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Guias e Dicas
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Introdução à Economia N.Gregory Mankiw - Livro (parte 3) POLITECNICOS.COM.BR, Manuais, Projetos, Pesquisas de Economia

LIVRO DE ECONOMIA

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2017

Compartilhado em 10/08/2017

ton-udi-11
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Baixe Introdução à Economia N.Gregory Mankiw - Livro (parte 3) POLITECNICOS.COM.BR e outras Manuais, Projetos, Pesquisas em PDF para Economia, somente na Docsity! DESiGUALDAL POBREZA A\ umca diferenca entre os ricos e os outros", disse Mary Colum a Ernest Hemingway, "é que os ricos tern mais dinheiro". Pode ser. I\4as essa afirmacao deixa muitas questaes sem resposta. A cliferenca entre os ricos e os pobres é urn topic() de estudo fascinante e importante — para os confortavelmente ricos, para os pobres que se esforcam e para a classe media, corn suas preocupacoes e aspiracoes. Corn base nos dois capitulos anteriores, voce ja deve ter algum entendimento de por que pessoas diferentes tern rendas diferentes. Os ganhos de uma pessoa dependen-i da oferta e demanda pelo seu trabalho, que por sua vez depende do talent() natural, do capital human°, dos diferenciais compensatorios, da discrimi- nacao e assim por diante. Como os ganhos do trabalho representam cerca de tres quartos da renda total da economia americana, os fatores que determinam os sala- rios sa-o tambem, em g,rande medida, responsaveis por determinar como a renda total da economia é distribuida entre os v6rios membros da sociedade. Em outras palavras, dies determinam quern é rico e quern é pobre. Neste capitulo, discutiremos a distribuicao de renda — urn topic° que levanta questoes fundamentals a respeito do papel da politica econemica. Urn dos Dez Principios de Economia do Capitulo 1 é de que os governos as vezes podem melho- rar os resultados de mercado. Essa possibilidade é particularmente importante "Pelo que me diz respeito, podem fozer o que quiserem com o solOrio mThimo, desde que ri,ao interfiram com o solOrio mOximo." 430 PARTE 6 A ECONOMIA DOS MERCADOS DE TRABALHO quando consideramos a distribuiao de renda. A mao invisível do mercado age de maneira a alocar recursos com eficiência, mas isso nao garante, necessariamente, que eles sejam alocados com justia. Como resultado, muitos economistas - mas nao todos - acreditam que o governo deve redistribuir a renda para conseg,uir uma maior igualdade. Ao fazer isso, o governo se depara com outro dos Dez Principios de Economin: As pessoas enfrentam tradeoffs. Quando o governo adota politicas para tornar a distribui o de renda mais eqüitativa, distorce os incentivos, altera os com- portamentos e torna a alocaao de recursos menos eficiente. Nossa discussao da distribuiao de renda se dara ern tr's etapas. Primeiro, avalia- ren-los o grau de desigualdade que ha em nossa sociedade. Em seguida, considerare- mos alguns dos diferentes pontos de vista sobre a funa.- o que o govemo deveria desempenhar na altergao da distribuiao de renda. Por fim, discutiremos diversas polificas pUblicas que tth-n por objetivo ajudar os membros mais pobres da sociedade. gri-h NIENSURACAO DA DESIGUALDADE Comeamos nosso estudo da distribuiao de renda abordando quatro quesh5es ligadas à mensurgao: • Quanta desigualdade ha em nossa sociedade? • Quantas pessoas vivem na pobreza? • Quais os problemas que surgem na mensuraao da desigualdade? • Com que frecjincia as pessoas mudam de uma classe de renda para outra? Essas yuestes de mensuraao sao o ponto de partida natural a 13artir do qual se discutem as politicas púhlicas que pretendem mudar a distribuiao de renda. Desiguaidade de Renda nos Estados Unidos Imag,ine que você enfileirasse todas as familias da economia segundo sua renda anual e enta- o as dividisse em cinco grupos ig,uais: o quinto inferior, o segundo quinto, o quinto intermediario, o quarto quinto e o quinto superior. A Tabela 1 mos- tra as faixas de renda de cada um desses grupos. E mostra tambem a renda de corte para os 5% superiores. CAPITULO 20 DESIGUALDADE DE RENDA E POBREZA 433 Pais 10% mais pobres 10% mais ricos Raza"o TABELA 3 Japao 4,8% 21,7% 4,5 A Desigualdade pelo Mundo Alemanha 3,3 23,7 7,2 Esta tabelo mostra a porcentagem do renda que os Canada 2,8 23,8 8,5 10% mais ricos e os 10% mais pobres do populacOo India 3,5 33,5 9,6 deteLp. A razoo entre esses dois numeros mede a Reino Unido 2,6 27,3 10,5 diferenca entre ricos e pobres. China 2,4 30,4 12,7 Fonte: World Development Report: 2002, p. 234-235. Estados Unidos Russia 1,8 1,7 30,5 38,7 16,9 22,8 Copyright 4: 2002 Banco Mundial. Reproduzido corn permissao do Banco Mundial no formato livro-texto via Copyright Clearance Center. Nigeria 1,6 40,8 25,5 Mexico 1,6 41,1 25,7 Africa do Sul 1,1 45,9 41,7 Brasil 1,0 46,7 46,7 Quando os paises sao classificados por grau de desig-ualdade, os Estados Unidos ficam no meio do gr, upo. Em comparacao corn °taros paises economicamente avancados, como Japao, Alemanha e Canada, os Estados Unidos apresentam desi- g-ualdade substancial. Mas os Estados Unidos tem distribuicao de renda mais ig-ual do que muitos paises em desenvolvimento, como Mexico, Africa do Sul e Brasil. • A Taxa de Pobreza Uma medida comum da distribuicao de renda é a taxa de pobreza. A taxa de pobreza é o percentual da populac5o cuja renda familiar se encontra abaixo de urn nivel absoluto chamado linha de pobreza. A linha de pobreza 6 estabelecida pelo govemo federal em aproximadamente tres vezes o custo de uma dieta aclequada. Essa linha depende do tamanho da familia e é ajustada a cada ano para levar em conta =dal-lc:as no nivel de precos. Para se ter uma ideia do que nos diz a taxa de pobreza, vamos considerar os dados de 2000. Naquele ano, a familia mediana teve rencla media de $ 50.890 e a linha de pobreza para uma familia de quatro pessoas era de $ 17.603. A taxa de pobreza era de 11,3%. Em outras palavras, 11,3% da populacao era membro de familias corn rencla inferior a linha de pobreza. A Figura 1 mostra a taxa de pobreza clesde 1959, quando comecam os dados ofi- ciais. Poclemos ver que a taxa de pobreza caiu de 22,4%, em 1959, para 11,1%, em 1973. Essa queda nao surpreende porque a renda media da economia (descontada a inflacao) cresceu rnais de 50% nesse period°. Como a linha de pobreza é urn padrao absoluto, nao relativo, mais familias sac) traziclas }.-)ara cima da linha mecii- da que o crescimento economic° conduz toda a distribuicao de renda para cima. Como disse John F. Kennedy, a mare alta erg-ue todos os barcos. Desde o inicio da decada de 70, contudo, a mare alta da economia deixou alguns barcos para tras. Apesar do crescimento continuado da renda media, a taxa de pobreza nao ficou abaixo do nivel atingido em 1973. Essa falta de avancos na redu- cao da pobreza nas tiltimas decadas esti estreitamente relacionacia ao aumento da desigualciade que vimos na Tabela 2. taxa de pobreza o percentual da populacao cuja renda familiar se encontra abaixo de urn nivel absoluto denominado linha de pobreza linha de pobreza urn nivel absoluto de renda fixado pelo governo federal para cada tamanho de abaixo do qua l a familia e considerada em estado de pobreza A Taxa de Pobreza A taxa de pobreza mostra a por- centagem da populacao com renda inferior a um nivel absoluto chama- do linha de pobreza. Fonte: U.S. Bureau of the Census. 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 Percentual da Popula0.o Abaixo da Linha de Pobreza 25 Taxa de pobreza 20 15 10 5 0 1960 434 PARTE 6 A ECONOMIA DOS MERCADOS DE TRABALHO FIGURA 1 Embora o crescimento econOmico tenha aumentado a renda da famflia tipica, o aumento c-ia desigualdade tem impedido as famflias mais pobres de compartilhar essa maior prosperidade econOmica. A pobreza e uma doeNa econOmica que afeta todos os g-rupos da populg:a-o, mas 1-1' o os afeta com igual freqencia. A Tabela 4 mostra as taxas de pobreza de diversos grupos e revela tres fatos marcantes: • A pobreza está correlacionada à rac;a. Neg,ros e hispffi-licos tem cerca de tres vezes mais probabilidade de viver na pobreza do que os brancos. • A pobreza está correlacionada à idade. As criaNas tem probabilidade acima da media de pertencer a fan-iflias pobres e os idosos tem menos probabilidade do que a media de ser pobres. • A pobreza está correlacionada à composição da farnflia. As fainflias encabeyidas por um adulto do sexo feminino e sem cOnjuge tem cinco vezes mais probabi- lidade de viver na pobreza do que as farnflias encabeadas por urn casal. Esses tres fatos descrevem a sociedade an-iericana há muitos anos e mostram quais pessoas tem maior probabilidade de ser pobres. Esses efeitos tambem trabalham juntos: entre as crianyis negras e hispffilicas que vivem em fan-iflias encabeadas por n-iulheres, cerca de metade vive na pobreza. Problemas na Mensura0o da Desiguaidade Embora os dados sobre distribui o de renda e taxa de pobreza nos ajudem a ter alguma ideia do g,rau de desigualdade na sociedade norte-americana, interpretar esses dados não é tão simples e direto quanto pode parecer à primeira vista. Os dados se baseiam nas rendas anuais das famflias. Mas o que interessa às pessoas não e sua renda, mas sua capacidade de manter um bom padr .. o de vida. Por diver- sos motivos, os dados sobre distribui o de renda e taxa de pobreza oferecem um quadro incompleto da desigualdade de padr" o de vida. Examinaremos esses moti- vos a seguir. CAPITULO 20 DESIGUALDADE DE RENDA E POBREZA 435 'TABETA 4 Grupo Taxa de Pobreza Tod os 11,3% Brancos nao-hispanicos 7,5 Negros 22,0 Hispanicos 21,2 Asiaticos, ilheus do Pacifico 10,7 Criancas (abaixo de 1 8 anos) 16,1 ldosos (acima de 64 anos) 10,2 Familias encabecadas por casal 5,6 Familias encabecadas por mulheres, sem presenca do conjuge 27,9 Quern E Pobre? Esta tabela mostra que a taxa de pobreza vatic] muito entre as diferentes grupos do populacao. Fonte: U.S. Bureau of the Census. Dados de 2000. Transierencias em Generos As medidas da distribuicao de renda e da taxa de pobreza se baseiam na renda monetaria clas famflias. Mas, por meio de diversos programas governamentais, os pobres recebem itens nao-monetarios, incluindo vales-alimentacdo, auxilio-moradia e servicos medicos. As transferencias aos po- bres dadas em forma de bens e servicos, ao inves de dinheiro, sao chamadas de transferencias em generos. As meclidas-padrao do grau de desig-ualdade nao levam em consideracao essas transferencias em especie. Como as transferencias em generos sao recebidas predominantemente pelos membros mais pobres da sociedade, a sua na-o-inclusao na renda afeta em muito a taxa de pobreza medida. De acordo corn urn estucio do Census Bureau, se as trans- ferencias em generos fossem incluidas na renda pelo seu valor de mercado, o ntimero de familias em estado de pobreza seria cerca de 10% menor do que indi- cam os dados padronizados. 0 importante papel desempenhacio pelas transferencias em generos toma mais dificil a avaliacao das mudancas na pobreza. Ao longo do tempo, coin a evolucao das politicas ptiblicas de amparo aos pobres, a composicao da assistencia em ter- mos de dinheiro e transferencias em generos muda. Parte das flutuagoes da taxa de pobreza medida, portanto, reflete a forma do amparo oferecido pelo govern° e nao a verdadeira medida da privacao economica. 0 Cicio de Vida Economic° A renda varia de maneira previsivel durante a vida de cada pessoa. Um trabalhador jovem, especialmente se estiver estudando, tern renda baixa. A renda aumenta a medida que o trabalhador ganha maturidade e experiencia, atinge seu pico em tomo dos 50 anos de idade e cal acentuadamen- te quando o trabalhador se aposenta, por volta dos 65 anos. Esse padrao regular de variacao da renda é chamado de ciclo de vida. Como as pessoas podem tomar emprestimos e poupar para suavizar as varia- goes da renda durante o ciclo de vida, seu padrao de vida en-1 qualquer ano depen- de mais da renda ao longo da vida do que da renda naquele ano. Os jovens muitas vezes se endividam, seja para pagar os estudos, seja para comprar uma casa, e entao pagam esses emprestimos quando sua renda aumenta. As pessoas tern sua major taxa de poupanca quando chegam a meia-idade. Como elas podem poupar antes de se aposentar, a g,rande queda da renda por ocasiao da aposentadoria nao leva a uma queda semelhante do padrao de vida. Esse padrao normal do ciclo de vida causa uma desigualdade na distribuicao anual de renda, mas nao representa verdadeira desig-ualdade em termos de padrao de vida. Para medir a desigualdade do padrao de vida em nossa sociedade, a dis- transferencias em generos transferencias aos pobres dadas em forma de bens e servicos, em vez de dinheiro cid() de vida o padrao regular de variacao da renda ao longo da vida de uma pessoa 438 PARTE 6 A ECONOMIA DOS MERCADOS DE TRABALHO Mas por causa da utilidade marginal decrescente, a utilidade de Peter cai menos do que a utilidade de Paul aumenta. Assim, essa redistribuiao de rencla aumenta a uti- lidade total, que é o objetivo dos utilitaristas. primeira vista, esse argumento utilitarista parece implicar que o governo deve continuar a redistribuir a renda ate que todos os membros da sociedade tenham exatarnente a mesma renda. Realmente, seria esse o caso se a quantidade total de renda — $ 100 mil no nosso exemplo — fosse fixa. Mas, de fato, ela nao e. Os utilita- ristas rejeitam a completa equalizaao das rendas porque aceitam um dos Dez Prindpios de Economia apresentados no Capitulo 1: As pessoas reagem a incentivos. Para tirar de Peter e dar a Paul, o governo precisa adotar politicas que redistri- buam a renda, tais como o imposto de renda federal e o sisten-ia de bem-estar social. Com essas politicas, as pessoas que tem renda elevada pagam impostos ele- vados e as que tem baixa renda recebem transferencias de renda. Mas, como vimos nos Capitulos 8 e 12, os impostos distorcem os incentivos e causam peso morto. Se o governo retirar a rencla adicional que as pessoas podem ganhar por meio de impostos mais altos ou reduzindo as transferencias, tanto Peter quanto Paul teriam menos incentivos para trabalhar mais duramente. Como eles trabalham menos, a renda da socieclade diminui e, com ela, a utilidade total. 0 governo utilitarista pre- cisa equilibrar os ganhos da maior igualdade com as perdas da distoNao de incen- tivos. Portanto, para maximizar a utilidade total, o govemo nao deve criar uma sociedade totalmente igualitaria. Un-ia f)arabola famosa esclarece a 16g,ica utilitarista. Imagine que Peter e Paul sejam viajantes sedentos, presos em lugares diferentes do cleserto. 0 oasis de Peter tem muita ag,ua; o de Paul, pouca. Se o govemo pudesse transferir agua de um oasis para o outro sem custo, maximizaria a utilidade total da agua, ig-,ualando a quanti- dade dela nos dois lugares. Mas suponha que o govemo tenha somente um balde com furos. Quando tenta transportar a agua de um lugar para outro, parte dela se perde pelo caminho. Nesse caso, um governo utilitarista ainda assim poderia ten- tar transferir alguma agua de Peter para Paul, dependendo de quanto Paul estives- se sedento e de quantos furos o balde tivesse. Mas, se dispuser apenas de um balde furaclo, um governo utilitarista na- o tentara atingir a ig,ualdade completa. Liberalismo CAPITULO 20 DESIGUALDADE DE RENDA E POBREZA 439 de porque precisamos pensar em coma elas afetarao cada pessoa. Como coloca Rawls, "Desde que todos estao em situacao semelhante e ninguem é capaz de esta- belecer principios que favorecam suas condicoes pessoais, os principios de justica sao resulfado de acordo ou negociacao justos". Estabelecer politicas palicas e ins- tituicoes dessa maneira nos permite ser objetivos a respeito de quais politicas sao justas. Rawls passa, entao, a considerar o que a politica publica concebida por tras (Jesse veil de ignorancia tentaria atingir. Mais especificamente, ele considera qual distribuicao de renda uma pessoa acharia justa se nao soubesse se iria estar no topo, na base ou no meio da distribuicao. Rawls argumenta que uma pessoa na posicao original estaria particularmente preocupada corn a possibilidade de se ver na base da distribuicao de renda. Ao estabelecer politicas ptiblicas, 'portant°, deve- mos procurar aumentar o bem-estar da pessoa que esta em pior situacao na socie- dade. Ou seja, em vez de maximizar a soma da utilidade de todos, como fariam os utilitaristas, Rawls maximizaria a utilidacle minima. A reg,ra de Rawls é chamada de criterio maximin. Como o criteria maximin enfatiza a pessoa menos afortunada da sociedade, ele justifica politicas publicas que tenham par objetivo equalizar a distribuicao de renda. Transferindo renda dos ricos para os pobres, a sociedade aumenta o bem- estar dos menos afortunados. Entretanto, o criteria maximin nao levaria a uma sociedade inteiramente igualitaria. Se o governo prometesse ig,ualar completamen- te a renda de todos, as pessoas nao teriam incentivos para trabalhar duramente, a renda total da sociedade cairia substancialmente e a pessoa menos afortunada se veria em pior situacao. Assim, o criteria maximin ainda permite disparidades de renda porque elas podem melhorar os incentivos e, corn isso, aumentar a capaci- dade da sociedade de ajudar os pobres. Ainda assim, como a filosofia de Rawls poe peso apenas nos membros menos afortunados da sociedade, ela requer uma major redistribuicao de renda do que o utilitarismo. Os pontos de vista de Rawls s5o controversos, mas o raciocinio experimental que ele propoe tern forte apelo. Mais especificamente, seu raciocinio experimental nos permite considerar a redistribuicao de renda como uma forma de seguro social. Ou seja, da perspectiva da posicao original, por tras do veil de ignorancia, a redis- tribuicao de renda é coma uma apOlice de seguro. Os proprietarios de imoveis fazem seg,uros contra incendio para se proteger do risco de que sua casa peg-ue logo. De maneira similar, quando nos, enquanto sociedade, escolhemos politicas que tri- butam os ricos para suplementar a renda dos pobres, estamos todos contratando um seg,uro contra a possibilidade de virmos a ser membros de uma familia pobre. Como as pessoas tern aversao ao risco, deveriamos estar felizes por termos nascido em uma socieciade que proporcione esse tipo de seg,uro. Mas nao esti claro que as pessoas racionais por tras do veu de ig,norancia seriam realmente Ca() avessas ao risco a panto de seg,uir o criterio maximin. De fato, como uma pessoa na posicao original poderia ficar em qualquer ponto-da distribuicao de renda, ela poderia tratar odos os resultados possiveis da mesma maneira ao esta- belecer politicas p-Ciblicas. Nesse caso, a melhor politica por tras do \feu de ignoran- cia seria maximizar a -utilidade media dos membros da sociedade, e a nocao de jus- tica resultante seria mais utilitarista do que rawlsiana. I Libertarismo Uma terceira visa.° da desigualdade é o chamado libertarismo. Os dais pontos de vista de que tratamos ate aqui — o utilitarismo e o liberalism° — veem a rencia total da sociedade como urn recurso compartilhaclo que urn planejador social pode livre- criterio maximin a afirmacao de que o governo deveria ter por objetivo maximizar o bem-estar da pessoa em pior situacao na sociedade libertarismo a filosofia politica segundo a qual o governo deveria punir os crimes e fazer valer as acordos voluntarios, mas nao redistribuir a renda 440 PARTE 6 A ECONOMIA DOS MERCADOS DE TRABALHO mente redistribuir para atingir alg,um objetivo social. Os libertaristas, por outro lado, argumentam que a sociedade em si n'a"o ganha renda — apenas membros indi- viduais da sociedade ganham renda. Segundo os libertaristas, o governo não deve- ria tirar de alg,uns individuos e dar a outros com o objetivo de alcanar uma huição de renda particular. Por exemplo, o fil sofo Robert Nozick escreveu o sepinte, em seu famoso livro Anarquia, Estado e Utopia, de 1974: Não estamos na posi o de criaNas que receberam fatias de torta de alguem que agora faz ajustes de últirna hora para corrigir cortes malfeitos. Não hz1 dis- tribuição central, não há uma pessoa ou um gnipo encarregado de controlar todos os recursos, decidindo em conjunto como devem ser distribuidos. 0 que cada pessoa recebe, recebe de outros que lhe fflo em troca de algo, ou como presente. Em uma sociedade livre, diferentes pessoas controlam diferentes recursos e novas propriedades surgem das trocas e de ac;5es pessoais. Enquanto utilitaristas e liberalistas procuram julgar quanto de desig-ualdade desej&vel em un-ia socieclade, Nozick nega a i_->rOpria validade da quest5o. A alternativa libertarista à avaliação dos resultados econ6micos é avaliar o pro- cesso por meio do qual esses resultados surgen-i. Quando a distribui o de renda ating,ida de maneira injusta — por exemplo, quando uma pessoa furta de outra o govemo tem o direito e o dever de remediar o problema. Mas na medida em que o processo que determina a distribui o de renda seja justo, a distribui o resultan- te tambern o ser& não importa o quão desig,ual seja. Nozick critica o liberalismo de Rawls fazendo uma analogia entre a distribui o de renda na sociedade e a distribui o de notas em um curso. Suponha que voce fosse chamado para avaliar a eqiiidade das notas do curso de economia em que está matriculado.Voce se imaginaria por trs de um veu de ignorkicia e escolheria uma distribui o de notas sem conhecer o talento e o esfoNo de cada aluno? Ou se certificaria cie que o processo de atrihuição de notas aos alunos é justo, indepen- dentemente de a distribui o de notas resultante ser igual ou desig,ual? Pelo menos no caso das notas, a enfase dos libertaristas no processo, em detrirnento do resul- tado, é convincente. Os libertaristas concluem que a igualdade de oportunidades é mais importante do que a ig,ualdade de rendas. Eles acreditam que o govemo deve fazer valer os direitos individuais para garantir que todos tenham a mesma oportunidade de usar seus talentos e ter sucesso. Uma vez estabelecidas as regras do jogo, o governo tem qualquer rnotivo para alterar a distrihuição de renda resultante. Teste R4icio Pam ganha mais do que Pauline. Alguem prope tributar Pam para suplementar a renda de Pauline. Como essa proposta seria avaliada por um utilitarista, um liberalista e um liber-tarista? POUTICAS DE REDUC -40 DA POBREZA Como acabamos de ver, os filOsofos politicos tem diversas teorias sobre o papel que o crovemo deve desempenhar na altera o da distrihuição de renda. 0 debate tico entre a g,rande populaio de eleitores reflete uma discusso semelhante. Apesar desses debates, contudo, a maioria das pessoas acredita que, no mínimo, o governo deveria tentar ajudar os mais necessitados. De acordo com uma metfora popular, o governo deveria oferecer uma "rede de seguraNa" para impedir que qualquer cidado sofra uma grande queda. CAPiTULO 20 DESIGUALDADE DE RENDA E POBREZA 443 sas politicas os programas de moradia popu- lar e as zonas de empreendimento. A recen- te Assistencia a Moradia Rural e Desen- volvimento EconOmico (Rural Housing and Economic Development Assistance) para o estado do Kentucky ou a nova Concessao de Potencializacao de Zona (Empowerment Zone Grant) para o Leste de St. Louis, Illinois, sk) exemplos tipicos das politicas baseadas nos luga res. 0 problema com programas baseados nos lugares e que eles criam incentivos a manutencao dos pobres nos guetos. Ao sub- sidiar o lugar e nao a pessoa que la vive, essas politicas fazem com que seja mais atraente para os pobres continuarem nas areas de alta pobreza. De fato, pesquisas recentes mos- tram que as politicas supostamente benevo- lentes de habitacao e transferencias para os pobres representam um papel crucial na con- centracao dos pobres em guetos. E dificil entender a logica em limitar arti- ficialmente a migracao e em concentrar os pobres em areas de baixa produtividade. Movimentos para fora das areas de baixa produtividade e alto desemprego sao uma das razOes pelas quais as taxas de desem- prego nos Estados Unidos se mantem bai- xas. Alern disso, a fuga dos guetos permitiu que muitos afro-americanos evitassem o custo social de viver neles e a segregacao de negros e brancos nos Estados Unidos decli- nou substancialmente por causa dela. Os programas baseados nos lugares tam- bern sofrem pelo fato de que uma parcela desproporcional de seus beneficios vai para os proprietarios de imoveis nas areas visadas — e nao para os beneficiarios pretendidos. Se o governo oferece beneficios fiscais as empre- sas que investem em uma regiao pobre, por exemplo, entao elas irk se estabelecer nessa area, elevando o preco das propriedades e os alugueis. Mas os beneficios da maior ativida- de econOmica evaporarao porque o custo mais alto da moradia ira corroer os beneficios planejados para os necessitados... Se as politicas baseadas nos lugares sac) tao ruins, como podem ser tao populares? Um observador cinico poderia dizer que os moradores dos sub6rbios ricos preferem que os pobres permanecam nos guetos. Uma explicacao mais pratica e de que temos politicos baseados nos lugares que fazem lobby por politicas baseadas nos lugares... Uma sabia alternativa a essa defeituosa assistencia aos pobres baseada nos lugares seria um programa que oferecesse benefi- cios fiscais as empresas que empregassem os necessitados. Este seria um meio menos distorcido de ajudar os pobres. Fonte: The Wall Street Journal, 12 ago. 1999, p. A22. Copyright © 1999 Dow Jones & Co. Inc. Reproduzido corn permissao de Dow Jones & Co. Inc. no formato livro-texto via Copyright Clearance Center. I mpost° de Renda Negativo Sempre que o govern° escolhe urn sistema de arrecaciacao de impostos, isso afeta a distribuicdo de renda. Isso é claramente verdade no caso do imposto de renda prog,ressivo, segundo o qual as familias de alta renda pagam uma 1,-)orcentagem major de sua renda ern impostos do que as familias de baixa rencia. Como vimos no Capitulo 12, a equidade entre gr, upos de renda é urn criterio importante no pro- jeto de urn sistema tributario. Muitos economistas sao favoraveis a suplementar a renda dos pobres usando urn imposto de renda negativo. Segundo essa politica, todas as familias cleclara- riam sua renda ao govern°. As familias de alta renda pagariam um impost() basea- do em suas rendas. As farnilias de baixa renda receberiam urn subsidio. Ern outras palavras, "pagariam"urn "imposto negativo". Suponha, por exemplo, que o govern° use a seguinte formula para calcular quanto uma familia deve em impostos: Impostos devidos = (1/3 da renda) — $ 10 mil. Nesse caso, uma familia que ganhasse $ 60 mil pagaria $ 10 mil em impostos, e uma que ganhasse $ 90 mil, pagaria $ 20 mil. Uma familia que ganhasse $ 30 mil nao pagaria nada. E uma que ganhasse $ 15 mil "deveria" — $ 5 mil. Em outras pala- was, o governo enviaria a essa familia urn cheque no valor de $ 5 mil. Corn urn imposto de renda negativo, as familias pobres receberiam assistencia financeira sem que precisassem demonstrar sua necessidade. A Unica qualificacao necessaria para receber a assistencia seria uma baixa renda. Dependenclo do ponto de vista, essa caracteristica pode ser uma vantagem ou uma desvantagem. Por urn impost° de renda negativo um sistema tributario que arrecada receita das Tam [has de alta renda e concede transferencias a familias de baixa renda 444 PARTE 6 A ECONOMIA DOS MERCADOS DE TRABALHO lado, um imposto de renda negativo não incentiva nascimentos ilegitimos nem a desestnitura o familiar, como os criticos do sistema de bem-estar social acreditam que a atual politica fga. Por outro lado, um imposto de renda negativo subsidiaria aqueles que s"&) simplesmente indolentes e que, na vis^k3 de alg,umas pessoas, 11. 10 merecen-i apoio do governo. Uma clkisula do sistema tributkio que funciona muito como se fosse um imposto de renda negativo é o Eamed Income Tax Credit (EITC), um cr&lito de imposto de renda. Esse crklito permite que familias de trabalhadores pobres rece- bam restitui aes de imposto de renda maiores do que os impostos pagos durante o ano. Como o EITC se aplica somente aos pobres que est^ o empregados, ele desestimula o trabalho, como dizem que os outros programas de combate à pobre- za fazem. Pelo mesmo motivo, contudo, não ajuda a aliviar a pobreza que resulta do desemprego, da doenyi ou de outra caracteristica que impka o trabalho. Transferkcias em Gkeros Outra n-ianeira de ajudar os pobres é lhes fornecer diretamente alguns dos bens e servios de que precisam para elevar seu padro de vida. Por exen-Iplo, 1-11 institui- (;6es de caridade que, no Natal, oferecem aos necessitados alimentos, abrigo e brin- quedos. 0 govemo fornece às familias pobres vales-alimenta o, que s"k) vales do governo que podem ser usados para comprar comida; as lojas depois trocam os vales por dinheiro. 0 govemo tambthn dá a muitas pessoas pobres assistencia por meio de um prog,rama chamado Medicaid. n-lelhor ajudar os pobres com essas transferencias em generos ou com paga- n-ientos em dinheiro? NIo há resposta clara. Os defensores das transferencias en-1 generos afim-iam que elas garanten-1 que os pobres recebam aquilo de que mais precisam. Entre os membros mais pobre.s da sociedade, o vicio ern álcool e droga é mais comum do que na sociedade como um todo. Ao proporcionar alimentos e abrigo aos pobres, a sociedade pode estar mais segura de n5o estar ajudando a sustentar o vicio. Esse é um dos n-iotivos pelos quais as transferencias em generos s • - o mais 1,-)opulares politicamente do que os paga- mentos em dinheiro aos pobres. Os defensores dos pagamentos em dinhciro, por outro lado, argumentam que as transferencias em generos so ineficientes e desrespeitosas. 0 govemo 1-1 0 sabe de que bens e servios os pobres mais necessitam. Muitos dos 1,-)obres são pessoas comuns que não tiveram sorte. Apesar de seu infortimio, eles est"k) na melhor posi- ção 1.->ara decidir como elevar o pr6prio pac-Ho de vida. Em vez de dar aos pobres transferencias em espkie dos bens e servios que eles podem não desejar, talvez seja melhor lhes dar dinheiro e permitir que comprem aquilo que pensam ser mais necessik-io. Programas Antipobreza e Incentivos ao Trabalho Muitas politicas que tem por objetivo ajudar os pobres podem ter o efeito intencional de desencoraj -los a escapar da pobreza por si pn5prios. Para ver 1.->or que, imag,ine o seg,uinte exemplo: suponha que uma familia precise de uma rencia de $ 15 mil para manter um padro de vida razovel. E suponha que, por sua preo- cupa o com os 1_-)obres, o governo prometa garantir essa renda a cada familia. Seja qual for a renda da familia, o governo complernentará a difereNa entre essa renda e os $ 15 mil. Que efeito teria essa politica? Os seus efeitos em termos de incentivos so Obvios: qualquer pessoa que ganhasse menos de $ 15 mil trabalhando não teria qualquer incentivo para procu- rar e manter um emprego. Para cada dOlar que essa pessoa ganhasse, o govemo reduziria a renda complementar em um dOlar. Na prkica, o governo taxaria 100% CAPITULO 20 DESIGUALDADE DE RENDA E POBREZA de cada ganho adicional. Uma aliquota marginal efetiva de 100°/0 é certamente uma politica corn grande peso morto. Os efeitos adversos dessa alta taxa efetiva podem persistir ao longo do tempo. Uma pessoa desencorajada a trabalhar perde o treinamento em uma empresa que poderia contrati-la. Alem disso, os filhos dessa pessoa perdem as licoes que pode- riam aprender ao observa-la trabalhando em tempo integral, e isso pode ter efeitos adversos sobre sua capacidade de encontrar e manter urn emprego. Embora o programa antipobreza que estivemos debatendo seja hipotetico, é tao irreal como pode parecer a primeira vista. 0 bem-estar social, o Medicaid, os vales-alimentacao e o programa de restituicao do imposto de renda (EITC) sdo programas que tem por objetivo ajudar os pobres e estdo todos ligados a rencia familiar. A medida que a renda da famflia aumenta, ela deixa de ter direito a esses prog,ramas. Quando todos esses programas sao tornados em conjunto, é comum para as familias se depararem com aliquotas marg,inais efetivas muito altas. Al- gumas vezes, a aliquota marginal efetiva chega a mais de 100%, de modo que alg,umas familias pobres ficariam em pior situacao se ganhassem mais. Ao tentar ajudar os pobres, o govern° desencoraja essas familias a trabalhar. De acordo corn os criticos dos programas de combate a pobreza, esses programas alteram as ati- tudes em relacao ao trabalho e criam uma "cultura de pobreza". Pode parecer que h uma solucdo simples para esse problema: reduzir os bene- ficios das familias gradualmente, a urn ritmo mais lento que o aumento de sua renda. Por exemplo, se uma familia pobre perde 30 centavos em beneficios para cada &Aar que ganha, sua aliquota marginal efetiva sera de 30%. Embora essa all- quota reduza o esforco do trabalho em certa medida, rid° elimina completamente o incentivo ao trabalho. 0 problema dessa solucdo é que ela aumenta em muito o custo dos programas de combate a pobrcza. Se os beneficios forem reduzidos g,radualmente a medida que a renda das familias pobres aumenta, entdo as familias logo acima do nivel de pobreza tambem estardo qualificadas a receber beneficios substanciais. Quanto mais gradual a reducdo dos beneficios, mais familias estardo qualificadas — e maio- res sera() os custos do programa. Assim, os formuladores de politicas se deparam corn um tradeoff entre onerar os pobres corn aliquotas marginais elevadas e onerar os contribuintes corn programas dispendiosos para a reducdo da pobreza. Hi diversas outras maneiras de tentar reduzir o desestimulo ao trabalho causado pelos prog,ramas de combate a pobreza. Uma é exigir que qualquer pessoa que rece- ba os beneficios aceite urn emprego dado pelo governo — urn sister-11a por vezes cha- mado de workfare'. Outra possibilidade é oferecer os beneficios por urn prazo limita- do. Esse caminho foi adotado quancio cia reforma do sistema de bem-estar social, em 1996. Os defensores do limite de tempo apontam para a reducdo da taxa de pobreza no final da decada de 1990 como evidencia que da suporte a essa abordagem. Seus criticos arg,umentam que os limites de tempo sdo crueis para os membros mais desa- fortunados da sociedade e que a queda da taxa de pobreza no final da decada de 1990 deveu-se mais a uma economia forte do que a reforma do sistema de bem-estar. Teste Rapid() Indique tres politicos que tenham por objetivo ajudar os pobres e discuta seus pros e contras. CONC1 USA° As pessoas ha muito refletem sobre a distribuicdo de renda na sociedade. Platao, o filosofo da Grecia antiga, concluiu que em uma sociedade ideal a renda da pessoa 2 NRT: Programa de obras ptiblicas (iniciativa tomada pelo governo para diminuir o ntimero de desempregados). 445 448 PARTE 6 A ECONOMIA DOS MERCADOS DE TRABALHO ajude alg-umas familias a escapar da pobreza, tani- bem tem efeitos colaterais nc--io-intencionais. Co- mo a assistencia financeira diminui à medida que a renda aumenta, os pobres freqiientemente se de- param com uma aliquota marg,inal efetiva muito elevada. Essas aliquotas efetivas elevadas desenco- rajam as farnilias pobres a escapar da pobreza si prOprias. taxa de pobreza, p. 433 renda permanente, p. 436 criterio maximin, p. 439 linha de pobreza, p. 433 utilitarismo, p. 437 libertarismo, p. 439 transferencias em generos, p. 435 utilidade, p. 437 bem-estar social, p. 441 ciclo de vida, p. 435 liberalismo, p. 438 imposto de renda negativo, p. 443 QUESTI5E5 PARA REVS-A.0 1. 0 quinto mais rico da popula o americana tem renda duas, quatro ou dez vezes maior que o quin- to mais pobre? 2. Como a desig,ualdade de renda nos Estados Unidos se compara com a de outras nay5es ao redor do rnundo? 3. Que g,rupos da popula o tem maior probabilida- de de viver na pobreza? 4. Por que as variay5es transit6rias e ciclicas da renda causam dificuldades na avalia o do grau de desi- o-ualdacle? 5. Como um utilitarista, um liberalista e um liberta- rista deterininam o g,rau perinissivel de desigual- dade de renda? 6. Quais s" "o os prOs e os contras das transferencias eiii generos (em vez de dinheiro) para os 13obres? 7. Descreva como os programas de combate à pobre- za podem desencorajar os pobres a trabalhar. Co- mo você reduziria esse desestirnulo? Quais as des- vantagens da sua proposta politica? PROBLEMAS E APLICAGES 1. A Tabela 2 mostra que a desigualdade de renda aumentou nos Estados Unidos nos últirnos 20 anos. Alguns fatores que contribuiram para esse aumen- to foram discutidos no Capitulo 19. Quais s rio eles? 2. A Tabela 4 mostra que o percentual de criaNas em familias com renda abaixo da linha de pobreza excede em muito a porcentagem de idosos nessas Como a alocay-io de dinheiro do govemo entre diferentes programas sociais contribuiu para esse fen6meno? (Dica: ver Capitulo 12.) 3. Os economistas freqiientemente encaram a varia- ção da renda durante o ciclo de vida como uma forma de varia o transitOria da renda em tomo da renda permanente das pessoas. Nesse sentido, como sua renda corrente se compara com a sua renda permanente? Voce considera que sua renda corrente reflete corretamente seu 1.->adr - o de vida? 4. 0 capitulo discute a importSncia da mobilidade econOmica. a. Que politicas o govemo poderia empregar para aumentar a mobilidade econmica dentro de uma gerac;. o? b. Que politicas o governo poderia empregar para aumentar a mobilidade econ3mica entre gera- es? c. Em sua opinio, devemos reduzir as despesas com os atuais progTamas de bem-estar social a fim de aumentar as despesas com programas que intensifiquem a mobilidade econOmica? Quais s'a- o as vantagens e desvantagens de fazer isso? 5. Considere duas comunidades. Em uma delas, dez familias te‘m renda de $ 100 cada e dez familias tem renda de $ 20 cada. Na outra comunidade, dez familias tem renda de $ 200 cada e dez familias tem renda de $ 22 cada. CAPITULO 20 DESIGUALDADE DE RENDA E POBREZA 449 a. Em qual comuniclade a distribuicao de renda é mais desig,ual? Em qual das comunidades o pro- blema da pobreza tende a ser pior? b. Qual distribuicao de renda Rawls preferiria? Ex- plique. c. Qual distribuicao de renda voce preferiria? Explique. 6. 0 capitulo faz uma analogia corn um "balde fura- do" para explicar uma restricab i redistribuiciio de renda. a. Oual element() do sistema americano de redis- tribuicdo de renda cria furos no balde? Seja especifico. b. Em sua opinido, quern, em geral, acredita que o balde usado para redistribuir a renda est a mais furado, republicanos ou democratas? Como essa crenca afeta suas opiniaes sobre o montante de redistribuic5o de renda que o govemo deveria realizar? 7. Suponha que haja duas distribuicoes de renda possiveis em uma sociedade de dez pessoas. Na primeira distribuicao, nove pessoas teriam renda de $ 30 mil e uma teria renda de $ 10 mil. Na seg,unda, todas as dez pessoas teriam renda de $ 25 mil. a. Se a sociedade tivesse a primeira distribuicao, qual seria o argument° utilitarista para redistri- buir renda? b. Qual distribuicao de renda Rawls consideraria mais equitativa? Explique. c. Qual distribuicdo de renda Nozick consideraria mais eqiiitativa? Explique. 8. A taxa de pobreza seria substancialmente menor se o valor de mercado das transferencias em generos fosse somado a renda das familias. 0 croverno aosta mais dinheiro com o Medicaid do que corn qualquer outra transferencia em generos, corn despesas por farnIlia beneficiaria em tomb de $ 5 mil ao ano. a. Se o govemo entregasse a cada familia beneficiEi- ria urn cheque nesse valor, em vez de inscreve-la no programa Medicaid, voce acha que a maioria dessas familias usaria essa quantia para fazer urn piano de assistencias medica? (Lembre-se de que a linha de pobreza é abaixo de $ 15 mil para uma familia de quatro pessoas.) Por que? b. Como sua resposta a parte (a) afeta sua opinido sobre se deveriamos determinar a taxa de pobreza atribuindo as transferencias em gene- ros valor igual ao preco que o govern° paga por elas? Explique. c. Como sua resposta a parte (a) afeta sua opiniao sobre se deveriamos oferecer assistencia aos pobres sob a forma de dinheiro ou transferen- cias em generos? Explique. 9. Suponha que o impost() a pagar de uma seja igual a sua renda multiplicada por meio, menos $ 10 mil. Nesse sistema, algumas familias pagariam impostos ao govern° e outras recebe- riam dinheiro dele por meio de urn "impost° de renda negativo". a. Considere familias corn rendas, antes do impos- to, de $ 0, $ 10 mil, $ 20 mil, $ 30 mil e $ 40 mil. Crie uma tabela mostrando a renda antes do impost°, o impost° pago ao govemo ou o dinheiro recebido dele e a renda de cada apos o pagamento do impost°. b. Qual a aliquota marginal desse sistema? (Ver o Capitulo 12 se precisar relembrar a definicao de aliquota marginal.) Qua! a renda maxima em quo Lima familia Iva* dinheiro do govemo? c. Suponha agora que a tabela do impost() mude, de modo que cada farnflia deva sua renda mul- tiplicada por urn quarto, menos $ 10 mil. Qual a aliquota marginal do novo sistema? Qual a renda maxima ern que uma farnflia recebe di- nheiro do govemo? d. Qual a principal vantagem de arida uma das tabelas de impost° aqui discutidas? 10. John e Jeremy sac) utilitaristas. John acredita que a oferta de mdo-de-obra é altamente elastica, e Jeremy, que ela é bastante inelastica. Em sua opi- niao, em quo diferem as opinioes deles sobre redistribuicdo de renda? 11. Voce concorda ou nao corn cada uma das coloca- goes a seguir? Quais as implicacbes que suas opi- nioes trazem para politicas publicas como impos- tos sobre a heranca? a. "Os pais tern o direito de trabalhar duro c pou- par a fim de dar a seus filhos uma vida melhor." b."Crianca alguma dove ser prejudicada pela inclo- lencia ou rn sorte de seus pais." A TEORIA DA ESCOLHA DO CO1SUMIDOR Quando voce' entra em uma loja, confronta-se com milhares de bens que poderia comprar. Naturalmente, como os seus recursos financeiros são limitados, voc'e pode comprar todas as coisas que quer. Portanto, voce considera o prec;o dos varios bens à venda e compra um conjunto de bens que, dados os seus recursos, melhor atenda as suas necessidades e desejos. Neste capitulo, desenvolveremos a teoria que descreve como os consumidores tomam decis6- es sobre o que comprar. Ate este ponto do livro, resumimos as deci- ses dos consumidores por meio da curva de demanda. Como vimos nos capitulos 4 a 7, a curva de demanda de um bem reflete a disposi o do consumidor para pagar por ele. Quando o preo de um bem aumenta, os consumidores esto dis- postos a pagar por menos unidades, de modo que a quantidade demandada dimi- nui. Agora analisaremos com maior profundidade as decis .6es que estio por tras da curva de demanda. A teoria da escolha do consumidor apresentada neste capitulo permite um entendimento mais completo da demanda, assim como a teoria da empresa competitiva do Capitulo 14 proporciona um entendimento mais comple- to da oferta. Um dos Dez Principios de Econon•a discutidos no Capftulo 1 e de que as pessoas se deparam com tradeoffs. A teoria da escolha do consumidor examina os tradeoffs com os quais as pessoas se deparam no papel de consumidores. Quando um con- 454 PARTE 7 TOPICOS DE ESTUDOS AVANcADOS sumidor compra major quantidade de urn bem, tem de comprar menos de outros bens. Quando despende mais tempo desfrutando de lazer e menos tempo traba- lhando, tern renda menor e pode consumir menos. Quando gasta mais de sua renda no presente e poupa menos, ele deve aceitar urn nivel de consumo mais baixo no futuro. A teoria da escolha do consumidor examina como os consumido- res que se deparam corn esses tradeoffs tomam decisoes e como respondem a mudancas em seu ambiente. Apos desenvolver as bases da teoria da escolha do consumidor, iremos aplica-la a fres questoes sobre as decisoes das famflias. Mais especificamente, perg,untaremos: • Todas as curvas de demanda tern inclinacao negativa? • Como os salarios afetam a oferta de mao-de-obra? • Como as taxas de juros afetam a poupanca das familias? A primeira vista, parece que essas questoes nao estao relacionadas. Mas, como iremos ver, podemos usar a teoria da escolha do consumidor para responder a cada uma delas. A 7E01100 OKAMENTARIA: 0 QUE 0 CONSUNDOR PODE GASTAR A maioria das pessoas gostaria de aumentar a quantidade ou a qualidade dos bens que consome — tirar ferias mais longas, dirig,ir carros mais imponentes ou comer em restaurantes melhores. ksp esso a s consomem menos do cue desejam porque suas .,- (1,Apesas estao restringidas, ou seja, estao limitacias por sua renqa. Comecaremos nosso estu o da e c a do consumidor examinando essa 1ac4o entre renda e esas. simplificar, vamos examinar a decisdo de urn consumidor que compra somente dois bens: Pepsi e pizza. E claro que, no mundo real, as pessoas compram milhares de diferentcs tipos dc bens. Mas admitir que so haja dois bens simplifica o problema sem alterar a compreensao b6sica a respeito da escolha do consumidor. Primeiro, vamos examinar como a renda do consumidor restringe o montante que ele gasta em Pepsi e pizza. Suponha que o consumidor tenha renda de $ 1 mil por mes e decida gastar toda a sua renda, a cada mes, em Pepsi e pizza. 0 preco de uma lata de Pepsi sao $ 2, e o de uma pizza, $ 10. A tabela da Figura 1 mostra algumas das rnuitas combinacoes de Pepsi e pizza que o consumidor pode comprar. A primeira linha da tabela indica que, se o con- sumidor gastar toda a sua renda em pizza, podera corner 100 pizzas durante o rnes, mas nao podera comprar qualquer quantidade de Pepsi. A segunda linha mostra outra combinacao de consumo possivel: 90 pizzas e 50 latas de Pepsi. E assim por diante. Cada combinacdo de consumo mostrada na tabela custa exata- mente $ 1 mil. 0 g,rafico da Figura 1 ilustra as combinacoes de consumo que o consumidor pode escolher. 0 eixo vertical mede o niimero de latas de Pepsi, e o eixo horizon- tal, o numero de pizzas. Tres pontos estao marcados na figura. No ponto A, o con- sumidor n5o comj,-)ra Pepsi e consome 100 pizzas. No ponto B, o consumidor nao compra pizza e consome 500 latas de Pepsi. No ponto C, o consumidor compra 50 pizzas e 250 latas de Pepsi. 0 ponto C, que esta exatamente no meio da linha que liga A e B, é o ponto em que o consumidor gasta a mesma quantia ($ 500) em Pepsi e pizza. Naturalmente, estas sao apenas fres das muitas combinacoes de Pepsi e Restrição oramentkia do consumidor 50 1 00 Quantidade de Pizza CAPITULO 21 A TEORIA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 455 A Restri b Orcamenthria do Consumidor A restricao orcomentOria mostra os vOrias combinacaes de bens que o consumidor pode comprar com urna determinada rencla Aqui, o consumidor com- pro combinacaes de Pepsi e pizza. A tabela e o grOfico mostram o que o consumidor pode compror se sua renda for de $ 1 mil, o preco de uma Pepsi for $ 2 e o de umo pizzo for $ 10. Latas de Pepsi Nmero de Pizzas Despesa em Pepsi Despesa em Pizza Despesa Total Quantidade de Pepsi 0 100 $ 0 $1.000 $1.000 50 90 100 900 1.000 500 100 80 200 800 1.000 150 70 300 700 1.000 200 60 400 600 1.000 250 50 500 500 1.000 300 40 600 400 1.000 350 30 700 300 1.000 250 400 20 800 200 1.000 450 10 900 100 1.000 500 0 1.000 0 1.000 A A estri0o oramenthria o limite das combinaces de( „" ) consumo de bens que o -)___consumidor pode adquirir pizza que o consumidor pode escolher. Todos os pontos da linha que vai de A a B s" "o possiveis. Essa linha, chamada de restri o oNamenffi-ia, mostra as combina- b'es de consumo de que o consumidor disp6e. Nesse caso, representa o tradeoff entre Pepsi e pizza con-i que o consumidor se depara. restri or_c_a_r~r-ia mede a taxa a que o cons dor_p_ocle t,roca ro. Corno vimos no apen—dice\c16–C4itu10 2, a entre dois pontos e calculada como a variaio da distffilcia vertical dividida pela varia o da distffilcia horizontal ("aumento sobre distffilcia"). Do ponto A ao ponto B, a disffincia vertical é de 500 latas e a distncia horizontal e de 100 pizzas. Assirn, a inclinação é de 5 latas por pizza. (Na verdade, como a restri o oNamentEiria se inclina para baixo, a inclinação e um nUmero negativo. Para nosso prop5sito, entre- tanto, vamos ignorar o sinal negativo.) Observe que a inclinação da restri o oNamentEiria é igual ao prep relativo dos dois bens – o prec;o de um bem comparado ao preo do outro. Uma pizza custa 5 vezes mais do que uma lata de Pepsi, de modo que o custo de oportunidade de uma pizza s.- o 5 latas cle Pepsi. A inclinação da restric;; .-io oNamentEiria no valor de 5 refle- te o tradeoff que o mercado oferece ao consumidor: 1 pizza por 5 latas de Pepsi. Teste R4ido Represente graficamente a restrick orcamentria de uma pessoa com renda de $ 1 mil, se o preco da Pepsi for $ 5 e o da pizza for $ 10. Qual a inclinack dessa restri0o orcament a? 458 PARTE 7 TOPICOS DE ESTUDOS AVANcADOS A Impossibilidade da Intersecao de Curvas de Indiferenca Uma situacao como essa nao pode acontecer. De acordo corn essas curvas de indiferenca, o consumidor estoria igualmente satisfeito nos pontos A, B e C, embora o ponto C tenha mars dos dois bens que o ponto A. Quantidade de Pizza dois pontos deixariam o consumidor igualmente satisfeito. Alem disso, como o pont° B esti' na mesma curva de indiferenca que o ponto C, esses dois pontos tambem dariam ao consumidor o mesmo nivel de satisfacao. Mas essas conclu- saes implicam que os pontos A e C tambem deixem o consumidor igualmente satisfeito, embora o pont° C tenha major quantidade de ambos os bens. Isso contradiz nossa hipotese de que o consumidor sempre prefere mais dos dois hens a menos. Portant°, as curvas de indiferenca nao podem se cruzar. Propriedade 4: As . .u.,rvas de indiferen a sa convexas em relacao a origeni dos eixos. A --- inclinacao de uma curva de indiferenca é a taxa marginal de sub-kituicao - a taxa qual o consumidor esti disposto a trocar urn bem por outro. A taxa marginal de substituicao (77VigS) geralmente depende da quantidade de cada hem que o consumidor esta consumindo atualmente. De modo mais especffico, como asp. pessoas estdo mais dispostas a trocar bens que tenham em abundancia e menos dispostas:a trocaOpens_que-tenharn-eril'OciiiKliquanti-dad-e7a-S-C—u—rvaS-de ferenca so -convexas em relaci ridos eixo-s-.15or exemplo, considere a Figura 4. No ponto A, como o consumidor tern muita Pepsi e somente urn pouco de pizza, est corn muita fome, mas nao tern muita sede. Para induzir o consu- midor a abrir mao de 1 pizza, é precis° dar-lhe 6 latas de Pepsi: a taxa marginal de substituicao é de 6 latas por pizza. Por outro lado, no ponto B, o consumidor tern pouca Pepsi e muita pizza, de modo que esta sedento, mas nao tern muita fome. Nesse ponto, ele estaria disposto a abrir mao de 1 pizza para obter 1 lata de Pepsi: a taxa marginal de substituicao é de 1 lata por pizza. Portant°, a conve-------,_,--- xidade da curva de indiferEs_areflete a maior-4isposicao do_consumictor,para mao do be que ere j6 tem em,g_a-iiae- Dols Exemplos Extremos de Curvas de Indiferenca 0 formato de uma curva de indiferenca nos diz sobre a disposicao de urn consu- midor em trocar urn hem por outro. Quando os bens sao facilmente substituiveis - 2 3 CAPfTULO 21 A TEORIA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR Fith- RA 4 Curvas de Indiferega Convexas As curvos de indiferenca costumam ser convexas. Esse formato implica que o taxa marginal de substituicao (TMgS) depende da quantidade dos dois bens que o consumidor esta consumindo. No ponto A, o consumidor tem pouca pizza e muita Pepsi, de modo que sera preciso muita Pepsi a mais para induzi-lo a abrir mao de umo pizza. A taxa marginal de substituicao é de 6 latas de Pepsi por pizza. No ponto B, o consumidor tem muita pizzo e pouca Pepst de modo que sera preciso pouca Pepsi a mois paro induzi-lo o obrir mao de uma pizza: a toxa marginal de substituicao é de 1 lata de Pepsi por pizza. 459 Quantidade de Pepsi 14 8 4 3 0 Curva de indifereNa Quantidade de Pizza um pelo utro, as curvas de indifereNa são menos convexas; quando é dificil subs- tituir um bem por ou_tro, as muik-o–co-fivexaS:-Para'ver-por Elue iss e ãde,vamš analisa—r os casos extrem--os. Substitutos Perfeitos Suponha que alguem lhe oferea dois pacotes, cada um deles com diferentes combing -Oes de moedas de 5 e 10 centavos. Como voce clas- sificaria os diferentes pacotes? Muito provavelmente, voce só se preocuparia com o valor nionet4rio total de cada pacote. Nesse caso, voce avaliaria cada pacote com base no n mero de moedas de 10 centavos somado ao n mero de moedas de 5 centavos multiplicado por dois. Em outras palavras, voce sempre estaria disposto a trocar uma moecia de 10 centa- vos por duas de 5 centavos, qualquer que fosse o n mero de moedas de 10 centavos e 5 centavos contidas em cada pacote. Sua taxa marginal de substituição entre moe- das de 5 e 10 centavos seria um ni:imero fixo: 2. Podemos representar suas preferencias entre moedas de 5 e 10 centavos com as curvas de indifereNa do painel (a) na Figura 5. Con-io a taxa marginal de substitui- o é constante, as curvas de indifereNa ski linhas retas. Nesse caso extremo de curvas de indifereNa retas, dizemos que os dois bens so substitutos perfeitos. Complementos Perfeitos Suponha agora que alguen-i lhe ofere(;a lotes de sapatos. Alguns sapatos servem no pe direito, ao passo que outros servem no esquerdo. Como voce classificaria esses diferentes lotes? substitutos perfeitos (, L ' dois bens cujas curvas c1 7 indiferenca sk retas 3 Moedas de 10 Centavos (b) Complementos Perfeitos Sapatos para o Pe Esquerdo 7 5 /1 0 5 Sapatos para o Pe Direito 460 PARTE 7 TOPICOS DE ESTUDOS AVANcADOS Substitutos Perfeitos e Complementos Perfeitos Quando dais bens soo facilmente substituiveis urn pelo outro, as curvas de indiferenca sao linhas retas, como mostra o painel (a). Quando dais bens sao foriemente complementares, como as pes esquerdo e direito dos sapatos, as curvas de indiferenca apresentam urn angulo reto, como mostra o painel (b). (a) Substitutos Perfeitos Moedas de 5 Centavos 6 complementos perfeitos .} dois bens cujas curvas der indiferenca formam urn I angulo reto Nesse caso, voce ficaria preocupado somente corn o numero de pares de sapa- tos. Em outras palavras, avaliaria urn lote de sapatos corn base no numero de pares qua pudesse reunir a partir dee. Urn lote corn 5 pes esquerdos e 7 pes direitos ren- deria apenas 5 pares. Obter mais urn pe direito nao tern qualquer valor se n5o hou- ver urn pe esquerdo para lhe fazer par. Podemos representar suas preferencias por sapatos para os pes esquerdo e direito por meio das curvas de indiferenca do painel (b) da Figura 5. Nesse caso, urn lote corn 5 pes esquerdos e 5 pes direitos tern o mesmo valor que urn lote corn 5 pes esquerdos e 7 pes direitos. Tern tambem o mesmo valor que urn lote corn 7 pes esquerdos e 5 pes direitos. As curvas de indiferenca, 1.-)ortanto, tern format° de ang-ulos retos. Nesse caso extremo de curvas de indiferenca corn angulo reto, dize- mos que os bens sao complementos perfeitos. No mundo real, naturalmente, a maioria dos bens nao é nem de substitutos per- feitos (corno moedas de 5 e 10 centavos), nem de complementos perfeitos (como sapatos para os pes esquerdo e dircito). Normalmente, as curvas de indiferenca sao convexas, rnas nao a ponto de formar angulos retos. Teste Rapid() Represente graficamente algumas curvas de indiferenca de Pepsi e pizza. Explique as qua- tro propriedades dessas curvas de indiferenca. OTIMIZA00: 0 QUE C CONSUMIDOR ESCOLHE 0 objetivo deste capitulo é entender como urn consumidor faz suas escolhas. Ja temos os dois componentes de que precisamos para essa analise: a restricao °Ka- mentaria do consumidor e as preferencias do consumidor. Agora vamos reunir esses dois componentes e analisar a decisao do consumidor a respeito do qua comprar. Quantidade de Pizza 0 2.... aumentando o consumo de pizza... Quantidade de Pepsi Nova restrição oNamentkia 1. Um aumento na renda desloca a restri0o oramentkia para fora... Novo ótimo 3.... e o consumo — de Pepsi. 2 Restrição oramentria inicial CAPITULO 21 A TEORIA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 463 FIGURA 7 Um Aumento na Renda Quando a renda do consumidor aumenta, sua restric -ao orcomenthria desloco-se para foro. Se os dois bens forem bens normais, o consumidor responde ao aumento na renda comprando mais de ambos os bens. Aqui o consumidor compro mais pizza e mals Pepsi: A restrição oNamentkia expandida permite que o consumidor escolha uma melhor combina o de Pepsi e pizza. Em outras palavras, o consun-lidor pode agora ating,ir uma curva de indifereNa mais elevada. Dados o deslocamento da restri o oNamentria e as prefefencias do consumidor, tais como representadas pelas suas curvas de indifereNa, o Otimo do consumidor move-se do ponto indicado como "OtiQo iniciar_za_r_a_o_pontO cor-r oTi7-11-6 Observe que, na Figura7o consumi or opta por Lonsumir mais Pepsi e mais pizza. Embora a lOgica do modelo não exija aumento do consumo dos dois bens em resposta a um aumento na renda, este e o resultado mais comum. Como vimos no Capitulo 4, se um consumidor deseja mais de um bem quando sua renda aumenta, os economistas chamam esse ben-i de bem normal. As curvas de indife- rena da Fig,ura 7 foram desenhadas supondo que tanto a Pepsi quanto a pizza sejam bens normais. A Figura 8 mostra um exemplo em que um aumento na renda induz o consu- midor a comprar mais pizza, porem menos Pepsi. Se um consumidor cornpra menos de um bem quando sua renda aumenta, os economistas chamam esse ben-i de bem inferior. A Fig,ura 8 foi desenhada supondo que a pizza seja um bem nor- mal, e a Pepsi, um bem inferior. Embora a maioria dos bens seja normal, existem alg,uns bens inferiores no mundo real. Um exemplo está nas passagens de Onibus. Para os consumidores de alta renda, e maior a probabilidade de que sejam proprietEirios de carros e menor a probabilidade de andarem de Onibus do que para os consumidores de baixa rencia. As passagens de Onibus são, portanto, um bem inferior. Como as Variaces nos Precos Afetam as Escolhas do Consumidor Vamos agora usar esse modelo da escolha do consumidor para ver como uma mudaNa no 1_-)reo de um dos bens altera as escolhas do consumidor. Suponha, mais especificamente, que o preo da Pepsi caia de $ 2 para $ 1 a lata.1\l'a"o é de sur- bem normal um bem para o qual um aumento na renda eleva a quantidade consumida bem inferior um bem para o qual um aumento na renda diminui a ,quantidade consumida Quantidade de Pepsi 3. ... mas o consumo de Pepsi cal, fazendo da Pepsi urn bem inferior. Restricao orcamentaria inicial 0 Nova restricao orcamentaria 1. Quando urn aumento na renda desloca a restricao orcamentaria para fora... Novo Otimo Quantidade de Pizza 2.... o consumo de pizza aumenta, o que faz da pizza urn bem normal... 464 PARTE 7 TOPICOS DE ESTU DOS AVANcADOS FIGURA 8 Um Bern Inferior Urn bem é urn bem inferior se o consumidor compra menos dele quando sua renda aumenta. Aqui, Pepsi é um bem inferior: quando a rendo do consumidor aumenta e sua restricao orcamentOria se desloca para fora, o consumidor compra mais pizza e menos Pepsi. efeito renda a variacao de consumo que ocorre quando uma mudanca \ de preco move o consumidor para uma curva de indiferenca I\ mais elevada ou menos )elevada /elk° substituicao v, a ariacao de consumo que! 1 i ocorre quando uma mudanca de preco move o consumidor ao longo de uma dada curva de indiferenca ate urn ponto \ corn uma nova taxa marginal cle substituicao preender clue o menor preco expanda o conjunto de oportunidades de compra do consumidor. Em outras palavras, Ulna queda no preso de qualquer urn dos bens desloca a -restricao orcamentaria para f- a. A Figura 9 mostra mais especificamente como a queda de preco afeta a restri- (do orcamentaria. Se o consumidor gastar toda a sua renda de $ 1 mil em pizza, o preco da Pepsi ser6 irrelevante. Portant°, o ponto A na figura permanece o mesmo. Mas se o consumidor gastar toda a sua renda de $ 1 mil em Pepsi, podera agora comprar 1 mil latas em vez de apenas 500. Assim, o ponto final da restricao ment6ria desloca-se do ponto B para o pont° D. Observe que nesse caso o deslocamento para fora da restricao orcamentaria altera sua inclinacao (isso difere do caso anterior, quando os precos se mantiveram os mesmos, mas a renda do consumidor mudou). Como ja foi visto, a inclinac5o da restric5o orcamentitria reflete os precos relativos da Pepsi e da pizza. Como o preco da Pepsi caiu de $ 2 para $ 1, enquanto o da pizza se manteve em $ 10, o consumi- dor pode agora trocar uma pizza par 10 latas de Pepsi, em vez de 5 latas, como ocorria anteriormente. Como resultado, knova.restric amentaria tern uma inclinacp major. A maneira pela qual a alteracao na restricao orcamentdria muda o consumo de ambos as bens depende das preferencias do consumidor. As curvas de indiferenca tracadas nesta figura mostram que o consumidor compra mais Pepsi e menos pizza. Efeito Renda e Efeito Substituicao 0 impact° de uma mudanca no preco de urn hem sobre o consumo pode ser decomposto em dois efeitos: o efeito renda e o efeito substituicao. Para ver o que Quantidade de Pepsi Nova restrição oNamentaria Novo 6timo 1. Uma queda do preo da Pepsi provoca uma rota o para fora da restrição oramentria... ti mo inicial 100 Quantidade 2.... reduzindo o consumo de pizza... de Pizza 1.000 500 3.... e aumentando-7 o consumo de Pepsi. Restrição oramentaria inicial CAPITULO 21 A TEORIA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 465 FIGURA 9 Uma Variack no Preco Quando o preco do Pepsi cat a restri- cao orcomentana do consumidor deslo- ca-se para fora e mudo sua inclinacao. 0 consumidor move-se do Otimo inicial para o novo atimo, o que muda suas compros tanto de Pepsi quonto de pizza. Nesse caso, a quontidode consu- mida de Pepsi aumento e a quantidade consumida de pizza cai. são esses dois efeitos, imag,ine como o consumidor reagiria se soubesse que o preo da Pepsi caiu. Ele poderia raciocinar das seguintes maneiras: • "Grande noticia! Agora que a Pepsi esti mais barata, minha renda ten-i maior poder de compra. Estou, de fato, mais rico do que antes. Como estou mais rico, posso comprar mais Pepsi e mais pizza." (Este e o efeito renda.) • "Agora que o prec;o da Pepsi caiu, posso comprar mais latas de Pepsi para cada pizza de que eu abrir rnão. Como a pizza agora está relativamente mais cara, eu deveria comprar menos pizza e mais Pepsi." (Este é o efeito substitui .) Qual c-ias duas afirmac;"(5es voce julga ser a mais correta? Na verdade, as duas afirmg -6es fazem sentido. A queda no pre9a da Pepsi deixa o consumidor em melhor situa o. Se tanto a Pepsi quanto a pizza s' "o bens nor- mais, o consumidor desejará distribuir seu maior poder de con-yra entre os dois bens. Esse efeito renda tende a fazer com que o consumidor compre mais pizza e mais Pepsi. Mas, ao mesmo tempo, o consumo de Pepsi tornou-se mais barato em relgo ao consumo de pizza. Esse efeito suhstituição tende a fazer o consumidor escolher mais Pepsi e menos pizza. Considere agora o resultado final desses dois efeitos. 0 consumidor certamen- te compra mais Pepsi, já que tanto o efeito renda quanto o efeito substitui o agem no sentido de aumentar as compras de Pepsi. Mas não se pode dizer com certeza se o consumidor comprará mais pizza porque os efeitos renda e substitui o tra- balham em dire es opostas. Essa concluso e sintetizada na Tabela 1. Podemos interpretar os efeitos renda e substitui o usando curvas de indiferen- efeito renda é a variac, & no consunto que resulta da passagem pt7ra uma curva de indiferent7 mais elevada. O efeito substituk y-7o (-5 a variaciTh no consumo que resulta de se estar C111 11111 ponto de uma C1117,a de indifuen-a com Unla taxa marginal de substitui(do difereitte. 468 PARTE 7 TOPICOS DE ESTU DOS AVANcADOS rbern de Giffen um bem para o dual urn aumento no preco provoca urn aumento no quantidade demandada curva de demanda resultante das ciecisOes desse consumidor. Dessa forma, a teoria da escolha do consumidor proporciona os fundamentos teOricos para a curia de demanda do consumidor, apresentada no Capitulo 4. Embora seja reconfortante saber que a curia de demanda surge naturalmente da teoria da escolha do consumidor, esse exercicio, por si so, na-o justifica o desen- volvimento da teoria. Nao hd necessidade de uma estrutura analitica rigorosa ape- nas para estabelecer que as pessoas respondem as variacoes nos precos. A teoria da escolha do consumidor é, contudo, muito dtil. Como veremos na proxima secao, podemos usar a teoria para investigar corn mais profundidade os determinantes do comportamento das familias. Teste Rapid° Represente graficamente uma restricao orcamentaria e as curvas de indiferenca de Pepsi e pizza. Mostre o que acontece corn a restricao orcamentaria e o atimo do consumidor quando o preco da pizza aumenta. Ern seu diagrama, decomponha a variacao em efeito renda e efeito substituicao. TRES APLICACOES Agora que desenvolvemos a teoria basica da escolha do consumidor, vamos usa-la para lancar luz sobre tres questOes a respeito de como funciona a economia. Essas tres questoes podem, de Mid°, parecer nao estar relacionadas. Mas como cada questa° envolve a tomada de decisoes pelas farnilias, podemos aborda-las corn o model° de comportamento do consumidor que acabamos de desenvolver. Todas as Curvas de Demanda Tem Inclinacao Negativa? Normalmente, quando o preco de urn bem aumenta, as pessoas compram menos desse hem. No Capitulo 4, chamamos esse comportamento usual de lei do demon- da. Essa lei se reflete na inclinacao negativa da curia de demanda. Como assunto de teoria econamica, entretanto, as curvas de demanda podem, em alguns casos, ter inclinacao positiva. Ern outras palavras, os consumidores podem, as vezes, violar a lei da demanda e comprar major quantidade de urn bem quando o seu preco aumenta. Para ver como isso pode ocorrer, considere a Figura 12. Nesse exen-iplo, o consumidor compra dois bens — came e batatas. Inicialmente, a restricao orcamentaria é a linha que vai do ponto A ao ponto B. 0 Otimo é o ponto C. Quando o preco das batatas aumenta, a restricao orcamentaria se desloca para dentro e passa a ser a linha que vai do ponto A ao ponto D. 0 otimo é agora o ponto E. Observe que o aliment° do preco das batatas fez corn que o consumidor passasse a comprar uma quantidade major delas. Por que o consumidor reage de maneira aparentemente perversa? A razao é por- que as batatas, nesse caso, sao urn hem intensamente inferior. Quando o preco das batatas aumenta, o consumidor fica mais pobre. 0 efeito renda faz corn que o con- sumidor deseje comprar menos came e mais batatas. Ao mesmo tempo, como as batatas se tomaram mais caras em relacao a came, o efeito substituicao faz corn que o consumidor deseje comprar mais came e menos batatas. Nesse caso particular, contudo, o efeito renda é tdo forte que supera o efeito substiwicao. No fim, o consu- midor responde ao major preco das batatas comprando menos came e mais batatas. Os economistas usam o termo hem de Giffen para descrever urn bem que viola a lei da demanda (o termo vem do economista Robert Giffen, que foi o primeiro a observar essa possibilidade). Nesse exemplo, as batatas sao urn hem de Giffen. Os bens de Giffen sao hens inferiores para os quais o efeito renda domina o efeito substituicao. Portanto,_suas curvas de demanda tern inc1in 4Q2,scendente.-....-- / /1 ' 2 se elas forem um bem de Giffen. 0 1. Um aumento no preco das aumenta o ,---- ........... ............................ batatas provoca uma rotac-a"o consumo da restrico orcamentkia de batatas para dentro... ti mo com preco alto das batatas ti mo com preco baixo das batatas 2.... o que / CAPIITULO 21 A TEORIA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 469 FIGURA 12 Um Bem de Giffen Neste exemplo, quando o preao das botatas aumenta o 6timo do consumidor desloca-se do ponto C para o ponto E. Nesse ccso, o consumidor responde oo maior preao das batatas comprando menos carne e mais batatas. Quantidade de Carne Os economistas discordam sobre se ja foi descoberto algum bem de Giffen. Alguns historiadores sugerem que as batatas foram, efetivamente, um bem de Giffen durante a sua escassez na Irlanda do seculo XIX. As batatas eram uma parte fao grande da dieta do povo que, quando o seu preo aumentou, o efeito renda foi enorme. As pessoas reag,iram a redu o no seu padr"ao de vida cortando o consu- mo do bem de luxo carne e aumentando suas compras de batatas, um alimento basico. Assim, argumenta-se que o elevado prec;o das batatas aumentou realmen- te a quantidade demandada de batatas. Seja esse episOdio histOrico verdadeiro ou nceTi o, é seguro dizer que os bens de Giffea,,s'ao muito raros. A teoria da escolha do consumidor reconhece curvas de deman o positiva. Mas isso é tho raro que a lei da demanda e confiavel quanto qualquer outra lei econOmica. Como os Sal rios Afetam a Oferta de Trabalho? Ate aqui, usamos a teoria da escolha do consumidor para analisar como uma pes- soa decide alocar sua renda entre dois bens. Podemos usar a mesma teoria para analisar como uma pessoa decide alocar seu ten-ipo entre trabalho e lazer. Vamos analisar a decis'ao com que se depara Sally, uma programadora de compu- tadores autOnoma. Sally permanece acordada 100 horas por semana. Ela gasta parte desse ten-ipo desfrutando de algum tipo de lazer — andando de bicicleta, assistindo estudando economia e assim por diante. Ela passa o resto do seu tempo desen- volvendo prog,ramas em seu computador. Para cada hora que passa desenvolvendo programas, ela ganha $ 50, gastos no consumo de bens. Assim, seu salario ($ 50) reflete o tradeoff entre lazer e trabalho com o qual Sally se depara. Para cada hora de lazer de que abre iiião, ela trabalha uma hora a mais e ganha $ 50 para consumo. A Figura 13 mostra a restrição oNamentaria de Sally. Se gastar todas as 100 horas desfnitando de lazer, , ela iião tera consumo. Se passar todas as 100 horas tra- 470 PARTE 7 TOPICOS DE ESTU DOS AVANcADOS FIGURA 13 0 60 100 Horas de Lazer balhando, ela ganhara consumo semanal de $ 5 mil, mas nao tera tempo para lazer. Se fizer uma jornada normal de 40 horas por semana, ter6 60 horas de lazer e con- sumo semanal de $ 2 mil. A Figura 13 usa as curvas de indiferenca para representar as preferencias de Sally por consumo e lazer. Aqui, consumo e lazer sao os dois "bens" entre os quais Sally precisa escolher. Como ela sempre prefere mais lazer e mais consumo, sua preferencia é por pontos em curvas de indiferenca mais elevadas. Ao salario de $ 50 por bora, Sally escolhe un-ia combinacao de consumo e lazer representada pelo pont° indicado como "otimo". Estee o ponto da restricao orcamentliria que se situa na curva de indiferenca mais alta possivel, que é L. Vejamos agora o que acontece quando o salario de Sally aumenta de $ 50 para $ 60 por hora. A Figura 14 mostra dois resultados possIveis. Em cada caso, a restri- cao orcamentaria mostrada no grafico a esquerda se desloca para fora, de ROi para RO.,. Nesse process°, a restri(ao orcamentaria se torna mais inclinada, refletindo a mudanca no preco relativo. Corn o sal6rio major, Sally obtem mais consumo para cada hora de lazer de que abre mao. As preferencias de Sally, como representadas por suas curvas de indiferenca, determinam as respostas resultantes de consumo e de lazer ao major salario. Nos dois paineis, o consumo aumenta. Mas a resposta do lazer a mudanca no salario é diferente nos dois casos. No painel (a), Sally responde ao major salario desfnitan- do de menos lazer. No painel (b), ela responde desfrutando de mais lazer. A decisao de Sally entre lazer e consumo determina sua oferta de trabalho por- que, quanto mais lazer ela desfruta, menos tempo ela tern para trabalhar. Em cada painel, o g,rzifico ii direita da Figura 14 mostra a curva de oferta de trabalho impli- cita na decisao de Sally. No painel (a), urn salario major induz Sally a desfrutar de menos lazer e trabalhar mais, de modo que a curva de oferta de trabalho tern incli- nacao positiva. No painel (b), um salario major induz Sally a desfnitar de mais lazer e trabalhar menos, de modo quo a curva de oferta de trabalho se inclina "para tras". A primeira vista, a curva de oferta de trabalho corn inclinacao para tr6s é enig- matica. Por que alg-uem responderia a um salario major trabalhando menos? A res- posta é dada pelos efeitos renda e substituicao decorrentes de urn salario major. Consumo na Fase Idosa Restri o oNamentaria$110.000 55.000 CAPftULO 21 A TEORIA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 473 uma heraNa afeta a oferta de trabalho de uma pessoa. 0 estudo concluiu que uma pessoa solteira que herde mais de $ 150 mil tem quatro vezes mais probabilidade de parar de trabalhar do que uma pessoa solteira que herde menos de $ 25 mil. Essa conclus -ao não teria surpreendido Andrew Carnegie, um industrial do seculo XIX. Camegie alertou que "o pai que deixa ao filho uma enorme riqueza geralmente enfraquece o talento e a energ,ia desse filho e o tenta a levar uma vida menos útil e de menos valor do que se daria de outra forma". Ou seja, Camegie teve a percep- o de que o efeito renda sobre a oferta de trabalho era substancial e, do seu ponto de vista patemalista, lamentavel. Durante a sua vida e ao morrer, Camegie doou grande parte de sua vasta fortuna a obras de caridade. • Como as Taxas de Juros Afetam a PoupaNa das Famflias? Uma deciso importante com que todas as pessoas se deparam é quanto da renda consumir hoje e quanto poupar para o futuro. Podemos usar a teoria da escolha do consumidor para analisar como as pessoas tomam essa decisio e em que medida o montante que poupam depende da taxa de juros que suas poupane , as renderL'io. Considere a decisk) com que se depara Sam, um trabalhador que esta planejan- do sua aposentadoria. Para simplificar, vamos dividir a vida de Sam em dois periodos. No primeiro periodo, Sam e jovem e trabalha. No seg,undo, e idoso e esta aposenta- do. Quando jovem, Sam ganha $ 100 mil. Ele divide essa renda entre o consumo cor- rente e a pouparwa. Já idoso, Sam consumira o que poupou, incluindo os juros que sua poupaNa rendeu. Suponha que a taxa de juros seja de 10%. Então, para cada d6lar que Sam poupa quando jovem, pode consumir $ 1,10 quando idoso. Podemos considerar o "consu- mo na fase joven-i"e o "consumo na fase idosa" como os dois bens entre os quais Sam precisa escolher. A taxa de juros determina o prev) relativo desses dois bens. A Figura 15 mostra a restri o oNamentaria de Sam. Se ele não poupar nada, consome $ 100 mil quando jovern e nada quando idoso. Se poupar tudo, ru-io con- FIGURA 15 A Decish Consumo-Poupanca A Figura mostra a restricdo orcamentaria para uma pessoa que decide quanto consumir nos dois periodos de suo vida, as curvas de indiferenca representam suas preferencias e o ponto atimo. $50.000 100.000 Consumo na Fase Jovem (b) Major Taxa de Juros Reduz a Poupanca Consumo na Fase ldosa 02 1. Uma major taxa de juros desloca a restricao orcamentaria para fora... Consumo na Fase ldosa RO 2 Consumo na Fase Jovem 0 2.... resultando em menor consumo na fase jovem e, portant°, major poupanca. 1. Uma major taxa de juros desloca a restricao orcamentaria para fora... 474 PARTE 7 TOPICOS DE ESTU DOS AVANCADOS some nada quando jovem e $ 110 mil quando idoso. A restricao orcamentaria mos- tra essas duas possibilidades e todas as possibilidades intermediarias. A Figura 15 usa curvas de indiferenca para representar as preferencias de Sam por consumo nos dois periodos. Como ele prefere consumir mais nos dois perio- dos, ira preferir pontos que estejam nas curvas de indiferenca elevadas a pontos situados em curvas de indiferenca mais baixas. Dadas as suas preferencias, Sam escolhe a combinacao Otima de consumo nos dois periodos de sua vida, que é o ponto da restricao orcamentaria que esti na curva de indiferenca mais elevada pos- sivel. Nesse Otimo, Sam consome $ 50 mil quando jovem e $ 55 mil quando idoso. Vejamos agora o que acontece se a taxa de juros aumentar de 10% para 20%. A Figura 16 mostra dois resultados possiveis. Nos dois casos, a restricao orcamenta- ria desloca-se para fora e se torna mais inclinada. Com a nova taxa de juros, mais alta, Sam pode consumir mais, quando idoso, para cada dolar de consumo de que abre mao quando jovem. Os dois paineis mostram diferentes preferencias de Sam e a resposta ao aumen- to da taxa de juros. Nos dois casos, o consumo na fase idosa aumenta. Mas a res- posta do consumo na fase jovem a variacao da taxa de juros é diferente nos dois casos. No painel (a), Sam responde ao aumento da taxa de juros consumindo menos quando jovem. No painel (b), Sam responde consumindo mais quando jovem. A poupanca de Sam, naturalmente, é sua renda na fase jovem menos o mon- tante que consome quando jovem. No painel (a), o consumo na fase jovem cai FIGURA-16 Um Aumento da Taxa de Juros Nos dois paineis, urn aumento do taxa de juros desloca a restrict° orcomentaria part fora No painel (a), o consumo no lase jovem cal e o consumo no lose idosa aumenta 0 resultado é urn aumento do poupanca no lase jovem. No painel (b), o consumo aumenta nos dois periodos. 0 resultado e uma reducto no poupanct no lase jovem. (a) Major Taxa de Juros Aumenta a Poupanca 0 2.... resultando em major consumo na fase jovem e, portant°, menor poupanca. Consumo na Fase Jovem CAPIITULO 21 A TEORIA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR quando a taxa de juros aumenta, de modo que a poupana tambem aumenta. No 1.-) ainel (b), Sam consome mais quando jovem, de modo que a poupaNa deve cair. 0 caso mostrado no painel (b) pode parecer estranho à primeira vista: Sam res- ponde a um aumento do rendimento da poupaNa poupando menos. Mas esse comportamento n'a"o e Ca- o peculiar quanto pode parecer. Podemos entende-lo con- siderando os efeitos renda e substitu o de uma taxa de juros mais elevada. Vamos considerar, primeiro, o efeito substitui o. Quando a taxa de juros au- menta, o consumo na fase idosa se torna mais barato em rela o ao consumo na fase jovem. Assim sendo, o efeito substitu o induz Sam a consumir mais quando idoso e menos quando jovem. Em outras palavras, o efeito substitui o induz Sam a poupar mais. Consideremos agora o efeito renda. Quando a taxa de juros aumenta, Sam se desloca para uma curva de indiferenyi mais elevada. Est,:l agora em melhor situa o do que antes. Desde que o consumo nos dois periodos consista de bens normais, ele tendeth a querer usar esse aumento do bem-estar para aumentar o consumo em ambos os periodos. Em outras palavras, o efeito renda o induz a poupar menos. 0 resultado final depende, e claro, dos efeitos renda e substitui o. Se o efeito) substituiy'l- o de uma taxa de juros mais alta for maior do que o efeito renda, San- poupará mais. Se o efeito renda for maior do que o efeito substitui o, Sam pou -/-pani menos. Assim, a teoria da escolha do consumidor diz que um aumento da ta de juros pode encorajar ou desencorajar a poupaNa... Embora esse resultado ambipo seja interessante do ponto de vista da teoria eco- n6mica, e desapontador do ponto de vista da politica econOmica. Ocorre que uma questo importante da politica tributkia depende em parte de como a poupaNa res- ponde , s taxas de juros. Alguns economistas propuseram reduzir a tributg. o sobre os juros e outras rendas de capital, argumentando que essa mudaNa aumentaria a taxa de juros recebida pelos poupadores apOs os impostos e, com isso, encorajaria as pessoas a poupar mais. Outros economistas argumentam que, como os efeitos subs- titui o e renda tendem a se anular, uma mudaNa tributkia como essa poderia n"a-o aumentar a poupaNa, podendo ate reduzi-la. Infelizmente, a pesquisa n'a'o leva a um consenso sobre como a taxa de juros afeta a poupaNa. Como resultado, permanece o desacordo entre os economistas sobre se as mudanas na politica tributkia com o objetivo de encorajar a poupanc;a teriam, de fato, o efeito desejado. Teste R4ido Explique como um aumento no salário pode potencialmente diminuir o tempo que a pessoa deseja trabalhar. CONCLUSAO: AS PESSOAS PENSAM REALMENTE ASSIM? A teoria da escolha do consumidor descreve como as pessoas tomam decises. Como vimos, ela tem ampla aplicabilidade. Ela pode explicar como uma pessoa escolhe entre Pepsi e pizza, trabalho e lazer, consumo e poupaNa e assim por diante. A esta altura, contudo, voce pode estar tentado a tratar a teoria da escolha do consumidor con-i alg,um ceticismo. Afinal de contas, voce é um consumidor. Voce decide o que comprar sempre que entra em uma loja. E sabe que n5.o decide utili- zando restri -cies oNamentkias e curvas de indiferenyi. Esse conhecimento do seu pr6prio processo de ton-lada de decises n'a"o fomece uma evidencia contra a teoria? A resposta é não. A teoria da escolha do consumidor não pretende explicar de uma forma literal de que forma as pessoas tomam decis5es. Ela e um modelo. E, con-to vimos no Capitulo 2, os modelos não pretendem ser completamente realistas. 475 478 PARTE 7 TOPICOS DE ESTUDOS AVANcADOS consumo da pessoa diminua? Isso seria plausivel? Discuta. (Dica: Pense nos efeitos renda e substi- tuicao.) 8. Suponha que voce aceite urn emprego que pague $ 30 mil e clecida g-uardar parte desse clinheiro em uma conta de poupanca que renda 5% de juros ao ano. Use urn diagrama corn a restricao orcament6- ria e as curvas de indiferenca para mostrar como o seu consumo muda em cada uma das situagoes a seguir. Para simplificar, suponha que voce nao pague impost() de renda. a. Seu sakirio aumenta para S 40 mil. b. A taxa de juros de sua i.-)oupanca sobe para 8°/0. 9. Como vimos no texto, podemos dividir a vida de uma pessoa em dois periodos hipoteticos: "fase jovem" e "fase idosa". Suponha que uma pessoa ganhe renda somente quando jovem e poupe parte dela para poder consumir quando estiver idosa. Se a taxa de juros sobre a poupanca dimi- nuir, é possivel dizer o que acontece corn o consu- mo na fase jovem? E possivel dizer o que aconte- ce corn o consumo na fase idosa? Explique. 10. (Este problema é desafiador.) 0 sistema de hem- estar social oferece renda a algumas famflias necessitadas. Normalmente, o pagamento m6xi- mo é feito a farnilias que 1150 tern qualquer renda; entao, a medida que as familias comecam a ganhar renda, o pagamento diminui gradualmen- te ate desaparecer. Vamos considerar os possiveis efeitos desse programa sobre a oferta de trabalho de uma familia. a. Represente gTaficamente a restricao orcament6- ria de uma familia supondo que o sistema de bem-estar social rid° exista. No mesmo diag,ra- ma, represente g,raficamente uma restricao or- camentdria que reflita a existencia do sistema de bem-estar social. b.Acrescentando curvas de indiferenca ao seu dia- grama, mostre como o sistema de bem-estar social poderia reduzir o numero de horas traba- lhadas da familia. Explique fazendo referencia aos efeitos renda e substituic5o. c. Usando seu diagrama da parte (b), mostre o efeito do sistema de bem-estar social sobre o bem-estar da familia. 11. (Este problema é desafiador.) Suponha que uma pessoa nao pague imposto sobre os primeiros $ 10 mil de renda e pague 15°/0 sobre qualquer renda ganha acima de $ 10 mil (esta é uma versa° sim- plificada do atual impost° de renda nos Estados Unidos). Agora, suponha que o Congress° esteja considerando duas maneiras de reduzir a carga tri- butjTia: uma reducao na aliquota do imposto e urn aumento da parte da renda que nao é tributada. a. Que efeito teria uma reducao da aliquota sobre a oferta de trabalho da pessoa, se no inicio ela ganhasse $ 30 mil? Explique corn suas palavras, usando os efeitos renda e substituic5o. Mao 6 precis° utilizar urn diag,rama. b. Que efeito teria urn aumento da parte da renda que n'ao é tributada sobre a oferta de trabalho da pessoa? Novamente, explique corn s-uas pa- lavras, usando os efeitos renda e substituicao. 12. (Este problema é desafiador.) Considere uma pes- soa que esteja decidindo quanto consumir e quan- to poupar t-)ara a aposentadoria. Essa pessoa tern preferencias muito particulares: sua utilidade ao longo da vida ciepende do mais baixo nivel de consumo durante os dois periodos de sua vida. Ou seja, Utilidade = Minim° {consumo na fase jovem, consumo na fase idoso} a. Represente graficamente as curvas de indiferen- ca dessa pessoa. (Dica: Lembre-se de que as curvas de indiferenca mostram as combinacoes de consumo nos dois periodos que proporcio- nam o mesmo nivel de utilidade.) b. Represente graficamente a restricao orcamenta- ria e indique o otimo. c. Quando a taxa de juros aumenta, essa pessoa po-upa mais ou poupa menos? Explique sua res- posta usando os efeitos renda e substituicao. 13. 0 economista George Stigler uma vez escreveu que, de acordo corn a teoria do consumidor, "se os consumidores ndo comprarem menos de uma mercadoria quando suas rendas aumentarem, eles certamente comprardo menos quando o preco da mercadoria subir". Explique essa declaracao. FRONTEIRAS DA hVi I economia e o estudo das escolhas que as pessoas fazem e das interacb- es resultan- tes que têm umas com as outras. Esse estudo tem muitas facetas, como vimos nos capitulos anteriores. Mas seria um erro pensar que todas as facetas que vimos com- p -b- em uma jóia acabada, perfeita e imutavel. Como todos os cientistas, os economis- tas estao sempre em busca de novas areas de estudo e novos fen8n-lenos para expli- car. Este L'iltimo capitulo sobre a microeconomia trata de trC'.s tc>picos que estao na fronteira da disciplina para mostrar como os economistas est -to tentando expandir sua compreensao do comportamento humano e da sociedade. 0 primeiro t(51.->ico é a economia da infortnKflo assindtrica. Muitas vezes, na vida, algumas pessoas estão mais bem informadas do que outras e essa diferenca de informaca- o pode afetar as escolhas que elas fazem e a maneira como se relacionam umas com as outras. Pensar nessa assimetria pode lancar luz sobre muitos aspec- tos do mundo real, do mercado de carros usados ao costume de dar presentes. 0 segt., mdo tc")pico que analisaremos neste capitulo é a cconomia política. Por todo este livro, vimos muitos exemplos em que os mercados falham e a politica govema- mental pode potencialmente melhorar a situaco. Mas a palavra "potencialmente" um qualificador necessario: se esse potencial se realiza ou nao depende de qua-o bem nossas instituic5es politicas funcionam. 0 campo da economia politica aplica as ferramentas da economia para compreender o funcionamento do governo. 0 terceiro tpico do capitulo e a economia comportamental. Esse campo traz alg,uns conhecimentos cla psicologia para o estudo de quest6- es econewnicas. 480 PARTE 7 TOPICOS DE ESTUDOS AVANcADOS Oferece uma visdo do comportamento humano que é mais sutil e complexa do que a encontrada na teoria economica convencional, mas é possivel tambem que essa visao seja mais realista. Este capitulo é muito abrangente. Assim, nao trata ern profundidade de qual- quer urn dos tres topicos, mas oferece uma amostra de cada um deles. Urn dos objetivos é mostrar algumas das direcoes que os economistas estao explorando ern seus esforcos para expandir o conhecimento de como a economia funciona. Outro objetivo é despertar o seu interesse para mais cursos de economia. INF0RMA00 ASSIMETRICA "Eu sei algo que voce nao sabe." Essa provocacao é comum entre criancas, mas tambem traduz uma verdade profunda sobre como as pessoas interagem umas corn as outras ern algumas situagoes. Ern muitas situagoes da vida, uma pessoa sabe mais do que outra sobre o que esta acontecendo. Uma diferenca de acesso a conhecimento relevante e chamada de informacao g,ss_2imetiica. Os exemplos disso sao murtos. Um trabalhador sabe mais do que seu emprega- dor sobre quanto esforco despencie ern seu trabalho. Urn vendedor de carros Lisa- dos sabe mais do que o comprador sobre a verdadeira condicao do carro. 0 primei- ro caso 6 urn exemplo de (10-0 oculta, enquanto o seg,undo 6 urn exemplo de carac- teristica oculta. Ern cada caso, a parte que nao tern conhecimento (o empregador, o comprador do carro) gostaria de ter as informacoes relevantes, mas a parte infor- mada (o trabalhador, o vendedor do carro) pode ter urn incentivo para o_sultaTlas. .Como a assimetria de informacao é Ca° predommanfe, tra Littimas decadas os economistas dedicaram grandes esforcos ao estudo dos seus efeitos. E, de fato, o Premio Nobel de Economia de 2001 foi concedido a tres economistas (George Akerlof, Michael Spence e Joseph Stiglitz) por seu trabalho pioneiro nesse campo. Vamos discutir algumas das conclusaes proporcionadas por esse estudo. AcOes Ocultas: Principals, Agentes e Risco Moral 0 risco moral é urn problema que surge quando alguem, chamado de agente,,rsea- liza_algumttarefa e llome de outrApessoa, chamada de principal. Se o principal nao puder monitorar perfeitamente o comportamento do agente, este tende a empregar menos esforcos do que o principal consideraria desejavel. A expressao risco moral refere-se ao risco cJeco5t).t_ameto_in,a.clejjaado ou "imoral" por parte do agente. Em tal situacao, o principal tenta, de diversas maneiras, encorajar o agente a ag,ir de maneira mais responsavel. A relacao de emprego é o exemplo classic°. 0 empregador é o principal e o tra- balhador é o agente. 0 problema do risco moral 6 a tentacao de trabalhadores ina- dequadamente monitorados de fugir as suas responsabilidades. Os empregadores podem reagir a esse problema de diversas maneiras: Melhor Juonitor,azziento. Diversos pais que contratam babas instalam cameras de Ideo ocultas em seus lares para registrar o comportamento dela quando estao ausentes. 0 objetivo é identificar comportamentos irresponsaveis. Altos_sqldrios, De acordo corn as teorias do saldrio de efici'encia (discutidas no Capitulo 19), alguns empregadores podem optar por pagar aos seus trabalhado- res urn salario superior ao nivel que equilibra oferta e demanda no mercado de trabalho. Um trabalhador..,que_receba urni. salario superiar_ao de,..equilibrio tern menos chances de esquivar-se do trabalho porque, se for observado e_ . pode nao ser capaz de erteenti.di out -empregO que—ifrifithere tao bem. risco moral a tendencia de alguem ina- dequadamente monitorado I de apresentar comportamen- 1 to desonesto ou indesejavel agente alguern que pratica urn ato em nome de outra pessoa, chamada de principal principal 1 alguem em cujo nome outra pessoa, chamada de agente, pratica algum ato "Agora veremos quanto ele me oma." f sele0o pa urna ack praticada por uma r-te desinformada para induzir a parte informada a sVevelar informaces .,_ CAPiTULO 22 FRONTEIRAS DA MICROECONOMIA 483 Estudo de Caso PRESENTES COMO SINAIS Um homem esta decidindo o que dar à sua namorada em seu aniversario. "Ja sei", diz a si mesn-io, "vou Ihe dar dinheiro. Afinal, nao conheo seu gosto tao bem quan- to ela mesma e, com o clinheiro, ela pode comprar o que quiser". Mas quando ele lhe entrega o dinheiro, ela se ofende. Convencida de que ele nao a ama, termina o relacionamento. Onde esta a economia por tras dessa histria? Em alg,uns sentidos, dar presentes e um costume estranho. Como sugere o homem da histkia, as pessoas normalmente conhecem as prOprias preferencias melhor do que os outros, de modo que seria de esperar que todos preferissem clinheiro a transferencias em especie. Se seu empregador trocasse o seu contrache- que por mercadorias, voce provavelmente faria objeao a essa forma de pagamen- to. Mas sua reaao é muito diferente quando alguern que (voce espera) goste de voce faz isso. Uma interpretKao do ato de presentear é que ele reflete informac, ao assimetrica e sinalizgao. 0 homem de nossa histkia tem uma informKao particular que sua namorada gostaria de saber: Ele realmente a ama? Escolher um born presente é um sinal do seu amor. É claro que escolher um presente tem as caracteristicas necessa- rias para ser um sinal. É custoso (consome ten-ipo), e o custo depende da informa- ção particular (quanto ele a ama). Se ele realmente ama sua namoracla, escolher um presente para ela sera facil porque ele pensa nela o tempo todo. Se nao a ama, encontrar o presente certo é mais dificil. Portanto, dar urn presente que agrade a sua namorada e uma maneira de transmitir a inforrnação particular de seu amor por ela. Dar dinheiro significa que ele nem sequer se deu ao trabalho de tentar. A teoria da sinalizaao do presentear condiz com outra observa(;:ao: As pessoas se preocupam mais com o costume quando a intensidade do afeto é mais questio- navel. Assim, dar dinheiro a uma namoracia ou um namorado costuma ser ma ide.ia. Mas quando estudantes universitarios ganham um cheque de seus pais, mui- tas vezes nao se ofendem. 0 amor dos pais provavelmente nao é questionavel, de modo que o presenteado nao interpretaria o presente em dinheiro como sinal de falta de afeto. • SeIe0o para a Induck à Divulgack de Informaces Quando uma parte informada pratica aY5es para revelar suas informay5es particu- lares, chamamos a esse fenOmeno sinalização. Quando uma parte desinformada pratica aY5es para induzir a parte informada a revelar informa95es particulares, o fen3meno é chamado de Em alguns casos, a selec;ao nada mais e do que bom senso. Alg,uem que comi_-.)ra um carro usado pode perguntar se ele foi verificado por urn mecanico antes da venda. 0 vendedor que se recuse a responder revela sua informaao particular de que o carro e um abacaxi. 0 comprador pode optar por oferecer um preo mais baixo ou 1.-)rocurar por outro carro. Outros exemplos de seleao sao mais sutis. Imagine, por exemplo, uma empresa que venda apOlices de seguro para carros. A empresa gostaria de cobrar um premio baixo dos motoristas cautelosos e um premio alto dos motoristas de maior risco. Mas como diferenciar uns dos outros? Os motoristas sabem se sao cautelosos ou de maior risco, mas estes nao o revelariam. 0 histkico do motorista e uma fonte de informaao (que as seguradoras efetivamente usam), mas, por causa da aleatorieda- de intrinseca aos acidentes de automOvel, é um indicador imperfeito do risco futuro. 484 PARTE 7 TOPICOS DE ESTUDOS AVANKADOS A seguradora poderia separar os dois tipos de motorista oferecendo apolices diferentes que os induzissem a se disting,uirem por si mesmos. Uma politica teria premio elevaclo e cobriria o custo total de quaisquer acidentes que acontecessem. A outra teria urn premio menor, mas uma franquia de, digamos, $ 1 mil (ou seja, o motorista se responsabilizaria 'Delos primeiros $ 1 mil em danos e a seg,uradora cobriria o restante). Observe que a franquia representa urn encargo major para os motoristas de major risco porque eles tem mais chance de se envolverem em aci- dentes. Assim, havendo uma franquia g,rande o bastante, a apalice de premio menor corn a franquia atrairia os motoristas cautelosos, enquanto a de premio major sem a franquia atrairia os motoristas de major risco. Em face desses dois tipos de apolice, os dois tipos de motorista revelariam suas informacoes particula- res escolhendo apolices diferentes. Informacao Assimetrica e Politica Publica Examinamos dois tipos de informacao assimetrica - o risco moral e a selec5o adver- sa. E vimos como as pessoas podem responder ao problema por meio de sinaliza- cao ou selecao. Vamos ver agora o que o estudo da informacao assimetrica sugere a respeito do proposito adequado da politica publica. A tensao entre o sucesso de mercado e a falha de mercado é crucial para a microeconomia. Vimos no Capitulo 7 que o equilibrio de oferta e demanda é efi- ciente no sentido de que maximiza o excedente total que a sociedade pode obter do mercado. A mac) invisivel de Adam Smith parecia ter poder supremo. Essa con- clusao foi entdo temperada corn o estudo das externalidades (Capitulo 10), dos bens publicos (Capitulo 11), da competic-do imperfeita (Capitulos 15 a 17) e da pobreza (Capitulo 20). Esses exemplos de falhas de mercado demonstraram que o governapode, as vezes, melhorar os resultados de mercado. 0 estudb—da rrrformac5o assimetrica nos-dThrn-a-tiova razao para ter cautela corn os mercados. Quando alg,umas pessoas conhecem mais do que outras, o mer- cado pode falhar ao colocar seus recursos em seu melhor uso. As pessoas que tern carros usados de alta qualidade podem ter dificuldade para vende-los porque os compraciores tern medo de ficar corn urn abacaxi. Pessoas saudaveis podem ter difi- culdade para conseguir seguro-sa6de de baixo custo porque as seguradoras as colocam na mesma categoria das pessoas que tern problemas de saude significati- vos (porem ocultos). Embora a informacao assimetrica possa exigir acao do governo em alguns casos, ha tres fatos que cornplicam a questaotPrimeiro, como vimos, o mercado privado pode, algumas vezes, lidar sozinho corn as assimetrias de informacao usando uma combinac5o de sinalizacao e selecao. Segundo, o govern() raramente dispoe de mais informacoes que as partes privadaSA Mesmo que a alocacao de recursos do mercado nao seja a melhor possivel, pode ser a seg,unda melhor. Ou seja, quando ha informacoes assimetricas, os formuladores de politicas podem ter dificuldade para melhorar o resultado reconhecidamente imperfeito do mercado. E, terceiro, o prOprio governo é uma instituicao imperfeita - urn topic() que abordaremos na pro- ximo secao. Teste Rapido Alguern que contrata urn seguro de vida paga uma determinada quantia por ano e sua familia recebe uma quantia muito maior no caso de sua morte. Na sua opiniao, as taxas de mortalidade entre os contratantes de seguro de vida devem ser maiores ou menores do que entre as pessoas medias? Como isso pode ser urn exemplo de risco moral? E de selecao adversa? Como uma companhia de seguros pode li dar corn esses problemas? CAPjTULO 22 FRONTEIRAS DA MICROECONOMIA 485 ECOKOMIA POUTHCA Como vimos, os mercados, por si sOs, nem sempre atingem uma alocac;cio deseja- vel dos recursos. Quando julgamos se o resultado de mercado é ineficiente ou injusto, pode ser a oportunidade para o governo entrar e melhorar a situação. Mas antes de adotarmos um governo ativista, precisamos considerar mais um fato: o governo tambem é uma instituição imperfeita. O carn:->“2_c_lacconomity_p_o_ift:wa (por vezes chamado de carni.-)o da escolha pirlilicti) aplica os metod Cife-cpnomia_para dar.çQjoo g-ovemo funciona. 0 Paradoxo Eleitoral de Condorcet A maioria das sociedades avaNadas usa os principios democraticos para estabele- cer politicas governamentais. Quando uma ciciade esta decidindo entre dois locais para a constru -ao de um novo parque, por exemplo, ha uma rnaneira simples de escolher: vence a maioria. Mas, para a maioria das quesffies politicas, o ninnero de resultados possiveis e bem maior do que dois. Um novo parque, por exemplo, poderia ser construido em muitos locais diferentes. Nesse caso, como observou o Marqu&s de Condorcet, um teOrico politico frances do seculo XVHI, a democracia 1,-) ode ter algumas dificuldades tentando escolher un-1 dos resultados. Suponha, por exemplo, que haja tr-(" s resultados possiveis, chamados de A, B e C, e que haja três tipos de eleitores com as preferncias indicadas na Tabela 1. 0 prefeito da cidade quer ag-regar e.ssas prefer'encias individuais em prefere'ncias da sociedade como um todo. Como ele deve proceder? De início, ele poderia experimentar agregar votos em pares. Se pedir que os elei- tores escolham entre B e C, os eleitores dos tipos 1 e 2 votar5o em B, dando a essa opc;"ao a maioria. Se, enth- o, pedir que os eleitores escolham entre A e B, os eleito- res dos tipos 1 e 3 escolhen:So A, dando a essa opção a maioria. Observando que A vence B e B vence C, o prefeito poderia concluir que A e a escolha dos eleitores. Mas, espere: Suponha que o prefeito peça, então, que os eleitores escolham entre A e C. Nesse caso, os eleitores dos tipos 2 e 3 escolherão C, dando a essa opc; - o a maioria dos votos. Ou seja, nas eleições majoritarias em pares, A vence B, B vence C e C vence A. Normalmente, seria de se esperar que as preferencias apre- sentassem uma propriedade chan-lada trausitividade: se A e preferido em relaco a BeBe preferido ern rela o a C, ent'ao seria cle esperar que A fosse preferido a C. 0 paradoxo de Condorcet diz que os resultados democraticos nem sempre obe- decen-1 a essa propriedade. A votg^ao ern pares pode produzir preferCmcias transi- 0 Paradoxo de Condorcet Se os eleitores tivessem as prefere"ncias abaixo pelos resultados A, B e C, entao, em eleicaes majoritarias em pares, A venceria B, B venceria C e C venceria A. Tipo de Eleitor Tipo Tipo 2 Tipo 3 Porcentagem do eleitorado 35 45 20 Primeira opc-ao Segunda opck B Terceira opcik C paradoxo de Condorcet o fracasso da regra de maioria para produzir prefer&icias transitivas para a sociedade 488 PARTE 7 TOPICOS DE ESTU DOS AVAINcADOS 0 eleitor median() vence porque seu resultado preferido supera qualquer outra proposta em dois sentidos. Em nosso exemplo, mais da metade dos eleito- res quer orcamentos de $ 10 bilhoes ou mais, e mais da metade quer orcamentos de $ 10 bilhoes ou menos. Se alguem propuser, digamos, $ 8 bilhoes em vez de $ 10 bilhoes, todos os que preferem $ 10 bilhOes ou mais votarao corn o eleitor mediano. De forma similar, se alguem propuser $ 12 bilhoes, todos os que que- rem $ 10 bilhOes ou menos votarao corn o eleitor median°. Seja ern urn caso, seja no outro, o eleitor me_diano tern mais d_a_n-ietade dos eleitores.,ao„.seu. lado. E quanto ao paradox° eleitoral de Condorcei? Ocorre que, quando a maioria dos eleitores esta escolhendo urn ponto ao longo de uma linha e cada eleitor tenta se aproximar do seu ponto preferido, o paradoxo de Condorcet nao pode surg,ir. 0 resultado preferido do eleitor mediano supera todos os concorrentes. Uma implicacao do teorema do eleitor median° é que, se dois partidos politicos estiverem cada um tentando maximizar sua chance de eleicao, os dois moverao seu posicionamento para aproximar-se do eleitor mediano. Suponha, por exemplo, que o Partido Democrata proponha urn orcamento de $ 15 bilhoes e o Partido Repu- blican° proponha urn orcamento de $ 10 bilhoes. A posicao democrata é mais popular, no sentido de que a proposta de $ 15 bilhoes atrai mais eleitores do que qualquer outra proposta por si so. Ainda assim, os republicanos conseg,uem mais de 50% dos votos: eles atraem os 20 eleitores que desejam $ 10 bilhoes, os 15 que desejam $ 5 bilhoes e os 25 que desejam zero. Se os democratas quiserem vencer, terao de mover sua plataforma para urn pont° mais proximo do eleitor median°. Isso explica, na teoria, porque os partidos em urn sistema biparticlario sao tao pare- cidos. Os dois estao se aproximando do eleitor median°. Outra implicacao do teorema do eleitor median() é que as opinioes minoritarias nunca recebem muita atencao. Imagine que 40% da populacao deseje que se gaste muito dinheiro nos parques nacionais e que 60% deseje que nao se gaste qualquer coisa neles. Nesse caso, a preferencia do eleitor median° é zero, independentemen- te da opinido da minoria. E assim que funciona a democracia. Em vez de ating,ir urn meio-termo que leve em_ consideracao_ as prefe.rencias_ de todos,. a regra .0airnaioria se:lc/oft-a—a-15-611as para a pessoa que e-sta exata nte no meio da distribuicao. Os Politicos Tambern Sao Pessoas Quando os economistas estudam o comportamento do consumidor, assumem que os consumidores comprem a combinacao de bens e servicos que lhes proporciona o maior nivel de satisfacao. Quando os economistas estudam o comportamento das empresas, assumem que elas produzem a quantidade de bens e servicos que leva ao maior nivel de lucros. 0 que os economistas deveriam assumir quando estudam as pessoas envolvidas na pratica de politicas? Os politicos tambem tem objetivos. Seria born poder admitir que os lideres poli- ticos estao sempre em busca do hem-estar da sociedade como urn todo, que eles tern como meta uma combinacao otima de eficiencia e equidade. Seria born, mas nao seria realista. 0 interesse proprio é uma motivacao tao poderosa para os poli- ticos quanto o é para os consumidores e os proprietarios das empresas. Alg-uns politicos sao motivados pelo desejo de se reelegerem e estao dispostos a sacrificar o interesse nacional se isso puder solidificar sua base de eleitores. (Veja o quadro Noticias nas paginas 490 e 491.) Outros politicos sao motivados por simples ganan- cia. Se tiver alguma diavida disso, basta olhar para os paises mais pobres do mundo, onde a cornipcdo entre os executivos do govemo é urn obstaculo comum ao desen- volvimento economic°. Este livro nao é o foro adequado para desenvolver uma teoria do comportamen- to politico. Trata-se de urn topic° que é melhor deixar para os cientistas politicos. Mas, ao pensar na politica econOmica, lembre-se de que essa politica é feita rid° por CAPh-ULO 22 FRONTEIRAS DA MICROECONOMIA 489 um rei benevolente, mas por pessoas reais com seus prOprios interesses puramen- te humanos. Elas sao por vezes motivadas pelo desenvolvimento nacional, mas, em outros casos, sua motivacao esta em suas prOprias ambicOes politicas e financeiras. Na- o deveriamos nos surpreender quando a politica econOmica divergisse dos ideais derivados nos livros de economia. Teste R4ido Uma escola pública distrital esta votando para decidir o orcamento escolar e, conseqen- temente, a proporck entre alunos e professores. Uma pesquisa revela que 35% dos eleitores desejam uma proporcao de 9/1, 25% desejam 10/1 e 40% desejam 12/1. Qual o resultado que voce esperaria da votack? ECONOMIA COMPORTAMENTAL A economia e o estudo do comportamento humano, mas nao e o Unico campo de que se pode dizer isso. A ciência social da psicologia tambem lanca luz sobre as escolhas que as pessoas fazem durante suas vidas. Os campos da economia e da psicologia costumam operar independentemente, em parte porque abordam um conjunto diferente de questOes. Mas surg,iu recentemente um campo chamado eco- nomia comportamental em que os economistas estao usando principios basicos da psicolog,ia.Vamos abordar aqui alguns desses principios. As Pessoas nem Sempre São Racionais A teoria econOmica é povoada por uma especie as vezes chamada de homo econo- micus. Os membros dessa especie s -ao sempre racionais. Como administradores de empresas, maximizam os lucros. Como consumidores, maximizam a utilidade (ou, o que da no mesmo, escolhem o ponto da curva de indiferenca mais alta). Dadas as restricOes a que estao sujeitos, ponderam racionalmente os custos e os benefi- cios e sempre escolhem o melhor curso de acao possivel. As pessoas reais, contudo, sao homo sapiens. Embora lembrem de muitas manei- ras os habitantes racionais e calculistas da teoria econOmica, elas sao muito mais complexas. Podem ser esquecidas, impulsivas, confusas, emotivas e de horizontes curtos. Essas imperfeicOes do raciocinio hurnano são o ganha-pao da psicologia, mas, ate recentemente, os economistas as desconsideravam. Herbert Simon, um dos primeiros cientistas sociais a trabalhar na fronteira entre economia e psicologia, sugeriu que os humanos podem ser vistos nao como maxi- mizadores racionais, mas como satisficers 1 . Em vez de sempre escolherem o melhor curso de acao, eles tomam decisOes que s'ao apenas boas o suficiente. De forma similar, outros economistas sugeriram que os humanos sao apenas "quase racio- nais" ou que apresentam "racionalidade limitada". Estudos sobre a tomada de decisOes pelos humanos procuraram identificar erros sistematicos que as pessoas cometem. Eis algumas das descobertas: • As pessoas sdo excessivamente confiantes. Imag,ine que alguen-i lhe faca perguntas numericas, como o nUmero de paises africanos membros das NacOes Unidas, a altura da montanha mais alta da America do Norte etc. Em vez de lhe ser pedi- da uma estimativa exata, contudo, voce' deve indicar um intervalo de confianca de 90% — uma faixa tal que voc'e possa ter 90% de certeza de que o nUmero ver- dadeiro esta dentro dela. Quando os psicOlogos fazem experimentos desse tipo, percebem que a maioria das pessoas propOe faixas muito estreitas: o nUmero verdadeiro fica dentro dos seus intervalos bem menos que 90°/0 das vezes. Ou seja, a maioria das pessoas confia demais na prOpria capacidade. 1 NRT: Consumidor que fica satisfeito quando encontra algo que é "bom o suficiente". 490 PARTE 7 TOPICOS DE ESTUDOS AVANcADOS NOTICIAS POLITICA AGRiCOLA E POLITICA 0 humorist° Dave Barry volta SUG miro para a Lei de Seguranca Agricola, que o Congresso americana aprovou e o presidente Bush sancionou em 2002. 0 Fazendeiro Passa o Chapeu Par Dave Barry Se voce é coma a maioria dos contribuintes americanos, volta e meia acorda no meio da noite, suando frio e pensando: "Sera que estou fazendo a minha parte para ajudar os produtores de la de cabra?" Fico feliz em informar que voce esta, gracas a corajosa atitude tomada recente- mente pelo Congresso americano (cujo le- ma e "Ei, nao é o NOSSO dinheiro!"). Refiro- me a Lei de Seguranca Agricola de 2002, que emergiu recentemente do processo legislativo mais ou menos como um punha- do de capim processado sai, fumegante, do trato digestivo de uma vaca. 0 objetivo da Lei de Seguranca Agricola e proporcionar "estabilidade de precos" aos fazendeiros. 0 que significa "estabilidade de precos"? Significa: o seu dinheiro. Voces ja estavam sendo bem generosos: So no ano passado, deram mais de $ 20 bilhOes em estabilidade de precos aos fazendeiros. Desde 1996, deram mais de 1 milhao de Mares a cada um dos mil felizardos, mui- tos dos quais sao grandes empresas do agribusiness. Alguns dos "fazendeiros" para quern voces mandaram dinheiro sao bilio- narios, como Ted Turner e Charles Schwab, e grandes empresas, como a Chevron, a DuPont e a John Hancock Mutual Life Insu- rance. Mas isso nao é NADA comparado a como voces vao ficar generosos, contribuin- tes! Gracas a Lei de Seguranca Agricola, nos proximos dez anos voces vao proporcionar aos fazendeiros 70% MAIS estabilidade, em um total de $180 bilhoes. A essa taxa, em alguns anos as fazendeiros estarao tao esta- veis que terao de se esconder em seus poroes com medo de serem atingidos por fardos de dinheiro dos contribuintes sendo despejados sobre os estados agricolas por bombardeiros da Forca Aerea. • As pessoas (Mo imporkincia demais a um pequeno 111,-071er0 de observacaes vividas. Imagine que voce esteja pensando em comprar urn carro da marca X. Para saber mais sobre a confiabilidade do veiculo, le a Consumer Reports, que fez uma pes- quisa corn mil proprietarios do carro X. Entao voce encontra uma amiga que possui urn carro da marca e ela lhe diz que é urn abacaxi. Como voce trata a observacao da sua amiga? Se voce pensar racionalmente, vera que ela so aumentou o tamanho da amostra de 1.000 para 1.001, o que nao representa muita inforrnacao nova. Mas como a historia da sua amiga é de fato vivida, voce pode sentir-se tentado a lhe dar major peso em sua tomada de decisao do que deveria. • As pessoas relutain cm fluidal- de ideia. As pessoas tendem a interpretar as eviden- cias de maneira a confirmar crencas que ja tenham. Em urn estudo, pediu-se aos entrevistados que lessem e avaliassem urn relatario de pesquisa a respeito da pena capital e de sua capacidade de reduzir a criminalidade. ApOs ler o relato- rio, as pessoas inicialmente favor6veis a pena de morte afirmaram estar mais convencidas de sua opiniao e as que cram contrarias a pena de morte tambem disseram estar mais convencidas de sua opiniao. Os dois g,rupos interpretaram as mesmas evidencias de maneiras exatamente opostas. Pense nas decisoes que tomou em sua vida. Voce apresenta alg,uns desses tracos? CAPiTULO 22 FRONTEIRAS DA MICROECONOMIA 493 As Pessoas So Inconsistentes ao Longo do Tempo Imagine alguma tarefa irritante, como lavar sua roupa, limpar a neve da cal ada ou preencher os formulzirios do imposto de renda. Agora considere as seguintes questOes: 1. Voc'e preferiria (A) passar 50 minutos cumprindo a tarefa imediatamente ou (B) passar 60 minutos cumprindo a tarefa aman W 2. Você preferiria (A) passar 50 minutos cumprindo a tarefa daqui a 90 dias ou (B) passar 60 minutos cumprindo a tarefa daqui a 91 dias? Quando questOes como essas s"o propostas, muitas pessoas escolhem B na ques- tio 1 e A na questo 2. Quando olham para o futuro (como na questo 2), elas minimizam a quantidade de tempo dedicada à tarefa incOmoda. Mas ante a pers- pectiva de cumprir a tarefa imediatamente (como na quesfflo 1), preferem adiar. Em certo sentido, esse comportamento não é surpreendente: todo mundo pro- crastina de tempos em tempos. Mas, do ponto de vista da teoria do homem racio- nal, isso causa estranheza. Suponha que, respondendo à questo 2, alguem opte por gastar 50 minutos daqui a 90 dias. Ent - o, quando chega o 90 9 dia, permitimos que mude de ideia. Na prElitica, a pessoa se deparani com a quesUio 1, de modo que optarEi por deixar a tarefa para o dia seguinte. Mas por que a siinples passagem do tempo afeta as escolhas feitas? Em muitas situgOes na vida, as pessoas fazem planos para si mesmas, mas os cumprem. Un-1 fumante promete parar, mas, poucas horas depois de apagar o últiiììo cigarro, sente vontade de fumar e quebra sua proinessa. Alguem que esteja tentando emagrecer promete parar de comer sobremesa, mas, quando o gallom traz o carrinho de doces, a promessa é esquecida. Nos dois casos, o desejo por uma satisfaio imediata induz o tomador de decisOes a abandonar seus prOprios planos. Alguns economistas acreditam que a decis'c'io consumo-poupanc, a é um exemplo importante dessa inconsistncia ao longo do tempo. Para muitas pessoas, os gastos representam uma forma de satisfa o imediata. Poupar, como parar de fumar ou abandonar a sobremesa, exige um sacrificio do presente em troca de uma recompen- sa no futuro distante. E assim, como muitos fumantes adorariam conseguir parar de fumar e muitas pessoas acima do seu peso ideal desejariam comer menos, muitos consumidores gostariam de poupar mais. De acordo com uma 1.-)esquisa, 76% dos americanos afirmam que não est5o poupando o suficiente para sua aposentadoria. Uma implicKo dessa inconsist'encia ao longo do tempo e que as pessoas ten- tariam encontrar maneiras de se comprometer com o cumprimento dos planos que fazem. Um fumante que quer parar de fumar pode jogar fora os cigarros que lhe restam e alguem que esteja de dieta pode colocar um cadeado na geladeira. 0 que pode fazer alguem que mio poupa o suficiente? Essa pessoa precisa encontrar algu- ma maneira de "trancar"seu dinheiro antes que possa exatamente o que fazem algumas contas de aposentadoria, como os planos 401(k). Um trabalhador pode concordar em ter algum dinheiro retirado de seu contracheque antes mesmo de em rM-1os. O dinheiro e depositado em uma conta que somente pode ser usada antes da aposentadoria mediante o pagamento de uma multa. Talvez este seja o motivo pelo qual as contas cle aposentadoria sc5o tão populares: elas prote- gem as pessoas de seus desejos de satisfaio imediata. 7este R4ido Descreva pelo menos tr 's maneiras pelas quais a tomada de decises humana difere da do individuo racional da teoria econ6mica convencional. CO IY_CLU5A0 Este capitulo examinou a fronteira da microeconomia.Vo& talvez tenha percebido que limitamo-nos a delinear as ideias, sem desenvolv&-las. Isso não foi por acaso. 494 PARTE 7 TOPICOS DE ESTUDOS AVANIcADOS Urn dos motivos é que voce podera estudar esses topicos corn mais detalhes em cursos avancaclos. Outro é que esses tOpicos sao areas ativas de pesquisa e, portan- to, ainda estao sendo investigados. Para ver como esses topicos se enquadram no panorama geral, lembre-se dos Dez Principios de Economia do Capitulo 1. Urn deles diz que os mercados costumam ser urn born jeito de organizar a atividade econamica. Outro declara que os gover- nos podem, as vezes, melhorar os resultados de mercado. IA° estudar a economia, voce podera apreciar mais plenamente a verdade desses principios e tambem as limitac5es que eles apresentam. 0 estudo das informacoes assimetricas deve te-lo deixado cauteloso corn os resultados de mercado. 0 estudo da economia politica deve te-lo deixado precavido corn as soluc5es do govern°. E o estudo da economia comportamental deve te-lo deixado precavido corn qualquer instituicao que depen- da da tomada de decisnes pelas pessoas — inclusive os mercados e o governo. Se ha urn tema comum a esses topicos, é o de que a vida é complicada. A infor- maga° é imperfeita, o governo é imperfeito, as pessoas sao imperfeitas. E claro que voce ja sabia disso muito antes de comecar a estudar economia, mas os economis- tas precisam entender essas imperfeicoes corn a maior precisao possivel para expli- car e, quem sabe, melhorar o mundo que os cerca. RESUMO • Em muitas transacoes econernicas, a informacao é assimetrica. Quando ha acoes ocultas, os principais podem temer que os agentes sofram do problema do risco moral. Quando ha caracteristicas ocultas, os compradores podem temer a questa° da selecao adversa entre os vendedores. Os mercados priva- dos as vezes lidam com a informaca-o assimetrica por meio de sinalizacao e selecao. • Embora a politica govemamental possa, as vezes, melhorar os resultados de mercado, os governos sac), eles mesmos, instituicoes imperfeitas. 0 para- dox° de Condorcet mostra que a regra da maioria fracassa em produzir preferencias transitivas para a sociedade, e o teorema da impossibilidade de Arrow mostra que rid° ha sistema eleitoral perfeito. Em muitas situagoes, as instituicoes democraticas pro- duzem o resultado desejado pelo eleitor mediano, independentemente das preferencias do restante do eleitorado. Alem c-lisso, as pessoas que estabele- cern a politica govemamental podem ser motiva- das por interesses proprios e nao pelo interesse nacional. • 0 estudo da psicologia e da economia revela que a tomada de decisoes humana é mais complexa do que se costuma admitir na teoria economica con- vencional. As pessoas nem sempre sac) racionais, elas se preocupam corn a justica dos resultados econamicos (mesmo em detriment° proprio) e podem ser inconsistentes ao longo do tempo. CONCEITOS-CHAVE risco moral, p. 480 sinalizacao, p. 482 teorema da impossibilidade de Ar- agente, p. 480 selecao, p. 483 row, p. 486 principal, p. 480 paradox° de Condorcet, p. 485 teorema do eleitor median°, p. 487 selecao adversa, p. 481 QUESTOES PARA REVISAO 1. 0 que é risco moral? Liste tres coisas que um empregador poderia fazer para atenuar esse pro- blema. 2. 0 que é selecao adversa? De um exemplo de urn mercado em que a selecdo adversa poderia repre- sentar urn problema. CAFijTULO 22 FRONTEIRAS DA MICROECONOMIA 495 3. Defina sinaliza(do e sele o e dê um exemplo cada. 4. Que propriedade estranha do processo eleitoral foi observada por Condorcet? 5. Explique por que a reg,ra da maioria respeita as preferencias do eleitor n-iediano e n5o as do eleitor medio. 6. Descreva o jogo do ultimato. Que resultado a teoria econ mica convencional preveria para esse jogo? A pr5tica confirn-la essa previs-c-lo? Explique. 1. Todas as situa es a seguir envolvem risco moral. Em cada caso, identifique o principal e o agente e explique por que 1-15 infom-ia(;5o assimetrica. Como a açîio clescrita atenua o problema do risco n-loral? a. Os proprietkios exigem que seus inquilinos depositem uma cau5o. b. As empresas recompensam seus executivos mais graduados com oKb- es de compra de ações da empresa a um determinado prec;o no futuro. c.As seguradoras de carros oferecem descontos a clientes que instalem dispositivos antifurto em s us veiculos. 7. Suponha que a Live-Long-anci-Prosper Health Insurance Company cobre $ 5 mil por ano por uma ap6lice familiar. 0 13residente da en-ipresa sugere elevar o preo anual para $ 6 mil para aumentar os lucros. Se a empresa seguir essa sugest5o, que pro- blema econ6mico poderia surgir? A clientela da en-ipresa tenderia a se tornar mais ou menos sau- d5vel, em media? Os lucros cla en-ipresa aumenta- riam, necessariamente? 3. 0 estudo de caso deste capitulo descreve como um homem pode sinalizar para sua namorada que a ama, oferecendo-lhe um presente apropriado. Voce acha que dizer "eu te amo"tambem pode ser- vir como um sinal? Por qu? 4. Alguns ativistas ligados à Aids acreditam que as companhias de seg,uro-sade n5o deveriam ter permiss5o de perguntar aos solicitantes de planos se eles est5o ou n5o contaminados com o virus HIV, que causa a Aids. Essa regra seria boa ou ruim para os HIV-positivos? E seria boa ou ruim para os que n5o s5o HIV-positivos? Ela exacerbaria ou atenuaria o problema da sele5o adversa no mer- cado de seguro-saiide? Em sua opini5o, isso aumentaria ou climinuiria o ninnero de pessoas sem seguro-sallde? Em sua opini5o, esta seria uma boa politica? 5. 0 govemo est5 considerando dois meios de ajudar os necessitados: dar-lhes dinheiro ou refei es 0-ratuitas em refeit6rios comunitkios. De um ar- g,umento favor5vel à distribuiyTio de dinheiro. um arg,umento, baseado na assimetria de informa- 5o, segundo o qual os refeitOrios comunit5rios podem ser melhores do que dar dinheiro. 6. Ken entra em uma sorveteria: GARwivi: Hoje temos sorvete de creme e de chocolate. KEN: Quero o cle creme. GARC;ONA: Q iiase me esqueci. Tambem temos de morango. KEN: Nesse caso, quero o de chocolate. Que propriedade-padr5o da tomada de decises Ken violou? (Dica: Leia a se5o sobre o teorema da impossibilidade de Arrow.) 7. Por que um partido politico em um sistema bipar- tid5rio poderia optar por n5o se deslocar em clire- c;50 ao eleitor mediano? (Dica: Pense nas absten- 5es de voto e nas contribui6es para as campa- nhas politicas.) 8. Dois carrinhos de sorvete est5o decidindo onde se instalar eni uma praia com dois quil8n-letros de comprimento. Cada freqi_ientador da praia compra exatamente um sorvete por dia do carrinho preiximo. Cada vendedor de sowete deseja para si o niimero m5ximo de clientes. Em qual ponto da praia os dois carrinhos ir5o ficar? 9. Ap6s um terremoto muito noticiado na Califernia, muitas pessoas telefonaram a suas seguradoras para solicitar seguros contra terremotos. Essa rea- ção poderia representar um desvio da racionalida- de? Discuta. lir -------w -- - -- -- lr MEDINDO RENDA NACIONAL 'Ouando voce concluir os estudos e comecar a procurar por urn emprego em tempo integral, sua experiencia sera moldada, em g-rande medida, pelas condicoes econo- micas do momento. Em alg-uns anos, as empresas de toda a economia estao expan- dindo sua producao de bens e servicos, o nivel de emprego esta aumentando e é facil encontrar trabalho. Em outros anos, as empresas estao reduzindo a producao, o nivel de emprego esti em queda e leva muito tempo encontrar urn born trabalho. Nao é de surpreender, portanto, que qualquer estudante recern-formado prefira entrar no mercado de trabalho em urn ano de expansao econornica a ingressar em urn ano de contracao econOmica. Como a condicao geral da economia afeta profundamente a todos nos, as mudancas das condicoes economicas sao muito noticiadas pela imprensa. De fato, é dificil ler urn jornal sem ver alg-uma nova estatistica sobre a economia. A estatfs- tica pode medir a renda total de todas as pessoas da economia (o PIB), a taxa a que os precos estao aumentando (a inflacao) a porcentagem da forca de trabalho que esta sem trabalhar (a taxa de desemprego), a despesa total nas lojas (vendas no varejo) ou o desequilfbrio do comercio entre os Estados Unidos e o restante do mundo (o deficit comercial). Todas essas estatisticas sao macroeconomicas. Em vez de nos dizerem algo a respeito de uma familia ou empresa especffica, nos dizem algo sobre a economia toda. 500 PARTE 8 DADOS MACROECONI5MICOS Como vimos no Capitulo 2, a ciencia. econ6mica se divide ern dois ramos: microeconomia e macroeconomia. A microeconomia é o estudo de con-io as fami- lias e as empresas individuais tomam decis -cies e interagem umas com as outras nos mercados. A macroeconomia é o estudo da economia como um todo. 0 objetivo da macroeconomia é explicar as mudanas econe)micas que afetani muitas empresas e mercados simultaneamente. Os macroeconomistas abordam diversas questes: Por que a renda media e elevada em alg-uns paises e baixa em outros? Por que os prec;.-os sobem rapidamente em alg,umas'epocas e permanecem mais esta- veis em outras? Por que a produao e o emprego aumentam em alg,uns anos e se contraem em outros? 0 que o governo pode fazer para 1.->romover o crescimento acelerado da renda, a baixa inflac;a- o e um nivel de emj_-)rego estavel? Essas pergun- tas s .ao todas de natureza macroecon6mica porque se referem ao funcionamento da economia como um todo. Como a economia nada mais e clo que um conjunto de muitas familias e mui- tas empresas que interagem em muitos mercados, a microeconomia e a macroeco- nomia estao intimamente associadas. As ferramentas basicas de oferta e demanda, por exemplo, sao tao cruciais para a analise macroecone)mica quanto para a microe- conmica. Mas estudar a economia levanta alg,uns de.safios novos e intrigantes. Neste capitulo e no pr&imo, cliscutiremos alg,uns dos dados que os economistas e os formuladores de políticas usam para monitorar o desempenho da economia. Esses dados refletem as n-iudanas econ6micas que os macroeconomistas procuram explicar. Este capitulo trata do produto internol)ruto, ou simplesmente PIB, que mede a renda total de um pais. 0 PIB é a estatistica econ3mica acompanhada com mais aterio porque e considerada a melhor medida do bem-estar econ6mico de uma sociedade. microeconomia o estudo de como familias e empresas' tbmam' decisq-es e de como interagem-ries jrn., mercado0 macroeconomia o estudo de fen6menos que afetam a economia como um todo, inclusive inflack, desemprego e crescimento ecorrqmico RENDA E DESPESA DA. -r-CONWA Se voce fosse julgar a situacAo econe)mica de uma pessoa, olharia primeiramente para a sua renda. Uma pessoa com renda elevada tem mais facilidade para pagar pelos bens necessarios e superfluos que existem. Nao é de surpreender que pes- soas de renda elevada desfrutem de melhor padrio de vida — melhor moradia, melhor atendimento à saLide, carros mais luxuosos, ferias mais opulentas e assim por diante. A mesma I6gica se aplica à economia de um pais. Ao julgar se uma economia vai bem ou mal, é natural examinar a renda total obticla por todos os membros da economia. Essa e a func;ao do produto intemo bruto (PIB). 0 PIB mede duas coisas ao mesmo tempo: a renda total de todas as pessoas da economia e a despesa total com os bens e servic, os produzidos na economia. A razao pela qual o PIB consegue medir tanto a renda total quanto a despesa total que, na verdade, tanto a renda quanto a despesa sao a mesma coisa. Pl7r17 a CC0110- Mia COMO 11111 todo, a renda deve ser igual a despesa. Por que isso e verdadeiro? A renda de uma economia é igual à despesa porque cada transac;o envolve duas partes: um comprador e um vendedor. Cada d6lar de despesa de alg-um comj.-)rador corresponde a um dlar de renda para um vendedor. Suponha, por exemplo, que Karen pague a Doug $ 100 para que corte seu graina- do. Nesse caso, Doug e um vendedor de um servio e Karen é uma compradora. Doug ganha $ 100 e Karen gasta $ 100. Assim, a transa o contribui igualmente para a renda da economia e para a despesa do pais. 0 PIB, seja ele medido pela renda ou pela despesa, aumenta em $ 100. Outra maneira de enxergar a igualdade entre renda e despesa é por meio do diagr, ama de fluxo circular representado na Fig-ura 1 (voce talvez se lembre de que CAPITULO 23 IVIEDINDO A RENDA NACIONAL "... os Bens e Servicos..." 0 FIB inclui tanto os bens tangiveis (alimento, vestuario, carros) quanto os servi- cos intangiveis (cortes de cabelo, faxina, consultas medicas). Quando voce comipra urn CD de sua banda predileta, esti comprando urn hem, e o preco de compra faz parte do FIB. Quando voce paga para assistir a urn show da rnesma banda, esta comprando urn servico, e o preco do ing-resso tambem faz parte do FIB. Uma excecao importante a esse principio surge quando urn hem intermediario é produzido e, em vez de ser usado, é acrescentado ao estoque de bens de uma empresa para ser usado ou vendido em uma data posterior. Nesse caso, o hem intermediario é considerado "final" nesse moment() e seu valor como investimento ern estoque é adicionado ao FIB. Quando o estoque do bem intermediario for, mais tarde, utilizado ou vendido, o investimento da empresa ern estoque sera negativo e o FIB do 'period° posterior sera reduzido de acordo. "... Finais..." Quando a International Paper produz papel que a Hallmark usa para fazer urn car- tao, o papel é chamado de bem intermedidrio, e o cartao, de bem _final. 0 FIB inclui somente o valor dos bens finals. A razao é que o valor dos bens intermediarios ja esta incluido no preco dos bens finals. Somar o valor de mercado do papel ao valor de mercado do cartao seria uma dupla contagem, ou seja, contar duas vezes (incor- retamente) o papel. Produzidos..." 0 FIB inclui os hens e servicos produzidos no presente. Nao inclui transacoes que envolvam itens produzidos no passado. Quando a General Motors produz e vende urn carro novo, o valor do carro é incluido no FIB. Quando uma pessoa vende a outra urn carro usado, o valor do carro usado nao é incluido no FIB. em um Pals..." 0 FIB mede o valor da producao dentro dos limites geograficos de urn pais. Quando urn cidadao canadense trabalha temporariamente nos Estados Unidos, sua producao faz parte do FIB dos Estados Unidos. Quando urn cidadao norte- americano é dono de uma fabrica no Haiti, a producao de sua fahrica não faz parte do PIB dos Estados Unidos (mas, sim, do Haiti). Assim, os itens sao incluidos no PIB de urn pais se forem produzidos internamente, independentemente da nacio- nalidade do produtor. II em urn Dado Perlodo de Tempo" 0 PIB mede o valor da producao que tern lugar em urn interval° de tempo especi- fico. Geralmente esse intervalo costuma ser de urn ano ou urn trimestre. 0 PIB mede o fluxo de renda e despesa durante esse interval°. Quando o governo divulga o FIB de urn trimestre, geralmente apresenta o FIB "a uma taxa anual", ou anualizado. Isso significa que o valor relatado do FIB é o mon- tante de renda e despesa durante o trimestre multiplicado por 4. 0 govemo usa essa convencao para facilitar a comparacao entre os valores trimestrais e anuais do FIB. 503 504 PARTE 8 DADOS MACROECONC/MICOS Além disso, quando o govemo divulga o PIB trimestral, apresenta os dados depois de terem sido modificados por um procedimento estatistico chamado ajus- tamento sazonal. Os dados 1-u'io-ajustados normalmente mostram com clareza que a economia produz mais bens e servios em alg,umas epocas do ano do que em outras (como voc'e pode imaginar, dezembro, com as con-ipras de fim de ano, e um dos pontos altos). Quando monitoram as condi es da economia, economistas e legisladores freqientemente preferem olhar alem dessas varig6- es sazonais. Assim, os estatisticos do govemo ajustam os dados trimestrais de maneira a excluir o ciclo sazonal. Os dados sobre o PIB divulgados nos noticithios são sempre ajustados sazonalmente. 4-- SAIBA MA1S SOBRE... OUTRAS MEDIDAS DE RENDA Quando o Departamento de Com&cio dos Estados Unidos calcu- la o PIB do pais, a cada três meses, calcula tamb&n vkias outras medidas de renda para obter um panorama mais completo sobre o que esth acontecendo na economia. Essas outras medidas diferem do PIB porque incluem ou excluem certas categorias de renda. 0 que se segue é uma breve descrick de cinco dessas medidas de renda, ordenadas da maior para a menor. • Produto nacional bruto (PNB) é a renda total dos residentes per- manentes de um pais. Difere do PIB por incluir a renda que nos- sos cidadks ganham no exterior e por excluir a renda que os estrangeiros ganham aqui. Por exemplo, quando um cidadk do Canadá trabalha temporariamente nos Estados Unidos, sua produck é parte do PIB americano, mas não é parte do PNB americano (sua produ0o é parte do PNB canadense). Para a maioria dos paises, incluindo os Estados Unidos, os residentes domsticos são responsveis pela maior parte da produck inter- na, de modo que o PIB e o PNB são muito prc5ximos. Produto nacional (PNL) é a renda total dos residentes de uma nack (PNB) menos as perdas decorrentes da depre- ciack. Deprecia0o é o desgaste do estoque de equipamentos e estruturas da economia, como a ferrugem dos caminhes e a obsolescncia dos computadores. Nas contas de renda nacional preparadas pelo Departamento de Com&cio, a deprecia0o chamada de "consumo de capital fixo". Renda nacional é a renda total ganha pelos residentes de uma nack na produck de bens e servicos. Difere do produto nacio- nal liquido por excluir os impostos indiretos sobre as empresas (como impostos sobre as vendas) e incluir os subsidios empresas. 0 PNL e a renda nacional tamb m diferem por causa de uma "discrepkcia estatistica" que surge por causa de pro- blemas com a coleta de dados. Renda pessoal é a renda recebida pelas familias e pelas empre- sas que ri",k são sociedades por aces. Ao contrkio da renda nacional, a renda pessoal rik inclui os lucros retidos, que renda obtida pelas empresas, mas não distribuida aos seus pro- prietkios. A renda pessoal tamb m subtrai o imposto de renda das pessoas 'juriclicas e as contribuices para o seguro social (principalmente os impostos para a Seguridade Social). Em adi- ck, a renda pessoal inclui a renda de juros que as familias rece- bem sobre os emprtimos que fazem ao governo e a renda que recebem de programas de transfer&icia governamental, como os de bem-estar social e a Seguridade Social. Renda pessoal dispordvel é a renda que resta às familias e empresas que não s",k sociedades por aces depois de satisfei- tas todas as suas obrigaces perante o governo. É igual à renda pessoal menos impostos pessoais e certos pagamentos que não si - o impostos (como multas de trksito). Embora as diversas medidas de renda difiram em detalhes, quase sempre nos dizem as mesmas coisas sobre as condices eco- ndmicas. Quando o PIB está crescendo rapidamente, essas outras medidas de renda costumam crescer rapidamente. Quando o PIB está em queda, essas outras medidas costumam cair tamb&n. Para monitorar as fIutuaces da economia, não importa muito qual medi- da de renda utilizamos. CAPITLILO 23 IVIEDINDO A RENDA NACIONAL 505 Vamos agora repetir a definicao de FIB: • Produto intern° brut° (FIB) é o valor de mercado de todos os bens e servicos finais produzidos em urn pais em urn dado period° de tempo. Deve estar claro que o FIB é uma medicla sofisticala do valor da atividade econ8- mica. Nos cursos avancados de macroeconomia, voce aprendera mais sobre as suti- lezas que surgem clurante seu ciculo. Mas j da para perceber que cada express5o dessa definicao est6 repleta de significados. Teste Rapid° 0 que contribui mais para o PIB - a producao de urn quilo de carne moida ou a produ- cao de urn quilo de caviar? Por que? OS COMPOVENTES DO P -1::40+.11)04 C )5 CAC( LI> t- Pt/ LA 12, 41A)A•Je 5 TE N e u - P Pctu/Arrp-o s A despesa na economia assume diversas formas. A qualquer moment°, a familia Smith pode estar almocando ern uma lanchonete Burger King; a General Motors pode estar construindO uma fabrica de carros; a marinha pode adquirir urn subma- rino e a British Airways pode comprar urn avid° da Boeing. 0 FIB inclui todas essas diversas formas de despesas em bens e servicos produzidos internamente. Para entender como a economia esta usando seus recursos escassos, os econo- mistas frequentemente se interessam em estudar a composicao do FIB de acordo corn diversos tipos de despesas. Para fazer isso, o PIB (que chamaremos de Y) é dividido em quatro componentes: consumo (C), investimento (I), compras do govemo (G) e exportacoes liquidas (EL): Y =C+I+G+EL Oopoc:cto Essa equacao é uma identidade — uma equac5o que deve ser vercladeira a prop6- sit° de como as vari6veis na equacao so definiclas. Nesse caso, como cada dOlar de despesa incluido no FIB é colocado em urn dos quatro componentes do FIB, a soma dos quatro componentes deve ser igual ao PIB.Vamos analisar cada urn desses qua- tro componentes com major profunclidade. iNj O QJ C: PE FEE (),PE (A 0/2' Coq) ik‘t)A- 105 E /405 61-epoS P6 Lt (.06- t t 14 CXCAt ()) U +05 1 9° 0_1E- NOA f014.-)PON1 t) EL Consumo 0 consumo 6 a despesa das familias em bens e servicos. Os "bens"incluem as des- pesas das fan-rilias ern bens duraveis, como carros e eletrodomesticos, e bens nao- duraveis, como aliment° e vestulirio. Os "servicos"incluem itens intang,iveis, como cortes de cabelo e servicos de saide. As despesas das familias em educacao tam- bem sao incluidas no consumo de servicos (embora seja possivel argumentar que elas se encaixariam melhor no proximo componente). Investimento 0 investimento 6 a compra de bens que sera° usados no futuro para produzir mais bens e service's. E a soma das compras de bens de capital, estoques e estruturas. 0 investimento em estruturas inclui despesas em imoveis residenciais novos. Por ;.) t: c ij "_.)0 6),A Si° 406 E (2, N) ( i mw,-)00`0 -,i-11),ANsfeP.Ewc-\ Uut:.-ob .6u6 o5 consumo as despesas das familias em bens e servicos, excetuando- se a compra de imoveis residenciais novos investimento as despesas em equipamento de capital, estoques e estruturas, incluindo a compra de novos imoveis residenciais pelas familias c 0 a 1.)-E, fe• E. cA I\J 1) ') ) 1)0,:}co AC 5c4A2, fiLEJ4A(rA-t--3 De `)e,12A).1(,- PIB nominal a produ0o de bens e servicos avaliada a precos correntes PlE3 real a produc -ao de bens e servicos avaliada a precos constantes TABELA 2 PIB Real e PIB Nominal Essa tabela mostra como calcular o P1B real, o P1B nominal e o deflator do PIB para uma economia hipotg,tica que só produz cachorros-quentes e hambrgueres. 508 PARTE 8 DADOS MACROECONCHVIICOS dos, o PIB real mostra como a produc;'ao geral de bens e servios da economia muda com o passar do tempo. Para ver mais precisamente como o PIB real é construido, vamos considerar um exemplo. Um Exemplo Num&ico A Tabela 2 mostra alguns dados de uma economia que produz somente dois bens — cachorros-quentes e hambUrgueres. A tabela mostra as quantidades produzidas dos dois bens e seus preos nos anos de 2001, 2002 e 2003. Para calcular a despesa total dessa economia, devemos multiplicar as quantida- des de cachorros-quentes e hambi:irgueres por seus respectivos prec;os. Em 2001, 100 cachorros-quentes s.o vendidos a $ 1 cada, de modo que a despesa total com cachorros-quentes é de $ 100. No mesmo ano, s • - o vendidos 50 hambingueres a $ 2 cada, de modo que a despesa total com hambiirg-ueres tambem e de $ 100. A despesa total da economia — a son-ia das despesas com cachorros-quentes e das despesas com hambilrgueres — é $ 200. Esse montante, a produ-io de bens e ser- vios avaliada aos preos correntes, e chamado PIB nominal. A tabela mostra o calculo do PIB nominal desses tres anos. A despesa total aumenta de $ 200, em 2001, para $ 600, em 2002, e em seguida para $ 1.200, em 2003. Parte desse aumento pode ser atribuida ao aumento nas quantidades de cachorros-quentes e hambiirgueres e parte pode ser atribuida ao aumento nos pre- os dos cachorros-quentes e dos hambingueres. Para obter uma medida do montante produzido que na . o seja afetada pelas varig -6es nos pre93s, usamos o PIB real, que e a produc;.'ao dos bens e servios ava- liada a preos constantes. Para calcular o PIB real, selecionamos primeiro um ano como ano-base. Utilizamos, ent'ao, os preos dos cachorros-quentes e dos hamblir- Precos e Quantidades Preco dos Quantidade de Preco dos Quantidade de Ano Cachorros-quentes Cachorros-quentes HambUrgueres Hamhrgueres 2001 2002 2003 100 4 50 -_ 100 150 2 3 150 200 Ano Calculo do PIB Nominal 2001 ($ 1 por cachorro-quente x 100 cachorros-quentes) + ($ 2 por hambUrguer x 50 hamb&gueres) = $20 2002 ($ 2 por cachorro-quente x 150 cachorros-quentes) + ($ 3 por hambiquer x 100 hamkirgueres) = $60 2003 ($ 3 por cachorro-quente x 200 cachorros-quentes) + ($ 4 por hambrguer x 150 hambi_igueres) = $1.20 Ano Calculo do PIB Real (ano-base 2001) 2001 ($ 1 por cachorro-quente x 100 cachorros-quentes) + ($ 2 por hambUrguer x 50 hambUrgueres) = $20 e 2002 ($ 1 por cachorro-quente x 150 cachorros-quentes) + ($ 2 por hambrguer x 100 hamb[:irgueres) = $35 2003 ($ 1 por cachorro-quente x 200 cachorros-quentes) + ($ 2 por hambUrguer x 150 hambUrgueres) = $500 Ano Calculo do Deflator do PIB ;'‘f`? rj:»1.44 x /1( 0 2001 ($ 200/$200) x 100 = 100 2002 ($ 600/$350) x 100 = 171 2003 ($ 1.200/$500) x 100 = 240 ijIhd CAPiTULO 23 MEDINDO A RENDA NACIONAL 509 gueres no ano-base para calcular o valor dos bens e servicos em todos os anos. Em outras palavras, os precos do ano-base nos fomecem a base para comparar quan- tidades em diferentes anos. Suponha que escolhamos 2001 como ano-base em nosso exemplo. Poclemos, entao, utilizar os precos dos cachorros-quentes e dos hambtirgueres em 2001 para calcular o valor dos bens e servicos produzidos em 2001, 2002 e 2003. A Tabela 2 mostra esses calculos. Para calcular o FIB real de 2001, usamos os precos dos ca- chorros-quentes e dos hamburgueres em 2001 (o ano-base) e as quantidades de cachorros-quentes e hambiugueres produzidas em 2001 (assim, para o ano-base, o FIB real serd sempre ig,ual ao FIB nominal). Para calcular o FIB real de 2002, utili- zamos os precos dos cachorros-quentes e dos hambnrgueres em 2001 (o ano-base) e as quantidades de cachorros-quentes e hambtirg,ueres produzidas em 2002. De forma similar, para calcular o PIB real de 2003, utilizamos os precos de 2001 e as quantidacies de 2003. Ao constatarmos que o FIB real aumentou de $ 200, em 2001, para $ 350, em 2002, e $ 500, em 2003, sabemos que o aumento é atribuido a uma elevacao nas quantidades produzidas porque os precos estao send° mantidos fixos nos niveis do ano-base. Em resumo: 0,13743„no2Lidial usczA42.1.-=-eqrreato 7_7ara atribuir um valor a produ- clic) de bens e servicos da economia. gy.Zretzly.surecossoVkintes do ano-base para atribuir um valor a producao de bens e servicos da economia. Como o FIB real nao é afetado pela variac5o nos precos, as variacoes do FIB real refletem somente as mudancas nas quantidades produzidas. Assim, o FIB real é uma medida da produ- cdo de bens e servicos da economia. Noss° objetivo ao calcular o FIB é medir o desempenho da economia como urn todo. Corno o FIB real mede a producao de bens e servicos da economia, ele refle- te a capacidade da economia em satisfazer as necessidades e os desejos das pes- soas. Assim, o PIB real é uma medida melhor do bem-estar economic° do que o FIB nominal. Quando os economistas falam do FIB da economia, geralmente estao se referindo ao FIB real, nao ao nominal. E quando falam do crescimento da eco- nomia, eles medem esse crescimento como a variacao percentual do PIB real de um period° para outro. 0 Deflator do PIB Como acabamos de vet; o FIB nominal reflete tanto os precos dos bens e servicos quanto as quantidades de bens e servicos produzidas na economia. For outro lado, mantendo os precos constantes nos niveis do ano-base, o PIB real reflete somente as quantidades produzidas. A partir dessas duas estatisticas, podemos calcular uma terceira, chamada deflator do FIB, que reflete os precos dos bens e servicos, mas nao as quantidades produzidas. 0 deflator do PIB é calculado da seg-uinte maneira: FIB nominal Deflator do FIB — x 100 PIB real Como o PIB nominal e o FIB real devem ser iguais no ano-base, o deflator do FIB para o ano-base é sempre igual a cern. 0 deflator do FIB para os anos subse- quentes mede a variacao do FIB nominal a partir do ano-base que na-o pode ser atribuida a uma variacao do FIB real. 0 deflator do FIB mede o nivel de precos corrente em relacao ao nivel de pre- cos do ano-base. Para ver por que isso é verdade, consideremos dois exemplos sim- ples. Primeiro, imagine que as quantidades produzidas na economia aumentem corn o tempo, mas os precos permanecam os mesmos. Nesse caso, tanto o FIB deflator do PIB uma medida do nivel de pre- dos calculada coma a raza.o entre o PIB nominal e o PIB real multiplicada par cem Bilheies de Dlares de 1996 $10.000 9.000 8.000 7.000 6.000 5.000 4.000 510 PARTE 8 DADOS MACROECONCMICOS nominal quanto o PIB real aumentam juntos, de modo que o deflator do PIB e constante. Suponha, agora que os preos aumentem com o tempo, mas as quanti- dades produzidas permaneam as mesmas. Nesse segundo caso, o PIB nominal aumenta, mas o PIB real se mantem inalterado, de modo que o deflator do PIB tambem aumenta. Observe que, em ambos os casos, o deflator do PIB reflete o que esta acontecendo com os pre9os, n.- o com as quantidades. Vamos agora voltar para o nosso exemplo n-umerico da Tabela 2. 0 deflator do PIB e calculado na parte de baixo da tabela. Para o ano 2001, o PIB nominal e $ 200 e o PIB real e $ 200, de modo que o deflator do PIB e 100. Para o ano 2002, o PIB nominal é $ 600 e o PIB real e $ 350, de modo que o deflator do PIB é 171. Como o deflator do PIB aumentou, em 2002, de 100 para 171, podemos dizer que o nivel de preos aumentou 71%. 0 deflator do PIB é uma medida que os economistas usam para monitorar o nivel medio de preos da economia. Vamos examinar outra medida — o indice de preos ao consumidor — no pr6ximo capitulo, onde tambem descreveremos as dife- renas entre as duas medidas. Estudo de Caso 0 PIB REAL NA HISTRIA RECENTE Agora que sabemos como o PIB real é definido e medido, vamos ver o que essa variavel macroecon6mica nos diz a respeito da histOria recente dos Estados Unidos. A Fig-,ura 2 mostra dados trimestrais sobre o PIB real da economia americana desde 1970. A caracteristica mais (5bvia desses dados é que o PIB real cresce ao longo do tempo. 0 PIB real da economia americana em 2001 foi mais do que o dobro do PIB real de 1970. Em outras palavras, a produ'ao de bens e servi9 ps nos Estados Unidos cresceu em media cerca de 3% ao ano descle 1970. Esse crescimento continuado do PIB real permite ao norte-americano tipico desfrutar de uma maior prosperidade econ Omica do que seus pais e av(5s. Uma seg-uncla caracteristica dos dados do PIB é que o crescimento não e cons- tante. A ascensao do PIB real é ocasionalmente interrompida por periodos em que o PIB cai, chamados de recessaes. Na Figura 2, as recesses sao indicadas pelas bar- ras verticais sombreadas (n'ao ha uma reg,ra rigida que determine quando o comite FIGUU"511—' PIB Real nos Estados Unidos Esta figura mostra dados tri- mestrais sobre o P18 reol da economia norte-ornericana desde 1970. As recesses — periodos de queda do P1B real — sO-o indicadas pelos barras verticais sombreados. Fonte: Departamento de Com&cio dos Estados Unidos. 0 P1B reflete a producOo do fObrica, mos nao o dano que causa ao meio ombiente. CAPITULO 23 NIEDINDO A RENDA NACIONAL 513 Mais bens e servicos seriam produzidos e o PIB aumentaria. Mas, apesar do aumento do PIB, ndo poderfamos concluir que todos estariam em melhor situacao. A perda de bem-estar decorrente da reducdo do lazer seria compensada pelos ganhos de hem-estar decorrentes da producdo e consumo de uma major quanti- dade de bens e servicos. Como o FIB usa os precos de mercado para avaliar bens e servicos, ele descon- sidera o valor de quase todas as atividades que ocorrem fora dos nriercados. Mais especificamente, o FIB omite o valor dos bens e servicos produzidos em casa. Quando urn chef de cozinha prepara uma deliciosa refeicdo e a vende em seu res- taurante, o valor dessa refeicao faz parte do FIB. Mas se ele preparar a mesma refei- cdo para sua esposa, o valor quo agregou aos ingredientes ndo entrarEi para o FIB. De forma similar, o servico de cuidar das criancas oferecido em creches faz parte do FIB, enquanto o servico de cuidar das criancas realizado pelos pais em casa rid° faz parte do FIB. 0 trabalho voluntario contribui para o hem-estar dos membros da sociedade, mas o FIB ndo reflete essas contribuicoes. Outra coisa que o FIB exclui é a qualidade do meio ambiente. Imagine que o govemo elimine todas as regulamentacoes ambientais. As empresas poderiam, entdo, produzir bens e servicos sem levar em consicieracdo a poluicao que criam, e o FIB poderia aumentar. Mas o bem-estar provavelmente diminuiria. A deteriora- cdo da qualidade do ar e da zigua mais do que contrabalancaria os ganhos decor- rentes da maior producdo. 0 FIB tambem ndo diz nada a respeito da distribuicao da renda. Uma socieda- de em que 100 pessoas tenham renda anual de $ 50 mil tern urn PIB de $ 5 milhoes e, o que nao é surpreendente, urn FIB per capita de $ 50 mil. 0 mesmo se da em uma sociedade em quo 10 pessoas ganhem $ 500 mil cada e 90 sofram sem ganhar nada. Poucas pessoas olhariam para essas duas situacoes e diriam que sac) equiva- lentes. 0 FIB per capita nos diz o que acontece corn a pessoa media, mas por tras da media existe uma ampla variedade de experiencias individuais. No fim das contas, podemos concluir quo o FIB é uma boa medida do hem- estar economic° para a maioria dos propOsitos — mas ndo para todos. E importan- te ter em mente o que o FIB inclui e o que fica de fora. Estudo de Caso DIFEREKAS INTERNACIONAIS NO PIB E NA QUALIDADE DE VIDA Uma maneira de avaliar a utilidade do FIB como medida do bem-estar economic° é examinar dados internacionais. Paises pobres e ricos tern niveis muito diferentes de FIB per capita. Se urn FIB elevado leva a um melhor padrao de vida, entdo deve- riamos observar que o FIB esta fortemente correlacionado corn medidas de quali- dade de vida. E, de fato, é isso o que acontece. A Tabela 3 mostra 12 dos paises mais populosos do mundo, classificados por ordem de FIB per capita. A tabela tambem mostra a expectativa de vida (a esperan- ca de vida ao nascer) e a alfabetizacao (o percentual da populacdo adulta que sabe ler). Os dados mostram urn padrao claro. Nos parses ricos, como os Estados Unidos, o Japdo e a Alemanha, as pessoas tern expectativa de viver hem mais do que 70 anos e quase toda a populacdo sabe ler. Em paises pobres, como a Nigeria, Bangladesh e o Paquistdo, as pessoas em geral vivem somente ate os 50 anos e cerca da metade da populacao é analfabeta. TABELA 3 PIB, Expectativa de Vida e Alfabetizack Esta tabela mostra o P1B per capita e duas medidas de qualidade de vida em 12 grondes paises. Fonte: Relak5no de Desenvolvimento Humano 2001, NKiies Unidas. 514 PARTE 8 DADOS MACROECONC)11/11COS Pafs PiB Real Per Capita (1999) Expectativa de Vida Alfabetizack entre os Adultos Estados Unidos $ 31.872 77 anos 99% Japk 24.898 81 99 Alemanha 23.742 78 99 Mexico 8.297 72 91 RUssia 7.473 66 99 Brasil 7.037 67 85 China 3.617 70 83 Indonesia 2.857 66 86 fridia 2.248 63 56 Paquistk 1.834 60 45 Bangladesh 1.483 59 41 Nigeria 853 52 63 Embora dados sobre outros aspectos da qualidade de vida não sejam t'a"o com- pletos, eles contam uma histOria semelhante. Os paises com baixo PIB per capita tendem a ter mais criaNas com peso baixo ao nascer, altas taxas de mortalidade infantil, altas taxas cle mortalidade materna, altas taxas de desnutri o infantil e menos acesso a 4ua tratada. Nos paises de baixo PIB per capita, menos crianas em idade escolar freqiientam efetivamente a escola e aquelas que o fazen-1 dis em de menos professores por aluno. Esses paises tambem tendem a ter menos televiso- res, menos telefones, menos ruas pavimentadas e menos casas com eletricidade. Os dados intemacionais n"th) deixam diwida de que o PIB de um pais está estreita- mente relacionado ao padr5o de vida de seus cidadZios. • Estudo de Case QUEIVI GANHA NAS OLIMPADAS? A cada quatro anos, os paises do mundo competem nos Jogos Olimpicos. Quando os jogos terminam, os comentaristas utilizam o nUmero de medalhas obtidas por cada pais como um indicador de sucesso. Essa medida parece muito diferente do PIB usado pelos economistas para medir o sucesso. Mas ocorre que não é bem assim. Os economistas Andrew Bemard e Meghan Busse examinaram os determinan- tes do sucesso olimpico. A explica o mais Obvia e a paises que trri mais habitantes tero, ern igualdade das demais condi es, mais atietas de desta- que. Mas isso não e a histOria completa. China, Índia, Indonesia e Bangladesh tC. 'rn juntos mais de 40% da populaio mundial, mas normalmente conquistam 6% das medalhas. A raz'a"o é que esses paises s' o pobres: a despeito de sua grande popu- eles respondem por apenas 5% do PIB mundial. Sua pobreza impede mui- tos atletas talentosos de alcaNar seu potencial. Bemard e Busse concluiram que a melhor medida da capacidade que um pais tem de produzir atletas de nivel mundial e o PIB total. Um PIB total elevado CAPiTULO 23 IVIEDINDO A RENDA NACIONAL 515 fica mais medalhas, independentemente de ser esse total resultado de urn grande PIB per capita ou de urn grande numero de habitantes. Em outras palavras, se dois 'Daises tivercm o mcsmo PIB, é de se esperar que conquistem o mesmo numero de medalhas, ainda que urn deles (a India) tenha muitos habitantes e baixo PIB per capita e o outro (a Holanda) tenha menos habitantes e PIB per capita elevado. Alem do PIB, dois outros fatores influenciam o numero de medalhas conquista- das. 0 pais-sede costuma ganhar medalhas extras, refletindo o beneficio que os atletas obtem de competir em casa. Alem disso, os antigos paises comunistas do leste europeu (Unido Sovietica, Romenia, Alemanha Oriental e outros) conquista- vam mais medalhas do que outros paises corn PIB semelhante. Esses paises corn economias de planejamento central dedicavam mais recursos nacionais ao treina- mento de atletas olimpicos do que as economias de liv-re-mercado, em que as pes- soas tern major controle sobre as proprias vidas. • Teste Rapid° Por que os formuladores de politicos devem se preocupar corn o PIB? CONCLUSA0 Este capitulo discutiu como os economistas medem a renda total de urn pais. A medi- cao, naturalmente, é somente urn ponto de partida. Grande parte da macroeconomia tern por objetivo revelar os deterrninantes de longo e de curto prazos do produto intern° bruto de urn pais. Por exemplo, por que o PIB é mais elevado nos Estados Unidos e no Japao do que na India e na Nigeria? 0 que os govemos dos paises n-tais pobres podem fazer para promover o crescimento mais thpido do PIB?Por que o PIB dos Estados Unidos aumenta rapidamente em alguns anos e cai em outros? 0 que os formuladores de politicas americanos podem fazer para reduzir a severidade des- sas flutuagOes do PIB? Essas sac, questoes que ser5o abordadas em breve. Neste pont°, é importante reconhecer a relevancia da simples mensuracao do PIB. Corn isso, todos temos uma percepcao de como vai a economia enquanto levamos nossas vidas. Mas os economistas que estudam as mudanc.as na econo- mia e os formuladores de politicas que estabelecem as politicas economicas preci- sam de mais do que uma percepcdo vaga — cies precisam de dados concretos em que possam basear suas decisoes. Quantificar o comportamento da economia corn estatisticas como o PIB é, portant°, o primeiro passo para desenvolver a ciencia da macroeconomia. RESUMO • Como cada transacao tern urn comprador e urn vendedor, a despesa total da economia deve ser igual a renda total da economia. • 0 produto interno brut° (PIB) mede a despesa total de uma economia em bens e servicos recente- mente produzidos e a renda total obtida corn a producao desses bens e servicos. Mais precisamen- te, o PIB é o valor de mercado de todos os bens e servicos finais produzidos em urn pais em determi- nado period° de tempo. • 0 PIB se divide em quatro componentes de despe- sas: consumo, investimento, compras do govern° e exportacoes liquidas. 0 consumo inclui despesas das familias em bens e senricos, excetuando a corn- pra de novas residencias. 0 investimento inclui des- pesas em novos equipamentos e estruturas, incluin- do a compra de novas residencias por parte das familias. As compras do governo incluem as despe- sas em bens e seivicos dos governos locais (munici- pais), estaduais e federal. A exportacao liquida é 518 PARTE 8 DADOS MACROECONOMICOS 12. A participa o das mulheres na foNa de trabalho americana aumentou drasticamente desde 1970. a. Na sua opinião, como esse aumento afetou o PIB? b. Agora, imagine uma medida de bem-estar eco- nmico que inclua o tempo gasto com trabalhos domesticos e com lazer. Como a mudaNa dessa medida de bem-estar se compararia com a mudaNa do PIB? c.Voce consegue pensar em outros aspectos do bem-estar que estejam associados ao aun-iento da participa o feminina na foNa de trabalho? Seria prkico construir uma medida de bem- estar que incluisse esses aspectos? MEDINDO 0 CUSTO DE VIDA Em 1931, enquanto a economia norte-americana sofria os efeitos da Grande Depressao, Babe Ruth, o famoso jogador de beisebol, ganhou $ 80 mil. Na epoca, o salario era extraordinario, mesmo entre as estrelas do esporte. De acordo corn uma historia, urn reporter perguntou a Ruth se ele achava certo ganhar mais do que o presidente Herbert Hoover, cujo salario era de apenas $ 75 mil. Ruth respondeu: "Eu tive urn ano melhor". Hoje, o jogador de beisebol medio ganha cerca de 30 vezes mais do que o said- rio de Ruth em 1931, e os melhores jogadores chegam a ganhar ate 200 vezes mais. A primeira vista, esse fato pode nos levar a pensar que o beisebol tornou-se muito mais lucrativo ao longo dos Ultimos 70 anos. Mas, como todos sabem, os precos dos bens e senricos tambem aumentaram. Em 1931, urn sorvete de casquinha custava 10 centavos e, corn 25 centavos, podia-se comprar urn ingresso para o cinema. Como os precos cram muito mais baixos na epoca de Babe Ruth do que hoje, nao esta claro se ele desfnitava de urn padrao de vida melhor ou pior do que os joga- dores de hoje. No capftulo anterior, vimos como os economistas usam o produto intern° bruto (FIB) para medir a quantidade de bens e servicos que a economia esta produzindo. Este capItulo examina como os economistas medem o custo de vida geral. Para comparar o salario de $ 80 mil de Babe Ruth corn os salarios de hoje, precisamos encontrar uma maneira de transformar os valores monetarios em medidas signifi- cativas de poder aquisitivo. E exatamente essa a funcao de uma estatistica chama- 520 PARTE 8 DADOS MACROECONeMICOS índice de precos ao consumidor (IPC) uma medida do custo geral dos bens e servicos comprados por um consumidor tipico da z'ndice de preps ao consunzidor. Depois de ver como se constrOi o indice de preos ao consumidor, discutiremos con-io usar esse indice para comparar valores mone- tkios em diferentes pontos no tempo. 0 indice de prec»s ao consumidor é usado para monitorar mudaNas no custo de vida ao longo do tempo. Quando o indice de prey)s ao consumidor aumenta, a lia tipica precisa gastar mais dlares para manter o mesmo padr -a- o de vida. Os eco- nomistas empregam o terrno infla:(7o para descrever uma situgo em que o nivel geral de preos da economia está em ascens -a"o.A taxa de iiiflação e a varig5o percen- tual do nivel de pre9ps em rela o a um periodo anterior. Como veremos nos pr(5xi- mos capitulos, a infla o é um aspecto do clesempenho macroeconmico cuidadosa- mente observado e é uma varffirel-chave na orientg .a"o da politica macroeconC)mica. Este capitulo fomece o conhecimento para essa análise, mostrando como os econo- mistas medem a taxa de inflaco por meio do indice de preos ao consumidor. 0 ND10E DE PRECOS AO CONSUM1DOR 0 indice de preos ao consumidor (IPC) é uma n-iedida do custo geral de todos os bens e servios comprados por um consumidor tipico. A cada mes, o Bureau of Labor Statistics, que é uma diviso do Departamento do Trabalho, calcula e divul- ga o indice de preos ao consumidor. Nesta se - o discutiremos como o indice de prec;os ao consumidor é calculado e quais os problemas que surgem em sua medi- o.Veremos ainda como esse indice se compara ao deflator do PIB, outra medida do nivel geral de prec;os que examinamos no capitulo anterior. Como É Calculado o hidice de Precos ao Consumidor Quando o Bureau of Labor Statistics calcula o indice de prec;os ao consumidor e a taxa de infiação, usa dados relativos aos preos de milhares de bens e servi os. Para ver como exatamente essas estatisticas são construidas, vamos considerar uma eco- nomia simples em que os consumidores só comprem dois bens — cachorros-quen- tes e hamb-Urg-ueres. A Tabela 1 mostra as cinco etapas seg,uidas pelo Bureau of Labor Statistics. 1. Fixar a cesta. A primeira etapa no cálculo do indice de preos ao consumidor determinar quais preos s"a"o mais importantes para o consumidor tipico. Se o consumidor tipico compra mais cachorros-quentes do que hambUrgueres, entk) o prec;o do cachorro-quente é mais importante do que o do hambUrg,uer e, portanto, deve ter um peso maior no cálculo do custo de vida. 0 Bureau of Labor Statislics estabelece esses pesos pesquisando os consumidores e identi- ficando a cesta de bens e servios que o consumidor tipico compra. No exem- plo da tabela, o consumidor tipico compra uma cesta de quatro cachorros- quentes e dois hambiugueres. 2. Coletar os preps. 0 seg,undo passo no cálcuio do indice de preos ao consumi- dor é coletar os preos de cada un-1 dos bens e servios da cesta em cada ponto no tempo. A tabela mostra os preos dos cachorros-quentes e dos hambUrgue- res em tres anos diferentes. 3. Ca/cular o custo da cesta. A terceira etapa é usar os dados sobre preos para cal- cular o custo da cesta de bens e servios ern diferentes momentos. A tabela mostra esse cálculo para cada um dos tres anos. Observe que, nesse ciculo, somente os prey)s mudam. Mantendo constante a cesta de bens (quatro cachorros-quentes e dois hambUrgueres), estamos isolando os efeitos das va- CAPiTULO 24 IVIEDINDO 0 CUSTO DE VIDA 523 consumidor, geralmente ouvimos o ntimero no notici6rio not-urno da TV ou lemos sobre ele no jornal da manha seguinte. Alem do indice de precos ao consumidor da economia como um todo, o Bureau of Labor Statistics calcula diversos outros indices de precos. Ele divulga o indice de regioes especificas do pais (como Boston, Nova York e Los Angeles) e de categorias restritas de bens e servicos (como alimentos, vestuario e energia). Calcula ainda o indice de precos ao produtor, que mede o custo de uma cesta de bens e servicos comprada pelas empresas, e nao pelos consumidores. Uma vez que as empresas acabam por repassar seus custos aos consumidores sob a forma de precos mais ele- vados, as variacoes no indice de precos ao produtor sac) frequentemente conside- radas uteis para prever variacbes no Inc-lice de precos ao consumidor. Problemas no Calculo do Custo de Vida 0 objetivo do indice de precos ao consumidor é medir variacoes no custo de vida. Em outras palavras, o indice de precos ao consumidor tenta avaliar quanto as ren- das devem aumentar para manter urn padrao de vida constante. 0 indice de pre- cos ao consumidor, contudo, não é uma medida perfeita do custo de vida. 0 indi- ce tern tres problemas que todos reconhecem, mas que sac) de dificil resolucao. 0 primeiro problema é chamado de tendencia a substituicao. Quando os precos mudam de urn ano para outro, nao mudam todos na mesma proporcao: alg-uns aumentam mais do que outros. Os consumidores respondem a essas diferentes variacoes de precos comprando menos dos bens cujos precos subiram mais e mais dos bens cujos precos subiram menos ou ate diminuiram. Ou seja, os consumicio- res substituem os bens que se tornaram relativamente mais caros pelos bens que se tornaram relativamente mais baratos. Se urn indice de precos é calculado a partir de uma cesta fixa de bens e servicos, ele ignora a possibilidade de substituicao pelos consumidores e pressupoe, em essencia, que eles continuem comprando os produ- tos que agora estdo mais caros nas mesmas quantidades de antes. Ao desconside- rar a possibilidade de substituicao, o indice superestima o aumento do custo de vida de urn ano para o outro. Vamos considerar urn exemplo simples. Imagine que, no ano-base, as macas estejam mais baratas do que as peras e que, portanto, os consumidores comprem mais macas do que peras. Quando o Bureau of Labor Statistics constroi a cesta de bens, inclui mais macas do que peras. Suponha que, no ano seg-uinte, as peras este- jam mais baratas do que as magas. Os consumidores respondem, naturalmente, mudanca de preco comprando mais peras e menos macas. Mas, ao calcular o indi- ce de precos ao consumidor, o Bureau of Labor Statistics usa uma cesta fixa que, em essencia, pressupoe que os consumidores continuem a comprar as magas, que agora estao mais caras, nas mesmas quantidades de antes. Por essa razdo, o indice medird urn aumento do custo de vida muito maior do que o efetivamente experi- mentado pelos consumidores. 0 segundo problema do indice de precos ao consumidor é a introducao de novas bens. Quando urn novo bem é introduzido, os consumidores tern maior variedade de produtos para escolher. Essa maior variedade, por sua vez, toma cada Mar mais valioso, de modo que os consumidores precisam de menos Mares para manter qualquer padrao de vida determinado. Mas como o indice de precos ao consumi- dor é baseado em uma cesta fixa de bens e servicos, ele nao reflete essa mudanca no poder aquisitivo do Mar. Vamos considerar outro exemplo. Quando os videocassetes foram introduzidos, os consumidores passaram a poder assistir a seus filmes favoritos em casa. Comparado corn uma ida ao cinema, havia maior conveniencia e menor custo. Um indice de custo de vida perfeito teria refletido a introducao do videocassete por meio indice de precos ao produtor uma medida do custo de uma cesta de bens e servicos corn- prados pelas empresas 524 PARTE 8 DADOS MACROECON(511/11COS COMPRAS PARA 0 IPC Por tr6s de cada estatistica macroecon6mica há milhares de dados individuais sobre a economia. Este artigo acompanha algumas das pessoas que coletam esses dados. 0 IPC É Correto? Pergunte aos Investigadores Federais que Coletam os Dados Por Christina Duff Trenton. N.J. — A diretora financeira do hos- pital é inflexivel em sua falta de cooperack, mas n sk é pereo para Sabina Bloom, inves- tigadora do governo. A sra. Bloom quer saber o preco exato de alguns servicos hospitalares. "Nada mudou", diz a diretora. "Bem, voce tem os livros?", pergunta a sra. Bloom. "Mo muda- mos preco algum", insiste a mulher. Mas a conversa firme da sra. Bloom acaba por tirar a mulher de tres de sua escrivaninha, e ela pega os nmeros. Descobre-se que uma sala de recuperack de p6s-operat6rio semi- individual agora custa $ 753,80 por dia — ou $ 0,04 menos do que he um mes. Mais um pequeno sucesso da sra. Bloom, uma entre os cerca de 300 funcione- rios que o Bureau of Labor Statistics empre- ga para coletar as informaces que alimen- tam o indice de Precos ao Consumidor a cada mes... 0 trabalho da sra. Bloom , s vezes lem- bra um romance policial. A cada mes, ela percorre 1.500 km com seu velho carro (foram tres acidentes nos últimos 18 meses) para visitar cerca de 150 locais. Sua missk: registrar os precos de determinados itens, mes ap6s mes. Se os precos mudam, ela precisa descobrir o porque. A cada mes, cerca de 90 mil precos são enviados para Washington, armazenados em um computa- dor, analisados, agregados e ajustados em relac;jo a subidas e descidas sazonais, ate que finalmente saem sob a forma do relat6- rio mensal do IPC. Escolher o item cujo preco deve ser acompanhado pode parecer arbitrerio. Ap6s consultar levantamentos que registram os hebitos de compra dos consumidores, o Bureau of Labor Statistics escolhe lojas popu- lares e categorias de itens — blusas femini- nas, digamos. A pessoa encarregada da cole- ta dos precos pede a uma funcioneria da loja que a ajude a encontrar o item escolhido. Elas passam entk para o tamanho da blusa, seu estilo (mangas curtas, mangas longas, decote em V ou gola rule) e assim por dian- te. Os itens que geram a maior receita den- tro de determinada categoria tendem a ter mais chances de serem escolhidos. Os compradores sabem que confiar nos empregados das lojas pode ser arriscado. Em uma loja de departamentos no centro de Chicago (o governo não divulga o nome dos estabelecimentos), a investigadora de de uma reduo do custo de vida. Mas o indice de prey)s ao consumidor não caiu por causa da introdu o do videocassete. Mais tarde, o Bureau of Labor Statistics acabou por rever a cesta de bens para incluir o videocassete e, a partir daí, o indice passou a refletir as varig6'es nos prev)s dos videocassetes. Mas a redu o do custo de vida associada à introdu o inicial do videocassete nunca apareceu no indice. 0 terceiro problema do indice de preos ao consumidor é a mudawa de qualida- de ii^do medida. Se a qualidade de um ben-t deteriora de um ano para o outro, o valor do dlar cai, mesmo que o preo do bem continue o mesmo. De forma similar, se a qualidade de um bem aumenta de um ano para o outro, o valor do d6lar sobe. 0 Bureau of Labor Statistics faz o possivel para levar em conta as mudaNas qualita- tivas. Quando a qualidade de um bem da cesta muda — por exemplo, quando um modelo de carro tem a sua pot'encia aumentada ou passa a consumir menos gaso- lina de um ano para o outro o BLS ajusta o pre9D do bem para levar em conta a CAPITULO 24 MEDINDO 0 CUSTO DE VIDA 525 precos Mary Ann Latter pisca os olhos na frente de urn cartaz anunciando uma blusa cor marfim: "Economize 45% — 60% ao levar mais uma mercadoria corn preco redu- zido de 30%". Confusa, a srta. Latter pede a urn aten- dente que passe o item no scanner. Uma pausa. "Esta corn 300/b de desconto", diz o atendente, pouco antes de seu horario de almoco. "Eu sei", responde a srta. Latter, "mas sera que voce pode escanear s6 para ter cer- teza?" Baixinho, ela murmura: "Que empre- gado atencioso". No andar de baixo, no departamento de joias, a srta. Latter tenta descobrir o preco do Onico colar de prata que resta, mas a peca esta sem etiqueta. "Eu tenho de ver agora?", resmunga a atendente, atras do balcao. A srta. Latter espera que ela atenda diversas clientes e pede novamente: "Sera que voce pode ver agora?" A vendedora apressada atira sobre o balcao urn volumoso catalog° que contem a descricao de uma grande quantidade de joias. A srta. Latter finalmente acaba encontrando uma peca de prata que parece ser a correta. Quando o item exato no pode ser encontrado, os funcionarios que coletam precos fazem substituicoes. lsso pode ser Considere urn corte de cabelo: se urn cabeleireiro vai embora, seu substituto deve ter mais ou menos a mesma experiencia; urn cabeleireiro principiante, por exempla, poderia cobrar menos. Nessa gelida tarde de inverno, a srta. Latter precisa substituir urn casaco porque os itens de vestuario rara- mente ficam nas prateleiras por mais de dois meses. Deve ser urn casaco leve corn menos de 50% de la na composicao. Apos vasculhar em meio as pesadas roupas de inverno, procurando por etiquetas em tres departamentos, ela desiste. De qualquer maneira, estamos fora da estacao, de modo que ela precisara esperar meses ate encon- trar urn substituto para o item que procura. Para dificultar ainda mais o trabalho que os detetives de precos tern para alcancar o verdadeiro custo de vida, a lista principal das 207 categorias cujos precos sao pesquisados — chamada de cesta do mercado — so e atualizada a cada dez anos. Telefones celula- res? Sao recentes demais, nao se enqua- drando em nenhuma das categorias estabe- lecidas na decada de 1980. Provavelmente serao incluidos quando chegarem as novas categorias, em 1998. Algumas mudancas nas categorias ocor- rem a cada cinco anos. Assim sendo, na cate- goria "carros novos", por exemplo, se as ven- das de carros nacionais superarem em muito as de importados, os funcionarios que cole- tam precos poderao pesquisar mais veiculos da Ford e menos veiculos da Toyota. Mas isso nao ocorre corn frequencia suficiente, dizem os criticos. Sheila Ward, uma colega da srta. Latter que trabalha nos suburbios de Chicago, diz que a dependencia de itens ultrapassados "seria uma das criticas que sofremos". Ela se lembra do dono de uma loja de instrumentos musicais que ficou frus- trado porque ela sempre procurava o preco de uma guitarra que ele nem se atrevia a imaginar que ainda fosse tocada — quanto mais vendida. Finalmente, ele acabou expul- sando-a da loja, gritando: "Droga de governo! E para isso que eu pago impostos?" Os funcionarios que coletam precos nao podem fazer muita coisa a respeito desses problemas. Eles apenas podem perguntar. Em urn restaurante simples, a sra. Ward pergunta se as porcbes servidas tiveram alteracbes. 0 proprietario diz que nao. Mas ela lembra que o preco do bacon tern subido e pergunta novamente sobre as porcbes servidas. Repentinamente, o proprietario lembra que reduziu o nirmero de fatias de bacon coloca- das no sanduiche, de tres para duas. E, corn isso, tern-se urn sanduiche muito diferente. Fonte: The Wall Street Journal, 16 jan. 1997, p. Al. © 1997 Dow Jones & Co. Inc. Reproduzido corn perrnis- s-jo de Dow Jones & Co. Inc. no formato livro-texto via Copyright Clearance Center. mudanca qualitativa. Trata-se, em essencia, de tentar calcular o preco de uma cesta de bens de qualidade constante. Apesar desses esforcos, as mudancas de qualida- de continuam sendo urn problema, porque a medicao da qualidade é dificil. Ainda ha muito debate entre os economistas a respeito da gravidade desses problemas de medicao e do que se pode fazer em relacao a eles. Diversos estudos publicados na decada de 1990 concluiram que o indice de precos ao consumidor superestimava a inflacao em cerca de urn pont° percentual ao ano. Em resposta a essas criticas, o Bureau of Labor Statistics adotou diversas mudancas tecnicas para melhorar o IPC, e muitos economistas acreditam que a distorcao é hoje cerca da metacle do que ja foi. A quest-do é importante porque muitos programas governa- mentais usam o indice de precos ao consumidor para ajustar valores as mudancas no nivel geral de precos. Os beneficiarios da Seguridade Social, por exemplo, rece- hem a-umentos anuais nos beneficios de acordo corn a variacao do indice de precos
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