspecto do ruundo foi realmente mudado Assim, para Nictzsche, a io:mação do Eu foi v resultado de uma delimitação da actividade do hemem cuo as novas condi. sões ambientais lhe e) çãos ambien am € que a sociedade, posteriormente, lhe havia ainda de nodelar. E realmente, ao estudarmos o E não pudemos deixar de salientar certos clementos fundamentais. A lensão nervosa vilal, através ds sensação, modela a consciência e esta a consciência do corpo, a qual, pela fixação das imagens que fotnaun a memória e a atenção que se interactuara, pois a memória actua sôbre a utenção e esta sôbre a memória, como vi- mos, vão fundamentar a Eormação do Eu, que é sempre uma cors- ciência unitária de diferenciação do meio ambiente e, posterior. ea PRI ra PSICOLOGIA e mente, por processo abstractivo, permitir a formação do Eu como personalidade, que transforma todo o mundo exterior como objecto é até a si mesmo, fisse processo de selecção, de que já nos rolo- rimos, ckamamos de processo de ascese, de separação, que se chserva na nalúreza dos sêres vivos. uma tendência sempre para os homólogos, isto é. para o semelhante, para o qualitativa- mente igual, que numa fase mais evoluída da vida humana, ma- uifesta-se nessa tendência a separar-se, a procurar seus iguais, como nã formação das tribos, nos casamentos consanguineos, na formação das sociedades secrelas, na comunidade dos udultos e na comutidade dos jovens, na formação des classos, dos partidos. dos grupos diferenciados, pie. for- que Mas não podemos tunhém deixar de evidenciar que mé mação da personalidade há ainda dois elementos importantes merecem ser assinalados. 1) As possibilidades. O homem não é apenas um ser que vive o acontecer, o suceder que flui. E o homem um ser que acre- dita em possibilidades, isto é, acredita que 9 que é podia não ser, admite que um facto pode dar-se, que um acontecimento pode sobrevir. Essa característica que estudaremos oportunamente com major cuidado, pois para nós é fundamental para a com- preeesão do homem, exereco uma influência decisiva sôbre a for- mação do sen Eu. O homem verifica o que é, o que julga ser, mas sonha com o que pode ser, o que outros são, e êle não é. Acredila em suas possibilidades e constrói com clas os seus sonhos, enviquece com elas a sua vida; é o que chariamos de imaginação. Mas a nossa vida encerra também immitos amalogros. Aquilo que sonhamos para nós, aquelas possibilidades que construímos, não encontram no tempo a sua realização, Sobra-nos muitas vê- zes o desconsôlo que nos deixam as nossas derrotas 2) O passado e as recordações — Nossa Eu encontra no pas sado, no que fomos. no que sofremos, no que vivemos, ura la: emocional volumoso. Nosso Eu não é apenas o centro de nossa consciência, raas o repositório de nossas cngústias c de nossas ex- periências, de nossas boas c más recordações. Esse repositório de factos do passado e a compreensão das nossas possibilidades, (estas são sempre um colocar-se no amanhã e nos dão a mais plera cons- ciência do iuturo), permitem, desta forma, sedimentar-se o que se chema a temporalidade do homem que, para alguns existen- Po 92 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS cialistas, é a verdadeira essência c consistência mais profunda do ser humano. 8) A preocupação — O homes é um avimal que se preocupa com o que lhe pade advir. Por conhecer as possibilidades conhe- eo também a preocupação. Ocupa-se cam o que poderá vir, o que sente que vem inevitavelmsente ou cor o que o futuro The oculta em sues malhas. Essa preocupação o usuia, o oprime, o encrva. As proocupa- ções constantes da vida criun-lhe, sedimentan- lee, o lastro emo- cional da personalidade, 4) O ambiente social — Porque vive em suciedade, não pode ele lugir às restrigões que esta lhe impõe. Não se desenvolve como o impelem os seus impulsos; encontra, além de restrições, a necessidade das relações, a isaca das idéia ' 8, à comumicação cons- tante com os outros; é sofre as influências do meio ambiente, da gua junção social, da difevenc i y cão de sua actividade, do seu can:- po de acção. e clemento social coopera ne corstrução da sua perso nalidade. 5) Sues posições — Come êste é um tema à ser tralado pus- terionvento, podemos por ora salientar a influgacia sôbre a per. sonelidado que exercem &s paixões, como a ambição, o amor, os tiemeios vcementos, ote, que lastreiam c modelim a personalidade. Idéia do Eu Dep: 5 O est dessa dig lo apenas cxpu: essão sóbre a personalidade, em que suitas tivo foi iniermeado Ce um porco de literatura, da oual não podemos nem devemos fugir, pois o es- tudo da filosalia não ceve cingir-se a uma aridez dontoral, estu- importantes opiniões sôbre a Idéia do Em, damos agora as mai através da manifesta: a estudaram. o dos icólog: ; e iilósofos eminentes que As diferentes teuvias três posiçõ vcs do Eur, podem ser colocadas em m O Eu concebido como a sintese dos factos ou das vivências. Db) O Eu, como imidade ou ponto de referência; e) O Eu cor uma verdadeira realidade. PSICOLOGIA RR É o Ex o que é ns actualidade, o que foi e que está sendo, até constituir-se ntma realidade actual, gue aclquire sentido também pelo que virá-u-ser aos difícil permanecer o luna do Eu no tesveno da psicologia. Penetra sempre no da metalísica, sobretudo quando se quer entendê-lo como algo meis do que uma sema de [actos psíquicos ou cmo um mero ponto de recrência, como uma unidade fownal. A persislência do Eu, sua existência através dos iactos da consciência, das modificações c etravés dos estados de consciência e de subconsciência, transforma-o numa realidade “bistórica”, um ser que consiste não apenas mium constante vir-a-ser (devir), mas algo que ultrapassa a simples unidade dos factos om à sua consciência. É êsto facto que pexnile disinguí-lo, na própria osicolngia, da mera consciência. Ora, no plano biológico, o lodo não é apenas a soma das partes; é algo diferente qualitativamente, pois um homem vão é apenas a suma dos seus merabros, órgãos, músculos, ete. A própria soma não é apenas o conjunto des partes, puis é qua- litativamente diferente; não, naturalmente, no sentido mezamen- te quantitativo, pois um muro não é apenas a agregação dos Lijo- los, da argamassa, da areia, do trabalho do pedreiro, pois o muro é qualitativamente algo mais. O Eu não é apenas a soma do que eeima exp pois é tam bém, qualitativamente, uma roralização “tensão”, uma coexisiêne cia de diversas existências. (Tensão esquemática). Examixemos, agora, as opinites prometidas: comum admitir-se no Eu o carácter de unidade simph Vimos que éle é uma coexistência de valôres que forma acdi- mentações da vida psíquica. É o campo dos insiintos, o complexo processo da atenção e da memória, o conjunto das percepções, das sensações, da consciência, da consciência das possibilidades, do passado individual e da espécie, das do meio social, das paixões, de todo o lastro que Íorma a vida psíquica do homem. Por isso aquêles que falam numa identidate do Eu, coniundem a sua persistência com uma espécie de huuia- bilidade, Se o Eu persiste como espectador da existência huma- na, é Elo, no entanto, intérprete também do seu drama. As trans ciierenciações ambientais formações por que passa, os sonhos que morrem, os eus perdidos AM MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS que ficam como defuntos, as possibilidades que sonha e as pos: bilidades que deixam de ser aceitas, tudo isso nãa permite que falemos numa identidade estática do Eu. O cu persiste, ou seja, existe através de seu drama, através de sua temporalidade como unidade, como coexistência de todos êsses complexos processos que se correlacionam. Huine certa ocasião disse Para mimo quando penetro o tm “que a idéia do en não existe is íntimo do que eu chamo eu, & pára dar sempre com wma percopção particular, ou então com wma percepção de calor ou de rio, de luz vu de obscuridade, de amor ou de ódio, de sofrimento ou de prazer. Nunca consigo al. cançar meu eu mesmo sem uma perespção, nem posso observar encontrar ava onde não poderia encontrar. Não podia, aa con- utra coisa que não seja percepção”. Hume procurav o que des centrar & sua atenção sôbre a diversidade da vida psicilógita, per- ecber o laço que une todos os estados conscientes. É que Hume procurava a identidade do eu, e não compreendia seu carácter cocxistencial. Assim também £s opiniões de Stuart Mill e de Tainc pecam pelo mesnio êrro inicial. Alguns espiritualista vêem no Ea um ser que assiste impassí- vel, inalteráve! c invariável o transcorrer transeunte dos factos psíquicas. “Nossos prazeres e nossos solrimentos, nossas espe- rangas e nossos temores, tôdas as nossas sensações, transeorrem ame à consciência comu as águas de um rio sob os olhos do imó- vel espectador, fixo na margem”. São palavras de Royer-Collard, Maine de Biran, esoirilualista também, afimma que temos una intuição directa do nosso eu. Segundo sua opinião, alcaçaríamos a compreender imediatamente êste ser simples e activo, que é o eu, giado, «quando experimentamos o sentimento de num caso privil refôrço. Não nos revela êsse sentimento a luta de duas actividades, ou melhor de uma ectividade contra uma inércia? O eu, limitado pelo que não é êle, conhece-se então como potência, como causa. Para Kant é o auícito pensante, enquanto sua unidade e sua identidade são as condições necessárias, implicadas pela síntese do diverso, dado na intuição e pela ligação das representações na consciência. O Eu é representado rigorosamente idêntico como condição da umidade do pensamento nv tempo. PSICOLOGIA no Para Fichte, como pera o idealismo alemão, o Eu é a reali dade anterior à divisão do sujeito e do objecto, a vealidade que se põe a si mesme e que põe tambén: seu oposlo: o não-Eu. Desta forma q Ku & originário do pensawrento, onde êle expressa au- tonomia radical. (1) Análise da idéiu do hu Nossa teoria dos indícios pode ser sintetizada assim: o homem rão propõe um problema do qual não tenha êle um indício (quer da justificação do problema ou da resposta). A filosofia em geral procura desde logo responder às perguntas. Nós. ao conbrári perguntamos pelo por que da pergunta, como se gerou, qual o in- áício que a condicionou. Assim quando o clássico pergunta: há infinito ou não? Nós perguntamos: por que indício chegamos à idéia nassível de intimito? D, Assim, aplicando ao problema da personalidade, do Eu, quan- do os filósofos aliam a sua identidade, como algo de perma- nente e invariável, e pergurtam sc realmente Ble é idêntico a i mesmo, interessa-nes desde logo procurar o indício que per- mitiu a iormação da pergunta e da suz identidade. Dimióvticamente, o Eu apresenta-se: a) como coexistência, como histórico; é 0 aspecto variante. O Hu interpreta seu papel; b) no entanto, é êle também especladus, uma posição que nos aparece como invarisnte, que tem consciência de seu drama e de si mesmo como algo que varia; é um assistente dêsso tran- sitar histórico, ses doi indícios das pergurtas foraniladas sôbre a identid 5 aspectos são suficientes para nos darem todos os e do Eu e, em parte, para justific Dá-se aqui, interiormente, o mesmo dualismo antinômico entre o Et: coma totaliiade c o mundo exterior: Eu x Mundo exterior. Puru 03 cscolásticos, há o ego omiclogicum c a conscientia sus. Como a aceitação e justilicação du ulma lrmans tange o campo da meta- fisica, é na “Knologia” que estudamos ôsse tema. 100 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS Todos os eus propostos aqui sintéticamente são estudados hoje pela psicologia. No campo do eu social, há variedade de ou- tros eus propostos, como cu cconômico, cu valorativo, etc. Sinteticamente, podemos dizer, que todos os que uceitam multiplicidade do cu não admitem sempre a reciprocidade. Ao contrário, o predominante na psicologia é admitir a im- pério de um eu sôbre os outras, o qual marca o vector da perso- nalidade. Mas, qual déles? Uns afixnam que é êste, o outros que é aquêle. As razões são ouiitas e variad A aceitação da veciprocidade dos eus e da sua interactuação contemporânea que nós afirmamos, é apenas timidamente propos- ta com um “talvez”, por alguns psicólogos modernos. (1) (1) O leria da unidade do cu c do acto capiritual, (clima) que lhe dá n unidade transcendental, por ser tema de mulalísica, estudá-lo-emos na “Noologia”, onde uma nova vroblemática é por nós analisada decadialâctica- mexe. Outrossim, € estudada a distinção entre ns diversos eus e Ge que essévic é cla EOMA II ARTIGO 3 PRINCIPAIS TIPOS DE CARACTERES Antes de analisarmos o leme dos e o devemes use quecer à natural tendência de nosso espírito em separar, arbitrã- riumente, do complexo processo psíquico, alguns aspectos que so assemelham, e estudá-los à parte. A atenção psíquica é um fluir constante. Assim funciona ela como sentir, através das sensações & percepções, pensar, apreendendo pensamentos emoções c querer pela intencionalidade alectiva, pela direção dada à tensão nervosa, que intende, tende para o objecto ao qual se deslira, que é, às vêzes, preconcebido. Se a psicologia costuma estudar estas três funções do nosso espírito isoladamente, o Laz por um sistematismo natural da nossa razão, mas va realidade essas três fanções são in- scparáveis na Vida psiquica do homem. São três pontos de vista cu três posições que podemos escolher para examinar soh um aspecto abstracto (no sentido que usamos de abstração que é Loma separadamente pcla mente aquilo que não se pode separar na realidade física) . racteros, ni Como vimes em tôda a rossa exposição anterior, consider: mos a tensão da consciência sob dois aspectos: primeiro o que chamamos extensista, que consiste em considerar a tensão quan- titativamente permanente. persistente, isto 6, considerá-la como intensisia que consiste em considerar a tensão como qualitativamente diver- sa, diferente, em constantes mutações, direções, ete, a qual se apresenta diversamente e permite concebêla como funcional- mente diferente. Por isso é que a psicologia, desde os prinieiras tempos, fala nas três funções que são o sentir (a sensação), o pensar (o pensamento, raciocínio) c o querer (volição, vontade, de vrigem afectiva, como ainda mostraremas). ologia con- firma sob certo aspecto essa umidade e também a tripartigão fum- uma unidade quantitativa; c, segundo, o que chamamos 192 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS cional na estructura do arcabouço nervosy do homem. Por exem- plo: primeiro, nervos eferentes (que levam), que dirigem as rca- vões svolrizes e que correspondem à nossa actividade, Segundo: nervos aferentes (que trazem) cefalo-raquídios, que representam as condições [isiológicas das representações. Terceiro: nervos afe- rentes do grande simpático, que têm um grande papel nas gêneses s emoções (afectividade) . Assim cada acto de pensar está ligado a disposições afectivas, bem como está unido à vontade, pois não há pensar claro sem estórgo da ter ige um querer. Quanto à ligação afoe- tiva nos é mostrada pelo trabalho de selecção que só permite me- lhor conhecimento do que mais nos interessa, ão, a qual e Chama-se rorárter o conjunto das maneiras habituais de sen- tir e de reagir que distinguem um indivíduo de outro, e às vêzes de um grupo de indivíduos de outro grupo. A palavra curácter vem do grego character, do verbo cha- rasso, “eu marco com um sinal”, Convém distinguir, no carácter: a) o temperamento que é de origem heredilária, somática; k) e os elementos adquiridos, o que é propriamente o carácter. O carâcter, como o mostram os caracterólogos modernos, fun- da-se no temperamento, mas é também uma cunsirução sôbre Ble como ante éle. As iníbicões, que o homem adquire pela educação e pela vontade, netuam ob (conira) o temperamento, c revelam muitas vêzes victórias sôbre o temperamento. Matéria complexa e em pleno desenvolvimento, a caractero- logia é hoje uma ciência que se distingue e avança, graças aos grandes estudos realizados pela tipologia, que estuda os tipos hu- manos, e as grardes contribuições de Elages, Freinfcls, Heyman, Malapert, Mounier, Le Senne, Louis Corman, Toulemonde, ete, (1). (D À caraeterologia actual é por nós estudada no livro Integração pessoal”, acompan integração psíquica. Curso de lo de aplicações práticas, em henefício da PSICOLOGIA um A diversidade dos temperamentos humanos preocupou sempre as lilôsoios e os médicos, e muitas classificações foram progos- tas, das quais estudaremos as mais conhecidas. Na Idade Média e na antiguidade, predominou a teoria que fazia resultar 05 temperamentos dos diferentes rumores do corpo. Posteriormente, surgiu a teoria dos quatro lemperamentos (san- guíneo, Ileuniático, colérico e melancólico). Eretschmer estebeleccu considerações tipológices, baseadas na teoria do temperamento, e oferece a seguinte classiticação: ciclotímicos são vs manifestamente vivas, práticos; esquizotímicos, os instáveis, abstractos; enequéticos, os explosivos, coléricos, de- talhistas. O cielotimico & trivolo; o esquizolímico subdivide-se em perseverante, mas de profundidade estreita e especulativa; o instável, brilhante, de inteligência alorística, ou paradóxica, O enequético tende para a sistematização, é prolixo c pende para a ordem do cpileptóide. Jung estabelece a distinção entre extroversão e introversão, pela manifestação respectiva da puderância do objectivo ou do subjectivo, como classificação geral, mas funcionalmente êsses tipos são determinados também pelas funções do pensar, do sentir, do perceber ou do intuir, quo têm carácter de subdivisão. Assim um introvertido pode, portanto, periencer ao tipo determinado pelo pensar ou pelo sentir. Essa classificação permite combinações numercsissimas. O progresso da caracterologia e da morfo-psicologia, Iize- ram renascer os velhos estudos da fisiogromenia. E as novas con- tribuições da tipolugia não nos permitem nem uma síntese sequer, pois não sevia possível [azer um relato de tôdas as classilicações Uma pergunta tem provocado na pricolagia inúmeras respostas e longas discussões: é mocificável o caráter? Uns respondem pela negativa, enquanto outros pela afirmativa. Não se pode negar a fôrça que têm os hábitos adquiridos. Pascal disse que o hábito era “uma segunda natureza”, e viência moderna reconhece néle uma grande fôrça amoldadora. 104 MÁRIO PERREIRA DOS SANTOS O nosso sistema educacional e as nosses concepções peda- cas fundam-se em grande parte na admissão de que é po: e, amoldas-se, dar uma direção o carácter sópi vel modifica: Os estudos da psicologia em profundidade, decorrentes de grandes observações feitas, oferecem campo para a melhor aná- lise dêste problema, que é objceto, hoje, de novas disciplines como sejam a Caracterologia, a Fisignomonia e a Tipologia. A SENSIBILIDADE no MÁRIO FERRFIRA DOS SANTOS Foram tais factos que levaram alguns psicólogos a falar de um sentido muscular. Tais sensações são importantes para à fundamentação da noção de cspaço, da noção das extensões, como também =ão importantes para a formação da maestria dos movi- mentos que conhecemos nos atletas, nos artezãos, nos operários qualificados, nos quais as sensações cenestésicas acham-se supe- riormente desenvolvida A sensação térmica. Costumavam os psicólogos dizer que era o tacto que dava us sensações do calor é do frio, assim como as sensações de pressão e de dor. Os psicólogos contemporâneos decompuseram o sentido do tacto e verificaram não ser a pele sensível em tôdas as partes c que oferece variações quanto à sen- sibilidade do [rio c do calor, havendo, assim, partes que sentem mais e outras menos um c outro, Desta forma não é apenas uma questão de pressão, do contacto, mas um verdadeiro sentido tér- mico (de thermos, gr. calor). As sensações de frio e de calor são variáveis de acôrdo com a temperatura da pele. As partes do corpo variam de temperalura. OQ nariz e us mãos são mais frios do que à tronco; a bêca é mais quente do que as partes exteriores do corpo. Uma pessoa, que tenha feito exercício lurle sente calor devido à circulação mais apressada do sangue, e êsse calor se irradia pelo pele, o que dá a impressão de abafamento. Quando entra na habitação uma pessoa afogueda, procura logo abrir janelas para entrar ar, pois julga o ambiente sufocante. Essa a xazão de certos riscos que enfrentam equêles que fizeram exercícios víplentos O sentido da orientação. O ouvido internamente é um órgão complexo, Tera uma parte enrolada sôbre si mesma, chamada caracol; três canais semicirculares quase pervendiculares entre si; é entre o caracol e us canais, estão dois saquinhos chamados outrículo e sáculo, os quais contém, cada um, um corpo de nome otolito, composto de finos cristais calcáreos. Não conheciam vs psicólogos antigos quais as funções dêsses corpos. Foi com surpreza que, mais próximo a nós, comprovaram alguns observadores que as lesões [eitus nesses órgãos, em diver- sos animais, não prejudicavam em nada a audição, mas produ- ziam vertigens, quedas, transtornos nas atitudes, na emissão dos sons, nos movimentos. Foi a que os levou a considerá-los como um órgão do sentido da orientação, Realmente termina nesse órgão um nervo sensitivo que se une aa auditivo, mas indepen- dente, Citemos uma página de Ebbinghaus: “Se com os alhos PSICOLOGIA mn fechados, giramos muitas vêzes seguidas, tendo como base q cal canhar, e nos delemos sibitamente, teremos a impressão sensível, vivíssima, de girar em sentido contrário 20 precedente, É uma sensação dos canais semicireulares. Deve-se ao anel do liquido no canal horizontal, que, no começo da rotação do corpo, havia ficado um tanto pegado às paredes dêste e segue girando um mo- mento emando nos detemos bruscamente, o que produz uma excitação contrária à precedente nas órgãos terminais de um nervo que penetra nesse líquido. Se givarmos rápidamente, num circulo bastante grande, como ocorre com os cavalinhos nam “ecarroussel”, ou quando se descreve uma curva, o corpo lem a impressão de inclinar-se para fora. Se subimos rápidamente um elevador, ao deter-se ê&ste bruscamente, temos a impressão de descer. São sensações dos órgãos otolíticos"... São verdadei- ramente graves os transtornos que se verifiquem nesse órgão. Certas fobias, coma a agoralobia (Fobia das multidões), muitas vêzes têm esta causa, Consideram os psicólogos o tacto como o sentido fundamental do ser vivo. Sendo o tacto localizado em tôda a pele, os utros sentidos não são mais do que modificações do cetodermo. Assim o alfato é um tacto das vibrações que nos dão o ador das coisas; os olhos, o tacto que através de longa evolução assumiu funções diforenciadas e que ainda não alcançou o fim de suas possibilidades. Entretanto, é necessário salientar que os sentidos não são tão simples como julgam muitos, pois há uma complexidade no seu funcionamento, como também um entrelaçamento entre êle Uma sensação gustativa está unida, muitas vêzes, a sensações oHactivas. O olfacto, por exemplo, é um sentido pouco desen- volvido no homem. Atribui-se tal facto à posição erecia que 0 afasta da presença dos objectos, como também, devido ao desen- volvimenta da sua inteligência não necessitar mais de olfactoar os alimentos para eseulhé-los, Entretanto, à alfacio nos formece elementos valiosos de defesa, pois nos indica a qualidade do ar onde estamos, Apesar de atrofiado no homem, pode êle nos re- velar quantidades infinitesimais de certas substâncias. A vista, pur exemplo, nos subministra sensações de côr tão variadas, que se ealeulam em um milhão o número de matizos que nu MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS se podem distinguir cm condições favoráveis. A visão auxilia-nos muito a tor uma noção mais precisa do espaço, por nos mostrar a iorma das coisas e o esterométrico destas, mais acentuadamente e mais elicientemente do que o tacto. É a visão o sentido mais importante no homem e, cm “Filosofia e Cosmovisão”, tivemos ocasião de estudar a sua grande influência na toligência e como nos sentimos arupirados e firmes ro conheei uulizá-los, mu dar-lhes uma modelação mento, quando podemes vi visual, As sensações auditivas são de duas espécies: os sons e os ruídos Os ruídos são produzidos por vibrações não periódicas, enquanto os sotis são produzidos por vibrações periódicas, Evsinarum-nos os físicos a distinguir em cada som a alura, a tinsbre e a intensidade Sabe-se que o homem não possui certos sentidos que têm os animais, como, por exemplo, o sentido higrométrico (da uinidade atmoslérica), o sentido eléctrico. Há insectos que possuem sen- tidos que rem de leve podemos figurar. Tais sentidos são cn- contrados noz órgãos dos inseczos, sem que possamos ainda com preender a sua ucitação. Em certos animais, os sentidos são mais desenvolvidos, corno a visão, que é mais aguda nos pássaros; o olígeto, nos cães; O sentido da direção, em certus ave: Quanto ao auvido, os estudos feitos revelam que o homem é um des sêres melhor dotados. Como no homem, porém, o; sentidos se entrelaçam entre si e como funcionam sôbre o in- telerto e êste sôbre êles, hã naturalmente uma complexidade que não é possível estabelecer-se simplesmente, isto é com rápidas explanações, pois esta matéria é campo de profundos e demorados estudos e investigações. Essa a razão porque os sentidos, co homem, podem ser cducados, dirigidos para fins mais úteis e proveitosos. Qoseryam os psicólogos e os tisiólogos que não há sensações sem mudificação cerebral. Deserevem-nos os anatomistas que o cérebro está protegido contra « acção dos agentes exteriores. Está rodeado de múltiplas e espessas envolturas, como o cabelo, a couro cabeludo, o crâneo, duas membranas, uma das quais é muito resistente, c ainda é banhado, como a medula espinhal, num Tíqnido sevaso. PSICOLOGIA (6) Por essas camadas protectoras, o cérebro sá pode ser alean- cado: a) por choques mecânicos que lhe chegam muito ate nuados: b) por mudanças qualitativas e quantitativas na eir- culação sanguínea; c) por correntes conduzidas pelos nervos centrípetos. Dessa forma, os choques, em geral, não têm maior efeito e es mudanças na circulação intervém, indubitâvelmente, na pro- dução dy sono e da fadiga ecrebral, mas, segundo parece, não determinam a variedade das sensações. Diz Wilham James que são. pois, as correntes nervosas aferentes, os únicos excitantes normais da actividade cerebral. Essas correntes nervosas são as direções tomadas pela tensão nervasa de que já falamos no início dêste livro. Realmente a fisiologia e a psicologia ainda não puderam es- tebelecer a natureza dessa tensão nervosa que ora vai au exterior, como volve para o interior, em seu duplo movimento de vai-e-vem. Sabe, porém, a psicologia que essa corrente tem um mavimento que não ultrapassa a sessenta metros por segundo, reduzindo-se slé. em algums animais, a alguns centimetros. O poueo que sabemos nos indica que os nervos escolhem do meio exterior, entre as múltiplas vibrações, mma calegoria delas que lhos é mais alia, pois sabemos tocos que uma vinração lu- 1uinosa não afecta os nossos ouvidos. Surge. então, aqui a pergunta, se temos órgãos suficientes pars apreender tôdas as vibrações que sucedem na natureza, A resposta mais condizente aus factos é que não temos, A exi tência de sentidos diferentes dos nossos, nos animais, nos com- prova que realmente não somos capazes de apreender tôdas a vibrações. E as rovas experiências que a ciência nos ministra vêm corroborar esta afirmativa, como, por exemplo, o ultra-som. Nosso conhecimento é discontínuo. A nareza não nos é apre- endida em sua totalidade, mas apenas numa parte relativamente pequera. É o lerzeno das sensações um dus mais importantes da psi- cologia e onde as divergências são maiores. Airda não conheve- mos suficientemente o provesso da sensibilidade, e a complexidade úlle exige estudos demorados. Uma série de aspectos impor tantes, porém, já foram observados, como, por exemplo, o que nos mostra que as sensações nos informam melhor sôbre o que oo sd MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS está em vias de realização do que sôbre o que é estável. E que a excitação provocada pelo que está em movimento é mais intensa que a do que permanece estático. Uma cxciteção contínua acaba por não ser tão bem percebida como uma excitação discontínua, porque a primeira permite uma espécie de adaptação ds vensibi- lidade c a percepção diminui, enquanto a seguuda desperta luna sensibilidade atencional maior, Por outro lado, nosso organismo está melhor organizado para as excilações bruscas e inesperadas, e o discontínuo nos adverte muis intensamente, por nos associar Os perigos e as surprezas que nos ameaçam. As nossas sensações dependem, em grande parte, das que as precedem ou des que lhes são cocxistentes em nossa consciência, Se mum vaso de águe, a 40 graus, deixamos uma das mãos e à outra num de água gelada, « depois infroduzimos anibas num vaso de água a 20 graus, expe- rimentamos, numa, a sensação de calor c, noutza, uma sensa- cão de frio. O que na realidade sentimos não é o excitante propriamente dito, mas a relação entre o primeiro estado e à novo cstado que tal excitação provoca. Prova a experiên- cia, também, que se aprecia mais facilmente a diferença entre duas sensações sucessivas do que entre duas sensações simultá- neus. Percebe-se melhor a diferença de temperatura, se se in- troduz a mesma mão num e noutro recipiente de água de tem- pereturas diferentes, do que se num, colocamos uma das mãos e a outra no outro, Assim tamhém, quanto a dois sons, quando ou- vidos sucessivamente, do que quando ouvidos simultaneamente. São essas observações que levam à iundementar a relatividade das sensações Na verdad 3 sensuções não são relativas. Elus são relatives às sensações precedentes, às sensuções simultâneas, à duração da sensação; não são porém: relativas à natureza do nervo excitado. “EMA IV ARTIGO 2 PERCEPÇÃO. O MUNDO EXTERIOR. ERROS, ILUSÕES E ALUCINAÇÕES Procura a psicologia saber como. no adulto, se furma a re- presentação do mundo exterior, que elementos entram para a formação dessa noção, dessa complexa noção que é um dos mais empolgantes problemas da psicologia. Para o metafísico, o pro- blema é colocado demtra maneira. O metafísico porgunta pri- meiramento pela legalidade do problema, se se pode afizmar a existência de wma realidade distinta do persamento (Realismo) ou se tôda realidade não se reduz ao próprio pensamento (Idea- lismo). Se se eolocar no primeiro caso, erite hipóteses sôbre essa zculidade. Então, essa realidade é apresentada como for- mada por átomos, como na filosofia de Demócrito, de Epicuro é de Lnerécio, ou é apenas q espaço geométrico, como em Descartes, ou de fôrgas semelhantes à nossa actividade, como Jecilmitr, vu os “reais” de Herbart, a “vontade” de Schopenhauer, etc. Mas essa colocação do problema não é da psicolog a. Para q homem comum não há o problema da existência du mundo exterior, porque éle confunde as sensações com as per ecpções Nossos sentidos recebem extitagões exteriores, têm sensações brutas, us quais mais tarde são transformadas em percepções A percepção é um produto psicclógico de formação secum- dária, e nasce e se desenvolve com o concomitante desenvolv mento da personalidade do homem. As excitações exteriores pro- vocam-nos sensações brutas, diversas, díspares, sem ordem. mas a percepção já é o resultado de um trabalho de ordenação das sensações. MÁRIO FI RREIRA DOS SANTOS dão no lempo, se apresentam sempre como extensidade e como intensidade, A extersão é peculiar « todos os corpos, & uma pro- priedade dos copos. Mas êstes não são apenas extensivos, mas intensivos, são quantidade e qualidade, Mas extensão, embora apareça cr vários corpos, apareee-nos sempre como 6 que se repete, como o que é sempre o mesmo, enquanto as qualidades variam, mudam-se, transformam-se, mas à extensão, como quan- tidade, pode ser maior ou iuenor, mas sempre é homogeneumente extensão. Assim a extensão de um livro pode ser menor que a exlensão de uma mesa mas uunca iríamos considerar a extensão desta, embora maior que a do livro, como uma extensão diferente da primeira. Tanto para um, como para outra, a extensão é hemogênca, embora maior ou menor. Se absiraio uma a Utua as qualidades, o que é heterogêneo, variante, resta-me apenas um quantilativo homogêneo, que não é verde, não é azul, não é uavimento, etc. Esse quantitativo, por um acto de abstracção maior, considero como ocupando um vezio que êle enche, an qual vou chamas espaço. Assim, o espaço é elaborado posteriormente pelo espírito. Mas não é dado pela experiência. porque não podemos ter expo- riência do espaço. É construído pelo espírito, é vai serviz de elo- mento a priori para tôda experiência, vai anteveder à experiência. Quez dizer que, pela nossa análise do espírito ( noclógica), pode- mos aceitar a afismativa de Kant, que chama o espaço e o lempo de formas puras da sensibilidade, mas num sentido us tanto diferente (1). Vejamos outros aspectos: “O espaço se encontra representado como magnitude inj- afirmava Kant. O que a experiência nos mosira são mag- nitudes limitadas por outra magnitude. Desta forma, uma mag nitude infinita não poderia provir da exneriência. His outro argumento de Kant: a experiência mostra-nos que após a ex- tensão de um corpo, está outra extensão de outro corpo. À expe- riência não cos mostra um limite de extensão, mas um limite da magnitude, da forma de um corpo. Essas extensões se sucedem, f1) As formas puras da sensibilidade têm sua 737 nos esquemas fun- diunentais da sunessio (de onde surge a idéia de tempo) e da simultencidarte (de onde age a de cspaça) Não podemos compreender nada a não ser dendo-se sugessiva ou aimultâncamente. No “Tratado de Esquematologia” estudamos a gênese de tais estuomas que setuam q priori, PEICOLOGIA 121 cuexistem, uma ao lado da outra, uma não substitui a oulra como &s instantes do tempo, por exemplo. Kissa a razão porque não podemos imaginar um espaço que finda, que encontra um limite de si mesmo, essa à ração porque, ante à impossibilidade de um têrmo, de um fim, de um: limite do espaço, o julgamos infinito, O sentimos infinito. Como as extensões se sucedem e coexistem, independente- mente dos lhnites, das magnitudes dos corpos, tínhamos que cho- ger à conelusão de que elas coexistiam em alguma coisa, que é o espaço. Sabemos que a gemmetria mede o espaço. analisa-o, constrói uma ciência do mesmo, Mas o faz abstractamente pela matemática. Na prática, precisanios de pontos de referência que são us corpos, pontos de apóio. Imaginai alguém, ma prática, tentando medir um espaça ande não bonvesso luz, nom ponto de referência, com um metro da mão. Malograria totalmente. Irja- sihai um espaço vazio sem qualquer corpo, como poderia ser êle objecto de experiência? Diz-se que q espaço tem Lrês dimensões, isto é, que, de am ponte, só podem ser traçados três recias perpendiculeses. Mas ésse juízo é derivado da experiência (eis outro argumento de Kant). Os corpos, como extensão, nos revelam, na experiência, a Inidimensionalidade. O facto de se ter podido construir geometrias do espaco de mais de três dimensões, demonstra que o espaço é dade « prio i quer dizer, pura lorma do espírito. E para corroborar essa opinião, Kant apresenta um argumento que Êle reputu O inuis sério e O mais forte, e que é fornecido pela absoluta necessidade das pro- posições da geometria. Vemos que o geôneira, ao estudar as pro- priedades das diverses figuras, ou sejam os modos do espaço, enun- cia proposições eternamente verdadeiras. Tal sucede porque êle trabalha com uma substância que não lhe é subiministrada pela €x- periência, do contrário, que garantia teria de que o que sucede, muma porção do espaço, acorra também en: outra? Para foruular verdades universais necessárias, é misler estar seguro, à priori, da perieita Lomogeneidade do espaço e de que, portanto, é idêntico à si mesmo em qualquer paste. O argumento de Kant prova que o espaço da geometria é una construção ideal do espírito; não impede porém que as sensações nos subministrem a noção de extensão, o que lazemos questão de salientar, 12 MANO FENRZIRA DOS SANTOS O espírito extrei de si mesmo (ca razão) a noção de espaço geométrico, e essa noção preside com anterioridade (a priori) os dados da experiência. Mas Kart conclui que êsse espaço, dado a priori pelo espírilo, lundido com a experiência, vai revestir as sensações da aparência da extensão. Mes 4 hipótese inversa à de Kart é mais poderosa: as sensa- cões nos revelam as magailudes e as extensões, ou seja a extensi- dade. Pelo acto de selecção € de ascese da razão, de que já fa- Jamos, chega o nosso espírito à construir a concepção de uma vxlenção mais abstracta, é dai formar a noção do espaço geomé- trico, vazio, homogêneo, idêntico a si mesmo, Ora, a geometria é uma ciência deductiva e não se alimenta de comprovações apenas empíricas. Fxtrai cousegiiências de axiomas e das definições que ela enuncia. Mas deve salientar-se que as noções matemáticas rão são apenas convenções asbilrárias. Elas partiram da obser- vação da natureza, para, num processo abstractivo, chegar alé a homogeneidade pura. Se o matemático não enconira, na natureza o circulo que êle pode corstruir idealmente, encontra, porém, cir- culos imperfeitos. Mas, ao definir o circulo coma uma superfície plana limitada por uma curva fechada. cujos pontos são eguidis- tantes de um ponta lixo, êle transporta o círculo da realidade da mundo es que lhe dá a intuição imediata, exterior, para um círculo perfeito da razão. E é com êsse circulo perfeito que tra- balhará, E como êle preside as experiências posteriores, êsse cfr- culo é a priori, é dado a priori, torea-se uma forma pura que an- tecede às experiências Quando tratamos da experiência em “Filosofia e Cosmovi- são”, mostramos que o conceito é elemento da experiência. Não podemos dizer que um objecio é isto ou aquilo, som sabermos antes o que se assemelha a êsse ubjecto. Não podemos dizer que êsse ohiceto vermelho, que tenho à minãa frente, é um livro, sem que antes saiba o que é Livro. Assim v conceito precede a expe- riência e ajuda a constituía. Assim ant compreendeu o espaço cuanto às percepções. rsação bruta, cosdjuvada pela anterioridade do conceito, permite que se transforme em percepção. É nesse sentido que Kant tem vazão ao alirmar que O espago e o tempo são formas puras (a priori) da sens'bilidude, E repetimos, há va incom- preonsião, comum a muitos filósofos, que comsisto em julgar que Sant tenha afirmado que o tempo e o espaço, per sexem à priori, tâssem inatos, PSICOLOGIA vm Kant afizmou que, em tóda experiência. o tempo e o espago são anteriores, mas reconhecia que a noção de tempo e espaço se forma através da própria experiência. Essa a razão porque a concepção do tempo e do espaço varia na kistória e levou muitos autores, & citaremos Spengler entre os mais conhecidos, a estu- darem a concepção histórica do tempo e do espaço nas diversas culta o já fizexos, nos mostra como as. Um estudo histór varia a idéia de tempo e de espaço, isto é, o conteúdo dessa idéia. co, Cal Há uma interação eutre o Lezipo e u espaço e a experiência. Assim como aquêles interferem nesta, esta actua sôbre aquêles, Sabe- mos quanto é espacializante a razão. Esta se formal, fundada no homogênco, gue nos é dado pelo espaço. que é coexistente, como já mostramos. O espago é lundaniental para a mental da razão, ponto de apõio funda- Não csclareceremos, ecmo é nosso descia, êste ponto sem que torhamos primeiramente examinado as teorias gencticas do espaço e as teorias nativistas, pare depois clarear êste tema importu tissimo da psicologia, que é o da percepção. Às teorias genéticas — À teoria chamada de nativista afirma que o espaço nos é revelado pelas sensações ou per algumas das sensações, Outros psicólogos consideram que a nocão de espaço ão é apenas um dado imediato das sensações, mas o produto de uma sintese mental. A opinião, por exemplo, de Stuart Mill, de Bain, Spencer e outros, é de que nenhuma sensação isoladamente Iornece ao espírito a noção de espaço, mas certas sensações, certas imulfiplicidades de sensações nos produziriam a representação de espaço; “gerariam” a noção do espaço. Tal é o apinião comum dos quo defendem as teorias genéticas. Essas teorias são chamadas também de teorias exipiristas ou empíricas. O nativismo sustenia que a sensação nos subministra imedia- tamente a noção do espaço. ssa afirmativa é negada pelos en- piristas. tes derivam da experiência tudo o que cortém o es pírito, e afirmam que a noção do espaço ros é subministrada pela experiência, graças a uma acção bastante complicada Tóôda a sensação é um lacto psi paço; é uma mocilicação qualitativa da consciêncio e esta não so ele: medir, não tem dimensões no sentido da uxtensão, porque não é extensidade, mas intensidade. Mestra-nos a isivlogia que ológico e êste não ocupa es gu MÁRIO FARREIGA DOS SANTO! sensação parece ser provocada por uma alteração do sistema nervoso. E se a sensação nasce em nús, não fora de nós, portanto, como poderíamos compreender que os nbjectos que penetram na nossa consciência poderiam conservar algo espacial? Os objec- tes impressionam as lerminações poriféricas de certos nervos e a comoção é transmitida ao cérebro. Desta forma, é a modifica- ção cerebral que é perechida, e à sensação cstá localizada no sujeito. Weimbeltz diz: “As sensações. são, para a nossa consciência, sinais que interpreta a nossa inteligência”. Muito embora alirmem os defensores dessa teoria quo um facto psicológico não vuupe espaço, tal não implica que não possa envolver a representação de um espaço. A visão de um objecto, na distância, nos revela a extensão. Demonstra Spencer, entre os defensores das teorias écas inglêcas, que a idéia de espaço é derivads da idéia du coexistência. A coexistência, por exemplo, revela-se nes sensações visuais, pois ao visualizarmos um objecto e logo em seguida outro que lhe esteja próximo, quando visuali- zamos o segundo, permanece ainda, na nossa reiina, algo da ima- gem do primeiro objerto. Desta forma, a sensação do sogundo objecto começa ant tenha terminado a do p curto, S que neiro, embora o lapso de tempo seja um terceiro objecto estiver colocada ao lado dos dois + & mesa coisa sucecerá, Se cm vez de partivmos de a para be para e, partimos de c para b e para q, verilicaremos quo as três objectos olerecem as mesmas sensações, porém em dem inversa, O nesco se pude observar com o tacto, se tacteur- mes um móvel da esquerda para & dircita, e, se irvertermos a vireção, a ordem das sensações será inversa da primeira. Se e tretanto essa operação Tôr feilu com maior velocidade, percenerá a consciência uma continuidade, uma simultâncidade e também a reversibilidade, pois pode reverter a sensação que ora tem uma ordem, segundo a direção tomada, e depois, quando invertida, uma ordem inverso. Assim há reversibilidade. É o conjunto des- sas sensações características que permitem coastrui: a noção de coexistência e, desta, a de espaço. Sintetizando: a suco: a reversibilidade, compro do capaço. ão engendra a simultaneidade, revela a coexistência, o ois gerada a noção Combatendo essa Lee estados que coexistam 1: ia de Spencer, HUlfdivg alinma que dois ão revestem necessiriamente a lorma do PSICOLOGIA 15 espaço, pois “quando, num acesso de desalento, brilha um: raio de esperança, não nºs representamos a esperança acima ou abaixo, à direita ou à esquerda do desalento, como fazemos quando temos, ao inesmo tenpo, muitas sensações de diferentes córes”. Entretanto a comniusão de Hólfding é manifesta, A coexistên- cia de dois estados de constiência se processa no lempo, são êles intensivos e não extensivos, e a ordem do seu dinamismo é dife- rente, porque a coexistência, no espaço, não é a coexistência no tempo, pois a coexistência no espaça é a que se processa no mun- do exterior, do não-eu, percebida pela consciência, enquanto a coexistência no lempo pertence ao mundo interior, do cu, tam- bém percebida pela consciência, quando debrugada sôbre si me ma. “Todos os facios do mundo exterior têm extuidade e inter- idade, predominando a primeira, enquanto vs factos do mando interior têm intensidade e extensicdie, predominando acuel bre esta, quasc estumada. A coexistência das intensidades é dife- 1ente das extensidades, e Hôffding cita apenas factos do mundo interiar, como estados de consciência, que revelur paixões, Quan- do os lactos de consciência são excitados por factos do mundo exterior, a coexistência € pre de carácler espacial. sô Com um poneo de arerção, é fácil reconhever-se certas distin- cães que avuliarão depois pera a compreensão nítida dêste ponto. Nós sentimos o espago como algo que se dá por inteiro, como algo que rão é tempo. O espaço é, para todos, homecgêneo, idôn- tico a si mesmo, € dá-se de uma vez, Ninguém. iria imaginar uma passagem do não-espago para o espaço ou um espaco que ora se dá equi e, daí há pouco, se dá aqui Em suma, c espaço não é algo que ilui, como sentimos com o tempo, que vivemos como uma transição do pessado ao futuro, através do presente. Assim, quando citamos o exemplo da visão e do tacto, vimos haver. no espaço, uma reversibilidade, pois, por não ser tempo, o espaço é reversível e podemos compreendê-lo desta direção ou da dire- ção inversa. No entanto, não há reversibilidade na sucessão dus factos psicológieo: Se dennos um exemplo com tura melodia, pedemos ouvia mais lentamente ou mais apressadamente, podemos aumerter ou diminuir o seu compasso, mas não poderiamos figurar uma emelo- dia cujas notas tôdas [Ossem simultâneas, contemporâneas, en- quanto podemos e figuremos sempre o espaço como simultâneo. A nossa vida psicológica se compõe de estados que se prolo gem 14 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS corpo que passa a ser também mundo exterior. É nesse estágio er que a personalidade se define nitidamente, em que a vida inte. rior eresce, em que no estudo da parte histórica da filosofia, que quando a investigação Hilosólica sc dirige mais para u muado in- terior, o problema do mundo exterior passa a surgir. Verificamos, (com Sócrates e Platão, Parmênides, etc.) que o imundo exterior to como mera aparência e, posteriormente, será posta em cúvida a sua existência, porque se acentuou demasiadamente o mundo interior, cuja realidade se torna mais evidente, enquanto o mundo exterior é inibido, desmerecido. E é essa crenca que ros vai permitir distinguir a imagem ver- dadeira (percepção) da imagem irreal (recordação, criação ima- ginativa, alucinação). Tôda imagem está acompanhada de cren- ca, e para não crer na realidade do uma imagem, precisamos de razões. Tôda repr é sentação, que não é contraditade, é evidente, porque não « fustiga a dúvida. Mas hã casos em que a evidência não acompanhe a representação. Por que? Porque nos assalta uma dúvida. Oxa, nem lôdas as imagens são para nós evidentes. Nossas experiências demonstrara que estamos sujeitos a erros constantes; julgamos vcr uma coisa, mas é outra; julgamos ouvir um ruído, é é apenas um zumbido; enganamo-ros quanto ao sabor e quanto ao ardor. Sonhamos < julgamos, durante o sonho, que tudo é real. Acordamo-nos, e ve- riicamos que tudo não passou de um sonho. Yudos êsses factos predispuseram a dúvida, por isso duvidamos sempre que não le- mos uma percepção nítida. Essa dúvida que nos assalta permite que especulemos sôbre cla, que a examinemos, que a liguemos a outros factos, que sirva de ponto de partida para uma análise das nosses percepções. A acentuação da nossa personalidade acentua, por sua parte, a dú- vida. E, daí, a pôr em dúvida tódas as nossas percepções, a aceitar uma parcela de ilusão, de êrro, nas nossas percepções, não está mais que um passo, E coordenando os nossos pensamentos em tômo dessa dúvida, a evidência do mundo exterior está xeque. Não podem ser tôdas as nossas percepções meras aparências? Quando essa per- gunta assalta ao filásoo, já necessita, então, justificar o mundo exterior. PSICOLOGIA 1H Ré nessa fase que êle procura razões para « evidência, pro. cura razões para a convicção da existência do munda exterior, in- dependentemente dos nossos pensamentos, Fintão quer saber como e por que o humem crê na existência do mundo exterior. Para nós, essa dúvida não é psicológica e sim gnoseológica. Ela não nasce senão numa fase mais desenvolvida das especulações fi- losólicas. . Aqui surge para os psicólogos um problema: como distinguir a percepção verdadeira de a alucinação? Julgamos que as longas controvérsias, neste ponto, em vez de osclarcecrem, obscurecem ainda mais o problema, pois as razões, aduzidas por uns é por cutros, representam mais wma fuga ao verdadeiro problema do que colocá-lo no devido lugar. A própria dúvida é um índice seguro de que sentimos uma distinção, pois ora duvidamos, ora não. Tal não impede que te- nhames certeza, quando houve um êrro. Os exemplos dos teste- o ponderáveis. O único critério é a clareza, a riqueza de pormenores, a coordenação com outras imagens, a resistência à tuntasia. Não há critérios infalíveis, e essa é mais uma das razões que sugeriram a cortos filósofos pôr em dúvida o mundo exterior, es objectos, pela técnica, pela ciência em suma, são associados às novas imagens e nos permite estabelecer um ponto de apóio. z:unhos Mas a demínio que o homem exerce sôbre és Tôda a vida de relação nos dá dêsses pontos de apôio e nos garante a firmeza de uma percepção. O acto de alimentação, o trabalho, a realização da produção, todos êsses elementos se com- gregam para nos dar critérios seguros de domínio sôbre o mundo exterior e, também, esitérios de distinção entre a alucinação c a pereepção, entre a recordação e a percepção, entre a fantasia é a percepção. Certos erros dos sentidos são apenas erros de inter- preiação, como o bastão introduzido na água, que nos parece quebrado. As ilusões surgem também da interferência do nosso espírito no julgamento dos lacios percebidos. Quem, à noite, ouve his- tórias de assombração, está predisposto a ver fantasmas num Jen- gol que flutua dentro da escuridão da noite. MÁRIO VERREIRA DOS SANTOS As alucinações podem provir de sensações reais, como as alucinações provocadas pelos hipnotizadores, em que v hipnoli- zado pode julgar que uma pequena folha de papel é um livro, cu bebe uma bebida quente, quando babe apenes água, em tempe- ratura normal, Também podem provir de clementos internos, como as aluci- rações visuais, nos cegos; ou auditivas, nos surdos recentes. TEMA LV ARTIGO 3 A MEMÓRIA Consciência e memótia sao inseparáveis pois a consciência implica memória, vu memória, consciência. Ao tomarmos cons ciência de alguma coisa, perduramos nessa actividade, Há me- morização no mesmo lapso de tempo, pois, do contrário, a cons- ciência, se fôsce fluente como o tempo, não se daria, O instante que passa é substituído por outro instante é não teria ex consciência, neste momento, de que estou escrevendo, se não ficasse, do momento anterior, algu: nu coisa memorizada. Além disso, a consciência é uma [aculdade elevada que exige memori- “ações, pois ter consciência de algo exige atenção, a tensão «d, para... portanto interêsse, v conseylentemente memória, recor- dação. Vimos as coordenadas da atenção e o papel que a imemó- ria desempenha. Eis aquí por que Leibnitz definiu o inconsciente como uma consciência instantânea, uma consciência sem memória, por passar com a a Iuência do próprio tempo. Entretanto, o sentido da memória, como empregamos acima, é um sentido geral, um tanto vago. O que fregijentemente se considera memória é a fa- culdade ou operação de poder renascer um: estado que já atra- vessou a nossa consciência, que já desaparcccu dela, e que é con- siderado como um elemento de nossa experiência passada. Hã, na memória, consciência, pois memória não € apenas uma repetição, como, por exemplo, a que se dá com uma frase já pronunciada. Tóda a vida é fundada. garantida, na memória. Mas é uma rnemória espontâna, natural, A memória de que falamos é aque- 13 em que há consciência, aquela que, ao recordar, sabe que recor- da, sabe que tal facto se dou no passado, e que êle [az parte de sua experiência passada UM MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS É importante dislinguir a memória da reminiscôncia. A re- miniscência é wna recordação incompleta, uma recurdação que uão é reconstruída, da qual temos vagas lembranças. O tema da meméria colaca quatro iuportantes problemas de que tratam os psicólogos, os quais iremos estudar e discutir. São êles: a) conservação da memária; como se conserva a memória? b) a evocação, a capacidade de poder trazer à consciência os factos passados, de recordá-los:; e) o reconhecimento do que é recordado: e 4) localização, quando os colocamos perfeitamente no tem- po é no espaço, São êsses quatro problemas da memória que passaremos a estudar. Conservação da recordação: Duas são as respostas clássicas à pergunta de como conservarmos estados que desapareceram da consciência: 1) a fisiológica ou materialista, que afirma que um estado que atravessou a consciência e dela saíu, persiste em forma de modi- ficação fisiológica, especialmente de modificação cerebral, As per- cepções são gravadas no sistema nervoso e nêlo pormanceem cons servadas, 2) A vulry resposta consiste em afirmar que o que atraves sou a consciência, e dela saíu, permanece no que chamamos de in- consciente, c de que já Lratamos. A teoria fisiológica pretende ser a mais científica. O perce- dido, ou a recordação, fica gravada numa célula ou num grupo de células ecrebrais. Há, assim, uma modificação cm alguns elersen- tos amutômicos, que permanecem nesse estado, depois de passada pela consciência. Quando excitada a mesma região cerebral, o estado de cons- ciência é reproduzido, Por essa teoria, a vida psicológica não p: sa de um reflexo da vida cerebral. Essa teoria tem sido paderosa- mente combatida, e veremos quais os seus pontos frágeis. O que a favoreceu foram certas enfermidades da memória, acompanhadas de lesões cerebrais. Broca, wn psicólogo italiano, na segunda metade do século Hassado, fêz observações interessantes sôbre as localizações ce- PSICOLOGIA Ka rebrais. Uma sério de factos parceia confirmar essa teoria que ainda hoje é defendida, com calor, por muitos psicólogos. Vejamos a colaboração de Bergson para esclarecer êste problema, Bergson estabeleceu duas espécies de memória: «) uma me- mória física, em forma de mecanismos motores armazenados no corpo; b) uma memória psicológica, Tormada de recordações psica- lógicas próprismente ditas, independentes do cérchro, Dessa for- ma, as lesões cerebrais alacam os mecanismos maiores, mas não influem sôbre as recordações prôpriamente ditas. Estas são im- pedidas de se traduzivem em actos, A crílica que Bergson fêz da teoria malerialista pode consi- derar-se em grande parte decisiva. Se a recordação fósse apenas o raswo material deixado pela perecpção, em caso de desapareci- mento, êste seria explicado como uma lesão que afectasse a base da correspondente operação de perecber. Na surdez verbal, cm que há esquecimento das palavras do idioma materno, há capacidade de ouvi-las, pois o enlêrmo as percebe como quem perecbe palavras de uma língua estrungeira, mus não conhece à conteúdo das mesmas, o que elas denominam, o que elas expressam ou significam. Percebe perfeitamente us sons, os quais deixam, para êle, de ter sigrificado. Na cegueira verbal, esquece a forma visual das palavras, sem que a visão sofra qualquer modificação; apenas os caracleres pas- sam a não ter mais sentido. Essa dilereuciação demonstra que à teoria matorialista não é válida, pois a lesão deveria aleclar a am- bus, tanto no sentido como na forma de expressão. Dá-se assim o esquecimento da parte significativa e já vere- mos, no comentário final que fareraos da memória, dentro do nos- so método de estudo, que quer Gizer tal facto. Ao serem afectadas determinadas células, deveriam desapa- recer determinadas recordações. Mas, nos casos de afasia pro- gressiva, a lesão não destrói determinado número de recordações verbais, mas, sim, há um debililimento gradual de tâda a função. De início, há certa dificuldade em encontrar as pulavras. Estas faltam, mas o pensamento permancee intacto e a pessoa lança mão muitas vêzes, de períirases. Ao agravar-se a enfermidade, desa- parece a recordação das palavras, mas numa ordem sempre i tica: primeiro os nomes próprios, depois os nomes comuns 140 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS ação no pricaeiro tático. Vhnos que em tôda a vida hã inemori ssivel. ido de Bergson, do comtrário ela seria imp Há assim, para dós, três memórias c vão duas. 1) A memária da consciência, da percepção, essa fixação do cinermático, do movimento, que os sentidos estabelecem. Dara sentir é preciso parar o exeilante, Quando visualizamos alguma coisa, ao fecharmos os olhos, guardamos, por um ou dois segundos, une imagem, do que visualizamos. É a memória em embrião. s de Hergsom, já citadas. 2) e 3) As duas memóri A meméria intelectual que se poderia classificar como uma quarta espécie da memória : :s elevadas e que nos pareccrão mais claras à proporção que avancemos em novos estu- cos, De tudo quanto Ilui, à razão estuliza o mesmo, o parecido, O geral, o umiversel, o que se repele, Guardamos de uma facto, de uma pessoa um quê de individual, que não podemos definir, que é indelinivel, à indiscernível. Mas guardamos, tosnbém o que É geral, o que é racional, o que é dejinivel. Assim recordo um homera que corhoei Guardo déle o individual, mas cuaservo o facto de ser, por exemplo, um soldado, um sacerdote. Ao falarereme dêle, tenho presente apenas que era um soldado. Aqui rão há memória do individual, mas do gue lhe era universal, Cremos que o desenvolvimento dessa memória, na hamers, terde a estabelecer-se cada vez mais completa. E é um processo da memória já entrosada com a razão. O que nos mostra tado isso? Mostra-nos que u processo de memorização se complexiona, se entrosa, se correlacionç, cora outros processos do espírito. Todos êsses factos demonstram tembém que a conecpção ii. sivlogista e materialista vulgar é simplisia, e quis resolver um processo dialéctico, como a memória, (orde as oposições em reci- pricidade se harmonizam com outras operações, oferecendo uma solução apenas extorsista, espacial, quantitativa do que se pro- cessa com uma riqueza imensa de intensidade, de heterogenei- dade, de complexos processos, PSICOLOGIA 149 A memória pode ser considerada: a) em sentido amplo — como persistência do passado no b) em sentido restricto — memória do homem, como vepre- sentação de passado como passado, A primeira memória pertence uo homem, como a da pianista, mas também aos sêres vívos, como as chamadas memórias-há- bitos dos animais c das “lóres, como a do cão caçador, que se alegra ao ver o dono vestido para a caça. A segunda, exige a re-presentação dos factos pi A memória pode sor: a) muscular — comumente chamada hábito: a que nos pa- rece localizada, por exemplo, nas pernas, braço b) a sensorial — as visuais das côres, formas, sora, cte.; ce a d) a ale ntclectual — relações de causalidade, ctc.; a -— memória do t peramento, de certas emos Esta última é accita por uns e negado por outros. Quando recordamos certos factos, revivemos a agradabilidade ou a de- sagrabilidade que êles nos provocaram ,embora revivamos mais Sacilimente as desagradabilidades que as agradabilidades. A maioria dos psicólogos aceita apenas que a memória coa- serva representações e não vivências, Mas araso rcorodazimos representação a sersação dilererte? Lenbreno-nos de Murcel Prousi em “A la recherche du temps perdo”, onde, com bastante talento, dá-nos uma vivência da memória afectiva. A memorização de um facto é acompanhada, muitas vêzes, ão estado afcetivo que provosou. A recordação de um perigo pode provocar uma vertigem, de am estado de imêdo outro estado de mêdo. Ne verdade, o novo estado é utro, tras repete o an- terior, imila-o, re-presenit-n. O estado afectivo que retorna pode preceder à representação do mesmo e vice-versa. Há repren- es também inconscientes. 142 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS Fixam-se as memorizações: a) pela repetição: 1) metódica; 2) voluntária; 3) in- texcaluda com repousos; b) pelo interêsse: 1) intelectual; 2) colectivo, A recordação pode ser: a) espontânea; b) reflectida, O esquecimento (o facto não recordado cu que não pode ser recordado) pode ser: a) voluntário; b) espontâneo, O esquecimento constrói a boa memória, pois esquecemos para fortalecer a memorização. Virtualizamos o que nos desinteres- sa para actualizar o que nos interessa, Casos patológicas: a) amnésia -- dificuldade extrema de recordar; b) paramnésia — “Ilusão da memória que consiste em crer reconhecer no último pormenor, com tódas as circunstâncias de lugar, de tempo, de estada afectivo e inlelectual, o conteúdo lotal e actual da consciência num momento dado, como se se vivesse integralmente um instante já vivido, (Lalande, “Vocabulaire”); e) hipermnésia — evocação de factos considerados já esque- cidos, comum de observar-se em estados de febre, ou em momen- tos de perigo de vida; dj) a obsessão — caso de hipermnésia, que consiste na “pre- sença, no espírito, de uma representação, de uma associação de idéias, ou de uma preocupação que aparece sem cessar, à qual vêm reunir-se tôdas as associações, e que a vontade não consegue alastar senão momentaneamente” (Lalande, “Vocabulaire”). TEMA IV ARTIGO 4 O INSTINTO Voltemas à tensão psíquica, já estudinta, Recordando o que dissemos, podemos ver que a tensão, no homem, actualiza-se no pensar, como caplação de peusamentos, e na extericrização da tensão, conjugada com os movimentos que complementam aquela exteriorização, ex-tensi portanto, Mas. há uma reciprocidade extraordinária entre o pensamento e a acção, que se inlerectuam, os quais elaboram um sôbre o qutro uma medelação que é dinâmica e disléctica. A aeção não é o pensamento, embora ao pensamento se reima a seção, porque o pensamento é cantado pelo acto de pensar. Ao pensarmos, exteriprizamos o pensamento pelo pensado, isto é, enunciamos, expomos. pomos fora, exlernamos, expressamos, E o expressado não é o pensamento, mas apenas os sinais com que universalmente o representamos. Se queremos expressar para outros a paisagem que contema- plamos, dizemos: era uma bela paissgem, onde os morros, co- bertos de uma vegetação verde, emolduravam o fundo, ete.. 'Tôdas essas palavras como bela, paisagem, morros. cobertos, vegetação, verde, emoldurar, fundo, referem-se a conceitos gerais, Mas o singular daquela paisagem, com os elementos tamhém singulares que A compõem, permanecem apenus na púreza do pensamento, não do pensado que exteriorizamos. Se quando nos dirigimos a nós mesmos e pensamos sâbre elguém que conhecemos “que é uma boa pessoa”, que cxpressa- mos nesse pensamento? O singular que vivermos é 0 pensamento vivencial, mas a afir- mação interior que fazemos por palavras para nós mesmos, já não 1a MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS guarda aquela pureza vivencial, porque êsses têrmos são gerais; «& o nensamento expressado Erquanto um é intensidade, com leves sombras de exier dade, já no segundo, embora intensidade ainda, há aumento da exlensidade, porque já há aí o repetido, o mesmo, o igual, o conceito, Não haver distinguido bem essa diferença, foi o que levou muitos filósolos e psicóloges à graves confusões, porque ora con- iundem o pensamento vivencial com o pensamento expressado, o vice-versa, Tal aspecto tem um valor extraordinário na estética, « é ponto de partida vara muitas considecações impomantes. Mes, como o nosso tema é de psicologia, é nessa que nos de- vemos ater por ora. Examinemos, mais: a tensão quando reflecte sôbre si mesma, quando se desdobra, c de si tem consciência pela aposição, cla é pensar, e todo pensar tem um pensamento, porque um seio Ge pensar sem pensamento não seria um acto, pois cada un realiza uma acção, portanto é intencional, é um partir para, é um tender em algo, rias tambén, porque in-tende, porque se con- e, um transpor-s centra em algo, é um dicigir e da tensão para um rx-tendee, Todo acto tem, assim, um objecto no qual intende o para o «uai sc extende. Todo acto existencial tem intensidade c exton- sidade. O pensamento é captedo pela tensão. A tensão apreende o pensamento, tornando-o pensado, extende-o. Se temos uma paisagem à frente e digo que ela é bela. êsse pensamento é um todo que eu capto du paisagem e que outro também poderia cantar. A tensão psíquica tende em a paisagem pela visão. Ela emociona-me, provoca em mim uma sensação agradável, de um grau elevado que eu chamo falso. Ésse pensamento era possível para mir «omo para qualquer outro. A tersão, tendia em a pai sagom, e tendída em & emoção experimentada, capta em bloca q persamento. Esse acto de apreensão é o pensar, Expressamos o pensamento, exteriorizando-o por sinais. As- sim como todo pensamento tem intencionalidade, porque é pensa- mento de algo, tem um objecto, tem a tensão no acio um objecto, porque todo arto é wm aeto sóbre alguma coisa O pensamento PSICOLOGIA 145 pensado é q objecto da tensão. Tor isso é que há uma relação estreita entre o pensamento e à acção, que é 0 ucto tender par tensão ao uma modal, Um pensamento não pensado é uma possibilidade apenas; pensado torna-se acto, pelo acto de pensar. Todos os nossos aclos físicos, a contração dos músculos, e movimiento dos nossos órgãos, estão ligados vo nosso sistema ner- voso, à nossa tensão nervosa. Nenhum dêles escapa ao sistema nervoso, porque qualquer movimento geral é um opor-se ao nosso sistema nervoso. Mas a nossa tensão é maior ou menor, isto é, tende em mais cu menos, é mais ou menos intensa, Onde & tensão tende em mais, lemos consciência; dos outros não a te- teos a, depende do tempo. » porque a nossa consciêne Uns factos são actualizados, acentuados por ela, outros The escapam, porque. como já vimos, há em tôda consciência memória, porque nela há memória. Não sendo memorizados, por pouca que sejam, não podem ser sentidos mais de uma vez, quando sen- timus é quando re-sentimos, porque ter consciência é sontir junto, com o que sentimos do mesmo facto anteriormente. Ter consciência é já parar, retardar uma sensação, é cons za, é sabêla com..., aumentativamente. cien Os faclos que se passam na tensão nervosa, e que não têm asa consciência, são os subconscientes, porém não são alheio: ao nosso sistema psicológico, e se muitos psicólogos us desprezam cometem um êvra gravíssimo, pois Eles ainda nos darão à solução de muitas interrogações que andam fragilmente respondidas. A tendência dos psicólogos da chamada psicologia em prelundidade & dar um valor maior a êsses factos, que »epresentam a maior parie de tôda a vida psicológica do homem. Vamos a um simples exemplo. Um grupo de turistas sobe an Pão de Assuear e, lá de cima, contempla a baía de Guanabara. Um dêsses turistas, emocionado, pronuncia para si mesmo; “Que pela é a haía de Guanabara”. Essa exclamação poderá ser feita por outros, por todos até. É um pensamento que se repete em nais de Lina pessoa. O pensamento como possibilidade é o n: mento vivencial, a singularidade manifestada em cada um, é di- Terente. smo, mas o pensa- 159 MÁRIO FERREIRA DOS SANTUS Inteligência e instinto Procuram os psicólogos realizar uma tarefa difícil; a de dis- tinguir a inteligência do instinto. O que logo ressalta nessa dis- tinção é que a inteligência é flexível, muito mais que o instinto. A inteligência tem a seu favor o passado, as experiências que ela coordena e aproveita para q exame das novas situações, como também para coordenar novas atitudes. A inteligência em assim uma acinação progressiva, criadora. Vimos como é distiaguido o instinto dos reflexos, Vejamos agora quais as características comumente acentua- das no que se chama instinto. O instinto é cego. Tal é verifi- cável nos animais: o cão, mesmo quando domesticudo, pisoteia o lugar onde vai dormir, como se devesse dormir sábre a crva. O gato faz o gesto de tapar seus excrementos, mesmo quando os de- posita sôbre pedras (Drieseh). O instinto tem certa especialidade e guia o animal com regularidade, como também tem certa espe- cificidade parque é próprio de cada espécie de animal, é imutável e perfeito desde que nasce, o que é combatido, em parte, pelos translormistas, Aceitam assim os psicólogos em geral que, no instinto, há ausência de aprendizagem c perfeição do resultado. Assim há filósofos que identificam o instinto à inteligência e outros que a tal se opõem totalmente. É fácil vermos quanto hã de unilateral e univoco em qualquer das duas atitudes, Mas antes de exami- narmos essas opiniões, façamos um rápido estuda histórico das levrias elaboradas para explicar o instinto. Alguns filósofos, como Condillac, Wallace e Bain reduzem o astinto ao hábito, sustentando, assim, que o instinto não é inato, No entanto, é fácil verificar-se que há instintos que antecedem a tôda educação, e é bastante veriticálo individualmente em cada animal, Já Lamarck e Spencer aceitem que o instinto é hereditário, isto é, transmissível de individuo ascendente para indivíduo des- condente. Os hábitos, que deram lugar à origem dos instintos, foram costumes activos e não passivos. PSICOLOGIA 1) O animal compreendeu o úBl de tal acção e a exercita volun- tariamente até torná-la automática e perfeita Assim penetram nêlo actos voluntários e reflexivas, operações, portanto inteler tuais, c a herança dêsses hábitos adquiridos. Dessa forma o ins- tinto é apenas uma inteligência degradada (“pased intelligence”) Tal opinião é combatida por muitos. É preciso que se note que neste tema, tamanhes são as discussões que não é possível sintetizá-las, pois us experiências sucedem-se umas às outras é ainda não se acham suficientemente amparados as biólogos para estabelecer uma norma capaz de levá-los a uma solução que sa- lisfaça & todos, porque todos procedem actualizando certos as pectos e virtualizando outros, que desconsiderun. Verilica-se, por exemplo, que 0 instintos são mais podero- samente desenvolvidos cm animais que demonstram menos inte- ligência, como os insectos, enquanto, no homera, são éles menos desenvolvidos, Propõe Perrier uma tecria muito interessante, fundada na era que poderíamos chamar de era de ouro dos insectos, Du- rante o periodo primário da nusso globo, dadas as suas condições, os insectos representavam os sêres predominantes. A temperalura era suave e conheciam êles um desenvolvi» mento extraordinário e tinham: uma vida mais longa, Nessa época, eram os insectos de exlraordinário desenvolvimento e tam- bém devem: ler tido wu grande desenvolviuento da inteligência. O que resta koje, nos inscelos de vida curta, anual em geral, são apenas as reminiscências daquela época, e essa a razão dos ins- tintos tão desenvolvidos que encontramos neles, A teoria rcre- ce ser considerada, Os neo-darwinistas discordam, coma Darwin, da teoria do Lamarck e consideram 6 instinto como um “veilexo composto”. O instinto é considerado como uma soma de diferenças aci- Eentais, conservadas pela selecção natural, Não podendo os psicólogos resolver à problema do instinto, procuraram reduzí-lo ou à inteligência ou a simples reflexos, como iá vimos, temerosos de admitir una invedurtibilidade a mais, o que desagrada sempre à vazão, como já vimos tantas vêzes 152 MÁRIO FERREIRA DUS SANTOS Em face das inúmeras observações e experiências feitas pelos entomologistas e biólogas, vemos que elas corroboram suas te as quais outras cxperiências c observações vêm destrui e ves futar. Tal estado de coisas, coloca o problema do instinto dentro de uma das iraiores controvérsias que surgiram nos debates da Elosofia e da biologia, ainda longe de Lerminar. Isso não impede, que nós, aproveitando nosso método de estudo, que já fundanenknsos. apliquemo-lo aos factos já conhe. cido, e possanas coordenar algumas observações que nos permi- fam mama visão mais clara de tão magno problema. Alguns lactos ób: rvados, que já salientamos, podem ser tais como a verificação de que os iropis- mos são mais cvidentes nos animais inferiore: 4 de A proparção que emos na escala animal, vemos que o tropisma domina, pois, aí, a hetcrogencização é menor, por estar bloqueada, o que não se verifica nas animais superiores, onde os actas jesiintivos são mais heterogêncos, mais diferenciados, isto é um animal não repete com a mesma hosnogencidade o acto instintivo de outro. Há di- iorenciações no acto coma também há maior heterogeneização no campo de actividade, no lempo vital dos mesmos. Nos animais inferiores, o campo da evolução é rostringido, a heterogeneização é reduzida e o tropismo é mais exacto, como mais pobres os reflexos em matizes diferenciadores. Há aí uma actualização da homogeneidade, da precisão. Já nos animais superiores, c isso fai o que nos mostrou Pavlov, os rellexos simples são substituídos em grande parte pelos xeilexos condicionados, Estes já não têm o carácter bruto da- queles, pois como o salienta Pavlov, hã agui diferenciações isn- portantíssimas, variações de indivíduo para indivíduo. Veriti- cou êle que os animais superiores procedem opositivamente em sua actividade nervosa. Ao lado dos enalizadores nervosos (que apreendem o diferente), que são os sentidos, que seleccionam os estímulos, hã uma actividade sintetizadora rerzosa dos hemisfi rios cerebrais (que apreende o semelhante). Tal facto é importante para corroboração de nossas op! Um ser vivo é wma entidade sintética que sc defende, é um toda que defende sua homogeneidade, embora seja composto de partes (helerogêreas portanto) uma entidade que reago no & nm PSICOLOGIA ts cumtra v imundo exterior, Explicar o ser vivo apenas cena mn conjunto de factos naturais, como apenas uma realidade físico- química, num meio ambiente físico-químico, sem considerar nesse ser vivo uma interioridade sintética e uma exterioridade analí- tica — em suma, como um ser em antagonismo interior, complexo « dialéctico, e em antagonismo exterior, com reciprocidade tar bém complexas c dialécticas é querer colocar a vida no simples campo da matéria bruta Os Iactos “ísico-químicos obedecem a uma homogeneização progressiva, enquanto o imunda vivo manifesta um devir contrá- vio, uma heterogencização progressiva. Os fetos físicos tendem a simplificar-se, enquanto a vida tende a complic A evolução verificada na vida é diferente de qualquer “evo- lução” que se possa descobrir ou alisar nos (actos da físico- química. Uma lende à identidade, crquanto outra tende à diferenciação. A vida contém os mesmos dinamisnios antinômivos do uvi- verso Íxico, mas actualiza ela o que aquêle virtualiza. O instinto não é algo que se ajunta À vida, é algo que per- tence à vida; é a vida. Explicar à instinto é explicar a vida, como explicar a vida & explicar o instinto. Por outro lado, no estudo dos instintos não se deveria tratar de um instinto de uma espécie isoladamente, abstractamente. O instinto é a vida manifestada « não pode ser iudado isolada e abstractamente. Exaruinar a manifestação insintiva de um animal e querer explicáa dentro do vampo da sua espécic, seria o mesmo que explicar a vida, pela explicação da vida dos felinos, ou dos ca- rídeos, ete. Não busca a biologia explicar uma manifestação da vida, mas a vida. Assim também quanto so instinto. Essa a razão porque erram tanto os psicólogos quando, baseados apenas num facto, que revela instinto, querem. sôbre êle, construir uma teoria, Outros factos (diferentes naturalmente) acabam por re- futar a teoria esboçada. Vamas partir dos factos isolados para, coordenados, pacer- mos construir uma teoria geral do instinto, que, depois, deverá ser aplicada aos factos novos, para ver se com êles se voarluna. 14 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS Há para nós demasiada precipitação dos psicólogos quando alirnam ou negam o instinto, quando o reduzem a outra activi- dade ou não, porque em todos há o mesmo pecado: actualizar demais o que interessa, e vistualizar o resto, cuja importância não percebem, mas que, posteriormente, vai servir para refutar as suas teorias. Se o mundo físico-químico actua por acções e reações, essas não desapareeem no mundo orgânico, porque êste, como já vimos, “EN também inorgânico. No mundo inorgânico predominam os factores de extensidade sôbre os de intensidade; no mundo orgã- nico, o dinamismo é inverso, e a relação entre uns c outros é va- xiável. É natural, portanto, que surjam nos fenômenos vivos, os fe- nômenos físico-químicos. Mas querer explicar a vida apenas por êstes, é actunli ando os outros, Assim, em tôda manifestação instintiva, há manifestaç o-quiticas, porque em tôda actividade animal bá manifestações Eísico-químicas. Há complementaridade portanto á-los, virtual: des Tisi Não há vida orgânica sem corpo orgânico, sem matéria orgã- nica. Mas não há matéria orgânica sem elementos inorgânicos. Mas identificar uma à outra, foi o êrzo dos materialistas, Como o ser vivo apresenta uma urdera dinâmica diferente, êle forma um ser à parte no meio Jísicu-químico. Ele opõe-se é sente à oposição exterior. A reciprocidade que se forma entre a ão do meio exlerior e 0 ser orgânico gera um antagonismo. O ser vivo, para conservar-se como ser vivo (e para nós o mistério sa inversão do dinamismo, eujo tema só da vida está apontado mn poderemos estudar na “Noologia”, necessita captar do ambiente o que lhc convém e defender-se do que lhe é prejudicial. Seus órgãos analisadores, tôda u função biológica, em suma, é uma marcha à homologia, ao igual, &o mesmo, 20 semelhante, à sua esquemática. Procura, do ambiente, o que The é afix, e repele o que lhe é prejudicial. A função vital, biológica, é selectiva, utilitária, Não haveria vida se assim não se processasse o fenômeno bio- lógico. Esto facto é importante salientar, porque a evidência da PSICOLOGIA Lo vida é uma prova da diferenciação, da necessidade de de! senão a vida já teria desaparecido. Nessa acção em busca das ejins. o ser vivo heterogenciza-se. Os sêres vivos mais inferiores ao busc: o que lhes é con- veniente, igual, semelhanie, que lhes permita conseryvarem-se, di- ferenciam-se, heterogeneizam-se. Eis a dialéclica da actividade vital. Acrescenta experiências às experiências. Os sêres vivos conhecem estados agradáveis, fáceis, favoráveis e desagradáveis, difíceis é desfavoráveis. So actuam sôbre o ambiente, sofrem do ambiente sua actuação também, Há uma reciprocidade dos contrários, Busciuido a semelhan- te, o homogêneo, a vida se helerugenciza Onde separaremos a vida do instinto em tôda es: acção? São instinto c vida a mesma coisa? Permancecm o mesmo sempre? Com o desenvolvimento do ser vivo, o que parecia apenas reflexo, toma caracteres de diferenciação cada vez maior, Foi o que vimos, quando salientamos que todos os psicólogos reco- nhecem que há maior estabilidade entre os reflexos do que entre os tropismos, que êstes se tornam mais heterogêneos, e eis os tactismos, que sendo mais complexos são os reflexos condiciona- dos, é mais complexos ainda, alguns consideram como os actos inteligentes. A heterogeneidade da vida Na vida há helerogeneizução crescente, e com ela heteroge- neixam-se aquêles fenômenos, que têm o nome geral de instintos Mas a heterogencização é o produto da reciprocidade dos Tactores antinômicos: a) do antagonismo das duas ordens dinâni nico e o inorgânico, na entidade processual sintética, que é o indivíduo vivo; as entre o orgão b) do antagonismo entre a entidade viva e o meio ambiente; 160 MÁRIO PERRIJRA DOS SANTOS São os hábitos considerados activos vu passivos. O hábito activo consiste numa actividade que é repetida, di- [íeil ao princípio, por ex: tocar p ano. Passivo é uu costume que se adquire, sem uma acção cons- ciente, volicional, como por ex. o de não enjoar, com o tempo, nas viagens. Consideram alguns que a repetição é a criadora do hábito, tous, na realidade, a repetição reforça o hábito, não o cria Na primeira vez que um acto “vi realizado, está criado, coxo possibilidade, e a repetição vai servir para reforçá-ly como acto. Os hábitos passivos são adquiridos pela prolongação da ac: com & graduação da intensidade do excitante exterior. 14 actos adquiridos pela vontade: são os actos úteis, é uma série Todo o sistema de Lrabalho, de avção realizador c hábito, de uma longa aprendizagem. No início, são naturalmente bisonhos, mas a repetição sofre, pela neção da vontade, unia correção progressiva dos ensaios. Inicia-se por uma decomposição da acção, que é feita por partes, até con- seguir o dominio geral que dá a maestria, que é o acto já ntaticado cum independência da consciência dirigente, adqnividos, atrar Este aspecto leve alguns psicólogos a afirmar que o hábito traz um debilitamento da consciência. Há cxagêro nessa alimaliva Se realmente a repetição, ctingido o grau de hábito, traz consigo certo automatismo, há apenas debiliturento aparente da consciência, porque esta, como tensão, nada perde, nois está virtualizada apenas no acto habitual, que é feio sem a sua participação, mas é conservada para surgir onde e quando necessária. Nenhum pianista, que tenha atingido ao hábito, que tenha conquistado a maestria, que possa executar Jo piuno a sua função, sem necessidade de ter consciência de cada movimento das dedos debilitou sua consciência que é aplicada, então, em outros aspee- tos e partes do seu trabalho, « que lhe permite atingir outro grau du muestria. Por isso o hábito não é uma acção que favereça a inconsciên- cia. Ao comrário, êle permite que a consciência seja aplicada a PSICOLOGIA 181 outros aspectos mais elevados, e é isso, em grande parte que (a vorece o progresso da actividade, humana como também da sen sibilidade. É essa posição inicial que leva muitos psicólogos a confun- dir também o hábito com a adaptação biológica. Nesta, que é de acção fisivlógica, não entra a consciência e, portanto, o hábito não executa nenhum papel, porque naquele, há a influência da von- tado c de tôda a vida reflexiva do homem, coma encadeamento de idéias; há uma contribuição pensamental O que levou também a essa confusão foram os hábitos passivos, Mas êsses não são tão passivos como se pensa, porque se não há actividade da parte do hemem na realização de actos exteriores, há uma actividade psi. cológica. E cssa aelividade é complementar de ma actividade de ordem (como por exemplo; o que enjoa muito, estorça-se por não enjoar; movimenta suas possibilidades também orgânicas). Por uma in- terpretação de funções psicológicas e biológicas, julgou-so que se podia confundir a adaptação biológica com o hábito. Não há hábito onde não entre a consciência accional, uma «ela a ser atingida, como já descrevemos em “Filosofia c €Cos- movisáo Foi por não terem prestado a atenção devida ao hábito, que alguns filósofos acabaram por reduzílo a uma manifestação da inércia, enquanto outros, pondo-se num campo oposto, atribui. rxam-no à liberdade. Na sua parte bivlógica, que é a exiensisia, a seção da vontade, que é infensista, não é predominante, mas interfere, actua sôbre aquela, estimula aquela. A parte volicional é de um grau maior ou menor. Quando predomina, passa o hábito a ser apenas um produto da ventaúe, e não upemes um produlo da inércia, O hábito pertence sómente aos sêres vivos, como o sulientava Aristóteles, Certos factos, porém, levaram alguns ilósolos a atribuir o hábito tanihém às coisas inanimadas, Certos corpos tendem a repelir suas combinações, outro a [acilitar uma acção quando repetida, como o exemplo da borracha, que se torna mais favorável à elasticidade, quando repetida a seção. Se existe aqui uma espécie de adaptação, que mostra certa semelhança com as u 162 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS adaptações biológicas, não se deve, porém, confundir com o há- dito, que é do ser vivo, com o que se dá com as coisas inanimadas. Já vitnos que nos sôres vivos há também o mineral, O há- bito Lens mia correlação coby 6 mineral, como com o orgârie mas também conto puicelógico, que é imprescindível e que se não dá com as coisas dunimadas. Desta forma, no hábito, há algo mais, e & Gee algo mais que a distingue, que o diferencia, 2 «ue não permite a conhusão que se vê Iveglientemente, Considerado assim, vemos que não se deve confundir o há- bito com a inércia, que se veriliva na natureza. Para os que de- Jendem à lese contrária, o hábito, nos séres vivos, é apenas uma excepção, quando a regra é u inércia geral, que se observa no mundo, como é a opinião de Comte e de Léon Dumont. O hábito, que se observa ros sêrcs vivos, verifica-se er co relação com a vida nervosa, psíquica dêsses sêr uma complexidade, que vai desde os mais simples animais até o homem, como o ser psicolôgicamente rais desenvolvido que ca- nhecemos, . que conhecera Para facilitar-se a compreensão do tema, podemos distinguir os hábitos dos hábitos psicológicos. Nos primeiros, o papel da consciência é menor, e consegiicn- temente o da vontade. Mas, para adquirir um hábito é necessá rio a intervenção da vontade para rorrigir os defeitos e eliminar os actos parciais inúleis. No hábito psicológico, há uma direção da atenção e tôda cdu- cação da atenção exige pre-perecpções e ante-conceitos, mediante js a espírito espera o que há de suceder, Na verdade, o hábito chega a efeitos que imitam à inércia, mas exige sempre a intervenção do esfôrço e da atenção, portanto da consciência aceicnal. A AFECTIVIDADE TEMA vI ARTIGO 1 O FUNCCIONAR AFECTIVO Recordando o que estudamos no primeiro capitulo dêste livro, repotimos que a afectividade não deve ser confundida, pura e simplesmente com a sensibilidade, como € comum fazer-se sob pena de incidir-se em situações aporéticas (diliculdades tcóricas). Não se pode, na psicologia, pretender estudar o terna da afec- tividade segundo o ângulo metulísico. 4 redução da afectividade cumo o propõe a teoria Fsiolo- ampo da psi- às funções meramente orgânicas vista, e outras semelhantes, esvapa em parte ao cologia. No cntanio, a ela cabe responder perguntas como: se está submetida a vontade à afectividade ou a afectividade à vontade? » de Outro tema importante, que inclni êste, é o du rela causalidade entre os factos alectivos e os [actos fisiológicos, Parlamos de algumas premissas: já vimos que pensament umplamente considezado, é tudo quanto existe, tado quanto hã, sob todos 05 mados de ser e de relacionar-se, tudo quanto man- tém relação, que pode ser avaliado, medido, captado esquemãt camente, como já o mostramos em “Lógica e Dialéctica” e em “Filosofia e Cosmovisão”. Captação dos pensamentos O peasamento, estrictamente considerado, como 0 estuda à psicologia, é o seto de pensar, acto de captação de pensamentos A intuição intelectual, ao captar as semelhanças e as diferen- gas, capta pensamentos. (Não esqueçamos que, etimológicamente 170 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS Quando se fala cm “estados afetivos” não se deve compreen- der êsse têrmo como significando estadas em sentido meramecte passivo. A vida afectiva é também ativa. Aliás, uma visão clara » nes levaria a não separar, no existir, o acto da ividade. Podemos actualizar a, mas se a rossa e Filosófica do potência, nem a ao o lado activo, e virtunlizar o pa mente separa, não o vidi al vi vo ent vico-ver ara nalurera. E, psicolôgicanee, ainda seria mus fácil reconhecer a vali- dez dessa nossa alivmação, Não há fenômenos nem factos ps qui- cos meramente passivos. O que é pussive, o é num esquema, não em suas partes componentes, Não há no sensório-moteiz o pura- mente passivo, cume não há na oxistência o que não ofereça a hibridez de aeto e potência, até quando torando funcionalmente, ao tratarem lapóe-se prêviamente ao estudo dos ps do tema da aleetividade, saber a influência exercida pela tendên- ivilade ou cia sôbre a actividade esportênes, gerada pela alte pelo prazer. A teimosa providência abstracionista, que consiste em redu- zio qualquer facto, quer scja &lc da ciência ou da filosofia, a uma carisa única, a uma única explicação, é uma das atitudes mais bárbaras do nosso espírito, e cuc nasce de rossa preguiça mestal, do automatismo da razão já conquistado através de mi- Tênios, com que o homem lutou tenazmente para alingir à capaci dade horrogeneizadora, que já temos por tantas vêzes estudado em nossos trabalhos anteriores Conguistada à capacidade, quer conservá-la e, por preguiça, a fim do cvitar novas investigações, prefere a solução homogenei. adora da razão, de que já obteve domínio, sôbre a qual exerce sua maestria. É o prazer que nos provoca as tendências cu é a satisfação da tendência quo nos dá prazer? A observação dos factos nos mos- tra que a realização de uma tendência nos dá prezer, mas a se- Giiência de um prazer pode construir um esquema que leva a uma tendência, Mas esta já é qualitativamente diferente do pra- zer. Um homem, que ao empreender uma actividade, nela encon. tra um pracer, estructura um esquema que é o da tendênci realizer tal ectividade que lhe dá prazer. Mas a tendência já sc PSICOLOGIA ts caracteriza quelitulivamente dliierente do prazer para iranslor mar-se numa actividade espontânea. Não há armbienie onde a erílica seja mais generalizada e abstracta. e tão pouco dialéctica, como na apreciação, por exem- plo, das actividades industriais e comerciais. Coro há muitos homens que na ânsia de enriquecer, constroem grandes negócios, julgam-se todos os empresários como meramente gananciosos. No entanto há grandes homens de negócio que não se afanam na sua actividade apenas para ganhar dixheiro, mas em satisfazer uma tendência à actividade criadora. Outro exemplo nos é dado pelo avarento que guarda o dinheiro, não para proporcionar sozos me gastá-lo, mas apenas para satisfação da activação do esquema “re- ter o valor”, e não do usá-lo ralz ma A vontade Lem sua mais genu declividade. A raz pode classificar, esclarecer; não pode porém criar a impulso accional. Costumam alguns psicólogos considerar como ajecticidade ra- cional a que experimenta prazer nas realizações de ordem ideal. Continua aqui presente a coniusão entre afecuvidade e sensibi- lidade. O ideal pode ser estructurado pela razão, mas é de ordem afectiva o impulso que leva a êle. Por que alguns homens so em- polgam por êste ou aquêle ideal, enquanto outros permanecem in- diferentes? HA ideais que, quando expostos, entusiasmam a uns e não à outros. E na realização de uma abra ideal, bá os nais decididos e os mais fracos. O papel da alectividade aqui é dec sivo. Não é ra atectividade racional, mas racionalizada. A acção da razão na luta contra uma tendência alectiva só se processa pela oposição de outra alectividade antagonista, de cuja luta a razão pode captar as relações. Não construímos agecios com = razão, nem podemes com ela influir sôbre a sua gênese. Mas é preciso notar que o conheci mento permite uma tomada de consciência cie um estado afectivo e da possibilidade de mobilização de impulsos afectivos contrá- rios, para opor-se àguêle. Dessa forma, há um papel também da razão, que consiste em poder levarmos a fixar & atenção sóbre nosses possibilidades accionais alcetivas. O domínio das afeições depende de uma higicre moral e men- tal, e pode consistir, em parte, no evi ias exteriores predisponentes que facilitam a emergência do afecto. 122 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS Combatemos nussus impulsos, não só através de inibições da von- tade de origem alecliva, mas também evitando as condições lavo- xáveis, a que nes eusta sucnos esfôrco do que vencer o afecto posto em acção persterionmento É por isso mais fácil a quem & susceptível de cds do à acios deprimentes, evitar o primeiro cálice do que wvilar o segundo. porque aí já a afetividade encontra cume eimerpência Excilitada pela predisporên- cia da ingesbio do álcoul le e ser Os estudos actuais da alectividade levam a psicologia a lber- tar-se da ditadura intelectunlista da psicologia elássica, que pro- curava qu explicação de todos os factos psíquicos no campo da in- telectualidade, e, sobretudo, no da razão. Cara os românticos, a primazia da afeclividade loi estabeleci da, e a psicologia não poderia deixar de sofrer essa itfluência. E vemos, hoje, entre as maiores psicólogos, que a tendência ao pri- miado da afentividade é manifesta. Entretanto tal proceder gera e gerará conseqiier temente ns mesmos defeitos, embora diversos, mas quantitalivamente iguais aos exageros do intelectualismo, Só uma visão noológica, que compreenda a relacionamento Ginâmico, fuucional da afectividade e da intelectualidade, com suas raizes mergulhadas na sensibilidade, como propomos, visualizando sempre dialtvticamento todo facto psíquico que não deve ser se- parado de sua concreção, senão abstractumente para estucá-lo. mas devolvendo-o sempre à conereção de que faz parte, para uma visão mais ampla, impedirá que aos exageros de uma direção correspondam es exageros da direção inversa. Quando Ribot estabelece o papel fucdemontal da afectivida- de no desenvolvinento dos [actos psíquicos, cetualiza uma ver- dade, não tôda verdade psicológica. Reclmente a afeetividade é mais duradoura que a intclectuali- dade, A alectividade precede à intelectualidade e perdura após esta ter esgotado sua seção. Os sentimentos de infância antecedem à intelectualidade, perdutam durante esta, e mantêm-se após paz- sur a actividade intelectual, A alectividade é maiz eficaz. A imn- telixência mostra os lins, os meios, mas sem a afertividade é ir possível uma actividade (interêsse) . PSICOLOGIA ves Outros subordinam a alectividade à inteligência, Ox exem- plos do esportista, que desperde a máxima energia para estar em forma não é apenas uma aclividade criada pela intelectualidade. O exame dus centros ccrebrais do pensamento, predominantes sôbre os centros da atectividade, sôbre a camada opto-cstriada, mostram, segundo alguns, a victória progressiva da intelectuali- ade sôbre a aleclividade, Augusto Comte chegava a [alus na in- conveniência da afectivitade, e proclamava a victória da região frontal sôbre a rcgiãn posterior. Seria uma victória da civilização sôbre a barbérie, Vemos ficilmente que os românticos da psicologia actualizam o papel da aleelividade (sempre confusamente considerada com a sensibilidade), enquanto o renascimento inteleetualisko do posi- tvismo, pragmatismo, ete., proclama a actualização do inteleetiral. Ambos actualizam e virtualizan. Mas esquecem de ver o ho- mem concretamente, Se há um desenvolvimento da intelectuali- dade, esta não impede o desenvolvimento a aiectividade que pode, em muitos homens, estar virtualizada aos seus olhos, mas que esplente, vlura c significativamente, na afectividede que êles de- monstram pela valorização da intelectualidade, o que ainda é paixão. Além dis as descrições meramente tápicas dos homisférios cerebrais não são suficientemente claras para estabelecer um pri- medo om uma hierarquia de valôres cerebrais. O perigo acúsmico da razão está precisamente em desviar a aloctividade do sou ram- po genuíno, para levá-la à actuar no campo abstracto da razão, acentuando o excesso de intelectualismo. Um progresso no homem rão será nunca paveial, mas global. Se a vida de hoje nos leva a temer a alectividade, como “coisas do sentimento”, expressado em sentido pejorativo pelos extrema- mente intelectualizados, é preciso ver quanto há de paixão aí, e considerar também quanto há de desvio do valor fundamental e vital da afectividage para q aniquilamento que promete a razão em suas últimas providências. Nietzsche dizi , com bastante pro- cedência, que a razão tem um segredo que ela não gosta de reves lar, o qual consisto, em sua última providência, em alcançar « nada absoluto, a mais perfeita e absolula hormogeueização. TEMA VI ARTIGO 2 PRAZER E DOR. AS EMOÇÕES A sersibilidade pura os Filólogos € irritibalidade, eveitabilidade, Para es psicólogos é era à faculdade de perceber, ora a faculdade de experimentar prazer e dor. Vamos prelerir ôste último enun- ciado. Em cada um des instantes da vida psicológica há prazer ou dor e, às vêzes, prazer e dor. A vida psicológica não é independente da parte somática (do corgn) do ser humano, que é a que nos interessa no momento. Não vamos nem quezemos reduzir os factos psicológicos a factos meramente [isiológicos, como já fivesnos ocasião de explicar. Mas se negamos a redutibilidade de uns aos outros é porque reconhe- cemos que o grupo de factos, que Lormam os psicológicos, têm ii tensidade e características próprias, com objecto também próprio, mas que mantêm correlação com as factos fisiológicos. Não há vida psíquica sem repercussões [isiológicas, como também não deve haver factos Esiológicos que não tenham qual- quer repercussão psíquica, embora muitos dêles permaneçam in- conscientes. Duas palavras vamos encontrar a lodo instante: emoção é sentimento. Fregiientemente as vemos usadas como sinôn. nas. Mas também usam a palavra emoção no semido de iranstômno afectivo, brusco e passageiro, c a palavra sentimento significando uma modificação afectiva mais durável, na qual penctram ele- mentos intelectuais. Alguns psicólogos falum em emoção-choque, que poderíamos dizer em português comução, isto é, um choque brusco, muitas vêzes vivlento, intenso, com aumento ou detenção dos movimen- tos, como por ex. o mêdo, à [uga, ele. iso MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS egundo a concepção corrente, no comêgo de tóda emnção há a idéia quem produz a emoção, orgânicos, e se manilesta em gri- vs, tremores, ote, Serii cosa a order uma percepção ou mma idéia. É a qual se tediz por Iramstorne tos gestos. amovitia idéia e cemeçãe O cenpressão di emoçã Alguém, longe de sua iunada, pensa nela, alligese, o que o leva à iristeza, às légrimas. Willien James e Lange propuseram uma inversão dessa ordem: idéia — expressão da emoção —, emução Assim: O amante longe da amada pensa rela, chora, par isso entristece, soire. Então atiima Williun James “Minha teoria é que as mulações corporais seguem imedia- tamente à percepção do facto excitente, c que o sertimento que temos dessas mutações, à medida que se produzem, é a emoção. O sentido comum diz; Perdemos nossa fortuns, afligino-nes e choramos. Encontramos um urso, alemorizando-nos e lugimos; um rival nos insulta, encolerizamo-ros c castigamo-lo. A hipó- tese que vamos sustentar aqui afirma que essa ordem: de é inexata; que um dêsses estados que ar maniiestaçõe bos e quo 6 mais racional é dizer que estamos tristes porque cho- ramos; irritados, porque atacamos; atemerizados, porque tresne- mos, c que não choramos, atacamos ou iremenmos porque estamos tristes, irritados ou alcmorizades, Sem os estudos corporais, cun- secutivos à percepção, esta úllima sevis puramente cogaoscitiva pálida, descolorida, sem: calor emocional, Veriamos o urso e jul garíamos sensato fugir; recoberiamos o irsulto e encontraríamos justo responder com um sôce: mas não ros sentivíamos nesses anomentos atenorizados nem celéricos”. essão mentais não deriva do outro; s corporais têm que se imerporem entre am- Realmente, e êste é o argumento principal desta leuriu, não , Ea , poderíamos conecber uma sensação de anêdo sem que nenhuma mocilica cão houvesse no nosso organismo. Como poderíamos cor. ceber que estivéssenos culéricos, sem que nenhum movimento houvesse mo nosso corpo? Que demonstra tudo isso? Que é o sentimento apenas um duto das expressões emotivas? Não: apenas nos mostra uma coneenporuneidede. PSICOLOGIA E O entrelaçamento estreito dos faetos fisiológicos com as paico lógicos não nos permite darmos a uns ou a outros à primazia cronológica, as sim 2 contemporaneidade Além disso podemos observar que a idéia de um perigo, a me- morização de um facio desagradável nos podo encher de tr a eza odenos levar a manifestações de riversas emoções, contem porâneas, em seu desabrochar, embora perdurem e nos dêem impressão de uma posierioridado no tempo a Nem: que se izessem observações de carácter fisiológico que marcassem ro tempo certa propriedade. poderimras deixar de aceitar a contemporaneidado do sentimento, isto « quie êle so desse an mesmo lempo euee as enturos, pois o que bos poderia en- sanar, dando-nos a impros: vo que um sucede sto sutro, seria spo nar um grau de intensidade da consciência, ou seja, teriamos uma consciência mais nítida do sentimento, numa fracção emboca anj- nima de lempo posterior. Além: disso, a idéia de um facto agradá- vel ou desagradável já é um facto psicológico que está ligado us próprio sentimento, pois, conio vimos, k em todos os iuctos da viga uma selecção, viva escolha, A idéia de wm facto agradável ou desa- gradável, já traz em si o início do sentimento que se desabrocha simultâneamente com as manifestações emotivas, ou sejar) os trans- fornos corporais, o que se enguadra perfeitamente no que disse inos acima. Síntese dos temas irutedos Prazer e dor são lagicamenie indefiníveis. Entzelanto, prazer e dor tão tópicos, localizâv Alegria e tristeza são estados póthicos, vão tópicos. Não temos uma alegria ou uma tristeza aqui ou ali, mas sim uma dor aqui ou ali. Tóda a vida ulecti (párkico) está ligada à sensibilidade (por- tanto à vida orgânica, ao somáiico) O prazer e à dor são acompanhados de modificações porilé ricas ou extracerebrais. O prazer é dinamozênico, tonifica, enguanto a dor dituinui o tones e a cnergia física; abate. nº MARIO PRNILCIRA DOS SANTOS O prazer temo no cotantos limiar vuriâveis, Ultrapassados, torna-se dessgrantivel Gr desagusdabibelande já é nm estada de eoneralizaeão, e murea a qusseagtem de soncaDilidade JU aloctivida- des 0 mein se ado cant a apratabilidule. Sentimos, no prazer. uma agiradadililade O prazero equi é Lópico, pencraliza um estado de besr estaro apradidalidateo Vemos aqui evidentemente à ine inrpenetração da afetividade com a sensibilidade). A vida afectivo é inseparável da vida psíquica. Tal idemifi- são eialéetica va unidade vital não implica a redutibilidade da vida aleetiva à psíquica em geral, porque há neles distinções, es- Iructuras qualitativas diferentes, como mostra nossa teoria gera dus tensões, O prazer c a Gor são qualitativamente diferentes, embora se identifiquem na mesma vaiz da sensibilidade. A teoria fisiologista explica o prazer e a dor como consequên- cia de modilicações orgânicas. No entanto, considere-se a influên- cia que a consciência, a etenção portanto, exerce na agudização da dor. Por isso, procuramos distrair os soiredores. A presença das modificações físicas afirma apenas a cortemporâneidade, não uma mera sequência de causa e efeito. Alma c corpo são inseparáveis na vida. A explicação cortrá- ria decorre dos preconceitos atomistas na psicologia, que lêm sua origem na concepção palcofilosófica do atomismo, já superada pela concepção cstructural que caracterizará a nova iilosoliu. É impossíecl mostrar aqui o fundamento smetefísico errôneo da psicologia, porque escapa tal explanação s condições dêsto livro, Para os intelectualistas gregos (estóicos), experimentar pra- zer é sahey-se feliz; sofrer é saber ou acreditar que se é infeliz, Para o intelectualismo de Descartes, o homem é apenas pen- samento: quendo netivo temos a vontade: quando passivo, o ei tendimento. O praze» é a dos, quando passivos, são “percepções” ou “pensamentos” do entendimento. Os afectos são apenas modi- ficações orgânicas, mas condicionadas “o entendimento. Mas & dor física precede a Lôda representação. Tenho con: viência de uma dor aa tê-la. Não é a consciência que a cria, mes é a consciência que a acompanha. PSICOLOGIA Bt Para os aciívistas, a afectividade é apenas um modo «e actividace. Para us pessimistas Kurt, te.) a acção é sofrimento (Sehopenkan Tela ici da qualidade, lei de Grete, Dá prazer quando há equi- valência entro as fôrgas dispendidas e es Iôrças disponíveis”. “Há prazer quando as lórças disponiveis são dispendidas no sentido das tendências Com essa [ci vesolve-se a polêmica entre pessimistas optimista A dor pode tornar-se pruser, e vice-yersa. Por sua vez há terpenetração da dar no prazer. Tu prazer além das fôngas dis- poníveis causa desagradabilidade e, posteriormente. dor. Um pra- zer pode ser e é mesclado com dor, Prazer-agradabilidade x desagradabilidade-dor O praser utinge e provoca um estado páthico-sensível de apr dabilidade; aumentado, sobrevém o do desagradabilidade, prosso- guindo-se à de dur. Mas devc convir-se que à dor está sempre preserte zo prazer, com o qual sc identifica na unidade do facto psíquico, Mas é virtualizada no instante de prazer. Sua intens'- úade é menor que a daquele. Prosseguindo a intensidade do pra- zer, atinge seu elimax, con a virtualidade ainda da dor, para su- ceder um decrescinento da intensidade prazeirosa, e aumentar actualização da intensidade de. zcirosa, até atingir um gra: àe plena actualidade, enquanto o prazer é virtualizado. Um não se torna, portanto, o outro: um actualiza ou virtua- liza o outro. Essa coneepção Gialéctica do prazer e da dor evita as inúme vaz polêmicas que sc iundam em actualizações da nossa cons- ciência, e apenas sôbre clas se estribam. A neurologia vem em favor da nossa tese. Tal teoria nos pode explicar porque há certo encanto na dor, como o interésse gue temos pela tragédia. Há um prazer ro hor rível. Sua acentuação unurmal cria o que posteriormente se cha- maria de algofilia, o sadismo (prazer na provocação da dor em uutro) e até 9 masogtisuio (prazer na provocação da dor em si mesmo). as MARIO PERGRIRA DOS SANTOS A virtualização de toa dor aumenta e tisur de intensidade do prazero Par ico cendimos preze quando deixamos do sentir a oro TE vice vers Nao Dá privação de dor mem de prazer, mas apenas actualizações aenaçis ou estonsivas. Dor e prazer cão fundamentar cum Cori vidiro Sto praedadivicdaçde aum cxpliva a corn- ecituação que Lone e E ese inesnia pradalividade que nos ex- plica a impossibilidade de reduzir os fartos psíquicos aos esque- nus formais que nao são gradativos, mas excludentes. Por isso, eme peenlenda. amais que eus quelener curra ciência, a dialéctiea é metodolôgicanento mais proveitos: Para os pessimistas, a dor € positiva; o prazcr, não. Seria êste privação daquela. Fara os optimistas, é o prazer que é positivo; a dor, pura privação daquele Tais atitudes mostrar sus clara improcedência ante gumentos já expostos. Antigamente 05 psicólogos viam na agradabilidade e na de- sagradabilidade apenas variedades de prazer e de do Heje já se compreende a distinção existeme. O desagsadável pode rão sc: tipicamente doloroso, como o agradável pode não ser Uipicanente prazeiroso. Na agradabilidade « na desagradabilidade há frônese (Iusão crescente), na dor e no prazer há objectividade, por serem tópicas (de topos, ingar, Inealizáveis), cuquanto as ouitas são generali- zadas, estados já protopáthicos, segundo a linguagem de Ifead. Não são matizes da Gor c do prazex, Se revelam fraca inten- sidade a agradabilidade e a cesagradabilidade, é por obede- cerem à lei dialéctica que afirma que o aumento da extensidade implica diminuição da intensidade e a diminuição da extensidade implica aumento da intensidade. A agradabilidade c a desagradabilidade, por aumento da ex- tensidade, conhecem diminuição da intensidade. A dor, porque é de reduzida extensidade, é de maior intensidade, Entretanto a intersidade pode crescer. O exemplo da agulha nos mostra. Uma PSICOLOGIA Eta vicada, de “eve, é uma dor locafizada, rias quando a picada é aprotundada, a dor extende-se e à intensidade cresce par olender maior número de nervuras. O aumento da picada leva o desen- volvimento da dor a tôda uva cegião, até tornar-se total, Somos totalmente dor. Nesse memento, atingimos uma generalidade que provora um estado póthico de trônese, de fusão cbjecliva-subjeciva, A intensidade é grande na extensão meno: to da intensidade leva so desbordamento extem: cresce e, por nossa k mas o eres vo. Ea dor que ', expande-se, Val facto não vega o enunciado da dialéctica acima exposta A dor eo prrer ão sinais. Indicamos bai ou ram fun cionamento orgânico. A dor e o pra? estimulantes da acçã A des c o prazer são tambéra sanções das nossus uetividados. A paz de consciência é una saução das nossas onecaçõee; a má evolucionista explies que o que é bom para nós dá-nos o que é mau. desprazer. E tal ia por selceção natu- +al. Os primeiros sêres tinham gostos é inclinações sem corves- pondência rom a utilidade. Havia tendências nefastas que leva- ram so desaparecimento de algumas espévies. Perduraram apenas quelas que harironizaven suas necessidades vitais. Essas sobre- viveram e transmitiram aos descendentes suas Lendências. Esta teoria explica porque temos prazer nos uetos útcis, m vão explica porque temos prazer nos não-úteis, e até prejudiciais. v que são ainda remi- Tod m no entanto, es evolucioristas diz niscências dêsse primitivismo, pois a evolução ainda 1 o lerminou. 2) A teoriu clássica afirma uma finalidade no mundo, O pra sobrevém quando cumprimos essa finalidade; o desprazer, r. casos inversos. As ferdências ãos sêves vivos são manifestações dessa necessidade. ser s 199 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS do desconhecido, até à curiosidade culta do que quer saber por saber, Essa inclinação € estinnilada por outras e também por móveis sociais, além dos quárálonicos. A vação da actividade e do perigo são inclinações, O que- ver sentir, o querer experimento novas cinações, o querer des- cobrir, que já revelani so intolipência Loveiária, cumo estudarerãos na Noolo; são também inclinações. Essa actividade cria, vive realiza-se às vêzes em actos de do- minação, e são de acção também social. E é pela acção social que surge a vaidade, o orgulho. O orgulho é naturalmente tacituroo; a vaidade é fanfarrona O orgulhoso espera imável as demursirações de estima que de- seja obter; é a sua espontaneidade que, aos seus olhos, dá-lhe tado o prêmio. le não as pedirá, vu, pelo meros, não parecerá pe- dílas. Elo esperará que elas venham; e, para ser capaz do agir assim, é preciso que possua a fculdade de mandar em si mesmo. Ele se alimenta de estima, precisa racionar-se; mes sabe jejuar. Outro é o homem vão. Seu aperite é ainda mais agudizado que o do orgulhoso, Não há sbundância que possa satisfazê-lo, mas pouca coisa lhe causará prazer, e durante algum tempo, êcla se contentará. Vai ertão, de porta em parta, mendigando o pão necessário à sua fome irsuciável. (Jerôme Hentham “Deva- tologia”, citado por Foulquié). Examinemos cs inclinações egoístas: Em todos os si vivos se ohsevva uma vontade obscura de viver, tentiência do ser em perseverar no ser, como cl Spinora. (1682-1677). Mas êsse ser é observável sob dois as- pectos: como sexdo, isto é como existir cro movimento, como é o humem como existente e, posteriormente, como ser homogênco, de integração no Todo uu no reino da divirdade, como vemos na “Ontologia” e em “O Homem perante o Infinito” (Teologia). Aquela inclinação foi julgada por muitos como primordial às outras, como a origem das outras. A essa inclinação primordial se dá às vêzes o nome de “instinto de couservação”, Mas já vi- mos o que diferencia as inclinações dos instíinios. Estes são rcações motrizes perleilamente definidas, que se produzem idênti- Avi PSICOLOGIA 191 sumente nas mesmas circunstâncias, em todos os indivíduos de uma espécie, Entretanto, quanto ao homem, os instintos não são poderosos e tão eficazes como vemos nos animais, e êste é um ponto importantíssimo, pois o homem revela uma certa aberração, uma perda dêsse guia poderoso que é o instinto, como por exem- plo, q é para os animais, Se observarmos as crianças, vemos que estas, instintivamente, fevam. tudo à boca e procuram deglutir todos os objectos, o que obriga a um cuidado intenso para evitar os males que lhes possam advir. É o homem um animal de estô- mago fraco e de grande incapacidade para guiar-se quanto à ali- mentação, sem o auxílio dos mais experimentados. Não tende apenas para manter sua vida, imas lunbém para fortalecê-la, para dominar tudo quanto pode aumentar Ssse poder, consolidálo. É aí que a “Vontade de Potência” de Nicbysche se artualiza em Vontade de poder, de domínio, de dominação. As inclinações altruistas e sociais são, quento ao objecto, in- clinações familiares, c temos: O amor, já distinguido do puramente sexual, que se dirige ao outro sexo. O amor pode dirigir-se aos pais, aos filhas, ete., to- mando os abjeciivos que v qualiiicam (amor filial, paternal, etc.) A amizade, que para Tomás de Aquiro é “um amor de benevo- lência mútua, fundada sôbre uma certa comunicação”, é um dos temas mais controversos da psicologia, Quem nunca leve um amigo, não acredita em amigos; quem já os teve, afirma à ami zade. Sem reciprocidade não há amizade. Um sentimento do simpatia, sem reciprocidade, não é amizade, Esta pode formar-se entre vários, mas a ideal é entre dois. A camaradagem é uu início de amizades sólidas, mas apenas isso. O amor conjuga!, surge do amor que no noivado é diferente de quando no casamento, pois há comunidade de hens, e aquêle se fortaleve ou não. Entre as inclinações sociais, temos: o espírito de clusse, de grupo, que une [urtemente as pessoas, dá-lhes o sentido da soli- dariedade (solidus, sólido, um bloco só), o sentimento patriótica, o humaniturismo. 192 MÁRIO FFEREIRA DOS SANTOS As inclinações altruísias vm simpáticas merecem um estudo mais acurado, pois rande é a controvérsia travada sóbre elas. Essas imelimaçães ar tiamilestam em actos variados do homem em benefício da elusse. di tribo, da família. dos séres amados, da pátria, Para alguns, o altmismo é apesas um egofmo, Deriva-se o allruismo daqueley La Iucheloncanld pensuva assim. Para êle não há verdadeiro desinterêmse, IE as aparências de desin- terêsse não passam de “hábeis disfarces do amor próprio, do amor dé si mesmo e de tódes as coisas para si”. E dizia; “as virtudes se perdem no interêsse, como os rios no mar”, Le Rochefoncauld inspivava-se no ambiente social en: que vivia e iundava-se nas suas grardes decepções pessonis. Entre- Lanto à tesc de La Rocheioucauld partia de um ponto falso, pois sem sempre quem pratics um acto de abnegação, de sacrifício, de altruísmo, pensou antes em luzêlo. No risco de uma vid "um gesto imediato de quem salva alguém que está em perigo de mocver, não há uma deliberação, produto de um raciocínio. % um gesto imediato, sem rellexão discursiva utilitária, pois se fal se desse poderia até alisboi-se da seção. É que a inclinação que leva à prática de cetos altruístas é alguma coisa de meis específica e profunda no homem, que estudaremos mais adiante Estas palsvres de Boustar. responder perfeitamente aos ar- gumertos de La Hocheivucauld: “A tese... contém, além disso, contradições internas. Para que nos corvenha fingir a modéstia, a amizade e a graiidão verdadeira, é mister que a vecdadei déstia, a verdadeira amizade c a verdadeira gratidão existam pelo menos algumas vêzes. Que berfeitor deixaria enganar-se par uma gratidão simulada, se nunes tivesse experimentado a forma sincera dêsse sentimento? Não há falsificações onde se ignora o uso da moeda verdadeira” À 0- Não são poucos os filósofos e psicólogos que derivam o al- truísmo do egoísmo, entre élos Sluart MBIL James Mill, Spencer, Húttding e muitos outros. Por exemplo, para Spencer, o cgols- mo é v único serticiento primitivo. O homem primitivo dispu- tava com os ou o alimento c tinha de ser, portanto, egoista Os sentimentos altruistas, pensava éle, são um luxo que só a vilização poderia oferecer. Os factos, no entanto, ajudam a desmentir Spencer. O ver. dadeiro egoísmo exige antes de tudo o eu, a personalidade, como PSICOLOGIA á tivemos ocasião de estudar. A eriança não lêm ainda es personalidade desenvolvida, pois a separação do eu do meio am biente é um processo que se desenvolve lentamente. Tunto a criança como o selvagem tendem a imitar os outros ique é já uma forma primitiva de simpatia), do que própriamente em entrar em conflito, e opor o seu egoísmo & outros egoísmos. Durkheim responde com argumentos sólidos à tese espenee- riana, mostrando como o sentimento de personalidade é muito posterior nas sociedades humanas. Mas os mais sólidos e pra- fundos argumentos, acompanhados de uma sequência impressio- nante de factos, foram apresentados c coligidos pelo grande so- ciólogo anarquista Kropotlóne, em seu famoso livro “ Apóio Má- tuo”, Foi com êsse livro que Kropotkine lundamentor à tcoria ética do cooperativismo, das sociedades de apóio mútuo, de so- corros mútuos, que prolileram hoje gelo mundo, como também sustentou uma moral fundada nos impulsos altruístas que, para êlo, não só existem é xe dão vos homens primitivos, como pertenco « tóda espécie animal bi-sexuada, inclusive até nos animais de rapina. Trazendo uma seglência impressionante de factos ohserya- dos, po: anos e anos de cstudo sôbre os animais, verifica-se que o cpôio mútuo manifesta-se entre êles, como entre os bomens, nas formas mais diversas, apresentando actos de abne- dos amais elogilentes, verdadeiros sacrifícios de individuos mente que ação em benelício do grupo social a que pertence. Natu nas grandes cidades, nas metrópoles modermas, êsse apêio mútno está muito enfraquecido. No entanto, nas vilas, nos lugares de população menos densa, como também nos bairros operários, à apôio mútuo se verifica de forma cloquente. Vemos, assim, que, com Kropotkine, as inclinações altruístas não pertencem apenas à espécie humana, mas a tôda espécie animal bi-sexuada. Reproduzamos as suas palavras: “Em tôdas as partes onde há sociedades, há altruísmo porque existe solidaricdade. Também a encontramos desde os começos da humanidade até numa forma verdadeiramente intemperante. Porque essas privações a que se impõe o selvagem para obedecer à tradição religiosa; a abnegação com que sacrifica sua vida desde & momento em que a sociedade reclama o scu sacrifício; a pen- 194 MÁRIO FRRRFIRA DOS SANTOS dente irvesistível que leve a viúva da frdia a seguir o marido na monte; ao gaulês não sobreviver ao seu chefe de clã; ao veiho celta so desembarigar seus compenheicos de uma bôca iníúlil, mediante mm im voluntário, tudo isso não é altrafemo? Dirão que essas prálicas são saperstivoca? Que importa, com tal que plicdio pe enlionar a vida? Não há de de estos, Semelhante deri vação só seria possível meali mi ma é tação ex-nibilo (isto é, uma criação do nada). Mar, em vigor, estas duas fontes de con- duta se encontraram presentes, desde q comêço, em tódes as cons- ciências humanas. porque não pode haver nelas fontes que não reflitam, por sua vez, coisas que se relacionam únicamente com o indivíduo; oue não lhe são pessoais... Para tudo o que sobre- passe as necessidades fisicas, a consciência primitiva, segundo ssão de M. Espinas, está inteiramente fara testemmenheim unia dizer-se que o alimismo nm Depois dessa longa citação, em que Kropotkinc sc funda- mentou nos factos sociais para escrevê-lo, pudermos penetrar agora vo terreno da simpatia prôpriamente dita, inclinação que, depoi de Nietzsche para cá, tornou-se um dos temas mais inpoctuctes àa psicologia moderna e que tem significações próprias Literalmente a palavra simpatia signíiica o incto de sentir, com alguém, um estado afectivo, c é formada de duas palavras gregas - syn & pathos. que significam com e paixão, que tam- bêm tomou à Lorma latina de compeisão. Adam Smith iunda- menta na simpetia tôda a seciabilidade, puis essa não & apenas o sentir juntamente com alguéra uma afeição, mas também à cepro- dução da mesma no sujeito participante. Temos então a significação da simpatia como um sofrer con Malape:t classificou as formas da simpatia em três: a) há imitação, quando o indivíduo, que reproduz o fez consciente e voluntixiamerte, sem o imitado sabé-lo nem querê-lo; b) há sugestão, quando o individao que reproduz o faz in- voluntária e inconscientemente, provocando no outro, intencional- mente, os estados; e) há eoatágio quando nem um nem outro operam voluntã- riamente, PSICOLOGIA 19% Para Schcler, só há sinpatia naqueles estados ou sentimentos em que há realmente purticipação, e não somente atração vital ou contágio afectivo. Os actos simpáticos prôpriamente ditos se culam muma série de actos intencionais que culminam no amor e que compreendem o sentimento em comum cum a exis iência c consciência de uma elara separação entre os sujeitos par ticipantes, a autêntica participação num sentimento único por su- jeitos cistintos cm suas diversas espécies: como participação alectiva direta, coro reprodução emociona] de um sentimento alheio e como compreensão emocional, que não necessita precisa- mente ser participação no sentido de reprodução, no sujeito que compreende, dos mesmos actos experimentados pelo sujeito com- proendido. 'irês formas de inclinações »impátéticas são observi contágio, a imilação das atitudes que aos leva às emoções; o amor materno c o instinto gregário, Junte-se agora u lôdus essas in- inelinações as rellexões discursivas do espirito humano, e tere- mos os Iratizos diversos que se manifestam nas tendências al truístas c cgo-alLruíst vols: O As inclinações idegis, impessoais, também chamadas de de- sinteressedas, são as inclinações à ciência, à arte, à justiça, os sen- timentos estéticos, os sentimentos morais mais primitivos, como o instinto de igualdade [aeilmente comprovável nas eriauças, o sen- tido de justiça, à respeito às combinações (eitas, observáveis nos brinquedos infantis, como também « curiosidade, manifestada na erigaça e no homem primitivo, êssc desejo de conhecer, de saber, Bsse impulso pata o conhecimento, êsse anor instintivo à verdade, essa tenfência de fruição intelcctual (a filosofia, por exemplo, coma amor desinteressado ao saber). Os estados afectivos não só patenteiam a inclinação como tam- bém à supõem. A experiência revela-nos as tendências, pois o que nos agrada, nos satisfaz, ou nos aborrece e nos dá despraver, segundo corresponda ou não às nossas tendências, Esta à razão par que não se pode separar as inclinações e as tendências dos estados efectivos, com os quais mantêm relações estreitas. As- sim, na evolução da tendência, observam-se dois momentos:
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